Finalizada em: 05/06/2021

#1 She feels so good...

Sete e meia da manhã em ponto. passava na calçada em frente a minha casa com seus all star botinha vermelhos, fumando um cigarro, os fones de ouvido em meio aos pequenos cachos de seu cabelo. Vez ou outra, levava a mão de cores mescladas até a boca, no intuito de tragar o tabaco.
Geralmente, ela demorava entre 12 e 20 segundos para sumir do campo de visão que minha janela alcançava. Desta vez, foram 43 segundos, visto que um de seus cadarços desamarrou e precisou se abaixar para ajeitá-lo antes de retomar sua caminhada. Ao ficar em pé, com o cigarro pendendo nos lábios, olhou ao redor, inclusive na direção da minha janela, porém não me viu espiando-a com um sorriso bobo no rosto em meio a uma fresta na cortina, e retomou seu trajeto milésimos de segundos depois.
tinha uma pele tão escura quanto a minha. Entretanto, o lado esquerdo de seu rosto e cabelo, para mim, era o mais bonito. Como se fosse um continente, uma mancha despigmentada ornava a pele ao redor de seu olho heterocromático azulado, dando contraste aos seus lindos traços e o fato de as cores de suas íris destoarem entre si tornava seu olhar ainda mais penetrante e convidativo sob aquelas pálpebras baixas. Uma mecha grossa e esbranquiçada ocupava boa parte da lateral de suas madeixas do lado esquerdo.
Em pouco mais de um ano que estudávamos na mesma escola, não havia um dia sequer que meus olhos não tenham acompanhado seus movimentos, mesmo que de longe. chamava atenção de todos os olhares por onde quer que passasse. Alguns eram apenas curiosos, outros, expressavam a mais pura admiração. No entanto, era impossível que não chamasse a atenção por onde quer que andasse, como se sua presença fosse um imã. Eu mesmo era a prova viva de que era impossível.
Era terça-feira, o que significava que teríamos aula de educação física juntos, porém, como quase sempre, iria aproveitar para colocar meus trabalhos em dia. Desde os 12 anos, tinha o joelho esquerdo permanentemente lesionado, o que me impedia de praticar esportes. Não que eu achasse ruim, uma vez que odiava praticar esportes. Gostava de assisti-los da arquibancada, não de fazer parte de um time, de me machucar e esse tipo de coisa.
Em quadra, como líbero do time de vôlei, fazia seu trabalho. Era sempre muito difícil me concentrar quando ela estava por perto. Entretanto, juntando o pouquinho de vergonha na cara que ainda tinha, tentei focar, mesmo que minimamente, e terminar minha redação de história da arte. Estava prestes a reprovar e não queria ter de passar por aquela tortura de novo por mais um semestre.
Quando as palavras começaram a brotar na minha mente e comecei a escrevê-las em uma folha que estava em branco há dias ― sim, folha, pois não podíamos simplesmente digitar algo e entregar, afinal, a professora dizia que havia arte até na forma como escrevíamos ―, uma bola atingiu meu material, derrubando meu fichário e espalhando todas as folhas soltas.
Juntando e organizando as folhas em um montinho, me amaldiçoei por não as ter prendido no fichário na noite anterior, como havia pensado em fazer minutos antes de decidir jogar mais uma partida de Halo 5 antes de dormir. Até que vi pés pararem em frente aos meus olhos. Levantando a cabeça, vi o exato momento em que se abaixou à minha frente e começou a me ajudar a juntar tudo.
― Desculpa. ― Deu um sorriso tímido, entregando algumas que já havia posto juntas e alinhadas. ― Você sempre tá nessa aula? ― Franziu as sobrancelhas.
― Sim. Eu só não faço por causa de uma lesão.
― Ah, entendi. ― Voltou a juntar os papéis.
Ao terminarmos, pôs-se de pé e eu fiz o mesmo.
― À propósito, sou . ― Sorriu mais abertamente.
Contive a vontade de responder “eu sei” e me contentei em apenas dizer:
. ― Sorri envergonhado.
A garota pegou a bola e voltou para a quadra, cujo o jogo permanecia parado enquanto não retornava. Continuei a admirá-la, como se fosse uma paisagem que passa muito rápido pela janela de um carro em movimento e que somos obrigados a estacionar somente para conseguir apreciar um pouco mais da vista.

- x x x -


Com a mochila pesando muito mais do que eu deveria carregar, caminhava para casa com os fones de ouvido em volume médio, assim conseguia ouvir os sons da rua ao meu redor, porém com trilha sonora, exatamente como acontecia nos filmes. E, bem como acontecia nos filmes, senti uma presença ao meu lado, o que me fez tirar os fones ao ver quem era.
― Você parecia tão concentrado na sua caminhada que não quis atrapalhar. ― Deu uma última tragada no cigarro antes de apagá-lo no primeiro poste pelo qual passamos e jogar a bituca no lixeiro.
― Ah, não, tudo bem.
― Não sabia que você também morava pra lá.
― É.
― Desculpa dizer isso, mas não importa o tanto que eu tente me lembrar de você, não consigo. Faz tempo que você estuda aqui?
― Mais ou menos um ano. Um pouco mais.
― De onde você veio?
― Colúmbia, Carolina do Sul.
― Sério? ― Arqueou as sobrancelhas. Assenti sem compreender o que a havia deixado em breve estado de alerta. ― Minha avó é de lá.
― Sério? ― Balançou a cabeça afirmando, parecendo animada.
― O que te trouxe para tão longe?
― Meu pai. Ele é professor universitário e conseguiu uma vaga na Universidade da Virgínia, que pagava muito melhor do que ele recebia na comunitária em que trabalhava. E você?
― Meu pai é militar, então, você pisca e eu já me mudei de novo. ― Rimos.
― E há quanto tempo vocês estão aqui?
― Quase dois anos.
Quando cheguei à cidade, já estava lá, então, não a vi chegar, entretanto, saber que talvez a visse partir a qualquer momento me deixava apreensivo.
― Não tão ruim assim se mudar com frequência. Você tem a chance de se reinventar sempre.
― Nem sempre chego a me reinventar. Às vezes, a nova personalidade é atribuída antes que eu tenha a chance de dizer “oi, eu sou ”. Já fui a meio fantasma, a desbotada, a encardida e confesso que fiquei um pouco surpresa de ter me tornado , a popular depois de tanto tempo ― ironizou.
― Sinto muito.
― Não sinta. A adolescência é uma fase horrível em que as pessoas acham que ter personalidade forte é ser mau caráter e mal educado. ― Ri.
― E não é?
― Não. É mais sobre fazer o que você quer, na hora que você quer. Tipo, autoconhecimento, sabe? ― Semicerrei os olhos. ― Desculpa, tô falando um monte de coisas aleatórias, né?
― Não, tudo bem. Pode continuar. Eu gosto. ― Sorriu.
― Você é um cara engraçado, . Por que a gente nunca se falou? ― Franziu as sobrancelhas.
― Até hoje mais cedo você nem tinha notado minha existência, então… ― Deixei a frase morrer.
― Desculpe por isso. ― Comprimiu os lábios, parando em frente à casa bege a cerca de quatro quadras da minha casa. ― Eu fico por aqui. Você mora mais pra lá? ― Apontou com o queixo para a rua.
― Na verdade… eu moro pra lá. ― Apontei para o lado contrário.
Nos primeiros segundos, uma das sobrancelhas de tremeu, como se ela estivesse fazendo força para segurá-la sem nenhuma expressão. No entanto, acabou cedendo e sorrindo.
― Você veio até aqui para me acompanhar?
― A conversa estava boa, não queria interromper. ― Sorri de volta.
― Talvez nós devêssemos fazer isso mais vezes. Você vai pra escola a pé sempre? ― Assenti, observando-a mexer na própria mochila, tirando de lá uma caneta. ― Sua mão. ― Estendeu a mão e eu fiz o mesmo, deixando rabiscar alguns números na palma. ― Esse é meu telefone, caso queira ir pra escola comigo. Geralmente eu vou e volto sozinha porque nenhum dos meus amigos mora nas redondezas. Seria ótimo ter com quem conversar. ― Olhando seus números redondinhos desenhados na palma da minha mão, não contive o sorriso aberto que se formou. ― Preciso entrar. Nos vemos por aí. ― Acenou e caminhou em direção à porta, deixando-me ali parado, encarando suas belas costas que ficavam muito bem vestidas naquele casaco.


#2 She's got a book for every situation...

Após a primeira mensagem enviada para perguntando se gostaria de começar a me acompanhar no caminho de ida e volta para casa, começamos a ser companhia um do outro. Nossas conversas eram, na maioria das vezes, sobre nossos interesses em comum, sobre nossas visões a respeito de determinados fatos, além de alguns poucos planos para o futuro. Por sermos ambos filhos de famílias que não se importavam em mudar de cidade ou estado e o faziam sempre que necessário, não haviam muitos planos que envolvessem criar laços afetivos com lugares ou pessoas. O desprendimento fazia parte de quem éramos. E era ótimo, pelo menos uma vez na vida, conhecer alguém que sabia como era o sentimento.
Na escola, pegando os livros que precisava em meu armário, de soslaio, conseguia ver a garota me observando de perto, como se estivesse prestes a dizer algo, porém não sabia ao certo como abordar ou entrar no assunto.
? ― Chamou-me assim que fechei a porta à minha frente.
― Sim?
― Você vai ao baile de primavera? ― Franzi as sobrancelhas. ― Quer dizer, você tem par?
― Geralmente, vou com meus amigos. ― Dei de ombros.
― Sério? Tipo, você não convida ninguém? ― Meneei a cabeça, negando.
― Você tem? ― Copiou meu gesto, negando.
― O que você acha se a gente… ― Não completou a frase.
― Você quer… ir comigo?
― Se você não perguntasse agora, eu certamente te convidaria. ― Rimos.
― Por quê?
― Você é legal e, a essas alturas, devemos ser as únicas pessoas que ainda não têm par, então, você não tem muitas outras opções. ― Não tinha nenhuma opção antes… ― Mas, claro, só se você quiser ir comigo.
― Eu quero. ― Trocamos um sorriso. ― Vai ser divertido.
― É… vai. ― concordou, balançando a cabeça para cima e para baixo de maneira quase imperceptível.
O sinal anunciando o início da primeira aula soou de maneira ensurdecedora pelos corredores, quase como se fôssemos pessoas em cárcere e estivessem anunciando o fim do nosso banho de sol ou do nosso momento de recreação. Acenando com um sorriso, disse “te vejo mais tarde” e partiu rumo à sua sala de aula.
era o tipo de garota que, de longe, você teria uma quedinha por ela. Entretanto, tão logo você a conhecesse estaria perdido por ela, pois, além de fisicamente muito atraente, era gentil, bem-humorada e entendia quase todas as menções à livros que eu fazia em meio às nossas conversas. Tanto que para cada assunto, tinha um livro que servia perfeitamente como referência.
A verdade era que sentia tudo meio bagunçado dentro de mim, afinal, gostava de desde o primeiro dia que havia posto meus olhos sobre ela, no entanto, não tinha a menor ideia de como era me apaixonar, logo, como poderia dizer que o que sentia por aquela garota não era somente uma amizade mal-interpretada?
Só de pensar sobre o assunto minhas mãos já começavam a suar e meu coração acelerava. Ela era a primeira garota por quem me interessava desta forma. E haviam outros motivos para ficar preocupado. Talvez apenas tivesse me convidado por estar sem par e sermos amigos. Talvez ela não tivesse nenhum outro tipo de interesse em mim. Todavia, se o tivesse e descobrisse como me sentia, quem sabe quisesse levar as coisas para outro nível e como faria isso, uma vez que nunca tinha ficado próximo o suficiente de nenhuma outra garota assim?
Estes eram questionamentos que, muito provavelmente, só se responderiam com o tempo.


#3 How would I tell her that she's all I think about?

Na noite do baile, como de costume, meu pai me emprestou o carro, desta vez, com um sorriso maior do que nos anos anteriores por ter descoberto que ― finalmente ― iria com uma garota. Acho que ele só queria ter certeza de que eu era uma “pessoa normal”, que se interessava por outras pessoas e não só por coisas que poderia controlar, como jogos ou minhas maquetes.
Estacionando em frente à casa de , a garota já me aguardava na porta. Correndo, adentrou no veículo e pôs o cinto de segurança. Tão deslumbrante quanto nunca, , mais uma vez, havia conseguido me provar que a verdadeira beleza não estava na quantidade de maquiagem ou em uma roupa elaborada demais que alguém poderia usar. Seus olhos pareciam tanto quanto seus lábios, os cabelos presos em um penteado deixavam seu belo rosto ainda mais à mostra e, bem como o continente que carregava ao redor do olhos, sua nuca também continha uma mancha despigmentada que se estendia de um lado ao outro, parecida com a parte traseira de um colar.
Ao chegarmos ao ginásio da escola, todos os nossos colegas que iriam ao baile já estavam por lá, dançando com seus pares, conversando entre amigos ou se esgueirando pelos cantos para se embriagarem sem serem pegos pelos professores e pais que faziam vista grossa para evitar “problemas”.
Como esperado, chamou muita atenção para si, fosse dos colegas, dos amigos ou de pessoas que estivessem interessadas em ser algo a mais dela. Contudo, ainda assim, foi a mim a quem ela puxou para o meio de todos para dançarmos uma música que eu não fazia ideia do que era. Música não era muito a minha praia.
― Mesmo que não vá ter um concurso de rei e rainha hoje, acho que a escola já elegeu quem seria a vencedora. ― Sorriu.
― Besteira. Tem meninas bem mais bonitas que eu aqui.
― Nem tudo se trata de beleza, apesar de que isso você tem de sobra. ― Sorri e, ao perceber o que tinha dito, senti minhas bochechas queimarem, pois não sabia de onde tinha vindo aquilo.
― Nossa, obrigada. ― Notei um leve rubor na parte despigmentada abaixo de seu olho.
Ao fundo, uma música animada começou a tocar [n/a: toca essa].
― Eu amo essa. ― Seu corpo começou a se mexer no ritmo da melodia lentamente. Vendo-me um pouco mais duro do que a música pedia, segurou minhas mãos com as suas para me incentivar, balançando meus braços, a fim de que eu entrasse no embalo.
Erguendo nossos braços me fez rodopiar com ela, caí na risada, contagiando-a. Era engraçado estar com alguém que me fazia querer fazer todas aquelas coisas que não costumava fazer ou que não faria se estivesse sozinho ou na presença de amigos. era esse tipo de pessoa divertida. Ela não ia à festa. Ela era a própria festa e, em sua companhia, eu era capaz de festejar a noite inteira sem cansar.
Sentia meu corpo inteiro aquecido pelo suor que estava começando a produzir devido à movimentação, entretanto, não era capaz de parar. A garota à minha frente sorria animada, também começando a suar. Rindo da minha própria falta de jeito para alguns passos, parei por um segundo de dançar para recuperar o fôlego.
― Precisando de uma água, ? ― Ri, assentindo, tentando acalmar a respiração.
― Podemos? ― Concordou com a cabeça, pegando minha mão e me guiando para a mesa de bebidas.
Afastados do aglomerado de estudantes dançarinos, pegamos garrafinhas de água, que estavam postadas sobre a mesa ao lado do ponche e alguns lanches. Secando nossas garrafas em segundos, permanecemos em silêncio, respirando fundo e olhando ao redor. Era a primeira vez que estava de fato aproveitando uma noite como qualquer adolescente da nossa idade deveria fazê-lo.
, tem algo que eu quero te contar. Talvez não faça muita diferença pra você, mas, ainda assim, eu sinto que devo te contar. ― Seu olhar apresentava ligeiramente mais sério que antes.
― O que foi? Aconteceu algo?
― Meu pai… foi transferido de base de novo. Então… ― Bateu com a garrafinha fechada na palma da mão em uma postura mais tensa.
― Você vai se mudar de novo ― completei, baixo.
― É… ― Assentiu, franzindo os cantos dos lábios.
― Quando?
― Em um mês. Meus pais conversaram com a direção da escola e conseguiram adiantar minhas provas finais pra que eu consiga me mudar sem prejuízos escolares.
Meu estômago inteiro se revirou. Uma queimação se instalou no meu esôfago e um nó se formou na minha garganta.
Só a possibilidade de não ver mais e seus olhos heterocromáticos todos os dias pela manhã, ouvir suas risadas ou parar a cada três ou quatro quarteirões para que pudesse amarrar seus cadarços que sempre se soltavam me deixava frustrado. Imaginar uma vida onde e seus dois cigarros matinais intercalados com cantorias no caminho para a escola era um dos cenários mais deprimentes que já tive o desprazer de visualizar em minha mente.
― Pense pelo lado bom, você vai poder se reinventar de novo. ― Me forcei a dar um meio sorriso encorajador.
― Por incrível que pareça, dessa vez, eu não quero ir. ― Apertando a garrafa em meio às mãos, estabeleceu contato visual comigo daquele jeito que fazia quando estava prestes a me contar algo importante ou que não deveria ser esquecido. ― Acho que finalmente encontrei motivos suficientes para desejar ficar. ― Deu um sorriso fraco.
Dando passos curtos e hesitantes em minha direção, sobraram apenas alguns poucos centímetros entre nossos corpos. Antes que pudesse dizer mais o que quer que quisesse, uma amiga de a pediu para que a acompanhasse até o banheiro, pois precisava de ajuda com algo. Olhando para mim com cara de quem questionava se estava tudo bem, confirmei com a cabeça em silêncio, assistindo-a se afastar de mãos dadas com a amiga.
Respirei aliviado.
Ao mesmo tempo em que queria muito ouvir o que ela tinha a dizer e, quem sabe, até beijá-la, toda aquela situação me deixara ansioso por motivos óbvios. Minhas mãos suavam enlouquecidamente, tanto que tive de secá-las nas calças.
Caminhando pelo salão, encontrei alguns amigos conversando e bebendo ponche em um canto. Após cumprimentá-los, não consegui me envolver em qualquer que fosse o assunto, apenas balançava a cabeça e sorria quando os percebia falando comigo.
Alguns muitos minutos mais tarde, vi voltar ao salão, olhando em todas as direções, parecendo procurar por alguém. Sabendo que era por mim, despedi-me dos meus amigos e fui ao seu encontro.
A garota sorriu daquele jeito que chegava a iluminar os olhos.
― Tá tudo bem com a sua amiga?
― Tá, sim. Ela teve um problema com o zíper do vestido. O que acha de irmos um pouco na rua? ― Assenti, seguindo-a com as mãos dentro dos bolsos frontais da calça.
Parados do lado esquerdo da porta do ginásio, me olhava nos olhos, como se tivesse algo a dizer que não sabia como colocar em palavras. Portanto, pigarreei e comecei o que tinha pensado que talvez fosse um bom início para o assunto pendente que tínhamos:
― Eu não sei o que ia acontecer antes de você ir ajudar sua amiga, mas acho que preciso dizer isso. ― Com uma das mãos na gravata, dei uma leve afrouxada no nó para tentar reduzir o aperto que sentia na minha garganta, no entanto, ao fazê-lo, percebi que o tal aperto era produzido pelo meu corpo, logo, não havia muito que pudesse fazer para aliviá-lo. ― Não sei se deveria falar isso pra qualquer pessoa antes de fazer algo, mas eu nunca… ― pigarreei de novo e retomei: ― Eu nunca beijei ninguém.
Diferente de como achei que seria, não esboçou nenhuma surpresa nem transformou aquilo em um grande caso.
― E você quer que eu seja sua primeira? ― Deu dois passos na minha direção, reduzindo a quase nada a distância entre nossos corpos.
Nervoso, assenti devagar. Meus olhos estavam vidrados no pequeno sorriso que a garota estampava nos lábios enquanto colava nossos corpos, guiando minha mãos até sua cintura e depositando as suas em meu rosto.
Quando seus lábios tocaram os meus, foi como se uma tonelada de fogos de artifício explodissem ao mesmo tempo em meu peito. Demorei alguns segundos para perceber que aquela era a realidade presente e fechar meus olhos. Minhas mãos em contato com sua cintura formigavam e eu não tinha certeza se aquilo era plena excitação ou um AVC, mas torcia para que fosse só a primeira opção.
tinha uma boca quente e mãos macias. Tudo nela soava carinhoso e convidativo. Poderia facilmente passar o resto da minha vida tocando-a sem o menor problema.
Ao senti-la se afastando de mim, abri os olhos e a vi lá, em plena sua glória, encarando-me com um sorriso largo e luminoso nos lábios. Se aquela não era a única rainha daquela cidade inteira, eu a coroaria na minha vida para que reinasse sobre mim.


#4 Well I guess she just found out...

Nos dias que se seguiram, nos tornamos inseparáveis. Cada segundo era crucial, visto que sua partida ainda era uma realidade.
No mês seguinte, de malas prontas, me abraçou forte em frente à sua casa, dizendo que ainda nos veríamos de novo, entrou no carro dos pais e partiu.
Os primeiros meses foram repletos de e-mails trocados e algumas ligações por horas a fio nas madrugadas, que, aos poucos, foram diminuindo até restarem algumas esporádicas mensagens de texto perguntando se “estava tudo bem”.
Um ano inteiro se passou e meu foco total era conseguir entrar na universidade que havia planejado. Nada de interesses românticos ou distrações prolongadas, o que tornou uma lembrança muito distante na minha mente. De pouquinho em pouquinho, a senti se esvaindo, tornando-se uma memória quente e muito bem guardada na minha mente, pois não haviam esperança de que ela ainda se lembrasse de mim ou que nos encontraríamos outra vez.
Ao fim, todo o meu esforço valeu a pena, uma vez que havia sido aceito em ambas as universidades para as quais havia me inscrito. Tendo escolhido voltar a morar na Carolina do Sul, me matriculei na USC e, com o fim das férias de verão, comecei a organizar toda a minha mudança para fazê-la ao final do mês.
Seria horrível ser o garoto novo que não conhece ninguém mais uma vez. Pelo menos, esta seria a última e não teria que me mudar na metade do semestre de novo a não ser que quisesse.
Logo após ter terminado de arrumar minhas malas e as poucas caixas que havia levado dentro do armário que ficava no meu lado do dormitório, saí na companhia de Jeff, meu mais novo colega de quarto, para ir à festa de boas-vindas aos calouros, que aconteceria em um dos bares na saída do campus.
Chegando lá, fomos recebidos pelos veteranos de nosso curso, que nos levaram até outros calouros que pareciam tão perdidos quanto nós.
Com os olhos vagando pelo ambiente a fim de visualizar os outros presentes, um calafrio percorreu minha espinha ao pôr meus olhos nela. ainda se parecia a mesma menina que eu tinha conhecido há anos, porém algo nela soava diferente.
Tão logo que seu olhar recaiu sobre mim, sorriu abertamente e caminhou em minha direção a passos apressados e diria até animados.
― Meu Deus, quanto tempo! ― Abraçou-me sem nenhuma cerimônia.
Sem saber como reagir, continuei imóvel, sentindo seu cheiro tão familiar. Mal conseguia acreditar que realmente estávamos no revendo.
― Olha só pra você. ― Desvencilhou-se de mim, segurando-me pelos ombros e dando uma boa olhada. ― Você também é calouro? ― Assenti.
Estava tão emocionado em revê-la que as palavras nem chegavam a minha garganta para serem pronunciadas. Todavia, me forcei a perguntar:
― Você ainda se lembra de mim? ― Minha voz soou como um fio prestes a arrebentar.
― Claro que eu me lembro, bobinho. Você é o , do 2ºB, que ia e voltava da escola comigo. ― Deu mais um de seus sorrisos calorosos. ― Nunca mais encontrei uma companhia tão boa quanto você. ― Senti meu rosto queimar e me limitei a sorrir.
E, naqueles segundos que se seguiram, o mundo pareceu parar ao nosso redor. Mais do que nunca, eu tinha achado motivos para permanecer.




FIM.



Nota da autora: Tinha começado a escrever essa fic em um dia de madrugada depois de ouvir High Tops, do Del Gap Water, várias e várias vezes, mas nunca terminei. Quase nunca escrevo colegiais, mas, por algum motivo, eu só conseguia imaginar essa música assim e a história nunca saiu da minha cabeça. Aí passei meses guardando pra quando aparecesse alguma outra música que se encaixasse no que eu tinha em mente e que precisasse de poucas adaptações e veio aí kkkkkkkkk Enfim, espero que tenha ficado bom!!
Caso queira ler algumas das minhas longs, vou deixar linkadas aqui embaixo.
bjbj e até a próxima <3


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