03. Don’t Tell Me

Última atualização: 23/12/2020

Capítulo Único

CLASSE DE 2008


Naquela hora, não iria a lugar algum. E como poderia? Havia confirmado sua presença há meses e tinha certeza que desistir não seria uma boa opção. Toda a logística necessária para a sua presença já estava preparada, ela precisava ir.
Respirou fundo enquanto encarava o prédio através da janela do carro.
Não poderia ser ruim, talvez seria algo diferente. Sim, seria uma experiência totalmente diferente da que estava habituada, isso era verdade. Mas, acreditava do fundo do coração que não seria ruim.
, a segurança deu o ok. Podemos ir. — John a informou, atraindo a sua atenção.
— Ótimo!
— Estou muito ansioso. Vai ser incrível chegar nessa reunião e mostrar para todos como estou lindo e bem sucedido. — Ele disse, orgulhoso.
— Quem diria que o viadinho seria um dos maiores produtores musicais e compositores do mundo? — o provocou, rindo.
— Você me respeita. Viadinho não! Senhor Viado para você. — Ele lhe deu um tapinha e ambos gargalharam.
— Estou nervosa. — A moça confessou, encarando o prédio novamente.
— Relaxa, você só é uma cantora mundialmente famosa. Não é nada de outro mundo. — Ele deu de ombros, abrindo a porta do carro e saindo logo em seguida.



Cada passo que davam adentro do grande prédio que a Howard High ocupava, acordava uma lembrança que há anos estava esquecida dentro de suas memórias. Algumas boas, como o dia que cantaram juntos pela primeira vez no coral da escola. Outras nem tanto, como todas as perseguições que John havia sofrido por sua orientação sexual.
O ensino médio não tinha sido fácil, isso era um fato. Mas haviam boas lembranças. Haviam bons momentos. E era por isso que estavam ali.
Era bizarro como tudo estava exatamente do mesmo jeito. As paredes no mesmo tom de amarelo claro com marrom. Os armários numa cor que e John até hoje não sabiam decifrar, mas que poderiam jurar que era algum tom de cinza. E o piso branco com detalhes em bordô.
Era exatamente o mesmo lugar.
Conseguiam ouvir a música que tocava no ginásio. Os outros ex-alunos provavelmente já haviam chegado.
— Não podemos esquecer de ir na sala do coral. — lembrou. — Quero uma foto.
— Tá bom. Só que antes, quero ver como todos estão depois de dez anos.
— Você não vale nada. — Ela negou com a cabeça e riu sozinha do amigo enquanto eles seguiam em direção à festa.
Assim que pisaram no local, pode jurar que os olhos de todos se dirigiram até eles. Até tentaram disfarçar, mas ela sabia como era. Era assim em todos os lugares em que iam.
— Oh, meu Deus, ! John! Eu não acredito! — Eles imediatamente viraram em direção àquela voz inesquecível e não puderam deixar de sorrir.
— AMBER! — Falaram em uníssono e correram em direção da loira para um abraço.
Amber, e John, em algum momento da vida, haviam sido inseparáveis. Se conheceram no coral e por anos foram muito próximos.
Mas, com a vida adulta, as coisas foram ficando difícil. Amber havia casado e tido um filhinho, enquanto a agenda de e John era impossível.
— Nossa, faz quanto tempo? Dois anos? — Foi John que iniciou a conversa.
— Sim, dois anos. A última vez que nos vimos foi quando o Noah nasceu. Que saudades de vocês! — Ela deu outro abraço apertado em .
— Nossa, amiga. É, temos muito o que conversar. — A cantora respondeu, retribuindo o abraço na amiga.
Enquanto se atualizavam sobre os fatos importantes que aconteceram nos últimos dois anos em suas vidas, , John e Amber observavam o ginásio ir enchendo. Cumprimentaram algumas pessoas e conversaram poucas coisas com outras. Mas, parecia que algo impedia que uma conversa de verdade fluísse quando estava presente.
Era claro que seus ex-colegas se sentiam intimidados pelo fato de justamente ela, a esquisita, tivesse se tornado uma cantora e atriz mundialmente famosa e premiada. Jamais imaginariam isso. E, mesmo que John fosse tão famoso e premiado quanto ela, a barreira não existia, já que era difícil as pessoas que não eram interessados profundamente em música realmente saberem sobre sua carreira como produtor.
— De todos os presentes, você era justamente quem eu não imaginava encontrar hoje. — imediatamente olhou para trás. Havia ido até a mesa de bebidas pegar algo para molhar a garganta quando foi surpreendida.
? — Ela encarou o homem, que sorria, achando engraçado a confusão estampada na face da moça.
— Estou tão diferente assim? — Ele perguntou e por um momento, pensou que ia ter um ataque cardíaco.
Para ele, a reação dela era um tanto quanto cômica. Ela o encarou e piscou várias vezes, como se tivesse tentando processar todas as informações.
— Estou em choque. — Ela murmurou e riu sozinha, para então se aproximar e abraçá-lo.
e tinham uma relação um tanto quanto complicada.
Ele, jogador do time de futebol, que fazia o maior sucesso no colégio e que as vezes, se aventurava pela música. Havia entrado no grupo do coral em seu segundo ano, por bobeira e acabou se apaixonando ainda mais pela arte. Ele sabia que seus melhores momentos no colegial tinham sido quando estava em cima do palco, mesmo que poucas pessoas realmente soubessem disso.
Conheceu justamente ali, e desde o início a química entre os dois era inegável. Começaram a passar mais tempo juntos e com isso, todos juravam que dali sairia um relacionamento amoroso.
Só que, quando se tem 16/17 anos, muitas coisas pesam, muita opinião pesa e isso sempre os impediu, mesmo que se gostassem muito e que, as vezes, rolasse alguma coisa.
saia com outras garotas. começou a fazer testes para iniciar sua carreira como atriz.
E com o fim do ensino médio, acabaram se afastando. Bom, era isso que pensava.
— Quanto tempo. Você mudou muito. — Ela disse, assim que se afastaram.
— Quase dez anos.
— Nossa, quase dez anos. — Ela murmurou para si, se dando conta de como dez anos haviam passado rápido. — E como você está? O que você tem feito da vida?
— Ah, você sabe, estou bem. Continuo aqui, sou policial.
— Policial? Que... Legal. Diferente. Não imaginava. — Ela realmente não imaginava que , aquele que fornecia as coisas ilícitas para os colegas, se tornaria quem ele mais odiava.
— Não é nada glorioso, mas dá para pagar as contas.
— Isso é importante. — Ela concordou.
Era estranho estar ali com ele, após todos aqueles anos. Não estava nem um pouco confortável e era visível. Ela pegou um copo vermelho, típico de festas como aquelas e se serviu com cerveja. Estar sóbria não era mais uma opção.
Hytes, então. — Ele comentou, referindo-se ao seu sobrenome artístico.
— Pois é. não era comercial o suficiente. Tive que mudar. — Deu de ombros. — Confesso que gosto bastante. — Ela sorriu.
— Eu também. Digo, do seu nome. Das músicas, nem tanto. São boas, mas não são do meu gosto particular.
— Entendo. — Ela concordou com a cabeça. Quando queria, era extremamente inconveniente e isso, pelo jeito, não tinha mudado.
, estava te procurando! — John a chamou, interrompendo a conversa dela com o homem que estava de costas para ele há tempo demais e ele estava curioso demais para saber de quem se tratava. se virou, dando de cara com John e por um momento, pode respirar aliviada. Agradeceria a John mais tarde.
? — A confusão em sua face foi a mesma da amiga, fazendo com que ela risse baixinho.
— Acho que a barba fez uma diferença enorme, ninguém está me reconhecendo hoje. — Ele riu e estendeu a mão para cumprimentar o rapaz. — Quanto tempo, John.
— A barba melhorou você, e muito. — John disse, aceitando o cumprimento.
— Vou levar isso como um elogio.
— E deve! — disse, indo para o lado do amigo. — John, eu queria ir até ao banheiro. Você pode me acompanhar?
— Certas coisas nunca mudam. — murmurou, lembrando como os dois a sua frente nunca se desgrudavam quando mais jovens.
— Já voltamos. — A moça informou, puxando seu amigo para longe do homem.
arrastou John até a porta do banheiro do outro lado do ginásio. Dali tinham uma visão privilegiada de próximo a mesa de bebidas e poderiam conversar em paz.
— Credo, menina. O que aconteceu? Não pude nem admirar o gato do direito.
— Você tem noção de que ele está aqui? Você me jurou que ele não vinha! — A moça reclamou.
— Ei, eu não jurei nada. Só disse que ele não tinha confirmado.
— É a mesma coisa que dizer que ele não vinha. — Ela resmungou. — E agora? O que vou fazer? Não quero ter que passar a noite falando com ele. Ele vai questionar o porquê de eu ter só sumido.
— E você, como uma mulher adulta que é, vai dizer a verdade.
— Ah, é claro. Vou chegar e dizer: "Então, eu sumi porque quando perdi a virgindade com você, engravidei e percebi que não gostava de você o suficiente para enfrentar tudo o que viria pela frente. Não tive coragem de abortar, resolvi dar a criança para adoção e fui correr atrás da minha carreira longe de tudo."
— O QUÊ? — Ele praticamente gritou. — Você é louca? Jamais repita isso em público. — Ele a repreendeu. — O que eu quis dizer foi, que era para você falar que depois daquela cena que ele fez dizendo que não queria que você investisse na sua carreira, você pensou bem e fez uma escolha. Só isso. Sem detalhes. Por deus, você é louca.
— Você me respeita. — Ela murmurou. — Estou nervosa. Não pensei que fosse vê-lo mais.
— Respira fundo, pensa em todos os Grammy’s que você já ganhou, em como arrasamos no seu último álbum. Pensa na sua estreia no cinema que te rendeu indicação em todas as premiações do ano de melhor atriz e melhor trilha sonora. — A moça respirou fundo, orgulhosa de pensar em todas as conquistas que John comentava. — Agora trate de se recompor e, quando ele perguntar o motivo de tudo, o que ele vai fazer, você diz que a culpa de tudo é exclusivamente dele. Por ter sido um idiota e não ter te apoiado. Chega de se culpar por algo que você não fez.
— Você é o melhor amigo de todo o mundo. — Ela o abraçou forte.
— Eu sei. — Disse ele sorrindo, retribuindo o abraço da sua melhor amiga do mundo.



Com a chegada de Austin, Rômulo e Diana, o clima havia melhorado e finalmente a conversa passou a fluir. Ao som de Into the Groove da Madonna, relembraram a primeira vez em que participaram do concurso regional de corais, em que havia feito o seu primeiro solo e quase caído no palco.
— Quando errou o passo e tropeçou em , eu pensei que fosse morrer. — Amber comentou, fazendo com que o grupo risse.
— Ganhar aquele ano foi pura sorte. Deus, como éramos péssimos. — Austin resmungou.
— Ei, eu já era ótima. — o cortou, provocando-o.
— Cantora, né? — a questionou. — Porque todos aqui sabemos que dançar nunca foi o seu forte.
— Amiga, me desculpa, mas eu tenho que concordar com o . — John disse, ganhando uma língua em retorno de sua amiga.
— Any Way You Want / Lovin' Touchin' Squeezin' foi, de longe, a nossa melhor apresentação. — Relembrou Rômulo, nostálgico.
— SIM! — deu um gritinho animada com a memória. — Eu amo essa apresentação e irei defendê-la pra sempre.



— Eu queria tanto que você não perguntasse o que eu acho que você vai perguntar. — murmurou assim que ele se sentou ao seu lado na arquibancada.
— Você sabe que eu preciso perguntar. Passei anos tentando entender o que aconteceu. Eu fiz tudo por você , você precisa me explicar o porquê de simplesmente ter sumido. Por que você teve que ir?
— Mas foi você quem se afastou primeiro, . Eu me lembro exatamente da última vez que nos encontramos. Você me pegou pela mão e me levou pra casa. Tínhamos acabado de discutir. Você não queria que eu fizesse o teste para o elenco da Disney. Tinha pedido para eu escolher, você não lembra?
— Não foi bem assim. — Ele se defendeu. — Foi você que...
— Esse seu jogo de tentar jogar a culpa em mim não irá me atingir, eu não fiz nada errado. Você me fez uma pergunta, que jamais deveria ter sido feita. Depois fomos para a minha casa e você me beijou, mas era um beijo diferente, e eu sabia o porquê de você ter me dado aquele beijo. Você queria que eu cedesse. Você pensou que eu ia ceder, não pensou? — perguntou e não obteve resposta.
— Você secou minhas lágrimas e tirou todos os meus medos e inseguranças inúmeras vezes. Por que, justamente quando eu mais precisava, você fez aquilo?
— Eu não conseguia suportar a ideia de você estar conseguindo conquistar todos os seus sonhos e eu ficar ali, a sua sombra. — Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e tampou seu rosto com as mãos, frustrado. — Eu sempre soube que você conseguiria tudo e mais um pouco. Você sempre foi uma estrela, . E eu, eu nunca fui suficiente em nada.
— Não diga isso. — Ela murmurou.
— Mas é verdade. Nunca fui um jogador excelente, nem um ator excelente, muito menos cantor excelente. Sempre fui mediano, em tudo. Menos quando se tratava de você. E a ideia de te perder para esse mundo era horrível.
— Você poderia ter conversado comigo. Eu gostava muito de você, mas fiquei realmente chateada. Você não deveria ter me dito o que fazer. Foi ali que você me perdeu. — Ela confessou.



— Finalmente ficamos sozinhas! — A loira exclamou. Atraindo a atenção da colega.
— Sim. — forçou um sorriso, sem entender muito bem o que estava acontecendo.
— Nunca pensei que, de todos nós, justamente você ia ser a que ficaria famosa. O mundo dá voltas, não é mesmo?
— Pois é. Eu mesma, até hoje, quase não acredito.
— Então, tem uma coisa que eu me pergunto há muito tempo.
— O que? — perguntou.
— Depois de todos esses anos, eu ainda me pergunto, o que aconteceu com o seu bebê? — Hailey perguntou, fazendo com que congelasse.
— Be-bebê? — A cantora gaguejou.
— Não finja que não sabe do que estou falando. Eu lembro de você passando mal nos ensaios, nos banheiros, cochichando pelos cantos com John. Quando soube que você e tinham perdido a virgindade juntos, juntei A+B.
— Acho que você está confundindo as coisas.
— Não estou. Me lembro como se fosse ontem de te ouvir vomitar chorando no banheiro do segundo piso. Nunca contei para ninguém, porque não sou a vadia sem coração que todos acham que eu sou. Eu só passei todos esses anos curiosa. Então me responda. — Assim que avistou a última pessoa do mundo que gostaria de ver naquele momento, novamente pensou que fosse ter um ataque cardíaco. Tentou fazer de tudo para que a moça se calasse, sem sucesso.
— Hailey, não, por favor. — Pediu.
— O que você fez com o bebê do ? — torceu para que o rapaz não tivesse ouvido, mas assim que ele direcionou o seu olhar confuso para ela, ela entendeu.
— Que bebê? — perguntou, encarando uma totalmente sem reação.




Fim!



Nota da autora: Muito obrigada pela leitura.
Amo Avril e fazer parte desse ficstape foi tudo pra mim.
Espero que tenham gostado e se puderem comentar e deixar um coraçãozinho, eu serei eternamente grata.
PS: Vai sim ter uma continuação, no ficstape da Camila Cabello, em Shameless. ♥️
Beijos e até a próxima. 🥰


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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