Capítulo Único
Remember how I used to be so
Stuck in one place so cold?
Feeling like my heart just froze
Nowhere to go
With no one, nobody
piscou os olhos gradativamente, quase como se pudesse sentir seu coração descompassar e no mesmo momento, esticou as mãos como se pudesse consertar o que tinha feito.
O impulso de seus dedos em direção ao casal há alguns metros de si não teve qualquer resquício de sinal em relação a seus poderes como um cupido amoroso e aquilo fez com que seus olhos crescessem em surpresa e, pior ainda, em desespero.
— Eu não acredito… — murmurou para si mesmo, podendo sentir um leve rubor em seu rosto pelo nervosismo e ao notar a reação dos dois seres humanos se encarando de forma estranha ao esbarrarem um com o outro e seguirem para seus caminhos, sem qualquer sinal de um amor destinado, quase urrou.
quase deixou o corpo esvair sobre os andares do pequeno edifício em que estava sentado ao sentir o quão encrencado poderia estar naquela hora. Não notou quando um de seus companheiros, ou como poderia dizer melhor, um de seus amigos que também tinha a mesma função que ele, se aproximou, deixando que uma de suas mãos repousasse sobre o próprio queixo.
estreitou os olhos, ainda observando.
— Será que devo dizer agora?
— Fica quieto, . — o mais novo resmungou outra vez, sentindo a visão queimar com o que tinha predestinado. Sabia certamente que uma punição daquelas viria a seu encontro por seus superiores.
— Eu não entendo como você insiste nessa de traçar o caminho que você acha certo. — suspirou, fechando os olhos. — Quantas vezes precisei dizer que nunca se questiona os objetivos deles? Se foi te encaminhada uma missão, era só cumpri-la, .
— Como se fosse apenas isso. Eles não tinham nada em comum, nenhum interesse por nada pessoal, nem mesmo personalidades parecidas. Me explica como isso daria certo?
O outro suspirou, sabendo que não era a primeira vez que havia o aconselhado.
— Não sou eu que tenho que explicar algo. — deu de ombros, colocando uma das mãos no ombro do amigo. olhou da mão do mesmo para seu rosto, podendo ver a nuance do arco e flecha preso nas costas de . — Por isso estou aqui. Eles querem um esclarecimento. E agora você precisa vir comigo.
Com um suspiro pesado e os olhos ainda pousados em , olhou para o casal uma última vez, que agora tinham uma distância considerável um do outro, antes de ir ao encontro de seus superiores.
— Eu só consigo pensar em uma única coisa.
tinha seus olhos arredondados, quase arregalados, vasculhando todo o lugar em que estava, tentando absorver qualquer que fosse sua punição. Claro que já imaginava o motivo de ter sido levado até ali e tinha plena certeza de que havia feito algo que não deveria, aquilo era fato. Ter alterado o destino que foi lhe encaminhado havia sido uma péssima ideia, mas o cupido ainda se agarrava ao fato de que a missão em si tinha algo de errado.
Eles não estavam destinados.
Deixou um suspiro fraco escapar por seus lábios enquanto as vozes a seu redor ficavam mais evidentes cada vez que tentava focar sua atenção não só em , mas em seus superiores também.
— Você tem ideia do problema que pode ter acarretado? De como ter mexido nessa linha temporal faz com que tudo mude?
A entonação do que falava se tornava cada vez mais alta na medida em que proferia suas palavras. engoliu em seco, deixando seus olhos baixos.
— Eu sinto muito, senhor. Sei que não deveria ter feito dessa forma, mas eu analisei há um tempo e…
— Você analisou? — perguntou, em ênfase, como se desacreditasse do que havia ouvido naquele instante. — Como ousa alterar o curso do destino, ?
A forma com que havia falado fez com que o cupido estremecesse no lugar onde estava. Nunca havia presenciado tanta ferocidade como a que estava vendo naquele instante.
E aquilo fez com que ele quase começasse a se arrepender de sua atitude.
deixou que seus olhos percorressem de relance em direção ao amigo, como se tentasse confortá-lo de alguma forma, mesmo sabendo que o mesmo havia feito algo de errado. Com isso, fechou seus olhos fortemente por alguns segundos. era um de seus parceiros preferidos, mas claramente chegava a ser mais que impulsivo e aquilo só lhe acarretava problemas e mais problemas.
E não sabia mais o que fazer para ajudar.
— Eu não vejo como você pode conseguir se redimir, . A menos que — o mais alto e resplandecente permaneceu com a mesma expressão impassível de antes e lançou um olhar fulminante em direção a . — A menos que você mostre que é merecedor de uma nova chance.
O cupido piscou algumas vezes, tentando assimilar o que havia ouvido.
— Como… Como posso fazer isso?
Com um sorriso diligente no canto dos lábios, o outro o olhou uma última vez antes de lhe proferir as últimas palavras e sumir em meio a claridade que os adornavam.
— Você irá conviver com eles até entender como nossas missões funcionam verdadeiramente.
E aquilo foi o suficiente para compreender que queria ter feito tudo, menos ter interferido no destino daquele casal.
Hoping someone would save me
'Till you called out my name
Something in me just changed
Got me
não se lembrava de muitas coisas. Não se lembrava de ter ido para o lugar em que estava, nem mesmo se lembrava de como havia chegado ali. Ele conseguia se lembrar de não ver por um bom tempo e de que seus dias passaram a ser monótonos e enjoativos, exatamente como os das pessoas que estava acostumado a flechar para que encontrasse o verdadeiro amor.
Como justo alguém como ele poderia ter acabado daquela forma, misturado com meros mortais?
Respirou fundo. Não ia questionar. Havia feito por merecer e estava pagando por sua insistência e teimosia.
Agora ele só precisava descobrir como voltar a ser o cupido que era antes de seu pequeno deslize.
Deixou que suas mãos repousassem sobre seu rosto mais uma vez, em uma forma de descanso e voltou a respirar fundo exatamente como antes, se sentindo levemente entediado.
O que não durou muito tempo, já que a aparição de uma pessoa que se tornou conhecida em seus dias lhe deu um pequeno susto.
— Que expressão é essa, ?
O rosto de tomou o campo de visão do rapaz, fazendo com que o mesmo voltasse sua atenção à realidade que presenciava. Podia observar com nitidez as bochechas da garota rosadas pelo mormaço que costumava fazer na minuciosa vila e de como seus olhos pareciam profundos cada vez mais que ela aparecia em frente a si.
Antes de respondê-la, se lembrou de quando chegou àquele lugar e de como ela havia sido a primeira pessoa a aparecer para si. Não acreditou quando notou que ela podia vê-lo e só então caiu em si de que ele havia se misturado com os humanos. E é claro que seu desespero havia tomado conta de seu corpo.
A verdade era que, a primeira coisa que lhe passou pela mente foi a de não ter contato com nenhum deles. De não falar, tocar ou qualquer outra interação que resultasse em alguma outra punição como aquela. Mesmo tendo plena convicção de que não merecia aquilo, não queria arriscar.
Só que ao bater seus olhos na garota, tão viva e espontânea sorrindo para ele inteiramente calorosa, conseguiu sentir algo que nunca achou que sentiria algum dia.
Não como um cupido.
A boca de seu estômago revirou e seu corpo formigou levemente, em uma sensação quase que reconfortante. Ele não sabia definir muito bem o que havia sido aquilo, mas se tinha sido bom, ele tinha certeza que sim.
Desde então passou a fazer parte dos seus dias e ela havia sido a única pessoa que tinha a capacidade de tornar sua estadia naquele lugar menos enfadonha.
— E então, não vai me responder?
Ele deixou um suspiro leve escapar dos lábios e a observou um pouco mais.
— Não tem nada de errado com minha expressão. Eu acho. E bom, você parece feliz demais hoje. — comentou, desviando seu olhar. tinha aquela coisa. Quando batia seus olhos em , permanecia de forma tão intensa que aquela reviravolta em seu estômago voltava outra vez.
— Ah, mas você parecia tão… Como posso dizer? Disperso? Seu olhar fica bem distante daqui.
Com rapidez, girou o corpo se sentando ao lado do cupido.
pensou no que ela havia dito. Talvez ele realmente estivesse um pouco distante, mergulhando nos pensamentos que rondavam sua mente, sobre realmente voltar para seu lugar. Mas, do mesmo jeito que pensava em voltar para seu lar, queria descobrir se estaria com ele de alguma forma. Conhecer a garota não estava em seus planos, mas a forma com que ela lhe conquistou havia sido surreal. Quase como mágica.
— Não se preocupe com isso. — virou o rosto, a olhando. Com isso, deixou um sorriso leve tomar conta de seus lábios. Ele queria transparecer tranquilidade.
— Se você diz… Ah! Eu, hm… Queria te contar uma coisa. — a garota se remexeu, aparentemente nervosa demais para sua personalidade. estranhou quando viu seus dedos delicados tremendo levemente e quando o olhar de começou a se perder no lugar ao redor.
Aquele frio na barriga havia voltado outra vez. sentiu sua garganta secar assim que a garota ergueu os olhos brilhantes em sua direção.
Ele já havia visto aquilo antes.
Havia visto justamente neles. Meros mortais.
Quando os flechava para o amor.
piscou os olhos e foi exatamente como se tudo a seu redor tomasse uma tonalidade maior, mais vibrante. O olhar de sobre si fez com que algo insólito lhe acontecesse. Não era só as insistentes borboletas em seu estômago, mas agora algo queimava em seu peito.
Queimava, acelerava.
E a única coisa que ele sentia que queria fazer era aproximar suas mãos do corpo de , para tocá-la decididamente pela primeira vez.
Cause baby
you're a real one real one
Teaching me to feel something
so strong
We could reach out and grab it
Foi exatamente como se a paisagem caísse a seu redor e as cores escorressem até dar lugar para o local branco e sem vida em que se encontrava naquele instante. piscou seus olhos como antes, procurando entender o que estava acontecendo.
Mas só conseguiu vislumbrar de primeira o semblante sério de o encarando, mesmo seu olhar suplicando um pedido de desculpas.
sentiu o corpo estremecer como quando encontrou seus superiores após ter cometido seu deslize e algo parecia muito, muito, fora do lugar.
Ele tentou impulsionar o corpo em direção ao amigo que ainda o olhava, mas maneou com a cabeça, em negação, para não insistir em fazê-lo. E aquilo fez o desespero tomar conta de si por inteiro.
queria uma explicação, queria saber o que lhe acontecia e com isso, voltou a olhar a seu redor em busca de explicações até observar seus superiores próximos de si, exatamente como antes.
Eles o encaravam.
— Você sentiu.
continuou imóvel e calado tentando digerir o que acontecia. Não havia entendido o que tinham lhe dito, com isso apenas deixou o olhar cair sobre eles.
— O que? — murmurou, em um sussurro. Parecia sem forças para tentar algo.
— , mas que interessante. — um deles caminhou em sua direção, com o olhar imerso em curiosidade. — Você não só entendeu, como sentiu. E não transborda um pingo de arrependimento.
— Eu não entendo… O que vocês…
Ele tentava respirar, mesmo sabendo que não era aquilo exatamente que fazia. Como uma criatura celestial, alguns sentimentos e motilidades não podiam ser sentidas, mas por que ele conseguia sentir seu peito ainda ardendo em um sentimento estranho?
A primeira coisa que lhe veio à mente foi . E o desespero tomou conta outra vez.
— . — sussurrou, com os lábios entreabertos. Com isso, ergueu seu olhar para todos. — Como consigo encontrá-la? Eu a conheci e agora…
— Você ainda não entendeu o seu castigo, ?
O superior que se mantinha mais afastado proferiu, se aproximando lentamente ao fixar seu olhar ao de e assim que chegou mais perto, deixou um sorriso sereno tomar conta de seus lábios.
— Seu coração queima, cupido. Não só bate tão rápido que se torna inexplicável, mas aquece todo seu ser. Você sabe o que quero dizer? Os olhares, sorrisos e a forma com que lhe fazia sentir. Sabe o que isso significa? — perguntou retoricamente. sentia o coração bater ainda mais forte. — Você foi destinado, exatamente com a função do seu trabalho.
— O que? — a voz do mesmo saiu falha, quase como se não tivesse acreditado no que havia acabado de ouvir. — Isso não é possível, eu… E ela?
A única coisa que queria era saber como achar . Como realmente estar perto dela.
Mas o olhar lascivo de seu superior, próximo a si, o fez entender tudo.
entendeu o seu castigo.
— Você não foi somente destinado, . Você conheceu sua alma gêmea. E seu castigo, deus do amor, será encontrá-la. Aonde quer que ela esteja.
If you've got a broken heart
just take a chance