Finalizada em: 10/12/2020

Capítulo 01

O tempo é uma ilusão, uma perspectiva, algo como nós enquadramos. Seja em horas, dias, semanas, meses e anos. Einstein dizia que o tempo não passa de uma ilusão, algo permanente. No entanto o compreendia como algo necessário, um presente talvez e uma tortura de vez em quando. O importante era sua presença, constante e insólita. A beleza dele estava exatamente em não ser compreendido de forma única, havia sempre mais de uma maneira de enxergá-lo. Otimismo? Não! Realidade!
Enquanto divagava descrevia as funções básicas de um administrador em meu caderno. Era o quinto período da faculdade, haviam se passado anos após a viagem ao peculiar vilarejo. Papai nos trouxe de volta para a Califórnia, apressado e apreensivo. Havia algo que ele não tinha me contado; mamãe não falou uma palavra a respeito da atitude incomum de meu pai. Ambos eram artistas, minha mãe era Daniela Sefira, pintora e excelente artista plástica. Meu pai era Nyan Servent, escultor e um exímio pai. Ambos possuíam suas peculiaridades em seu modo de criação. Me fizeram viajar o mundo sozinha duas vezes, para que assim descobrisse meu dom em alguma arte. Não preciso dizer que a busca foi um completo desastre?!
Era uma negação para qualquer ofício artístico. Tentara inúmeras vezes desenvolver uma só habilidade que fosse, mas quando isso ocorria... A bagunça era certa! Meus pais brigavam muito pelo futuro, qual carreira seguiria, o que faria. Eram tantas indagações que por muitas vezes minha opinião não fora ouvida. Desenvolvi uma paixão por administração; era uma profissão superestimada. Poucos a levavam à sério como deveria ser. Deixando os devaneios de lado prossegui anotando as informações ditas pelo professor. A aula não se estendeu por muito mais tempo; assim que guardei os materiais me encaminhei para fora dali. O problema de se ter pais famosos era a atenção excessiva. Por causa disso possuía um apartamento próprio; ele era arejado e mediano. Meus pais projetaram e o montaram, enchendo-o com suas obras favoritas para que assim eu pudesse me recordar deles.
Impressionante, como se pudesse esquecê-los! Eles eram a minha maior inspiração em lutar pelos meus sonhos! Vovô não aprovava muito a profissão que meu pai havia escolhido, mas após ver seu desempenho o apoiou. Minha mãe veio de uma família de artistas, a tinta era seu sangue como ela gostava de se referir aos seus familiares. No entanto, ela teve que lutar para mostrar que era tão talentosa quanto à sua família. A pressão sobre ela quase a fez desistir do que amava. Meu pai de início não era o mais entusiasta no fato de morar distante. Porém era Stanford! Minha faculdade dos sonhos! A discussão se poderia ir ou não foi longa, mas após a volta daquele vilarejo ele parecia mais volúvel. Meu pai cedia com frequência em nossas discussões; algo extremamente incomum! Aquele lugar guardava um segredo que me instigava a desvendá-lo.
A rodovia estava vazia, o horizonte exibia o pôr do sol se fundindo ao mar. Da janela de meu quarto podia ver as ondas rebentarem contra a encosta. O ar estava ameno proporcionando um clima agradável naquele fim de tarde.
Os relatórios para semana que vem estavam prontos, a primeira coisa que fiz ao chegar ali fora tomar um banho e fazer toda e qualquer atividade relacionada à faculdade. Ver aquela paisagem me causava uma sensação de saudade. Parecia que havia algo em mim faltando.

“Algo importante!”

Me deitei sobre o tapete da sala e fechei os olhos deixando a brisa me envolver; aquele momento solitário me trazia conforto. A paz daquele lugar era inimaginável e anteriormente parecia impossível um lugar assim existir. No entanto, havia uma inquietação latente, era algo insistente. Persistente, indulgente, incomodava-me com a sensação de que havia perdido algo. Desconhecia o que se tratava, mas aquela sensação me acompanhara desde o momento em que despertei no castelo. Aquele lugar me deixava inquieta, era um castelo realmente impressionante e majestoso, mas ele me deixava receosa.
Me sentei de repente, não conseguiria descansar. Os poucos minutos de paz foram tomados pela angústia. Meu peito encontrava-se apertado e tudo o que podia fazer era seguir para a varanda. Meus batimentos estavam estranhamente acelerados, sentia meu corpo formigar. Havia algo de muito errado acontecendo comigo. Peguei meu telefone com dificuldades e antes que caísse no chão consegui discar o número de meus pais...



Capítulo 02

O som dos aparelhos monitorando meu estado fora a primeira constatação de que estava em um hospital. Era difícil abrir os olhos, as pálpebras pareciam pesar toneladas. Não entendia o que havia me ocorrido para despertar naquele lugar. O colchão abaixo de mim era macio, havia algo como um cobertor causando um leve peso sobre meu tronco.
Minha mente estava enevoada, meu coração martelava em meus ouvidos e minha respiração parecia lenta e vagarosa... Eu não sabia o que havia de errado comigo, mas naquele instante apenas um nome passou pela minha mente: .
Era um nome desconhecido, porém minha mente estava familiarizada com ele. O frio me cercava me levando a repetir o nome constantemente, em um loop sem lógica consegui vislumbrar o brilho de um olhar ferido, acuado, mas determinado e somente aquela imagem me fez perder o fôlego.
Era difícil fazer com que aquele vislumbre permanecesse, mas minha mente caótica o levou embora. A dormência que me assolara desde que retornamos daquele vilarejo me tomou. A perda de algo valioso me enfurecia. Com dúvidas e cansada de lutar contra minha mente retornei para a tão conhecida inconsciência.

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Despertei numa manhã de domingo, os aparelhos soavam barulhentos demais no quarto silencioso. Os raios solares escapavam entre as fendas das persianas que buscavam impedir a luz de entrar. O celular de minha mãe indicava o dia e a hora exata, mas não era surpreendente encontrar o olhar sério de meu pai sobre mim.
O olhar que Nyan me lançará fora suficientemente capaz de transmitir sua preocupação. Minha mãe estava adormecida a poucos metros de mim. No entanto a figura de meu pai permanecia atenta a tela que monitorava meus batimentos e comprovavam que estava viva.
Aquela cena fora suficientemente intrigante e confusa. Não estava desnorteada, mas a confusão sobre o que de fato estava acontecendo me assolava! Retirei os tubos de minha traqueia com cuidado e descolei os fios de meus braços. Aquelas coisas estavam me incomodando. Os aparelhos obviamente começaram a apitar, porém meu pai permaneceu parado no canto leste do cômodo, imóvel e ao mesmo tempo observando o que faria em seguida.
Médicos surgiram, uma confusão instaurada para me segurar e realocarem os tubos em meu corpo. Meus olhos pediam ajuda ao meu progenitor; detestava hospitais e detestava ainda mais ser incapacitada, mas com um aceno de derrota meu pai permitiu que me sedassem...
Um looping então surgiu, a realidade e a inconsciência se misturaram... Olhos , intensos, uma gargalhada acolhedora e o perfume do homem misterioso se fundia a variação de médicos e enfermeiros zombeteiros injetando medicamentos em minhas veias e o olhar quebrado de meus pais...



Capítulo 03

Não sabia quanto tempo haviam se passado desde o momento em que fiquei presa no looping entre a realidade e os sonhos, mas naquele instante sabia que estava acordada e furiosa! Não haviam mais aparelhos ou qualquer fator que comprovasse minha estadia num hospital. Estava em meu velho quarto, as paredes em uma escala de tons azuis e vermelhos me cercavam. Haviam fotografias de lugares em que estive emolduradas e postas ordenadamente formando um globo terrestre. Na parede ao lado da porta que dava para a varanda estavam as fotos de momentos passados ao lado de meus pais, em um arranjo elaborado formava um coração.
Família. No entanto as faces de meus pais me transmitiam revolta, o quarto estava exatamente da mesma maneira que o deixara, com apenas a cama disposta perfeitamente entre a varanda e o centro do espaço. Uma porta dava para o closet/local que usava para estudar e a outra dava para o meu banheiro, o único móvel no quarto era a cama e mais nada além dos quadros nas paredes. No teto estava pintado a galáxia, ou um aspecto mais próximo que podia se assemelhar à beleza dela. Cada canto do local em que vivi foi controlado por Daniela Sefira, artista plástica e minha mãe. Meu pai se ocupava com seu ateliê, único local que minha mãe não poderia intervir. Um recanto de paz como ele mesmo o chamava.
Porém a cena no hospital deixava um gosto amargo em minha boca e fazia o meu sangue ferver em minhas veias. Desci da cama e segui para fora do quarto varrendo o corredor atrás de um vestígio que indicasse onde meus pais estariam. A casa em si era uma obra de arte em constante mudança, as paredes viviam sendo refeitas e remodeladas, não era surpresa encontrar tinta fresca sob o toque. Os corrimões eram constantemente marcados por tintas diversas por esquecimento de minha mãe, ela saia de seu ateliê e subia para o seu quarto tocando em tudo com suas mãos sujas. Nada em casa permanecia exatamente igual com exceção ao meu espaço: meu quarto.
Deixando as lembranças e a história de meu lar de lado, me aventurei entre os inúmeros cômodos de minha casa. O silêncio me acompanhava durante toda a minha busca. Ao fim nada fora encontrado, ambos não estavam presentes naquela imensa casa. Me deixei sentar sob um dos degraus da escada principal. Meus olhos miravam a porta, meu coração batia tranquilamente em meu peito e minha respiração estava normalizada. No entanto a confirmação da normalidade não me acalmou.
Buscava compreender os últimos eventos que se sucedera, uma tarde simples e em seguida o hospital. Ambientes distintos e confusos, porém ligados de alguma forma. A situação que me ocorria era desconhecida por mim, porém não tinha meios de descobrir o que estava acontecendo comigo mesma.
Resignada, me levantei cansada de esperar, haviam se passado horas desde o momento em que havia despertado. Deixei meus instintos me levarem até a biblioteca no sótão, o terceiro andar daquela casa fora remodelado de modo a abrigar uma imensa biblioteca. A luz natural entrava através do telhado de vidro blindado, o cômodo todo era cercado por vidro, no entanto as paredes somente proporcionava que quem estava do lado de dentro da biblioteca pudesse observar o que ocorria no exterior; preservando assim a privacidade e oferecendo uma iluminação natural ao local.
Meus momentos favoritos era me esconder entre as prateleiras em dias chuvosos, cercada por livros e madeira, lançava meus olhos para o teto e via a chuva cair sob o mesmo. Aquele lugar se transformava em meu refúgio. E exatamente como precisava a chuva se iniciou, não sabia se era dia ou noite, mas tudo o que desejava era paz. Um pouco de calma para o caos de minha mente.
Me deitei sobre o chão de carvalho e respirei profundamente o ar repleto do odor de livros e mais nada. O som da chuva caindo acima da minha cabeça era reconfortante. Deixei meus olhos fecharem enquanto era absorvida pelo ambiente.
Não sabia quanto tempo se passara desde o momento em que me deitei ali, mas ouvi passos na escada. Meu nome ecoava pelos corredores e denotavam certo desespero. Me sentei tomando algumas inspirações antes de abandonar o lugar em que estava. A chuva ainda caía e havia se intensificado em algum momento em que não notara.



Capítulo 04

Cuidadosamente saí da biblioteca e me encaminhei para a sala de estar. A voz de minha mãe ecoava pela casa inteira, porém a voz de meu pai não era escutada. Ele não havia dito nada. Ambos estavam de pé, no centro da sala em trajes de gala e com expressões semelhantes em suas faces. A face de meu avô parecia me olhar com intensidade do alto da lareira.
! — Minha mãe exclamou ofegante e preocupada.
— Onde esteve? — Meu pai indagou com um olhar semelhante ao que meu avô exibia do alto da lareira.
— Não sai desta casa, ao contrário de vocês. — Os respondi de modo evasivo.
— Estávamos preocupados. — Minha mãe se aproximou, o brilho alaranjado das chamas da lareira eram refletidos em seu vestido.

— Me internar à força sem motivos não é uma demonstração de preocupação. — Rebati, me afastando de seus braços.
— O que foi feito fora para o seu bem. — Meu pai me respondeu acolhendo minha mãe em seus braços, sua postura defensiva indicava que estava se preparando para o que eu fosse lhe indagar.
— O que está acontecendo? — Indaguei, furiosa, meus olhos revezavam entre fulminar ambos.
— Nada, você está bem novamente. — Minha mãe respondeu simplesmente fugindo dos meus olhos.
— O que eu tenho? Por que estão escondendo coisas de mim? — Exclamei, cansada e frustrada ao mesmo tempo.
— Nada, você está bem, ! Só isso importa! — Meu pai foi contundente e direto.
— Há algo que estão escondendo de mim... — Me aproximei da janela lançando um olhar para a enorme propriedade de meus pais. Não estava mais na Califórnia. Era fato! — Sinto que escondem a verdade de mim desde que nasci, mas tudo piorou quando retornamos daquele estranho vilarejo.
— O que você sabe sobre aquele lugar? — A voz de meu pai soou grave ao me questionar.
— Nada, nem ao menos me lembro como e o porquê estive ali. Tudo o que sei e sinto é que ocorreu algo importante ali. — Me virei, encarando os olhos tais como os meus. Meu pai me olhava de modo severo e... Não! Decepcionado?!
— Está enganada, nada ocorrera ali, minha filha. — A voz suave de minha mãe se fez ser ouvida mesmo com a tempestade do lado de fora.
— Vocês costumavam ser mais convincentes ao contar uma mentira. — Lancei um olhar magoado para ambos antes de me sentar sob a maciez do acolchoado sofá.
— O que está insinuando? — A voz de meu pai soou indignada.
— Pais mentem o tempo todo para os filhos, mas, dessa vez, eu sinto como tudo o que eu sei sobre mim não passam de mentiras. — O respondi sem hesitar. — Sei que buscam o melhor para mim, mas algo aconteceu. Eu preciso da verdade!
— Você teve uma parada respiratória por causa do estresse. Nada preocupante. De algum modo conseguiu me ligar e fazer com que a encontrássemos há tempo. — Minha mãe respondeu, se sentando ao meu lado.
— Isso não explica o porquê de ele permitir que me internassem à força. — Lancei um olhar sentido em direção ao meu pai.
— É uma longa história, querida...— Mamãe até tentou mediar o clima.
— Longas histórias... Mentiras... Até quando permanecerão nisso? — Me levantei num ímpeto realmente furiosa.
, se acalme. — A ordem de meu pai soou alta demais naquele ambiente.
— Não, senhor Servent! Eu quero respostas! Por que estão me privando delas? — Encarei ambos, sentindo meus olhos encherem de lágrimas.
— O objetivo sempre foi protegê-la, meu amor. — Senti os braços acolhedores de minha mãe me envolverem enquanto meu pai parecia enfrentar um conflito interno.
— Tudo o que fazemos sempre é pensando em seu bem, my happiness. — A forma que meu pai pronunciara meu apelido fizera com que eu recuasse.



Capítulo 05

Minha mente era como uma tela em branco, mas de alguma forma eu sentia que algo não estava certo. A falta de lembranças sobre a última viagem realizada, o constante sentimento de vazio, a falta de ânimo sobre qualquer coisa. Aquela não era eu! Essa versão de mim era apenas um espectro do que havia sido! Uma das maiores metas de minha vida sempre fora estudar em Stanford e a havia realizado! No entanto a euforia se findará, o ânimo me abandonara e uma parte essencial de mim havia sido arrancada. Saí da sala a passos rápidos, pegando a chave do carro durante o trajeto. A chuva me atingiu em segundos, estava molhada da cabeça aos pés, meu peito ardia em frustração e desconfiança... Estava furiosa! Abri a porta do carro enquanto ouvia meu nome sendo proferido aos berros por meus pais, fechei a porta no mesmo instante em que meu pai surgiu batendo no vidro da janela. Acionei a tranca do carro e engatei a ré me afastando da casa em que cresci.
!
, saia do carro!
Sefira Servent!
— Filha, vamos conversar!
A insistência de meu pai chegava a me assustar, ele não desgrudava da porta do carro, freei, vendo então meu pai cair. Por aqueles breves segundos, nos quais as lanternas do carro iluminaram a face de meu pai, tive a pior sensação me tomar por completo. O olhar de meu pai exibia desgosto e raiva, a face dele estava impassível e somente os olhos dele exibiam suas verdadeiras emoções. Temerosa e confusa dirigi para longe dali, a imagem de meu pai jogado sob o cascalho, molhado e me olhando daquela forma... Agora estava gravada em minha mente para sempre; a confirmação de que algo em mim estava errado se sucedera naquele instante! Meu pai jamais seria capaz de me direcionar tal olhar!
Acelerei o carro de modo inconsciente, o rádio tocava uma canção desconhecida, porém de algum modo me acalmava e refletia parte do que se passava em minha cabeça, o ar quente aquecia minha pele fria, as gotas geladas de meu cabelo escorriam pela minha pele.

How can you miss someone you’ve never met?
‘Cause I need you now but I don’t know you yet
But can you find me soon because I’m in my head?
Yeah, I need you now but I don’t know you yet

(Como você pode sentir falta de alguém que nunca conheceu?
Porque eu preciso de você agora, mas ainda não te conheço
Mas você pode me encontrar logo porque estou na minha cabeça?
Sim, eu preciso de você agora, mas ainda não te conheço)


Meus pés pisaram automaticamente no freio, como se tudo finalmente fosse se encaixando, ou ao menos começando a fazer sentido! Aquela maldita música, não era mera coincidência! Apressada, um pouco ansiosa, dirigi de volta para casa. Somente meus pais poderiam responder quem era e porque ele era alguém que em tese deveria não me lembrar.
De fato eu não sabia do que ele gostava, como era, se ao menos eu o conhecia... Eram memórias ou sensações? Déjà vu ou mentira?

How can you miss someone you’ve never seen?
Oh, tell me, are your eyes brown, blue, or green?
And do you like it with sugar and cream?
Or do you take it straight, oh, just like me?

(Como você pode sentir falta de alguém que nunca viu?
Oh, me diga, seus olhos são castanhos, azuis ou verdes?
E você gosta com açúcar e creme?
Ou você toma puro, oh, assim como eu?)

A música prosseguia enquanto a chuva encobria a visão da pista. A velocidade que prosseguia era demasiadamente alta, minha respiração estava acelerada igualmente meu desejo por respostas!
Em questão de segundos, em um instante apenas, enquanto a música ecoava pelo carro, algo aconteceu. As rodas traseiras passaram em cima de algo fazendo com que eu perdesse o controle.
Tudo girava, o som seco do carro girando sob o asfalto feria minha audição, meu corpo pendia apoiado sob o cinto de segurança enquanto a sensação esmagadora do air bag ia de encontro ao meu tórax. A morte era uma trapaceira e eu era sua próxima vitima? Meus olhos pouco a pouco se fechavam enquanto a música chegava ao fim...

I need you now but I don’t know you yet
I need you now but I don’t know you yet
I need you now but I don’t know you yet
I need you now but I don’t know you yet

(Eu preciso de você agora, mas ainda não te conheço
Eu preciso de você agora, mas ainda não te conheço
Eu preciso de você agora, mas ainda não te conheço
Eu preciso de você agora, mas ainda não te conheço)



Capítulo 06

Havia ar em meus pulmões novamente, ainda me restava algum fôlego de vida no fim das contas! Abri lentamente minhas pálpebras me preparando para encarar o que tivesse de enfrentar. No entanto estava sozinha, em uma cabana rústica, mas estranhamente aconchegante. A cama parecia extremamente confortável e me causava à sensação de tranquilidade. Toquei com a ponta dos dedos os cobertores sentindo que estivera ali, embrulhada neles e com alguém! Deixei o local parando no umbral da porta e analisando a figura esguia de um homem, sua figura era emoldurada pelo luar. Mesmo sem ver a face dele tinha a certeza de que o conhecia e o nome dele era o mesmo que havia proferido antes de desmaiar em meu apartamento. Olhar apenas sua silhueta me causava tristeza, meus olhos estavam a ponto de derramar lágrimas... Por quê?
E então algo luminoso surgiu em meu campo de visão tomando então o lugar de . Pisquei algumas vezes tentando me adaptar a claridade e então o cenário fora drasticamente mudado. Estava num quarto hospitalar, haviam fios em meu tórax e braços; o som de irritabilidade do bipe indicava que estava viva e agitada. Me sentei com certa dificuldade, estava sozinha. As persianas estavam abertas revelando em qual ala estava, respirei fundo me lembrando o porquê de estar ali. Balancei a cabeça, desacreditada; haviam mais perguntas do que respostas, a cabana e a silhueta daquele homem não passavam de uma lembrança? Ou era apenas fruto da minha imaginação? Recostei minha cabeça na parede encarando assim o teto. Haviam tantas perguntas desconexas e uma confusão verdadeiramente estarrecedora dentro da minha cabeça. A porta do quarto fora aberta calmamente e então houve passos, eu sabia que se tratava de minha mãe; seu andar era firme, porém quase silencioso demais, não a encarei quando senti sua presença ao meu lado. Se a olhasse nos olhos não saberia o que dizer. Permaneci em silêncio, deixando que desse modo ela se pronunciasse primeiro.
— Eu amo você, minha filha, sei que não consegue compreender o que seu pai e eu fizemos para garantir seu bem... — Ela entrou, se sentou ao meu lado na cama, segurando minhas mãos. — O que mais desejo é a sua felicidade, querida.
— Mãe, me diga o que está havendo. — Direcionei meu olhar para as nossas mãos, em suas mãos haviam vestígios de tinta. — Por favor... Isso está me matando!
— Eu não posso fazer isso sem o seu pai... — A interrompi com um aperto em suas mãos.
— Eu vi o olhar dele, vi o quanto ele me detesta por algo que não entendo... — A esse ponto lágrimas escorriam por minha face, a questão era que meu pai sempre fora meu melhor amigo, o meu herói! Ter aquele olhar dilacerante sobre mim fora demais. — Como posso entender tudo o que está acontecendo? — A questionei com a voz embargada por conta do choro.
— Eu não a detesto...
Ergui minha face, pega de surpresa pela presença de meu pai no recinto. Sua face era sincera em demonstrar preocupação e veracidade em suas palavras.
— Então por quê? — Não conseguia completar a pergunta com apenas uma única indagação, ele sabia ao que me referia. A tudo!
— Pais são complicados de explicar, my happiness. — Ele se sentou do meu outro lado.
— Eu não consigo compreender... — Murmurei, confusa.
— É uma longa história, filha, mas parte de sua perda de memória fora causada por um coágulo em seu cérebro. Por isso fora parar no hospital. — Minha mãe comentou de modo suave.
— Parte da explicação, mas e o resto? — Indaguei, a encarando, confusa.
— É uma longa história, minha criança. — Senti os lábios de meu pai sobre o topo da minha cabeça, o olhar para mim lançado ainda me incomodava; a chuva o deixara sombrio e assustador bem diferente da versão que se encontrava ao meu lado.
— O que importa é que está viva. — Senti minha mãe me abraçar lateralmente.
— Então quando pretendem me contar à verdade? — Indaguei, encarando ambos.
— Um dia...— Papai deixou a sentença sem um complemento.
— Você terá alta daqui alguns dias. — Mamãe comentou mudando de assunto.
— Vocês terão de me responder algum dia.



Capítulo 07

Algumas semanas depois...

A alta do hospital fora comemorada como uma festa; meus pais organizaram suas agendas de modo a estarem sempre comigo. Íamos juntos à brunches, alguns eventos beneficentes mais calmos, porém no dia em que retornei para casa a festa que se sucedera após minha chegada não seguirá nenhuma das muitas recomendações dadas pelo meu médico. Meus pais escapavam sempre do assunto referente à minha perda de memória, havia optado pelas aulas on-line alterando meu módulo de presencial para à distância. Administração era de fato o que desejava em minha vida, porém não havia desistido de obter respostas. Aos poucos ia descobrindo o que havia ocorrido, no entanto, havia tirado apenas a palavra lobo e acidente envolvendo o restante da explicação de como havia perdido minha memória. Enquanto isso, todas as noites eu sonhava com uma floresta, eu a desbravava e então fugia de algo; quando ia me virar para enxergar o que me perseguia eu despertava... Era frustrante não ter como confirmar se os sonhos eram ilusões ou fatos.
Estava em San Diego, minha nova casa não tão fixa. Desde que saí do hospital meus pais resolveram seguir para uma cidade mais próxima de Palo Alto, caso precisasse ir até a universidade não teria problemas em meu deslocamento. No entanto as coisas ainda continuavam incomuns, havia um segurança em qualquer lugar que eu fosse; as movimentações dos armários (como carinhosamente chamava os seguranças da minha família) era comum ao redor da casa, mas não em quase todos os cômodos da casa. O número de homens havia dobrado após o retorno de um evento em que meu pai havia participado; ele estava transtornado na manhã seguinte. Algo havia acontecido e ele se mantivera em silêncio à respeito do que houvera ocorrido.
Deixei de lado minhas anotações do módulo de direito e me apoiei no encosto da cadeira; estava sentada naquele escritório por tempo demais! Precisava de ar fresco dado o período de tempo que estive estudando. Observei os desenhos intrigantes pintados à mão por minha mãe, não havia como negar: Daniela Sefira era a melhor no que fazia! Tudo o que ela tocava virava uma obra de arte! O escritório era semelhante ao de nossa casa em Verona, Itália; o requinte entre o clássico e o moderno se fundiam em um equilíbrio perfeito. Sorri com o som dos pássaros cruzando o céu, respirei fundo antes de me alongar e sair dali. A casa estava estranhamente silenciosa, meus passos ecoavam pelos longos corredores... Eu estive em uma situação semelhante? Minha cabeça doía e minha visão escurecia aos poucos, em tentativas vãs busquei me apoiar na parede. Somente senti que perdia o controle do meu corpo.

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— Está na hora de despertar, querida.
Uma voz delicada despertou-me de minha inconsciência, o toque delicado e suave em meus cabelos me fazia sentir segura. O doce perfume de jasmins me era familiar. Abri lentamente meus olhos absorvendo o ambiente, a densa floresta abria-se diante uma imponente cachoeira, a sensação de que conhecia aquele lugar me atingiu em cheio; porém quanto mais forçava minha mente a lembrar de algo semelhante, pior era as pontadas em minha cabeça.
— Quem é você ? — Indaguei a mulher que anteriormente afagava meus cabelos.
— Alguém que um dia você conhecera, querida. — Ela me respondeu com um sorriso calmo e paciente.
— Eu não consigo entender. — Sussurrei, confusa. Alguns minutos atrás estava em São Diego, agora estava num lugar desconhecido... Era demasiadamente estranho, no mínimo!
— Não se atenha aos detalhes, , resolvi visitá-la porque seu pai descumpriu o acordo. — A mulher falou num tom sério.
— Acordo ? — Questionei sem entender.
— Seu pai não parou de perseguir meu filho, com isso ele violou o acordo. Você conhecera meu querido filho na viagem à terra de seus ancestrais, lá seu coração falou mais alto que seu sangue. O ciclo mortífero fora quebrado; assim dando uma oportunidade ao meu , a oportunidade de uma vida normal... — A interrompi ao ouvir o nome pelo qual eu chamava todas as vezes que me sentia em risco.
— Você disse ? — Segurei as mãos dela testando se estava sonhando.
— Exatamente Sefira Servent. — Ela sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha de forma graciosa. — , o meu adorável filho e seu parceiro de alma.
— Eu o conheci ? — Perguntei ainda sem acreditar.
— Sim, o conheceu. — Ela me ofereceu um sorriso agradecido?! — Esse lugar, exatamente aonde estamos, fora o local em que se encontraram.
— Então reconhecer esse local não é um mero fruto da minha cabeça. — Concluí, me levantando agitada, um relampejo de um lobo saltando em meu resgate me tirou o fôlego. Eu havia me jogado?!
— Eu sei que são informações demais para o momento... — A interrompi novamente.
— É mais do que eu poderia imaginar ou pedir! — A respondi com um sorriso verdadeiro. O vazio em meu peito fora preenchido por emoções desconhecidas.
— Você encontrará novamente, em breve. — Ela concluiu.
— Eu serei capaz de reconhecê-lo? — Questionei, agitada.
— Seus olhos não, mas o seu coração fará todo o trabalho sozinho. — Ela se levantou calmamente.
— Por que eu não possuo nenhuma memória ligada ao seu filho? — Indaguei, sentindo que o meu tempo com a misteriosa mulher estava acabando.
— Porque eu as apaguei, fora necessário que isso ocorresse embora Nyan ainda insista em não permanecer fiel à sua própria palavra. — Ela se aproximou e beijou o topo dos meus cabelos. — Estou feliz que seja você a eleita para salvá-lo, .
E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela desaparecera, o cenário em que estava ia pouco a pouco dando espaço ao vazio escuro da inconsciência.

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Capítulo 08

Acordei em meu quarto, os raios lunares iluminavam algumas partes do ambiente, as pesadas cortinas estavam abertas assim como a porta da sacada. Me sentei ainda sentindo a confusão de emoções em meu interior, o sonho havia sido real demais; porém havia uma dúvida latente sobre ele, não conseguia decidir se fora um sonho ou não. Enquanto divagava a respeito do que me ocorrera ouvi o som de notificação em meu telefone, me levantei da cama seguindo em direção a minha escrivaninha. Debaixo de um amontoado de anotações, perdido, se encontrava meu aparelho eletrônico. Era um convite de Jessy, Jéssica Simpson era empreendedora e uma das minhas melhores amigas. Ela estava na cidade junto com Abigail e Mandy, todas estavam “gentilmente” me “convidando” (leia-se convocando) para uma noite de diversões. Respondi que ficaria pronta em trinta minutos, não havia como discutir com Jessy.
Em pouco tempo vasculhei meu guarda-roupa, a ânsia em descobrir o que me aguardava fora dali. Em pouco tempo vesti um vestido verde-musgo, um cinto mostarda marcava minha cintura, calcei minhas botas e coloquei uns óculos de sol sobre meus cabelos, era apenas um adereço então não havia problemas em usá-lo mesmo sendo noite. Peguei apenas minha carteira dispensando meu celular; através dele meus pais monitoravam aonde eu estava.
Ao sair de meu quarto, devidamente arrumada e perfumada, encontrei minha mãe. Seu semblante revelava sua raiva, algo havia ocorrido! Ela logo tratou de disfarçar suas emoções e me ofereceu um sorriso em aprovação.
— Vai para onde, meu amor? — Ela me indagou, parando a minha frente.
— Sair com a Jessy, ela está na cidade; e você sabe o quanto insistente ela pode ser quando quer algo. — Falei num tom leve, enquanto me dirigia para as escadas.
— Juízo! — Ela gritou assim que comecei a descer as escadas.
— Eu também te amo, mãe! — Gritei de volta enquanto descia os degraus.
Consegui ouvir ela rir sincera diante do meu afeto inesperado, com um sorriso em minha face cheguei ao final da escada encontrando meu pai com uma expressão de desagrado. Seus olhos analisaram minhas vestes, ele logo notou a ausência de meu celular.
— Para onde está indo ? — Ele se pronunciou assim que parei diante dele.
— Não sei, Jessy não me informou para onde iríamos. — Dei de ombros sem me intimidar com seu olhar de desaprovação.
— Ela então está na cidade. — Ele afirmou com desprezo.
— Você já fora um homem melhor, pai. — Comentei, enquanto destrancava a porta de casa. — Ultimamente não consigo fazer a ligação entre o homem que me criou e o homem que deixou a filha saudável ser dopada.
— Tem coisas que compreenderá apenas quando for mãe. — Meu pai se pronunciou num tom áspero.
— Eu não maltrataria meus filhos por causa de suas escolhas. — Dei uma última olhada para o homem que era apenas o espectro do que fora um dia.
Antes que meu pai pudesse dizer qualquer coisa Jessy surgiu em seu Lexus preto, o couro vermelho dos bancos contratavam com as roupas de Mandy e Abigail.
— E não é que nossa princesinha ficou pronta conforme o que disse. — Jessy gritou da janela de seu carro. Acabei rindo com seu comentário bobo.
— Cala boca, Jessy, você não deveria falar muito; visto que é quem mais demora para se aprontar. — A rebati com bom humor.
— Hey, Nyan, pode confiar que sua garotinha volta sã e salva para casa! — Mandy gritou para o meu pai, ele apenas devolveu um aceno e adentrou a casa.
— O que houve com ele? — Abigail indagou sem entender.
— Não sei, e hoje não é o melhor dia para falarmos disso, Abby. — A respondi sem muito entusiasmo.
— Ainda bem que você tem a nós para te salvar, . — Jessy abriu a porta pelo lado de dentro me deixando entrar.
— Vamos logo! A noite não espera ninguém! — Revirei os olhos, rindo.
O trajeto realizado por Jessy levou apenas 10 minutos, minha melhor amiga era completamente insana na direção! Em pouco tempo estávamos dentro do estabelecimento de seu amigo nos servindo de boas doses de álcool. Rir se tornou um ato natural, as três eram especialistas em me fazer sorrir.
— J&J na área! — Jessy comentou assim que recebi uma bebida servida por uma garçonete.
— Não me chame assim, sua doida! — Ri, oferecendo um sorriso em agradecimento à mulher que preparara o meu drink.
— Ah, , não seja tão mesquinha! — Mandy tentou me repreender.
— Não faz usar um apelido vergonhoso. — Balancei a cabeça em negativa, enquanto ingeria o líquido rosado, o sabor era doce e rapidamente me desagradou.
— Quem fora o homem que lhe pagou algo tão ruim? — Abby vasculhou o ambiente atrás do culpado.
— O músico, tenho 100% de certeza! — Jessy indicou o homem, o qual se preparava para iniciar uma canção.
— E o que a fez concluir isso ? — Indaguei, avaliando o homem que dedilhava algumas notas em seu instrumento antes de começar a cantar.
— Algo me diz que ele te conhece. — Jessy comentou sem dizer mais nada.
— A forma como ele te olha diz isso. — Mandy concluiu, concordando com o que Jessy dissera.
No entanto as vozes delas se calaram, assim como do restante do público no bar viera a ficar em silêncio, quando o músico iniciou sua canção. A sinceridade em suas palavras atingia-me de forma certeira, assim como os seus olhos, ele parecia me desvendar com olhos tristes. Em certas partes da canção fechava os olhos apenas embarcando em sua veracidade. Cada nota cantada mexia com minhas células, em meu coração eu sabia que ele era muito mais que um desconhecido. Seus olhos estavam sobre mim a cada nova música tocada; sua boca me oferecia os mais belos sons.



Capítulo 09

Quando o músico deixou o palco senti algo me mover em sua direção, um campo magnético parecia rodeá-lo e todas as mulheres naquele bar pareciam ímãs, atraídas pelo homem de olhos tristes. Me levantei com a desculpa que deveria agradecer pela bebida, mesmo que o gosto dela fosse horrível. Jessy me ofereceu um olhar que parecia: Está tentando enganar quem, mon cherié?
O fato era que naquele instante caminhava em direção ao homem que parecia me conhecer, mesmo que eu não o conhecesse parte de mim dizia o contrário. Ele possuía olhos intensos, havia sido objeto de observação das lumes impressionantemente . Ouvia com perfeição meus batimentos cardíacos e como eles estavam sendo afetados apenas pela presença do desconhecido; minha respiração encontrava-se normalizada. O desconhecido permanecia com os olhos fixos nas garrafas de bebidas expostas atrás da bartender, fingindo ler os rótulos delas; ao mesmo tempo em que fazia isso ele ingeria tranquilamente uma cerveja. Duvidava que ele sabia o quão óbvio era.
— Minhas amigas acham que você me conhece. — Me pronunciei assim que atingi o balcão do bar, resolvi me sentar ao lado dele. Seus olhos mantinham-se firmes em minha face e os meus imitavam os dele.
— Talvez, a vida é repleta de encontros e desencontros. — Ele me ofereceu um sorriso verdadeiro.
Sefira. — Resolvi me apresentar antes de pedir uma dose dupla de whisky.
. — Ele se apresentou enquanto pedia outra cerveja.
Quando ouvi o nome dele tive a confirmação do porquê o achava familiar. Ele era exatamente quem fora deletado de minha vida; embora soubesse agora quem ele era, permaneci não demonstrando que o conhecia.
— A propósito, obrigada pela bebida. — Me virei de frente para ele, meus olhos varriam sua figura em uma rápida análise. — Mas bebidas doces não me agradam. — Completei, desdenhando da bebida que ele havia me pagado.
— Permita-me então compensar o erro. — Ele se ofereceu, conseguindo arrancar um sorriso discreto.
— Esse é o seu plano para me conquistar? — Arqueei minhas sobrancelhas o instigando a cair em minha provocação velada.
— Não planejo nada, deixo a vida definir o curso que deseja tomar. Chame de acaso, destino... — Ele deu de ombros sem dar muita importância ao que dizia.
— Adoraria descobrir o que a vida nos preparou hoje. — O respondi, lhe oferecendo um sorriso sincero antes de tomar um gole de minha bebida.
— Eu também. — Ele concordou, enigmático.
— Suas emoções são fáceis de ler, . — Finalizei minha bebida deixando o dinheiro e a gorjeta ao lado do copo antes de me levantar. — Mas não consegue enxergar as coisas diante dos seus olhos.
O ouvi se levantar e então senti sua mão sob meu antebraço, era um aperto firme, porém gentil; com a única intenção de impedir que eu partisse.
— O que está querendo dizer, Servent? — citou exatamente o sobrenome que omiti em minha apresentação, a confirmação de que o sonho que tive não era apenas um fruto da minha imaginação se justificou ali.
Omiti um sorriso e me soltei de seu aperto, com passos tranquilos me dirigi até minhas amigas. Com rapidez me despedi de todas e sai do bar sabendo o que encontraria após virar a esquina. Conforme o esperado encontrei um confuso, seus olhos me imploravam por respostas.
— Foi uma boa jogada me fazer dizer o sobrenome que omitiu. — Ele riu sem graça, enquanto seus olhos me analisava calmamente.
— Sua mãe me contou que fora obrigado a ficar longe de mim. — Me pronunciei sem parar de andar, meus olhos realmente não o reconheceram, mas o meu coração sim.
— Ela fez isso porque seu pai quebrou o acordo. — Ele me respondeu quase instantaneamente.
— Eu não me lembro de nada, . — Me virei para ele, o obrigando a parar de andar. — Não me lembro de nenhum detalhe do que houve entre nós... — Desviei meus olhos dos dele. — Ao fim eu blefei e você caiu nele.
— Eu sei, porém não há o que eu não faria por você. — Ele deu de ombros, sua postura ereta evidenciava a diferença de estatura entre nós.



Capítulo 10

Perdi o fôlego com a intensidade de suas palavras, de modo inconsciente me aproximei de ; havia pouco espaço que nos separava então rapidamente cobri a distância com dois passos. Minha face erguera para encará-lo devidamente, meus olhos pareciam atraídos por suas lumes como o metal é atraído pelo imã. Delicadamente pousei minha mão em sua face, sentido assim o calor de sua pele. Estávamos numa ruela de certa forma distante do bar, aqueles poucos quilômetros percorridos nos oferecia exatamente a privacidade que precisávamos.
— Eu confio cegamente em você, só de te olhar eu me apaixono de novo.
Minhas palavras soaram como um poema ao ser recitado, embora essa não fosse a intenção acabou surtindo efeito em , o levando a me abraçar e enterrar sua cabeça na curvatura do meu pescoço.
— Por favor...Que isso não seja um sonho! — Ele se agarrava a mim transmitindo seu real desespero.
— E não é! — O abracei de volta deixando que meu ato transmitisse o que sentia.
Desde que o vira as emoções que estavam confusas desde que despertara se “organizaram”. Quase como se ele fosse exatamente aquilo que eu procurava. Deixei que seu calor me envolvesse, que seu perfume me inebriasse e que a batida sincronizada de nossos corações fossem o plano de fundo de nosso reencontro. Nada mais importava, a guerra travada entre meus ancestrais e a família de seria deixada de lado; o desgosto de meu pai também. Em encontrava a certeza de que estava tomando a decisão correta.
— Vamos sair daqui. — Ele se afastou apenas para olhar em meus olhos.
— Me mostre o caminho. — O respondi sem hesitar.
Sem dizer mais nada ele me conduziu pelas ruas de São Diego, de mãos dadas desviamos de ciclistas, de carros e das pessoas que nos impedia de passar. Ao fim de algumas horas de caminhada chegamos à um barracão, dentro dele estava a decoração mais simplista de que já vira em toda minha vida. E a mais bela também, tudo presente naquele lugar remetia ao dono dele.
— De fato esse lugar tem a sua cara! — Comentei, tirando as botas para sentir a maciez do tapete em frente ao sofá.
— Não é uma mansão... — O interrompi antes que ele fizesse alguma comparação menosprezando a si mesmo.
— É exatamente tudo o que eu preciso. — O chamei com o indicador, vendo-o se aproximar receoso. — Sabe, eu não mordo. — O provoquei vendo ele arquear uma sobrancelha para mim.
— Está testando os meus limites, senhorita Servent. — Ele deixou o violão ao lado da porta e então se aproximou de mim em passadas largas.
— Estou longe de atingi-los, . — Fiquei na ponta dos pés diante à altura dele, era muito maior que a maioria dos homens.
— Me chame de apenas . — Ele falou segurando minha face com carinho.
— Como quiser, meu amor. — Lhe ofereci um sorriso travesso antes de segurar o tecido de sua camisa e o puxá-lo para um beijo.
Assim que os lábios dele tocaram os meus segurou minha cintura e me içou para o seu colo, dessa forma não era necessário que ele se inclinasse. Os lábios de moldavam aos meus num beijo profundo, saudoso, desejoso, mas não menos amoroso. Ele possuía todo o cuidado de nos encaminhar para o sofá, no qual ele me depositou delicadamente antes de cobrir o meu corpo com o seu. Suas mãos respeitosamente ficavam apenas em minha cintura; dessa forma demonstrando sua índole e caráter ao mesmo tempo.
No entanto, embora valorizasse o que ele demonstrava; sentia a necessidade por mais. Desabotoei sua camisa o deixando apenas de jeans; admirei a vista de seu tronco nu, me demorando nas entradas em v. Logo fui tirada de meus pensamentos ao sentir sua mão sobre meu queixo levando minha boca até a sua. Como estávamos sentados acabei indo parar em seu colo, a boca de deixou a minha para deixar um rastro quente em meu pescoço e clavícula, realizando o caminho contrário até retornar aos meus lábios novamente. Quando respirar se tornou necessário afastamos nossa face o suficiente para mantermos contato visual.
— Não há nada que possa me vencer, , se a tenho aqui comigo. — colocou meu cabelo atrás da orelha antes de prosseguir. — Você me preenche com luz, a qual espalha-se por todo o meu corpo, você é quem afasta as trevas de mim, .
— Me desculpa por demorar a achar meu caminho até você. — Sussurrei, entrelaçando nossas mãos. — O mesmo vale para mim, , portanto não deixe que eu seja ferida por essa angústia que é ficar sem você.
— Enfrentaremos juntos as batalhas que surgirão, . — sussurrou antes de novamente me beijar, dessa vez suas mãos seguraram firmemente minhas coxas espalhando uma onda de calor pelo meu corpo.
Ele então me trouxe para mais perto, segurando meu corpo firmemente contra o seu. Me surpreendendo se levantou e me carregou até seu quarto que ficava no andar de cima. Ali, naquele galpão, fui amada por como nunca fora por homem nenhum.

[“Mais um dia chega ao fim, para recomeçar
Para amar mais uma vez
Mais um dia chega ao fim, para sonhar...”]
{03.Outro dia que vá — RBD}





FIM?



Nota da autora: Não, a história de Martin e Jasmine não acaba aqui. Essa é apenas a terceira parte da Coletânea The Wolf and your Moon. A primeira parte você encontra em Withe winter hymnal no ficstape da Birdy, a segunda em Além das palavras no ficstape do NX Zero, e as outras ainda estão por vir.
Quero agradecer a Naty pela oportunidade de participar de um ficstape tão rico em autoras maravilhosas e por confiar em mim. Quero agradecer a minha irmã e amigos que sempre me incentivam a persistir.
Quero agradecer especialmente à duas autoras: Flávia Coelho por me motivar, através de palavras incríveis à respeito de White winter hymnal foi a responsável em despertar em mim a inspiração de criar a saga de Martin e Jasmine; e não menos importante Pâms Martins, autora que surta, me ajuda e minha tutora maravilhosa.







Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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