Finalizada em: 08/12/2020

Capítulo Único

permanecia envolta num sonho tranquilo, sua face serena me trazia a paz que havia sentido falta durante todo o período em que passamos separados. Nyan Servent havia quebrado sua promessa; ele não era o único que poderia se irritar com as circunstâncias. A mulher adormecida em meus braços passara boa parte da noite me questionando tudo o quanto desejava saber. Seu pai havia sido seu carcereiro e isso estava me tirando do sério.
Nyan havia passado dos limites! Para alguém que ousava dizer com orgulho que estava protegendo a filha de um monstro havia se tornado num monstro muito pior! Vê-la com os olhos marejados havia acabado comigo, a abracei enquanto enxugava suas lágrimas; estava feliz por estar novamente ao lado dela. A distância colocada entre nós contra a vontade de ambos havia acabado comigo, o silêncio daquela floresta, as memórias do pouco tempo em que estivemos juntos, meus séculos de vida, a perda de meu pai, o derramamento de sangue entre e Servents tinha que acabar!
Era uma guerra baseada em um ódio antigo, cultivado principalmente pela família de . Seus ancestrais caçaram todos os meus; minha mãe havia se sacrificado por mim, meu pai não pode fazer nada além de nos esconder.
Manter-se vivo era prioridade!

Enquanto afagava o cabelo de , a observando buscava clarear minha mente. O tormento de emoções colocava tudo em risco. A fera estava com sede de sangue, os Servents haviam assassinado todos do nosso sangue, porém a figura adormecida carregava uma difícil tarefa. Me sentei sobre o colchão, tomando cuidado para não despertá-la, pousei meus lábios sobre a sua fronte deixando um beijo de despedida.
Na noite anterior havia amado-a como nenhum homem faria, meus lábios proferiram incontáveis juras de amor; de modo a garantir que minhas palavras não seriam esquecidas. Calmamente respondi todas suas dúvidas e lhe contei como e onde tudo começou entre nós dois. Mamãe cuidaria que as memórias de não fossem apagadas novamente.
Sentindo que era chegada a hora de confrontar meu carrasco, parti. Nyan Rentis Servent, como seu ancestral, teria duas alternativas, no entanto garantiria que pudesse viver ao lado daquela esplêndida mulher. Sefira Servent era a luz para as minhas trevas, seu espírito guerreiro me desarmara. Como a lua exerce atração sobre o lobo, me atraía em sua direção. Sua gentileza, afeto, sarcasmo, senso de humor, derrubara cada uma das muralhas que envolviam meu coração. Com sofrimento me afastei deixando o quarto, a fera assumiria o controle assim que deixasse o galpão.
— Eu te amo , não se esqueça disso!

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A maciez do colchão fora a primeira coisa que notei ao despertar, a segunda era o fato de estar sozinha naquela cama. O lado da cama ocupado por estava frio, indicando que ele havia partido fazia um bom tempo. O horror tomou cada nervo do meu corpo, a noite passada havia sido como um sonho! Cada toque de refletia o que ele sentia, seus lábios me beijavam com cuidado e paixão, quase como se pudesse desaparecer diante os seus olhos. A única explicação para ele não estar ao meu lado tinha nome e sobrenome.
Com dificuldade me levantei reunindo toda a coragem que achava possuir me vestindo em questão de segundos. Meu pai não venceria esse embate! Eu não iria permitir! O ódio entre meus ancestrais e a família de havia se estendido por séculos! Uma guerra vazia! Um ego ferido havia dado início a todo esse embate. Durante meu sono, grande parte das minhas memórias retornaram e com elas minha revolta! Como aquele que dizia me amar era capaz de realizar atos tão cruéis?!
Liguei meu telefone encontrando chamadas perdidas de e inúmeras chamadas de meus pais. Temendo o pior liguei para minha amiga, meu coração latejava em meu peito diante a possibilidade de algo ruim ter ocorrido com .
— Finalmente! , eu liguei a noite toda para o seu número! — A voz de soou apreensiva.
— Eu preciso da sua ajuda, ! — Minha voz soava desesperada.
— O músico te feriu? — Ela indagou furiosa, seu lado protetor vindo a superfície.
— Não! — Exclamei em ultraje. — jamais seria capaz disso!
— Seus pais estão loucos atrás de você. — Ela comentou em um tom receoso.
, não acredite em uma única palavra deles! — Naquele instante andava de um lado para o outro, a preocupação tomava conta de todos os meus nervos.
, em que você se meteu? — Ela perguntou em um tom preocupado.
— Eu preciso que me ajude nisso, confie em mim! — Eram raras as vezes que omitia algo dela.
— Onde você está? — O modo como ela havia dito aquelas palavras me fizeram desligar.
era minha melhor amiga, com o espírito indomável gerenciava seu próprio negócio aos 23 anos. Eu a conhecia melhor do que ninguém e assim como eu a conhecia, sabia me ler como ninguém. Fomos praticamente criadas juntas. Durante toda ligação ela estava me passando uma mensagem. De imediato sai daquele lugar buscando um táxi.
Meus pais estavam com em nossa casa!

Com o coração quase saindo pela boca dei o endereço da casa em que havia passado os últimos meses. Nyan estava mantendo todos os que eu conhecia como prisioneiros. A herança de ódio havia tomado o espaço de bondade que havia em meu pai.
— Que ainda esteja vivo!

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Meus olhos acompanharam quando Nyan arrancou o telefone das mãos da jovem mulher, estava fraco demais encarcerado na jaula de prata. Pequenas agulhas rasgavam minha pele conforme me movimentava, o rubro do meu sangue manchava o chão da caverna. Nyan havia me surpreendido com um número maior de homens dos que haviam me atacado anos atrás. Consegui derrubar boa parte deles antes que Nyan atirasse contra mim, ele não havia mirado para matar. Seus olhos banhados em ódio esperavam encontrar a filha antes de me executar.
Naquele lugar úmido e quase sem iluminação acompanhava tudo ocorrer com a névoa da inconsciência cada vez mais perto. Os xingamentos das garotas que acompanharam no bar durante a noite passada ecoava perturbadoramente pelas paredes da caverna. Os pulsos delas estavam atadas em algemas acima de suas cabeças enquanto seus pés estavam atados às correntes. Nenhuma delas fazia ideia do que eu era, estava preso na parte mais escura do local e meus movimentos eram silenciosos causando nenhum ruído. Meus olhos captavam os lacaios de Nyan vez ou outra rondando o lugar de modo a sufocar qualquer esperança de me libertar. Havia me precipitado em pensar que Nyan seria racional para resolver essa guerra de uma vez.
— Vou perguntar mais uma vez, onde está ?
A voz de Servent ecoou de modo macabro pelo lugar, sua face estava livre de emoções tornando o semblante frio em algo perigoso, as três garotas se encolheram diante o olhar dele, o odor do medo delas era palpável. Os lacaios de Nyan adentraram o recinto informando-o que não haviam encontrado qualquer sinal de na cidade. Contiver um sorriso, eu realmente não me importava em morrer, contanto que ela pudesse ser livre! A morte não era assustadora após encará-la milhares de vezes.
Servent se aproximou de minha jaula como uma tempestade, em sua mão estava uma adaga de prata, a mesma de seu antepassado. Nyan possuía assustadoramente a mesma aparência que o primeiro carrasco dos . Apenas os olhos cinza o diferenciava de todo o resto. Todos os Servents possuíam as lumes em um tom castanho, porém Nyan nascera com aquele tom fora do normal.
— O que você fez com a minha filha, sua besta maldita? — Nyan cravou sua adaga em minha carne fazendo com que uma dor lancinante tomasse minha forma animalesca. — Me responda! — Ele arrancou a adaga fincando-a novamente.
Minha forma conseguiu expressar as dores infligidas através dos golpes impiedosos de Nyan em uivos altos e sofridos. Buscava me manter consciente embora a fraqueza tomasse conta pouco a pouco de mim. O frio parecia cada vez maior, pouco a pouco perdia controle de minhas ações...
— Se afaste dele!
Como o calor do sol, a presença de tomou conta daquele lugar. Seus olhos comumente tranquilos estavam tomados em fúria. Como uma Servent! Sua postura era resoluta e não se abalara ao receber o pior de Nyan. Como a luz e trevas, ambos irradiavam uma pressão esmagadora. O embate final seria entre os dois. Lutando para manter os olhos abertos busquei encontrar as orbes dela.

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Assim que o táxi estacionou em frente a imponente propriedade, lhe dei uma quantia excedente buscando me apressar em adentrá-la. Meus pés escorregavam sobre o cascalho enquanto corria em direção contrária à porta de entrada. Meus instintos me guiavam para uma trilha que circundava toda a propriedade. Conforme avançava pela densa floresta, meus pés vacilavam vez ou outra. Meus pulmões expeliam rajadas de ar conforme expirava em respirações curtas e rápidas. Meu coração soava assustadoramente alto em meus ouvidos enquanto desejava ferozmente encontrar o local para onde havia sido levado. O medo buscava tomar o controle enquanto olhava ao meu redor em busca de pistas. Nada me dava indicava um caminho, o oxigênio parecia ser insuficiente e o desespero parecia tomar cada célula do meu corpo.
— Por favor... — Sussurrei enquanto enxugava as lágrimas que teimosamente caiam de meus olhos. — Que ainda esteja vivo!
Pedi em sussurro enquanto girava buscando me orientar, aquela parte da floresta era desconhecida para mim. As minhas costas havia a imponência da mansão de meus pais, à oeste era possível ver algumas montanhas enquanto ao norte e leste havia a mata. Meus joelhos cederam enquanto uma fraqueza me tomava, meus batimentos ecoavam altos demais em meus ouvidos, o silêncio sepulcral tornava minha respiração alta demais.
— Eu não posso perdê-lo novamente!
Não quando havia retomado todas as minhas memórias, não quando havia o reencontrado, não quando havia entendido o porquê do meu nascimento!
, se estiver me ouvindo...— Iniciei encarando o vazio desejando que a guardiã de meu amado estivesse me escutando. — Me ajude a encontrá-lo!
A floresta silenciosa deu lugar ao caos, um enxame de abelhas movimentou homens que trabalhavam para o meu pai os levando em direção contrária a que eu estava. Seguindo-os com as esperanças renovadas encontrei a entrada de uma caverna; ramos de árvores e galhos encobriam a entrada de olhares curiosos. Ouvindo o som de uivos, corri para dentro do local sem medo, o odor pungente de sangue tomou minhas narinas elevando minha raiva e horror.
Observei desacreditada meu pai ferir a forma lupina de , o som de correntes me levaram a virar minha cabeça na direção do som. e minhas duas outras amigas estavam acorrentadas à parede da caverna.
Aquele cenário parecia como um pesadelo!

As ações dos Servent tinham de ser paradas! O sangue que corria em minhas veias me trouxe repulsa! O homem que havia me criado era o verdadeiro monstro naquele lugar.
— Se afaste dele, Servent!
Minha voz soou impressionantemente fria enquanto meus pés me levavam até a figura de meu pai. Suas vestes me lembravam a morte. Seu terno estava manchado com o sangue de . Seus olhos cinzas eram como uma tempestade. A repulsa deveria estar clara em meu olhar pois meu pai fechou o semblante o tornando ainda mais obscuro.
— Não é essa educação que lhe dei, . — A voz de meu pai soou imponente e fria, tal como se portava perante estranhos. Aquela face de meu pai, era algo que nunca havia experimentado.
— O homem que me criou não é o mesmo que está diante dos meus olhos. — O respondi sem elevar minha voz.
— Isso não muda nada, ainda permanece sendo minha filha. — Ele se aproximou lentamente, como uma cobra prestes a dar o bote.
— Interessante colocar desse modo. — Rebati afastando-o. — Os últimos meses tem sido como um aprisionamento. Onde está meu pai, Nyan? — O questionei sem qualquer receio, algo próximo a uma fagulha faiscou nos olhos dele.
— Você não entenderia, é jovem demais para compreender nosso legado, . — Ele me respondeu sacando sua arma de dentro do terno, a mira estava clara: !
— Legado baseado em ódio. — Me posicionei diante o cano frio da arma. — Você me diz que sou jovem para compreender depois de tudo o que passei? — Minha voz ecoava gravemente pela caverna. — Eu não posso tomar minhas próprias decisões ou tomá-las com alguma exatidão. Bem, talvez você devesse me amarrar, assim eu não vou aonde você não queira que eu vá.
— Deveria ter te prendido em casa, desse modo você não me desafiaria. — Ele me respondeu sem abaixar o cano da arma.
— É só minha humilde opinião! — Repliquei em um tom sarcástico. — Mas é nela que eu acredito, você não merece um ponto de vista se a única coisa que consegue enxergar é você! — Meus olhos não desviaram um só momento dos dele.
— Essa fera corrompeu seu modo de pensar! — Ele abaixou a arma guardando-a em seus bolsos. — Eu não espero que compreenda o que tenho de fazer.
— Você não vai matá-lo! — Minha voz soou extremamente firme e irredutível.
— Eu não preciso, ele já está morrendo. — Meu pai indicou a figura do lobo envolta de uma poça de sangue. — Com a morte dele, tudo chegará ao fim.
Empurrei meu pai com a raiva percorrendo minhas veias, meus olhos o fuzilavam enquanto sentia algo estalar em minha cabeça. Minha força havia sido elevada.
— Eu não o deixarei morrer, da próxima vez que ousar encostar nele tenha a certeza de se esconder, Servent! — Meu timbre estava grave enquanto o segurava contra a parede.
—Você não seria capaz disso, . —Ele segurou meus pulsos me afastando. — O sangue sempre falará mais alto.
— Você não tem que acreditar em mim. — Embora dissesse com tranquilidade meus olhos faiscavam em pura raiva. — Mas do jeito que eu, jeito que eu enxergo as coisas na próxima vez que você me apontar uma arma para , talvez eu tenha que entortá-la. — Me referi a nossa família. — Eu vou te colocar em frente a um espelho e mostrarei quem é a verdadeira fera!
Não sabia como, porém, conforme o enfrentava sentia algo poderoso correr em minhas veias. Eu não me importava com o legado repassado até agora, porém não permitiria que mal algum fosse infringido contra Martín. Como uma verdadeira Servent. enfrentei meu pai de igual para igual o derrubando no fim. Minhas mãos libertaram as garotas e . Sua forma animalesca havia dado lugar ao homem que era. Com cuidado, o ergui, a herança de sangue dos Servent corria em minhas veias e, por conta disso, conseguia carregá-lo pela floresta. As garotas me seguiam temerosas. Adentrei minha casa pela porta lateral dando diretamente na cozinha. Com a ajuda das garotas coloquei sobre a mesa usando todo o kit de primeiros socorros nele.

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Despertar fora realmente uma tarefa difícil, o sacolejar de algo fazia com que resmungos de dor escapassem de meus lábios. O perfume de maresia indicava que estava longe daquela caverna. O som de vozes baixas provinda do cômodo acima da minha cabeça me dizia que algo estava errado. Sentando-me com dificuldades, busquei encontrar um apoio para me locomover. Porém estaquei meu movimento ao notar uma figura sentada nas sombras, sua respiração ritmada indicava seu estado adormecido.
Um sorriso permeou meus lábios ao reconhecer quem era. Mordendo o interior de minha boca me levantei para colocar a figura de sob o colchão. No processo acabei perdendo o equilíbrio, caindo ao lado dela, uivando de dor; o que em consequência a despertou. se sentou assustada me ajudando a deitar de modo confortável. Seus olhos exprimiam o mais puro amor e preocupação.
— Você não deveria ter feito isso! — Seu timbre grave me repreendia embora escondesse o alívio em me ver desperto.
— O que houve com seu pai? — A questionei preocupado.
— Ele não irá controlar minha vida, e a sua vida permanecerá segura enquanto haver fôlego em mim. — Ela se deitou calmamente ao meu lado, seu punho apoiava sua cabeça enquanto suas lumes me observassem com atenção.
— Um conflito entre os Servents? — Questionei preocupado.
— Eu tenho tudo o que preciso diante os meus olhos, se preocupe apenas com sua recuperação. — me respondeu de modo evasivo.
— Você mudou. — Concluí vendo algo tremular no olhar de .
— Eu me lembro de tudo. — Ela se inclinou em minha direção parando sua face a poucos centímetros da minha. — Não irei permitir que algo nos separe novamente.
— O que pretende fazer? — A questionei enquanto afagava sua face.
— Tudo.




Fim?!



Nota da autora: A história de Jasmine e Martin não termina aqui, está longe disso kkk A história deles será minha primeira coleção de contos.
Obrigada a todos vocês que leram até aqui, sou grata pelo todo carinho e atenção.


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