Finalizada em: 21/02/2021

Capítulo Único

— Pai! — gritou, animada, ao ver o pai chegar em casa.
Ser filha de um policial como ele, era ter sempre um receio quando o homem não voltava para casa. Nesse caso, ele havia conseguido um dia de folga e chegou mais cedo para aproveitar o tempo com a filha.
— Oi, princesa. — O homem abraçou a garota.
Aquele era um dos finais de semana em que conseguia voltar para a casa depois de uma semana longa na faculdade. A garota estava prestes a completar dezoito anos, tinha entrado na faculdade de Direito um ano adiantada e sempre fazia de tudo para conseguir visitar o pai. James não conseguia esconder o orgulho que sentia da filha, principalmente por todo esforço que teve para criar a menina sozinho.
— Então, o que vamos fazer? — não era daquelas adolescentes que gostavam da ausência dos pais, por ter crescido sem a mãe, e sabia dos perigos que o pai corria diariamente, era sempre um prazer estar na companhia do mais velho. — Podemos comer alguma coisa bem gordurosa hoje?
— Só se você dividir o sorvete de chocolate comigo. — James esticou o telefone para a filha. — Eu vou tomar um banho rápido, daqui a pouco eu desço.
— Tudo bem. — pegou o telefone e discou o número da pizzaria mais próxima, a qual os dois sempre costumavam pedir lanche no famoso dia do lixo.
Para a garota, uma pizza não era o suficiente, ela ainda colocou no pedido uma porção de batata frita. Agora sim, estava perfeito.
Quando James voltou para a sala, estava sentada assistindo televisão. Ela sempre esperava o pai para começar a assistir algum programa que os dois gostavam, e agora, com as visitas cada vez menos frequentes, era importante que eles aproveitassem o máximo de tempo juntos.
— Pai, você acha que a mamãe estaria feliz, vendo eu querer seguir os seus passos? — desviou os olhos da televisão para encarar o pai.
— Acho que ela estaria enlouquecendo, mas com certeza estaria feliz. — Ele sorriu para a garota. — Mas você está feliz com a sua escolha?
— Nunca estive tão feliz antes, pai.
— Então não tem com o que se preocupar, corazoncito. — James abraçou-a pelos ombros e se aconchegou no peito do pai, do mesmo jeito que fazia quando era pequena.
Não demorou muito para que escutassem a campainha tocar, a garota correu animada para abrir a porta, mas foi impedida pelo pai.
— Acho que esqueci minha carteira no quarto, você pode buscar pra mim?
logo mudou o caminho, seguindo até o quarto do pai.
James nunca deixava a filha atender a porta, principalmente à noite. Ele sabia que aquela cidade estava cheia de pessoas mal intencionadas e se fizessem algo com a sua filha, ele nunca se perdoaria.
Antes que saísse do quarto, os sons dos tiros dispararam alto pela casa. tapou a boca com as duas mãos, impedindo que um grito agudo saísse pela mesma; permaneceu escondida dentro do quarto e em silêncio, assim como seu pai havia a ensinado.
Ela sabia que seu pai era odiado por uma parte da cidade, por uma parte grande, inclusive, mas não imaginava que estaria vivendo algo daquele tipo. Ela só queria que aquilo tudo passasse logo e ele a chamasse dizendo que estava tudo bem, que logo o restante da equipe chegaria e prenderia quem quer que fosse. Mas aquilo não aconteceu.
escutou alguns passos se aproximarem da porta, mas logo o som da sirene da polícia pôde ser ouvido, o que fez a pessoa se afastar ainda mais rápido do que quando estava se aproximando. Num rápido movimento, ela foi até a janela e espreitou pela cortina, tentando ter algum vestígio sequer de quem cometeu aquele crime contra seu pai. Sorte ou não, a pessoa virou em direção à janela que ela estava escondida e nunca mais conseguiu esquecer aquele rosto.

acertou os três tiros no alvo, exatamente no peito, como era o esperado. Afinal, ela nunca errava, nem uma única vez.
Assim que terminou seu treino, retirou os protetores de ouvidos e caminhava em direção ao armário para pegar seus pertences, mas, para o seu desgosto, Sanchez estava ao seu lado. E terminar o dia tendo que manter algum diálogo com o colega de trabalho era, de certa forma, desagradável.
— Às vezes me pergunto como você nunca erra. — A voz de Sanchez se fez presente no ambiente.
revirou os olhos ao ouvir sua voz, ainda de costas para ele.
— Dedicação, treino e prática. — Ela se virou, ficando de frente para ele, e fez o sinal com a mão, como se estivesse atirando no homem e piscou em seguida. — Mas isso nunca foi o seu forte, não é, Sanchez?
O homem riu, sarcástico, e se preparava para ouvir as próximas palavras ácidas que sairiam da boca de seu colega.
— Sei que você engana muita gente aqui dentro com essa marra toda, mas você não me engana, . — Ele fechou o armário, após a mulher retirar sua mochila de dentro, com certa força. — Sei que esconde alguma coisa, principalmente por querer trabalhar sozinha, e eu vou descobrir o que é.
— Não há nada para ser descoberto, eu apenas faço o meu trabalho bem o suficiente para querer e poder trabalhar sozinha. Já você, não pode dizer o mesmo.
Antes que Sanchez pudesse revidar a resposta, colocou a mochila nas costas e saiu da delegacia.
Era sexta-feira, seu último dia de trabalho tinha terminado e agora ela estava oficialmente de férias. Bem, para a polícia de Las Vegas, pelo menos. Ela ainda tinha muito trabalho pela frente a partir de agora, com um novo plano em mente, ela não tinha como e nem podia falhar, iria descobrir a todo custo quem matou seu pai.
Naquela tarde, voltou para o seu apartamento mais cedo — não era o lugar que ela morava realmente, mas precisava de um lugar temporário, porque sabia muito bem que seria investigada a partir do momento em que pisasse na boate dos .

•••

deu uma última olhada em frente ao espelho, a saia preta de couro justa no corpo, o corpete também preto deixava seus seios em evidência e uma sandália vermelha completavam o visual. Seus olhos estavam marcados por uma grossa camada de delineador e sombra escuras, chamando a atenção para aquela parte do rosto, além dos lábios cobertos pelo clássico batom vermelho. Ela também tinha cortado os cabelos na altura dos ombros e feito uma franja, a fim de ficar quase irreconhecível, e tinha conseguido.
Pegou o sobretudo, a carteira com os documentos falsos que havia conseguido e o celular que usaria de agora em diante. Para era difícil não andar armada naquela cidade, mas ela sabia que não podia chegar na boate com uma mínima faca que fosse ou todo o seu plano poderia ir por água abaixo.

escutou seu nome ser chamado e caminhou até a mesa de professores, o local lotado de amigos e familiares de todos os estudantes, mas não havia ninguém da sua família naquele enorme salão. Por um azar do destino, as pessoas mais importantes para já estavam enterradas debaixo da terra e mesmo sendo uma das alunas a se formar com todos os méritos, ela não tinha para quem mostrar aquilo.
Após a cerimônia de formatura e com o canudo em mãos, se despediu de algumas pessoas e foi para a casa. Não a casa em que morava com o pai antigamente, aquela casa já não era mais seu porto seguro sem o seu pai nela. Ela tinha alugado um apartamento no centro da cidade, estava feliz com o seu novo lar e tinha sossego o suficiente, ao contrário do dormitório da faculdade.
Assim que entrou em casa, abriu uma garrafa de vinho e pediu uma pizza, aquela seria sua noite e aquilo era o suficiente para a nova .

Não havia um dia sequer em que não pensava na sua família, sua mãe estava morta havia mais tempo que seu pai, mas todo o tempo em que viveu com o homem, ele sempre deixou a memória da mulher viva. Agora, com o seu plano em ação, ela teve que deixar para trás todas as lembranças dos dois e essa foi a parte mais difícil para . Lembranças era a única coisa em que ela mantinha viva, tanto de seu pai, quanto de sua mãe, mas ela sabia que era melhor deixar tudo guardado bem no fundo e trancado para que não colocasse o seu plano por água abaixo.
Limpou a lágrima que insistiu em escorrer por sua bochecha, respirou fundo mais uma vez e saiu do apartamento, trancando a porta logo após.
— Você é Piper O’Connell agora.
O vento gélido fez com que apressasse o passo, principalmente quando recebia olhares cheios de malícia dos homens que passavam por ela na rua. Ela tinha vontade de socar e chutar o saco de cada um a cada comentário que recebia, mas aquilo não adiantaria de nada, apenas atrasaria ainda mais.
Avistou a boate que vinha investigando há alguns bons anos, um arrepio passou pelo seu corpo, ansiando por aquele momento. aumentava suas reboladas à medida que se aproximava do local, deixando de lado toda a sua postura de policial. Abriu o seu melhor sorriso, já sabendo que os seguranças não a deixariam entrar tão facilmente.
— Onde você vai, mocinha? — O segurança segurou o braço de , impedindo-a de entrar na boate.
— Falar com Matteo . — Ela respondeu, calma, dando um sorriso ao homem à sua frente. Por mais que sua vontade fosse de enterrar o salto fino de sua sandália no meio da cara dele.
— Sobre? — Ele insistiu, sem soltá-la.
— Tenho negócios a tratar com ele. — estava tentando manter o controle, mas se aquele homem não a deixasse entrar, ela não sabia se conseguiria manter seu controle.
— Solte-a, Antonio. — Um arrepio passou por todo corpo de , quando ouviu o Consigliere da Camorra gritar logo atrás do homem. — Ela vai tratar de negócios comigo esta noite. — engoliu em seco, quando os olhos de — sim, ela sabia quem era ele — passou por todo o seu corpo, analisando cada centímetro de pele exposta, até encontrar com os olhos castanhos de . Ou melhor, Piper.
guiou Piper até a sala nos fundos da boate, como era de costume. E Piper sabia que agora não tinha como escapar, ela trataria de “negócios” com ele do jeito que ele mandasse, mesmo que isso custasse sua dignidade.
— Vamos lá, não ache que só porque deixei você entrar, que eu tenho todo o tempo do mundo. — encostou o corpo no sofá que tinha na sala, olhando para Piper de cima a baixo.
Piper tirou o sobretudo, deixando à mostra a maior parte do seu corpo, já que as roupas que usava eram extremamente curtas. Agora, ele a olhava do mesmo jeito que qualquer cara olharia para uma mulher quase seminua na sua frente, diga-se de passagem.
fez sinal com o dedo para que Piper desse uma volta, assim ele poderia “analisar” melhor a mulher, e como ordenado, ela fez. Após uma pequena análise, ele colocou uma música e ela entendeu que deveria começar o seu show.
Para a surpresa de Di Biase — e até mesmo de Piper —, a música pareceu dominar todo o corpo da morena, então resolveu que se faria aquilo, faria bem feito. Rebolava o quadril de um lado para o outro, deixando totalmente hipnotizado, de uma forma que ele nem imaginava que era possível de acontecer.
Quando a saia de couro desceu pelas pernas de Piper, deixando à mostra o resto de seu corpo, jogou a peça de roupa em e o italiano estremeceu o corpo inteiro. Sua calcinha fio dental era o suficiente para ele querer tocá-la, mas era uma regra na sua boate que os clientes não tocassem nas suas garotas, ele só não sabia se conseguiria cumprir isso.
estava tão rígido quanto poderia ficar.
O fato de não saber nada sobre aquela mulher — pelo menos por aquela noite —, deixava-o desesperadamente atraído por ela, isso estava fazendo com que ele fervilhasse por dentro, quase o fazendo salivar.
não estava aguentando mais aquela sensação, não era o cenário em que estava acostumado, já que a maioria das mulheres da boate torciam para conseguir um momento daqueles com o Consigliere da Camorra. De certa forma, aos olhos das outras pessoas naquela noite, Piper não sabia a sorte que estava tendo.
Quando O’Connell sentiu as mãos de na sua cintura, foi quase inevitável não sentir um arrepio, principalmente com a respiração dele em sua nuca. Ele virou delicadamente a mulher para que ela ficasse de frente para ele. As mãos do italiano foram descendo pelo corpo de Piper, da sua cintura até chegar na parte de trás das coxas da morena. Ele levantou uma perna dela, grudando seus corpos, o que fez Piper segurar nos ombros largos de para se equilibrar; nesse momento, a morena conseguiu encarar os olhos do homem, assim como o restante do seu corpo, prendendo a atenção nos lábios carnudos convidativos do homem.
— Quem é você, Piper O’Connell, e o que você quer na minha boate? — Ele sussurrou tão próximo de Piper, que ela quase perdeu o equilíbrio.
conseguia ser bem intimidador quando queria, mas também sabia que qualquer pessoa que entrasse ali poderia colocar todo o seu negócio em risco e ele não deixaria isso acontecer. Era por esse motivo que tinha os documentos falsos dentro da bolsa, um novo celular e lugar para morar. Ela sabia onde estava se metendo.
— Você sabe, eu preciso de um emprego. — Ela respondeu com certa dificuldade.
desceu a outra mão até a outra coxa de Piper, parando por alguns minutos na sua bunda, dando uma leve apertada. Rapidamente, ele puxou a outra perna da mulher para cima, fazendo-a entrelaçar as pernas em volta da sua cintura.
Um suspiro sôfrego escapou pelos lábios vermelhos de Piper, mas conseguiu recobrar sua consciência a tempo de sussurrar em seu ouvido o restante da resposta:
— E o que você quiser me dar.
perdeu o controle total, acabando com a distância de suas bocas. não lembrava a última vez que tinha se sentido tão traído por alguém, mas Piper tinha prendido sua atenção desde o momento em que parou na porta da boate naquela noite. O Consigliere da Camorra estava tão duro, que sentia seu corpo prestes a explodir, entretanto, sua diversão foi interrompida por Matteo.
Ambos levaram um leve susto com a interrupção do mais novo, que entrou na sala batendo a porta e olhou para os dois, fazendo um sinal para a morena sair da sala. Piper juntou suas peças de roupas rapidamente, mas antes da mulher sair, pediu para que ela não fosse embora.
Ai, meu Deus. sussurrou para si mesma, controlando sua respiração, tentando assimilar o que acabara de acontecer dentro daquela sala.

•••

Na noite seguinte, a boate estava lotada, como era esperado. Piper havia ensaiado durante o dia com o grupo de dançarinas, já que na boate tinham algumas apresentações em grupo e depois as dançarinas poderiam entreter quem quer que fosse à vontade — desde que estivesse dentro das regras que os exigiam.
Após a apresentação daquela noite, Piper voltou até o camarim que dividia com o restante das dançarinas. Assim que entrou na sala, Millie estava retocando a maquiagem, o mesmo que a morena estava indo fazer.
Desde o primeiro momento que Piper pisou naquela boate, ela percebeu os olhares atravessados que recebeu, principalmente pelo fato de tê-la atendido em particular, como se ele não tivesse feito isso com outras várias.
Piper sentou em frente ao espelho, retocando o batom vermelho, ajeitou o cabelo e passou mais uma camada de rímel nos cílios.
— Não pense que você vai roubar o meu lugar. O é meu! — Millie sussurrou próximo do ouvido de Piper, mas a mulher resolveu ignorar. Um passo em falso e tudo estaria perdido.
Decidiu continuar sua maquiagem, mesmo que estivesse passando batom demais nos lábios, ela deixaria Millie sair primeiro para evitar confusão. Entretanto, pelo reflexo do espelho, Piper pôde ver Millie logo atrás, próxima da arara das roupas em que Piper havia deixado seu vestido vermelho, o que logo ela vestiria. Mas antes que a morena pudesse piscar, Millie já estava fazendo picadinho daquela peça.
— Você está maluca? — Piper levantou da cadeira, ficando de frente para Millie, que ainda estava com uma parte do pano em mãos junto com a tesoura.
— Isso é só um aviso. — Ela sorriu, satisfeita.
— Ah, um aviso? Você está completamente maluca! — Piper falou um pouco mais alto, o que atraiu a atenção de Kara para aquela parte da boate.
A executora da Camorra não gostava de tratar com aquela parte, mas Matteo não estava ali naquela noite e estava tratando de outros negócios. O trabalho de Kara era rápido e prático, e brigas por futilidade, com certeza, não era a sua praia.
— O que está acontecendo aqui? — Kara esbravejou, sabendo que estava intimidando-as.
— Essa maluca rasgou meu vestido. — Piper falou, calma, apesar de querer enfiar seus cinco dedos na cara de Millie.
— Ela está mentindo, o vestido já estava assim quando eu cheguei aqui. — Millie mentiu descaradamente.
— Você só pode estar de brincadeira comigo. — O’Connell soltou uma risada, controlando-se ao máximo para não pular em cima da loira.
— Você sabe como as novatas são, Kara. Elas acham que podem bancar aqui dentro depois de uma noite de sexo com , mas as coisas não são assim.
— Você tem razão, Millie, as coisas não são assim. E não é você quem dita as regras. — Kara ficou de frente para a mulher, automaticamente Millie abaixou a guarda, vendo que estava prestes a se dar muito mal pelo ocorrido.
— Eu não quis dizer isso, Kara. — Ela recuou, dando alguns passos para trás.
— Ah, antes que eu esqueça, Millie. Você não é especial para o , ninguém aqui é. — A executora disse, pronta para deixar o cômodo, mas apareceu bem na hora.
— Por que vocês duas não estão trabalhando?
— Parece que Millie está com ciúmes e rasgou o vestido da Piper. — Kara respondeu pelas duas e saiu da sala.
— Vá para casa, Piper. — Ele olhou para a mulher que estava usando um roupão no momento. — Isso vai ser descontado de você, Millie.
Piper O’Connell nunca se sentiu tão aliviada por alguém ter rasgado sua roupa. Naquele momento, ela sentia que podia explodir. Além de fingir ser outra pessoa, ela não estava preparada para lidar com todas aquelas desavenças, o que era bem irônico para uma policial de Las Vegas que já esteve em situações bem piores. Sabia que agora Millie seria sua inimiga por toda eternidade, mas ela também seria apenas mais uma das tantas, várias, pedras em seu caminho.
Assim que Piper sentiu o vento gélido bater em seu rosto, após sair pela porta dos fundos da boate, permitiu-se ser a que ela ainda conseguia encontrar dentro de si. Entretanto, essa que ela conseguia encontrar estava enfrentando algumas dificuldades no momento, mas ela estava na rua e não queria desabar logo ali.
O alívio percorreu o corpo de assim que ela abriu a porta do seu novo apartamento, mesmo que aquele não fosse o lar que ela gostaria de estar, já estava acostumada às mudanças, que não faziam mais diferença ter ou não as suas coisas dentro daquela casa.
No fim daquela noite, seguiu até o banheiro e tomou um banho demorado. Se fizesse um esforço, ela conseguia lembrar até mesmo do aroma do corpo de junto ao seu e de todos os homens que já se aproximaram de , nenhum tinha a extasiado daquela forma. Estava há dois dias naquele maldito emprego, naquela maldita investigação — que não tinha descoberto nada, nem sequer uma pista — e sua cabeça estava uma loucura.
Em alguns momentos, a razão falava mais alto e ela quase cedia, quase pedia para ir embora e desistir daquela vingança. Mas, então, as lembranças do dia do assassinato de seu pai tomavam forma em sua mente, fazendo-a reviver aquela sensação de impotência, e ela lembrava imediatamente por que estava se sujeitando a tudo aquilo. Embora soubesse que seu pai seria contra até o último minuto, caso estivesse vivo hoje, aquilo tudo também fazia parte do trabalho de .
Ela já havia se arriscado em outras investigações, já tinha se infiltrado em outros grupos, e, no fim, tinha dado tudo certo. Mesmo sabendo que nas outras investigações ela tinha o apoio de uma equipe inteira, que faria o impossível para ampará-la quando pudesse; agora, estava sozinha e por sua conta em risco.
A angústia em seu peito parecia aumentar à medida que ela começava a pensar o que significaram essas duas longas noites. Mal tinha presenciado a rotina dos e tudo ao seu redor foi mais intenso do que ela realmente pensou que seria, mas gostava da adrenalina que aquilo lhe passava. O problema era que nessas duas noites, ela sentiu mais medo do que adrenalina. A sensação de impotência voltava a dominar, pensando se algum dia seria uma policial tão boa quanto seu pai foi. Porém, muitas vezes, podia sentir o fracasso bater à sua porta e nada no mundo conseguia mandar aquela sensação embora.
Por fim, resolveu finalizar aquela noite deitando na sua cama e se entregando a um sono profundo, antes que os seus maiores medos vencessem aquela batalha.

•••

— Piper! — Pietro, o segurança particular de , apareceu no camarim, sem se importar se tinha alguém trocando de roupa. — Chefe quer que você vá até a sala dele.
Naquele momento, o corpo de Piper tremeu dos pés à cabeça. Já imaginando que ele a mandaria embora devido a desavença com Millie na noite passada.
Evitando que ele ficasse irritado a esperando, ela desistiu de trocar de roupa e seguiu direto para a sala do Consigliere.
— Pietro disse que queria me ver.
levantou o olhar, observando o nervosismo de Piper por estar ali. Ele chegou até a achar engraçado todo aquele comportamento dela, provavelmente com medo de ser demitida logo no seu primeiro dia.
— Pegue! — Ele apontou a sacola com a cabeça.
Não era uma sacola qualquer, mas abriu para ter certeza.
— Não posso aceitar, isso vale mais do que ganho numa noite aqui.
— E quem disse que você vai pagar por ele? Não se preocupe com isso, apenas aceite. — saiu de trás da mesa, encostando o corpo na parte da frente do objeto. — E talvez hoje você consiga mais do que no seu primeiro dia. Está liberada.
— Obrigada. — Quando saiu da sala de , Piper abriu a sacola novamente, tendo certeza que havia um vestido caríssimo ali dentro.
Ao contrário de Piper, Matteo não estava nada surpreso com a atitude do irmão, principalmente por conhecê-lo tão bem.
— Está dando presentes para prostituta agora, ? — O mais novo interrogou o mais velho, assim que pisou em sua sala.
— Aquilo foi troco de bala, Matteo, não se faça de louco. — serviu o copo de whisky e encarou o irmão mais novo.
— Cadê a Kara? — Matteo mudou de assunto.
— A mulher é sua. — O líquido desceu queimando a garganta de , mas ele não se importou.
Matteo já começava a perder a paciência com o irmão.
— Foi fazer um favor pra mim, daqui a pouco ela está de volta.
— O que você tem hoje? Está insuportável. Ah, isso é o seu natural mesmo. — Matteo saiu da sala, sem esperar alguma resposta do irmão.
Assim que o Capo da Camorra saiu da sala do irmão, Kara estava chegando na boate. A mulher não parecia estar tão satisfeita quanto gostaria, mas tinha feito o seu melhor com o tempo que tinha para aquele serviço.
deu um presente pra garota nova. — Matteo não deixou Kara entrar na sala do irmão.
— Eu sei, eu ajudei a escolher o vestido. — Ela sorriu satisfeita.
— A cada dia que passa, você fica cada vez mais puxa saco do meu irmão. Que favor é esse que você foi fazer? — Eles entraram na sala de Matteo e o Capo fechou a porta para que ninguém os escutassem.
— Nada demais, só investigando quem trabalha aqui. — Ela cruzou os braços, após encostar o corpo na cama.
— E qual o problema?
— Não encontrei nada suspeito. Não é viciada, não tem família e se mudou recentemente, o que só comprova que ela precisa de dinheiro para se sustentar. — Kara falava mais para si mesma do que para o marido. — Mas tem algo nessa história que eu não consigo acreditar, ainda vou descobrir o que é.
— Conversa com ela, vai que acaba descobrindo alguma coisa. — Matteo se aproximou de Kara, automaticamente a mulher relaxou o corpo, aproveitando o carinho que o marido fazia em seu rosto. Porém, logo se despediu de Matteo, a noite mal tinha começado e ela ainda tinha muito trabalho para ser feito. Kara não era o tipo de mulher que deixava um trabalho pela metade, principalmente quando sua intuição dizia que Piper O’Connell estava escondendo algo.
No camarim, Piper terminava de se arrumar após mais uma apresentação. Ao contrário do que tinha imaginado, até que ela estava se dando bem nas apresentações, não era um bicho de sete cabeças, mas pra quem quase dormiu com o dono da boate logo no primeiro dia, exibir o corpo através de danças sensuais para entreter velhos babões não era a pior coisa do mundo. Às vezes, um pouco nojenta.
Quando ocorria essas voltas para o camarim, ela conseguia observar o entre e sai das pessoas na boate, não com tanta atenção como gostaria, mas haviam algumas caras que ela já tinha decorado. Infelizmente, os sabiam ser muito discretos e nenhum assunto de trabalho era falado durante a noite. Piper não tinha conseguido descobrir nada sobre o assassino de seu pai e, às vezes, sentia que estava apenas perdendo tempo ali dentro. Ela não queria admitir, mas estava sendo desgastante demais, o que a fez voltar a usar os remédios para dormir à noite.
— Pipes. — Gio, uma das dançarinas, a chamou pelo apelido. — Pode me ajudar aqui?
Piper rapidamente se prontificou, Gio tinha sido uma das poucas pessoas com quem Piper tinha se dado bem. Pelo menos a dançarina sempre a tratou bem e não rasgou nenhuma das suas roupas, ao contrário de Millie, que nem a olhava mais em sua cara.
— Claro, Gio. — Ela apertou o corpete da ruiva, deixando os seios da mulher quase esmagados ali dentro. — Você consegue respirar ainda? — Piper brincou.
De longe, Piper era observada por Kara, mas aparentemente a policial conseguia fingir que era apenas uma dançarina, o que não deixava muita escolha para a Executora. Kara teria que interagir, se quisesse mais informações, o que ambas não sabiam, era que uma possível conversa beneficiaria as duas partes.
— Ei, a Millie é ciumenta mesmo, esquece o que aconteceu. — Gio disse ao se virar de frente para Piper.
A morena apenas deu de ombros, não se importando mais com Millie.
— Eu sei, Gio. Estou aqui, porque preciso me sustentar, se Millie tem pendências com o , ela que vá resolver com ele. — Piper deixou sua voz sair um pouco ácida, Gio entendeu que a amiga não queria falar sobre aquilo e encerrou o assunto. — Ei, senta aqui pra eu arrumar seu delineador. — Pipes deu um sorriso simpático para a dançarina, suavizando o clima novamente.

A noite foi longa, mas Piper conseguia disfarçar a cada dia mais que estava ali apenas para ganhar dinheiro suficiente para conseguir se sustentar. Não dava bandeira na sua rotina, mas começava a ficar irritada por ter que ir do apartamento para a boate e vice-versa. Ela sentia falta de todo aquele trabalho na delegacia, afinal, prender os bandidos era algo que gostava de fazer. Mas, por ironia, era com eles com quem ela estava agora.
— Piper? — ouviu a Executora da Camorra a chamar.
— Sim? Aconteceu alguma coisa? — A policial pareceu preocupada.
Será que haviam descoberto algo?
— Não. Só queria te chamar para tomar uns drinks. — A mulher sorriu. — Você não teve um bom começo aqui.
— Eu adoraria, Kara. — Ela sorriu aliviada. — Mas eu não bebo.
— A gente pode jantar juntas, então! Pode ser? — A morena sorriu.
— Claro. Podemos sair daqui meia hora?
— Sim. Apareço aqui em breve.
podia estar se fazendo de idiota, mas Kara queria arrancar informações dela. A noite não seria fácil e tinha consciência que Kara era inteligente, mas ela também era. E muito.
Meia hora depois, apareceu nos corredores usando uma calça preta, uma blusa vermelha e coturnos. Aquele era seu tipo favorito de roupa: simples e confortável. Kara usava a mesma roupa de antes e, de praste, estava com duas armas na cintura. poderia ver também que carregava facas em sua calça.
— Você está ótima. — A Executora sorriu.
— Obrigada. Você também!
As duas foram para a parte de baixo da boate e todas as meninas encararam como se ela fosse um grande monstro. Ela percebeu que a relação de Kara com as meninas não era de muita animosidade, mas esperava que não fosse assim com ela. Não que ela quisesse criar laços na Camorra, mas para descobrir quem deles havia matado seu pai, ela precisava que alguém fosse com a sua cara. Matteo estava fora de cogitação, uma vez que ele quase a demitiu ao ver que havia a contratado sem sua permissão, mas sua esposa o acalmou. Tinha que se aliar à Kara e ao .
O caminho até o restaurante favorito de Kara foi curto, mas um tanto divertido. A mulher havia ligado o rádio e algumas músicas em espanhol começaram a tocar. gostava e, em sua maioria, sabia a letra.
Tú y yo fuimos uno, lo hacíamos en ayuna' antes del desayuno… cantou baixinho. — Fumábamos la hookah y te pasaba el humo y ahora en esta guerra no gana ninguno…
— Você fala espanhol? — Kara perguntou, surpresa.
— Sim. — sorriu. — Sou mexicana.
— Legal. — A Executora sorriu para ela e parou o carro na vaga reservada. — Bom, minha mãe era italiana, e eu, como tenho o sangue dela correndo pelas minhas veias, a trouxe para comer massa.
— Eu realmente pensava que vocês só comiam isso. — desabafou. Aquele comentário era verdadeiro. — Mas descobri que a culinária italiana é fantástica. Em apenas alguns dias na boate.
— A cozinheira é fantástica mesmo. Mas, vamos, esse restaurante é ótimo.
As duas mulheres saíram do carro e, ao entrarem no local, foram atendidas pelo maître. Ao ver Kara, o homem rapidamente se prontificou de achar uma mesa disponível para as duas, nem que aquilo significasse que ele expulsaria clientes.
— O atendimento foi rápido pra quem tem um local lotado como esse. — A policial riu.
— Esse é um dos restaurantes protegidos por nós. — Ela disse baixinho. — Venho aqui sempre que posso e eles sempre estão dispostos a me arranjar uma mesa.
— Entendi. O sobrenome tem poder. — riu. — Ou até mesmo Alwyn.
O semblante de Kara mudou instantaneamente.
— Não respondo por Kara Alwyn há dois anos, Piper. E gostaria que ficasse apenas .
— Desculpe, não sabia que sua situação com seu pai era delicada. — se arrependeu de imediato.
— Tudo bem. — Kara relaxou um pouco. — Me conte um pouco de você.
Estava na hora de , ou melhor, Piper, começar a jogar.
— Como já disse, sou mexicana. Perdi minha mãe bem nova, eu não tenho tantas lembranças dela. Já o meu pai… — ela tentou se manter firme, mas falar de James era algo que ainda doía como se fosse ontem. — Ele foi assassinado há uns anos atrás. Pegou dinheiro pra arcar com os custos do tratamento da minha mãe com uns caras errados e não conseguimos pagar.
— Sinto muito, Piper. — Kara disse baixinho.
— Os gastos com ela foram tão altos que conseguimos ir postergando o pagamento, até um dia que não deu mais. — Ela falou baixinho. — Eu cheguei a morar com uma tia, mas ela voltou pro México.
Bem, essa parte não foi tão mentira assim.
— E você foi para um abrigo ou coisa do tipo?
— Não. Ela disse que aos quinze eu podia me virar sozinha, me deixou com a casa. Tive que trabalhar pra pagar as contas, até que fui demitida há um mês e não tive solução.
— Uau. Baita de uma tia de merda! — resmungou.
Antes que Piper pudesse respondê-la, um garçom apareceu na mesa.
— As senhoritas já estão prontas para pedir? — Ele perguntou.
— Nós vamos olhar o cardápio e assim que terminarmos, chamamos.
O cardápio estava majoritariamente em italiano e antes de Kara pudesse explicar o que estava escrito, se pronunciou. A Executora da Camorra estranhou o fato dela entender alguma coisa em italiano. Não que Piper não pudesse saber italiano, mas era estranho para quem havia sido obrigada a trabalhar tão cedo para se bancar.
— Eu vou querer o quarenta e oito!
— Você sabe italiano? — ela inquiriu.
— Não. — riu numa tentativa falha de disfarçar. — Mas parece bem com espanhol. Ambas provêm do Latim.
— Ah, sim. Entendi.
Naquele momento, Kara confirmou suas dúvidas. Piper escondia alguma coisa e, apesar de naquele dia ela estar disposta a desviar do assunto, descobriria o que era. Nem que para isso, ele precisasse colar nela.

•••

Quase dois meses se passaram desde o jantar que tivera com Kara e ela não havia descoberto nada. Nem um mísero assunto envolvia policiais, tudo que ela sabia era que a máfia evitava, a todo custo, a briga entre esses dois órgãos da sociedade. Além disso, Kara estava sempre de olhos nela e isso dificultou que tivesse sua vida separada, ou seja, estava há quase dois meses sem visitar seu apartamento e ter o conforto de sua casa.
No entanto, ela tinha tanto tempo livre na boate que passou grande parte de seu tempo lendo, conversando com os seguranças ou até mesmo correndo. Havia criado uma rotina de exercícios, já que não podia fazer nada demais.
Naquela tarde, estava conversando com os seguranças sobre algo aleatório, quando adentrou a boate furioso, esbarrando nela.
— Preste atenção! — Ela resmungou.
Todos no local a encararam como se ela tivesse cometido um crime contra o Estado, de tão grave.
— O que disse? — virou o rosto para encará-la.
— Disse pra você prestar atenção em seu caminho, . — Ela falou sem recuar. — Além disso, você está armado. Se você cair ou esbarrar em alguém e isso dispara… uma tragédia.
facilmente percebeu que ela estava tirando uma com a sua cara. Só podia ser isso. Ninguém falava com ele no tom que ela falou.
— Suba comigo, Piper.
Os olhares das pessoas presentes naquele momento se voltaram para Piper, mas ela não se importou. Estava acostumada com isso, já não a intimidava mais e a irritação por não ter descoberto nada em todo esse tempo ficava cada vez mais visível. No fundo, ela estava servindo apenas como uma dançarina para homens babões e ela não estava lá para isso.
abriu a porta de seu escritório, seguindo para o meio da sala e esperando Piper fazer o mesmo.
— Não está com medo, Piper? — olhou nos olhos de Piper, os olhos castanhos da mulher brilhavam de excitação com aquela situação.
Ela não tinha planejado estar ali, discutindo com o Consigliere da Camorra, mas ele tinha escolhido um péssimo dia para esbarrar em O’Connell.
— Do que, exatamente? De você? Não. — Ela balançou a cabeça e deu de ombros.
Piper lembrou da primeira vez em que pisou naquela sala, quando foi pedir aquele emprego para Matteo, mas acabou por atendê-la. Para a sua sorte, afinal, não teria conseguido o emprego se tivesse realmente falado com Matteo. Agora Piper estava encrencada com e, ainda assim, fingia que não.
— Você é corajosa. — Ele sorriu lascivo para ela.
Tudo nele era extremamente sexual.
— Mas eu prefiro que seja assim.
— Por quê? — Ela questionou.
— Há algo em você que me provoca, Piper. — Ele confessou. — E nem é brincadeira quando eu digo isso. Sei que você também sente…. desde o primeiro dia.
— Não sinto. — Ela mentiu.
E era uma mentira das boas, mais uma na qual ela se metia.
— Então me diga, Piper. — Ele se aproximou dela e sussurrou em seu ouvido. — Por que quando faço isso seu corpo responde?
Piper não podia negar que seu corpo reagia a cada estímulo e toque de , ele era um verdadeiro delator e ela estava ferrada.
Quando a segurou pela cintura, aproximando-os, seu corpo inteiro se arrepiou nas mãos do italiano e Piper apenas fechou os olhos.
— Seria falta de educação da minha parte ver o seu corpo reagir ao meu e não retribuir, não é mesmo? — Suas palavras soaram como sussurros no ouvido de .
Piper também sabia provocar, suas unhas curtas fizeram um bom trabalho na nuca do homem à sua frente, o que o fez soltar um suspiro baixo, próximo da boca da mulher.
A boate estava próxima de abrir, mas o Consigliere não a deixaria sair daquela sala tão facilmente. Ele a queria, mas faria com que ela pedisse por isso.
— Vamos poupar os bons modos que temos, O’Connell. Não estou aqui para ser educado e nem você. — Ele respondeu, passeando seus dedos pelas costas da mulher, o body que ela usava deixava boa parte de sua pele exposta.
— Eu preciso trabalhar, . — Ela se desprendeu de seus braços, o que o deixou desconcertado. — Se você não vai me demitir ou me matar, então não há nada para eu fazer aqui. — Ela saiu da sala sem esperar resposta alguma de .
O Consigliere da Camorra ficou alguns minutos parado no meio de sua sala, sem saber exatamente como agir, o que o intrigava cada vez mais, visto que nenhuma mulher conseguiu deixá-lo assim antes.
? — Kara o chamou, mas ele não prestou atenção. — Cazzo, ! — Ela gritou, conseguindo a atenção que queria.
— O que você quer, Kara? — Ele perguntou sem cerimônia.
Sua paciência tinha ido pelo ralo após Piper sair de sua sala sem mais nem menos.
— Você está de quatro por ela, ao menos finja que consegue ter o controle dessa merda toda. — Ela respondeu, irritada.
— Você veio aqui para me infernizar? Faz um favor para si mesma e vá torrar a paciência do seu marido e não a minha. — Eles tinham intimidade o suficiente para dizer aquilo um para o outro.
E ao contrário do que pensou, Kara não saiu da sua sala.
— Ela é só uma dançarina, Kara. — Ele sentou atrás da sua mesa, relaxando o corpo.
— O problema não é esse, . — Ambos estavam mais calmos. — A gente não descobriu nada sobre ela ainda, o que é bem estranho. Ou ela realmente tem a ficha limpa ou sabe esconder muito bem, a gente não pode arriscar.
— Eu sei o que estou fazendo. — Era óbvio que ele não sabia.
Kara respirou fundo pela última vez.
— Espero mesmo que saiba e não se arrependa das suas escolhas. — Kara saiu da sala, fechando a porta em seguida.
Se ficasse mais um segundo ali dentro, voltaria a discutir com e não era o que ela queria.
Piper estava no camarim conversando com o restante das dançarinas, elas estavam quase prontas para o primeiro show da noite.
Naqueles dois meses que se seguiram, Pipes já tinha se acostumado com a rotina da noite, assim como tinha criado um laço de carinho e amizade por todas que sempre lhe trataram bem, mesmo sabendo que era errado da sua parte. Mas não conseguiu evitar de retribuir o carinho, pelo menos por aquele momento, Piper se permitiu criar um laço de amizade naquele lugar.
No camarim, era possível ouvir o som das risadas e piadas feitas pelas dançarinas, mas o local ficou silencioso quando apareceu na porta do cômodo. Rapidamente, elas terminaram de se vestir e saíram do local, ficando apenas Piper ali dentro, enquanto terminava de calçar sua sandália.
— Troque de roupa, vamos sair.
Ela estava cansada daquele jogo. Ele pensava que podia falar com ela de qualquer jeito que ela o obedeceria, então iria irritá-lo mais um pouco.
Pipes tirou a sandália devagar, tocou o calçado no canto do camarim, vestiu uma calça jeans, uma camiseta preta simples e o tênis da mesma cor.
Sim, aquilo era o suficiente para ela.
Tirou a maquiagem do rosto, passando um batom marrom mais fraco que o vermelho que estava usando anteriormente.
— Estou pronta. — Ela balançou o cabelo, dando uma ajeitada por último.
— Ótimo. — Eles saíram pela porta dos fundos da boate.
Piper não sabia para onde estava indo, mas também não quis perguntar, por mais que sua curiosidade quisesse falar mais alto. Quando a Ferrari de entrou na garagem do grande hotel, ela pôde respirar aliviada, a última coisa que Piper queria era ser vista em público com .
Quando as portas do elevador se abriram, chegando no último andar do prédio, a vista que Piper teve foi de tirar o fôlego, o que a deixou boquiaberta. tinha um loft naquele prédio com uma vista de quase toda Las Vegas. Ela não queria parecer surpresa, mas foi impossível disfarçar; Piper sentia saudade de estar nas ruas, sendo prendendo bandidos ou apenas por estar livre, caminhar, ir à feira, parque, o que fosse. Hoje ela já não conseguia fazer isso tranquilamente, pois sabia que sempre teria alguém da máfia lhe vigiando.
— Ahn… o que viemos fazer aqui? — Ela perguntou baixo, ainda admirando a vista.
— Fugir, talvez. — Ele caminhou em direção à cozinha, deixando Piper olhar todo o local.
O loft era muito bem arrumado — é claro que seria, afinal de contas, ele conseguiria alguém para limpar e arrumar o local a hora que quisesse —, arejado e tinha até algumas plantas próxima da janela. Provavelmente alguém teria as colocado ali, já que não tinha cara de quem cuidava de plantas.
Uma televisão grande, um sofá e uma mesa de jantar pequena, além da cozinha e do banheiro que completavam o andar de baixo; no de cima, apenas uma cama e um roupeiro, pelo menos era o que ela conseguia ver de onde estava. Os móveis eram claros, todos combinando com cada peça da casa, apesar de não existir exatamente uma divisória entre os cômodos.
Após observar cada canto, Piper voltou sua atenção para . O homem já tinha tirado seu blazer azul, ficando apenas com a camisa branca dobrada até os cotovelos para cozinhar. O cheiro estava ótimo, era macarrão à bolonhesa, e automaticamente o estômago de Piper deu um leve sinal de vida.
— Ops, desculpe. — Ela disse baixo, um pouco envergonhada.
— Aguenta só mais uns minutinhos que eu já estou terminando. — Ele disse simpático, nem parecendo o mesmo homem com quem saiu da boate.
— Não imaginava que você sabia cozinhar, o cheiro está ótimo.
— Você não sabe muita coisa, Piper. — Ele disse, mas suavizou o tom de voz ao continuar. — Aprendi com a minha mãe, era uma das coisas que eu gostava de fazer com ela. — O semblante triste denunciava que Antonella era um assunto proibido, ao menos que ele tocasse no assunto por vontade própria. — E a sua família, O’Connell?
— Todos enterrados debaixo da terra. — Ela disse, simplesmente, e soltou uma risada baixa.
— Isso é um pouco cruel de se dizer. — Ele serviu dois pratos com a comida.
— Não é cruel, é apenas a realidade. Eles não eram os melhores pais do mundo e nunca se esforçaram para ser, entende? — Ela mentiu, se falasse bem de sua família, o risco de começar a chorar ali mesmo era alto demais. Não poderia colocar tudo a perder.
— Um pouco, na verdade. Já tive que lidar com pais que deram seus filhos para pagarem suas dívidas, mas imagino que você saiba quais foram os fins deles.
Não era nenhuma surpresa para Piper que a máfia de também fazia aqueles serviços.
— Não é muito difícil de se imaginar, o meu pai teve o mesmo fim. Mas isso você já sabe. — Ela respondeu, lembrando da conversa com Kara e sabia que aquele assunto já tinha chegado até .
— Eu sei, mas queria ouvir a sua versão.
Os dois sentaram na pequena mesa de jantar, um de frente para o outro. A mesa ficava próxima da janela e era possível continuar observando parte da cidade toda iluminada.
O jantar foi silencioso, mas estava um clima agradável, bem diferente do que os dois estavam acostumados. Entre pequenas conversas, contou um pouco da sua infância com Matteo, nada que fosse o comprometer de verdade. Piper estava gostando daquele clima e por alguns instantes também falou da sua infância como . Por mais que quisesse negar, ela sabia que ainda estava em território inimigo; mas quando olhava nos olhos brilhantes de , não conseguia mentir.
— É tão estranho olhar a cidade assim de cima, quando estamos lá embaixo não percebemos o quanto Las Vegas consegue ser bonita. — Piper falou, observando a vista mais uma vez, enquanto terminava sua taça de vinho.
— Nos acostumamos com os turistas, loucos por cassinos, os hotéis extravagantes e tudo mais. — Ele deu de ombros, voltando a olhar Piper.
— Sim, exatamente. — Ela apoiou a cabeça na janela, fechando os olhos, enquanto sentia a brisa bater em seu rosto. — É melhor eu ir embora.
— Por favor, não. — a puxou para perto, sentindo o aroma do corpo de Piper. — Não por esta noite.

— Piper... — Ele sorriu de modo que ela ainda não o tinha visto fazer, então Piper fez sua escolha.
O choque dos lábios um com o outro era como sentir uma corrente elétrica transpassando por todo seu corpo e Piper se questionou como conseguiu ficar tanto tempo sem aquilo novamente. Um gemido rouco escapou da boca de , então Piper perdeu todo o resquício de autocontrole que ainda restava em seu corpo. Os botões da camisa de foram os primeiros alvos das mãos da mexicana, ela queria se livrar de todas aquelas peças o mais rápido possível, o que o fez rir ainda com sua boca colada na dela.
— Pare de dançar na boate, por favor. — Ele separou suas bocas, um pouco ofegante, encarando os olhos de Piper.
— Não posso. — Ela fechou os olhos, mas não se afastou, não iria parar logo agora. — Não posso tomar nenhuma decisão agora. — Piper distribuía beijos molhados por toda extensão do pescoço de ; ele rapidamente encontrou a cintura de Piper, apertando aquela região.
— É um ótimo momento para você tomar essa decisão. — Ele disse, puxando lentamente a camiseta de Piper para fora de seu corpo.
— É um ótimo momento para você usar sua boca para outra coisa. — Ela voltou a beijá-lo.
Piper enroscou os braços em volta do pescoço de , o mesmo a segurou pela cintura, fazendo-a enlaçar as pernas em volta da mesma. Ela aproveitou a posição para tirar o cinto que prendia a calça e os tênis, mas torcia para que a colocasse em algum lugar para se livrar da calça, ainda haviam peças demais em seus corpos.
— Eu quero mais. — Ela sussurrou entre gemidos.
— Calma, bela. — Foi a vez de ele descer os beijos para o pescoço dela e a única coisa que restou para Piper foi jogar a cabeça para trás, dando maior liberdade para o homem sugar, lamber e beijar cada pedaço de pele.
Apesar de toda aquela brincadeira ser bem agradável no ponto de vista de , já que ele estava no comando, o homem também não aguentava mais vestir as calças apertadas devido a sua ereção. Caminhou lentamente até a cama, jogando o corpo de Piper no lençol macio. Nesse momento, o corpo de Piper pareceu pequeno demais perto do corpo de ; entretanto, ela não quis que ele saísse de cima, apenas ansiou ainda mais por ter o corpo dele junto ao seu.
Com agilidade, retirou o sapato e a calça, ficando apenas com a boxer preta que vestia. O’Connell fez menção de se livrar da sua calça, mas as mãos de foram mais rápidas e arrancaram a peça do corpo da mulher. Alguns beijos começaram a ser distribuídos pelas pernas e coxas de Piper, à medida que subia na cama, indo de encontro à morena.
— Você é deliciosa. — Ele sussurrou em seu ouvido, arrepiando-a.
— Você nem provou ainda, . — Ela soltou um riso baixo, fechando os olhos ao sentir o toque dos dedos de se aproximando de sua intimidade.
A lingerie ainda estava em seu corpo, mas não fazia mais diferença se ela vestia aquelas duas peças, aquele homem estava tirando toda a sua sanidade e ela nem ao menos estava nua.
Ainda. — Ele repetiu.
Os olhares dos dois se encontraram no momento em que os dedos de encontraram a intimidade de Piper, a mulher soltou um gemido, mas não desviou o olhar dele. Aquilo era excitante, mais do que ela imaginava que seria.
Ele sorriu satisfeito ao encontrá-la tão molhada para ele.
… — Piper arranhou as costas de ao sentir os movimentos de seus dedos aumentarem. Mas ele a calou com um beijo provocante, do mesmo jeito que movimentava seus dedos dentro da mulher.
Os gemidos de Piper eram reprimidos pela língua de , sempre controladora sobre a dela, enquanto ele aumentava o ritmo das investidas, sentindo os dedos escorregarem por ela estar tão molhada. Entre gemidos e arfadas, Piper desceu suas mãos até a bunda de , apertando-a como ele havia feito com ela meses atrás.
Você é uma delícia. — Ela disse, ainda apertando as nádegas dele, enquanto era estimulada por aqueles dedos ágeis.
estava duro, mas ver Piper sedenta por mais e por sua causa era ainda melhor. Porém, a situação não era favorável no ponto de vista da mulher, ela queria mais. E tinha que ser agora.
Num movimento rápido, Piper entrelaçou as pernas na cintura de e trocou de lugar, deixando-o deitado na cama dessa vez. A mulher jogou o sutiã longe, livrando-se daquela peça que tanto lhe apertava. Devagar, retirou a mão de que estava a estimulando — não que estivesse ruim, porque não estava —, lambendo os dois dedos que ele havia introduzido em sua intimidade.
Por um instante, ele ficou tão hipnotizado com o corpo da mulher, que quase esqueceu o que deveria fazer, arfando ao vê-la rebolar em seu membro. Agora, com as mãos livres, ele não demorou para ocupá-las com os seios da mulher, ora sugando, ora massageando.
— Acabou a brincadeira, O’Connell.
girou seus corpos na cama novamente, tirando a calcinha de Piper e a cueca que usava ainda, parando apenas para observar a mulher nua em sua cama.
Piper. nua. em. sua. cama.
A adrenalina corria em suas veias de forma que o deixava ainda mais excitado, de uma forma tão intensa, que ele nunca imaginou sentir antes. “Caramba, ela é apenas uma dançarina”. Ele queria acreditar naquele pensamento que lhe ocorreu, mas sabia que estava mentindo para si mesmo. Piper O’Connell era muito mais que uma dançarina, só não estava pronto para admitir aquilo.
— Me mostre do que você é capaz, . — Ela apoiou os cotovelos na cama, erguendo o corpo para olhá-lo melhor.
— Você vai se arrepender de pedir por isso, O’Connell.
vestiu a camisinha em seu membro e voltou para a cama. Beijou-a de novo e antes que Piper conseguisse soltar um suspiro sequer, ele a virou de costas, levantando o quadril da mulher e colando seu corpo no dela.
— Não diga que eu não avisei. — Ele sussurrou no ouvido dela, antes de meter de uma vez, sentindo seu membro entrar sem nenhum empecilho.
Piper estava ainda mais molhada do que antes e ele segurou a cintura dela com força, fazendo movimentos de vai e vem cada vez mais rápidos. A mulher jogou a cabeça para trás, mordendo os lábios numa tentativa de conter os gemidos; totalmente em vão.
Piper estava envolvida por toda adrenalina e tesão que era possível, seu corpo escorrendo suor era a prova de que aquela noite ainda estava longe de acabar. Nem nos seus melhores sonhos imaginava que aquilo estaria acontecendo e agora que estava, ela não queria que aquilo terminasse nunca.
Ela gostava de provocar, como havia feito minutos atrás, mas sabia que estava prestes a perder toda a sanidade, quando sentiu os movimentos que fazia dentro de si. Era demais até mesmo para ela.
… — ela soltou um gemido. — Eu vou gozar.
— Goza pra mim, Piper. — Ele sussurrou em seu ouvido.
O corpo de Piper estremeceu ainda mais ao ouvir aquelas palavras.
Não demorou para ela gozar de novo e se surpreendendo com o próprio corpo, gozou mais uma vez, quando ele chegou ao clímax alguns minutos depois.
desabou na cama ao lado dela, ambos respirando com dificuldade. Piper, deitada de bruços, não queria mexer. Todas as sensações intensas provocadas pelo italiano ainda estavam presentes no seu corpo e ela tinha certeza que acordaria com algumas marcas intencionais no dia seguinte.
Quando seus olhares se encontraram, mais uma vez naquela noite, ambos sabiam que estavam ferrados. Tinha sido intenso demais para ser considerado apenas transa qualquer.
a puxou novamente para perto de si, dessa vez, depositando um beijo calmo em seus lábios, o que fez Piper retribuir da mesma forma. Pela primeira vez depositando todos os sentimentos que haviam despertado durante a noite naquele beijo.

•••

! — A garota tirou os fones de ouvido e rapidamente apareceu no campo de visão de seu pai.
— Oi, pai. — Ela sorriu, abraçando o homem em seguida.
— Tenho um convite pra te fazer.
A garota ficou olhando para o pai, esperando que ele continuasse.
— Você quer visitar sua mãe?
ficou um pouco surpresa, pois, desde a morte da mulher, eles não tinham voltado ao cemitério, principalmente por ser pequena quando aconteceu o ocorrido. Agora, na adolescência, James achou que a filha já estava pronta para aquilo.
— Eu quero, quero muito.
Ele se sentiu aliviado por não ter nenhum ressentimento devido ao fato dele não ter feito isso antes.
— Mas preciso te contar uma coisa antes.
— O que aconteceu, ? — Ele falou em tom preocupado, mas ela balançou a cabeça como se dissesse que não era nada grave.
— Decidi que quero ser policial também, quero fazer o que você faz. — Ela disse tão firme, que nem acreditou na sua própria voz. — Mas eu vou para a faculdade, não se preocupe.
Os olhos de James brilhavam ao ouvir as palavras da filha. Ele estava sem palavras com a sua decisão, havia criado com todo amor, carinho e dedicação, a ponto de ela vê-lo como um exemplo a ser seguido. Não conseguia expressar o quanto estava orgulhoso pela garota ter tomado aquela decisão sozinha. Sua felicidade transbordava através das lágrimas que deixava cair.
— Não chora, pai. — Ela disse, secando algumas lágrimas que o homem deixou cair por seu rosto.
— Estou tão orgulhoso de você, corazoncito. — Ele abraçou a menina e soube, naquele momento, que tinha tomado a decisão certa.

— Piper! — Ela sentiu seu corpo ser balançado, mas não conseguia abrir os olhos. Não queria sair daquele sonho em formato de lembrança, seu coração ficava quente toda vez que lembrava de seu pai. — Piper, acorda. — Dessa vez, a voz soou mais alta e ela não teve escolha, senão abrir os olhos.
Seu rosto estava molhado, nem ao menos tinha percebido que deixou algumas lágrimas cair durante aquele sonho.
— Já temos que ir? — Ela tentou disfarçar, olhando ao redor da casa, mas ainda estava escuro.
— Piper, o que aconteceu? — A voz de soou baixa.
Com delicadeza, ele secou as lágrimas que insistiam em cair pelo rosto da mulher, sua boca tremeu e seus olhos lacrimejaram novamente.
— Não foi nada, só um sonho. Um sonho ruim. — Ela mentiu, virando de costas para ele na cama.
— Não minta para mim, Pipes.
Ela não conseguiu evitar um soluço ao ouvir seu apelido sair da boca do .
— Tem algo que você queira me contar? — abraçou a mulher, formando a famosa posição de conchinha.
— Você já sentiu como se estivesse fazendo algo de errado, mas, mesmo assim, não quis parar? — Ela perguntou baixo.
— O que exatamente você está fazendo de errado? — Ele questionou no mesmo tom de voz.
— Ainda estou aqui com você.



FIM!



Nota da autora: Calma o coraçãozinho, a continuação tá na próxima música: 04. Greyhound.
Espero que vocês tenham gostado da Alana e do Luigi. Esses dois são fogo no parquinho, hein?! haha
Até a próxima <3



Outras Fanfics:
King of My Heart (McFly - Danny Jones)
Last Mistake (Restritas - Originais)

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