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Finalizada Em: 28/01/2019

Capítulo Único


Se as palavras que falei inúmeras vezes
Se tornassem realidade
Se eu, se eu, se eu
Se eu, se eu, se eu



― Vem, , temos que ser rápidos ou vai passar da hora certa! Falta poucoooo!
Ele tentava apressá-la o máximo que podia, mas por não saber o porque estavam fazendo aquilo se tornava extremamente preguiçosa e manhosa, achando que estava lhe obrigando a subir um monte inteiro por puro prazer de lhe ver sofrendo. Ela odiava exercícios físicos e ele sabia, mas porque o melhor amigo parecia realmente empenhado, respirou fundo e revirou os olhos, assentindo com a cabeça e dando passos mais largos. Já estavam quase no pico quando não aguentou mais de ansiedade e agarrou a mão da menina, a puxando para que saíssem correndo por toda a distância que restava.
Ela tentou gritar em um drama que ele conhecia bem, e tudo o que ele fez foi rir em como ela apertava o nariz e deixava os olhos meio fechadinhos, mas acompanhava seu ritmo com uma facilidade surpreendente pra quem não sabia que era só preguiçosa, e não exatamente lerda. Quando finalmente chegaram no topo, ele abriu um largo sorriso satisfeito, e ela cruzou os bracinhos na frente do corpo, olhando pra ele com uma raiva que podia ser sentida através daquele olhar.
― Me desculpa, eu queria que a gente chegasse antes do pôr do sol! ― explicou com um bico começando a se formar nos próprios lábios ao ver que ela estava realmente brava pelo o que havia feito. ― É pra ser especial, !
― Tá bom… ― ela deixou o ar que enchia suas bochechas ser solto e então descruzou os braços, se conformando já que já estavam ali e resolvendo seguir o que ele pedia. ― Por que você quis que a gente viesse até aqui? Faz tempo que não subimos esse morro…
― Eu sei, e é exatamente por isso! Nós vamos fazer uma promessa hoje. ― não conseguia deixar o sorriso sair de seu rosto ao pensar em tudo o que havia planejado, e deixou a mochila escorregar de seus ombros quando se espreguiçou para estralar seus ossos depois da caminhada.
― O que? O que você quer prometer? ― arqueou uma das sobrancelhas, com os olhos cheios de curiosidade fixos no garoto enquanto ele começava a andar por entre toda a área cheia de verde e de árvores.
Os dois conheciam bem aquela paisagem e cada canto daquele local, mesmo que já fizesse dois tempo que não fossem até lá. Quando eram mais novos, costumava ser o local favorito para que brincassem ao ar livre, mas então surgiram os jogos eletrônicos e aquilo ficou deserto o suficiente para seus pais os proibirem de subir sozinhos. parou embaixo de uma árvore, e como se não pudesse ser mais clichê do que aquilo, sentou-se por cima das próprias pernas, encostado contra o tronco, esperando que ela fizesse o mesmo. Apesar de estar meio contrariada por não saber o que estava acontecendo, ela o fez, sentando-se de frente pra ele.
― Você sempre foi mais popular que eu. ― o soltou com uma risada baixa, e arregalou os olhos com aquilo sendo jogado no ar tão repentinamente. ― Isso vai piorar agora, tenho certeza que os garotos da outra escola não vão te deixar em paz… E as meninas também! ― ele suspirou aborrecido de pensar nisso, pegando a sua mochila que arrastara até seu lado e a abrindo. ― Então eu quero que nós façamos uma promessa. ― remexeu a mão por dentro da bolsa, mordendo a parte interna de seus lábios em nervosismo.
― Qual promessa, ? ― agora começava a ficar um pouco preocupada, e por isso abaixou levemente o rosto e o aproximou do melhor amigo para olhá-lo melhor e ver a preocupação reverberando em seus olhos castanho escuro.
― Lembra quando… Quando nós nos conhecemos no festival há quatro anos, brincamos a noite toda e eu te dei aquele anel de doce? ― ele riu do quão ridículo aquilo soava sendo falado em voz alta, e se obrigou a morder a bochecha para não rir também, assentindo com a cabeça freneticamente, a empolgação da memória corroendo sua cabeça. ― Era o meu anel de doce, mas eu quis dar pra você, porque era vermelho.
― Como eu ia esquecer? Eu ainda tenho guardado! Ele tem um detalhe vermelho, e eu sempre gostei de vermelho. ― agora ela também sorria, só que de uma forma muito mais contida e envergonhada do que ele. ― Você me fez prometer que a gente se veria de novo quando me deu o anel, e então nós fomos parar na mesma escola e passamos a nos ver todos os dias.
― Eu quero fazer algo parecido com aquilo. ― ele finalmente tirou a pequena caixinha de veludo de dentro da mochila e respirou fundo, evitando olhar a reação de com aquilo tudo. Não que fosse um pedido de casamento, mas sinceramente, para os dois aquilo era tão sério quanto. ― Minha mãe escolheu pra mim, mas eu que quis! ― deixou claro antes de abrir e mostrar o anel que repousava ali dentro. Era exatamente igual o anel de doce que tinha guardado entre algumas caixas no guarda roupa. ― Por favor, me promete que você não vai esquecer de mim, mesmo que todos os garotos da escola inteira queiram ser seus amigos.
A garota só conseguia ficar de olhos arregalados e boca entreaberta com aquilo, tentando pensar no que poderia responder para um gesto tão genuíno e admirável, não que entendesse bem o que aquelas palavras significavam. Ela apenas entendia que aquilo era o significado de amor, e só sabia que ela e se amavam, e que ele seria, pra sempre, o seu melhor amigo.
― Eu nunca me esqueceria de você, … ― ela respondeu ainda chocada, com os olhos piscando diversas vezes para recobrar a consciência e, mesmo que o anel fosse a coisa mais fofa que já havia visto, o que mais chamava a sua atenção naquela cena era o rosto de e como ele brilhava em dourado conforme os raios do sol se pondo o iluminavam. Parecia ser mágico, o coração dela pulou uma batida… Era tão estranho vê-lo dessa forma. ― Eu prometo. Não precisa se preocupar com isso, porque nenhum dos meninos da escola nova vai ser você, e nada mais importa pra mim.
As palavras de pareciam acalmá-lo, e aos poucos conforme a ouvia, ele conseguiu sorrir outra vez, deixando o brilho dos seus olhos ser apenas de felicidade. Então ofereceu a caixinha para que ela mesma colocasse o anel, porque ele colocar já seria demais para seus parâmetros.
― Um dia, eu vou ser mais alto que você. E quando esse dia chegar, você vai realmente me achar bonito e eu vou ser mais popular que todos os outros! ― o decretou enquanto a assistia colocando o acessório, testando em qual dedo ele ficaria mais firme para não correr o risco de perdê-lo… Nunca.
― Isso não é uma competição, ! ― olhou feio para o amigo que riu, torcendo o nariz. Odiava a obsessão que ele tinha com popularidade, mas ao mesmo tempo, entendia. Teve vontade de dizer que já o achava bonito, porque realmente achava que ele era o mais bonito de todos. Mas por que isso importava tanto, afinal? Não era ele ser bonito que lhe fazia gostar dele. Suspirou, deixando os ombros caírem em desânimo. ― … Eu estou com medo. ― admitiu baixinho, e ele arregalou os olhos.
Ele achava que nunca sentia medo, simplesmente porque ela nunca demonstrava medo, e odiava ouvir que qualquer um estava o sentindo. Ela gostava de ser forte, gostava de parecer forte, inalcançável. achava que ela era a pessoa mais corajosa que conhecia, quem sempre lhe incentivava quando estava receoso, dizendo que conseguia fazer qualquer coisa. Ouvi-la falando aquilo quase o fez entrar em desespero, por que se ela, sendo assim tão forte, estava com medo, então o que seria dele…?
― Medo… Do que? ― perguntou assustado, arqueando uma das sobrancelhas exageradamente, mas tentando conter sua expressão chocada por saber que ela ficaria brava se o fizesse, e se ficasse brava, não contaria o motivo.
― Estou com medo de enfrentar tudo isso sem você. ― murmurou, comprimindo os lábios em desconforto. O desconhecido sempre assustava, e ela estava sentindo que entraria naquele lugar escuro sozinha, sem que ele estivesse segurando sua mão. E isso era o que mais a assustava.
, nós vamos ficar juntos pra sempre, não importa quais caminhos decidirmos ir, vamos caminhar por eles juntos. Não precisa se preocupar, mesmo se não estivermos nos mesmos colégios… Nós vamos estar juntos. Pra sempre. E vamos enfrentar qualquer coisa juntos.


Uma lista de coisas que eu queria fazer
Porque eu não era capaz de fazer
Essa é uma frase que tem o significado alterado
Se eu, se eu, se eu


se olhou no espelho, mas não conseguiu sorrir ao encontrar a própria aparência. Simplesmente terminou de ajeitar o laço que sua mãe lhe deu para usar no cabelo e rapidamente parou de se olhar, virando para o outro lado do quarto. Sabia que devia estar feliz, sabia que deveria estar empolgada… Mas tudo o que sentia era desânimo. A única coisa que a deixava um pouco mais animada naquela festa de aniversário era o fato de que sabia que ele estaria lá.
Finalmente veria depois de exatas três semanas e meia.
Eles não perderam o contato, mesmo que estivessem em escolas diferentes. Uma vez por mês, ou mais, sempre se encontravam e ela adorava ouvir todas as histórias que ele tinha sobre como o colégio dele era bom, em como ele estava indo bem em todas as matérias, mesmo que de vez em quando tivesse algumas dificuldades. Sorriu ao pensar nisso, e seus olhos até mesmo lacrimejaram de orgulho. Estava tão feliz por ele…
Aish, a idade estava lhe deixando mais mole e sensível, adolescentes de treze anos deveriam ser durões, não?! Ou pelo menos fingir que eram… Balançou a cabeça para os lados, afastando os pensamentos e então abrindo a porta do quarto para ir para sala, onde teoricamente estavam lhe esperando, mas na verdade sua mãe estava enlouquecendo com a sua irmã para terminar de arrumar a mesa do bolo antes que “os convidados” chegassem. Se obrigou a respirar fundo, e então fingir que estava tudo bem, e que estava feliz com tudo o que estava acontecendo.
Estava começando a ficar ansiosa com a demora de para chegar, e suas mãos suavam de forma incômoda, mesmo tentando mentalizar que era ele e ele estava sempre atrasado. Diferentemente dela, era extremamente vaidoso e não saia de casa até estar perfeitamente arrumado. achava que ele não precisava se esforçar tanto, os momentos aos quais estava mais bonito era quando ele estava mais natural, mas já que ele fazia questão… Sempre que se encontravam ela até mesmo se esforçava um pouco mais para parecer mais arrumada, apenas para não parecer tão largada assim perto dele.
, atende a porta! ― sua mãe gritou quando tocaram a campainha, e ela estava tão absorta em sua própria crise existencial que não havia escutado, levantando atrapalhadamente para correr até a entrada e puxar a maçaneta após girar a chave.
Seu coração pareceu se acalmar e derreter assim que viu a imagem de na sua porta. Ele era o único. O único que precisava para que sua noite fosse a mais feliz possível.
― Olha só quem chegouuu! ― a irmã de não perdeu a oportunidade, claro, e assim que ouviu o tom de voz dela, pegou-o pela mão e o arrastou correndo para o quarto antes que ela começasse as insinuações.
Ela e eram amigos há praticamente sete anos, mas mesmo após tanto tempo e tantas piadas em como eles iam acabar se casando, ainda não havia se acostumado a ouvi-las e as odiava. Talvez porque queria que fossem reais, mas não acreditava que isso podia acontecer.
― Wow, calma, eu vou acabar caindo desse jeito! ― brincou, assustado com a força que ela usava para lhe puxar pelo corredor e trancar a porta depois, como se fossem dois fugitivos.
― Desculpa… ― murmurou depois que encostou as costas na entrada fechada do quarto, soltando a mão do melhor amigo e respirando fundo, erguendo o olhar para encará-lo.
tinha aquele sorriso largo estampado no rosto, aquele que a fazia querer sorrir apenas de vê-lo. Teve vontade de chorar ao pensar que tudo podia estar desmoronando, mas ele continuaria sempre ali, como haviam prometido, sendo sua força para continuar mesmo que não soubesse disso.
― Ei, tá tudo bem? ― ele questionou ao vê-la tão amuada, e deixou o presente embrulhado em cima da cama arrumada, se aproximando dois passos de para abrir os braços, a chamando para um abraço.
― S-sim… Eu só estou ansiosa. ― não era bem uma mentira, então… Ela timidamente aceitou o abraço, dando um passo em frente e abaixando um pouco para se aninhar no peitoral do amigo que sorriu. ainda não estava mais alto que si, mas no último ano o adolescente havia crescido bons doze centímetros, não duvidava que ele fosse lhe passar logo.
― Ansiosa pra me ver, não é?! ― ele a apertou carinhosamente, fazendo questão de prender bem os braços dela para não correr o risco de apanhar pelo o que havia falado.
― Os anos passam, mas você continua se iludindo como antes. ― ela retrucou com a expressão enfezada, e ele a soltou no mesmo segundo, nitidamente ofendido.
― Eu só vou te perdoar hoje porque é seu aniversário. ― o comprimiu o ego ferido e a expressão chateada para um bem maior, cruzando os braços e se afastando da mais nova que riu baixinho, mas internamente xingou a si mesma porque aquela piada sem graça o fizera soltá-la, e tudo o que queria era ficar sentindo-se segura naquele abraço. ― E os seus amigos, onde estão?
― Você não me disse como você está! ― desviou o assunto rapidamente, engolindo em seco de forma que até uma onda se formou pelo seu pescoço, e então se sentou na própria cama e fixou seus olhos em um desconfiado que puxou a cadeira de rodinhas da sua escrivaninha até a sua frente, sentando de forma que seus joelhos ficassem encostados. ― Como a escola está indo?
― Eu estou bem, passei as semanas de provas sem dificuldade, os professores disseram que eu fui bem, e me dei bem com o grupo dos trabalhos. ― ele contou, e ela sorriu enquanto escutava, balançando a cabeça positivamente para sinalizar que estava escutando. ― E eu fiz o teste para tentar entrar no time de basquete.
― Woah, , isso vai ser ótimo pro seu histórico! ― sorriu ainda mais largamente, erguendo ambas as mãos para um high five que ele correspondeu imediatamente, como se fosse um reflexo seu sempre que ela erguia as mãos.
― Eu nem passei ainda! ― ele sorriu também, mostrando os dentinhos discretamente tortos que achava tão adoráveis, e então segurando as mãos dela que cairam em cima dos joelhos.
― Você já passou sim, eles só não anunciaram ainda. ― encarou os seus dedos entrelaçados com os de , falando como se fosse completamente óbvio.
― Obrigado, mas hoje não é dia de falar de mim, dona , é dia de falar de você! ― aproximou os rostos, olhando bem para a menina para ter certeza que não perderia nenhuma de suas reações para saber tudo o que estava passando naquela cabecinha, e ela apenas ficou mais nervosa com isso. ― Não muda de assunto assim, fala pra mim o que está acontecendo.
― Não é nada… É só que não tem amigos. ― murmurou envergonhada. era tão popular e ficaria ainda mais depois de entrar no time, enquanto ela…
― Mentira! Você sempre teve muitos amigos. ― ele abriu a boca em um o, não acreditando no que estava ouvindo. A atenção de costumava ser extremamente disputada  quando estudavam juntos, ele ficava constantemente com ciúmes dos outros garotos que queriam brincar com ela.
só não entendia algo muito simples: agora que estavam mais velhos, os padrões eram outros. As pessoas não olhavam para quem queriam ser amigas pensando se aquela pessoa sabia de cor o nome de todos os Pokémons e sabia reconhecê-los, se ela tinha um elo alto em um jogo on-line, ou se havia zerado mais de vinte jogos aquele ano, lido trinta livros e visto incontáveis séries e animes. As pessoas da sua escola e da sua idade queriam ser amigas de pessoas bonitas. Mas ela não queria falar isso pra ele… Não queria admitir que as pessoas simplesmente não gostavam dela.
― Não… É só você. ― balançou a cabeça negativamente, encenando um sorriso sem abrir os lábios para disfarçar a tristeza. Não queria que ele percebesse o quanto isso a afetava. ― Eu estou mantendo minha promessa, nenhum outro garoto é você, então…
― Eu acho isso maravilhoso, você não precisa de nenhum outro amigo, já tem o melhor e maior! ― ele riu com a constatação, disfarçando o quanto aquilo era errado para deixá-la mais confortável, mas então apertou levemente as mãos de , fazendo questão de olhá-la nos olhos. ― Mas eu não disse nada sobre as garotas. Você tem que ter amigas, vai te fazer bem.
― Eu… Vou tentar. ― forçou um sorriso outra vez, mas ficou um pouco mais animada em saber que concordavam em uma coisa: não precisava de mais ninguém. E, sinceramente, também não achava que precisava de amigas.
― Agora… Vamos esquecer essas pessoas que não merecem a sua atenção e abrir o seu presente, certo?! ― ela concordou ao ouvi-lo, mas de uma forma que não o convenceu muito. Se esticou na cadeira giratória para pegar o embrulho, e então ele mesmo respirou fundo. ― A minha mãe que escolheu, eu não queria isso porque sei que você não se importa com essas besteiras, mas ela me disse que era meio necessário por causa da idade que você está fazendo.
A garota arqueou uma das sobrancelhas, sem entender o que era para deixá-lo tão incomodado, e esticou as mãos na direção dela, oferecendo o pacote quadrado que ela rapidamente pegou e abriu com cuidado para não rasgar o papel. Havia uma carta ali, uma carta que ela ignorou e colocou embaixo do seu travesseiro. Eles gostavam de sempre darem cartas um ao outro, principalmente em ocasiões especiais, e um dos combinados era nunca ler enquanto estivessem por perto.
E então quando voltou a se endireitar na frente dele e olhou a pequena maleta prateada, arqueou uma das sobrancelhas. Não fazia a mínima ideia do que aquilo era… reprimiu um sorriso e delicadamente pegou o objeto do seu colo, o abrindo. Havia um motivo pelo qual ele não concordava com aquele presente, sendo o fato de acreditar fielmente que ela não precisava daquilo para estar bonita, e sua mãe lhe contradizeu dizendo que não, ela precisava pra ficar mais bonita. Ele ainda não concordava, mas não tinha muita opção.
― Eu pedi pra minha mãe me ensinar, porque sabia que você não ia saber. ― explicou com um meio sorriso, e então girou a mala, erguendo sua cabeça por cima dela para poder ver pra onde estava apontando.
ficou em choque assim que viu o conteúdo, e seus olhos piscaram algumas vezes em confusão. Era uma mini maleta de maquiagens, e se questionou porque aquilo era necessário na sua idade.
― Se eu lembro bem, isso aqui é pra passar na boca… ― agora o garoto entrou praticamente em um monólogo enquanto ela estava em um colapso mental, começando a desvendar sozinho todas aquelas coisas que não fazia muita ideia de como funcionava. Olhou para a melhor amiga para ver que ela usava um vestido rosa, e então olhou para uma parte da mala que tinha cinco tons de rosa Arregalou os olhos e grunhiu, frustrado. ― É… Que cor você quer?
― Não precisa fazer isso, , eu posso aprender sozinha olhando na internet ou pedir pra minha irmã depois… ― tentou distraí-lo para que ele parasse de analisar o seu rosto daquela forma tão intensa, fazendo com que suas bochechas ficassem vermelhas e seu coração ansioso, se perguntando se ele gostava do que via.
― Hn, não faz muita diferença mesmo. ― ele concluiu, ainda absorto em seus próprios pensamentos e ignorando completamente o que ela dizia. por sua vez não percebeu a última parte e o olhou assustada. Não fazia diferença porque nem a maquiagem salvava a sua cara, não é…? ― Você vai ficar bonita com qualquer cor dessas.
E então ele passou o dedo levemente em um tom mais escuro da paleta, o erguendo logo depois e tocando os lábios de com a ponta de seu indicador para passar, assim como via sua mãe fazendo sempre. Correram tantos pensamentos na sua cabeça naquele momento que ele não percebeu que ela começou a tremer e que a pele da garota ficou completamente branca.
A primeira coisa que ele pensou foi em como ela ia ficar mesmo mais bonita com aquilo, e então um ciúmes desconexos se apoderaram de si, pensando em como os garotos iriam olhá-la… Controlou a expressão que quis se tornar enfezada, se esforçando para ignorar isso e então, enquanto espalhava o tal batom, percebeu o quanto tocar nos lábios de era agradável, o quão macio eles eram… Teve vontade de se curvar e de também tocar os lábios dela com os seus. De segurar os seus cabelos e então sorrir, e dizer que ela estava linda. Uma lista de coisas que queria fazer, mas não podia.


Se eu não soltasse a sua mão, então
Nós ainda estaríamos nos segurando um no outro?
Se eu, se eu, se eu
Se eu, se eu, se eu

Seu pé batia no chão de uma forma irritante, mas estava tudo bem porque estava vestindo um tênis e então não fazia barulho algum, servindo apenas para descarregar toda aquela intensa ansiedade que corroia a sua mente. As coisas haviam saído completamente do controle daquela vez e ela sabia disso, não tinha mais como fugir ou fingir que não estava acontecendo ou que sua vida não estava um caos, porque estava, e agora seus pais também já tinham conhecimento disso.
Apertou o próprio corpo dentro do moletom dois tamanhos maiores que si, e então abaixou a cabeça, escondendo o rosto com o capuz. Era só dessa forma que se sentia segura de novo, escondida, sem que ninguém pudesse ver a sua aparência e analisá-la por completo para começar a apontar defeitos e mais defeitos, jogando na sua cara tudo aquilo que a tornava feia. Preferia ficar daquela forma e não correr esse risco, ela mesma já tirara as suas próprias conclusões e podia listar tudo o que odiava em si mesma.
Fechou os olhos, fazendo um exercício de respiração e tentando se manter em pé no canto daquele espaço de entrada. Havia mandado uma mensagem para pedindo que ele encontrasse consigo no shopping, dizendo que precisava vê-lo. Sabia que sua semana havia sido a pior possível, mas tudo melhoraria quando o visse e escutasse a sua voz. Havia uma esperança no fundo de seu coração dizendo que talvez agora eles pudessem voltar a andar de mãos dadas como era antes, e então toda a dor pareceria nunca ter existido. Porque era aquele efeito que tinha em si.
Mas tinha outro problema fazendo a cabeça de girar agora. Pensar em a trazia uma ansiedade maior e diferente das que estava acostumada a sentir, pensar em como ele estava indo bem em todos os sentidos a tornava mais e mais desesperada. Mordeu o lábio, apertando os próprios dedos, e sentiu-se piorar ainda mais quando o viu chegando e atravessando a entrada, com os cabelos perfeitamente penteados como uma onda para o lado e roupas bem mais alinhadas do que qualquer adolescente da sua idade usaria, olhando para os lados a sua procura e arqueando uma das sobrancelhas ao lhe encontrar daquela forma.
! ― mesmo assim, ele abriu aquele largo sorriso que era capaz de fazê-la derreter, mas naquele momento, a fez querer sair correndo. Principalmente porque ele pareceu notar algo que ela já imaginava, e ficou ainda mais orgulhoso. ― Olha só, eu já estou mais alto que você. ― ele se gabou brincalhão, esperando que aquilo fosse o suficiente para fazê-la erguer o rosto e tirar aquele capuz. ― Você já me acha bonito agora?
― Eu sempre te achei. ― ela murmurou sem graça, balançando a cabeça negativamente com a pergunta do amigo, mas aliviada porque ele não havia questionado a parte da popularidade, ao qual ele com certeza havia passado muito mais do que os dois esperavam.
― OLHA SÓ, uma declaração! ― a provocou com um sorriso satisfeito, e ela revirou os olhos ainda mais, o fazendo se preocupar mesmo sem poder ver esse gesto. ― Mas me diz, o que aconteceu, por que você está vestida assim?
, eu preciso te contar uma coisa…
― Espera… ― ele não aguentou mais ao ver que ela continuava pretendendo usar aquele troço cobrindo o rosto, e então se aproximou dela um passo a mais e ergueu as mãos, puxando o capuz pra trás. Sorriu para si mesmo, feliz de finalmente poder ver seu rosto, e orgulhoso porque não fazia muito tempo desde que havia lhe dado aquela maleta de maquiagem, mas já sabia usá-la e podia ver os lábios avermelhados que tanto gostou no dia do aniversário dela. ― Bem melhor agora. Pode falar.
sentiu que tinha congelado quando ele puxou o capuz pra trás, tentando lembrar milimetricamente de como estava o seu rosto antes de sair de casa para se certificar que tudo estava perfeitamente escondido, todas as imperfeições. Engoliu em seco com as pernas começando a fraquejar levemente e com medo do que falaria, mas então ele disse para continuar e um alívio enorme passou pela sua cabeça. Entre a pior alternativa, que era ele tirar seu capuz, também houve a melhor hipótese, que era ele não notar, ou pelo menos não se importar com a aparência do seu rosto.
, eu… ― ela começou, sentindo suas mãos suarem dentro do moletom e o nervosismo travar a sua língua.
Não era nada complexo, não era difícil de falar, mas havia algo a bloqueando e seu olhar se perdeu no chão outra vez. O percebeu o quão estranha estava, e então aproveitou que ainda estavam próximos um do outro para pegar uma de suas mãos e a apertar entre as suas duas, sorrindo em incentivo, mesmo que ela não pudesse ver o seu sorriso por estar encarando o chão.
― Eu vou mudar de escola. ― mas mesmo assim as suas mãos conectadas daquela forma sempre a deixavam mais segura, e ela conseguiu vencer aquilo que lhe preocupava para falar. Na verdade, uma pequena parte daquilo que a preocupava.
― Wow, sério?! Pra qual? Por que? ― disparou sem pensar que talvez aquelas perguntas não soassem muito bem, dando a impressão que ele não estava feliz com isso. E não, não era nada disso, era porque ele estava surpreso demais para conseguir ter outra reação. sempre dizia que estava indo bem no Colégio, que havia conhecido algumas pessoas depois que eles conversaram e ele não via motivo para que ela trocasse de Colégio daquela forma súbita, ainda mais no meio do ano.
― Eu vou pro seu Colégio… Por que… , é porque…
― HEY, olha só quem está aqui também! ― um grito masculino fez com que parasse de falar no mesmo instante, sentindo-se intimidada mesmo que não estivesse reconhecendo a voz e que estivesse de costas para quem falava, não sabendo quem era.
Seus ombros se encolheram e tudo pareceu ficar ainda pior quando a mão de se desvencilhou da sua para que ele a erguesse em um aceno inocente e contente. aproveitou que ele se distraiu e então colocou novamente o capuz, apenas depois disso virando-se para ver com quem ele falava, e então entendeu tudo o que estava sentindo naquele dia.
Havia percebido algo que tinha que ter entendido há muito tempo, por isso estava doendo tanto e se sentia estranha perto dele. Aquele era agora, e era aquele tipo de pessoa que deveria rodeá-lo, ele não merecia alguém como ela perto dele manchando sua imagem. sentia-se pequena ao lado do , e não era só porque ele havia ficado mais alto. Era porque a presença dele era enorme, imponente e ele era simplesmente lindo. Assim como todos os garotos e garotas que ele cumprimentava com high fives empolgados.
E então ela decidiu que a sua melhor opção era sair correndo, nem mesmo fazendo questão de disfarçar fingindo ir na direção do banheiro. Não, ela simplesmente correu na direção da saída do shopping, se enfiando pelo meio das pessoas. E, quando virou para trás para procurá-la, já feliz porque poderia apresentá-la a seus novos amigos, arregalou os olhos ao não encontrá-la ali. Ele até mesmo fez menção de sair para procurar, mas foi segurado pelos amigos e acabou desistindo… Afinal, agora teria tempo de monitorar de perto quando ela entrasse no seu Colégio oficialmente.
Quando chegou em casa, a menina agradeceu ao menos ao fato de que o shopping era perto o suficiente para não demorar muito tempo, e a primeira coisa que fez foi se trancar no quarto, sentindo as lágrimas se acumulando no canto de seus olhos. Tirou o moletom que havia esquentado exageradamente a sua pele e agora a fazia suar, o jogando em qualquer lugar e entrando no banheiro porque estava com nojo de si mesma.
A água do chuveiro escorria assim como a do seu choro, e levava junto a maquiagem que havia usado para cobrir os hematomas e arranhões do seu rosto, enquanto ela revivia mentalmente as suas memórias. Ele não havia ficado feliz com a notícia, vira em seu rosto, em sua reação, sentira no seu coração. Quando prometeu que nunca esqueceria … Hoje era ela quem precisava daquela promessa para se apegar, e não ele. Mas era tarde demais.
Ela não fazia mais parte do seu mundo, enquanto ele, era o mundo inteiro dela.


Antes de suas pequenas cicatrizes se reunirem
E se tornassem uma grande
Se eu tivesse as percebido antes
Se eu, se eu, se eu
Se eu, se eu, se eu


Quinze anos. Simbolicamente, a idade que marcava o ritual de passagem entre ser uma menina e ser uma mulher, onde a garota devia desabrochar para parar de brincar de bonecas para se tornar mais madura e feminina. estaria chegando nesse marco de vida em alguns meses, e, como não podia deixar de ser, seus pais estavam planejando uma festa enorme.
Não podia mentir e dizer que sua vida não havia melhorado depois da troca de colégios, porque havia. Encontrara pessoas que lhe entendiam e acolheram, pessoas que pareciam muito mais maduras do que seus colegas da outra escola, mesmo que tivessem a mesma idade. E agora até mesmo se permitia sorrir e se esforçar para ser uma adolescente normal.
Enquanto a … Bom, não era como se ignorassem a presença um do outro, mas simplesmente não era mais a mesma coisa. Dois anos em classes diferentes os afastaram mais do que anos em colégios diferentes, e, aos poucos eles foram deixando de se esforçar para se encaixarem na agenda um do outro, aos poucos se encontrar no shopping acabou não sendo mais tão necessário na rotina, já que eles tinham a desculpa de que podiam se ver na escola, e, aos poucos, tudo o que restou para eles foram sorrisos tímidos e felicitações contidas em datas especiais.
Ele continuava sendo popular, tanto quanto antes de entrar naquela escola. O time fizera mesmo a sua imagem subir ao primeiro escalão do Colégio, mesmo que ele nunca tenha deixado isso mudar algum pensamento seu. E … Ela não era popular, mas também não era desconhecida. As pessoas começaram a aprenderam seu nome quando começou a se envolver em trabalhos para o grêmio estudantil, e logo já havia estabelecido algumas amizades as quais prezava, mesmo com as ressalvas de seus próprios problemas em confiar em outras pessoas.
Mas agora havia chegado seu aniversário de quinze anos, o seu dia especial. sempre adorou comemorar o seu dia, e nunca o considerou especial apenas porque era o dia que havia nascido. O considerava assim porque sabia que haveria uma pessoa nele que o tornaria especial. esteve lá todas as vezes lhe fazendo sorrir, e no outro ano também, um pouco mais afastado, porém presente. E agora, ela queria usar aquela festa para reaproximá-los.
Talvez nunca voltassem a ser o que eram antes, mas ela não se perdoaria se não tentasse. Sentia que era sua responsabilidade, e que, caso de alguma forma simplesmente não desse certo, não queria se sentir culpada, queria ter certeza de que eles somente seguiram o curso que deviam seguir na vida ao invés de se remoer pensando que eram dois relapsos.
Segurou o envelope em tons de azul e branco entre os dedos trêmulos que evidenciavam o seu nervosismo de forma assustadora. Além daquele convite, tinha uma coisa a mais que ela desejava pedir, e era aquilo que estava lhe desequilibrando daquela forma. Queria pedir para que ele fosse aquele que iria entrar consigo no salão. Queria dividir a primeira valsa que iria dançar na sua vida com ele. Talvez soasse ridículo, ou muito idiota e infantil se o fato de não serem mais amigos tivesse alguma relevância na história.
Mas fora assim que ela sempre imaginara, que sonhara desde quando eram crianças, porque ele lhe segurara em tantas situações que estava prestes a cair que apenas conseguia imaginar o rapaz como a pessoa que também seguraria sua mão ao andar para a mais nova fase da sua vida. Tudo o que haviam prometido e vivido não havia sido apagado como se nunca houvesse acontecido, não? Eles ainda mantinham aquelas promessas, não mantinham? nunca esquecera dele, ou delas, e as guardava e cumpria.
Talvez fizesse o mesmo, talvez ele também quisesse guardar a promessa de que eles estariam juntos naquele momento como quando a irmã mais velha da garota alcançou aquela idade, e assistindo a cerimônia, ele disse que queria estar lá para ver quando fosse a vez dela. Talvez aquilo servisse para lembrá-los que ainda eram a mesma dupla dinâmica que precisavam um do outro, porque, sinceramente, ela sentia falta dele, mesmo não sabendo se ele sentia a sua.
― Vamos lá, vamos lá, se recomponha… ― tentou convencer a si mesma ao mesmo tempo que respirava fundo, fechando os olhos e deixando o ar sair de seu organismo com a boca aberta em um formato arredondado.
Não tinha certeza do que estava fazendo, nem mesmo se o encontraria ali no corredor, mas sabia que já devia estar indo treinar. Não queria que o vissem com ela, mesmo que ele nunca tivesse evitado falar consigo na frente dos amigos jogadores, ela ainda se sentia mal, menor, intimidada. Se sentia insuficiente. E era idiotice sua tentar o que queria tentar sabendo que não tinha certeza se suportaria a pressão de estar com ele outra vez.
Balançou a cabeça em um ato ilusório de estar afastando todos os pensamentos ruins e então limpou sua mente quando viu que a maioria dos alunos da sala dele já haviam saído da classe, mas ainda estava lá. Pela última vez, inspirou e expirou o ar com vontade, e então entrou na sala em um passo largo e único, no timing tão correto e incorreto ao mesmo tempo que pareceu combinado. Pareceu brincadeira. E a dilacerou por dentro.
! ― ele abriu um sorriso largo assim que seu corpo quase esbarrou contra o dela que se colocou bem na sua frente naquele momento, mesmo que sem querer, já que a garota não estava vendo quando entrou.
― Oi, … ― precisou de um tempo para disfarçar o quão perdida estava e o quanto queria sair correndo naquele mesmo segundo. Um tempo para recuperar sua sanidade.
Passou alguns amontoados de segundos perdida, um intervalo de um precioso tempo que a impediram de ver como os olhos de brilharam ao vê-la ali, ao medir o seu rosto e encontrar o seu tom favorito de vermelho colorindo os lábios cheios, e como o sorriso dele se tornou mais largo e confiante ao ver isso.
― Você queria falar comigo? ― ele perguntou, mesmo que já soubesse a resposta, tentando ajudá-la a ter coragem de dizer aquilo fora até lá para dizer. Era óbvio que sim, porque o garoto sabia que ela não conhecia mais ninguém daquela classe, mas mesmo correndo o risco que que estivesse simplesmente passando para resolver alguma coisa do grêmio estudantil ou com outra pessoa, ele preferiu questionar.
a conhecia muito bem, inclusive melhor que ela mesma, e isso era o suficiente para saber que sempre precisava de algum tipo de incentivo quando se sentia pressionada, para se sentir segura para prosseguir outra vez. Incentivo esse que poderia ser um sorriso, olhar, ou uma pergunta simples.
― A-ah, sim… ― ela confirmou automaticamente e também assentiu com a cabeça logo depois, porém se arrependeu assim que terminou de falar e pensou direito.
Não sabia bem se deveria falar nem o começo daquilo que queria quando ele estava de mãos dadas com outra garota bem na sua frente, enquanto ela os observava de forma curiosa. E não pode deixar de perceber um detalhe que fez a primeira lágrima escorrer pela sua bochecha assim que estava voltando para casa depois da aula e pensando sobre a cena. Um detalhe idiota, mas que a abalou muito mais que devia. Ela não conseguiu ignorar o fato de que ele não soltou a mão dela, em momento algum.


Se eu, se eu
Se eu, se eu


estava prestes a enlouquecer com a sequência de situações que haviam se desenrolado para que tudo desse errado desde que tinha lhe entregado aquele convite, porque a ser realmente impressionante quando o destino decidia que iria dificultar as coisas.
Ele ficara ansioso durante toda a semana, não podia mentir. Seu coração estava acelerado só de pensar naquele dia, e chegava a ser assustador o tanto de vezes que havia sonhado com replays do pedido de , como se o seu cérebro quisesse lhe deixar mais nervoso ainda. Lembrava-se de como a mão dela tremia quando se esticou para lhe dar o papel decorado com o seu nome em uma letra cursiva e bonita, que não reconheceu.
Assim que ergueu a mão e tocou no convite, movendo os lábios para sorrir e dizer que estava ansioso por aquilo, polidamente anunciou que ele também podia levar a sua namorada se quisesse, e se sentiu um babaca ao perceber que Julie ainda agarrava a sua mão com um sorriso satisfeito e não havia feito nada para mudar isso. Tentou explicar para que aquilo era apenas um mal entendido, mas antes de ouvir a sua resposta, ela despejou uma despedida nitidamente desconfortável e apressada, saindo correndo da sala e ignorando o seu chamado.
suspirou frustrado e, somente quando ouviu a risada baixa de Julie outra vez que lembrou-se que suas mãos ainda se entrelaçam. Puxou a sua para baixo ferozmente antes de ir embora, sabendo exatamente o que aquela cena teria ocasionado na mente de . Ele não gostava de Julie, e muito menos eram namorados, mas ela não parecia entender isso e estava andando para fora da sala quando a garota puxou a sua mão e entrelaçou seus dedos em mais um ato de insistência. Foi exatamente nessa hora que entrou e os viu, e a realidade é que ele ficara tão desconcentrado com a sua presença que nem mesmo se lembrou que tinha outra pessoa naquele lugar, o que claramente tinha sido um erro.
Mas ele se perdoou naquele dia por um pequeno e simples motivo: teria a festa. A festa seria a sua oportunidade de consertar tudo, certo? Pedir desculpas para e explicar aquilo que ela tinha visto, e prometer outra vez que nunca mais iriam se afastar daquela forma.
Esse era o seu pensamento quando terminava de arrumar a gravata borboleta no seu pescoço e ouvia a porta do seu quarto sendo aberta.
― Oi, mãe. ― abriu um sorriso empolgado para a mulher, mas o mesmo desapareceu assim que viu a feição desanimada dela.
… Nós temos mudanças de planos, filho. ― ela parou na porta mesmo, como se estivesse receosa de dar a notícia ao adolescente. E realmente estava. Sabia o quanto aquilo era importante para ele, e, além disso, conhecia , conhecia a história dela e de e sabia que tudo o que ele queria era uma oportunidade de reaproximação já há algum tempo. Odiava ter que ser uem iria estragar aquilo, mas não tinha opção. ― Sua avó está aqui na cidade de surpresa, e o seu pai acabou de sair para buscá-la no aeroporto.

❥❥❥❥❥

Havia acabado ali, tinha certeza disso.
A sua noite especial também tinha acabado naqueles momentos, ao menos na visão de outras pessoas, porque sinceramente, na visão de ela ao menos tinha começado.
Lembrava-se de ter atravessado a cortina pela primeira vez com a certeza de que o veria entre as mesas dos convidados, mas estava errada. Foi a primeira coisa que procurou, e a sua primeira decepção da noite. Então, crescendo em seu coração como um fio fino de nylon transparente que poderia ser facilmente partido com alguma pressão, a esperança se entrelaçou e subiu até a sua cabeça e seus pensamentos. Talvez ele só não tivesse chego ainda. sempre chegava atrasado, não era? Ele gostava de se arrumar até ter certeza que estava perfeito. Quando eram mais novos, ele sempre demorava mais para chegar nos lugares do que ela. Não era uma novidade.
A outra novidade era que também era extremamente idiota, e guardar aquela esperança só serviu para destroçar o seu coração de uma vez quando ergueu os olhos para entrar pela segunda vez naquele salão, com aquele segundo vestido de baile azul idiota que apertava tanto o seu dorso que tinha até mesmo dificuldades em respirar, e perceber que não, não estava lá para segurar a sua mão como um dia dissera, ele nem mesmo estava lá para lhe ver e oferecer um daqueles sorrisos que a deixava desconcertava.
Ele simplesmente não estava lá.
Quando terminou de cumprimentar o último convidado após entrar, e seus pais começavam a se distrair o suficiente conversando com seus velhos amigos sobre como tudo estava lindo e ela estava uma mulher linda, se sentiu ridícula e correu para o jardim, querendo tomar um ar e ter alguns minutos para si mesma para descontar tudo o que estava fazendo seu coração pesar antes de retornar. Burra. Iludida. Ele não tinha pra quê estar lá, quando tinha uma noite inteira ao lado da namorada pela frente. Eles não eram mais amigos. Eles não tinham mais relação alguma além da educação pelo respeito ao que haviam vivido.
Ela não era mais uma parte do mundo dele, e já sabia disso desde há muito tempo atrás.
― Idiota… ― resmungou sozinha, mas não sabia bem se a ofensa estava direcionada a ou a si mesma.
Talvez aos dois, mas principalmente a si mesma quando olhou para o seu dedo e encontrou o anel que usava em uma das mãos. Aquele anel dourado de pedra avermelhada que havia feito questão de guardar durante todos aqueles anos, e que agora enfeitava o dedo da sua mão anelar esquerda e lhe fazia perceber o nível da sua burrice. Sentiu-se ainda mais idiota e iludida quando o que aquele anel deveria significar martelou na sua mente, a raiva que sentiu foi tanta que a única reação que teve foi arrancá-lo do seu dedo e jogá-lo por cima do muro do jardim do espaço.
A vontade de chorar foi forte quando fez isso, e o arrependimento também bateu em sua consciência que sussurrou para ir buscá-lo, mas se controlou porque ouviu sua mãe chamando seu nome revoltava porque havia sumido na sua própria festa e deixado os convidados perplexos, questionando sobre a sua presença. Respirou fundo, piscou diversas vezes e então fungou mais algumas antes de se recuperar e atendê-la.
Não iria chorar nem por , e nem por nenhum outro garoto.
Nunca mais.
❥❥❥❥❥

Era como uma regra implícita naquela casa desde que a sua avó ficara doente, dois anos atrás. O medo lacerante de perder quem se amava se fez presente, e, desde aquele dia, prometeram que seriam mais presentes nas vidas uns dos outros, coisa que não era muito corriqueira antes daquele fatídico acontecimento, já que a senhora morava há boas milhas de distância, então, quando ela ia até lá, todos deviam estar reunidos.
sempre concordou e a obedeceu, mas naquele dia, não estava exatamente feliz com isso e nem mesmo deixaria ser assim. Abriria uma exceção, e, contrariando as expectativas de sua mãe, ele não tirou o terno, ou nem mesmo desarrumou o cabelo. A regra era que todos deveriam estar presentes quando ela chegasse, mas nada dizia sobre alguém sair depois que vovó estivesse lá.
Só havia um problema nisso.
já era naturalmente atrasado, o que desencadeava que estava praticamente umas meia hora fora do horário antes mesmo de sua mãe lhe passar o recado novo, mesmo que houvesse começado a se arrumar praticamente de manhã. A segunda era que, agora, seu pai não poderia mais lhe dar uma carona até lá, e um caminho que de carro seria meia hora se transformava no dobro, somando ao fato de que sua vó estava inspirada naquele dia, ou ao menos ficara após vê-lo vestido daquele jeito e resolveu que não queria deixá-lo ir de forma alguma.
Isso perdurou até que ficasse tarde o suficiente para o tópico ser não deixá-lo sair sozinho naquele horário, e, se não houvesse explodido em teimosia e revolta, ele nem mesmo estaria descendo do ônibus em plenas dez e vinte da noite para correr na direção do salão de festas ao qual o endereço estava marcado no papel que lhe fora entregue. Não se importava de chegar quando todo mundo tinha indo embora, mesmo que achasse difícil por ainda estar cedo pra festa ter acabado - ou pelo menos, torcia pra isso.
Só queria que estivesse lá, e queria mostrar pra ela que se importava sim. Queria que dançassem aquela valsa juntos, mesmo se não tivesse mais um DJ e fossem obrigados a imaginar um ritmo qualquer para seguir o clássico dois pra lá e dois pra cá que só sabia que existia por causa dela, seguida de uma tentativa falha de girá-la porque eles não sabiam dançar direito que resultaria em gargalhadas e um abraço apertado quando ele a puxasse para si para não deixá-la cair. Não se importava se ninguém estaria os assistindo, ou se teria foto ou filmagem daquele momento.
Na verdade, seria até melhor que não, que ele acontecesse unicamente para os dois.
Mas, quando sem querer chutou algo metálico que estava no seu caminho e automaticamente seus olhos se guiaram para o chão, ele entendeu que o que queria não importava, ou tudo aquilo que tinha imaginado no caminho de ônibus e metrô tinha acabado quando encontrara o anel que reconheceria em qualquer lugar no chão.
Não importava mais, porque ela não se importava mais.


Yeah eu não quero calcular
O ângulo largo entre nós
Se eu, se eu, se eu
Se eu, se eu, se eu

O fim do ano estava batendo as portas, e, com ele, o fim das aulas vinha junto, trazendo algo clichê que começava a movimentar o colégio inteiro. Era completamente impossível ignorar, e se alguém fingir que não estava acontecendo, com certeza estava ferrado. Tudo naquele lugar, todos as conversas pareciam ter o mesmo tema, e não estava sabendo como lidar com aquela situação, estava enlouquecendo desde aquele aniversário, e o nervosismo com o baile chegando o deixava ainda pior.
Também havia ficado magoado quando encontrara o anel na rua, e sabia que ter voltado para casa e não falado com para esclarecer as coisas de uma vez tinha sido mais um erro naquela linha do tempo, mas ao mesmo tempo precisava ter alguns momentos para si mesmo, porque ele não havia entendido que a sua ação era mais do que um atraso na cabeça dela. Não tinha dado certo, na verdade, e apesar de entender que ele estava errado, não entendia o porque um deslize como aquilo seria o suficiente para que a promessa deles fosse jogada no meio fio.
se recusava a ver. Ele se recusava a calcular o ângulo largo que entre eles, se recusava a enxergar que ele ia muito além daquele dia. Ele achou que seria fácil ajeitar aquela situação. Imaginou que ela pararia logo de fugir de sua presença, de seus olhares e sorrisos que ansiavam pela sua retribuição, mas nunca a obtinham. Na cabeça dele, não havia problema porque aquilo era simples e eles se resolveriam esporadicamente.
estava zanzando de sala em sala para passar avisos naquele dia inteiro, mas sabia que ela sempre terminava o horário letivo no mesmo lugar: a sala do grêmio estudante no andar térreo, que ficava entre a sala dos professores e a da diretora, e era pra lá que ele ia no horário da saída, ignorando o fluxo contrário de pessoas que iam na direção contrária, a da saída.
A porta estava entreaberta, mas ergueu a mão para bater antes de entrar da mesma forma que faria se ela estivesse fechada. Porém, interrompeu o seu próprio movimento quando a voz de se sobressaiu lá de dentro. Era incrível que mesmo em meio a todo aquele caos que estava instaurado no corredor, quando o timbre da garota ressonava, seu cérebro automaticamente filtrava todos os outros ruídos para deixá-lo em evidência. E ele conseguiu escutar perfeitamente cada palavra proferida por ela, que falava sobre a organização do baile.
― E você? ― uma voz masculina grave e forte soou na sala, e franziu a tez quando não a reconheceu, e também não entendeu o sentido daquela pergunta. estava na mesma situação que ele e acabou murmurando um “o que?” que o garoto não ouviu, concentrado em seus próprios sentimentos. começou a sentir as mãos tremerem e o coração acelerar, principalmente quando o desconhecido respondeu. ― Você já tem par pro baile?
― Ah, não. Eu não vou com ninguém. ― conseguiu ouvir que ela sorria de canto. Um sorriso de canto sem graça, tentando parecer simpática enquanto declinava a proposta. ― É injusto prender alguém comigo sendo que vou estar à noite inteira ocupada com a organização, então… ― aquilo tinha certeza que conseguiria dobrar facilmente se conversassem um pouco! Era só aquele idiota sair de lá logo…
― E se eu disser que eu não me importo e que seria um prazer te seguir pelo ginásio inteiro se isso significasse estarmos juntos? ― não pôde segurar a saliva que desceu rasgando a sua garganta em nervosismo, quando tudo que passava pela sua mente era “Por favor, diga não. Por favor, diga não”.
― Eu não acho que é melhor não, mas obrigada pelo convite. ― podia sentir o quanto ela estava com medo de falar não. detestava ter que falar não para as pessoas desde quando eram crianças, e não sabia dessa parte, mas desde que começara a sofrer de baixa estima, para ela ter que recusar um convite de um garoto era quase insanidade, uma vez que na sua cabeça ele estava lhe fazendo um favor.
― Tudo bem, eu aceito isso. ― o rapaz suspirou derrotado, e o espião sorriu largo para si, satisfeito. ― Eu achei que o que falavam sobre você era mentira, mas não é, né?
― O que dizem… Sobre mim? ― gelou ao ouvir aquilo, e parou de escrever na prancheta para erguer os olhos até o colega e conseguir questionar, mesmo encontrando dificuldades no caminho da pronúncia. Saber que as pessoas falavam dela em locais aos quais ela não podia controlar e nem saber era o que era o suficiente para fazê-la começar a hiperventilar, e sua mente já ia longe, pensando que exatamente todo mundo lhe odiava e não tinha coragem de dizer na sua frente.
― Não quero parecer babaca e nem invasivo, mas todo mundo fala que você é inalcançável porque já está apaixonada por alguém, por isso não aceita que mais nenhum garoto se aproxime de você de forma alguma… , o cara do time de basquete. Isso é verdade?
Em menos de um minuto ela outra vez perdeu o rumo dos seus pensamentos. Então todo mundo já sabia?! E se, todo mundo sabia, também já tinha descoberto?! entrou em um colapso tão forte no momento que precisou de três minutos para se recuperar e pensar na resposta. Minutos esses que usou para roer exatamente todas as unhas dos dedos das mãos.
Se esses eram os boatos, como não havia os escutado antes?! Porque ninguém tinha lhe falado?! Como não sabia que a garota que costumava ser a sua melhor amiga durante os anos da infância e início da adolescência era apaixonada por si?!
Ouviu um suspiro alto do outro lado da porta que fez o seu coração parar de uma forma desesperadora por alguns segundos. E então, ele se resumiu em mil pedacinhos esmiuçados quando ouviu a finalização daquele assunto.
― Se for me ajudar a desmentir boatos sem fundamento, bom, então eu vou com você. Sem ofensas, claro. Eu e fomos amigos por anos e não temos mais nada, não quero que ninguém pense o contrário disso.


Onde você está indo? Onde você está indo?
Por que eu sinto meu aperto afrouxando?
Meu punho segurando na borda das suas roupas
Por que eu estou perdendo a força?
A promessa que fizemos sobre como ficaríamos juntos nos nossos caminhos
Já está torcida e então você vai embora
Virando suas costas para mim


e tinham uma mania de infância, uma mania ao qual apenas os dois estavam envolvidos.
Aquela mania de trocar cartas, e só lerem quando não estavam mais próximos um do outro.
Nenhum dos dois esqueceu aquilo, mas naquele momento, quando estava prestes a bater na porta da casa dele, se sentiu insana. Estava sendo uma idiota, fazendo uma besteira ou algo certo? Ela não sabia dizer qual era a opção correta das tantas que estavam apresentadas na sua frente, mas não queria ir embora da cidade com aquele sentimento de que ela e haviam tido um final ruim. Apesar de tudo e de todas as vezes que ficara magoada com ele, mesmo quando o garoto nem mesmo tinha tido culpa, ela queria ser uma pessoa madura e acreditar que eles não mereciam um final ruim. também era um ser humano maravilhoso que lhe ajudara demais nos momentos que pôde, eram apenas as circunstâncias que os atrapalharam.
Estava com os pés cimentados naquela porta, com vontade de sair correndo ao mesmo tempo que não conseguia nem mesmo respirar, quem dirá andar para fugir, e o ar ficou preso em uma bola em sua garganta quando ouviu passos do lado de dentro e então o barulho metálico de chaves que batiam contra as outras por estarem mexendo no chaveiro. Não podia mentir, estava em choque. Mas conseguiu expirar outra vez quando a senhora abriu um sorriso para si quando puxou a porta, e automaticamente sorriu de volta.
? ― a mulher arqueou uma das sobrancelhas ao encontrá-la ali, arregalando os olhos, fazendo-a se lembrar que faziam, no mínimo, três anos que aquela cena não acontecia, e servindo para apenas deixá-la ainda mais nervosa. ― ?! ― ela chamou outra vez, parecendo ficar ainda mais chocada, e em necessidade de confirmar para que a senhora não pensasse que estava vendo coisas, abriu um sorriso de canto e assentiu com a cabeça. ― Faz tanto tempo que não nos vemos! Olha só, você está ótima, e cresceu mais ainda!
― Obrigada. ― ao menos sentia-se mais em confortável na frente da mãe de , confortável o suficiente para que aos poucos sua expressão se tornasse mais natural e realmente feliz em vê-la. ― Mas agora o médico disse que eu não cresço mais, então… ― tentou comentar para parecer mais relaxada, mas mesmo se esforçando ainda estava travada.
― Não vejo problema, você está linda assim. ― o elogio soou tão sincero que era reconfortante. ainda tinha problemas em aceitá-los, mas resolveu guardar aquele com carinho. ― E aprendeu bem a usar maquiagem, não é mesmo? ― a mulher soltou uma risada sonora, e automaticamente a mais nova ergueu uma das mãos para levar aos lábios, lábios esses coloridos com aquele mesmo batom que usava desde aquela época, uma outra mania que havia adquirido.
― Eu treinei bastante depois de ganhar aquela maleta, acho que hoje em dia até que me saio bem. ― brincou, sem nem mesmo se esforçar para conseguir lembrar todas as noites perdidas assistindo tutoriais de cada passo que tinha que fazer para ficar com um rosto de boneca e um olho perfeito. ― Devo isso a você e ao…
― Mãe! Quem é?
automaticamente sentiu toda a paralisia em seu corpo outra vez quando aquela voz soou de dentro da casa. Ainda a reconhecia facilmente, mesmo se não se falassem desde o dia ao qual havia o convidado para a sua festa, no outro ano. O timbre estava mais grave, um pouco mais rouco e igualmente preguiçoso enquanto descia as escadas tropeçando no último degrau e tendo que se agarrar ao corrimão rapidamente para evitar um acidente.
Quando ele ergueu a cabeça para encontrar quem era que estava na porta, teve que discretamente se segurar no corrimão da escadinha que levava até o deque e a entrada da casa, porque suas pernas não estavam sendo um apoio eficiente. Ele estava tão chocado e descompensado como ela, e, a mãe dele, em um sorriso, os deixou sozinhos para que conversassem sem soltar mais nenhuma palavra.
… ― o apelido estalou na sua língua, mas então como se ligassem em um interruptor no seu cérebro, recordou que ela não era mais aquela . Não eram mais próximos, seria desrespeitoso tratá-la pelo apelido daquela forma. ― … Você quer entrar?
― Não, não, eu só… Só quero te entregar uma coisa. ― ok, quanto mais rápido fizesse isso, melhor seria. Iria embora de uma vez e poderia fazer o que quisesse com a carta depois, ela não se importava… Tá, isso era mentira, ela se importava sim, mas não fazia mais diferença quando estaria a milhas de distância dele daqui há algumas horas.
Ergueu a mão timidamente antes que ele perguntasse o que era, e viu os olhos do rapaz brilharem ao encontrar o envelope branco na sua mão. Ele se sentiu completamente estático e todo o seu corpo ficou com os pêlos arrepiados. Era como o seu sonho mais secreto se tornando realidade. pegou a carta de uma forma tão cuidadosa que fez o coração de se apertar. Parecia que ele tinha medo de rasgá-la apenas com o olhar.
― Eu preciso ir… ― nem mesmo esperou que ele pegasse o papel direito para já dar um passo para trás, e a situação toda pareceu piorar quando ouviu a voz do lhe chamando.
― Não, espera! ― ele tentou, mas deu outro passo para trás, com um sorriso sem graça e de desespero estampando seu rosto. Recusar ficar era como matar aos poucos e de cada vez, todo aquele amor sufocado que alimentara por desde antes de saber como denominar o nome daquele sentimento.
― Eu realmente preciso ir, . Foi bom te ver, você… Você está ótimo! ― ficou óbvio que ela não sabia bem o que dizer e que uma parte de seu coração queria ficar e explicar para ele o que estava acontecendo, mas a parte racional foi mais forte e ela deu mais um passo pra trás, quase no primeiro degrau que a levaria para o pequeno jardim antes da rua.
, espera! Onde você está indo? ― assim que ela tentou virar para ir embora, ele andou os quatro passos que os separavam e agarrou na borda do suéter branco de crochê de . Aquilo fora uma reação automática ao medo de perdê-la de vista outra vez depois de tanto tempo ao qual isso acontecia. Seu organismo, sua cabeça, tudo pareceu ficar em pânico com a hipótese dela deixá-lo ali.

Ouvi-la pronunciando o apelido de infância agora em seu timbre de voz adulto atingiu o coração de de uma forma que pôde senti-lo sangrar, mesmo se julgassem isso impossível. Ele não soube como reagir, seu cérebro parou e a única coisa que pensou foi como queria nunca ter parado de ter a oportunidade de escutá-la lhe chamando daquela forma, em todas as fases de desenvolvimento de sua voz.
Não soube dizer se foi aquele tom suplicante que ela usou na voz para chamar por seu apelido, ou se foi aquele brilho entristecido que estava reverberando nos olhos de . Ele simplesmente não sabia por que sentia o seu aperto afrouxando, por qual razão estava perdendo a força e deixando-a escapar entre os seus dedos, mas deixou. Talvez porque soubesse que era errado prendê-la ali se ela estava dizendo que tinha que ir. Se ela queria ir, não podia fazê-la ficar. Mas isso doía como o inferno, principalmente quando realmente foi.
Ela lhe deu as costas e foi embora, deixando-o apenas olhando-a partir e sumir pela esquina.


Se eu, se eu, se eu, embora seja tarde, mas
Mesmo agora, meus olhos e boca estão cheios de você


A única coisa que conseguia se perguntar naquele momento é se, quando ele ficava bêbado, também ficava insuportável daquele jeito. Quando saiu de casa para buscar depois de uma ligação desesperada, sabia que o amigo estava mal pelo tom mole que estava falando no celular entre gritos e fungadas, mas nunca imaginou que fosse naquele nível ao qual teve que até mesmo que pegá-lo no colo para levá-lo para o carro e depois até a sua casa, já que ele estava dormindo como uma pedra.
Agora, enquanto dava um banho rápido nele para tentar tirar aquele cheiro insuportável e deixá-lo dormir no seu sofá, decidira que era a hora perfeita para acordar, e por isso a chatice. era o ser mais paciente para ajudar as pessoas quando elas precisavam, mas queria morrer com os argumentos que o amigo estava usando por estar magoado depois de terminar com a namorada.
, você não tem pena de mim?! ― o rapaz, que era mais velho só por alguns meses, gritou no banheiro pela centésima vez, em forma de protesto por causa da água gelada que batia contra a pele quente que há alguns minutos estava bem agasalhada com casacos e fazendo aquele bafo voar todo pelo ambiente e ir parar bem no seu rosto. ― VOCÊ NÃO TEM CORAÇÃO?!
, cala a merda da boca, você vai acordar o prédio inteiro. ― ameaçou bater no amigo com as sobrancelhas juntas no meio da testa, mas quando olhou a expressão desolada dele parou o movimento, suspirando em desistência. Droga, sempre fora um coração mole… Ao menos ele havia parado de falar com o seu mini surto e voltara a ficar quieto para lhe deixar esfregá-lo.
― Você nunca se apaixonou? ― murmurou entre um bocejo, enquanto fechava o chuveiro e jogava uma toalha na sua cara, apenas para lembrar depois que ele não estava em condições nem mesmo de conseguir se secar.
Suspirou, perguntando aos céus o que havia feito para ter aquele karma, mas a sua mente se distraiu com a pergunta dele. Sem permissão e lentamente, um nome apareceu entre os seus pensamentos e os seus olhos brilharam como se como se ela estivesse na sua frente, assim como os seus lábios murmuraram o nome involuntariamente.

Sim, ele já havia se apaixonado antes. E os seus olhos e seus lábios ainda estavam cheios dela mesmo após dois anos e meio sem nem mesmo ter notícias da garota, mesmo se nunca tivesse experimentado o gosto de sua boca. Sentiu seu coração acelerar apenas com as memórias, e estava prestes a desabar quando o amigo lhe acordou de seu devaneio e voltou a sua realidade.
― O que? Oi?
― Nada, nada. Eu nunca me apaixonei. Agora cala a boca e fica quieto pra eu conseguir te secar, seu infeliz.


À medida que o tempo passa, meu arrependimento se torna muito profundo
Eu caí nele e estou lutando para sair


!
O grito fora tão alto que seus olhos abriram de supetão e seu coração acelerou. Pulou da cama em um segundo, tropeçando pelo tapete do quarto e quase batendo com a cara na porta do quarto e descendo as escadas com um pé enrolando no outro só pra encontrar a sua mãe, tranquilamente sentada no sofá de casa, cercada de fotos que forravam a mesinha de centro e o seu colo.
― Mãe? ― questionou com uma sobrancelha subindo em dúvida, levando as mãos até os olhos para esfregá-los e ter certeza de que estava acordado e vendo certo. Sua mãe quase lhe matara do coração por causa de fotos?
― Filho! ― a mulher abriu um sorriso satisfeito ao vê-lo ali, o chamando com a mão para que o rapaz se aproximasse e se sentasse ao seu lado no outro lugar no móvel. obedeceu, já que não tinha muita opção.
Ainda estava sonolento, mas reconheceu a foto que ela segurava, e aquilo fora o suficiente para fazer o seu coração acelerar e bombear sangue bem mais rápido para todos os sistemas do seu corpo, fazendo com que acordasse instantaneamente. Era a foto dele com que tiraram no seu aniversário de treze anos, atrás da mesa do bolo e na frente do painel com a estampa das princesas da Disney.
Por um segundo ele quis rir do quão ridículo estava, fingindo que ia passar o dedo no glacê, mas então ele sorriu quando encontrou a imagem que revirava os olhos. Ela estava tão linda na foto quanto ele se lembrava de estar na vida real, e o seu peito ardeu em saudades. Já faziam três anos desde a última vez que haviam se encontrado, como era possível ainda amá-la em uma intensidade ainda maior agora do que quando ela estava perto?
― Encontrei com a irmã dela no mercado esses dias. ― sua mãe começou calmamente, como se o assunto não tivesse a importância que ambos sabiam que tinha. ― Ela me disse que ela está bem, e que termina o intercâmbio ano que vem. ― suspirou ao saber disso, e o desânimo foi tão nítido em saber que ainda demoraria mais um ano para o seu retorno. Mais um ano de incertezas, sem saber se ainda lembraria da sua existência quando voltasse, ou se havia seguido em frente e estaria namorando um canadense que era um cara legal. Isso se ela decidisse voltar mesmo, ou se quisesse ficar lá de uma vez…
― Mas que ela vai vir passar os feriados de fim de ano aqui dessa vez, que nem você veio pra ficar comigo.
― Sério?! ― os olhos de que estavam perdidos naquela foto rapidamente se focaram no rosto da sua mãe, e abriram tanto que ela não aguentou e começou a rir, confirmando com a cabeça algumas vezes.
― Sim, filho, estou falando sério. Essa é a sua chance, não a desperdice.


Se eu pudesse
Se eu pudesse
Se eu pudesse
Eu farei o que for


Parecia óbvio na sua mente o que deveria fazer naquele momento, e ignorou completamente a fina e aguda voz do pessimismo e receio em relação a que aprendeu a se alojar bem atrás da sua orelha depois de tudo o que haviam passado. Ele respirou fundo, sem conseguir dormir a noite de ansiedade com a notícia que havia sido lhe dada, e então resolveu abrir o seu armário para buscar aquela caixa que guardava com tanto cuidado no alto, alto o suficiente para que a sua mãe não conseguisse alcançar.
Todas as cartas que haviam trocado em oito anos de amizade estavam ali. Desde aquelas onde a caligrafia e gramática de não eram das melhores - a quem queria enganar? Ele sempre foi mil vezes pior que ela - até a última, a qual poderia jurar que via uma palavra borrada, como se houvesse caído um pingo d’água em cima dela.
A forma que ela usava as palavras naquela carta para expressar o que sentia sempre o pegava desprevenido. Podia ouvi-la lendo. Podia sentir seu choro e a sua dor, e o seu coração se apertava de vontade de abraçá-la. Nela, confessava que escondera muitas coisas dele, com medo de que se ele a achasse menos perfeita talvez não quisesse mais estar próximo de si. Pedia desculpas por isso, mas falava que estava certa porque com o tempo vira que estavam em universos diferentes.
Nada mais os ligava. Nem mesmo a promessa que um dia haviam feito, dizendo que caminhariam juntos lado a lado em qualquer situação.
por meses depois de lê-la se sentiu culpado, um amigo péssimo e uma pessoa ruim. Havia algo que tinha feito que deixara tudo chegar naquele ponto? Alguma ação sua demonstrou que não se importava com , com ela de verdade e não com uma merda de popularidade ou aparente perfeição?
E outra vez depois de ler, ele se sentia um idiota. Não a ajudou quando ela mais precisava de si e, quando teve a oportunidade de finalmente estar perto dela, simplesmente deu toda a sua atenção para um time de basquete que se tornou com o tempo apenas um hobbie. Na carta, ela disse que sentia raiva dele por ser tão perfeito em contrapartida a ela, que era tão quebrada. E, na vida real, sentia raiva de si mesmo por um dia tê-la deixado acreditar nisso.
Quando pegou o anel que estava guardado entre as cartas, os flashes de memória dolorosos passaram pela sua mente como um filme e ele mordeu o lábio, sem conseguir conter as primeiras lágrimas que se acumularam no canto de seu olho. Havia sido um imbecil ficando com raiva da garota sem nem mesmo saber pelo quê ela estava passando e sem perceber que estava sendo um idiota, sempre adiando e adiando as explicações, como se soubesse tudo o que estava passando pela sua cabeça.
Com todos os problemas psicológicos que ela estava enfrentando, a adaptação na escola nova e o melhor amigo sendo um babaca depois das primeiras semanas, sempre estando ocupado com treinos ou jogos ao invés de simplesmente convidá-la para ir junto ou se esforçar mais para perceber o que estava acontecendo, a única coisa que lhe surpreendia era o fato dela ainda ter tido a consideração de dar aquela carta para si antes de embora, avisando que iria para o Canadá para estudar. Mas claro que mandaria, ela sempre fora diferente dele…
Quando levantou com um gosto amargo na boca com a lembrança da última vez que se viram e então se sentou na sua escrivaninha, ainda conseguia sentir os seus dedos agarrando a ponta de seu suéter de crochê, e sua pele da mão queimava como se houvesse cometido algum pecado com aquela ação. O pecado de tentar prendê-la, ou de não ter tido coragem de dizer por que queria próxima? O pecado de ser um imbecil?
Abriu a última gaveta da esquerda e de lá tirou algumas folhas. Não se importava se elas ficariam ou não molhadas de lágrimas, ele só queria despejar todos aqueles sentimentos que trancafiara para fingir que estava tudo bem. E com vontade de se libertar e o desespero de uma oportunidade de redenção, começou a escrever.


Você partiu e se reduziu a um único ponto
A área fora está muito vazia
Eu espero que esse ponto
Volte para mim e se transforme em você


― HEEEEEEEEEEY!
O grito de entrando em casa depois de derrubar a porta foi alto o suficiente para quase quebrar os vidros de sua mãe expostos no armário da cozinha, mas ela gritou mais alto ainda quando percebeu que estava sozinha.
ÓTIMO. Primeiro ninguém ia lhe buscar no aeroporto mesmo estando morta de cansaço, porque segundo sua família maravilhosa, estavam preparando uma coisa especial para a noite. E segundo, quando chegava para aquilo que acreditava ser a coisa especial, também não tinha NINGUÉM. Ia surtar e matar todos os abençoadinhos. Pelos céus, faziam três anos que não pisava naquela casa, aquelas pessoas não tinham um pingo de consideração por si?!
Um bico enorme se apossou dos seus lábios avermelhados e até mesmo jogou a mala longe como se alguém fosse se ofender com a sua birra. Havia passado horas arrumando o cabelo, as unhas, escolhendo uma roupa legal e se maquiando para se preparar para as fotos que jurava que seriam tiradas assim que pisasse naquela casa, mas não. Ela estava v a z i a. Tudo bem que também queria matar saudades do ambiente em si, mas precisava abraçar sua mãe…
Antes que começasse a chorar de tristeza de uma vez por se sentir solitária e desprezada na sua própria casa, a verdadeira, ela avistou algo em cima da mesa da estante da sala, uma folha perfeitamente dobrada com o seu nome bem escrito em cima, em um tamanho tão grande que conseguia ver mesmo daquela distância.
Ah, esperava que eles tivessem uma ótima desculpa para aquela palhaçada, e pro fato de não terem achado mais prático mandar uma mensagem no celular ao invés de escrever um bilhetinho.
Mas seu coração parou por algumas batidas quando reconheceu a caligrafia de dentro da folha. Sua mão, inconscientemente subiu até os seus lábios, e se pegou com calor mesmo que estivesse nevando do lado de fora. Depois de anos ainda conseguia saber bem e reconhecer em segundos que aquele formato garrafal e de letrinhas coladas uma na outra pertenciam a ele. E o que estava escrito lhe fez deixar a folha e sair correndo, sem nem mesmo perceber se trancara a porta ou não.
Você sabe onde me encontrar.
Sim, ela sabia, e como suas pernas doíam por subir aquele monte correndo depois das três ruas que o distanciava de sua casa! Meu Deus, nas suas lembranças e seus sonhos sobre sua infância ele não era assim tão íngreme. Talvez fosse a idade… Enfim, isso não importou quando se deparou com o que haviam transformado aquele pequeno pedaço de suas memórias. De um pequeno playground para um local abandonado e agora um mirante com um bonito deque na sua beira, que concluiu ser de madeira mesmo estando coberto de neve, tudo ali a deixou abobalhada e com a respiração descompassada, fosse pela corrida, pela vista, pela sensação de déjà vu ou pela ansiedade em ver uma pequena caixinha tão branca quanto os flocos colocada no chão, de laço vermelho chamativo.
Tudo na sua vida naquele momento pareceu se resumir aquela caixa. Não se importou de se jogar na neve ajoelhada para conseguir abri-la rapidamente, e então tudo pareceu ficar ainda pior quando viu o anel, dourado de pedra vermelha, em cima de uma carta com a letra de estampando todas as linhas.
Estava sonhando, não estava? Aquilo não era real… Antes de pegar o anel, se beliscou. Uma, duas, três, quatro e até cinco vezes. Mas ela não acordava, e isso apenas a deixou mais desesperada. Então ela apertou o anel contra a palma da sua mão, e apenas percebeu o quanto tremia quando segurou o papel com a outra, tentando ler o que estava escrito ali mesmo com o balançar incessante e desconfortável do seu nervosismo.
As suas lágrimas, conforme seus olhos passavam pelas palavras, se misturavam aquelas que derramara enquanto escrevia e borravam a tinta da caneta preta. Mas aquilo não importava, porque ela conseguia entender perfeitamente tudo o que ele queria dizer ali. Queria gritar para ele que o perdoava, que ele não fizera nada de errado e foram apenas situações que aconteceram com ambos. Queria ter certeza que ele sabia que era uma boa pessoa…
Ouviu passos arrastando a neve conforme chegava nos últimos parágrafos, e engoliu em seco, com o corpo tremendo ainda mais, tanto pela adrenalina quanto pelo frio. Se fosse ele… Se ele estivesse ali, era capaz de ter um colapso. Obrigou a si mesma a se concentrar, juntando suas últimas forças para chegar ao final. Prometeu a si mesma que viraria apenas quando lesse a última palavra.


Se pudéssemos caminhar juntos nesse caminho novamente
Então eu seguraria suas duas mãos firmemente e lhe daria calor
Se eu segurasse as suas bochechas com mãos aquecidas
Você sorriria para mim novamente?

― Se sim, então faça.



Fim.


Nota da autora: Quero deixar claro que essa música é tão perfeita e maravilhosa que eu não precisei fazer nada nesse plot, além de seguir as estrofes! Seria um pecado se eu não usasse toda a letra dela, me senti na obrigação e eu adorei o resultado, com certeza é uma das fics minhas favoritas entre todas as que eu escrevi! Pra combinar com o fato que ESSA É UMA DAS MINHAS MÚSICAS FAVORITAS EVERRRRRRRRRR AAAAAAAAAAAAA SAUHSAUHSAUHSUA Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu! Beijo ♥





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