Última atualização: 03/11/2017

Capítulo Único

iria casar.
Respirei fundo outra vez tentando engolir o bolo que se formava em minha garganta.
. Casando.
Arrisquei uma última olhada para meu reflexo no espelho. Eu estava perfeita, não fosse por um único detalhe: não era eu que subiria o altar para estar ao seu lado.
Suspirei uma última vez antes de apagar a luz do banheiro e enfim sair dos meus saltos. Segurei firme a vontade de chorar e me abracei deitando no meio da cama aproveitando o escuro para me sentir miserável. Naquele exato momento ele deveria estar dizendo sim para outra garota.

e eu éramos amigos desde a faculdade, havíamos nos conhecido graças ao estômago fraco de Becca, minha melhor amiga. Ele também era irmão de Alex, marido de Becca, o que nos aproximou ainda mais depois do casamento dos dois, nos tornando melhores amigos.
Durante os dez anos que se seguiram fomos inseparáveis. Se alguém atirasse qualquer pergunta aleatória sobre a vida de eu saberia responder sem titubear, sem ao menos parar para respirar. Nós dividimos tudo, desde canudos de refrigerante até histórias engraçadas de encontros que deram errados - estas, na maior parte das vezes, eram minhas. O via como um irmão mais velho, alguém que sempre estava lá para mim e me priorizava.
Tudo havia começado com sua estúpida viagem para França, algo a trabalho que deveria durar no máximo quinze dias logo se tornaram três meses. Cada dia que passava meu coração insistia em dizer que algo estava errado, logo passei a dormir mal, a saudade de estava me deixando doente. Nunca tínhamos passado tanto tempo longe um do outro, nem mesmo vídeo chamadas pareciam acalmar a sensação horrível na boca do meu estômago.
Foi quando descobri que estava apaixonada pelo meu melhor amigo.
Passei alguns dias em negação, mas bastou o aviso da sua volta para meu corpo aceitar que o coração quer o que o coração quer.
Podia ver com grande clareza minha imagem saltitante em direção ao aeroporto quando ele disse que estava chegando. Ele havia insistido para que Alex o buscasse, mas com alguma ajuda de Becca convenci o irmão mais velho que seria uma surpresa agradável para eu recebê-lo lá. Eu deveria ter percebido que o leve desconforto em seus olhos não tinham nada a ver com a surpresa que eu faria a ele e sim com a que faria a mim.
Dei-me ao trabalho de fazer uma plaquinha fofa para ele me achar no salão do desembarque. Meu coração batia ao ritmo de uma fanfarra, depois de três meses eu veria o cara que tinha roubado meu coração sem ao menos saber.
E foi então que tudo virou merda.
vinha com sua elegante camisa xadrez vermelha e calça marrom, a barba fina em seu maxilar e o cabelo jogado em um topete estiloso. Ele tinha os olhos mistos de castanho e verde distraídos de tudo ao redor, um sorriso bobo em seus lábios. Em sua mão direita uma loira alta com olhos meigos tinha os dedos entrelaçados aos seus.
O sorriso em meus lábios derreteu em milésimos de segundos quando a loira gargalhou de algo e o puxou para um selinho. Desci a placa que estava no ar, com total desconcerto. O que diabos estava acontecendo?
Seus olhos me encontraram rapidamente na multidão e meu coração deu um coice com a simples expressão de surpresa que ele fez. Acenou no ar com um sorriso e se pôs a puxar a mulher e as malas em minha direção.
E logo eu, que estava preparada pra reencenar qualquer filme de comédia romântica com cenas de declaração de amor no aeroporto, tive que forçar o meu mais falso sorriso e abraçar os dois como se meu coração não quisesse ser vomitado aos pedaços.
“Que saudades, !” murmurou contra meus cabelos ainda me apertando em seu abraço carinhoso. “Achei que Alex e Becca vinham me buscar. Aliás, essa é Apolline, minha namorada.”
Você perdeu , a voz cantou dentro da minha cabeça, e ela soava como Alex me dizendo relutante que eu não precisava me incomodar em ir buscar seu irmão.
Apertei a plaquinha em minhas mãos ainda ouvindo Alex soltar longos conselhos dentro de meu cérebro, ofereci um sorriso educado para Apolline e os ajudei a colocar as malas em meu carro. Não consegui pronunciar uma mísera sílaba o caminho todo e até mesmo depois de deixá-los na casa de Becca. Poderia jurar que havia entrado em estado catatônico, mas na realidade tinha medo de abrir a boca e cair no choro e não poder explicar o que estava acontecendo sem causar um estrago.

insistiu que eu ficasse para jantar, mesmo eu dizendo que tinha duas toneladas de manuscritos para traduzir, o que, óbvio, era uma mentira, eu só queria poder deitar no chão da minha sala e abraçar Bolinho - meu gato cinza, gordo e rabugento - até tudo a sensação de morte em meu peito passar. Ou até ele arranhar seu caminho para a liberdade.
Estava no cozinha picotando uma inocente cebola em quadrados tão pequenos e com tanto afinco que Rebecca segurou meus pulsos assustada.
“Você tá legal, ?” Perguntou tentando parecer casual mesmo que seus grandes olhos azuis transbordassem preocupação.
“Tô bem sim, cenourinha.” Sorri usando o apelido da faculdade que ela detestava, por causa da cor alaranjada de seus cabelos. “Só estou me sentindo levemente traída por não saber da existência da namorada de .”
A ruiva colocou os cabelos atrás da orelha e se encostou-se ao balcão muito próxima a mim. Seu sorriso pareceu doloroso.
“Eu também não sabia, Alex só me falou ontem e pediu segredo.” sussurrou para mim “Você sabe que eu nunca iria esconder algo assim da minha melhor amiga, mas queria te contar cara a cara e só depois que já tivesse chegado. Me perdoe, .”
“Você não tem culpa nenhuma Becca!” Resmunguei largando a faca na tábua de madeira. “Eu só achei que ele poderia ter me contado antes que o motivo de estar na França era outro. Achei que era sua melhor amiga, sabe?”
Rebecca afagou minhas costas com carinho e deu um beijo em minha bochecha me consolando. Acho que ela já sabia que não era amiga que estava se sentindo traída e sim a estúpida apaixonada.

Por volta de oito da noite enfim sentamos a mesa para comer. Os pais de Alex e haviam chegado, assim como alguns amigos dos meninos. Eu já estava em minha terceira taça de vinho, pronta para me anestesiar de qualquer sentimento que não era bem vindo, ao menos sentia o sabor apimentado do curry que havia preparado. A conversa estava animada e apesar da minha leve letargia causada pelo álcool pude aproveitar a reunião que estávamos tendo.
Até abrir sua enorme boca para soltar uma bomba nuclear sobre a mesa.
“Queria aproveitar que estamos todos reunidos aqui para fazer um comunicado.” Fez uma pausa dramática e procurou os olhos da namorada ao seu lado que lhe deu um sorriso meigo apertando sua mão que estava em cima da mesa. Ele respirou fundo e deu um sorriso igual para a loira, o que me fez afundar na cadeira por antecipação. “Apolline e eu vamos nos casar.”
O vinho voltou ácido por minha garganta e eu travei uma luta ferrenha contra a natureza para não vomitar por toda a mesa, tamanho meu choque. Foi como receber um soco na boca do estômago, não estava preparada para aquilo.
Enquanto todos os parabenizavam e soltavam seus coros de felicidades meus olhos encontraram os olhos azuis e arregalados de Becca do outro lado da mesa e eu soube que aquilo era real e eu estava fodida.
O resto do curry e a sobremesa que a mãe dos meninos havia trazido desceram como um tijolo enfiado de lado. Não tentei mais me esforçar para ser agradável, apertei meus lábios um contra os outros com uma firmeza impressionante para que nenhuma interjeição bêbada me escapasse e desejei do fundo do meu coração que aquele jantar passasse mais rápido que um quarterback correndo as últimas jardas até a end zone para marcar o gol da virada.
Finalmente, trinta minutos mais tarde, os mais velhos levantaram agradecendo tudo e apertando o filho mais novo e sua nova nora os congratulando uma última vez. Aproveitei a pequena distração na sala e munida com minha bolsa e as chaves do carro fiz a melhor saída à francesa de todos os tempos.
Voei pela avenida sem me importar com os sinais. Com uma freada brusca e dramática parei de qualquer jeito no estacionamento deserto do Walmart com a falta de ar me atingindo. Os cinco minutos que se seguiram foram de pura gritaria, choro e socos contra o volante.
A tela do celular iluminou o carro desprendendo um gemido do fundo da minha garganta ao aparecer o rosto sorridente do meu melhor amigo na tela avisando que ele ligava. Os nós dos meus dedos doíam quando peguei o aparelho e o coloquei na orelha sem vontade alguma.
“Alô?”
! Estava com dor de barriga que foi embora sem dar tchau?” A voz de soava animada do outro lado da linha e eu quis socá-lo por estar tão feliz enquanto eu me sentia miserável, mesmo que fosse uma punição injusta.
“Desculpe. Já estou em casa.” Menti observando o sangue escorrer da ferida que tinha aberto na junta dos meus dedos da mão livre. “Meu estômago estava meio revoltado com o curry, desculpe.”
“Você precisa ir ao médico ou algo assim?”
“Não!” Neguei de imediato. “Vou tomar um chá e deitar que logo melhoro.”
“Ok…” Murmurou incerto e o silêncio reinou entre nós por alguns segundos até ele tornar a falar. “Vamos tomar um café amanhã? Queria colocar o papo em dia.”
Apertei meus olhos espremendo as últimas lágrimas deles. Não queria colocar papo em dia, não queria vê-lo ou ouvi-lo até colocar minha cabeça no lugar.
“Claro.” Concordei sem animação nenhuma. “Eu te ligo avisando quando estiver livre.”

Eu estive livre pelo resto do mês, todos os manuscritos que haviam enviado para correção já estavam prontos, minha casa havia sido faxinada quatro vezes em um período de quinze dias, tamanho tempo livre que eu tinha em minhas mãos. Até meu armário estava organizado por cores e minha despensa organizada em potes. Mas de alguma maneira sempre que me mandava uma mensagem eu era categórica ao dizer que estava afundada de coisas urgentes para fazer.
Isso até meu plano brilhante morder minha bunda em retribuição.
Eram nove da noite de uma quarta-feira, eu ocupadíssima maratonando Twin Peaks e me enchendo de pipoca e Twix dentro do meu pijama mais destruído - porém o mais confortável - quando a campainha toca tão sutil quanto minha vizinha de cima transando de madrugada.
“Já vai!” gritei pausando a série e jogando as cobertas para o lado ganhando outra apertada da campainha como resposta. “Já falei que já vai!”
Só quatro pessoas passariam direto pela portaria do prédio sem o porteiro meu interfonar avisando antes: minha mãe, Rebecca, Alex e . Eu não tinha o melhor relacionamento de todos com a minha mãe, mas desejei fervorosamente que fosse Veronica . Mesmo que isso significasse um sermão sobre eu ainda estar solteira e ela sem netos.
Assim como Harry Potter fui caminhando desconfiada até a porta, repetindo para mim mesma um coro de não, não!’ até espiar pelo olho mágico. Meu peito sentiu a onda gelada bater contra ele e se espalhar quando, ao contrário de Harry que foi para Grifinória, quem me esperava do outro lado da porta era e uma caixa de pizza.
“Oh merda! Merda! Merda!” Sibilei desesperada para mim mesma me afastando pé ante pé da porta como se ela fosse uma cobra venenosa que não deveria ser acordada. Olhei ao redor procurando algo para me salvar, só então lembrando que ele já sabia que eu estava lá dentro. “Oh merda!” Repeti mais uma vez desolada por minha burrice.
abre logo.” Resmungou dando alguns soquinhos contra a madeira.
Mordi meus próprios lábios e arrumei tentei colocar a selva de cachos no lugar sem qualquer resultado antes de abrir a porta tentando não parecer culpada.
“Achei que fosse me deixar pra fora, estava pronto para sentar aqui e comer tudo sozinho.”
estava risonho quando entrou sem esperar por meu convite e sentou-se despachado no sofá abrindo a caixa sobre seu colo. O cheiro da pizza de calabresa me acertou e mal pude me sentir culpada quando ele me esticou um pedaço.
“Apesar de você ser uma mentirosa, deixo você comer o primeiro pedaço.”
“Mentirosa? Por que mentirosa?” Minha voz traidora saiu aguda e tremida sem que eu pudesse controlar, o que me fez enfiar a comida na boca logo para que nada pior escapasse de mim.
“Eu liguei pro seu chefe, ele disse que tem dias que você está sem material em casa. Logo, mentirosa porque quando eu liguei mais cedo você disse que estava revisando.” Apontou o dedo em direção ao meu nariz, me fazendo engolir a pizza ruidosamente.
“Eu estava!” Menti, não querendo dar o braço a torcer. “Estou fazendo um freela pra uma escritora brasileira que está começando, estou traduzindo horrores.”
“Você nem sabe falar português, .” Rolou os olhos com preguiça se esticando no sofá.
“Eles falam espanhol no Brasil!” Soltei igual uma criança fazendo careta para ele. Eles falam espanhol, não falam?
“Admite logo que você estava me evitando e para de passar vergonha, . Onde já se viu falar espanhol no Brasil.”
“Vem cá, e o que é que você está fazendo aqui uma hora dessas?” Devolvi ignorando sua afirmação. Não iria admitir nada e depois pesquisaria no Google mais sobre o Brasil.
“Já que você estava, sem duvidas, me evitando eu fiz o grande favor de vir até o habitat natural do bicho preguiça. Com comida, para não ser atacado.”
piscou para mim e eu me apertei contra a poltrona em que estava sentada sentindo-me mais que culpada. Ele não sabia da minha confusão de sentimentos e eu não lhe dei a chance de sequer conversar comigo depois da viagem.
Tê-lo sentado à minha frente exatamente como antes bagunçou minha cabeça, pois em outras circunstâncias, quatro meses atrás eu deitaria ao seu lado com a cabeça em suas pernas, ligaria a tv e ficaríamos até de madrugada assistindo qualquer merda e conversando. Devastava-me saber que o que antes era nossa rotina, agora parecia uma memória distante.
“Qual é , o que está pegando?”
“Nada. Só estou cansada.” Forcei um bocejo que estava longe de vir apenas desejando que aquilo acabasse rápido.
“De mim?”
Se um dia eu ganhasse minha coroa de rainha do drama, então , sem sombra de dúvidas, ganharia um ouro olímpico de salto de cabeça em conclusões precipitadas. Nós éramos uma dupla e tanto.
, faça-me o favor!” Rolei os olhos para seu drama. “Você sabe que não.”
“Mas parece!” Grunhiu apontando a pizza para mim no alto de sua expressão mais acusadora. “Você tem me evitado desde o dia que cheguei. Eu estava cheio de fotos, presente e histórias pra te contar e você ocupada demais traduzindo seu espanhol brasileiro aí.”
…”
“Me desculpe não ter falado da Apolline, me desculpe mesmo.”
Um leve rugido me escapou pela simples menção do assunto proibido. Senti-me incapaz de olhá-lo nos olhos, não queria fingir que estava tudo ok ele esconder aquilo de mim e chegar com um presente de grego daqueles. Eu queria uma pulseira da Cartier e ganhei uma concorrente francesa que trocava beijos ardentes com o cara que eu estava afim. Não me parecia uma troca justa.
“Você vai casar, . E eu fui a última a saber.”
“Você não foi a última a saber, todo mundo soube na mesma hora…”
“Eu juro por Deus que se você tentar ser engraçadinho agora eu vou te jogar pela janela!” Em resposta ele levantou as mãos na altura dos ombros apertando os lábios para não rir da minha expressão irada. “ você nem conhece a garota. Uma namorada estrangeira é legal, uau, todo mundo fez isso uma vez na vida. Eu mesma namorei aquele alemão estranho, lembra?”
“Estranhíssimo.” Concordou mais que depressa. “Mas Apolline não é como ele, .”
“Como você pode ter certeza? Conhece ela a menos de três meses!”
se jogou contra o sofá parecendo cansado da discussão, como se nos últimos dias tudo que vinha escutando era isso. Soltou um suspiro antes de apoiar os cotovelos contra os joelhos e se inclinar em minha direção.
eu não quero brigar sobre isso. Eu preciso da minha melhor amiga do meu lado nesse momento, apoiando as minhas decisões por mais burras que elas pareçam ser.”
“Não, . Não é pra isso que os melhores amigos servem, eles fazem o exato oposto. Eles não te deixam tomar decisões burras achando que é uma ideia brilhante. Eu não quero que você se machuque se ela mudar de ideia.”
se pôs de pé para cortar nossa distância em alguns passos e se ajoelhar logo a minha frente, os olhos de filhote presos nos meus me fazendo contorcer disfarçadamente na poltrona.
“Eu preciso de você, . Por favor.”
“Não.”
, eu quero que você seja o meu padrinho*. Não me deixe na mão.” Nem mesmo os olhos brilhantes e inocentes fizeram o choque ser menor.
Estava tão ultrajada que queria poder estar bebendo algo bem nesse exato momento, só para poder cuspir na sua cara como um hidrante sem tampa.
Por um breve segundo pensei em aceitar, mas as implicações do cargo correram por minha mente prontas para me estapear na cara ao lembrar-me do discurso que eu teria que dar ao casal. O que eu colocaria no papel?
, quando eu olho para você eu vejo o brilho do sol se pondo, quando você fica perto de mim eu perco o jeito, a hora e a fala.
Soava simplesmente brilhante. O final perfeito para uma história meio merda.
Pisquei desconcertada e sacudi a cabeça tentando colocá-la no lugar.
“Não, .” Soltei firme empurrando suas mãos que estavam sobre minhas pernas. “Eu não posso compactuar com isso. É um erro, . Você nem conhece ela direito, pelo amor de Deus!”
“Eu amo ela, . Eu a amo e isso basta para mim.” Ele suspirou conformado com um sorriso bobo no rosto, mal sabendo o quanto suas palavras me machucavam.
O som do meu coração partindo poderia ser escutado da esquina. Mordi minhas bochechas tentando ser forte e segurar o choro. Era o fim da linha para mim e eu precisava aceitar isso. Ele a amava.
Respirei fundo engolindo todo meu drama interno. Ele merecia ser feliz mesmo que não fosse comigo, mas isso não significava que eu deveria passar por cima da mim mesma e fingir para ele que estava feliz com suas decisões erradas. Antes de tudo eu era a voz da razão naquela amizade.
“Tudo bem, você a ama.” Murmurei como se as palavras fossem tóxicas. “Mas eu não vou ser seu padrinho. Vou assistir da arquibancada igual a todo mundo e Alex vai estar do seu lado.” Decidi por ele.
, por favor…”
“Sinto muito, mas não. E já está tarde, eu preciso deitar.”
não falou mais nada, apenas apertou os olhos na minha direção como se tentasse ler minha mente. Ele até tentou ficar bravo comigo enquanto fechava a caixa de pizza e se punha de pé, mas então beijou minha testa e se despediu com seu olhar complacente como se esperasse que eu mudasse de ideia.
Mal sabia ele que eu não consegui passar a chave na porta direito antes de cair no choro como um bebê. Escorreguei dramaticamente pela porta e abracei meus joelhos quando atingi o chão, soluçando ali por tanto tempo que até perdi a hora. Só me arrastei para cama quando minha bunda reclamou do chão duro em que estava, mas as lágrimas desceram até eu cair no sono. A cena lamentável se repetiu pelos dias seguintes, como um ritual de coração partido.
* Padrinho do casamento: No sentido de ser o best man do noivo, que assim como a maid of honor (a madrinha principal) é uma posição de honra no casamento e geralmente estrelada pelos melhores amigos dos noivos.

Dois meses depois - Véspera do Casamento

Becca estava dormindo jogada em minha cama tão bêbada que nem se deu ao trabalho de tirar os próprios sapatos. Ela resmungou algo sobre seu sutiã estar apertado, mas não lhe dei muita atenção.
Uma hora antes estávamos na festa de despedida de solteira de Apolline, noiva de . Era o último lugar na Terra em que eu desejaria estar, evidentemente. Contudo Rebecca implorou de joelhos pela minha presença, pois não queria ir lá sozinha. Eu ao menos sabia como a mulher, recém-chegada na cidade - no país! - tinha tantas amigas enquanto eu, nascida e criada aqui, só tinha quatro.
A festa havia sido num clube de strippers homens e tudo que eu ouvi por longas horas foram gritos histéricos e assobios agudos demais. Para tentar fazer tudo parecer menos pior me mantive perto do barman bem abastecida de mojitos e margaritas. Becca parecia um pouco mais animada do que eu, pois gritava e pulava com seu copo a cada homem pelado besuntado de óleo dentro de uma sunguinha ridícula que surgia. Eu só queria que seus pés se cansassem logo para eu poder dar um sorrisinho falso de quem estava triste em ir embora e dar um salto de cabeça para dentro do Uber.
E então quando a exaustão por fim atingiu a ruiva fomos nos despedir de Apolline que insistiu em nos acompanhar até o carro. A loira puxou Becca para um abraço demorado e sussurrou algo em seu ouvido que não fui capaz de escutar, me fazendo segurar o leve rugido de descontentamento que quis dar.
Mal a vi enrolar os braços ao redor do meu ombro, estava tonta de tão bêbada, mas me lembrava com uma clareza absurda das palavras que ela disse ao me soltar:
“Sei que está brava com por ele não ter falado nada para você sobre nós, mas quero que saiba que vou fazer de tudo para fazê-lo feliz. Ele está tão triste pela sua distância, dê outra chance para ele , você é muito especial para o meu .”

Apolline tinha um sorriso lindo e um sotaque fofo, era fácil ver porque ele havia se apaixonado por ela. Mas acima de tudo ela não era uma megera como eu havia criado em minha mente. Ela queria que eu e mantivéssemos nossa amizade, não me desprezava sem ao menos me conhecer, como eu fazia com ela. Logo isso me tornava a megera da história.
Naquele momento, perante o seu discurso elegante e minha realização tudo que tive a responder foi um quente e acido jato de vômito ao lado de seus pés.
Estava fortemente anestesiada pelo álcool para ao menos sentir vergonha.
Becca gritou algo ao meu lado e Apolline sorriu amistosa como se falasse que não tinha sido nada. Em um flash eu já estava dentro do carro, o motorista me pedindo com toda educação para manter a janela aberta e avisar se fosse vomitar. O trajeto todo fui como um cão com a cabeça para fora tomando vento e ao chegar em casa Becca me obrigou a tomar um banho enquanto ela esperava desmaiada em minha cama.
Então ali estava eu, sentada no chão, enrolada em uma toalha observando o cabide que segurava o vestido dourado que Rebecca havia confeccionado para eu usar no casamento de . Tudo parecia tão errado.
Se tivesse aceitado qualquer proposta indecente que ele tivesse arriscado fazer no dia que o conheci talvez não estivesse onde estava agora. Ele provavelmente teria dado um pé na minha bunda antes do terceiro encontro e sempre seria desconfortável quando nos encontrássemos nas festas de Alex e Becca. Ou talvez com alguma sorte nós tivéssemos dado certo e ainda estaríamos juntos e felizes. O fato era que qualquer coisa era melhor que a situação em que eu me encontrava agora: dividia entre meus sentimentos por ele e priorizar sua felicidade.
O discurso de Apolline encontrou seu caminho de volta para minha psique bêbada, ela o faria feliz. A necessidade de falar algo e nos deixar em panos limpos seguiu o mesmo caminho e logo me vi atrás do meu celular.

Eram quatro da manhã e ele ainda deveria estar em sua despedida de solteiro.
Rebecca ressonava tranquila ao meu lado e longe de estar apta a arrancar o celular de minhas mãos e me impedir de cometer uma estupidez. Disquei seu numero que conhecia de cor e por um longo minuto tudo que escutei foram os toques da chamada e a respiração pesada da minha amiga. A voz de avisava que ele não poderia atender no momento e eu, em minha sensatez bêbada, achei que deixar um recado seria mil vezes melhor que falar com ele numa ligação.
, sou eu …” Resmunguei sem saber ao certo como começar. “Eu queria pedir desculpas pela minha reação exagerada sobre… Bem, sobre tudo. Você merece ser feliz e se você achou alguém que ama em três meses, caramba…Boa sorte!” Me recostei nos travesseiros encarando o teto pronta para sentir as lágrimas deslizarem pelo meu rosto.
“Eu só acho tão injusto, . Eu sempre estive aqui e você nunca me viu. Você precisou viajar para França enquanto eu estava bem ao lado!” Solucei me sentindo estúpida e vulnerável ao chorar para a caixa de mensagens. “É tão injusto e nem é sua culpa, eu não posso te obrigar a me amar do jeito que eu te amo.”
Calei-me no exato momento em que percebi o que havia acabado falado.
Amor. Aquilo só estava indo ladeira abaixo e eu não estava nem ligando.
“É, eu amo você.” Repeti, confirmando mais para mim mesma do que para ele. “Como meu melhor amigo, como meu irmão, mas principalmente como o homem que eu nunca vou ter. Eu nunca vou deixar de te amar. Eu fico esperando as palavras certas virem, mas toda vez que te vejo é como se eu perdesse a minha voz. Por isso eu não podia aceitar seu padrinho. Seria doloroso demais para mim.” Mais lágrimas estúpidas desceram e eu me vi soluçando outra vez, afogada com tudo que estava falando. “Enfim, eu só liguei para falar que espero que você seja muito feliz, mesmo que não seja comigo. E que não importa onde você esteja ou com quem você esteja, você sempre vai ser a pessoa mais especial para mim.”
Três pequenos todas avisaram que eu só tinha mais alguns segundos de ligação. Não me restava mais nada para falar.
“Eu te amo, .” Finalizei desligando o celular e o deixando cair no chão e abraçando meus próprios joelhos ficando numa posição confortável para chorar até dormir.

Horas antes do casamento

Havia acordado enjoada e com a maior dor de cabeça da história das ressacas.
Percebi que estava sozinha na cama quando estiquei meu braço pronta para pedir socorro para Becca e seu lugar estava vago e frio. Com dificuldade abri meus olhos para o quarto inundado pela claridade e encontrei o radio relógio sobre meu criado mudo. Os número digitais em vermelho me encararam de volta acusadores ao me informar que eram três horas da tarde.
Eu havia dormido demais e agora precisava correr me arrumar para a cerimônia que deveria começar em duas horas. Eu estava legalmente fodida.
Pulei da cama e corri para o banheiro atrás de algum remédio que pudesse me salvar. Achei algumas aspirinas e as engoli depressa com água da pia, então me enfiei dentro do chuveiro para tomar um banho.
Vesti o roupão felpudo e me coloquei a modelar meus cachos e fazer duas pequenas tranças raiz de cada lado da cabeça para então poder puxar o cabelo para o topo da cabeças e ajeitar os cachinhos volumosos que desabrocharam como uma flor.
Orgulhosa do resultado consultei o relógio que dizia eu ainda tinha uma hora para terminar, logo me preparei na bancada do banheiro pegando a bolsa de maquiagens e espalhando tudo que tinha lá dentro sobre o mármore. Liguei o notebook e deixei uma playlist aleatória do youtube tocando para não deixar o silêncio me engolir enquanto me concentrava em lembrar todas as dicas de maquiagem que já havia visto na vida.
Base, corretivo, pó. Qualquer merda sobre contorno, iluminar algum cantinho, esfumar sombra e colocar os cílios postiços com a ajuda de uma pinça me sentindo humilhada após a primeira tentativa falhar. O batom vinho mais bonito e caro que já havia comprado na minha vida. Um lance de spray fixador sobre tudo e eu estava quase pronta.
Voltei para o quarto saltitando a caminho do vestido quando meu dedinho encontrou algo pesado pelo caminho e chutou-o para longe. Uivei de dor e agarrei meu pé pulando em um pé só até a cama amaldiçoando minha própria bagunça até a dor passar e eu ter a chance de me agachar e perceber que havia sido meu celular o precursor de tanta folia. O peguei desconfiada, não lembrava de tê-lo tirado da bolsa na noite anterior. Para ser bem honesta não lembrava de muita coisa depois de ter vomitado na frente da noiva do meu amigo.
Dei os ombros não ligando muito, mas tendo o cuidado de conectá-lo ao carregador e deixá-lo a salvo sobre o criado-mudo onde meu mindinho não o encontraria.
As eventuais aulas de yoga foram cruciais para o zíper do vestido ser puxado.
Um pouco de contorcionismo e boa vontade e eu finalmente estava pronta.
Apliquei o perfume e vesti os saltos. Joguei o batom e o celular dentro da bolsinha que havia escolhido usar e fui desligar o computador que estava sobre a cama quando a música que vinha dele me paralisou no lugar:
Eu perco minha voz quando olho pra você.
Não consigo fazer um barulho, embora esteja tentando.

Santa mãe de Deus.
Foi como ser atingida por um raio mesmo o céu estando azul. Eu não esperava minhas memórias da noite anterior me atingindo com tanta força vindas de lugar nenhum.
“Caralho.” Murmurei separando a palavra em sílabas para ninguém em especial sentindo o pânico me inundar. O que eu tinha feito?
Abaixei violentamente a tampa do notebook tentando cortar o efeito maléfico que aquela voz tinha me causado, mas não funcionou. Me vi sentada na beirada da cama tremendo da cabeça aos pés, as mãos úmidas cobrindo o rosto lembrando com uma ridícula perfeição cada palavra usada na ligação.
Eu amo você, . Eu vomitaria a qualquer segundo.
Meu celular apitou sobre a cômoda e meus olhos se arregalaram para o aparelho como se ele fosse o próprio anticristo encarnado. A foto de Becca sorridente apareceu na tela, o que não me acalmou em nada. Becca era cunhada de , logo se ele já tivesse escutado aquele gigante erro embriagado ela já deveria estar ciente e cheia de pena do outro lado da linha pronta para me consolar do lógico pé na bunda que iria levar. Pé na bunda que doeria em dobro, pois não seria só um crush perdido e sim meu melhor amigo.
Era oficial: era a pessoa mais burra do mundo.
O celular tocou até cair na caixa de mensagem e então tocou de novo. Uma dezena de vezes. Mas eu estava muito ocupada remoendo minha estupidez sentada no chão frio encolhida entre a cama e o armário esperando que aquele momento caísse no esquecimento ou que o celular de pegasse fogo antes que ele pudesse usá-lo.
Vi o dia virar noite recolhida dentro da minha bolha, incapaz de me mover pois a vergonha pesava uma tonelada sobre meus ombros. Simplesmente não poderia encarar o casal no altar lembrando de mim mesma me humilhando no escuro falando coisas lindas que nunca seriam retribuídas. Era demais até para uma aparvalhada como eu.

Já estava deitada na cama, sem saber se estava de olhos abertos ou fechados, quando minha porta ameaçou ser derrubada. Sentei nervosa ouvindo os socos insistentes contra a madeira, intercalados com o som da campainha estridente.
Estava envergonhada demais para encarar os olhos cheios de pena de Rebecca, mas ao mesmo tempo precisava de colo. Ben & Jerry’s, um filme com Anne Hathaway e cafuné foram minha motivação para levantar da cama e ir atender a porta.
“Você realmente quis dizer isso?” Fui recebida por e sua voz profunda assim que abri a porta sem ao menos olhar pelo olho mágico. Ele estava lindo com seu smoking cinza chumbo e cabelo penteado para trás. Seu braço estava estendido em minha direção, a tela do celular acesa bem em minha cara me fazendo arfar com o choque.
“Então , você quis ou não?” Deu um passo em minha direção, os olhos apertados presos em qualquer movimento meu.
Minhas pernas travaram de nervoso e minha boca abriu balbuciando qualquer coisa tentando ganhar tempo para fugir do confronto.
“O que você está fazendo aqui? Você não tinha que estar na sua festa agora?”
Apontei o óbvio ouvindo minha própria voz tremer.
“Não me enrola, . Fala logo o que você quis dizer com esse recado?”
Podia ver as labaredas e rolos de fumaça subindo de seus olhos castanhos esverdeados. Seus lábios crispados me davam a dica de que talvez ele estivesse furioso com minha ligação não requisitada, o que não era nem de longe uma das reações que eu poderia ter imaginado. Um pouco de indiferença e afastamento eu saberia lidar muito melhor que toda ferocidade a minha frente.
“Que recado?” Me fiz de desentendida tropeçando um passo para trás, tentando ganhar uma distância que ele cortou com facilidade nos fazendo dançar para dentro do apartamento.
“Não brinca comigo agora, . Não agora. Eu juro que eu…” fechou os olhos com força e esfregou o rosto com a palma da mão, como se quisesse colocar algum senso dentro da própria cabeça. E eu, mais uma vez, me via sem palavras para a cena que se desenrolava.
, eu…”
“Só fala sim ou não, droga! Não se faz de sonsa ou engraçadinha, só responde a porra da minha pergunta.”
“E que diferença faz agora se sim ou se não?” Miei fino como um gatinho recuando mais um passo e encontrando a coluna que dividia a sala e a cozinha sendo obrigada a ficar entre ela e que cortou nossa distância em um passo pesado. “Eu quis dizer aquilo, é como eu me sinto. Mas agora já não faz mais diferença. Talvez você deva voltar pra sua festa.”
Espalmou as duas mãos na altura de meus ombros me fazendo ficar a beira de arfar de susto. Era óbvio que ele estava vendo vermelho e eu era uma presa a ser destroçada, o que me fez voltar aos sentidos. Uma reação daquela não era normal, quem fica irado com um eu te amo?
“Por que você está tão irritado? Foi uma declaração, nem faz sentido você estar assim.” O empurrei pelo peito enfim me sentindo ultrajada por sua entrada tempestuosa. “Tudo bem que eu tive o pior timing de todos os tempos e não fui lá muito boa com as palavras mas…”
“Dez anos, !” Ele grunhiu entre dentes não movendo um centímetro do lugar. “Dez fodidos anos esperando você, com medo de abrir minha boca e você interpretar tudo errado. E quando eu finalmente acho que vou seguir em frente você…” respirou fundo, abaixando a voz e olhando no fundo dos meus olhos tentando enxergar algo lá. “Você me desmonta como a porra de uma onda toda vez, . Você perde a voz perto de mim? Eu perco a porra da minha cabeça quando você está ao redor.” Choramingou e eu senti minhas pernas amolecerem.
“Desculpe.” Soltei a primeira coisa que veio em minha cabeça e ele sorriu com uma pontada de dor.
“Você devia se desculpar mesmo. Por sua causa larguei quase duzentos convidados dentro de uma igreja.”
Um batimento cardíaco me escapou com suas palavras e senti minha boca abrir surpresa.
“Você o que?”
Seus olhos anuviados me atingiram novamente e um leve formigar dançou dentro de mim na base do meu ventre. Uma de suas mãos segurou firme em minha nuca ao passo que seus olhos seguiram para meus lábios e sorriu sacudindo a cabeça antes de abaixar seus lábios sobre os meus. A suave dança em meu ventre espalhou sem permissão, alcançando todos meus membros se tornando algo elétrico que vinha aquecendo meu corpo.
Por alguns instantes tudo que ele fez foi pressionar a boca contra a minha, mantendo-se parado como se testasse a textura. A revolução dentro de mim me obrigou a agarrar seus ombros procurando aliviar todo o curto circuito acontecendo e foi necessário meus dedos roçarem em seu cabelo para ele lamber meus lábios com toda delicadeza que lhe cabia. Ofeguei contra seus lábios sentindo a realização me acertar, ele realmente estava me beijando.
Estava sem fôlego e grudada com firmeza contra seu peito quando enfim nossos lábios conseguiram encontrar um caminho para fora daquele beijo. Abri meus olhos lentamente o percebendo ainda de olhos fechados e com um sorriso bobo.
“E eu que achei que não cometeria o mesmo erro duas vezes.” Sussurrei brincando com uma lembrança de nossa primeira conversa quando dei um fora nele falando que ele era igual o cara que havia me dado um dos piores encontros do mundo.
“Eu avisei que era um erro diferente. Um erro que levou um soco na cara quando decidiu vir até você agora.”
“Desculpe. Não queria ter feito nada disso.” Murmurei e logo em seguida sacudi o pensamento o avaliando com clareza. “Não, eu queria ter feito sim, mas não desse jeito.”
“Você é terrível, garota.”
“Apolline deve me odiar.”
“Com certeza. E a mim também.” Piscou e me deu um beijinho antes de rir. “Ela deve estar nesse exato momento enfiando alfinetes nos nossos bonecos.”
“Ai, cala boca!” O empurrei de leve o que o fez agarrar-se ainda mais a mim.
, eu preciso confessar uma coisa.”
“Confesse.”
“Eu também amo você.”
O respondi com um beijo que quase o derrubou, não conseguindo disfarçar o sorriso satisfeito em meu rosto.
Metade de meu coração dizia que era errado estar tão feliz sendo que havia feito uma coisa muito feia, destruí um casamento que nem havia começado e estava me beijando com o noivo. Mas nada parecia mais certo do que os lábios de contra os meus e suas mãos correndo por minha cintura.
“Dez anos, … Meu Deus!” usei um falso tom indignado rindo da careta que ele fez.
“É, eu sou lerdo, mas pelo menos sei que no Brasil eles falam português.”
“Você realmente quer começar isso dormindo no sofá?”
“Jamais. Estou aqui pra correr atrás do tempo que perdi.”
Dito isso fui levantada no chão e guiada às cegas para o quarto. Meu celular tocou a noite inteira, assim como o de , mas não tivemos a chance de ter vontade de atendê-los. Me vi na manhã seguinte acordando plena e feliz sem me importar de ter esquecido de fechar as cortinas e o sol estar inundando tudo, meus olhos estavam presos no perfil adormecido do moreno ao meu lado, seus lábios levemente repuxados como se estivesse em um sonho bom, as pintas salpicando suas costas formando um ligue os pontos que eu queria jogar. Acariciei sua bochecha o ouvindo ronronar em resposta e percebi que estava no paraíso.
Amor era uma coisa engraçada, a princípio pensei que seria toda aquela coisa miserável e sofrida, mas a simples visão do homem deitado em minha cama sorrindo de olhos fechados inundava meu coração com algo desconhecido. Era misterioso e convidativo, tentava soar perigoso, mas era adorável como um gatinho. O amor era morno como o sol que nos abraçava e eu o queria para sempre e assim fiz.
Ajeitei-me em seus braços e permaneci ao seu lado até acordar, tendo um déjà-vu como se já tivesse estado ali antes me dando a sensação de que isso vinha de outras vidas. Sorri abobada na certeza de que estava no lugar certo.





FIM



Nota da autora:O cardápio do dia no meu restaurante de fic é sempre drama: à milanesa, à dorê, à moda da casa. Não importa os outros ingredientes, eu quero é dar um sofrida até com musica de love agitadinha. Então é noix™ emplacando mais um ficstape, enaltecendo os a banda mais emo do Arizona e chorando pedindo pra organizadora “pelo amor de Deus, me dá mais um dia pra eu terminar essa história”. Vocês não sabem o que é sofrer pra escrever um paragrafo depois de meses procrastinando. (cries in escritora sofrida language). Effy & Charlie foi um dos meus casais preferidos de escrever, esperam que tenham curtido a veia mexicana dramática da nossa mocinha. Você pode ler como eles se conheceram em “03. Lovely” desse mesmo ficstape. Então já sabem da regrinha: se gostou comenta e divide com seu squad, se não gostou divide também porque amigas que odeiam fics juntas permanecem juntas.



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