Fanfic finalizada

Capítulo único

Foram as nuvens pesadas que anunciaram pelos quatro cantos de Emberfall que uma grande tempestade estava a caminho. As árvores chicoteavam-se umas contra as outras em resultado do grande vendaval que tomava conta do ambiente. Os moradores do pequeno reino haviam se preparado nas poucas horas que tiveram para o grande baque que a água causaria em suas terras. A decepção era notável no rosto dos agricultores que dependiam do pouco que tinham para sobreviver. Os pássaros voando cada vez mais baixo em busca de algum abrigo, foi o que levou a recolher algumas ervas e legumes de sua pequena horta na intenção de se manter preparada para os próximos dias. Horas antes ela havia recolhido seus cristais e seus grimórios do banho de sol diário que eles eram induzidos para a renovação constante de suas energias. Porém assim que seus olhos se encontraram com a pequena janela de sua cabana, ela se arrependeu amargamente de não ter sido mais atenta e ter visto que algumas de suas vestes ainda estavam à mercê do clima externo.
Com grande insatisfação e tristeza, ela se viu obrigada a ir buscar as peças de roupa. No instante em que a porta fora aberta os longos cabelos de cor acobreada da mulher foram jogados contra seu rosto e ela travou uma pequena batalha contra o vento até alcançar seu objetivo. Ela só teve completa noção da força e potência do vento quando seus olhos começaram a lacrimejar e ela teve dificuldade em enxergar o campo em sua frente. Felizmente ela não demorou a recolher seus pertences e logo já estava de volta ao aconchego de seu lar. Como se algo a tivesse chamado do lado se fora, seus olhos correram até a porta que estava prestes a ser fechada e ela jurou ver algo se mover em meio aos arbustos na orla da floresta. Como havia passado semanas ouvindo histórias de homens que voltaram dos mortos para atacar os vivos, ela logo suspeitou que fosse um destes tão temidos vampiros. Mas também pouco acreditava na existência dos mesmos, provavelmente isso se tornaria uma desculpa de Vicar para tornar seu ódio contra as bruxas real. Entretanto o olhar que sentiu queimar sobre si fora tão intenso que ela decidiu levantar um feitiço de proteção ao redor de sua casa. Conforme as palavras em latim deixavam seus lábios, ela conseguia visualizar pequenas ondas vermelhas banharem todo o ambiente. Quando se sentiu segura o suficiente ela interrompeu o pequeno mantra e foi até a única porta de sua cabana para checar se algo anormal ainda rondava a Clareira. Sempre achou melhor prevenir do que remediar.
Imediatamente seus pensamentos se voltaram para Vicar e sua intolerância direcionada às pessoas que faziam da clareira sua morada. Vicar Tyon III, atual rei de Emberfall, era um homem absurdamente desumano e retrógrado. Preocupava-se apenas com guerras que nunca chegavam e em cobrar impostos altos demais dos moradores de seu reino. acreditava que metade do ódio que ele tinha das mulheres da clareira dava-se ao fato de que ele não poderia cobrar impostos das mesmas, já que a Clareira ficava fora dos limites de Emberfall. Costumava ouvir dos mais velhos que Vicar Tyon era de longe o pior líder que Emberfall tivera em todos os seus anos de existência. Os outros reis eram melhores em seus piores dias do que Vicar já fora em seus melhores. Emberfall sempre fora muito bem sucedida na venda de algodão, trigo e óleo; mas com os conflitos desnecessários que o rei sempre trouxera grande parcela de seus compradores cortaram laços com os produtos daquele reino. Cada dia que se passava aquele homem se tornava cada vez mais incompetente de liderar um reino como Emberfall. Ele estava levando o local à falência.
Fugindo de seus devaneios, decidiu preparar um ensopado com os legumes que colheu enquanto o sol ainda se fazia presente. Ao cortar e descascar os alimentos ela recordou de ter reparado no lago mais cedo, a água cristalina havia dado lugar a um roxo escuro que manchava as plantas que o tocavam. Todas as bruxas ficaram tensas ao ver aquilo. A natureza estava tentando alertá-las de que grandes mudanças estavam para acontecer. Novamente sendo afastada de seus pensamentos, ela prestou atenção na água que começou a ferver e colocou os legumes cortados dentro do pequeno caldeirão. se sentia grata por não ter que deixar a Clareira com frequência para adquirir suprimentos, ficava feliz em ter liberdade de usar sua magia para cultivar a maior parte de seus alimentos.
Enquanto o ensopado cozinhava começou a organizar as coisas dentro de sua cabana. O local não era grande e maior parte de sua cor provinha de um marrom escuro que acompanhava a madeira dos elementos predominantes que compunham a aparência do ambiente. Apesar da cor escura tomar grande parte, certos adornos quebravam o padrão; o tapete de pele de urso que ganhou de uma conhecida, um grande vaso de flores, e no canto mais afastado da cabana uma singela cama com um cobertor branco e grosso. Sentia-se bastante feliz em ter passado um tempo economizando tudo o que podia para conseguir comprar o cobertor. Ela havia presenciado incontáveis noites e dias em que o frio da Clareira fora insuportável e hoje ela se sentia grata por cada centavo que guardou, já que agora ela conseguia se manter aquecida o suficiente naquela época do ano, o inverno sempre foi seu maior inimigo.
As lâmpadas estavam com óleo que duraria por mais de um dia e as velas estavam sempre postas ao lado de sua cama. Juntou seus grimórios e os colocou sobre sua cama, sempre gostou de estudar enquanto comia e estava sempre procurando aprimorar seus feitiços e conhecimentos. Algo que sempre intrigou foi o fato da forma astral de sua magia ser tão diferente da de outras bruxas da Clareira, o vermelho escarlate que sua magia emanava sempre a fez questionar o fundamento daquilo. A magia das outras era de um amarelo vibrante. sempre se perguntou o motivo de uma diferença tão gritante já que sempre fora daquele clã. Gnar Hitara já havia lhe explicado que isso deveria resultado de alguma bruxa mestiça na sua linhagem, mas sempre duvidou da explicação da mais velha. Com a falta de confiança nas palavras da mulher, ela estava sempre à procura livros e pessoas que pudessem ajudá-la a entender melhor o que acontecia consigo.
No instante em que o ensopado ficou pronto, ela separou uma porção para si e logo já estava confortável em sua cama com um grimório em seu alcanço enquanto os toques secos das primeiras gotas de chuva se encontraram com o telhado da cabana. só esperava que o resto dos moradores estivessem preparados para as mudanças que logo adentrariam os campos de Emberfall.

O ar da taverna era quente e úmido resultado da grande quantidade de pessoas estavam ali. Falas e risadas altas preenchiam o ambiente e afastavam qualquer tipo de silêncio que pretendesse se fazer presente. , acompanhado de seus colegas, também permitia que sua mente se esquecesse de qualquer problema que poderia lhe rondar do outro lado da daquela porta. Vários homens já estavam cambaleando e as pouquíssimas mulheres presentes haviam se tornado alvo de suas palavras e ações.
As luzes trêmulas das lamparinas deixavam o ambiente ainda mais aconchegante e simples. Com a quantidade de pessoas que estavam ali, se perguntou quão bem Farir faturaria naquela noite. Quase nenhuma daquelas pessoas se preocupavam o bastante com o balancear agressivo das árvores em seu horizonte e nem com a força que o vento chicoteava as paredes do pequeno estabelecimento que os abrigava. Mesmo que eles não percebessem, as paredes se tornaram mais geladas e o teto tremia a cada corte que o vendaval largava sobre si. Foi apenas quando os primeiros pingos da chuva se lançaram contra as janelas da taverna que um silêncio apaziguou todas as pessoas presentes naquele momento e por alguns segundos era possível ouvir o roer dos ratos por baixo dos balcões.
Fazia alguns anos desde que Emberfall se deparou com uma tempestade daquele porte, ainda duvidava que metade daquelas pessoas estavam sóbrias o suficiente para perceber o que acontecia em seu redor. Enquanto as pessoas prestavam atenção nas pequenas coisas que começava a acontecer, uma figura encapuzada havia caminhado despercebida por toda a taverna e por inúmeros minutos apenas observava os corpos ao seu redor. Ninguém havia notado sua presença e nem o que ela significava, mas isso não era um problema, até gostava de passar despercebido quando procurava por novas vítimas. As pessoas certas eram sempre encontradas nestes momentos. Porém foi em uma fração de segundo que sentiu olhos o acompanhando e ao virar-se para encontrar seu espectador, um sorriso macabro pintou sua feição.
não percebeu quanto tempo passou encarando a pessoa desconhecida que se movia com tamanha destreza, mas assim que seus olhos se encontraram com os dela um arrepio corriqueiro se apossou de sua espinha e ele desejou ter desviado o olhar a tempo.
Estava feito, pensou. e eram os escolhidos para protagonizar a grande história que cairia sobre o reino de Vicar Tyon III. Agora ele só precisava colocar as peças certas em movimento para que o grande show pudesse começar. Talvez nesta encarnação e teriam um final diferente.
[...]
O choque estava estampado no rosto dos moradores de Emberfall aquela manhã. Um grande cartaz com um anúncio real se encontrava pendurado na parede mais alta para que todos, os que soubessem ler, pudessem estar cientes das vontades do rei. As pessoas sempre foram imensamente temerosas sobre os anúncios da Coroa, nada muito positivo vinha deles. O rei que era conhecido entre os plebeus por travar batalhas desnecessárias, constantemente colocava a população em risco, estava sempre à procura de novos homens para seu exército.
No entanto, desta vez o público alvo de suas ameaças eram as mulheres que faziam da clareira sua morada. De acordo com o que dizia o cartaz, todas as mulheres que fossem pegas ou suspeitas de praticar qualquer tipo de feitiçaria deveriam ser entregues a um certo grupo de soldados e qualquer um que tentasse as ajudar seria considerado cúmplice de traição. Segundo o que as palavras tentavam justificar, a grande tempestade que trouxera grande prejuízo era resultado das práticas ilícitas daquelas pessoas.
Entretanto a maioria das pessoas se mostrassem surpresas e preocupadas com a segurança daquelas mulheres e crianças que sempre estavam dispostas a ajudar outras pessoas com seus conhecimentos específicos sobre ervas e chás que curavam inúmeras doenças, certa parcela das pessoas que liam o cartaz não conseguiam se preocupar o suficiente. Na maioria das vezes, essas eram as mesmas pessoas que sempre estavam de acordo com o que Vicar decidia e nem questionavam a verdadeira motivação por trás delas. Achavam que o rei estava correto mesmo que isso os levassem à falência.
evitou se fazer notável diante daquelas pessoas e tomou todo o cuidado possível para não ser vista saindo da floresta. Para a infelicidade da mulher, ela precisou ir até o vilarejo aquela manhã na intenção de adquirir alguns alimentos que não conseguia cultivar. Se infiltrou dentre o monteado de pessoas para tentar ler e entender todos os murmúrios que começavam a correr entre as pessoas até se tornar um alto zunido. No momento em que seus olhos se encontraram com o cartaz, ela sentiu sua garganta fechar e um nó se formar na boca de seu estômago. Instantaneamente ela sentiu como se toda atenção tivesse sido atraída para ela mesmo que soubesse que era apenas coisa da sua cabeça. As pessoas estavam preocupadas demais com o que aconteceria com quem fosse pego, para perceberem o pequeno dilema em que se encontrava.
Ainda se esforçando ao máximo para não ser notada por ninguém, ela se afastou da multidão e esperou por alguns segundos para caminhar até a orla da floresta e começar a refazer o caminho até a Clareira. Ela precisava avisar Gnar sobre o anúncio.
Conforme seus pés afundavam na terra úmida da floresta, ela conseguia sentir que a energia da Mata ao seu redor havia mudado e cada pequeno ser que habitava dentre os arbustos e grandes árvores tinha seus olhos presos em seus movimentos. Ela desviava dos galhos mais baixos que entravam em seu caminho e se perguntava o que Gnar faria. A mulher sempre deixou claro para as outras bruxas que não usaria magia para proteger a Clareira dos seres humanos, eles não eram a ameaça e qualquer bruxa que usasse magia para mudar a energia da clareira ou no corpo astral da mesma, teria que lidar com as consequências que cairiam sobre si.
O ar úmido da floresta deixou os pelos dos braços e nuca de eriçados e a velocidade em que ela andava fazia com que seus olhos ardessem e seus pulmões clamassem por ar. Desta vez ela sabia que o Conselho precisava tomar uma decisão séria para que todos conseguissem se manter em segurança. Por um remoto momento ela sentiu um alívio passar por seu corpo ao escutar leves risadas poucos metros a sua frente e soube que já estava no limite da floresta. Era ali que separava a Clareira de Emberfall.
Assim que ela entrou na clareira, toda a energia densa e pesada que a floresta derramou sobre ela se dissipou. não demorou para caminhar em direção à cabana de Gnar Hitara para deixá-la a par do acontecido. Ela nem prestou atenção nas pessoas que a encaravam desde que ela saiu da floresta. Por um momento, ela desejou não ter saído do aconchego de sua cama para ir até o vilarejo. Desejou estar como a maioria de suas irmãs que não faziam ideia do que assolavam seus destinos. Desejava não ter conhecimento das possíveis coisas que poderiam acontecer.
A última vez em que um anúncio parecido com aquele fora revelado, o clã de bruxas de Cryptfair fora o alvo e todas as mulheres que foram pegas suspeitas de bruxaria tiveram um destino terrível e nenhuma delas mereceu morrer daquela forma. Até porque muitas das mulheres que morreram não eram nem bruxas.
só notou que estava sendo observada quando finalmente alcançou a casa de Gnar. A grande porta de madeira nunca parecera tão amedrontadora quanto era agora. Mesmo com todo o receio que ele criou repentinamente da reação da mais velha, ela respirou algumas vezes antes de levar o punho fechado até a porta e dar três toques seguidos. Não demorou muito até que um ruído seco se fez presente e no momento seguinte uma figura se apossou da pequena brecha feita entre a porta e a soleira. Gnar Hitara tinha longos cabelos cinza que sempre aparentavam estar mais bagunçados do que realmente estavam; o rosto magro e fino lhe dava a aparência mais séria; o olhar que os olhos azuis fundos e grandes possuíam sempre deixavam qualquer um mais tenso. A mulher era alta e magra o que ainda lhe deixava com um ar de superioridade absurdo diante das outras bruxas.
Gnar sempre prezou pelo bem-estar de seu clã. Sua prioridade sempre esteve voltada para as bruxas sob sua responsabilidade. Inúmeras vezes ela fora chamada para ajudar outros clãs com seus problemas, mas nunca o fizera. Sabia que deveria dispor seus poderes e conhecimentos para conseguir alianças com outras bruxas, mas não lhe agradava a ideia de ter que colocar as suas na outra extremidade da espada. Por mais de duzentos anos a liderança e instrução do clã de bruxas de Emberfall esteve na linhagem de Hitara e foram raríssimas as vezes em que a segurança fora posta em jogo.
tinha seus olhos fixos na mulher em sua frente e ela só deixou seus ombros relaxarem assim que a mais velha deu abertura o suficiente para que ela pudesse adentrar a cabana. O interior do local não era completamente diferente da sua, mas ainda assim carregava suas próprias peculiaridades. Ao seu redor, pôde perceber que a maioria dos itens eram relacionados aos ancestrais e aparentemente alguns livros desconhecidos. Bem mais escura que sua própria cabana, as cortinas de um material pesado impediam completamente a entrada dos raios de sol que se faziam presentes do lado de fora.
Gnar, por outro lado, tinha seu olhar preso em cada movimento de e esperava alguma explicação da mais nova para a visita inesperada. Percebendo que Gnar estava esperando alguma reação dela, direcionou sua atenção até a mesma.
— Vicar fez um anúncio essa manhã – começou ela e, por estar um pouco apreensiva, logo desviou seu olhar de Gnar. – Era direcionado a nós. Toda mulher que for pega ou suspeita de praticar bruxaria deverá ser entregue à Coroa.
Por um momento jurou ter visto o olhar confiante de Gnar tremular, mas no segundo seguinte ela já tinha consigo toda a segurança que sempre exibia. As bruxas de Emberfall sempre se mantiveram afastadas dos outros moradores na esperança de que a ira da Coroa não caísse sobre elas. Mas de certa forma Gnar sempre soube que este dia chegaria. Infelizmente seu clã não seria ignorado por Vicar. A mais velha ainda observava uma impaciente e ela conseguia ver nos olhos da menina a forma com que o que descobriu havia lhe afetado. A própria Gnar não conseguia focar-se em apenas um pensamento, sua mente se tornou corriqueira e intrigada em questão de segundos. Por mais que tentasse ignorar a ideia, ela sabia que desta vez ela teria que usar dos feitiços de proteção para manter suas filhas a salvo.
— Como ficou sabendo disso ? – Questionou Gnar ao se sentar em uma cadeira atrás de si.
— Eu fui até o vilarejo há pouco. Está tudo um caos, todos estavam reunidos em volta da torre central para poder ler – anunciou com a voz mais trêmula que desejara.
— Muito bem – iniciou Hitara com um suspiro pesado. – Você poderia informar Fyar e Sistia que preciso da presença delas? Muito obrigada por ter vindo direto a mim e não ter comentado nada com as outras – agradeceu Gnar com um singelo sorriso no canto dos lábios. – Não seria bom nenhum tipo de pânico nessa hora. Você pode ir agora, .
não esperou muito para que pudesse sair dos aposentos de Gnar. Assim que estava de volta ao lado exterior, ela foi à procura das outras duas bruxas para deixá-las cientes do pedido da anciã. Agora estava nas mãos do Conselho. Ao caminhar de volta para sua cabana, percebeu o quão sérias as coisas seriam a partir de agora e só desejava que o Conselho escolhesse a decisão mais sensata. Desta vez a Clareira precisaria ser protegida com magia, era a única esperança. Não demoraria muito para os homens de Vicar começarem a vasculhar a floresta. Era o início de um trágico fim.
[...]
Estranhamente aquela manhã amanheceu mais aquecida que o normal. O sol brilhava alto e intenso desde que seus primeiros raios tocaram o chão e desde então sua presença sempre nunca fora ignorada. As crianças brincavam na margem do rio e as mulheres mais velhas estavam ocupadas com seus afazeres. A grama verde deixava a Clareira com um ar bem mais agradável que normalmente ela tinha. Era basicamente o dia perfeito.
levantou bem mais animada aquela manhã, sabia que deveria aproveitar todos dias que tinha pela frente da melhor maneira. E desde que foi até o vilarejo ela evitava passar muito tempo focada apenas no problema. Não era algo que estava em suas mãos para resolver.
A mulher estava na beira do rio e observava a sutileza que o mesmo corria. Ela sempre gostou de observar as pequenas coisas da natureza, isso sempre a acalmava. A forma em que a água respingava nas plantas ao seu alcance era bastante hipnotizante. Ela mal conseguia desfocar seus olhos das pequenas gotas que escapavam da correnteza.

Já fazia algum tempo que estava correndo, mas tinha certeza que não eram poucos minutos. Naquela manhã, ele tivera a brilhante ideia de ir até a floresta para descobrir o paradeiro dos mensageiros que estavam desaparecidos há mais de duas semanas. O homem achou que seria uma tarefa fácil e que no início da tarde já estaria de volta ao vilarejo, mas não demorou muito para ele encontrar três homens do reino de Oswald. Os homens estavam munidos de espadas e um deles tinha um arco e flechas.
fez o possível para se afastar o máximo que conseguia dos adversários, mas em algum lugar no meio do caminho, ele caiu do cavalo e desde então seguiu a pé. Ele arrependia-se amargamente de ter decidido ir sozinho. Mesmo que ainda tivesse uma vantagem de distância e já conhecesse a floresta, ele sabia que uma hora não aguentaria mais e nesse momento precisaria estar em um lugar seguro. Ainda que estivesse imensamente desesperado, conseguiu visualizar o esboço de um rio poucos metros a sua frente e apressou seus passos até lá. Porém seu momento de distração não lhe deixou perceber que uma flecha havia sido lançada em sua direção e ele só sentiu que fora atingido no ombro quando seu corpo se encontrou com o chão.
estava prestes a voltar para a própria cabana quando escutou, ao longe, um barulho extremante suspeito. Ela não fazia ideia do que poderia ser, mas algo a dizia que ela deveria checar ao menos. Com passos leves e sorrateiros, ela cruzou o rio e foi em busca da origem do som, porém teve que se manter atenta ao trotear de cavalos que ficava cada vez mais próximos. Os olhos dela correram toda a superfície esverdeada até serem atraídos para a silhueta masculina no chão. Ela teve que hesitar por longos segundos, sabia que homens eram proibidos na Clareira e que seu envolvimento poderia lhe trazer graves consequências, mas o problema era que ela já estava perto demais para voltar atrás.
— Se você não ficar quieto, terá que lidar com três costelas quebradas ao invés de duas — ela disse ao se abaixar ao lado do homem.
não sabia dizer se estava delirando ou havia desmaiado de dor. Mas no momento em que seu corpo foi ao chão, ele jurou ter visto uma mulher do outro lado do rio. Somente quando seus movimentos cessaram por vez, ele conseguiu focar nas dores de seu corpo. Ele tinha certeza que havia quebrado alguns ossos quando caiu do cavalo e agora com a dor latente no seu ombro ele soube que não teria mais forças para continuar correndo.
Leves passos se fizeram notáveis atrás dele e ele desistiu de lutar. Talvez se fingisse que estava morto, não fariam nada e voltariam para seu esconderijo estupido, pensou. Entretanto, tudo o que encontrou foi uma voz suave e agradável e mãos femininas que tocavam seus ombros. Podia ver pelo canto dos olhos uma cortina de cabelos próximos ao seu rosto e quando foi forçado a se levantar, um grunhido alto escapou de seus lábios. se via ficando cada vez mais fraco e mal conseguia mover suas pernas para ajudar quem quer que fosse a lhe carregar e entre um desses momentos, ele viu tudo ficar escuro.
estava tendo grande dificuldade em levar o homem consigo. Ela teve certeza de que o homem havia perdido a consciência quando os pés dele se tornaram imóveis e seu peso aumentou significativamente. Enquanto ela o levava de volta consigo para sua cabana, ela rezava para todos os seres celestiais para que nenhuma das outras vissem ela chegando. Mesmo tendo que entrar na Clareira pela parte mais escura da floresta, ela fez todo silêncio que seu corpo permitia. Era um grande risco.
[...]
O homem ainda se encontrava inconsciente sobre a cama da mulher enquanto a mesma checava seus ferimentos. havia passado um bom tempo preparando sumos e chás que ela sabia que o ajudariam com a dor e os ferimentos. Ela conseguia ver uma grande ferida aberta em seu ombro e, quando teve que tirar a blusa dele, ela reparou em um grande hematoma vermelho no lado direito de seu peito. Ela tinha plena certeza de que aquilo poderia ser curado com um simples feitiços, mas não queria arriscar mais do que já fizera. Usaria apenas os chás para amenizar as dores que ele sentiria e o sumo para a ferida aberta. Teria que ser o suficiente.
Ao abrir os olhos, pouco se lembrava das horas anteriores, a única coisa que vinha em sua mente era estar fugindo de três homens. Então quando observou o ambiente ao seu redor, ele ficou imediatamente em alerta, não fazia ideia de onde estava e o local não lhe parecia nada familiar. Ainda olhando ao redor ele conseguiu ver seus pertences ao lado da cama e, fazendo todo o silêncio que seu corpo dolorido deixava, ele levantou e pegou os mesmos.
No momento em que seus olhos ganharam um novo campo de visão, ele pôde ver uma mulher ajoelhada na frente de uma lareira e recordou que havia visto uma mulher antes de apagar. Isso fez com que ele relaxasse um pouco, mas ainda assim ele se manteve pronto para qualquer imprevisto.
— Você deveria continuar descansando — disse ao perceber que ele havia se levantado.
— Onde eu estou? — Direto e com a voz um tanto falha, ele perguntou.
— Você está na floresta — ela disse e se virou para observá-lo.
ainda estava incerto da resposta da mulher, ele caminhou até a porta e tentou abrir a mesma, porém estava trancada.
— Eu também não faria isso se fosse você — disse ao encará-lo. — Aqueles homens ainda podem estar lá fora esperando por você.
Sem ter muito mais o que fazer e sabendo que ela tinha razão, ele voltou para a cama, mas apenas se sentou. Não havia pensando no risco que ela havia se colocado para ajudá-lo, mas sabia que sair daquele lugar agora não lhe traria problemas apenas com os homens. Aquela mulher não estava lhe dizendo nada, mas ele estava cansado demais para tentar contrariar a mesma.
Ao parar para prestar atenção no que ela fazia, ele a viu mexer um caldeirão com movimentos sincronizados sob as chamas da lareira e se perguntou o que ela fazia. Ele pode reparar que ela havia colocado algo sobre o ferimento em seu ombro e agradeceu mentalmente a atenção dela, já que a dor havia diminuído bastante.
sentia o olhar dele queimando sobre suas costas, mas ela não sentia vontade nenhuma de virar para ele. Ela não havia pensando no quão imprudente havia sido. Poucos dias atrás Vicar havia declarado que iniciaria uma caça às bruxas e ela traz para a Clareira um homem desconhecido e com vestes muito nobres para ser apenas um camponês.
Após a pequena troca de palavras entre os dois, serviu e a si mesma da sopa que preparava enquanto ele estava apagado. Ambos ficaram presos demais em seus próprios mundos para que pudessem manter qualquer tipo de diálogo ou interação. se perguntava onde estava e ainda tinha muitas dúvidas se havia tomado a decisão correta em ajudá-lo.
O que eles não perceberam era que uma figura os observava desde o momento em que se encontraram. Eles não faziam ideia de que estavam sendo manipulados para dar início a um grande marco no destino de Emberfall.
Conforme os dias iam passando ficava cada vez mais familiarizado e confortável com o lugar em que estava, mesmo que tivesse cogitado fugir no meio das noites. Por algum motivo sempre que ele tentava fugir, ele desistia antes de chegar na porta. também tinha suas inseguranças em relação a presença do rapaz em sua casa e muitas vezes pensou em mandá-lo de volta para a floresta, mas nunca conseguira fazê-lo. Por fim acabaram se acostumando com a presença do outro.
Foi apenas no fim do segundo dia que eles decidiram em conversar novamente, trocaram nomes e algumas informações superficiais. revelou ter vinte e sete anos e ser um dos soldados de Vicar, o que deixou muito incomodada já que ela sabia que se ele tentasse algo contra elas Gnar teria que intervir e isso não seria bom. Entretanto a garantiu que não tentaria nada contra elas momentos após ela revelar por alto onde exatamente eles estavam. Ainda assim ela lhe garantiu que se ele tentasse algo contra a segurança dela e das outras ela não iria hesitar em se defender.
A convivência deles fora se tornando cada vez mais fácil e eles estavam começando a gostar da rotina que haviam criado. já não se sentia tão sozinha e estava, finalmente, conseguindo se desligar dos problemas reais. O homem sabia que não poderia ficar ali para sempre e também sabia disso, mas eles aproveitariam o momento o quanto pudessem.
Incrivelmente as feridas de se curavam cada vez mais rápido que isso era uma surpresa até para que esperava essa melhora em, pelo menos, cinco dias. Ela manteve o hábito de cuidar dos ferimentos dele no fim de toda tarde e sempre tinha que mudar de assunto quando ele lhe perguntava a origem de seus conhecimentos sobre ervas e as fases da lua e sol. muitas vezes duvidou da atitude dela mas decidiu não fazer mais perguntas, não gostaria de parecer ingrato. Sabia que ela havia se colocado em risco para ampará-lo.
As coisas entre eles caminhavam de forma rápida e natural e eles mal conseguiam entender como haviam se conectado em tão pouco tempo. Do lado de fora, Gnar havia notado uma grande diferença no comportamento de e começara a observar a garota com mais cautela, estava claro que alguma coisa acontecia e por isso ela decidiu consultar seus búzios. Sabia que nada ficava escondido ali e agradecia aos conhecimentos que as grandes bruxas africanas lhe passaram sobre o Ifá. O olho que tudo vê e a boca que tudo fala.
Aquela noite, Gnar Hitara decidiu preparar a mesa com alguns incensos que trouxessem para perto de si apenas os espíritos bons e eliminassem qualquer tipo de energia negativa. Quando tudo ao seu redor estava pronto ela se sentou diante da mesa e com os dezesseis búzios nas mãos, ela fez uma prece para a deusa que era portadora da leitura dos mesmos; então finalmente Gnar os lançou à mesa. Porém, o que ela não esperava, era que todos eles caíssem com suas aberturas para baixo. Nenhum deles lhe mostrava nada e isso a espantou. Nunca em todos os anos em que ela dispusera do entendimento do mistério eles lhe negaram alguma resposta. Suspirando profundamente, ela tentou mais uma vez, porém obteve a mesma resposta.
[...]
As coisas haviam se intensificado nos últimos dias. Com o sumiço de , Vicar estava absurdamente irritadiço com a forma que seu exército estava se planejando para a próxima batalha. era o estrategista de batalha e estar sem ele com uma batalha aos seus pés tornava tudo mais difícil e perigoso.
Vicar não poderia perder mais uma batalha. O fracasso não poderia nem passar por sua cabeça. O rei estava ciente da sua reputação entre os outros reinos e sabia que precisava mudar aquilo. Um dos grandes motivos de ter se virado contra aquele grupo de mulheres era a necessidade de poder dar ao seu exército uma vitória e tentar limpar seu nome entre os adversários. Sabia que seus homens estavam ficando cada vez mais desmotivados em terem que partir para uma nova batalha em que estavam fadados a perder. Logo eles se virariam contra ele e isso não poderia acontecer de forma alguma.
Entretanto naquela manhã e haviam passado as poucas horas desde que o sol nasceu conversando sobre tudo e todas as coisas que conseguiam pensar e trocaram inúmeras risadas das coisas sem sentido que surgiam durante a conversa. Eles estavam sentados lado a lado de frente para a pequena lareira que a cabana dispunha e ambos tinham uma xícara de chá nas mãos.
tinha sua cabeça apoiada nos joelhos e seus olhos estavam fixos em enquanto ele lhe contava alguma curiosidade sobre como é ser um soldado de grande escalão. As palavras saiam dos lábios de com uma facilidade e algumas vezes um sorriso cruzava os lábios dele quando uma memória agradável lhe vinha à mente. Ele sabia que nem sempre ser um soldado era bom e noventa por cento do seu tempo deveria ser dedicado ao reino, mas ainda assim haviam coisas boas que isso lhe dava; fora o status, claro.
A voz de dançava por toda a cabana de e, por incrível que pareça, ela estava começando a se sentir sonolenta ao ouvi-lo. Não que o motivo fosse a falta de interesse no que ele dizia, mas a voz do homem era calma e terna e não fazia muito tempo que haviam acordado. Quando se calou por um instante e levantou a cabeça para olhar para seu rosto, ela sentiu como se a atmosfera ao redor dela tivesse mudado. Tudo parecia estar mais agradável, o ambiente mais aquecido, o leve farfalhar das folhas do lado de fora já não tinha mais nenhum som para ela e ele parecia estar da mesma forma.
foi quem fez o primeiro movimento, sua cabeça se inclinou levemente para o lado dela e levou seus lábios aos dele. Naquele momento, eles haviam acabado de selar seus destinos e a figura encapuzada sorria largamente com isso. Finalmente iria acontecer.
[...]
As buscas por começaram a ficar mais intensa, mesmo que ele não soubesse que Vicar havia feito uma patrulha para ir atrás dele. Outros soldados eram dados como mortos de ficassem desaparecidos por dois dias, a terceira semana do desaparecimento de estava há dois dias de distância. Por outro lado, ele estava preocupado demais com outras coisas para se importar com sua vida antiga. Ele sabia que nunca vivera algo tão incrível e único antes como vinha acontecendo desde que conheceu . Há todos os momentos ambos se descobriam novamente um no outro e isso só os deixava mais instigados a continuarem seguindo essa intuição de que deveriam permanecer lado a lado por mais tempo.
continuava tendo que lidar com a vida na Clareira e evitar com que suas outras companheiras suspeitassem da presença do soldado ali. Isso não poderia acontecer de forma alguma. Então, todas as noites ela fortificava os feitiços e mantras para que ela conseguisse manter todos afastados de sua cabana.
Numa noite de chuva serena e clima mais ameno, foi quando e se amaram fisicamente pela primeira vez. E naqueles momentos, durante trocas de toques e beijos, eles souberam que estavam fadados a ser um do outro até o fim de suas vidas.
O problema foi quando uma das outras bruxas suspeitou que algo estava errado com e decidiu manter os olhos bem abertos para a mulher. Uma mulher que as outras nunca confiaram o bastante, então ela sempre ficou mais afastada dos assuntos sérios da Clareira para que nada saísse dali. Kalir não tinha uma boa fama entre as bruxas, e somente foi aceita a pedido de sua mãe em leito de morte. A mulher era mais velha, mas tinha a mania de ir procurar atenção nos soldados do Reino e estava disposta a dar o que eles queriam em troco de alguma atenção. Então, quando ela viu a silhueta de um homem na pequena janela da casa de , ela imediatamente ligou um ponto ao outro e soube que aquele era .
[...]
Os dias que se seguiram pareciam estar normais, mas não estavam nada perto disso. Kalir já havia ido em busca dos homens do rei para ratear sua informação em troca de alguma migalha. E desde que Vicar soube dessa notícia, ele ordenou que três de seus homens montassem guarda próximo ao acesso da cabana de . Vicar foi rápido e sorrateiro ao fazer com que seus homens ficassem atentos à Clareira e tudo ao redor do local. Mal sabia Kalir que havia dado ao rei a desculpa que ele precisava para atacar as bruxas e se explicar para a cidade.
Foi numa noite fria que os primeiros gritos vieram, estranhamente, Gnar se encontrava acordada e escutava todos os sons ao seu redor. A anciã sabia o que aquilo significava e por mais doloroso que fosse, ela fora avisada a não intervir. Teria de assistir todo seu clã ser brutalmente assassinado para que o destino se cumprisse.
Gritos agoniados e grunhidos de dor eram ouvidos a metros de distância e e se vestiram rapidamente para ver o que acontecia. Assim que a porta da cabana da bruxa fora aberta, eles se deparam com uma paisagem desesperadora. Alguns corpos já estavam inanimados no chão e muito sangue poderia ser visto sobre a grama verde. Olhando ao redor, conseguia reconhecer um rosto ou outro que tentava escapar da fúria dos soldados. se encontrava tão perdido quanto todas as pessoas inocentes que estavam sendo mortas naquela noite. Sua mão imediatamente foi ao encontro da mulher ao seu lado e ele começou a puxá-la em direção à Floresta. Eles tinham que sair dali.
— Nós precisamos ir, — começou ele, ainda tentando puxá-la consigo. — Não temos muito tempo.
— Não podemos ir agora, eu preciso ajudá-las — rebateu a mulher que já começava a gesticular com as mãos e uma forma vermelha se formava entre elas.
— Não tem muito o que fazer aqui, . Nós temos que sair daqui agora — reforçou o homem e com muito custo viu a mulher ceder.
— Mas eu preciso ver alguém antes de irmos. Vá na frente, eu encontro você lá — olhou-o nos olhos e segurou as mãos do rapaz — No lugar em que te encontrei pela primeira vez.
, não é uma boa ideia. Você tem que sair daqui agora, eles não podem ver você ou... — Ele dizia, mas foi interrompido pelos lábios da mulher que entraram em contato com os seus.
— Vá, . Eu encontrarei você lá — ela afirmou e sem dar tempo a ele para rebater, partiu sem dizer mais nada.
As pernas dela já ardiam de tanto esforço que fazia para desviar dos soldados e caminhar até seu destino. Sabia que não poderia deixar a Clareira sem fazer isso. Nunca em sua vida, a cabana de Gnar esteve tão distante e ela sempre sentia como se uma faca atravessasse seu corpo quando escutava outra pessoa morrer próximo dela. Ela não imaginava que isso aconteceria dessa forma, mas só desejava que tudo acabasse logo. No momento em que ela avistou a cabana de Hitara, ela sentiu a garganta fechar. Parecia estar completamente intocada, mas ela sabia que não encontraria a anciã ali no momento em que viu a porta escancarada. Assim que atravessou a soleira, ela desejou não o ter feito. O corpo sem vida de Gnar Hitara encontrava-se decapitado sobre sua mesa de jogos e ao lado de um grimório, a cabeça dela estava. Era avassaladora a sensação que banhava o peito e a cabeça de , uma das únicas fontes de segurança e maternidade que ela já tivera encontrava-se daquela forma.
Mesmo encontrando-se ainda mais fraca, ela saiu como um raio da casa de Gnar e disparou em direção à Floresta. Tinha que encontrar e saírem das redondezas, não poderiam permanecer tão próximos dali. Conforme corria, se sentiu em um dejavu. Os galhos cortavam seu rosto conforme ela corria e inúmeras pedras machucavam a sola de seus pés, mas por nenhum momento ela deixou que isso a impedisse de alcançar seu destino. Ela precisava encontrá-lo antes de alguém encontrá-la.
tinha as mãos impacientes, mas preparadas para uma luta corpo a corpo ou à espada. Ele não conseguia tirar a possibilidade de que não conseguiria sair de lá da cabeça, sabia que a ação dela havia sido imprudente, mas agora não havia muito o que pudesse fazer. Voltar lá era suicídio. Ele esperaria tempo o suficiente até que ela aparecesse.
Foi o som rude de galhos quebrando que o acordou do pequeno transe em que havia entrado, mas seu coração se aliviou quando ele viu o balançar dos cabelos acobreados de . O impacto do corpo dela no dele foi um tanto quanto inesperado, mas sem desperdiçar muito tempo, os braços de já se enroscavam na figura dela.
Eles se olharam por um instante e com um leve acenar de cabeça, eles decidiram o que fazer. As mãos de faziam desenhos abstratos e invisíveis aos olhos de , mas ele sabia bem o que ela estava fazendo. E ficaria feliz em saber que funcionou até os dias atuais.
Pouco se sabe do paradeiro de e depois daquele momento. Ninguém nunca mais ouviu falar deles e Emberfall foi completamente apagada da história, tanto que não existem registros de Vicar e o massacre que comandou contra as bruxas. Algumas bruxas que sabem do ocorrido e conseguiram escapar da Clareira, contam como uma bruxa poderosíssima e um cavaleiro do rei fugiram juntos. Algumas pessoas acham os dois extremamente egoístas por pensarem apenas em si, outros acham que não tinha muito que e poderiam ter feito.
Para todo o resto da humanidade Emberfall é apenas uma cidade fictícia e que não poderia ter existido, mas poucos anos depois já pararam para se perguntar o porquê de existirem tão poucos registros sobre 1732, o máximo que você acha é sobre a epidemia se vampiros na Europa (esses que nunca chegaram a Emberfall).
Mas para conclusão, e tiveram anos felizes até que ele morreu devido a uma doença respiratória que, apesar de várias tentativas, a bruxa não conseguiu salvá-lo. Trinta e nove anos depois, , cansada de viver sozinha e com medo de todos, decidiu se afastar de toda a população e ninguém nunca soube do paradeiro da mulher. Existem pessoas que dizem que ela ainda pode estar viva, mas quando a lenda corre, muitos discordam. Talvez ela esteja, talvez não. Talvez e realmente nunca existiram. Nunca saberemos a verdade sobre isso...

My rose garden dreams, set on fire by fiends
And all my black beaches (are ruined)
My celluloid scenes are torn at the seams
And I fall to pieces






Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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