04. exile

Finalizada em: 02/02/2021

Capítulo Único

A noite fria da cidade de Nova York era iluminada pelas luzes que percorriam por suas ruas e esquinas, clareando cada alma e cada coração que por ali vagava. “Cidade das luzes”. Uma em especial brilhava mais forte em Cornelia St., mais precisamente no quinto andar do prédio 2107. Sem muito esforço, conseguiria ver na janela, uma garota de cabelos longos segurando uma taça de vinho trocando olhares com as estrelas, ela não sabia se ficava feliz por ter finalmente alugado aquele apartamento ou se ficava triste pelo mesmo motivo.
- Finalmente, residente da melhor cidade do mundo! - um rapaz de cabelos loiros disse para a garota, tirando um leve sorriso de seus lábios. Sua gata pulou na poltrona ao seu lado e miou, pelo menos elas tinham uma a outra no final do dia. A garota acariciou os pelos de sua companheira.
Ela sempre quisera morar ali, era um sonho antigo. Um sonho compartilhado com outra pessoa que se encontrava naquele apartamento também, mas esse já não trouxe nenhuma bagagem e não iria fazê-lo. A comemoração do aluguel reunia todos seus amigos, todos alegres, bebendo, esquecendo por algumas horas todos os problemas que os cercava porta a fora.
Menos um.
O garoto de cabelos escuros do outro lado da sala, bebendo uma garrafa de cerveja, olhava de relance pra garota de cabelos longos, pensando que um dia aquela mão que segurava a taça já estivera em seus cabelos e hoje se encontrava distante, como se aquilo nunca tivesse acontecido. Dois estranhos que se conheciam mais do que poderiam dizer, o silêncio e o olhar diziam muito. O garoto sabia que aquela dor que sentia era culpa dele mesmo. Sabia que sua indecisão machucava igualmente à sua distância da menina. Talvez ele não se perdoasse por isso.
Seus olhos se encontraram e ela sorriu de leve, ele desviou o olhar; “vai ser melhor assim, vai ser melhor para nós dois”, pensou. Mas o que mais queria era abraçá-la, senti-la novamente em seus braços e sentir o perfume de seus cabelos que o deixava embriagado, queria entrelaçar seus dedos das mãos e ouvi-la sussurrar frases que mais pareciam poemas ao pé do seu ouvido. Olhou triste para seus pés devido ao pensamento angustiante. Odiava pensar que tinha magoado aquele coração e feito seus olhos derrubarem lágrimas. Odiava pensar que os dois se machucaram dessa forma.
As horas passaram lentas para aqueles dois corações angustiados e inquietos. Seus amigos estavam indo embora, todos tinham seus afazeres, aquele era só mais um dia de semana qualquer que encontraram uma desculpa pra tomar boas bebidas e ver rostos conhecidos. Aquele dia tinha uma comemoração especial; por mais que a garota estivesse realizada, seu coração estava despedaçado por dentro. Quando o garoto a viu levando o último casal de amigos até a porta para ir embora, respirou fundo, era sua hora de ir também. Odiava o fato de ter bebido e ter que dirigir.
A garota colocou uma mecha atrás da orelha e fechou a porta atrás de si. Ele era o único ali na frente dela e não sabia se aguentaria segurar as lágrimas por muito tempo mais, tentava esconder tudo o que sentia em palavras não ditas. Talvez seu maior defeito fosse esse. Talvez o maior defeito que o machucara durante todo esse tempo... E ela sabia. Tomou coragem para olhar o rapaz nos olhos e correu ao seu abraço.
- Me perdoa... – disse com a cabeça encostada no peito dele. Sentiu seu coração bater rápido.
- Eu já vi essa merda antes, . – ele respirou fundo, segurando as lágrimas. – Eu já vi essa merda de filme antes... – ele a encarou nos olhos. – E você sabe muito bem como ele vai acabar.
- Você não tá me dando oportunidade de sequer me defender, . – não conseguia olhar para aqueles olhos azuis que pareciam que iam inundar a qualquer momento. – Nunca foi uma questão de te substituir ou não te querer mais, nunca foi sobre isso. Eu fiz uma confusão aqui dentro e ignorei... Eu achei que ia ficar tudo bem.
- Você nunca quis uma oportunidade para se defender. – ela saiu do abraço e parou em sua frente. – Eu sempre procurei te ouvir e te entender, mas, , você não tentou em nenhum momento se defender, ou defender o que sentia.
- Eu tava ocupada demais tentando me equilibrar e não cair de uma altura muito grande do que a gente chamava de relacionamento.
- Não, você tava ocupada demais ignorando o fato de que tudo estava indo por água abaixo. – ele sentou na poltrona que tinha na sala. A poltrona que ele escolheu. – Você esqueceu que não dá para resolver situações assim de uma forma racional. Não tratamos como números algo que sentimos. Você sabe bem disso, no fundo você sabe. – passou as mãos pelo rosto e a encarou.
- Eu tentei te mostrar tudo o que eu sentia, , tudo. A cada música que eu dedicava, a cada pequeno gesto, mas você sempre esperou muito mais de mim e eu tentei. Se Deus estiver lá em cima, ele sabe que eu tentei e tô aqui tentando de novo. – ela se aproximou mais da poltrona onde ele estava.
- Ellie, talvez eu tenha sido realmente burro em não ter notado nada do que você tentou me demonstrar. – ele riu morbidamente. – Mas eu cairia, por você eu cairia, levantaria, passaria por todas as mais fodidas tempestades, por você eu faria... Porque eu sabia que ia te encontrar lá embaixo. – ela não conseguiu mais segurar o soluço de choro e tampou o rosto com as mãos. – Só não sabia que ia te encontrar indo embora.
- ! – ela gritou com se suplicasse por ele. – Eu nunca fui embora! Eu tô aqui na sua frente. – ela segurou as mãos dele. – Eu nunca quis...
- Chega, meu bem. – disse, se desvencilhando do toque dela e limpando as lágrimas que escorriam incansavelmente. – É melhor eu ir e a gente parar de se machucar. Eu já não reconheço mais as paredes dessa casa, eu não reconheço mais o coração que um dia eu chamei de lar...
- Se não é para nos machucarmos mais, por que eu estou me sentindo exilada enquanto você vai embora? - essa frase foi como uma flecha no peito dele. O choro fino dela ecoava pela sala. A sala que eles tinham marcado com sentimentos; a intenção desses eram confusas. se levantou e a abraçou pelo pescoço, dando um beijo em sua testa. Ele precisava ir. Talvez tivesse sido cruel demais com ela pelas coisas não ditas, mas ele também estava cansado do silêncio. Poderia dar uma nova chance aos dois? Podia, mas não era nisso que ele conseguia pensar agora.
sempre odiou ver indo embora, mesmo que fosse sair para trabalhar, e agora ela estava vendo ele ir embora, mas sem saber se ele cruzaria por aquela porta de novo. Achava que dessa vez ele não voltaria. Sentiu seu coração apertar, sentiu cada pedaço dele caindo dentro de seu peito. Mais uma vez ele estava indo embora.
O rapaz, por sua vez, queria voltar; queria dar meia volta e abraçar ela e dizer para que parasse de ser cabeça dura e de ficar calada. Queria ignorar tudo o que aconteceu nas últimas semanas. Queria deitar com ela na cama com edredom rosa que ela escolheu para decorar o quarto dos dois. Queria voltar e fazer o choro dela parar e depois tocar sua música preferida no violão. Ele só queria um motivo para voltar.
Seus pensamentos gritavam dentro de sua cabeça: “Não vai embora, a gente consegue fazer tudo melhorar. Volta, , mas não conseguiu. Estava perdida em lágrimas e parecia que estava dentro de um filme com uma triste cena de despedida... E estava realmente, em seu próprio.
Ao entrar no seu carro, tirou a jaqueta que vestia e sentiu algo diferente em seu bolso de dentro. “Ah não, ...”, pensou o rapaz. Suas mãos estavam meio trêmulas, mas abriu o envelope que tinha um papel de carta delicado e uma caligrafia que ele reconheceria de longe.

“Eu desejei que eu nunca te perdesse, desejei que isso nunca acabasse. Mas não foi muito assim que tudo ocorreu… Você foi embora e eu fiquei. Achei que não fosse capaz de voltar aqui e assinar o contrato. Percorrer essa rua sozinha lembrando que geralmente passávamos aqui juntos, de mãos dadas e sorrindo. Mesmo se eu não tivesse alugado o nosso apartamento dos sonhos, eu não poderia nunca fugir de você, sabe? Essa cidade grita o seu nome a cada passo que eu dou. Vejo seu olhar a cada esquina que eu viro. Eu deixei você ir, deixaria de novo, não quero você agarrado a incertezas e dúvidas, mas gostaria que soubesse que o 2107 sempre vai ser sua casa, caso um dia queira voltar. Com amor.”

Sentiu as lágrimas caindo pelo seu rosto. Jogou aquele papel no banco do passageiro e deu partida no carro. “Inferno, , por que isso agora?” pensou ele, olhando de relance para carta.
Deu meia volta e retornou ao lugar que não devia ter deixado. Parou o carro de qualquer jeito e olhou pro prédio, ela estava sentada em um dos degraus da escada que dava para rua. Ela ainda chorava. Ele engoliu seco e olhou firmemente para ela, que por sua vez, olhou para onde ele estava. Seu tinha voltado, ela pensou.
A verdade é que nenhum deles nunca tinha ido embora.



Fim!



Nota da autora: Sem nota.

Caixinha de comentários: A caixinha de comentários pode não estar aparecendo para vocês, pois o Disqus está instável ultimamente. Caso queira deixar um comentário, é só clicar AQUI



Nota da beta: Eu tô simplesmente APAIXONADA que o final não foi triste haahahah eu estava esperando algo muito triste, mas foi incrível sentir todo o peso da música e ainda assim poder sorrir depois. Sorri mais ainda em ver o “crossover” com Cornelia Street, que amo de paixão! Amei a história, sério 💙

Qualquer erro nessa atualização ou reclamações somente no e-mail.


comments powered by Disqus