04. Infinity

Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Diário Cearense
Coluna de Contos
Novembro de 2027

Quando eu era criança, meu avô, Marcos Antônio Silveira, costumava me contar histórias de sua vida. Recordo-me de muitas risadas naquelas tardes de domingo, principalmente depois que minha avó faleceu, o visitava todos os domingos sem falhar um. Através de suas histórias conheci como a vida era nos tempos de antigamente, como ele costumava falar. Eram histórias de quando ele era criança e como amava brincar com o seu peão, com o estilingue, em como se sentia um pássaro ao correr pelos campos da fazenda de meu bisavô, que mesmo não tendo o conhecido, vovô me contou que ele havia falecido quando meu pai tinha uns cinco anos, acredito que era um bom homem, vovô Tônio, como eu o chamava, dizia se parecer muito com ele. Contou-me também de sua emoção quando completou dezoito anos e se alistou no exército, e de como ficou contente ao servir, ele gostava de me mostrar fotos onde ele aparecia fardado com os colegas, seus olhos e sorriso sempre me mostravam o misto de nostalgia e orgulho daquela época. Mas uma história em especial, era minha favorita, talvez por ser uma romântica a moda antiga, ou por gostar de amores de época, ou até mesmo quando vovô Tônio me contou essa história, eu tinha quatorze anos e já podia compreender melhor o amor, ela se tornou minha favorita das tantas que ele me contava. Marcos Antônio Silveira, teve um grande amor em sua vida e ao me contar essa história, ele, meu avô, me fez entender que o Infinito, é sim sem fim, mas nem sempre ele acontece da maneira que queremos.
Me chamo, Eva Beatriz de Souza, tenho 36 anos e vou lhes contar a história de Marcos e Amália.



Verão de 1950

Seria um dia comum como todos os outros na vida de Marcos, pegaria o ônibus até o centro de Fortaleza, caminharia algumas quadras para então começar seu dia de trabalho, em uma lojinha que vendia quadros, no verão em época de férias o trabalho dobrava, pois a loja ficava movimentada por procura de quadros com as paisagens locais, itens de decoração. Mas aquele dia, estava marcado para ser diferente. Marcos como sempre, entrou no ônibus, pagou sua passagem e procurou um lugar para se sentar ou um lugar que fosse o mais confortável possível para permanecer o caminho em pé. Foi passando seus olhos pelos lugares e pessoas que ele, a viu. Seu cabelo era castanho e ondulado, vestia uma blusa de renda, e uma saia de crepe rodada, foi o que ele conseguiu ver. Fez um esforço para passar entre as pessoas para chegar mais perto daquela garota que ele não conseguia desviar sua atenção, conseguiu ficar mais perto, havia duas pessoas entre eles, ela olhava para janela fixamente, parecia que estava em outro mundo, às vezes sorria pequeno, o que será que passava em sua mente? O ônibus parou no sinal e ela olhou para o seu lado direito, onde Marcos se encontrava. Marcos sustentou o olhar em direção a ela, que envergonhada o desviou, mas algo em Marcos havia despertado sua curiosidade, fazendo a olhar em sua direção novamente, sorriu e voltou a olhar para a janela. Marcos estava a perceber que sua estação estava próxima, mas ele queria saber quem era aquela garota dos olhos cor de mel, e quando o olhou corou levemente. Daria um jeito com o patrão depois, iria segui-la e ver aonde ela ia, o que faria. Ela acabou descendo quatro estações depois e Marcos desceu também. Observou ela de longe, não queria assustá-la e a viu sentar em um dos bancos da pracinha. Será que esperava alguém? Um namorado, talvez? Resolveu se aproximar discretamente, disfarçando coincidência e sentou-se ao seu lado.

- Oi. – Marcos disse e rapidamente procurou algo para olhar, achou o pipoqueiro mais adiante e o observou servir algumas pessoas.
- Falou comigo? Ah, é... Olá. – a garota respondeu.
- Perdoe-me o atrevimento, mas te achei linda! – Marcos não costumava ser assim tão direto, mas aquela garota o havia despertado algo especial.
- Obrigada. – a garota de cabelos castanhos agradeceu o elogio e se acomodou melhor no banco, parecendo nervosa.
- Me chamo Marcos Antônio e você?
- Amália. – ela sorriu.
- Acho que estou parecendo um maluco, não? – perguntei e virei em sua direção, seus olhos eram encantadores.
- Talvez um pouco. – ela disse.
- Seria muito intrometido de minha parte perguntar o que uma moça tão bonita faz aqui sozinha? – Marcos perguntou e sorriu na tentativa de ganhar mais a confiança de Amália.
- Seria sim, pois não o conheço. – Amália respondeu, receosa. Seu rosto angelical escondia uma personalidade forte. – Mas, respondendo sua pergunta, estou esperando uma amiga, iremos ver um emprego em uma loja de artesanatos.
- Uma garota decidida, gostei. Seria atrevido se te convidasse para sair? Ir ao cinema, passear no parque?
- Sim, seria. Como disse não o conheço, Marcos Antônio.
- Posso te oferecer uma pipoca?
- Sim.
- Doce ou salgada?
- Salgada, por favor. – e lá estava aquele sorriso em seus lábios, Marcos amou o sorriso de Amália.
- A propósito, me chame só de Marcos. – ele disse ao se levantar para ir até o pipoqueiro.
- Bom dia! Por gentileza, quero dois pacotinhos de pipoca salgada. – Marcos pediu ao chegar à carrocinha.
- Claro, meu jovem. Tentando conquistar a bela moça? – o pipoqueiro simpático perguntou enquanto enchia o primeiro saquinho de pipoca.
- Sim. Mas acho que meu charme e simpatia não estão a convencendo a me dar uma chance. – Marcos disse e olhou para Amália que mexia em sua bolsa.
- Acredite, meu rapaz. Ela gostou de você. – o pipoqueiro sorriu e terminou de encher o segundo saquinho e estendeu os mesmos para que Marcos os pegasse.
- Escute. – Marcos virou-se para o pipoqueiro e dando dois passos em direção a ele. – Como sabe que ela gostou de mim?
- Experiência de um velho pipoqueiro que constantemente vê casais apaixonados sentarem nesses bancos. Vocês têm algo em especial. Boa sorte, filho.

Marcos assentiu e voltou para onde Amália estava o esperando.

- Chegou à pipoca quentinha! – Marcos disse ao se sentar ao lado de Amália.
- Hm, parece boa! Obrigada. – Amália pegou a pipoca e a provou fazendo uma careta engraçada ao provar. – Que foi? – perguntou ela ao perceber que Marcos a observava.
- Nada, só estou admirando a vista. Acabou de fazer uma careta engraçada e adorável. – Marcos disse em um tom completamente encantado.
- Isso foi um elogio?
- Acho que sim. – Marcos respondeu e Amália gargalhou. Marcos achou o som adorável, como a careta que ela havia feito segundos atrás.

Estavam conversando quando outra garota chegou do outro lado da rua, colocou as mãos na cintura e chamou por Amália.

- Tenho que ir, minha amiga chegou. Obrigada pela pipoca e pela companhia. – Amália sorriu e levantou-se do banco.
- Espere! – Marcos a puxou pelo pulso a fazendo o olhar para ele. – Vou te ver outra vez?
- Quem sabe? Talvez. – Amália disse e sorriu novamente.

Marcos ficou olhando a se distanciar com a amiga, quando iam virar a rua Amália virou o rosto para atrás e sorriu para ele, seu coração se aqueceu imediatamente. Marcos olhou no relógio e se deu conta que precisava ir correndo pro trabalho e dar uma ótima desculpa ao seu chefe pelo imenso atraso.



E esse foi o primeiro encontro de Marcos e Amália. Um primeiro encontro que marcou ambos e dali em diante, as coisas mudariam. Só não saberiam dizer se mudariam positivamente ou negativamente.



Havia completado três dias desde que Marcos conheceu Amália, ele a não tirava de seus pensamentos. Era uma quarta-feira, folga de Marcos, então ele pensou que poderia procurá-la, poderia dar certo como também não, resolveu arriscar. Arrumou-se, despediu-se de sua mãe e seguiu para pegar um ônibus, iria procurar por alguma loja de artesanato perto daquela praça, tinha fé que encontraria, que a encontraria.

Marcos havia descido no mesmo ponto que Amália naquele dia, se deparou com a praça, com o pipoqueiro e sorriu ao relembrar do sorriso de Amália. Decidiu se apressar e achar a tal loja de artesanato. Perguntou para o pipoqueiro, mas ele não soube lhe dizer, perguntou algumas pessoas, até que uma lhe indicou uma que ficava a duas quadras dali. Marcos agradeceu a informação e com o coração batendo um pouco mais rápido de ansiedade seguiu caminho até a tal loja. Procurando por cada parte das ruas ele encontrou uma lojinha, na faixada estava o nome: Dona Bernê Artes, riu do nome, mas achou bem criativo, talvez a dona se chamasse Bernadete. Marcos respirou fundo e atravessou à rua, seu coração agora sim batia descompassado e ele torcia fielmente que Amália estivesse trabalhando ali. Ao entrar na pequena loja viu muitas coisas artesanais e materiais para os trabalhos manuais. Olhou para os lados para encontrar a íris cor de mel que o tanto intrigavam, mas nada.

- Boa tarde, posso lhe ajudar? – perguntou uma mocinha que ele reconheceu na hora. Era a amiga de Amália.
- Só estou dando uma olhada. Obrigado. – Marcos respondeu educadamente.
- Se precisar, estarei ali no balcão. – ela apontou em direção ao móvel e se retirou.

Antes mesmo que Marcos pudesse perguntar sobre Amália, ele escutou um resmungo atrás do utensilio que hospedava as toalhas de mesa enroladas por metros. Deu um passo para espiar e então ele a viu. Estava tentando cortar um tecido. Marcos achou adorável ver aquela careta surgir no rosto dela, talvez essa seja uma característica dela, uma forma de expressar.

- Precisa de ajuda? – Marcos disse e Amália deu um passo para trás de surpresa. – Oi.
- Você? Como me encontrou? Está me seguindo ou quê? – Amália perguntou ao se recompor do breve susto.
- Ei, calma. Eu só queria te ver e lembrei que disse que tentaria uma vaga em uma lojinha de artesanato e como desceu na praça, deduzi que a loja ficaria nos arredores e então achei, te achei. – Marcos se aproximou sem desviar seu olhar de Amália, pegou sua mão, levou até seus lábios e no dorso de sua mão depositou um beijo suave e logo depois sorriu. Amália o olhava com admiração e aquilo o aqueceu por dentro.
- Parabéns por sua esperteza, Marcos Antônio. – Amália disse e voltou para sua posição ereta e impermeável.
- Então... Pode sair para um café? Tem uma cafeteria perto daqui. E me chame só de Marcos, já lhe disse.
- Porque eu deveria aceitar tomar um café com um cara que mal conheço? Aliás, não conheço. E qual o seu problema com seu nome? – Amália disse e ergueu uma sobrancelha em indagação.
- Deveria aceitar para me conhecer e assim não seria mais um estranho. E não tem problema nenhum com meu nome. – Marcos abriu seu melhor sorriso em tentativa de fazer Amália aceitar seu convite.
- Boa resposta, Marcos Antônio. Está bem, tenho meia-hora. – Amália sorriu e se encaminhou para o balcão para avisar a amiga que iria sair, mas logo voltaria.

A cafeteria ficava pertinho, em cinco minutos eles chegaram. Marcos escolheu uma mesa que ficasse bem visível, nunca permitiria que pensassem mal dos dois, estavam ali como amigos e com sorte se tornariam mais que isso.

- Café extra forte? – Marcos perguntou assim que os pedidos foram entregues na mesa.
- Sim. Café pra mim tem quer assim, forte e docinho. – Amália sorriu e desviou a atenção para o açucareiro e assim adoçar o café. – E com acompanhamento de um prato com quatro bolinhos de chuva? Quer melhor que isso? – ela tomou um gole de seu café. – Delicioso. Café com leite? – perguntou a Marcos que também adoçava o seu café.
- Mais leite que café, nada forte, nada escuro, igual o seu. – Marcos deu uma piscadela e fez Amélia rir. – Me conte de você, o que gosta, o que assiste....
- Hm... – ela fez outra de suas expressões engraçadas ao pensar no que responder. – Agora trabalho oito horas por dia, com algumas horas extras, claro. E no meu tempo vago, leio. E você? Costuma perseguir garotas que não conhece sempre ou..?
- Seu senso de humor é maravilhoso, sabia? – ele disse e riu, Amália permaneceu com a mesma expressão, esperando sua resposta. – Trabalho assim como você, com a diferença que a loja onde trabalho vende quadros e não artesanatos. Nas horas vagas ouço programas no rádio.
- Rádio novelas? – Amália tinha um riso contido ao perguntar.
- Talvez. – ele respondeu e ela sorriu balançando a cabeça negativamente achando ele engraçado.
- Não me respondeu.
- O quê?
- Segue sempre garotas por aí?
- Não. Mas tem três dias que eu adotei esse hobby. Conheci a mais bela moça dessa cidade e não consigo esquecer ela por nada. – Marcos disse e pegou a mão de Amália.
- Boa resposta, Marcos Antônio. – e lá estava Amália com aquele olhar admirado que aquecia o coração de Marcos de um jeito tão bom que ele queria sentir aquela sensação para sempre, se possível.



Marcos era um homem de 23 anos, que ainda morava com os pais, só deixaria a casa deles se se cassasse e tivesse sua própria família. Um homem de personalidade séria, determinada, responsável, mas de um coração gigantesco. Amália uma mulher de 21 anos, personalidade forte, independente, impulsiva, ou seja, não media as palavras ou o sarcasmo. Não era das mais românticas. Quando dois seres diferentes se encontram, pode acontecer um atrito ou encontrarem nas diferenças algo para somar, descobrir as semelhanças. Foi assim com esses dois, depois daquele dia na cafeteria, Marcos saia do seu trabalho e ia buscar a Amália, o amor ia florescendo aos poucos, criando raízes, sendo gravado no tempo. A amizade entre eles veio primeiro, alguns meses depois Marcos foi apresentado a família de Amália como namorado. Será que você ai que está lendo o conto da coluna de hoje está se perguntando o que eu me perguntei quando ouvi essa história pela primeira vez? E o beijo? Teve o primeiro beijo ou naquela época era difícil? Vovô me contou que sim, era difícil nada parecido com os tempos atuais, mas qual casal apaixonado não dá seu jeito?



Amália tinha um irmão mais novo de nove anos, e sempre que saiam para ficar no jardim da casa dos pais de Amália, o garoto saia com eles. Marcos havia se tornado uma pessoa de muito apreço aos olhos do garoto, Pedro. E aquele dia ele queria tentar algo, e mais uma vez como aquela vez que arriscou a encontrar a loja de artesanato, contou com a sorte novamente para convencer Pedro a ir à cozinha servir sucos e trazer para ele e Amália. O garoto era esperto, já aconselhado pelos os pais para que não cedesse a nenhum dos planos dos dois de ficarem sozinhos. Foi difícil, mas ele o convenceu prometendo que o levaria para comprar um brinquedo no centro da cidade. Pedro saiu para cozinha e Marcos não perdeu o precioso tempo que tinha a sós com Amália, quando a olhou percebeu que ela sabia o motivo de seu plano e seu olhar não tinha expressão negativa ou uma careta que o estivesse recriminando sua atitude ou até mesmo o impedindo.

- Você sabe que eu te amo? – Marcos perguntou para Amália que estava com a cabeça baixa, ele ergueu seu rosto segurando seu queixo com o dedo indicador para que ela tornasse a olhá-lo nos olhos como segundos atrás.
- Sim. – Amália disse baixinho, seus olhos estavam mais lindos ainda, como se um brilho novo passasse por eles. Marcos sorriu ao imaginar que ele seria o causador disto.

Marcos se aproximou devagar do rosto de Amália que fechou os olhos no mesmo instante. Por um segundo Marcos parou para olhar o rosto de sua amada, gravar cada detalhe em sua memória, seria sua mais bela memória na velhice. Delicadamente, para não assustá-la, tocou seus lábios com os seus, e aquela conhecida sensação de se sentir completo e renovado tomou seu ser por completo. Era um beijo doce, o primeiro beijo dos dois, a primeira vez que Marcos sentia o gosto de sua doce e impaciente Amália. O beijo não durou muito, pois poderiam ser pegos e aquilo daria uma dor de cabeça danada, mas durou o tempo exato para ser inesquecível.

- Sabia que eu te amo também? – ela disse ainda com os olhos fechados. Estavam com as testas coladas, sentindo o amor pairar no ar, envolvendo cada parte daquele jardim.



Os dias foram passando e o amor de Marcos e Amália foi se fortalecendo, muitos eram os planos para o futuro. Marcos nunca havia sentido um sentimento tão forte como que sentia por Amália. O mesmo acontecia com ela. Mas, talvez essa história não fosse para ser o conto de fadas que ela pareceu ser desde que comecei a contá-la. Se você está realmente prestando atenção nesse conto, reparou quando eu disse que meu avô teve um grande amor em sua vida, não que ele viveu esse amor, ao menos não por um tempo. Vamos voltar para o conto? Mas antes deixa eu te avisar, às vezes nas tristezas há uma alegria escondida.



Era um sábado, Marcos havia passado em uma floricultura e pediu para que a vendedora lhe fizesse um pequeno buque de orquídeas, as flores preferidas de Amália. E em seu bolso havia uma pequena caixinha de veludo vermelho, seria um grande dia hoje, ou ao menos ele imaginava que seria. Marcos chegou em frente à casa de Amália e estranhou estar tudo tão quieto, pois já era perto das onze da manhã. Abriu o portãozinho que dava acesso ao pátio da casa branca com as janelas cor de creme, a qual já estava tão familiarizado. Bateu uma, duas, três vezes e ninguém atendeu. Agora sim ele definitivamente tinha certeza que algo não estava certo e seu coração apertou em angústia quando avistou Amália o olhando do jardim, vestia um vestido rodado azul bebê com um casaco de lã e sapatilhas brancas, o cabelo estava solto. Marcos nunca cansaria de admirá-la, de amá-la.

- Meu amor o que faz aí? Trouxe para você! Suas preferidas. – Marcos correu de encontro a Amália e lhe deu o buque. – Está tudo bem?
- São lindas, obrigada. Vem, vamos sentar ali. – Amália apontou um banquinho que era um balanço. Marcos sorriu ao lembrar-se dos beijos que havia roubado dela quando Pedro se distraia de vigiá-los.
- O que está acontecendo? Onde estão seus pais? E Pedro? Não entendo. – Marcos tinha o cenho franzido, o semblante confuso.
- No aeroporto, me esperado.
- No aeroporto? Te esperando? Como? Por quê? – Marcos da aflição passou a sentir um desespero com o que aquela situação podia representar.
- É isso que está pensando. Vamos embora. Lembra da minha tia que mora fora? – Marcos assentiu. – Então, ela conseguiu um emprego para papai onde meu tio trabalha. E como você sabe, papai é de origem inglesa e sabe o idioma perfeitamente. Vamos morar lá. – Amália disse e seus olhos marejaram.
- Mas assim de repente? E seu emprego aqui? Seus estudos? Por Deus, Amália! – Marcos levantou-se nervoso.
- Minha vida será lá, agora. O voo sai em três horas. – Amália deixou escapar uma lágrima solitária que dilacerou o coração de Marcos.
- Está me deixando, é isso? Acabando do nada? – o silêncio de Amália eram as respostas. As quais lhe doíam cada parte de seu corpo. – Eu tinha te comprado isso. – Marcos tirou a caixinha do bolso e quando Amália colocou os olhos nela, mais uma lágrima se fez presente em seu lindo rosto. – Ia pedi-la em casamento. – Marcos que nunca foi de chorar, estava cedendo ao seu coração em pedaços e ali em frente de sua amada lágrimas molhavam seu rosto.
- Marcos, meu Marcos. – Amália dizia enquanto com o dedo polegar fazia um carinho na bochecha dele. – Me perdoe, mas é melhor assim. Do que estragarmos esse amor tão rico, tão bonito, com a distância, com futuras desconfianças, ciúmes.
- Por que às vezes é tão negativa? Podemos dar um jeito, meu amor! Sempre há um jeito. – ele a pegou nos braços e apertou em um abraço carregado de medo de perdê-la.
- Nem sempre, me desculpe. – Amália o abraçou de volta com força. – Desde que eu te vi, mesmo com toda essa pose de durona, eu sabia, era você. Era quem chegaria e bagunçaria toda minha vida planejada, viraria um mundo certinho do avesso. Eu te amei desde o primeiro instante, eu te amo a cada segundo e vou te amar pra sempre. E é por tudo isso que quero parar por aqui, enquanto somos nós dois, enquanto o amor é sólido, enquanto há o nosso infinito. – Amália se desvencilhou dos braços de Marcos e o olhou nos olhos. – Em nossos corações, nunca terá fim.
- Você já sabia que iria embora? – Marcos perguntou quase em sussurro.
- Não, mas ouvia conversas de meus pais sobre isso. Mas preferi me fazer de desentendida, porque sabia que isso significaria, me separar de você. Mesmo te amando com todas as forças do meu coração.
- Eu vou com você, a gente casa e depois vai embora. Por favor, temos que tentar! – havia um tom de súplica na voz de Marcos, mas Amália estava decidida que seria melhor para os dois.
- Não. Acha que não sei de seus planos de ser pintor? Trabalhar na loja de quadros despertou seu dom. E sei também que foi aceito na faculdade de artes plásticas, não pode jogar as coisas para o alto por mim.
- Posso sim! Amália, eu te amo, eu preciso de você. – Marcos a olhou profundamente nos olhos e a beijou. Queria poder convencê-la naquele beijo, um beijo com todo amor que possuía no peito por aquela mulher.
- Sabíamos que nossas vidas eram diferentes, Marcos. E enquanto pudemos fizemos de nossas diferenças, nossas semelhanças. Vai achar alguém que possa dividir todos esses sonhos com você, vai te amar como eu gostaria de amar e cuidar. – Amália tinha a expressão mais triste que ele já havia presenciado dela. Sua doce Amália.
- Mas eu quero você. – Marcos a abraçou novamente. Mas enfim compreendendo que tinha que respeitar a decisão dela, por mais que aquilo doesse. – Fica com o anel. Fique com um pedaço do nosso infinito. De alguma maneira eu estarei ao seu lado. – Amália assentiu, fungando.
- Tome, é o meu pedacinho de infinito pra você. – Amália tirou do bolso do casaco um colar que ela costumava usar, tinha um pingente de uma gota d’agua.
- Você sabia que eu te amo? – ela perguntou.
- Sim. E eu te amo mais do que eu sequer possa explicar um terço. – Marcos respondeu.
- Boa resposta, Marcos Antônio. – Amália ficou nas pontas dos pés e beijou Marcos, o último beijo antes de cada um seguir com suas vidas. Eles se separaram ao ouvirem o som de uma buzina, era um táxi. Era chegada a hora. - O meu coração estará pra sempre atado ao seu. E nossa história será lembrada até o fim de meus dias. – Amália apertou a mão de Marcos e lhe deu um beijo pequeno nos lábios.
- Um infinito dentro nós. Minha doce Amália. – Marcos fechou os olhos como se aquilo fosse desfazer a dor que o consumia. Ao abrir os olhos viu sua mão se soltar da mão de Amália, que virou-se e seguiu para o táxi. Sua última lembrança foram os olhos cor de mel de Amália se afastando.



Você está revoltado com a Amália? Acredite, eu também fiquei quando meu avô terminou de contar, ela poderia ter sido minha avó. Mas com o tempo eu a entendi, eu compreendi que a decisão dela era aquela, viver a vida que ela planejou viver, e nela meu avô não se incluía, ou ela teve medo de arriscar e perder o amor que ela nunca imaginou viver, mas que amou sentir. Meu avô casou-se alguns anos depois, construiu família, teve quatro filhos. Em nossas ultimas conversas ele me dissera que jamais amou outra pessoa como amou Amália, e que algum tempo atrás soube que ela havia falecido, e ele se perguntou se ela guardava ainda o anel. Lembram-se do colar de pingente de gota d’agua? Eu o vi, vovô o guardava desde sempre, era seu segredo, seu tesouro. Prometi a ele que descobriria de algum jeito se esse anel permaneceu com ela. Descobri o endereço de sua neta em Doncaster, Reino Unido. Viajei até lá, me apresentei e vocês não vão acreditar! Ou quem sabe até já prevejam. Mas Katherine, neta de Amália, sabia desta história, acho que eles realmente eternizaram o amor deles de alguma maneira. E eu soube que ela guardou o anel como seu segredo, seu tesouro assim como meu avô. Devo lhes confessar que chorei quando soube. Pedi o anel para Katherine que me entregou ao saber o que eu faria com ele. No outro dia a noite havia chegado em Fortaleza e na manhã seguinte fui aquela praça onde Marcos e Amália se conheceram, abri a pequena caixinha que trazia comigo, onde o pingente de gota d’agua e o anel se uniam em uma corrente de prata e o deixei no banco da pracinha. Olhei para aqueles objetos e senti no meu coração algo bom. Olhei em direção ao céu e sorri, agora eles podiam viver o seu infinito lado a lado, em um lugar que cobranças, planos de vidas, decisões complicadas, escolhas erradas ou certas, nada existia. Só existia a paz e quem sabe agora estariam novamente de mãos dadas pela eternidade.

O infinito é para sempre, independente do rumo das coisas.

Eva Beatriz de Souza, para coluna de contos.
Até o próximo conto, leitores.





Fim



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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