Finalizada em: 01/03/2021

2007

A platéia ia à loucura ao observar o rosto dos atletas conforme eles iam adentrando o Centro Aquático, local onde ficava a piscina na qual eles competiriam. Fazia calor e muitas pessoas usavam roupas frescas. Ela sentia calor, mas não suava tanto, uma vez que estava acostumada à temperatura do Brasil, que seguia em uma média de 30°C se considerasse uma média geral.
deu uma olhada em volta, buscando por um breve lampejo sequer de verde-amarelo, um sinal de que havia ali alguém que estivesse torcendo a seu favor. Sabia que a situação atual de seu país era complicada para permitir que viajassem até Lima, no Peru, apenas para torcer por ela, ou até melhor: apreciar os jogos, mas não podia negar que a sensação de apoio caía muito bem para amenizar a ansiedade.
Seu treinador sempre lhe dizia que podia contar com ele para o que fosse necessário e que ela tinha grandes chances de vencer, mas o famoso "será mesmo?" não saía um segundo sequer de seus pensamentos. Respirou profundamente e fechou com força a mão na alça da mala que carregava consigo, seguindo até o local que lhe fora destinado para se preparar e aguardar a sua vez.

Passou as mãos pela lateral de suas coxas, buscando por algum conforto que amenizasse a ansiedade. Mirou a piscina abaixo de onde estava, imaginando mil formas de executar o salto que havia proposto anteriormente. Seguiu até a ponta do trampolim, ficando praticamente na ponta dos pés, e ergueu os braços acima de sua cabeça, se alongando.
Pegou impulso nele, flexionando a perna direita na direção no joelho esquerdo e voltando a tocar o objeto com os dois pés. Repetiu o mesmo passo outras duas vezes antes de saltar de costas para a piscina com um mortal, os joelhos flexionados em um ângulo de noventa graus e o tronco esticado para trás.
A garota conseguiu realizar três voltas antes de sentir a dor excruciante a atingir. De longe, na arquibancada ou televisão, todos viram o momento exato em que o rosto da garota atingiu a ponta do trampolim em cheio, o que fez com que ela se desestabilizasse e caísse dentro da piscina com ambas as pernas abertas, diminuindo drasticamente suas chances de conquistar uma alta nota.
Os eventos a seguir aconteceram de forma tão rápida que nem mesmo o público soube o que ocorreu. permaneceu imóvel na água por alguns segundos até que ergueu a cabeça, nadando em direção à borda, onde já estavam alguns salva-vidas juntamente com seu treinador e os paramédicos para auxiliá-la e ver a situação da área machucada.
Ao se sentar no chão ela rapidamente recebeu a atenção de todos, que notaram a grande quantidade de sangue que ia de sua testa até o queixo, provavelmente as áreas que foram atingidas pelo trampolim. Àquela altura era claro que a competição estava acabada para e, mesmo estando decepcionada, envergonhada e triste pelo resultado final, ainda assim ela lançou um sorriso para a platéia e câmeras antes de ser acompanhada até a ambulância que a levaria ao hospital.
Da pequena janela do veículo ela pôde observar o asfalto sumir e aparecer novamente como um novo trecho, como uma metáfora à sua vida, cujos planos de participar e até mesmo ganhar uma medalha nos Jogos Pan-Americanos iam por água abaixo, assim como ela fizera momentos antes.

2016

Acelerei um pouco meu EcoSport 2.0 na estrada, sentindo o vento que passava pela janela aberta bagunçar alguns fios de meu cabelo mais próximos ao rosto. Não precisava sentir meus batimentos para saber que meu coração estava em disparada. Dirigir até o ginásio era quase uma tortura, o medo me consumindo conforme me aproximava do local, e eu sempre desistia no meio do caminho ou próximo, dando meia volta até minha casa.
Sabia que era ridículo continuar com as cenas daquele dia, há nove anos, na cabeça, mas era inevitável para mim. Só que daquela vez era diferente, quase como se o vento arrancasse o medo através do meu cabelo. Jurei para mim mesma que não iria fraquejar novamente e voltar atrás, já sentindo o tempo perdido correr nas minhas veias. Fazia quase dez anos que não entrava em uma piscina e nem nada que se assemelhasse a uma por conta de seu trauma nos jogos Pan-Americanos, que chocou a todos. Eu nem sabia mais como entrar em uma piscina, muito menos nadar dentro dela. Era quase como uma criança, que está aprendendo e conhecendo tudo novo para ela.
Estacionei na frente do ginásio aquático em que costumava treinar e permaneci no veículo parado, imóvel, buscando qualquer sinal de coragem. Após alguns minutos, que mais pareceram horas, e alguns olhares de julgamento vindo de quem passava por ali resolvi finalmente abrir a porta e sair de uma vez, pendurando a bolsa nos ombros. Fechou a porta e apertou o alarme do automóvel, mantendo-o seguro.
Aquela era minha reabilitação e eu a começaria o quanto antes já que estava parada há nove anos. No fim das contas eu não era culpada pelo que aconteceu comigo e nem eles. Todos éramos inocentes nessa história e só restava esquecer e seguir em frente assim como todos fizeram, exceto eu.

Mexi os dedos dos pés por cima do alumínio do qual o trampolim era composto, sentindo a textura e temperatura do objeto que há muito não experimentava, nervosa pelo que teria que fazer. Dei uma última respirada antes de fechar os olhos e erguer os braços acima da cabeça, com a costa da mão direita unida à palma da mão esquerda. Flexionei ambos os joelhos, pegando impulso suficiente para dar um salto para cima e em linha reta e, após poucos segundos, pousei novamente no alumínio, repetindo o mesmo ato, só que dessa mais com mais altura e velocidade que a anterior.
Após alguns segundos, finalmente mudei a direção ao invés de continuar seguindo para cima. Mantive os joelhos flexionados em um ângulo de noventa graus ao tocar no trampolim e, em fração de segundos, impulsionei meu corpo para frente sem sair dessa posição. Acabei dando duas voltas antes de esticar todos os músculos do meu corpo, me mantendo reta e com os braços para frente, adentrando na água como se fosse uma bala, sentindo a familiar sensação de baque e pele molhada da qual nem sabia quanta falta sentira até então.
Não importava quanto tempo passasse longe daquilo, jamais deixaria de me sentir à vontade naquele ambiente, pois estar na água era como voltar a respirar e eu não sabia que sentia tanta falta até voltar a ter aquela costumeira sensação.


FIM



Nota da autora: Oi, amores, tudo bem? Ando um pouco sumida do mundo dos ficstapes porque ultimamente estou nas correrias da faculdade, que está tomando todo o meu tempo basicamente. Espero ter feito jus à essa música incrível e que vocês tenham gostado ao menos um pouco do que eu trouxe. Obrigada também à quem chegou até aqui e espero vê-los em breve em outras fics. Amo vocês! ❤





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Finalizadas
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