Última atualização: 02/05/2020

Prólogo

O corpo ensanguentado no chão causava um desespero no rapaz, que tremia ao ver o pai ali, sem vida. Olhou em volta, temendo que alguém pudesse aparecer e fazer o mesmo com ele. Logo, os seus amigos chegaram, protegendo o garoto de tudo o que pudesse acontecer. Gritou com toda a sua força, demostrando a sua raiva, deixando as lágrimas rolar pelos seus olhos, sem se importar com aquilo. Precisava sair dali, sabia que logo eles voltariam e, quando isso acontecesse, Jacob deveria estar bem longe.
– Eu vou acabar com a vida de quem fez isso com você, pai, eu juro. – Ele prometeu antes de entrar no carro e sair daquele lugar, deixando o corpo do pai ali mesmo no meio da rua.


Capítulo 1

Foi em uma balada que tudo aconteceu: tinha ido com a intenção de se divertir como uma pessoa normal e estava fazendo o mesmo, acompanhada por suas amigas. Eles se encontraram no bar, conversaram, trocaram alguns beijos e prometeram se encontrarem novamente. Os dois já haviam perdido as contas de quantos encontros tiveram depois do primeiro. Meses se passaram e um pedido de namoro foi feito por ele e aceito por ela – sem pensar duas vezes.
Não tiveram contato com a família um do outro. dizia que os seus pais viajavam muito e moravam fora, e contou que a mãe também morava em outra cidade e que o seu pai já havia falecido. Apesar de tudo, aquilo não era um problema para os dois, que viviam felizes juntos.
– Eu estou tão feliz ao seu lado, sabia? – confessou.
A garota estava deitada nos braços de depois de uma noite de amor em seu apartamento. Os dois estavam se encontrando com frequência e não conseguiam ficar longe um do outro por muito tempo. Apesar dos compromissos que eles tinham, sempre conseguiam tempo para ficarem juntos.
– Eu também, meu amor, você despertou em mim o que eu nunca tinha sentido antes. – Declarou antes de beijá-la novamente.
Conforme o beijo foi aprofundando, as mãos de começaram a trilhar um caminho pelo corpo de , que ele já conhecia bem. Inverteu as posições para que ela pudesse ficar por cima e para que tivesse uma visão privilegiada do corpo da namorada. Os beijos que começou a distribuir pelo pescoço do rapaz o arrepiavam por inteiro. Enquanto isso, cada centímetro dela que suas mãos alcançavam, ele apalpava com prazer. estava retirando o sutiã de quando o seu celular começou a tocar pela segunda vez – já que, na primeira, os dois haviam ignorado.
– Acho bom você atender, pode ser algo importante. – sugeriu ao ver a insistência da pessoa que estava ligando.
Ele assentiu e bufou antes de esticar o braço para pegar o celular, que estava no móvel ao lado da cama. desceu do colo do rapaz, sabia que aquela interrupção havia atrapalhado o clima, mas eles não teriam problema nenhum em começar tudo novamente.
– Alô. – atendeu sem nenhum humor.
Ficou alguns segundos em silêncio, apenas ouvindo o que a pessoa do outro lado falava. Enquanto isso, percebeu que o seu semblante havia mudado.
– Tudo bem, te encontro aí em 30 minutos. – Respondeu antes de desligar. – Meu amor, eu preciso ir.
– O que houve? – perguntou enquanto se vestia. – Você parece estar nervoso.
terminou de vestir sua roupa e respirou demoradamente, sabia que estava transparecendo o seu nervosismo e tentou se acalmar antes de dar uma resposta para a sua namorada.
– Na verdade, eu só fiquei bravo por não poder dormir com você. Está tendo uma confraternização de uma empresa no bar que eu trabalho, eles querem que eu vá pra lá para ajudá-los.
– Eu posso ir com você, ainda não conheço esse bar. – sugeriu, animada com a ideia de conhecer o local de trabalho do namorado.
– Hoje não, . – Ele negou de imediato e viu a garota se entristecer. – Hoje, lá deve estar uma loucura. Em um outro momento, eu te levo, tudo bem?
Como resposta, apenas assentiu. Logo, teve os seus lábios tomados pelo de em um beijo de despedida. O casal trocou mais algumas palavras antes dele pegar o seu carro e ir de encontro com a pessoa que havia ligado.
Dirigiu até o lugar combinado. Chegando ao seu destino, percebeu que era uma rua escura e sem muito movimento. Logo, encontrou David, seu melhor amigo, junto com mais três rapazes. Apesar de ter ficado nervoso por ser interrompido quando estava ao lado se , jamais deixava o seu amigo na mão pois sabia que, quando precisasse, David largaria tudo para ajudá-lo. Só de ter ficado ao seu lado após a morte do pai, sentia que estaria em dívida com o melhor amigo até o fim de sua vida.
– Qual o trabalho de hoje? – Ele perguntou depois de cumprimentar todos que estavam presentes.
– Hoje, vamos visitar aquela casa ali. – David apontou para uma pequena residência, um pouco mais à frente de onde eles estavam. – A casa é simples, mas eles têm muito dinheiro. Os donos viajaram e só a filha está ai. Tem um cofre na suíte do casal onde eles guardam toda a grana. – Percebendo que poderia questionar aquele lugar pela aparência, ele explicou tudo de uma vez.
– Às vezes, eu me esqueço que você sempre consegue descobrir tudo. – comentou, o amigo nunca deixava nada passar.
– Eu tenho meus contatos. – Riu, convencido. – Bom, vamos logo que não temos muito tempo. Pelo o que eu sei, não tem câmeras nessa rua, mas é bom ter cuidado.
Os quatro rapazes que estavam ali presentes combinaram os últimos detalhes antes de colocar aquele plano em ação. David chamaria a atenção da garota, como se fosse um entregador de pizza. Provavelmente, ela acharia estranho alguém aparecer no seu portão do nada à noite mas, com uma entrega em mãos, no mínimo ela iria até ele dizer que era engano. Em último caso, David teria que convencer a garota de que aquele era um presente do seu pai, qualquer coisa para que ela fosse abrir o portão. Enquanto isso, os outros três rapazes ficariam escondidos atrás do carro. seria responsável por tomar conta da garota enquanto David e os seus companheiros iriam atrás do cofre.
Talvez por não ser tão tarde ainda, a garota não estranhou a entrega e foi até o portão para receber. Antes de abrí-lo, David a ouviu dizer alegremente que o seu pai amava fazer surpresas como aquela. Uma jovem mulher saiu de dentro da casa, parando no vão que ficou entre o muro e o portão assim que o mesmo foi aberto. Ao receber a caixa de pizza, ela estranhou o peso, já que a embalagem estava vazia. Ia questionar mas, antes mesmo de pensar no que falar, ela foi surpreendida por David, que segurou seus braços com uma mão e tapou a sua boca com a outra enquanto a empurrava pra dentro da casa.
e os outros dois já estavam mascarados. Assim que entraram, fecharam o portão como se aquilo fosse uma visita qualquer e para não levantar nenhuma suspeita. Viu a mulher chorar, sendo capaz de gritar se David não estivesse com a mão contra os seus lábios.
– Dá pra você ficar quieta ou tá difícil? – gritou, apontando a arma para ela, fazendo com que a garota paralisasse já que, antes disso, ela tentava se soltar de todas as formas. – Vão atrás do cofre que eu cuido dela. – Ordenou para os outros que ali estavam. – Se você gritar, tentar fugir ou fazer qualquer coisa, você morre. – Deixou claro para ela, passando a arma pelo seu rosto.
Foi mais rápido e mais fácil do que eles esperavam. O cofre estava escondido, mas David já sabia o lugar exato, e como ele conseguiu aquela informação não era algo que interessava . Assim que os três desceram, achou melhor que eles saíssem antes e já deixassem tudo preparado para a fuga já que, provavelmente, ela pediria por ajuda. Alguns segundos depois, quando ficou só ela e ele dentro da casa, deduziu que já estava tudo certo lá fora e que ele poderia sair.
– Eu vou sair e você vai ficar aqui parada, só vai se mexer quando escutar o barulho do carro. Fui claro? – Perguntou para a garota, que assentiu como resposta, enquanto girava a arma em volta da cabeça dela. – Se você fizer qualquer coisa, você morre.
Viu a jovem tremer enquanto sentia o toque da arma em seu corpo. dava passos lentos para trás sem perder o contato visual. Em questão de segundos, quando ele se virou apenas para ver a saída, ouviu os passos dela, correndo em sua direção, pronta para atacá-lo. Porém virou no momento exato em que ela ia segurá-lo pelo pescoço.
– Eu mandei ficar quieta. – Ele ainda gritou antes de apertar o gatilho e atirar no peito dela.


Capítulo 2

Quando criança, sonhava em ser médico. Vivia dizendo que queria poder ajudar as pessoas, fazer pelos outros o que queria que fizessem por ele e pelas pessoas que amava. Aos treze anos de idade, ele encontrou uma arma em casa enquanto mexia, sem permissão, nas coisas do seu pai. Ao encontrar o filho com a arma na mão, o pai brigou com o menino, disse que era apenas uma forma de se proteger enquanto trabalhava.
Anos depois, descobriu a que tipo de trabalho o pai estava se referindo. A contragosto do mais velho, seguiu os passos da figura paterna e se juntou ao pai no mundo do crime. Não era como se ele achasse certo o que fazia, mas se orgulhava em ajudar a sua mãe e em conseguir pagar os estudos do irmão para que ele não seguisse os seus passos.
Estava com a sua mãe e o seu irmão mais novo na casa que ele comprou para a mesma em uma cidade não muito longe da que ele morava.
– Guarde isso, mãe, eu não quero que falte nada pra você e nem para o meu irmão. – Pediu enquanto entregava uma grande quantidade de dinheiro, que conseguiu com o roubo do cofre dias antes.
A mais velha olhou receosa para a quantia que ele ofereceu. Apesar de nunca falar, ela sabia de onde vinha aquele dinheiro. Nunca foi a favor do que o marido fazia e mais ainda do filho, que seguiu os mesmos passos do pai. Sempre que possível, ela aconselhava para que ele deixasse a vida que levava para trás e que fosse morar com ela.
– Até quando, meu filho? – Anne perguntou e ele sabia exatamente do que ela estava falando sem que a mais velha precisasse explicar.
– Eu prometi vingar a morte do meu pai. Quando isso acontecer, eu venho ficar com você. – Respondeu frio, ainda segurando as notas em mãos.
– Nada do que você fizer vai trazer o seu pai de volta. – Quis lembrá-lo, como se aquela informação pudesse fazer com que ele mudasse de ideia.
– Eu dei a minha palavra a ele, mãe. Eu não vou voltar atrás.
Um pequeno silêncio surgiu entre eles, silêncio que Anne sentia que poderia quebrar a qualquer momento. Quando o filho chegou em sua casa naquela manhã, a primeira coisa que ela perguntou foi o que havia acontecido, já que notou que ele estava estranho antes mesmo que falasse alguma coisa. Mesmo negando, Anne sabia que, em algum momento, ele ia abrir o jogo, já que a única coisa que não comentava com a mãe eram os crimes que ele cometia, justamente para poupar a mais velha daquele sofrimento.
– Eu conheci alguém. – Ele começou, recebendo a atenção da mãe, que aguardava o seu momento de falar. – Ela é incrível e estou completamente apaixonado por ela. – Riu, desacreditado do que ele mesmo falava. – Ela me traz paz, me traz alegria. A conseguiu despertar em mim o que eu nunca senti antes. Eu só tenho medo de não conseguir conviver com ela e com esse segredo pra sempre.
– Dê uma chance para o amor, meu filho. Consigo ver nos seus olhos o quanto você está feliz. Espero poder conhecer essa menina que conseguiu amolecer o coração do meu filho. – Disse e viu o filho sorrir.
– Se isso tudo acabar logo, você certamente irá conhecê-la em breve. – Comentou, se referindo à promessa que fez ao pai. – Guarde esse dinheiro, mãe, para que nunca falte nada pra você e para o meu irmão. Eu preciso ir agora, mas não demoro pra voltar.
– Não demore mesmo, eu sinto muito a sua falta. – Falou antes de abraçar , que retribuiu todo o carinho que recebeu.
Depois do momento em família, pegou o seu carro e dirigiu até o cemitério em que se encontrava o corpo do seu pai. Apesar de não ter nada contra ele e de nunca ter deixado vestígios dos crimes que cometeu, tinha medo de que algo pudesse acontecer com ele. Devido a isso, ele ficou mais tranquilo ao ver aquele local completamente vazio. Foi até o túmulo do mais velho, parando a poucos centímetros de distância e ficando um bom tempo em silêncio, buscando em sua mente as palavras certas para colocar pra fora tudo o que ele queria falar com o pai.
– Eu não vou desistir, pai, eu prometo. Eu vou acabar com a vida de quem acabou com a sua, nem que seja a última coisa que eu faça. – Ficou mais um tempo em silêncio enquanto sua cabeça parecia querer explodir. – Se um dia ela descobrir, eu espero que ela consiga me entender. A me ama, pai, e eu a amo muito também. Mas antes dela, tem você, e isso não vai mudar, eu te dou a minha palavra. – Concluiu, se esforçando para que ele mesmo acreditasse nas palavras que saíam de sua boca.
Após se despedir do pai, dirigiu de volta para a sua cidade e foi até o apartamento onde morava. Não conseguia ficar longe dela por tanto tempo. Poderia enganar qualquer pessoa, exceto ele mesmo. era, sem sombra de dúvidas, o grande amor da sua vida.
– Surpresa! – Ele apareceu já no fim da tarde, viu o sorriso que ele tanto amava aparecer nos lábios de .
, que surpresa boa. – Respondeu antes de beijá-lo. – Achei que estivesse trabalhando hoje.
– Tenho algumas horas de folga, vou entrar mais tarde. – Respondeu enquanto sua mente o acusava mais uma vez por estar mentindo pra ela.
O casal aproveitou o tempo juntos para matar a saudade que sentia um do outro. Embora sentisse vontade de estar com todos os dias, tinha que manter distância para que a sua história sobre ter um trabalho fixo fizesse sentido.
– Eu estive com a minha mãe hoje, falei de você pra ela. – comentou enquanto os dois se alimentavam com uma pizza que haviam pedido.
Mal sabia ela que lembranças recentes aquele alimento trazia para .
– Espero que tenha falado bem. Não vejo a hora de conhecê-la.
– Isso vai acontecer em breve, prometo. Como ela mora em outra cidade, acaba ficando mais complicado. – explicou, embora adiasse aquele encontro de forma proposital.
– Eu entendo, amor. Mas não tenho pressa, temos a vida toda pela frente. – Sorriu antes de presentear com um selinho.
pareceu pensar em algo e, antes que questionasse a namorada, ela comentou o que se passava em sua mente.
– Vou falar com meus pais para virem até a cidade daqui a alguns dias, acho que está chegando a hora de você os conhecer.


Capítulo 3

dirigia em direção ao restaurante enquanto cantava animadamente a música que tocava na rádio. Eles estavam comemorando mais um mês juntos e ambos não podiam estar mais felizes. Alguns assassinatos aconteceram na cidade, nos quais não estava envolvido. Isso fez com que a movimentação de policiais pelas ruas aumentasse consideravelmente. Com isso, ele e a sua turma estavam tranquilos, esperando a poeira baixar para que eles pudessem colocar os seus planos em ação.
A noite não poderia ter sido mais agradável. Os dois riam, trocavam carinho e lembravam os momentos marcantes do relacionamento. Ao lado de , sequer lembrava de tudo o que fazia de errado. Era como se ela o levasse para um lugar completamente diferente da sua realidade, onde o amor e alegria que eles sentiam por estarem juntos sempre prevalecia.
– Me conta alguma coisa que eu não sei sobre você. – pediu quando um pequeno silêncio nasceu entre eles.
– Você já sabe tudo sobre mim. – Ele mentiu ao responder sorridente, já estavam um pouquinho mais animados devido à quantidade de vinho que tomaram.
– Mas eu gosto de saber mais sobre você. Me conta, sei lá, a primeira lembrança da sua adolescência.
ficou alguns segundos em silêncio, pensando no que compartilharia com a namorada. Como se um filme passasse em sua mente, ficou nítida uma lembrança que, mesmo se quisesse, ele jamais esqueceria.
O calor infernal daquela cidade impedia que ficasse com os vidros do carro fechados, o vento batendo contra o seu rosto era melhor que qualquer ar condicionado. Ao seu lado, seu pai dirigia em silêncio, parecia estar com a cabeça em outro lugar. Embora tivesse curiosidade de saber o que o mais velho pensava e para onde os dois estavam indo, preferia esperar o tempo do seu pai.
– Chegamos, meu filho. – Jeremy se pronunciou pela primeira vez dentro daquele veículo, saindo logo em seguida e sendo seguido por .
Os dois estavam em um espaço aberto e, ao redor, existiam muitas árvores enormes, que deixavam aquele lugar um tanto quanto assustador. Não sabia dizer o lugar exato onde os dois estavam, mas sabia que era bem distante da cidade.
– Que lugar é esse? O que a gente está fazendo aqui? – Jeremy foi questionado pela primeira vez.
O pai segurou nas mãos do filho, demostrando o amor que sentia por ele. era o seu orgulho e ele não se cansava de dizer isso.
– Meu filho, quando eu soube que a sua mãe estava grávida, eu me senti o homem mais feliz do mundo. – Ele começou, deixando a sua emoção transparecer. – Na mesma época, eu fiquei desempregado e perdi meu chão.
– Eu não sei onde você quer chegar com tudo isso, pai.
– O mundo do crime entrou na minha vida nessa época, eu juro que eu não tive outra escolha. – Ele continuou explicando, tentando, ao mesmo tempo, se acalmar. – Eu não quero que você siga o mesmo caminho que o meu mas, se um dia isso for uma necessidade, quero que você esteja pronto. Só me prometa que não vai deixar o ódio e a ganância roubarem o lugar de todo amor que tem aí dentro de você.
não conseguiu responder de imediato. Não conseguiu dizer um sim, um não ou até mesmo responder a promessa do pai. Sabia muito bem o que Jeremy fazia para colocar comida dentro de casa.
– Pai, você disse que não era pra eu seguir o seu caminho. – Ele lembrou de uma conversa que teve com Jeremy alguns anos antes.
– E eu ainda não quero que você siga, mas acho que preciso de você ao meu lado e preciso te preparar caso a vida seja cruel com você como ela foi comigo.
E, naquele momento, conseguiu sorrir. Só o fato de saber que o seu pai estava confiando nele a ponto de deixá-lo trabalhar ao seu lado fez com que sentisse vontade de abraçar o mais velho. E foi exatamente isso que ele fez.
– Obrigado por isso, pai. – Disse, ainda abraçando com força o mais velho. – Eu prometo qualquer coisa.
– Só não esqueça que isso não é brincadeira. Não é divertido, meu filho, é uma questão de necessidade. – Informou e assentiu.
– Mas, pai, você me trouxe nesse lugar tão longe só pra dizer tudo isso? – Ele quis saber.
– Claro que não. – Jeremy sorriu, como se estivesse esquecendo de algo.
Logo, tirou uma arma da cintura e entregou para o filho.
– Acho que está na hora de você aprender a usar essa belezinha.
balançou a cabeça de um lado pro outro, querendo esquecer aquela lembrança que veio do seu pai. Jamais poderia compartilhar com que a lembrança mais nítida da sua adolescência era o dia em que ele aprendeu a atirar.
– Não me diga que a lembrança é da sua primeira namoradinha da escola. – revirou os olhos ao quebrar o silêncio, fazendo o namorado gargalhar.
– Como é que você adivinhou isso? – Ele provocou e a viu negar com a cabeça.
Logo, tomou mais um gole do vinho antes de começar a contar qualquer outra coisa para entreter a sua garota amada.


Capítulo 4

já estava mais calma, já havia parado de chorar quando foi até a portaria para se despedir de . A jovem havia brigado com a sua melhor amiga e não conseguia esconder a sua decepção. Apesar de ter dormido ao lado de , ainda estava chateada naquela manhã. Para a sua sorte, ela tinha o namorado ao lado que tentava, do seu jeito, animá-la.
– Fica bem, meu amor. – pediu ao se despedir, depois de depositar um selinho em seus lábios. – Mais tarde, eu volto pra passar o dia com você. – apenas assentiu em resposta.
Os dois se beijaram mais uma vez antes que andasse em direção ao seu carro. Entrou no automóvel e percebeu que permanecia imóvel no mesmo lugar. Antes mesmo que ele ligasse o veículo, apareceu e entrou no carro, sentando-se no banco do passageiro. A atitude só não assustou o rapaz porque ele estava de olho na namorada.
– O que houve, ? – Perguntou apreensivo ao ver que ele começava a chorar novamente.
, eu me decepcionei com alguém que era muito importante pra mim. – Ela começou a falar entre as lágrimas. – Promete que você nunca vai mentir pra mim? Que nunca vai me decepcionar? – Pediu.
Sem saber o que fazer ao ver a namorada tão desesperada, abraçou a garota, que retribuiu de imediato. Sentia o corpo de tremer contra o seu, da mesma forma que a encontrou na noite anterior.
– Ei, , fique calma, meu amor.
– Me promete , por favor. Eu não suportaria uma decepção vinda de você.
Os dois se separaram assim que aquela frase foi pronunciada. Os olhares se encaravam enquanto esperava a resposta de , que não pensou duas vezes antes de responder.
– Eu prometo! – Ele garantiu antes de selar os seus lábios com os dela.
Após aguardar que estivesse mais calma, se retirou, mudando por completo a sua rota. “Eu prometo”. Aquelas palavras rodeavam a mente de e, ao pensar em promessas, automaticamente lembrava de seu pai. Não era nenhum problema cumprir a promessa que ele fez para mas, para isso, ele precisava quebrar a promessa que fez ao seu pai. Lembrou também de quando Jeremy pediu para que ele não deixasse o ódio ocupar o lugar do amor. Cumprir a promessa que fez para o pai seria por puro ódio. Cumprir a promessa de nunca machucar era por amor.
Dirigiu por mais algumas horas até chegar na cidade onde sua família morava mas, dessa vez ele não estava lá para visitá-los. foi até o cemitério onde ficava o túmulo do seu pai. Parou em frente ao local enquanto pensava nas palavras que usaria para confessar o que estava atormentando o seu coração.
– Pai, eu não consigo mais. – Ele começou, as lágrimas tomando conta dos seus olhos. – Eu não consigo mais amar a e manter a promessa de me vingar daquele desgraçado que acabou com a sua vida, pai, eu não consigo.
Ele colocava pra fora tudo o que estava incomodando. Era como se um nó se formasse em sua garganta e, embora soubesse que o seu pai não podia lhe responder, sabia que era pra Jeremy que ele deveria falar.
– Eu vou abrir mão dessa vida que eu tenho. Eu vou arrumar um trabalho decente e vou fazer a muito feliz e deixar essa vingança pra lá. Nada vai te trazer de volta. – respirou fundo antes de finalizar. – Você me pediu para nunca deixar o ódio tomar conta do lugar do amor, e é isso que eu estou fazendo. Espero que você não me odeie por isso, pai, eu amo você!
Uma dor que jamais havia sentido tomava conta do seu coração, só não era pior do que o que ele sentiu quando presenciou a morte do pai. O problema era que, depois de , cada vez que ele cometia um crime, a voz dela apareceria em sua mente, dizendo que aquilo era errado. Ele já havia perdido o seu pai, o homem que era o seu motivo de orgulho. Não queria perder a mulher da sua vida também.


Capítulo 5

– Você tem certeza disso? – Foi a única pergunta que David fez a após ouví-lo.
Eram amigos demais e conheciam um ao outro, sabia que tinha certeza de suas palavras. O rapaz havia acabado de dizer para David que desejava abandonar a vida que os dois levavam. Não conseguia mais matar, roubar e amar ao mesmo tempo. Doía demais mentir para a pessoa que era responsável pela sua alegria nos últimos dias.
– Sim! Eu pensei muito antes, eu não viria falar com você se ainda tivesse dúvidas. – Confirmou e viu David assentir. – Vou procurar um trabalho que seja bom o suficiente para que nunca falte nada para a minha família.
David se levantou de onde estava sentado e foi em direção aonde estava, abraçando o amigo logo em seguida. Independente de qualquer coisa, David desejava que o seu amigo fosse feliz. E ele sabia que estava fazendo muito bem aquele papel na vida de .
Jamais se esqueceria do quanto sofreu com a morte do pai, sabia que aqueles haviam sido os piores dias na vida do seu melhor amigo. Saber que ele estava bem e feliz deixava David feliz também, e ele jamais seria contra isso. No fundo, o que eles faziam nunca era por prazer ou diversão: era por necessidade. Mas se não conseguia mais conciliar aquilo com os novos acontecimentos da sua vida, só restava a David aceitar.
– Se é isso que vai te fazer feliz, tem todo o meu apoio. – Disse, ainda abraçado com o rapaz. – Mas você vai fazer falta nos nossos negócios.
Os dois riram, embora soubessem que aquela frase tinha um pouco de verdade. Na maioria das vezes, era quem comandava tudo o que acontecia. Como começou bem cedo, graças a seu pai, havia aprendido muita coisa com o mais velho. Um pouco depois, a vida cruzou o seu caminho com o de David e eles perceberam que os dois eram ótimos sozinhos, mas funcionavam perfeitamente juntos.
– Você sabe que pode contar comigo. Eu só não me sinto bem mentindo pra . Como eu sei que ela não aceitaria essa minha vida, prefiro me ausentar.
– Se precisar de mim, você também sabe onde me encontrar. – O amigo concluiu antes que eles se abraçassem mais uma vez.
saiu daquele momento com o amigo sentindo-se leve, como se estivesse tirado uma tonelada de suas costas. Não pensou muito antes de ir correndo para os braços de sua amada. Ao chegar no apartamento dela, cumprimentou com um beijo apaixonante, como se a sua vida dependesse daquilo.
– Algum motivo especial para tanta animação? – perguntou ao afastar os seus lábios do dele.
– Só o fato de eu ser completamente apaixonado pela minha namorada não é o suficiente? – Ele segurou a risada enquanto esperava pela resposta.
– Claro que sim. – Ele respondeu antes de beijá-lo mais uma vez.
Depois se uma tarde de amor, descansava sobre o peito de enquanto os dois assistiam um filme qualquer que passava na TV. Em um certo momento, levantou o seu corpo para olhar nos olhos do namorado antes de começar a falar.
– Amor, eu preciso te contar uma coisa. – Começou e assentiu para que ela continuasse. – Eu não falei com você sobre isso antes pra não te assustar mas acho que, uma hora ou outra, você irá descobrir, então é melhor que seja por mim.
– Como assim? – Questionou confuso, sem saber ao certo do que ela estava falando.
– Meu pai é policial, eu menti sobre a profissão dele porque achei que você pudesse sentir medo. Todos o conhecem aqui na cidade e, por isso, ele teve que se mudar. Mas ele está vindo pra cá me visitar.
Um calafrio surgiu no corpo de , que desejou mentalmente que aquela fosse apenas uma péssima coincidência, que fosse qualquer policial menos o que ele procurou por tanto tempo e desistiu assim que e o amor que sentia por ela passaram a tomar conta de sua vida.
– Qual o nome dele? – Ele perguntou0 ignorando todo o restante da fala.
– Martin . Ele mudou faz alguns anos, mas vem me visitar no próximo final de semana. Ele vai amar te conhecer.
E então o mundo de caiu. Ele estava perdidamente apaixonado pela filha do homem que matou o seu pai.


Capítulo 6

Aquele não era um dia qualquer. estava nervoso, como na primeira vez em que ele matou uma pessoa. Estava nervoso porque, em poucos minutos, ele estaria frente a frente com Martin , o seu sogro e o policial que havia matado o seu próprio pai. Por mais que tentasse, sua mente não conseguia se concentrar em uma coisa só. Seria difícil demais ficar cara a cara com aquele policial, de quem prometeu tirar a vida. Seria um sacrifício continuar sendo o namorado perfeito para depois de descobrir que ela carregava o mesmo sangue do homem que destruiu a sua família. respirou fundo antes de apertar a campainha do apartamento de , que não demorou para atendê-lo.
– Amor, que bom que você chegou. – cumprimentou o rapaz animada, beijando os lábios do mesmo, que não conseguiu retribuir. – Tá tudo bem? – Ela questionou por conhecer bem o namorado e perceber que ele estava estranho.
– Sim, só estou com dor de cabeça. – Forçou um sorriso que acabou convencendo a namorada.
– Entre, eu te dou um remédio. – Avisou, puxando o rapaz para dentro. – Meu pai está na sala te esperando.
Aquelas últimas palavras de fizeram o coração de disparar. Deu um passo para frente para que não percebesse que ele estava tremendo e, logo, os seus olhos se cruzaram com os de Martin . Seu sangue ferveu, o amor que ele sentia por parecia ter perdido o espaço em seu coração, que foi rapidamente ocupado pela raiva e pelo ódio. Ao ver aquele homem sorrindo com um ar superior, mesmo que ele não soubesse quem era, o rapaz sentiu como se ele estivesse jogando em sua cara o que ele fez com o seu pai.
– Meu caro , ouvi falar muito bem de você. – O policial cumprimentou sorridente, completamente diferente da pessoa a quem ele dirigia a palavra. – Martin , é um prazer te conhecer. – Ele ainda se apresentou.
– O prazer é meu em te rever. – Respondeu em tom sério, fazendo com que e o seu pai lançassem olhares confusos em sua direção. – Acredito que você não tem uma memória ruim.
, que papo é esse? – questionou, tentando entender o que estava acontecendo. – De onde você o conhece?
, muito prazer. – Focou em seu sobrenome, fazendo Martin arregalar os olhos. – Você não deve se lembrar de mim, mas duvido que tenha esquecido o meu sobrenome. – Continuou falando e, logo, viu o mais velho apontando uma arma em sua direção. – Seu desgraçado!
Antes mesmo que qualquer um dos três pudesse falar mais alguma coisa, pegou a arma que escondia na cintura e segurou em sua frente enquanto apontava a arma na cabeça da namorada.
Foi como se o tempo tivesse parado para . A garota observava imóvel a imagem do pai em sua frente, querendo entender de onde eles se conheciam e porque estavam naquela situação. Enquanto isso, o amor da sua vida apontava uma arma em sua cabeça, segurando o seu corpo contra o dele de uma forma que, nem se quisesse, ela conseguiria escapar.
– Ele matou o meu pai, . Esse desgraçado acabou com a minha vida. – pareceu ter lido a mente de , que não conseguia falar, apenas chorava e tremia, temendo que pudesse desmaiar a qualquer momento.
– Eu sabia que aquele verme deixaria o filho no lugar dele. Eu ia te encontrar até no inferno, . – Martin gritou, provavelmente estava na sua lista de inimigos. – Você sabia que ele é filho do maior bandido dessa cidade, cuja vida eu tive o prazer de tirar? Aposto que ele não te contou, minha filha.
– Pelo amor de Deus. – conseguiu falar entre as lágrimas. – Parem com isso, eu estou aqui.
– Solte a arma ou eu acabo com a vida da sua filha. – ordenou, ignorando o pedido da namorada.
Naquele momento, ele não conseguia pensar em nada que não fosse acabar com a vida daquele homem que estava em sua frente.
– Você não faria isso. – Negou com a cabeça enquanto via o olhar de pânico da filha.
– Que pagar pra ver? – Perguntou, apertando a arma contra a garota.
Vendo a filha chorar de desespero e o olhar de transbordando ódio, Martin se abaixou sem desviar o olhar e jogou a arma no chão para que ela caísse próximo aos pés de , que a pegou de imediato.
– Se você gritar ou fazer qualquer coisa, você morre. – Sussurrou para antes de andar em direção aonde Martin estava.
Com a arma, atingiu a cabeça do policial com um golpe, que caiu desacordado no chão. Enquanto isso, tentava segurar as lágrimas, fechando os olhos para não ver o que havia acontecido.
... – ainda tentou falar mas não conseguiu.
– Vem comigo. – Ordenou, segurando o braço de sem delicadeza.
Embora jamais desejasse mal a garota, no momento, ele não conseguia pensar em outra coisa além de vingança.
, o que tá acontecendo? Por quê você tá fazendo isso comigo? – Perguntou quando os dois estavam no quarto, ainda segurava as duas armas.
– Ele que é o culpado, , você não entende? Seu pai matou o meu e eu jurei acabar com a vida dele. Eu larguei essa vida do crime por você e prometi deixar essa vingança pra lá, mas eu não consigo ficar cara a cara com esse filho da puta e não fazer nada.
Naquele momento, estava desesperada. Era muita informação de uma só vez e ela só desejava que tudo aquilo fosse o seu pior pesadelo e que ela acordasse logo.
– Você prometeu que nunca iria me magoar. – Ela lembrou, querendo que as suas palavras o fizessem mudar de ideia. – Você disse que me amava.
– E eu ainda amo, mas acho que não sou muito bom em fazer promessas. – Respondeu enquanto amarrava as mãos de e a colocava sentada na cadeira.
– O que você vai fazer comigo? – Ela ainda conseguiu perguntar antes que amarrasse um pano em sua boca, impedindo que ela gritasse.
– Vou te poupar de ver o que eu vou fazer com aquele verme que, infelizmente, você tem que chamar de pai. – Respondeu e saiu, trancando a porta pelo lado de fora.
Martin ainda estava desacordado mas estava vivo. Sem perder tempo, disparou dois tiros na cabeça do mesmo. Embora soubesse que estaria sofrendo ao ouvir os disparos, ele não teria coragem de ir até lá novamente. Ele só estava fazendo aquilo pelo seu pai. Desejava que, em algum momento da vida, pudesse perdoá-lo.
– Espero que você esteja feliz e orgulhoso de mim agora, pai, onde quer que esteja. – Falou antes de sair
Logo, alguém aparecia para saber o que havia acontecido e tudo o que ele desejava era estar longe quando isso acontecesse. Tinha fé e esperança de que pudesse perdoá-lo em algum momento e conseguisse superar o que aconteceu. Ele havia passado por uma situação parecida e ele sobreviveu.


Fim.



Nota da autora: "Olá! Espero que tenham gostado. Não deixem de comentar o que achou da história!"



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus