04. Only Girl (In the World)

Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

A única garota no mundo



O maior defeito de Yoon é ser perfeito demais.
E não digo apenas sobre beleza física, poder aquisitivo, inteligência e todos esses atributos que caracterizam gente assim. Ele já tinha tudo isso e mais um pouco. Também tinha um belo apartamento na cobertura, habilidades únicas que o colocavam no topo do pódio das maiores competições de E-Sports e mulheres dispostas a dar uma perna por um minuto de sua atenção. Pois é, Yoon tinha realmente tudo.
O que ele não tinha era: gentileza e coragem.
Bom, claro, quando se tratava de mim.
A forma como eu o conhecia era bastante peculiar, diga-se de passagem. Em apenas um semestre na faculdade, ele tinha conseguido avançar por 1 ano inteiro no currículo e ingressou na agência da K&K, sediada na Noruega, como o melhor jogador de Multiverse Flag na habilidade MOBA da Ásia, e daí era como se tivessem injetado foguetes em seus pés, porque o céu não parecia mais ser o limite. O mundo inteiro conhecia o nome de , mesmo que nem todos conhecessem seu rosto, que ficava a maior parte do tempo atrás de um monitor (ou de um baralho), ou escondido debaixo de um capuz. Sem contar o seu grande prazer em simplesmente ficar em sua própria casa, sem ser perturbado. Nessa parte eu não posso julgá-lo, mas seria legal ir a umas festas iradas às vezes, principalmente quando estão pagando pra você estar lá.
Ser meu veterano não foi o motivo que me causou problemas. era muito popular e disputado em todas as áreas da vida: acadêmica, amorosa, social... não havia um único grupo reunido naquele gramado da Universidade de Seul que não estivesse falando da última de Yoon . Quando resolveu ir embora para jogar, tudo piorou. Ele conseguia ficar mais presente mesmo quando não estava mais ali! Houve dias em que preferi almoçar bem longe da aglomeração porque não dava.
No geral, tinha lá seus poucos amigos seletivos e falava no máximo três palavras com quem não conhecia. Eu nunca entendi qual era o tesão da mulherada em se interessar bruscamente por um cara que NÃO fala e que sempre dava as cartas em qualquer relação, e esse tipo de coisa era um surto geral. Mas os fatos eram inegáveis: falava apenas com amigos, família e patrocinadores, nada mais. Nem as câmeras tinham o privilégio de ouvir muita coisa.
Mas acontece que tinha uma pessoa bem peculiar em seu ciclo de amizade. E essa pessoa se chama meu irmão.
Tudo bem, o nome dele é Eunwoo, mas whatever.
E não apenas isso: Eunwoo e dividiam o quarto no alojamento masculino, o que era um porre para mim porque todas as vezes que precisava levar alguma comida ou roupa que mamãe obrigava, eu batia naquela porta lotada de cartas e presentes de garotas aleatórias que me usavam de ponte para chegar ao colega de quarto de Eunwoo. A única parte boa disso foi que nunca aceitava nenhum dos chocolates, então esse privilégio ficava pra mim.
Mesmo assim, era insuportável. E é insuportável como esses dois continuam amigos até hoje, mesmo depois de ter ido embora para a Noruega.
Mas, bem, diferente do que toda a população do campus pensava, eu e não tínhamos nada nem perto de amizade. Nem mesmo um coleguismo, um conhecer. Pra ser bem sincera, ele mal me dava um olá quando me via pelo campus. Mas ele fazia algo que era o suficiente para deixar quem visse surtando um pouco:
Ele olhava profundamente para o meu rosto e erguia o canto dos lábios em um sorriso, ou o reflexo de um sorriso, de tão ínfimo e ridículo que era.
Ínfimo, gostoso e lindo. Muito lindo. Deus, como ele era lindo.
E é nessa parte que revelo minha mentira — e meu maior tombo. Porque eu me transformei naquilo que eu mais temia: a garota que é completamente apaixonada por Yoon . Mais uma.
E isso passava dos limites ano após ano.


🎮


Want you to take it like a thief in the night
Hold me like a pillow, make me feel right
Baby I'll tell you all my secrets that I'm keepin', you can come inside
And when you enter, you ain't leavin', be my prisoner for the night

(Quero que você pegue como um ladrão na noite
Me abrace como um travesseiro, me faça me sentir bem
Querido, vou contá-lo todos os meus segredos que estou guardando, você pode entrar
E quando entrar, você não vai sair, seja o meu prisioneiro esta noite)


Minha cabeça estava explodindo em um vórtice naquela manhã. E não posso dizer que era a primeira vez que acontecia.
Passei o cartão de identificação pela catraca e me embolei até mesmo na hora de passar, revelando pra todo mundo, interessados ou não, o que era meu problema, já que não era tão incomum uma garota aparecer na segunda feira de manhã vestida com uma jardineira jeans, tênis all-star — que hoje, pelo menos, eram da mesma cor — e óculos escuros. E não se esqueça do cabelo em rabo de cavalo, esse é clássico.
O alívio foi quase um soco quando encontrei o elevador vazio, me dando a chance de recostar a cabeça no vidro atrás e ficar ali até que eu encontrasse qualquer aspirina no andar de cima. Eu poderia realmente começar a esquecer os nomes das peças eletrônicas se eu não tratasse isso imediatamente.
Mas, às vezes, a paz realmente não queria ser minha melhor amiga.
O elevador mal tinha acabado de fechar, quando 3 pessoas entraram de uma só vez. Eu não me importaria com isso, caso uma delas não tivesse uma aura tão forte e esmagadora que me fez ajeitar a postura e a manter ereta, como se recebesse um presidente. Bem, Yoon era quase isso naquela grande agência da K&K.
Porém, como sempre, ele estava ocupado demais em silêncio enquanto lia um formulário importante e difícil que um dos outros dois subordinados haviam cedido, e esses, sim, não paravam de falar um minuto sequer sobre contratações, novos parceiros, novas competições e novos sei lá o quê. Eu tinha uma leve impressão de que a gestão da empresa era um pouco supersticiosa, do tipo de quererem que tocasse os papéis importantes vindos de fora primeiro do que todo mundo para dar sorte, ou para tornar claras quaisquer que fossem as mensagens que pudessem conter. Mantive minhas mãos nos bolsos, quase pedindo para que calassem a boca porque minha cabeça doía, e meu coração já fazia barulho demais porque entrava em surto quando ele estava perto.
Você só me fode, . Não de um jeito que eu gostaria, infelizmente.
Depois de alguns minutos, eu tinha certeza de que estava escorregando pela parede novamente enquanto o elevador não chegava ao maldito andar, quando ouvi sua voz:
— Quanto você bebeu?
Demorei alguns segundos para identificar que ele falava comigo, porque, é claro, haviam mais 2 pessoas desesperadas por respostas suas.
Mas, sim, quando virei a cabeça para o lado e vi que ele continuava com os olhos no papel, sem me olhar, enquanto os outros 2 faziam exatamente isso para mim, revirei os olhos de tédio e bufei.
— Menos do que eu gostaria — respondi.
— Temos um pouco de regras por aqui, . Uma delas exige que você esteja sóbria pra fazer qualquer outra coisa. — Dessa vez, ele deu uma rápida olhada pra mim, naquela pose superior que tinha sem nem perceber. Dei um sorrisinho e virei o corpo para ele, debochada.
— Já te expliquei o que me faria largar a minha vida boêmia de beber com os meus amigos aos finais de semana sem rumo. — Levantei os ombros e vi que cruzou as sobrancelhas. O elevador apitou ao chegar ao andar, as portas se abriram e, excessivamente ciente da atenção que tinha dele no momento, continuei: — Você mesmo, bonitinho. Agora, se não se importa, com licença. — Fiz uma reverência teatral e sarcástica para ele e saí para o andar, ouvindo até mesmo seus dentes rangerem de irritação enquanto os outros 2 me olhavam com os olhos arregalados.
Sim, eu era como o pior pesadelo de Yoon . Porque nada me impedia de dizer o quanto eu o queria. De todas as formas.
Porque, qual é, qual o sentido de esconder que gosta de um cara? Todas as situações precisavam ser aproveitadas. Se ele tivesse uma namorada, seria outra coisa. Mas não tinha ninguém e tudo bem que parecia não querer, mas ele não podia me obrigar a parar de gostar dele. Quando eu parasse, bem, acho que toda Seul perceberia. Ele seria o primeiro a perceber.
E, bem, a outra vantagem é que essas declarações rápidas, porém verdadeiras, dos meus sentimentos eram a única coisa que não contava para Eunwoo ao meu respeito. Depois de 5 anos da nossa epopeia na Universidade de Seul, Eunwoo se formou em Direito e trabalhava na sede da K&K na Noruega, onde era advogado do time e um ótimo advogado, diga-se de passagem. Eu me formei com muitas honras em engenharia da computação e recebi inúmeros convites de trabalho quando decidi procurar um emprego, mas eu já tinha o que eu mais queria à vista.
Abrir minha própria empresa de confecção de equipamentos eletrônicos e oferecer um serviço de consultoria e manutenção exclusiva para a K&K. Porque é claro que eu faria algo pra poder ver regularmente, mesmo que ele vivesse viajando pra campeonatos e não parasse muito em Seul.
Nesse momento em questão, eu abria as portas de forma ligeiramente teatral da sala de treinamento, porque alguns dos calouros estavam tendo problemas no tempo de resposta do mouse, estando lento há vários segundos abaixo do normal. Era um trabalho fácil, mas que se acumulava facilmente, porque era totalmente compreensível que as máquinas não aguentassem o ritmo frenético que aqueles garotos lançavam pra cima delas. Eles eram bem mais máquinas do que máquinas.
— Preciso de um café! — gritei, quando passei pelas portas, erguendo os braços para acenar para todos os garotos. Não se engane, a frase era tipo meu lema. Todos eles, sem exceção, se levantaram rapidamente para uma curvatura com um sorriso, porque, é claro, eles me amavam. Não sei se era porque eu os dava chocolates de vez em quando ou trocava seus headphones por cores personalizadas, mas, sim, eles me amavam. E mesmo que eles tivessem apenas uns 6 anos a menos do que eu, eu os via como filhos e torcia muito por eles.
Ou talvez eles me amassem porque sabiam da minha convivência nada profissional e nada respeitosa com , e, é claro, metade desses garotos jamais tinham chegado a 10 metros do astro da K&K, mesmo que provavelmente tenham chegado aqui por causa disso. E eu já tinha sido bem clara que 1 milhão de wons não me comprariam para armar um encontro surpresa de fã e ídolo — bem, eles não tentaram o bilhão, mas eles não precisavam saber disso.
Quem me deu o café rapidamente foi Hyung, um dos jogadores mais velhos que estava prestes a entrar no time principal, então praticamente seria o primeiro dos queridos trainees a ver e passar horas ao lado de numa sala enorme e bem equipada. Ele sorriu abertamente quando me entregou o café expresso, esfriando-o o máximo que podia de uma mão à outra.
— Bom dia, . Hoje você está absolutamente fantástica.
— Sem truques, não posso adiantar nada pra você, Hyung, cai fora. — Era estranho chamar um moleque de 18 anos de Hyung, mas ele escolheu esse nome de trabalho porque é muito fã dos livros do George Orwell, então quem sou eu pra julgar? Mesmo que os caras do time principal com certeza o mandariam trocar.
— Ah, qual é... — ele bufou em um chorinho — Pode pelo menos me dizer se ele está aqui?
Bebi um gole do café e suspirei lentamente, como se sentisse a vida voltando pro meu corpo.
— Ele está. Vim no elevador com ele. Lindo e autoritário, como sempre.
— E o que ele está indo fazer? — perguntou animado. Eu balancei a cabeça em negação.
— Eu também queria saber todos os passos daquele crápula, querido Hyung, principalmente fora daqui. O que você acha de eu implantar um microchip nele? Hein? — Levantei as sobrancelhas, que ficaram evidentes mesmo com os óculos. — Assim vou ficar sabendo de cada mulher que ele transa e poder matá-la depois, e tudo começaria com um corte de cabelo...
— Para de assustá-lo, . — A voz de Jinwoo veio ao meu lado e já comecei com a segunda revirada de olhos do dia. — Hyung, pode começar e terminar mais duas partidas enquanto configura o novo mouse. Ele deve estar disponível ao fim do dia.
— Sim, senhor. Até mais, . — Hyung fez uma referência ao seu verdadeiro hyung e então saiu, me deixando sozinha com o chato.
Ok, ele não era chato desse jeito. Até começou a rir quando entramos na sala dos equipamentos, principalmente quando fechou a porta. Aquela pose autoritária era só pra dar medo nos pequenos.
— Eu consigo adivinhar exatamente onde você esteve só pelo cheiro do seu bafo.
— Não vou ficar tão perto de você a ponto de sentir o meu bafo, para de flertar comigo — avisei, também rindo. Caminhei até a mesa de metal, sentando-me enquanto lia primeiro os formulários do pedido de mudanças. Ali era meu laboratório, aquela era minha mesa cirúrgica e um conjunto de placas e materiais de solda eram meus itens de dissecação. Sério, meu trabalho era um paraíso.
— E veio vestida assim pra mostrar o quanto não se importa de ser informal? — Ele apontou para a minha jardineira, que tinha a barra torcida nos tornozelos e que a única coisa que eu usava por debaixo dela era uma blusa branca e curta, tomara que caia, que exibia a imagem livre do meu abdômen.
— Vim aqui porque sou uma gostosa que não tem obrigação de suportar esse calor. Um dia você vai entender. — Dei uma piscadinha, voltando o olhar para a lista. — E eu sou preciosa demais para que seus chefes se importem com a minha vestimenta.
— Claro. Ainda mais agora que tenho um novo chefe.
Desviei os olhos pra ele em confusão. Ele deu um sorrisinho sugestivo e me levantei, entendendo tudo.
— Você quer dizer.... Não! — Levei as mãos à boca, chocada, mas nem tanto. — Não. Ele realmente fez isso? — Soltei uma risada perplexa. Jinwoo assentiu, olhando para o relógio de pulso.
— Tenho uma reunião com o mais novo vice-presidente da K&K daqui há 10 minutos. E sinto que lá dentro nem vai precisar de ar condicionado, porque a presença dele na sala vai congelar todo mundo.
— Não acredito. — Bati uma palma, ainda pasma. — deve ser o vice-presidente mais novo de qualquer coisa que precise de um vice-presidente. Vocês devem estar muito felizes, isso mostra como ele acredita na K&K e não vai mais receber propostas absurdas dos outros times.
— Pois é, era realmente difícil perder noites de sono pensando que ele poderia aceitar nos deixar por bilhões de wons a mais na conta — Jinwoo concordou, com um sorriso sincero. — Mas ele vai continuar nas competições e vai passar por um período de muitos testes até assumir de vez. Afinal, ele ainda é o nosso melhor jogador.
— Melhor jogador de todos os jogadores, Park Jinwoo — corrigi, porque era verdade. O desgraçado era incrível. — Filho da puta. Agora ele vai poder comer quantas mulheres quiser — choraminguei, voltando a me jogar naquela cadeira.
— Ele já podia fazer isso antes — Jinwoo disse em tom óbvio.
— Cala a boca. — Rangi os dentes, também em tom óbvio. Fala sério. — Vai. Vai pra sua reunião. Me deixa aqui sozinha sofrendo pelos prós e contras.
Jinwoo revirou os olhos e me deu um tchauzinho antes de deixar a sala e me deixar sozinha com meus brinquedos.


🎮


No fim do expediente, eu estava um bagaço. Nada impressionante. Era nessas horas que eu me perguntava porque insistia em não pedir uma folga depois de convites de Daisy para beber em alguma balada de Itaewon, onde as atrações faziam cartas voarem de um lado para o outro, mas eu não conseguia evitar. Eu gostava do meu trabalho, mesmo com ressaca.
Já tinha escurecido quando decidi prender apenas algumas mechas do cabelo agora solto para trás e os óculos já tinham sido muito bem guardados na bolsa. Pelo espelho do celular, eu parecia uma excelente falsa profissional. Meti as mãos nos bolsos e entrei no elevador, já quase fechando os olhos de sono e sentindo a barriga roncar de fome, o que significava uma coisa boa de que meu corpo começava a se recuperar. Quando o elevador chegou ao térreo, tive o segundo mimo do dia que foi: o elevador à frente se abrindo ao mesmo tempo e de lá saindo meu querido , desta vez acompanhado apenas de um cara grande e de terno preto e com... aquele era Moonbin?
pousou o olhar em mim automaticamente e o vi revirar os olhos. Era geralmente assim que me tratava desde que comecei a trabalhar ali. Na faculdade, eu ainda tinha o sorrisinho simpático, mas na faculdade eu ainda não me declarava constantemente pra ele e ainda era vista como apenas a irmãzinha de Eunwoo. Agora eu era a irmãzinha de Eunwoo que tinha uma queda astronômica por ele e que, pelo amor de Deus, a irmãzinha do Eunwoo bebia cerveja e fazia sexo.
Mas se ele estava incomodado, era porque me via à altura e isso era tudo que eu precisava saber.
Como ele não quis ser voluntário para os cumprimentos básicos, Moonbin ofereceu a primeira frase:
. Uau. Ressaca de novo? — Moonbin sorriu ao me ver. Eu fiz o mesmo, porque ele era realmente legal. Moonbin era o braço direito de no time e um dos poucos amigos do seu ciclo. Fora que era um poço de piadas.
— É o que dizem, não é? Beber como se não houvesse amanhã, mas aí então vem o amanhã. — Dei de ombros, arrancando uma risada dele.
— Você é demais! Você não contou isso pro Eunwoo, não é? — Moonbin cutucou enquanto andávamos para o lado de fora. apenas revirou os olhos e me deu uma olhada de relance, que sustentei por um momento.
— Posso poupar meu amigo de mais dores de cabeça. Era capaz de ele voar até a Coreia por isso.
— Exatamente, que bom que pensa no bem estar do meu irmão, Yoon. Agora quando vai passar a pensar no meu? — Inclinei a cabeça e Moonbin soltou outra gargalhada, enquanto apenas moveu os olhos para a porta e me ignorou. O gesto era sempre vigoroso e intencional.
— É sério, você não existe, . Com quantos caras confundiu o ontem lá na Glam? E quantos deles te passaram o telefone depois daquela dança em cima do bar?
Arregalei os olhos para Moonbin. E vi quando largou o telefone e o olhou estupefato.
— Do que está falando? Você estava lá? — Era exatamente com isso que eu estava chocada, não com o relatório do que eu tinha feito, porque, fala sério, eu tenho amigos e um grupo no Kakao, ou seja!
— Claro que sim, até chamei esse idiota, mas é claro que ele não foi. Nós conversamos também, não lembra? O dono da boate me deu um cartão VIP pro karaokê, até incluiu nossos nomes...
— Porra — gemi em voz baixa, enquanto Moonbin ainda caía na risada. Se ele tinha recebido um cartão, significava no mínimo que eu deveria estar me esfregando nele como uma maluca, mas era bom que ele não tinha levado a sério. Depois, comecei a rir também, mas ainda estava com a mesma expressão agressivamente frustrada.
— Você dançou bêbada em cima de um palco? — perguntou, chocado. Ou zangado, eu não sabia dizer.
— Espera aí, não foi exatamente um palco, foi o balcão do bar, e tinha um pequeno pole dance, e eu tinha tomado 3 doses de tequila...
— E ela estava vestida, qual é. — Moonbin deu um tapinha com as costas da mão no ombro de , que o olhou como se pudesse soltar laser pelos olhos.
— E você aceitou o cartão VIP pra levar ela? — Agora ele parecia furioso. Ok, ele estava furioso.
— Aceitei, mas não levei, oras. Ela também tinha sumido em algum minuto e quando vi estava dançando com aquele cara... — Quase dei um chute em Moonbin. Mas não foi por isso que ele se calou. Foi porque o olhar de tinha realmente se tornado assassino. — Ok, eu vou buscar o carro. Vocês conversem aí, dá licença.
Covarde. Quase o chamei de volta no grito. Ele não podia me deixar sozinha com naquela situação. Eu seria vaporizada pelos seus olhares e cortada em mil pedaços pela sua bronca.
Porque é claro que, como SEMPRE, ele estaria furioso por eu colocar minha integridade em risco porque se preocupava muito com a saúde do meu irmão.
E era exatamente desse jeito que ele me olhava.
— O que você pensa que está fazendo, ? — Ele abriu os braços em indignação. — Será que você não consegue pensar que dá pra sair em um fim de semana sem aloprar completamente como uma adolescente?
— Até dá, mas não sou mais uma adolescente. Mesmo que você ainda pense isso. — Dei de ombros porque de jeito nenhum iria deixá-lo ditar regras pra mim. Não enquanto não estivéssemos nus.
Ele bufou em nervosismo, mas já começava a se recuperar. Esses momentos de perda de controle dele eram raros. odiava demonstrar as coisas.
— Tudo bem, não vou discutir com você.
— O que foi, ? Tá preocupado com a minha segurança? Que eu vá parar na cama de um indigente qualquer? Pode deixar, sabe que eu não curto essas coisas. Deixo esse papel pra você.
Ele revirou os olhos de novo, passando as mãos no rosto em aborrecimento.
— Ainda o assunto da Minah?
Espalmei as mãos no ar, como se o assunto não tivesse relevância.
— Relaxa, eu não quero saber o nome dela. Você tem várias histórias escondidas por aí e eu entendo. Mas é orgulhoso em relação a mim, Yoon — falei seu nome com sarcasmo, mas o fez ficar sem expressão. — É sério, usar meu irmão como desculpa tá ficando cada vez mais batido.
Me aproximei dele a alguns passos, o que geralmente o fazia dar o dobro de passos pra trás, mas dessa vez ele se manteve parado, olhando para baixo, direto pra mim.
— O que você acha de uma cerveja na beira do rio Han, bolinhos de carne da feira e karaokê? E depois deixar uma garota bonita na casa dela, hein? — disse sugestiva, com um grande sorriso. — Ou sendo mais direta: quer comer lámen comigo?
Aish! — Ele pareceu acordar e desta vez se afastou. Soltei uma gargalhada, mas ela não foi alta o suficiente pra esconder o ronco tenebroso que saiu do meu estômago, que o fez virar a cabeça com assombro. Droga, droga de fome e droga de conversas sobre comida!
Tudo bem, eu costumava fazer piada nessas horas estúpidas, mas agora eu só queria loucamente ir embora.
— Então, eu vou nessa, diga tchau pro Moonbin pra mim. — Comecei a andar para o outro lado, e ouvi sua língua estalando.
— Pra onde você pensa que vai?
Virei para ele, franzindo o cenho.
— Vou direto para o meu apartamento, caro senhor Babá Yoon. Pode ficar sossegado por não precisar mentir para o meu querido irmão, o senhor Chatão da Noruega. Agora, se não se importa...
— Cadê a sua moto? — ele perguntou, olhando para os lados e vasculhando o ambiente.
— Deixei sossegando na garagem. Melhor isso do que atropelar alguém com a minha dor de cabeça pilotando. Vou pedir um Uber, então...
— Volta aqui — ele disse, enquanto passava uma das mãos no cabelo. Deus, como ele ficou lindo fazendo isso. — Vou te levar pra jantar.
Meu coração parou por um segundo antes que eu abrisse o maior sorriso que eu já dei e voltasse com uma pequena corridinha pra perto dele. Eu não sei como não tive um pequeno AVC. Sabem o que é um segundo de coração parado? É uma vida inteira, caramba! É uma quase morte. Era assim que quase me deixava: à beira da morte.
Quase ao mesmo tempo que cheguei perto dele, a grande Land Rover de estacionou à nossa frente com Moonbin ao volante, buzinando levemente. Murchei ao pensar na ideia de que nosso jantar na verdade seria em trio e que eu teria que dividir com ele, por mais que eu adorasse Moonbin. Mas então, abaixando-se na janela do motorista aberta, apenas apontou para fora e disse:
— Sai.
Moonbin não pareceu entender, mas desfez o cinto e saiu do carro, recebendo algumas notas da carteira de na palma da mão.
— Pega um táxi e compra filé mignon daquele restaurante que você gosta em Gangnam. Vou levar pra casa.
Moonbin encarou a quantia com luxúria, e eu também porque minha nossa, eu não queria contabilizar quanto tinha naquelas mãos grandes, mas nem elas estavam sendo capazes de conter o bolo de dinheiro. apontou com a cabeça para mim para o banco do carona e olhei para Moonbin com um sorriso antes de ir saltitante para ele.
— Ei, espera, isso não tá certo. Vocês vão a um encontro?
— Sim! — respondi.
— Não! — respondeu , ao mesmo tempo.
— Vocês são tão confusos. — Moonbin estalou a língua, balançando a cabeça. Por fim, enquanto colocava o cinto, o amigo colocou a cabeça para dentro, olhando para mim. — Ei, , quase ia me esquecendo. Sobre aquele evento que você mencionou comigo ontem, preciso estar vestido à caráter ou posso ir com o uniforme da K&K? Porque é um manto, vamos concordar, bem mais à caráter do que um smoking!
me olhou confuso, em busca de explicações, mesmo que provavelmente estivesse fazendo isso sem perceber. Encarei Moonbin com a mesma expressão, mas quando me lembrei, soltei um suspiro forte e um tanto desesperado porque, cacete, eu não acredito que tinha feito aquilo.
— É.... Um smoking, Moonbin, apenas um smoking! Depois falamos disso, estou com fome, então até mais! — Fiz sinal para que ligasse o carro, mas é claro que Moonbin não fecharia a boca ainda.
— Espera, mas e você, o que vai usar? Podemos combinar nossas roupas, o que acha? Você com um vestido tomara que caia vermelho enquanto eu...
— Combinar? — perguntou em voz mais alta do que o normal e eu ri com certo nervosismo.
— Isso não é nada, é só um evento que fui convidada. Podemos conversar depois sobre nosso figurino, Moonbin. Agora se eu não comer, vou ser capaz de roer seu nariz. Então, se não se importa, cai fora! — Trinquei os dentes, mas ainda com um sorriso. Ele revirou os olhos e tirou as mãos da janela, e apertei o botão para fechá-la imediatamente. — Agora vamos? — Puxei meu cinto enquanto ouvia o motor rugir. Era como se ouvisse a própria garganta de .


🎮


Quando o hotpot foi colocado na mesa, basicamente bati palmas de alegria. revirou os olhos, mas pude ver ele sorrindo por debaixo daquela carranca. Ele apenas se fazia de desinteressado, mas eu sabia que amava hotpot tanto quanto eu.
— Precisava ter insistido pra gente vir aqui? — ele murmurou, enquanto olhava em volta por dentro da grande tenda de plástico da barraca perto do rio Han. Peguei o hashi e puxei um pedaço de carne, inclinando o queixo pra ele.
— Quando você provar, você vai entender minha insistência.
Dei uma piscada e mordisquei a carne. Era genuinamente o sabor do céu. Eu quis fechar os olhos e viajar naquele sabor maravilhoso. Devo ter gemido de satisfação, o que fez sorrir de novo, desta vez olhando para baixo e comendo como eu. Ele pareceu tão satisfeito quanto, assentindo com a cabeça pra me dar razão.
— Um dia você vai perceber que comida de rua é melhor do que seus jantares franceses nas coberturas de Gangnam.
— Um dia você vai perceber que, pra mim, é tudo comida. — Ele balançou os ombros e eu estreitei os olhos, porque quando queria, era dono de respostas tão afiadas quanto as minhas.
Observei ele comendo e olhando o celular furtivamente várias vezes. Ele realmente não era um crítico gastronômico e nem nada, e como seus horários de sono eram poucos e seus olhos eram sugados por telas em 4K o tempo inteiro, ele literalmente comia qualquer coisa que colocassem na sua mesa. Às vezes eu me preocupava com isso e o mandava alguma comida caseira, e pelo menos nisso posso dizer que ele não me ignorava.
Mas seu olhar naquele celular estava me deixando incomodada, porque essa era outra coisa entre mim e : a gente conversava. De vez em quando, sabe, quando ele resolvia tirar suas armaduras e passar um tempo comigo, mesmo que fosse como passar o tempo com uma irmã mais nova. E tudo bem que ele não gostava muito de comer em público daquele jeito por causa de paparazzis e sasaengs, mas ficar no celular já era demais.
Se ele estivesse falando com outra garota, eu juro que afogaria aquele telefone naquela sopa. Não era como se ele não pudesse comprar outro melhor depois.
— Jesus, o que você tem? — falei finalmente, jogando um guardanapo em cima da tela. Ele arqueou as costas, surpreso. — Literalmente veio pra me alimentar? Existe serviço de delivery, sabia? Poderia estar comendo hotpot de meias e pijamas em casa — dei uma pausa, depois levantei os ombros e disse — ou nua. O que você acha melhor?
apenas revirou os olhos e guardou o telefone no bolso da frente.
— Já falei pra parar com isso.
— Parar com o quê?
Isso. Ficar falando sobre a sua intimidade, ou me convidando pra tomar banho com você, ou me mandando mensagens pra jantar, ou... — Ele parecia atrapalhado. Dei um grande sorriso, vendo-o desviar os olhos para o tempo da mesa.
— Isso te incomoda? — Pousei os cotovelos na mesa e ergui o corpo pra frente. — Me imaginar nua te incomoda?
Ele rapidamente puxou as costas para trás até bater no encosto da cadeira, mas não se enganem, a atmosfera era totalmente sexual e vi isso pelas suas bochechas completamente vermelhas e suas pupilas dilatadas. O filho da puta me queria e não era capaz de admitir.
— Qual é, ... — Ele trincou os dentes, olhando para os lados para o caso de eu ter falado alto demais. — Esse tipo de papo já rodou pela agência milhares de vezes. Estou cansado de receber perguntas sobre você, então dá pra se controlar?
— Não se preocupe em respondê-las, você já faz isso aparecendo com aquelas supermodelos. — Dei de ombros, tentando esconder meus ciúmes porque sério, era ridículo. Eu sabia exatamente da provável frequência com que pegava essas mulheres, mas isso não diminuía o quanto eu me achava muito melhor do que elas. Porque eu o conhecia, e por mais que quisesse sentar nele por dois dias inteiros, sabia que eu o amava. De verdade. Mesmo quando ele não tinha absolutamente nada.
— Não vou falar disso de novo. — E como sempre, lá estava ele fugindo do assunto. Era incrível como era o único cara na face da terra que não se exibia quando o assunto era garotas, mesmo ele tendo várias — Agora... O que raios é aquela coisa que você e Moonbin conversaram antes? Vocês vão sair juntos, é isso?
Ele fixou o olhar no meu com curiosidade. Eu estreitei os olhos, mastigando enquanto me lembrava do papo, soltando uma risada quando me recordei.
— Ah, aquilo? Não é nada demais, só fui indicada pra receber um prêmio na associação de robótica desse ano. Coisa de nerd, sabe? Nada de importante.
Falei sem pretensões, mas travou o braço em cima da mesa, piscando os olhos em minha direção como se eu dissesse que o presidente da república tinha me chamado pra jantar.
— Nada de importante? Como pode falar isso, ? Isso é incrível. Caramba... — ele arfou, abrindo mais um lindo sorriso, dessa vez maior do que o outro e eu juro que ele não saía distribuindo nada desse tipo por aí. — Meus parabéns. Eu sabia que a K&K tinha sorte por ter você. Seu irmão vai ficar muito orgulhoso.
— Meu irmão vai saber caso eu ganhe alguma coisa, senhor Yoon. Não vamos fazê-lo pegar um avião à toa, não é mesmo? — Dei de ombros, e limpou a garganta.
— Então por isso vai levar o Moonbin ao evento?
— Na verdade, isso foi um grande equívoco e uma grande loucura. — Pontuei com os dedos, rindo de nervoso. — Como você ouviu, eu devia estar muito louca e acabei convidando seu querido amigo pra me acompanhar, e como é um evento nerd, porém chique, ele aceitou. Mas eu pretendia ir sozinha ou, quem sabe, chamar o Jinwoo.
— Jinwoo? O orientador dos calouros? — Assenti com a cabeça. — Aquele que é doido pra transar com você? — remexeu na comida. Ergui uma sobrancelha, nada surpresa.
— Deve ser, eu não me surpreenderia. Você tem mais alguns nomes pra me passar? Posso escolher qual deles vou mandar mensagem quando ficar entediada demais.
! — me repreendeu, o que era divertido, porque nessas horas ele não parecia um irmão mandão e, sim, um muito ciumento. — Você... Porra.
— O que foi? Pode ficar tranquilo, sempre vou mandar mensagem pra você primeiro. — Dei um sorriso cínico e consegui fazer com que ele revirasse os olhos de novo, mesmo que desta vez estivesse parecendo 80% mais puto. — E não vou com Jinwoo, aparentemente. Então pode ficar tranquilo, senhor estou-com-ciúmes-mas-não-vou-dizer.
— Como se Moonbin fosse uma melhor opção — ele resmungou para si mesmo, mas eu ouvi, e como ouvi! Ri de novo, mas desta vez fiquei realmente mais apreensiva.
— O quê? Moonbin também está na lista dos que querem ver o que tem por baixo dos meus jeans?
O olhar de foi afiado, tanto pela minha provocação com mais uma analogia da minha nudez e tanto pela confirmação da minha pergunta. Eu não podia acreditar, mas pensando bem, acreditava, sim, porque Moonbin era o jogador mais galinha da K&K.
— Você não é idiota, sabe muito bem perceber essas coisas — ele disse de novo e assenti com a cabeça.
— Realmente, eu sei. E sei também que você se preocupa comigo como se eu fosse uma garotinha de 5 anos que não sabe se defender ou dizer um não.
— Nunca te vi como a porra de uma garotinha, . — Ele me olhou nos olhos de novo quando disse isso, e me secou totalmente a garganta. Foi como um sino ao lado dos meus ouvidos e isso instantaneamente diminuiu meu sorriso, o que achei estranho, mas desviei os olhos para baixo e continuei a comer.
— Então vai comigo — soltei de repente, as palavras saíram antes da minha mente autorizar, mas sinceramente, elas diriam sim pra qualquer coisa que envolvesse .
Ele parou onde estava e ergueu o queixo, me olhando com surpresa, mas também com um brilho que eu não via sempre. Na verdade, ele não olhava tantas vezes nos meus olhos quanto eu queria; sempre era aquela batalha de olhar e desviar, revirar e desviar de novo.
— O-o que...
— É, você vai comigo. Moonbin provavelmente vai me deixar sozinha pra dar em cima de alguma outra nerd que aprimorou os pixels eletrônicos e Eunwoo não é uma opção. Mas imagine só como ele ficaria caso saiba que você me deixou sozinha... — Joguei a provocação, pegando mais um pedaço de carne enquanto ele repuxava os lábios.
, não é tão simples assim. Eu tenho treino, reuniões, e agora me convidaram para...
— Vice-presidente, eu sei. Você está cada vez mais alto, Yoon . Daqui a pouco não vou mais poder te ver e nem comer assim com você, então abra um espaço na sua agenda para ir à premiação comigo. — Dei de ombros, direta e objetiva. Ele continuou me encarando, como se minhas palavras o tivessem magoado, ou sei lá, ele só estivesse parado me olhando mesmo. — O que foi? Prometo que lá só vai existir a mídia das revistas de ciência e tecnologia e que eles não vão tomar muito o seu tempo, e qualquer coisa podemos dizer que somos primos. Uma pena, porque primos geralmente não querem arrancar as roupas dos outros primos com os dentes e...
— Tá legal, eu vou — ele me interrompeu, ficando vermelho de novo. Eu o peguei. Murmurei um "yes" feliz e a carne pareceu ainda mais apetitosa. — Me passa o dia e o horário por mensagem. É mesmo smoking?
— Sim. Mal vejo a hora de te ver em um — suspirei, aproximando meu tronco para o meio da mesa novamente. — E vou fazer de tudo para não a arrancar com os meus olhos.


🎮


So boy, forget about the world cuz it's gon' be me and you tonight
I wanna make you beg for it, then I'mma make you swallow your pride

(Então, garoto, se esqueça do mundo porque esta noite vai ser só eu e você
Vou fazê-lo implorar por isso, depois vou fazê-lo engolir o seu orgulho)


Yoon


Era difícil.
Deus, como era difícil.
estava a um passo de me deixar completamente descontrolado, em todas as áreas da minha vida.
Apertei o volante entre os dedos, olhando o relógio no painel e constatando que ela estava atrasada. Mais do que atrasada. Mas não era por isso que minhas mãos estavam suando tanto.
Peguei o telefone no bolso pra me distrair. Meu celular pessoal não vibrava de notificações o tempo inteiro e muito menos tinha muitas mensagens. Yoon civil era muito diferente de , o astro do e-sports que era uma incógnita. Na tela, ainda tinha a conversa inacabada com Moonbin, quando o perguntei várias vezes sobre o que ele e tinham feito naquela boate. Quase fui pego por ela no dia do hotpot, mas era difícil ficar parado com a dúvida e perguntá-la daria muito na cara. Na verdade, não tinha absolutamente nada de muito divertido ao meu respeito. Eu era o que as pessoas viam. Mas é claro que eu tinha segredos, como todo ser humano.
E um desses segredos estava prestes a sair daquele prédio e entrar dentro do meu carro.
Reli a mensagem que ela tinha me mandado logo depois que a deixei em casa no dia do convite. "Obrigada por ter aceitado ir comigo, . Prometo que você será só meu por uma noite" e depois "E pela primeira vez, quero ser a única garota do mundo pra você".
Porra. me fodia em todas as extensões possíveis de se foder.
Mal sabia ela...
Não. Mal sabia e não iria saber. Eu prometi a Eunwoo. Prometi que ficaria de olho nela enquanto ele estivesse fora, ou que mandaria notícias sempre que possível, foi isso que prometi.
Eu não prometi que não me apaixonaria por ela, mas, mesmo assim, eu já estava completamente fodido.
Na verdade, eu estava fodido antes mesmo da K&K. Eu estava fodido desde a Universidade. Estava fodido desde que ela sorriu pela primeira vez. Eu estava completamente ferrado.
Quando ela saiu para fora, engoli em seco por todo o gelo que atravessou meu peito. Afrouxei o nó da gravata, torcendo pra manter a pose, praguejando internamente com desespero porque ela não devia estar tão linda, qual é, não devia!
Saí do carro imediatamente, indo até a porta do carona, abrindo-a para que ela entrasse.
— Uau — ela arfou, não pelo gesto, mas pra me olhar. Eu revirei os olhos com a constatação, porque em certas situações era muito fácil esconder meu constrangimento. — Você está completamente maravilhoso, ! Perfeito! E está fazendo o serviço completo, eu adorei.
— Você também não está nada mal. — Dei de ombros, indicando com o queixo para que ela entrasse. Nada mal era pouco, era nada. Ela com aquele vestido dourado e brilhante estava perto de parecer uma divindade.
Quando me acomodei no banco do motorista, vi em uma tentativa fraca de colocar o cinto de segurança. Suspirei e me aproximei de seu corpo, puxando a faixa do cinto para passar pelo seu tronco até encaixá-lo ao seu lado. Ela parou por um momento, e quando ergui o queixo, percebi como desse jeito ficávamos perto demais.
— Realmente estou tendo o serviço completo — ela murmurou, bem perto do meu nariz, seu perfume me inebriou de uma forma ridícula e me afastei rapidamente, puxando meu próprio cinto. — O que vou ganhar no fim da noite? Um beijo? Uma visita ao meu quarto...
— Vai sonhando — murmurei, ligando o motor, sentindo o mesmo frio tenebroso na barriga. Essa garota precisava parar de colocar essas coisas na minha cabeça, e era sério.
— Tudo bem, sua companhia já serve.
Ela sorriu e eu dei a partida, torcendo de certa forma para que aquela noite acabasse o mais rápido possível, mas ao mesmo tempo querendo que o tempo parasse. Era desse jeito que eu ficava quando estava perto de .
Quando estacionei no local do evento, quis olhar feio para e dizer o quanto ela era uma péssima mentirosa ou que seu senso de tamanho era totalmente problemático. Porque sua concepção de "nada grande demais" ou "nada chique demais" estava completamente errada quando vi a grande arena com as luzes e o tapete vermelho de entrada. Era aquele tipo de coisa das grandes, um pouco parecida com a aglomeração das competições de e-sports e isso não era pouca coisa.
Olhei pra ela com uma sobrancelha levantada, o que não ia adiantar. Eu tinha me esquecido de como era extremamente humilde em relação ao seu talento e habilidades. Uma pessoa tão simples não veria aquilo como realmente era.
— Nada chique, não é mesmo? — Desatei o cinto, sorrindo involuntariamente. Ela deu de ombros e corou, como eu vi poucas vezes na vida, porque era uma pessoa completamente livre de inibições.
E ficava extremamente linda quando corava, mas eu jamais diria isso.
Abri sua porta e estendi meu braço para que ela o agarrasse. Ela pareceu surpresa, mas o pegou com felicidade e então entramos para as luzes.


🎮


não parava de se mexer ao meu lado.
Eu não prestava atenção no que estava sendo dito naquele palco, e ela muito menos, porque trocava as pernas o tempo inteiro e olhava para baixo a maior parte do tempo. Eu sabia exatamente o que era isso: medo. Por mais que tratasse a indicação e todo o lance do prêmio como nada demais, eu sabia que essas coisas tinham um peso pra ela e que não ganhar a deixaria triste, e ela nunca demonstraria isso.
— Você vai deslizar chão abaixo desse jeito — sussurrei, sem olhá-la. Ela parou um pouco, bufando.
— É fácil pra você falar, você está acostumado com coisas desse tipo. — Olhei pra ela com as sobrancelhas juntas. Ela deu de ombros. — É verdade. Não viu quando chegamos? Os repórteres entraram em loucura. Até pararam de entrevistar aquele garoto que criou uma inteligência artificial. De repente, todo mundo estava mais interessado no torneio mundial de Multiverse Flag.
Revirei os olhos, olhando para a frente. Tudo bem, eu admito que tive que perder pelo menos 20 minutos na entrada enquanto respondia perguntas sobre os planos do time e como estavam nossas estratégias para o torneio na China, enquanto também conversava com outro participante. Decidi encerrar a conversa quando tocaram no assunto da vice-presidência e entrei junto a ela, porque, de qualquer maneira, o evento não era sobre mim e eu não queria que se transformasse nisso de jeito nenhum.
Mesmo assim, eu tinha plena certeza do trabalho competente de e queria que ela ficasse menos nervosa.
— Hoje não é sobre mim, . Você só precisa subir lá e agradecer.
— Isso se eu subir... — ela disse quase inaudível e eu dei um sorriso torto pra frente. É claro que ela subiria. Não existia a menor chance de isso não acontecer.
Quando os apresentadores começaram a falar sobre o anúncio de sua categoria, vi erguer as costas e apertar uma mão na outra. Em um impulso, segurei uma delas comigo, pressionando-a em uma atitude que a tranquilizasse, e seus olhos arregalados demonstraram a surpresa que teve, mas eu não consegui não fazer nada. Era . E se não pudesse pegar em sua mão em outra situação, essa teria que bastar.
— E para o nosso grande prazer, o século 21 trouxe e continua trazendo mulheres incríveis para a ciência e descobertas que continuam alavancando ainda mais o nosso país. Dentre esses nomes tão importantes, precisamos escolher um para premiar com nossa pequena, porém muito grata, retribuição. E a grande estrela da nossa noite, uma garota da Universidade de Seul que registrou o maior número de criações de equipamentos e que, com a sua empresa, monopolizou o enquadramento de circuitos primários de placas, que com certeza já estão fazendo história em permitir que a Coreia atinja finalmente os 8K em todas as regiões. Ela mesma, grande nome na gama dos e-sports, .
Me coloquei de pé junto aos outros, sentindo minha mão ser esmagada pela dela, que recebia as palmas de forma frenética e animada. quis imediatamente me dar um abraço, mas desistiu na última hora, virando-se para ir ao palco. Tenho certeza de que pensou na mídia, nos convidados e na maldita manchete sensacionalista da Coreia, mas eu não me importava com nada disso. Eu só sabia sorrir e sentir extremo orgulho. Muito orgulho.
Como no dia em que ela ganhou o prêmio da feira de ciências do primeiro ano da faculdade. Eu mal a conhecia, mas já era amigo de Eunwoo e, com isso, já era o suficiente para que ela não saísse da minha cabeça. Tão autêntica e alegre. era o tipo de pessoa que nasceu para ser vista. Ser aplaudida.
Quando pegou o prêmio nas mãos e foi ao microfone, ela ficou sem palavras nos primeiros 2 segundos. Mas depois olhou pra mim e me viu sorrir. E eu sabia que isso a daria coragem.
— Bem, eu não sei o que dizer. Não chamei o meu irmão pra cá porque pensei que não ganharia, então se estiver rolando alguma transmissão ao vivo, Eunwoo, eu te amo, não me mata...
Eu ri, e queria dizer que prestei bastante atenção aos seus agradecimentos, mas algo muito poderoso já estava me tomando. Era aquele jeito de falar, aquelas frases engraçadas espontâneas e aquele sorriso de felicidade que não me deixavam colocar os pés no chão. Ela era linda, a mais linda que já vi, e brilhava como ninguém. Eu não tinha nenhuma dúvida de que a amava, mesmo que fizesse questão de mostrar o contrário. Porque desde a conversa que tive com Eunwoo há 4 anos, eu não poderia pensar de outra forma.
"Se eu descobrir que mais algum daqueles babacas que jogam com você está dando em cima da minha irmã, vou matá-lo sem pensar duas vezes", ele disse, logo depois que descobrimos das mensagens nada inocentes de Minhyuk para , enquanto convidava-a para ir tomar um sorvete. Tomar um sorvete. Eu sabia que Eunwoo era ciumento com , mas percebi ao longo dos anos que se tratava mais de um surto maluco. Coisas que envolviam assuntos mais profundos e complexos como o pai deles ser um completo idiota e Eunwoo ter tido a responsabilidade de cuidar dela, mesmo que ela soubesse fazer isso muito bem sozinha.
Eu gostava de Eunwoo. Gostava da nossa amizade porque nunca fui um cara que teve muitas ao longo da vida, mas sentia cada vez mais uma vontade de proteger da mesma forma, mesmo que ele não desse espaço pra isso. Ele não cederia espaço pra ninguém.
Mesmo assim, eu a amava. E tentei fugir disso, mas era cada vez mais difícil. Era cada vez mais torturante ter que resistir às suas piadinhas, ao seu sorriso, resistir à todas as minhas fantasias e sonhos que a envolviam, ter que fingir que não ficava completamente louco quando ela se aproximava e completamente desarmado quando aparecia na minha frente, tudo porque não queria perder a amizade de Eunwoo e não queria que ele pensasse que não respeitei seu pedido implícito sobre sua irmã.
Eu a queria, queria muito. Mas era covarde demais pra isso.
Quando desceu do palco, tive que segurá-la antes de se sentar porque usar saltos realmente não eram pra ela. Ela sussurrou em meus ouvidos o quanto queria estar de tênis e eu sorri, porque achei adorável.
No fim da premiação, insistiu que a after party seria uma boa ideia. E eu insisti que aquilo não se parecia nada com uma boa ideia, mas concordei com a promessa de que não ficaríamos muito e ela pareceu aceitar.
Eu só esperava que não tivesse ideias mirabolantes.




Want you to make me feel like I'm the only girl in the world
Like I'm the only one that you'll ever love
Like I'm the only one who knows your heart
Only girl in the world
Like I'm the only one that's in command
Cuz I'm the only one who understands how to make you feel like a man

(Quero que você me faça sentir como se eu fosse a única garota do mundo
Como se eu fosse a única que você amará
Como se eu fosse a única que conhece o seu coração
Única garota do mundo
Como se eu fosse a única que está no comando
Porque sou a única que sabe como fazê-lo se sentir como um homem)


Mordi os lábios e escolhi a bebida de cor vermelha.
MJ soltou um urro já bêbado e a apresentou para mim. Salvatore’s Legacy. Um drink caro que deveria ser apreciado com muita diligência. Assenti com a cabeça, pronta para obedecer e mandei tudo para dentro.
Era doce. Terrivelmente doce e amargo no final, como um final triste para um romance meloso. Fiz uma careta de desgosto, e MJ estalou a língua, sabendo que minha cara não mentia.
— Não acredito que não gostou desse líquido dos deuses, Dois de Espadas — reclamou ele, que me chamava assim desde que jogamos cartas no auditório da faculdade. Antes de ele largar a faculdade. — Sabe que a curação da laranja é do século 19, não sabe? Como pode fazer essa cara de merda?
— Não gosto de coisas que terminam mal. — Dei de ombros, demasiadamente consciente do meu sotaque de Busan que começava a aparecer quando estava perto de ficar bêbada. — Me dá pelo menos algo amargo desde o começo, como tequila, whiskey ou aquela coisa verde que parece que vai me apagar. — Agora eu estava soando subitamente rural demais e ignorante demais para os meus próprios ouvidos.
— Tem certeza de que quer apagar? Quando o seu primeiro amor está bem aqui? — Ele apontou para o outro lado do clube, onde estava de pé, conversando com um par de velhos que pareciam muito ricos e, talvez, muito interessados em um garoto que praticamente comandaria um dos maiores times de e-sports do mundo. É claro que isso merecia ser apreciado.
Eu queria estar apreciando de forma muito mais detalhista.
— Ele fica mais bonito a cada dia — murmurou meu amigo barman freelancer, e eu o encarei com olhos cerrados.
— É assim que a minha voz sai quando eu digo essas coisas? — Puxei a dose de tequila que ele havia acabado de colocar na minha frente. Ou parecia tequila. — Desse jeito de tesão?
— Basicamente.
— Então não diga mais essas coisas. Não sobre o . Tira o olho. — Engoli o líquido, que entrou em chamas na minha garganta, e tive certeza absoluta de que aquilo não era tequila.
MJ soltou uma risada e encheu mais uma dose.
— Então é melhor se apressar e tirar o gato para dançar. As moscas começaram a ciscar em volta.
Galinhas, MJ, galinhas ciscam, moscam só pousam e incomodam…
Olhei para trás e percebi o que ele falava. Os velhos tinham se mandado, mas agora uma mulher estava toda sorrisos e brilhos perto de , com seu vestido elegante e vermelho e joias que piscavam mais do que aquelas spotlights ridículas no teto. Alguma coisa naquele cabelo preso me dava certa familiaridade, e a forma do perfil…
Não acredito.
— Não interessa, ele não fica com qualquer uma. — Dei de ombros, tomando outra dose e ignorando meus ciúmes. Isso era uma perda de tempo. Mas tentar não sentir isso também era, então eu precisava urgentemente ficar bêbada e esquecer de tudo.
— Eles parecem se conhecer. — MJ tinha os olhos vigilantes nos dois. Dei um tapa no balcão, chamando sua atenção.
— Ele está comigo hoje, o que importa se ele já transou com ela em algum banheiro público? Aish… — resmunguei, sabendo que não fazia sentido, mas fazendo com que ele levantasse as sobrancelhas em surpresa.
— Então eles se conhecem mesmo! — Ele gargalhou e senti aquela vibração direto no meu estômago. — Ela é bem bonita, darling. Mas você é mais e disse tudo: ele está com você. O que está esperando para ir lá?
Abri a boca para falar e não continuei. Olhei para trás de novo e agora vi um pedaço de sorriso sair dos lábios de . Ele pareceu olhar para os lados duas vezes, como se procurasse alguma coisa, mas não se mexia pra sair dali.
Desgraçado. É claro que uma coisa dessas aconteceria, o que eu estava pensando?
— Você está evitando uma escolha difícil — ele suspirou dramaticamente e eu ri de deboche. — ‘Tá agindo ao não agir, eu entendo. Mesmo que você grite pra Deus e o mundo que é apaixonada por ele, ainda não pode mostrar isso de um jeito literal, indo pra cima do macho com suas garras porque tem medo de ser rejeitada definitivamente.
— Acha que ele nunca me rejeitou? — Soltei uma gargalhada porque era ridículo. me oferecia seu melhor ‘não’ em alto e bom som desde que disse que o amava da primeira vez. Nada de novo no paraíso.
Definitivamente? — continuou MJ, com uma entonação diferente, que fez meus órgãos se contraírem. — De um jeito que murchasse totalmente a sua ambição? De um jeito que te faria desistir?
— Não vou desistir só porque ele dormiu com uma garota mais bonita do que eu.
— A questão não é essa. Você sempre chega de uma forma avassaladora, por que não tenta uma abordagem mais normal? — MJ disse delicadamente, como se eu fosse uma garota de 11 anos sofrendo pelo primeiro namoradinho. — Você só está disposta a dar ao o seu lado mais intenso? Por que não dá seu lado romântico também?
— O romantismo compromete meus princípios. — Peguei a dose nas mãos, balançando o líquido como se ele pudesse aumentar sua quantidade. MJ revirou os olhos, e tenho certeza de que ele estava quase desistindo de mim.
— Para de pensar em só sentar em cima dele e faça alguma coisa pra isso, , caramba!
— Ei, eu amo ele, achei que isso englobasse tudo.
— Amor engloba tudo mesmo, inclusive família, amigos, trabalho e a porra do meu drink caro que você odiou. — Ele apontou para o drink bonito e quase intocado e eu dei um sorriso forçado. — O que fala mesmo são as atitudes, gata, e eu estou te dizendo pra levantar essa bunda maravilhosa daqui e ir agarrar aquele homem de qualquer jeito antes que outra gostosa faça isso na sua frente.
Engoli em seco, olhando aquele sorriso cafajeste antes de descer mais uma dose e levantar daquela banqueta desconfortável e dar mais um tapa naquele balcão.
— Você ‘tá certo. Me observe e aprenda, vadia.
Quando dei as costas, já comecei a perder a coragem a cada metro quadrado. A cada centímetro que chegava mais perto daquele cabelo sedoso e daquele sorriso bonito. A cada vez que o brilho daquelas joias quase me cegava. O mesmo brilho que peguei saindo do apartamento dele há seis meses. E, fala sério, era ridículo pensar que era só alguma amiga próxima dele.
me viu chegando primeiro e fez sua clássica expressão de “lá vem”.
— Posso interromper os colegas por enquanto? — Me coloquei ao lado dele, pegando a garota de surpresa. — Ei. Eu te conheço. Minah, não é?
— Sim, sou eu — ela respondeu sem graça, e percebi o maxilar trincado de quem não gostou de ser interrompida. Oh, well. — E você é a vencedora do grande prêmio, como era mesmo…?
, a irmã do meu advogado — respondeu na frente, puxando meu cotovelo levemente para trás. — Precisa de alguma coisa? — ele perguntou com aquele olhar de impaciência. Eu ri, passando um dos braços por suas costas.
— Quero dançar. Esqueceu que você é meu par? — perguntei, mas saiu mais inseguro do que eu pensei. Me senti absurdamente patética, mesmo que já tivesse feito convites a por mais vezes do que consigo lembrar, e convites muito piores do que aquele.
Tive a certeza do quanto fui emocionada quando Minah deu uma risada por trás do champanhe e umedeceu o lábio inferior.
— Não estamos em um baile, , não precisamos dançar.
Ok, isso foi dito em seu tom irônico e cotidiano, mas eu mataria MJ em questão de minutos porque aquela merda que tomei não era tequila porra nenhuma, porque essa porcaria não estava sendo capaz de me deixar bêbada o suficiente e ainda parecia me deixar sensível, porque a rejeição de daquela vez tinha me machucado de verdade.
Eu ser machucada por causa de um não? O que eu tinha na cabeça?
— O que é isso, ? Não precisa falar assim. Tenho certeza de que todos os patrocinadores da festa adorariam dançar com a senhorita , inclusive meu pai. — Ela foi gentil. Ou pareceu gentil. Ou sei lá o que pareceu, mas vi o veneno escorrendo entre seus dentes e mal notei a face endurecida de na direção de sua amiga.
— Minah, que papo é esse…
— Tá tudo bem. Fiquei sabendo que ele é um dos maiores doadores de equipamentos laboratoriais de última geração para a universidade. Grande homem, mas um pouco velho demais pra mim. Se não tiver um irmão pra me apresentar, acho que vou dançar sozinha. — Peguei uma taça de champanhe cheia da mesa ao lado, me afastando de e da rainha vermelha escrota. — Divirtam-se! A noite é uma criança!
Caminhei até o jardim, virando aquela taça de uma vez só, sabendo que os olhos de MJ deviam estar cravados em mim e que ele me mataria quando visse como eu era covarde e como corria no primeiro obstáculo, mas qual é! Ela era alguém que estava há milhares de degraus acima de mim apenas por já ter encostado naquela boca, então, por favor, eu gostaria de sentar e chorar em paz, se possível, o que eu odiava fazer, mas que se foda toda a maldita etiqueta dessa festa de nerds ricos.
Chutei aqueles saltos inúteis para longe, desejando poder falar com meu irmão, poder choramingar um pouco com ele de preferência, mesmo que ele não fosse entender nada e, no final, estaria mais interessado em quem eu estava falando do que o que eu estava sentindo, mas tudo bem. Eu amava Eunwoo, amava de verdade, ele era a pessoa mais importante da minha vida e a única família que me restava, mas às vezes soava tanto como uma senhora caquética que me fazia agradecer por estar há horas de distância de mim.
Andei sem rumo até chegar perto de uma casinha esbranquiçada no meio do jardim, como naquele filme da Nova Cinderela ou como em Crepúsculo, onde Bella e Edward dançaram daquele jeito brega e infantil, mas que sugava minha atenção com um desejo ridículo de querer a mesma coisa.
Ah, fala sério, eu estava começando a desejar que eu viesse com Moonbin. Pelo menos era previsível que a essa hora ele estaria comendo alguém no banheiro, e eu continuaria feliz no bar sem passar por uma sessão de autopiedade.
! — A voz de trovejou atrás de mim e fechei os olhos com força, imaginando o que viria e não querendo esse tipo de coisa agora.
— O que é? — Tentei beber mais um gole do champanhe, mas o maldito líquido já tinha ido todo embora.
— Por que veio tão longe? E sem sapatos, pelo amor de deus — ele grunhiu, um pouco ofegante, me puxando delicadamente para dentro da casinha, onde percebi como meus pés estavam pretos de terra e restos de grama. — Não pode sair bêbada por aí assim, esqueceu que preciso te levar pra casa?
— Tenho um celular e tenho um cartão de crédito, eu posso pegar um Uber. — Dei de ombros, apresentando uma constatação simples. — E infelizmente eu não estou bêbada, Yoon.
— Tem certeza disso?
— Claro, você quer me fazer uma pergunta? Acha que estou fora do normal só por que te convidei pra dançar? Ou porque saí de perto de você e daquele tomate gigante? Me poupe.
— Então é isso? Ciúmes? — Ele riu em deboche. Aquele canalha estava debochando de mim. — Saiu correndo desse jeito por causa da Minah?
— Achei que éramos amigos, Yoon , e amigos não atrapalham a foda dos outros amigos.
Ele franziu os lábios com tédio, olhando para mim daquela mesma forma aborrecida e cansada ao mesmo tempo.
— Eu já te disse que não aconteceu nada naquele dia.
— E eu já te disse que é bem difícil acreditar nisso quando a peguei saindo da sua casa.
Ele bufou, claramente irritado, mas eu não estava com nenhuma disposição de me importar no momento.
— Acho que está na hora de irmos pra casa. — Não foi uma pergunta, e eu prontamente dei uma risada engasgada, soltando de seu aperto.
— Não — respondi e comecei sair daquela casinha fofa e ridícula.
, não começa…
— Você sempre pode dizer não, mas eu não posso? Vai sonhando. Nosso acordo por hoje acabou, lindinho, pode voltar pra dentro do seu playground.
, para com isso, você não é assim. — Ele se colocou à minha frente de novo, afrouxando a gravata em nervosismo. — Eu aceitei vir com você e vou voltar com você, qual é o problema…
— Não sei! — interrompi, sentindo meu sorriso sumir, minha dignidade sumir e toda a minha sobriedade também, porque, pelo amor de deus, é lógico que eu estava bêbada, totalmente embriagada de um jeito completamente diferente do normal. — Eu não sei porque estou assim, mas sei que eu não gosto disso e não quero que você fique me vendo em momentos vulneráveis e ridículos, tá legal? Gosto de ser engraçada e divertida porque é o meu verdadeiro eu, então você aqui agora não tá ajudando, . Eu sou adulta e posso lidar com essas coisas, só me deixa em paz por enquanto, sei que não é um sacrifício pra você.
Empurrei seu ombro e consegui descer a pequena elevação da casinha, colocando os pés no gramado de novo. Parecia mais gelado do que antes, mas eu não tinha escolha, já tinha ferrado tudo com ele e agora sentia que demoraria um pouco mais até que eu quisesse me declarar de novo publicamente.
Mas então, em um impulso maluco dessa bebedeira desvairada de MJ, me virei pra ele de novo, que estava em um estado catatônico que consistia em suas mãos no rosto e a gravata totalmente desfeita, como se estivesse perturbado. Olhei pra ele com a visão totalmente focada e os pensamentos a mil, pronta para conferenciar um assunto sério como se eu estivesse na porra de um ambiente de trabalho. Me lembraria de sair daqui e ir direto verificar se aquele filho da puta do MJ tinha colocado cocaína naquela merda em vez de tequila.
— Só queria que eu fosse a única garota hoje, seu estúpido. Pelo menos por uma maldita noite, antes que eu acordasse pra realidade e percebesse que você não passa de um sonho. Mas a gata aqui vai sobreviver, porque nem toda a minha diversão gira em torno de você, Yoon . Aproveite o resto do covil dos nerds!
Ergui o copo vazio como uma maluca e tive que segurar o corpo pra não trombar pra trás. Ele deu um passo à frente para me segurar, mas aquilo não seria uma escolha certa, então me afastei ainda mais, com um sorriso brilhante e as palmas que indicavam pra ele ficar no mesmo lugar. Céus, era tudo que eu queria hoje. perto e longe ao mesmo tempo. Mas acho que, como todo o sonho, tinha virado uma enorme bola de merda, só me restava voltar lá pra dentro e me acabar como de praxe, mesmo colocando em risco toda a minha pose de garota prodígio que tinha acabado de ganhar um prêmio super foda.
Que se foda, não é mesmo? Nenhum deles pagava as minhas contas. Não ainda.
Só que é claro que não iria se segurar enquanto não desse uma de herói pra cima de mim e tentar me impedir de continuar. Sério, aquilo era algo patológico, uma atitude que ele precisava tomar ou não conseguiria conviver pelo resto da vida. Eu esperava um puxão e uma bronca, e esperava seus braços me arrastando com impaciência até o carro, onde ele falaria por 20 minutos como eu era irresponsável e como Eunwoo tinha todos os motivos pra se preocupar, e é sério, 20 minutos falando direto para Yoon era mais do que ele falava em uma semana, e se engana quem pensava que era algo chato, porque dando sermão ficava ainda mais sexy, mas hoje, especialmente hoje, eu não estava afim de ouvir.
Mas, afinal, acabei não ouvindo nada. O que aconteceu foi tão rápido e tão fora da realidade que eu tive certeza de que, além da cocaína, MJ tinha colocado um LSD naquele copo.
Porque simplesmente me beijou. É, isso aí, ele me beijou. Beijou.
Me beijou na boca!
Larguei o copo no chão, que não fez barulho nenhum quando caiu, e uma chuva de cacos poderia ser terrivelmente fatal para os meus pés descalços, mas ele tinha pegado na minha cintura e agarrado meu cabelo com tanto desejo que não me preocupei no cacete da integridade dos meus pés. Pra me certificar de que aquilo estava acontecendo, agarrei seu rosto com minhas mãos e retribuí o beijo com toda a força das minhas fantasias que ele tinha me obrigado a acumular durante todos aqueles anos de cara fechada e respostinhas ácidas.
Minha nossa, nenhuma outra opção de fantasia em 3D era melhor do que aquela.
Quando ele me soltou devagar para recuperar o fôlego, apresentando uma certa dificuldade em se afastar totalmente da minha boca, continuei parada como uma estátua, olhando para baixo, sentindo minha respiração se misturar a dele em um estado hipnótico, como se implorasse pro meu cérebro guardar essa alucinação bem quietinha em algum canto e rezar pra que eu não tivesse nenhum histórico de Alzheimer na família.
— Desculpa, . — A voz dele era abafada, os lábios estavam vermelhos pelo beijo intenso e os olhos dele clamavam por tesão! — Eu não devia fazer isso assim… Eu só queria fazer há muito tempo, queria muito, mas não consegui.
— Puta merda. — Encarei seu rosto com um pouco de estranheza, porque aquele rosto era parecido com , mas o resto não era nada dele. — Eu vou matar o MJ.
Ele franziu o cenho, confuso.
— O quê?
— Isso não pode ser real… — Tentei soltar de seus braços, mas o meu próprio corpo estava me acusando de ser louca se fizesse isso e me mantive no mesmo lugar. — Você é Yoon e acabou de me dar o melhor beijo da minha vida? Qual é, quem está brincando comigo assim…
revirou os olhos e soltou uma risada antes de segurar meu rosto e me dar outro beijo, agora mais delicado e menos desesperado, mas que terminou de acender todas as faíscas dentro de mim.
— Você só fala besteira, . Sempre falou. Sempre me obrigando a fazer uma força sobre-humana pra não te pegar desse mesmo jeito e te levar pra minha casa, ou não pegar na sua mão e te levar ao cinema, ou até mesmo não te dar um abraço pelo simples prazer de te abraçar. Você é muito mais difícil do que todos os monstros que eu derroto todos os dias.
— Mas… — A respiração dele não me deixava raciocinar, era como se ela tirasse os meus pés do chão. — Seis anos, ! Seis malditos anos e só me beijou agora! Aish! — Dei um soco em seu ombro, que saiu mais patético do que pensei. — E o Eunwoo, você sempre falava do Eunwoo…
— O seu irmão é o meu melhor amigo, o que você queria? Ele deixou bem claro que não aceitaria que ninguém chegasse perto de você, e ele teve anos de taekwondo enquanto eu passava o tempo jogando e meus braços são meu principal instrumento de trabalho.
— Eunwoo, desgraçado filho da puta! Por causa dele tive meu beijo atrasado. — Trinquei os dentes, arrancando uma risada de . Engoli em seco, admirada por um momento porque aquele sorriso não era para qualquer um. Na verdade, ele parecia novo. Um sorriso meu. — Eu estava certa, não é? Você me queria. Canalha, você me queria mesmo.
Ele abriu os dedos na base da minha nuca, me puxando para perto, me causando um arrepio pelo corpo todo.
— Você só se enganou em um detalhe: eu sempre te quis. Desde a primeira vez que você apareceu na porta do dormitório com aquela cesta de frutas para o seu irmão. E te quis ainda mais quando me vi sozinho nessa cidade enorme com você, sem poder fazer nada. E claro, se enganou sobre hoje também. — Ele sorriu e eu não entendi. — Você sempre foi a única garota, . A única garota do mundo pra mim.
Quando ele me beijou de novo, soube que era real. Só podia ser real. Todo o papinho de Eunwoo fazia sentido, mesmo que isso não diminuísse minha raiva, e aquela boca era muito melhor do que eu sonhei, então, sim, quando as coisas eram muito melhores em um plano físico era porque estavam acontecendo, MJ não seria capaz de encontrar nenhum entorpecente tão potente daquele jeito em nenhum lugar da Ásia.
Com desespero, peguei em seu pescoço, rosto, ombros ou onde eu pudesse tocar, tornando o beijo intenso, maluco, sentindo que ele me apertava do mesmo jeito, como se pudéssemos atravessar um ao outro e eu nem me lembrava que ainda estávamos de pé, caramba!
… — ele arfou, separando nossos lábios, totalmente inebriado. — Carro. Agora. Vou te levar pra casa.
— Não quero ir pra casa ainda — choraminguei, procurando sua boca, mas ele a afastou rapidamente.
— Eu também não. Por isso vou pra sua — disse, enquanto me encarava profundamente, com uma verdade animal. Meu corpo inteiro entrou em chamas e senti as pernas bambas.
— É isso? Vai finalmente aceitar meu convite do banho?
— Vou aceitar o que você quiser, . Todos os seus convites e todas as suas propostas.
Abri a boca em um choque.
— Yoon , e todo o seu romantismo brega que teorizaram todo esse tempo?
Ele revirou os olhos como de praxe, e eu tive certeza de que era completamente apaixonada por esse cara.
— Vou deixar para usá-lo amanhã de manhã. Agora, por deus… Se eu não começar a te beijar em 10 minutos, vou ficar completamente fora de mim, . Vamos.
Ele entrelaçou seus dedos nos meus e começou a andar em direção ao estacionamento, mas de repente parou de novo, virou e me beijou, um beijo que durou menos do que os outros, mas que foi profundo e poderoso, como um soco leve, um soco de realidade e um soco totalmente sóbrio e apaixonado.
— Eu amo você — disse ele quando me soltou, e se disse algo depois disso eu não consegui ouvir porque minha alma deu uma leve surtada fora do meu corpo. — Pensei em dizer isso mais tarde, mas acho que vou esquecer tudo se você tirar a roupa, então prefiro não perder tempo. Eu te amo, , e sei que provavelmente vou ser morto pelo meu melhor amigo quando ele descobrir, mas não me arrependo de ter dito. Você é linda, inteligente, e…
— Pelo amor de deus, abre logo aquele carro e deixa essas coisas pro café-da-manhã, cacete!
Ele soltou uma gargalhada e murmurou um “ok, ok” antes de continuarmos a andar, o que foi um alívio, porque eu provavelmente não ia conseguir chegar ao fim da sua confissão sem chorar, e sério, chorar antes de dar? Que horror.
Quando entrei no banco do carona, a mão dele acariciou meus joelhos depois de girar a ignição, e senti uma euforia estranha naquele pequeno gesto, como se a lua, o universo e toda aquela maldita festa gritassem: é real. É isso aí. É real!
E porra, Dumbledore estava certo: viver era muito, muito melhor do que sonhar!


FIM



Nota da autora: Olá, meu bem! Se você chegou até aqui, te agradeço imensamente por ter cedido tempo e lido a história até o final. Não se esqueça de deixar um comentário com o feedback completo pra que eu possa saber ♥
Caso te interesse ler outros trabalhos meus, vou deixar aqui minha página de autora e meu instagram de autora, onde eu faço posts bem legais sobre o meu conteúdo e indico histórias de outras autoras incríveis também! No mais, muito obrigada mais uma vez e volte sempre ♥



Nota da beta: Gente, eu estou completamente APAIXONADA por esses dois! Juro, eu devorei essa história e fiquei torcendo horrores para a pp conseguir fisgar esse homem hahaha.
Amei o jeito dela todo doidinho e escancarando o quanto queria o pp e aaaaaa o surto com esse final, meu deus!
Nossa, acho que eu continuaria lendo muito mais sobre eles. Achei perfeito e a sua escrita como sempre é maravilhosa, super fluída e gostosa de ler.
Parabéns, arrasou muito! ♥

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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