Finalizada em: 14/04/2017

Capítulo Único


Oops my baby
You woke up in my bed


Eu me espreguicei ainda de olhos fechados, senti o velho lençol azul sedoso envolver parte do meu corpo nu, o acariciando. O colchão macio no qual minhas costas recostavam também causavam uma sensação que eu descreveria como estar deitada em uma nuvem. Era leve e prazeroso.
Não seria exagero nenhum afirmar que eu idolatrava a minha cama, era a mais confortável que eu já havia deitado. Não sabia se era a única que tinha essa relação tão íntima assim com esta, mas toda vez que eu tentava me afastar parecia ser puxada de volta para o mesmo lugar.
A fragrância do meu perfume favorito parecia ter ficado pregado nos travesseiros, e por mais que a roupa de cama fosse lavada, aquele aroma não a deixava. Graças a Deus por isso, porque como eu adorava aquele cheiro... Este que geralmente me entorpecia logo de manhã, todos os dias, antes mesmo do café quente preparado por mim, ter o seu lugar. No entanto, hoje foi diferente.
Hoje um perfume diferente se mesclava ao meu.
Como? Vocês devem estar se perguntando.
Bem, tudo começou ontem.

[...]


Saí do meu estágio pisando duro no chão, o som dos meus saltos batendo contra a calçada como o martelo do Thor – meu super-herói favorito de todos os tempos – mandando raios, trovões, dando choques e até mesmo más vibrações a qualquer um que chegasse perto demais. Meu querido chefe havia acabado de ter um comportamento um tanto quanto ridículo, e aquilo me enlouquecia.
Por que o mundo tem que ser tão injusto com as mulheres? E não, isso não é o chamado vitimíssimo. Nossa, como eu odeio essa palavra. Isto é a triste realidade enfrentada pela grande maioria. Algo que várias das mulheres que aspiram por ter uma carreira profissional de sucesso já tiveram a infelicidade de passar, ou ainda vão. O mundo corporativo era muitas vezes machista e podre. Já trabalhei e estudei com muitos caras legais, contudo, nesse estágio estava vivendo na pele o que antes ouvia as pessoas conversarem por alto.
Entrando no mercado de trabalho vi com meus próprios olhos coisas que sabia só na teoria. A falta de mulheres sendo as “chefonas” era para dizer, no mínimo, decepcionante. Não que fosse culpa delas, a maioria com jornada dupla, tripla... Carregando mais peso nas costas do que deveriam. Tudo isso para talvez escutar do seu chefe, algo igual, ou até pior do que eu ouvi hoje.
Onde está à documentação que eu pedi por e-mail para ser separada em pastas até hoje? Você já deveria ter entregado isto.
Vi o Sr. Garcia se aproximar da minha mesa, na hora fechei os olhos com a sua pergunta e congelei. Ele não havia pedido nada para mim, ou será que tinha e eu já estava ficando louca? Não, não era possível, eu acabei de checar a minha caixa de entrada e não vi nada lá, até os spams eu havia dado uma olhada, só para conferir, pois já tinha ocorrido antes comigo de algumas mensagens importantes serem desviadas para lá.
¬– Desculpe, mas eu chequei o meu e-mail essa manhã, senhor, não há nenhum pedido. No entanto, posso tentar providenciar o que você quer o mais rápido possível, só me dizer... – Ele não me deu sequer a chance de concluir minha linha de pensamento antes de me interromper com voracidade:
– Você é burra?! – Gritou ao jogar um pequeno jarro de flores que ficava em minha mesa ao chão, o partindo em pedaços. Arregalei meus olhos assustada com a sua atitude. Olhei para um lado e para o outro conferindo se havia muitos dos meus colegas de trabalho por perto, morrendo de vergonha. – É claro que eu lhe enviei isso. – Colocou as mãos na cintura e balançou a cabeça de um lado para o outro, bufando. – Você não precisa fazer mais nada, sua estúpida, pedirei para alguém fazer. Um homem de preferência, alguém que realmente saiba usar a cabeça para trabalhar e não fique o tempo inteiro pensando em roupas e sapatos. Nem lendo essas revistinhas de fofocas por ai. – Terminei de escutar o que ele disse, espantada demais para tomar qualquer tipo de atitude.
Como reagir diante daquele surto? Sofrer um assédio moral, sendo exposta diante de não somente uma ação não só machista, como também completamente humilhante, na frente de todos seus colegas? Bem, cada um agiria de um jeito suponho, mas eu? Tudo que consegui fazer foi ficar estática, morrendo de vontade de correr para o banheiro e chorar, mesmo que isso só fosse me fazer parecer ainda mais fraca para os outros.
Lendo revistas de fofocas, me interessando apenas por roupas e sapatos? De onde ele havia tirado aquilo? Jamais fiz nada disso no trabalho, mas por ser mulher sua conclusão lógica era a de que eu fazia, mesmo sem provas. Fora que desde que meu comportamento aqui fosse exemplar, em que lhe interessava se eu gostava ou não de todas essas coisas? Respirei fundo enquanto o via virar as costas e caminhar de volta para sua sala, sem lhe dar nenhuma resposta digna, não tendo coragem de caminhar até ele e lhe dar um soco bem no meio daquele nariz empinado. Não que eu fosse adepta a violência, mas a fúria me tinha inteiramente dominada sob as garras de sua mão naquele instante.
Eu sequer sabia se ele podia fazer aquilo, fora apenas uma total e completa falta de educação, além de exemplo de ignorância ou chegava a ser contra a lei? O quão grave aquilo realmente havia sido?
Durante toda à tarde, até o fim do expediente, aquilo passou e repassou pela cabeça. Os olhares dos outros me atormentavam, ninguém tinha tomado atitude alguma de me ajudar, tão pouco haviam vindo perguntar se eu estava bem. Sem mencionar o constrangimento que ainda sentia.
Em pensar na quantidade de coisas que eu podia ter jogado na cara daquele porco imundo.
Perto da hora de irmos todos para nossas casas, um pouco antes de encerrar o expediente, tomei folego e fui até sua sala. Caminhei até em frente à porta e fechei os olhos, me concentrando nas minhas palavras para não fazer besteira. Bati e, sem esperar ser atendida, entrei.
Ele levantou os olhos e quando viu quem era os revirou e continuou mexendo em seu notebook, na sua ridícula pose esnobe me ignorando. Resolvi ir direto ao ponto.
– Eu quero pedir demissão. – Disse em tom audível.
Eu sabia que provavelmente era aquilo que ele queria, que eu me demitisse para não ter que pagar os meus benefícios, mas eu já não suportava mais.
– Ok. – Foi tudo que recebi como resposta, clássico.
Também, o que esperar? Um pedido de desculpas? Me virei para a porta pronta para deixar sua sala.
. – Me chamou. – Só para te comunicar que você terá que cumprir o aviso prévio e... Eu prepararei pessoalmente os papéis. – Riu, e seu sorriso parecia maquiavélico.
Mais uma vez tive que me segurar para não caminhar dentro de meus lindos saltos, que segundo ele era tudo pelo o que me interessava, e enfia-los em sua jugular. Mas engoli mais um sapo no dia, pois não queria perder a razão. Alguém com o dinheiro dele podia facilmente virar aquela situação contra mim. E sim, eu sentia medo.
Se um gênio chegasse até mim e me dissesse que só poderia fazer um único desejo, meu pedido seria mais coragem. Sabia que minha quietude só colaborava com ele, mesmo assim esperava que ele tivesse o que merecia, mais cedo ou mais tarde.
Extremamente irritada, para não dizer puta, guardei todas minhas coisas e fui para casa.

No meio do caminho resolvi ligar para uma das minhas melhores amigas, e foi ali que tudo realmente deu início.

[...]

Aquele cheiro novo não era desconhecido por mim, na verdade, meu cérebro o reconhecia perfeitamente bem. Virei-me em meio os cobertores,encontrando algo mais duro que travesseiros ao meu lado. Instantaneamente abri meus olhos, reconhecendo a face do homem que repousava tranquilo e suave ali.
Seu corpo tão nu quanto o meu, sua pele descoberta roçando na minha. Contemplei por um momento sua presença. Já fazia algum tempo que eu ansiava por isso, mas acreditar que realmente estava acontecendo era surreal e fazia com que meu coração desse voltas e mais voltas, ficando tonto e por isso pulando batidas.
Claro, que era a confusão e surpresa que o deixavam parecendo assim, não tinha nada a ver com sentimentos. Não podia ter a ver. Oh, céus! Não mesmo, por favor.
Quer dizer, eu já esperava por isso, mas não dessa forma, não tão intenso. Certamente não sentindo como se minha vida inteira estivesse naquela cama.
Pensei em levantar devagar e escapar de fininho, mas escapar para onde? Eu estava na minha casa, não tinha mais para onde ir. O que faria? Ficar perambulando pela rua até esperar que ele tivesse ido embora? Apertei minhas pálpebras, tentando me concentrar e pensar.
Isso era ridículo, não tínhamos nove anos de idade. Uma mulher muito bem crescida, isso que eu era. No momento que voltei a abrir os meus encontrei os seus olhos me encarando diretamente. Tão lindos como eram, levaram minha respiração embora e me causaram as malditas típicas e clichês borboletas no estômago. Agora que ele estava acordado com um belo sorriso no rosto e me olhando daquela forma, o contato da nossa pele parecia ainda mais sensível. Era como se desse choque e pegasse fogo. Algo que eu não podia facilmente ignorar.
O que eu estava pensando mesmo antes? Nem lembrava mais. Agora a frase em ênfase que transitava no meio dessa cabeça confusa era “eu preciso ter esse homem para mim, só mais uma vez, então eu conseguirei deixa-lo ir”.
– Bom dia. – Me desejou com a voz ainda rouca de sono.

[...]


– Ei, Isa, tudo bem?
– Tudo sim, como foi seu dia? Sobreviveu ao trabalho? – Escutei a risada da minha melhor amiga ressoar do outro lado da linha, todo o estresse deixando minha espinha por alguns segundos enquanto eu andava pelas ruas lotadas, passando por pessoas que provavelmente tinham tido um dia tão difícil no trabalho quanto o meu.
O mundo parecia girar assim ultimamente, a base de medicações que atuavam contra o estresse. Todos preocupados o tempo todo com prazos e coisas a serem feitas. Eu, infelizmente, era mais uma dessas pessoas, mas essa noite não pensaria nisso. Precisava se um tempo com os amigos e uma boa conversa.
– Não quero falar muito sobre como foi o trabalho, mas acho que resume bem te dizer que eu me demiti. – Deixei meus ombros caírem em desanimo.
Por mais que eu tivesse me livrado do inferno que aquilo havia se tornado para mim, era um dinheiro que eu deixaria de ganhar, e se não arrumasse outro estágio remunerado ou emprego rápido o bastante, teria de voltar para casa dos meus pais.
O pesadelo só piorava.
Amava os meus pais, eles eram adoráveis, mas voltar para o teto deles não era exatamente o que eu vinha esperando.
– Ouch. Isso soa como uma bela merda de um dia. Bem, pelo menos você não vai ter mais que olhar aquele bigode escroto do seu chefe toda manhã. – A acompanhei na sua risada.
Isabela havia ido me visitar no trabalho há algum tempo, fora apenas para me entregar um cordão que tinha esquecido com ela. Meu chefe a viu e sugeriu que estava de “fofoca” no trabalho e a mandou dar no pé. Foi a única vez que ela havia o visto, e havia sido ódio a primeira vista. Desde então ela não hesitava em falar mal dele e do seu bigode, que confesso, era mesmo ridículo.
– É sexta-feira, por favor, me diga que você pode, e vai sair comigo hoje?
– Não precisa nem pedir. – Sim, sim, sim. Comemorei, cantarolando internamente. – Eu acho que vou chamar o e a Melissa também, tudo bem por você?
– Claro. – Assenti. – Eu vou ter que desligar agora, mas então nos vemos a noite. Estava pensando, talvez poderíamos ir no novo pub que abriu na cidade, me parece um lugar muito bom.
– Por mim pode ser.
Então nos despedimos e desliguei.
Sim, na nossa conversa eu havia concordado plenamente, e sem hesitar, na extensão do convite a e Melissa. Não via problema algum, afinal me dava tão bem com eles quanto com Isa, conheci a ambos na faculdade, e nossa amizade só crescia mais ainda com o passar do tempo.
A primeira pessoa a falar comigo na faculdade fora . Seu jeito todo meigo me deixou caidinha de cara, depois eu descobri que ele namorava, o que foi uma decepção. Era uma menina que ele conheceu no ensino médio, ainda na escola. Eles cursavam a universidade em cidades diferentes, depois de um ano a distância foi demais para ambos, logo terminaram. E justamente quando o namoro deles se desfez, coincidentemente eu conheci Tiago em uma festa com uns amigos, comecei a sair com ele, namoramos durante dois anos entre idas e vindas, aos trancos e barrancos, até que finalmente nos demos conta de que não éramos para ser.
Ele era um cara legal, eu sou uma menina legal, só não ficávamos legais como um casal. Ele tinha alguém por aí esperando para ser o amor da vida dele, assim como eu desejava ter. Talvez o amor da vida dele fosse a atual namorada do mesmo, eles pareciam bem fofos pelas fotos, mas nunca tinha os visto pessoalmente e juntos.
Quem sabe o da minha fosse ? Tudo bem, eu estava sendo meio boba, mas durante todos os relacionamentos que ele teve, fui eu quem sempre esteve lá para lhe apoiar e dar suporte depois de cada coração partido, e assim ele fez comigo.
Sempre me imaginei com alguém exatamente como ele. Um melhor amigo para vida, para dividir todas as histórias mais malucas, uma pessoa que fosse fazer minha barriga doer de tanto rir, tirar meu fôlego e me entender como sou, com todas bizarrices e defeitos. Assim era na maior parte do tempo que estávamos um com o outro. O melhor de tudo é que pela primeira vez em anos estávamos ambos completamente solteiros. Sem namoro, sem casinhos, ou qualquer outra pessoa.
Para mim, parecia o paraíso e também o purgatório. Porque apesar de sempre tê-lo quisto, mesmo sonhando desde pequena esse amor idealizado em que o meu cara seria meu melhor amigo, agora, isso me dava medo.
Não sabia se ele sentia o mesmo. Por Deus, não sabia nem se eu continuaria sentindo o mesmo se alguma coisa rolasse entre nós. E se ambos sentissem, ainda assim, quem me dava garantia de que não estragaríamos tudo? De que não jogaríamos nossa amizade na privada e daríamos descarga sem pensar duas vezes? Ninguém.
Não há uma única pessoa que saiba das tramoias do futuro e as peças que o amor pode pregar. É por isso que sempre digo: o amor é a aposta mais alta que fazemos, nós jogamos com tudo que temos e somos, torcendo para que no final vá valer a pena, então esperamos ganhar o prêmio mais alto de todos, mas algumas vezes tudo que conseguimos é nos viciar em apostas e acabar com dívidas mais altas do que podemos pagar.

[...]


– Bom dia. – Respondi com voz de sono, piscando os olhos ainda pesados de sono, um sorriso leve no meu rosto.
Mas esse eu acreditava não ser tão espontâneo ou lindo como o dele que iluminava o quarto inteiro, de repente fiquei tensa e senti meu rosto esquentar. Não sabia se meu corpo estava sabendo bem disfarçar aquilo. Percebi que realmente não havia disfarce quando infielmente me arrepiei inteira ao toque de sua mão me envolvendo e puxando-me mais para perto pela cintura.
Sua pela tocava a minha como um músico que toca seu instrumento, com paixão, maestria e gentileza. E aquilo recaía sobre mim como nada menos que algo fenomenal.
De onde ele tirara aquele jeito tão livre de ser? Completamente desinibido e a vontade? Só eu enxergava o problema daquela situação?
Bem, ao menos tentava ver, porque agora, com seus braços envoltos e seu corpo junto ao meu, tudo parecia meio turvo e borrado. Quase fui ao delírio quando o mesmo cheirou meu pescoço para depois depositar um beijo e uma mordidinha ali. Inevitavelmente sorri e correspondi ao seu toque, passando uma de minhas pernas por cima das suas, apenas o lençol a nos separar do contato imediato que desejávamos ter.
Ele se voltou ao meu rosto e me encarou pelo o que me pareceu longos segundos antes de beijar. Pode ser loucura, mas eu jurava que o brilho dos seus olhos indicava coisa boa. Por isso, quando nossos lábios se encontraram, deixei que as preocupações ficassem para amanhã. Tudo o que me importava era viver o que havia para ser vivido naquela cama, sem hesitar.
A do futuro podia lidar com eventuais problemas.
Porque a experiência era tão excitante quanto o esperado durante todo este tempo por mim. Minhas mãos então logo trataram de ir para seus cabelos, e aquele encaixe parecia perfeitamente correto. Sua mão puxando e apertando minhas coxas, a minha revezando entre puxar seus cabelos e arranhar suas costas, nossas bocas se envolvendo em uma dança, quase uma peça de teatro, tão maravilhoso que parecia ter sido antecipadamente ensaiado.
Quem sabe não fora? Naquele instante parecia tolice ser racional. O coração falava tão mais alto, gritava. Quem vai me dizer que não tinha sido tudo plano do destino? E por isso, tão assim, lindo demais para ser calculado.
– Hum... Vejo que alguém acordou de bom humor. – Ele disse e eu ri. – Me pergunto quem pode ter causado isso. Acho que alguém, bem... Fodão mesmo, sabe? Quer dizer, para deixar você nesse bom humor a pessoa não pode ser menos que magnífica. – Bati em seu peito, gargalhando e me afastando dele para tomar ar. – Esplendoroso, estupendo, fenomenal. Vamos lá, me ajude aqui, quais outros adjetivos mereço? – Começou a rir junto comigo e quanto mais eu tentava parar de rir para respirar e me livrar das suas amarras, mais ele fazia gracinhas e cócegas e então me puxava de volta para o seu lado na cama.
– Você é tão malditamente convencido. Tem certeza de que seu signo não é leão? – Brinquei e o vi revirar os olhos porque ele detestava signos, dizia que era tudo sobre o que as pessoas sabiam falar ultimamente.
Quanto mais ele reclamava, mais eu trazia o assunto a tona, pois além de gostar de signos, adorava ainda mais implicar com esse garoto, e no fundinho, acho que ele até gostava dessa birrinha boba que nós mantínhamos.
– Volta logo pra cá. – Fingiu de bravo e me puxou pela cintura, fazendo com que mais uma vez eu caísse deitada no meio dos lençóis.
Mais uma vez me entorpecendo pelo seu cheiro.
– Ah! Para! – Esperneei, rindo antes de ganhar vários de seus beijos distribuídos todos pelos lugares mais corretos do meu corpo.

We messed around
And had some good fun


Naquela noite em especial me vesti para festejar, me sentia muito bem com a roupa que havia escolhido, e deveria mesmo estar. Depois de todo aquele tempo até me decidir, o justo era que no final, realmente tivesse encontrado a peça felizarda. Todo esse esforço era, principalmente, para mim.
Para que eu pudesse me sentir bem comigo mesma, porque cá entre nós, roupas e maquiagens podem até ajudar a te valorizar, mas não vão mudar a sua essência, por essa razão eu nunca fui de acreditar muito em me vestir para os outros, não é porque alguém me viu um dia toda arrumada em uma festa e outros mil dias totalmente normal, que aquela pessoa vai começar a achar que eu sou extremamente gata.
Na verdade, quem dera fosse assim.
Mas mesmo se fosse, caso beleza seja tudo que importe a esta, quem quer que seja, amiga, amigo, namorada, namorado... Não tenha certeza se alguém que julga os outros tão facilmente pela aparência é uma pessoa com quem eu me importe o suficiente para dar a mínima à opinião ou queira estar por perto.
Eu sempre escolheria minhas roupas para mim! Dito isto, essa noite havia uma motivação ainda mais animadora e excitante. Quando eu me sentia bonita ficava mais confiante, e tudo que queria era coragem para tirar a prova e ver o que rolava ou não com .
E foi naquela valentia que fui pensando todo caminho até a boate. Minhas mãos inquietas e meus pés batendo nervosos um contra o outro, em um remexer incansável dentro do carro. Eu e a Isa estávamos indo uma com a outra. Já que era seu primo, e morava perto de Melissa, estaria a levando.
– Olha, eu não ia falar nada, mas você não para quieta. – Isabela comentou, me fazendo rir. – Contenha-se em suas calças, mulher. – Rimos.
Eu tinha consciência que devia estar sendo divertido me ver assim, a coisa era bem notória e engraçada, eu mesma via uma graça destrambelhada naquele nervosismo todo.
– Desculpa! – Pedi com voz esganiçada, ainda rindo.
– Não precisa ficar assim por . Nós duas sabemos que ele não estará indo a lugar algum. – Lançou-me um olhar sapeca e malicioso.
– Quem disse que estou assim por causa dele? – Perguntei, me fazendo de ofendida.
– Ah, pelo amor de Deus. Eu não vou nem me dar ao trabalho de te responder. – Revirou seus olhos e eu mais uma vez ri, a essa altura sem nem saber o porquê.
Era um problema que eu tinha adquirido ao longo dos anos, sempre que ansiosa parecia rir demais, ás vezes podia ser embaraçoso, ou despercebido. Como uma vez em que minha mãe me perguntou por mensagem se a vovó tinha me ligado e eu ri. Aconteceu também quando um professor estava prestes a aplicar prova, ainda no ensino médio isso, e eu tive um ataque de risos. Acho que aquele fora a pior vez de todas, tive que pedir licença e ir até o banheiro me acalmar.
– Eu sei... É que. Oh céus. – Grunhi. – Estamos chegando?
– Sim senhorita.
Tão logo quanto Isa me respondeu, estacionou o carro e saltamos para fora,caminhando em direção a boate. Quanto mais perto, mais alto a batida da música ficava, minha cabeça baixa, perdida demais em meu próprio mundo, vendo meus pés tocarem o chão e sentindo meu coração bater forte, parecendo acompanhar o ritmo em um tumtumtum frenético. Compramos a entrada na hora e fomos para o meio de todo o pessoal, alguns sentados no lounge, ou no bar, mas a maioria estava em pé dançando.
– Ei! – Tentei gritar no meio do som alto, mas nem mesmo eu conseguia me escutar direito. – Isabela! – Chamei. Agora bem mais próxima ao seu ouvido. – Você sabe se eles já chegaram?
– A Mel me mandou uma mensagem dizendo que eles já estavam aqui, sentados no bar. – Não me dei ao trabalho de responder, porque ficar gritando o tempo todo era meio que uma das únicas partes chatas de festas como aquelas e me cansava.
Só concordei e fomos nos dirigindo para onde ela afirmou que eles estavam. Foi no primeiro bater de olho que vi . Ele não passava despercebido facilmente, ao menos não por mim. O copo de bebida na mão, conversando com Melissa. Não me viu até que eu já estivesse mais próxima, aí então por um segundo seus olhos desviaram e sem querer bateram em mim, e no meio de toda aquelas pessoas, músicas e luzes, seu olhar encontrou diretamente o meu e ali repousou.
Garota... Aquele é exatamente o tipo de olhar que fazia com que as mulheres perdessem suas cabeças e se rendessem a insanidade. Olhares como aqueles eram tão arrebatadores que chegavam a ser cruéis com nossos sentimentos, faziam querer ser levada ao altar, ao mesmo tempo que pular essa parte e ir direto para a cama. Inegavelmente cheio de...
Paixão.
Para mim uma das palavras mais belas de todas.
Paixão podia ser confundida com amor, mas não era o mesmo. Enquanto Luís de Camões afirmava que “amor é fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente”, eu diria que paixão é fogo que arde e se vê, ferida que dói e se sente. No amor há calmaria, na paixão tudo é turbulento.
E era assim que seu olhar fazia com que eu me sentisse, pegando fogo, com o coração doendo de tão vulnerável que ficava a ele, porém ao mesmo tempo havia essa dormência que fazia daquilo tortuosamente bom. De uma forma intrigante, mas completamente deliciosa, eu acho que também sentia amor.
Foi o que tentei refletir sobre enquanto colocava um pé na frente do outro, me equilibrando naqueles saltos arrasadores, mas desconfortáveis demais e que me faziam me arrepender de tê-los posto em primeiro lugar. Chegando cada vez mais perto, sem tirar meus olhos dos seus, o mundo parecia parado, nada além de nós importava, era como ter a combinação perfeita entre o caos e a paz. Nunca haveria palavras ou metáforas boas o suficiente que explicassem tais sentimentos tão românticos, pois eles eram absolutamente perfeitos.
Não que a nossa relação fosse assim, eu bem sabia, hora ou outra, nós nos desentendíamos feio, acho que fazia parte. Contanto que tudo se resolvesse no final ficaríamos bem e sobreviveríamos a toda nocividade do mundo.
A única preocupação que me rondava era a possibilidade de que um dia as coisas não funcionassem mais. Sabia bem que estava me precipitando, mas... Talvez fosse fácil afirmar agora que não estávamos juntos o quanto ele era bom para mim, e o quão grandioso era o sentimento que eu tinha por ele. Mas novamente não podia me impedir de pensar que havia aquela incomoda possibilidade de que não fosse recíproco.
O observei se levantar e começar a caminhar como um felino, vindo a minha direção parecendo extremamente sexy. Melissa o acompanhou nos passos até mim e Isabela.
Quando eu menos esperava minha mente foi mergulhada em pensamentos sombrios. As maiores partes das amizades que se misturavam com romance acabavam em confusão, com ambas as partes sem mais se falarem. Quando amigos resolvem fazer sexo sem compromisso alguém sempre sai machucado, certo? Ou errado? Bem, talvez não. Não sei.
Quer dizer, e se ficasse um clima estranho depois? Continuaríamos amigos? Ele seria meu melhor amigo ainda assim? Eu continuaria a compartilhar meus sentimentos mais íntimos com o garoto de blusa azul a minha frente? Eu também acreditava nos meus relacionamentos anteriores, mas adivinhem? Não sigam meus conselhos amorosos a menos que pretendam continuar solteiras.
Que belo desastre eu era.
Tomei um susto e soltei uma leve exclamação quando também caminhando até eles virei meu tornozelo, pisando em falso.
– Ai! – Reclamei, quase caindo, mas então Melissa e me seguraram e me ajudaram a sentar em um banco ao lado.
– Tudo bem? – Mel perguntou, me olhando preocupada.
– Sim, só pisei errado. – Sorri fraco com a dor se fazendo presente.
– Acabou de chegar, nem bebeu ainda, e já é a primeira pessoa a quase levar um tombo. Deveríamos procurar no guinness, quem sabe isso é um tipo de recorde? – O belo garoto de azul brincou comigo e eu ri.
Por que eu estava tão preocupada? Aquele era . Meu melhor amigo. Para sempre. Não importava o que, não podia criar “e se” para ele. Esse garoto era certo como sol no verão.
– Vai dar para dançar, ou...? – Melissa indagou.
– Acho melhor eu ficar sentada aqui, só por uns minutinhos antes de ir para a pista, mas vocês podem ir sem problema algum. Não precisam fazer companhia ou qualquer coisa assim. ¬– Quando todos ficaram parados se entreolhando meio que sem saber o que fazer, provavelmente sem graça por me deixarem ali insisti. – Vão! – E gesticulei com a mão os espantando.
Contudo, uma pessoa decidiu não ir, pensou ser melhor ficar ali comigo. Mesmo que não soubesse, eu não poderia aprovar mais sua atitude.
– Acho que deveria pedir tequila para você.
– Tão cedo e já tentando me embebedar? – Fiz uma cara de falsa surpresa e ri.
– Tentando nos embebedar. – Respondeu e rimos. – Isa comentou que você pediu demissão, o dia também foi uma boa de uma merda para mim. – Deu de ombros. – Então acho que tudo que ambos precisamos é um pouco de bebida para nos deixar menos mal humorados e não estragar a noite das duas ali. – Fez gesto com a cabeça, apontando para onde nossas amigas estavam.
– Se não fosse para beber não tinha nem saído de casa. – Brinquei e ele balançou a cabeça, rindo.
– Então vamos começar a festa. – Piscou um de seus olhos para mim e involuntariamente mordi meus lábios.
Ele pediu ao barman e quando me dei conta já tínhamos brindado a primeira dose, por fim tomando não uma, nem duas, mas sim três. Aquela altura da noite, mal me lembrava do meu pequeno acidente no início da festa, já tinha me jogado com as meninas para dançar sem nenhum sinal de incomodo, nos acompanhava inventando os movimentos mais engraçados do mundo. Uma hora ou outra chegava um cara, mas eu só queria um alguém essa noite, e não era nenhum deles.
No meio de algumas puxadas mal educadas dos caras da boate aproveitei para puxar para perto de mim, porque a triste realidade era que homens parecem respeitar apenas homens. Você está com um cara, eles não mexem contigo, mas se você está sozinha, parece que é propriedade pública.
Tomei a nossa aproximação como oportunidade para dançar com ele. Isabela e Melissa completamente entretidas em seus próprios mundos dançando uma com a outra, virava e mexia, davam a chance a um carinha que elas achavam que valia a pena.
Eu e meio que tínhamos acabado de criar nosso próprio, único, e particular universo. Fiz questão de esquecer todos os meus problemas instantaneamente, permitindo ao meu corpo falar por si só. Meu foco todo centrado no garoto dos meus sonhos, bem a minha frente. Todos os muros construídos entre nós despencando, como se nunca sequer tivessem existido. Era como se naquele momento algo dentro de mim houvesse despertado, mudando um pouco toda a perspectiva de basicamente tudo que eu tinha até então.
Foi a primeira vez que dançamos daquela forma, sensuais e juntos. Sua mão na minha cintura, as minhas na sua nuca, olhos nos olhos. Então sendo ousada, tomei uma atitude extravagante para alguém que não costumava ser tão corajosa assim. Virei minhas costas para ele e começamos a dançar de uma forma que nos deixava colados em lugares deliciosamente pecaminosos. Talvez isso não fosse nada demais para muita gente, mas me parecia sublime estar assim com ele.
Era o paraíso, tudo que eu precisava e mais. Estava correndo um risco aqui com ele esta noite, mas meu coração me dizia que valeria a pena se nós dois pagássemos para ver.
A dança continuou e as bebidas também, todos alegres demais. O clima leve que habitava entre nós fazia com que sentisse como se esta fosse a melhor noite da minha vida. Quando Isabela e Melissa decidiram ir embora cedo demais, chamamos um uber e dividimos a corrida com elas, deixando o carro em um estacionamento pago por ali. Melissa ficou na casa da Isabela e , bem...
– Ei. As meninas já querem ir, acho que também já vou. Você vai continuar aí com seus movimentos sensuais para as garotas ou vai vir conosco? – Perguntei em seu ouvido, brincando.
– Essa é uma pergunta difícil... – Sua expressão pensativa imitava aquelas estatuas da Grécia Antiga. Ele tinha a feição de paisagem mais engraçada da vida. – Quer dizer, eu quero ir, com você... – Me olhou maliciosamente e riu. – Mas sei lá, me sinto mal por todo mundo da festa que vai perder tudo isso aqui. – Ri de sua piadinha e revirei os olhos.
– Talvez, quem sabe... – Dei um passo à frente, colando meu corpo no dele. Mexi nas mangas de sua camisa a ajeitando e na gola, até que aos poucos subi meu olhar até o dele, passando pela sua boca antes. – Você possa ir lá para casa. – Sorri também maliciosamente e dei de ombros, me fazendo de inocente.
Como se aquilo fosse uma sugestão inofensiva para qualquer um de nós dois.
Não era.
Não havia nada de inocente entre nós aquela noite.
– Esse é um convite que estou realmente tentado a aceitar. – Suas palavras continuavam a brincar comigo, mas seu olhar agora recaia sobre mim concentrado. – Se isso for sério...
– É. – Respondi sem hesitar.

E foi o suficiente para que ele concordasse e nós pegássemos o táxi com as belas e divertidas loucas da noite. Que eu sentia que tinham passado muito mais do ponto do que nós havíamos, o que nos levou a morrer de rir durante todo o caminho.
Contudo, quando as duas nos deixaram para trás, o clima recaiu sobre mim. Céus, aquilo realmente estava acontecendo.
Olhei para e vi seu sorriso sereno dirigindo-se a mim. Foi o suficiente para que, por hora, me acalmasse e sorrisse de volta, lhe dando a mão.
Meus dedos se entrelaçando aos seus, me dando apenas um vislumbre do quão perdida eu já estava e sequer sabia.

And when I think about the way
You touch my body


Rolei na cama ofegante e rindo, finalmente conseguindo levantar.
– Ok, agora já chega! – Teimei com ele ao me levantar da cama. – Estou indo tomar banho. – Tentei soar séria, mas bastava tê-lo no meu campo de vista por mais de cinco segundos que um sorriso involuntário abria.
– Tudo bem, vamos. – Disse também, se levantando e expondo seu corpo inteiramente nu para mim mais uma vez.
Meus olhos presos por cada detalhe seu, desde sua barba rala, passando pelas suas entradas maravilhosas, passeando da cabeça aos pés, e parando em um lugar um tanto quanto atrativo.
Eu tinha um problema grave: nunca ia me cansar de ver aquilo.
– Há-ha, engraçadinho. – Fui irônica. – Eu vou entrar sozinha e se você for um bom amigo, quando eu sair vai ter um café maravilhoso me esperando, hein? Que tal? – Ri ao vê-lo revirar os olhos.
– Sou muito mais que um bom amigo. – Me olhou de lado fingindo estar ofendido. – Além disso, devo pontuar que nenhum café da manhã vai superar o quão bom eu poderia tornar esse banho para você. – Deu de ombros com um sorriso malicioso de lado pregado nos lábios, por pouco não me fazendo desistir e voltar a me jogar em cima dele.
Suspirei fundo, tirando todo resquício de força e dentro de mim e indo para o banho. Eu precisava pensar.
E quanto mais tentava, mais as coisas pareciam piores.
Tranquei a porta e me perguntei: “O que Diabos estou fazendo? Este é , meu amigo, não algum carinha para transar”.
Então me olhei no espelho, com meu cabelo todo bagunçado e rosto amassado e me critiquei.
“Nossa, você parece horrível. O que é que ele viu em mim, afinal? Não sou nem um pouco como as outras garotas com quem ele sai”.
Por último, ao ligar a ducha, só conseguia pensar “tome esse banho logo e tire tudo dele de você então será mais fácil lidar com isso. Ele vai te entender, você só tem que lhe explicar que não quer nada sério, noventa e nove por cento de chance de que ele pensa o mesmo”.
Nem todo mundo era forte sempre, eu era o exemplo perfeito disso. Em um momento estava toda girl power e no outro parecia apenas uma garotinha com medo escondida embaixo da cama. O pior de tudo é que eu ainda não tinha aprendido direito a como fugir dos meus próprios sentimentos, então o máximo que podia fazer era tentar ignorar os ruins. O que demandava muita força de vontade e trabalho.
Sai do banho, vesti uma camisola, escovei os dentes. Roubei cada segundo de todas aquelas ações para pensar no que eu iria lhe dizer. Demorando muito mais do que o necessário.
Então abri a porta e vi que ele não estava no quarto. Meu coração já disparou pensando que ele poda ter tomado essa atitude antes de mim, e de forma muito mais cruel. Aproveitando-se do meu banho para me largar aqui sozinha, sem explicação alguma, sem qualquer conversa ou tentativa de entendimento.
No entanto, quando sai o procurando pelo apartamento o vi na cozinha passando manteiga nas torradas. Recordei-me tardiamente do pedido de café da manhã, não pensei que ele realmente ia o atender. Agora o meu melhor amigo, para o meu desgosto, já se encontrava com suas roupas. Bem, menos uma peça – sua camisa – o que me agradava mais.
Suspirei.
Aquilo ia ser mais difícil do que eu pensei.
– Não sou muito bom cozinhando, então fiz o básico, torradas e ovos mexidos. – Demorei alguns minutos apenas sorrindo e olhando para ele. A garota que um dia o tivesse era alguém de sorte. Não por simples torradas e ovos, mas porque era transparente como um vaso de cristal o quanto ele se importava. – O que foi? – Perguntou.
– Nada. Tudo está perfeito.
Só omiti que talvez esse fosse o maior problema. Perfeição me assustava.

[...]


Ao chegar ao meu apartamento ambos estávamos estranhamente tímidos, nunca havíamos sequer nos beijado, ainda assim, a ansiedade para ter o primeiro verdadeiro toque seu em mim remexia com os sentimentos borbulhantes dentro do meu peito. Subimos fazendo piadas e tentando aliviar toda aquela tensão.
Foi enquanto eu abria a porta que senti sua respiração quente bater abafada no meu pescoço. Fechei os olhos no arrepiar de minha pele. Minha mão travada na maçaneta da porta já destrancada. De repente era como se eu estivesse pronta para recebê-lo, completamente excitada e implorando para ter suas mãos no meu corpo.
No entanto, não tive tempo de protestar a seu favor, porque tão logo quanto um suspiro me escapou, um beijo fora depositado em meu pescoço.
E céus!
Arfei.
Como eu amava beijos no pescoço, era como se me levasse ao paraíso, exceto que quem estava ao meu lado, apesar de parecer tão lindo quanto um anjo, parecia disposto a cometer diversos pecados.
Uma de suas mãos caminhou até a minha barriga, se infiltrando por baixo da minha blusa. Engoli seco ao sentir meu estômago se contorcer em desespero. Foi como se pela primeira vez eu realmente o sentisse e me dei conta do quão magnífico era aquela sensação, muito mais do que eu um dia pude imaginar. Aquilo parecia uma deliciosa tortura. Tudo que eu conseguia pensar naquele momento era em colar meu traseiro a sua parte íntima, e eu estava prestes a fazer isso quando fui despertada daquele maravilhoso sonho.
– Então, não vamos entrar? – Sussurrou em meu ouvido.
– Desculpe, o quê? – Sua risada baixa e rouca vibrou na curva de meu pescoço, me deixando mais desconcentrada do que já estava.
– A porta. – Ele virou a maçaneta e passou a minha frente, entrando na minha casa enquanto eu permanecia estática sem saber como conduzir a situação. Por sorte, ele parecia estar muito mais a vontade com isso do que eu.
Portanto, permiti que ele me puxasse pela mão para dentro e fechasse a porta atrás de nós dois. Meu estômago continuando a se corroer em ansiedade. Firmei minhas unhas em seus ombros, o puxando para mais perto pela camisa enquanto ele me prensava contra a porta.
Joguei meu cabelo para o lado, facilitando os seus beijos em meu pescoço. Ele puxou uma de minhas pernas para cima, apertando minha coxa, mas tudo aquilo apesar de maravilhoso parecia muito pouco perto do que eu realmente desejava.
Comecei subir sua blusa, desesperada por mais de sua pele na minha e ele não hesitou em me ajudar a despi-lo dela. Já com esta fora do seu corpo passei as mãos pelo seu abdômen. Eu queria lambe-lo, beija-lo e deixar muitos chupões ali, e eu não me envergonhava nem um pouco disso. Eu vinha me segurando há tempo demais para justamente agora parar. Daqui em diante não me responsabilizava mais pelos meus atos.
Ele tirou também a minha camisa, a passando pelos meus braços e deixando meus seios expostos, só com o meu sutiã de renda vermelho. Não poderia estar usando nada que me faria sentir mais sexy.
– Gostei bastante desse sutiã aí. – Ele disse com seu belo sorriso malicioso, mordi meus lábios, me segurando para não rir. – Mas acho que você ficaria ainda melhor sem ele. – deu uma piscadinha com um dos olhos, me fazendo abrir um sorriso igualmente safado e puxa-lo para mim antes que ele tivesse a oportunidade de arrancar aquela peça que agora soava indesejada.
Tudo porque eu necessitava do seu beijo. O primeiro. De muitos que a noite nos reservaria. Face a face, olhos nos olhos. Parei por um segundo antes de encostar nossos lábios com a minha testa se apoiando na dele. Suspirei de um jeito que parecia ser apaixonado e me assustei com a imensidão daquilo e como parecia me dominar completamente, contudo, não temi aquele momento, mergulhei de cabeça enquanto permitia a mim mesma ter todo o prazer que eu merecia.
Foi ele quem encostou nossos lábios, primeiro apenas um leve roçar que só serviu para me deixar atiçada e querendo mais. Então seus longos braços envolveram minha cintura, nos deixando tão perto que parecia sermos quase um só, tudo para logo então depositar um selinho em mim. Um que eu guardaria para sempre bem ali. Mordi seu lábio inferior como resposta.
Recebi um grunhido e um aperto ainda mais forte ao meu redor da sua parte, o que me agradou e incentivou a continuar a arranhar e apertar suas costas, e depois, finalmente, beija-lo.
E foi tão incrível como o esperado. Seus lábios eram macios como seda e recaiam perfeitamente sobre os meus. era bruto e delicado na medida certa. Fazendo com que eu me sentisse uma flor frágil ao mesmo tempo não me deixando esquecer que ás vezes também era bom ser a “vadia”.
Nossas línguas pareciam travar uma batalha não nos dando sinal algum de vencedor, o que absolutamente não nos impediu de tentar fazer cada milésimo daquilo o melhor possível. A sintonia dos nossos corpos gritava tão alto que me levou acreditar piamente que não era a única que havia detalhado aquele momento em meus sonhos, várias vezes, antes mesmo de ocorrer.
Um primeiro beijo para me fazer esquecer todos os outros, para esquecer tudo, do mundo inteiro, pois agora era apenas eu e ele, bem ali.
Separamos nossas bocas, mas sem conseguir nos conter em mantê-las distantes de nossas peles nuas, então distribuí mordidas leves pelo seu maxilar, pescoço, ombros, desfrutando do prazer que era tê-lo igualmente vulnerável a mim.
O agrado foi recíproco. não se contentava apenas em receber prazer, como parecia sentir tesão em também me dar. Suas mãos passeando pelo meu corpo, o acariciando. Logo meu sutiã desapareceu pelas suas garras habilidosas.
Quando me dei conta sua boca já acariciava meu tórax, descendo em meio a beijos e chupões até o meu mamilo. E quando ele finalmente o tocou, rodando sua língua em volta da minha auréola não contive meus gemidos que antes eram abafados.
– Oh, . – Chamei pelo seu nome enquanto meus olhos rolavam em prazer. – Não acredito que demoramos tanto tempo para fazer isso. – Disse em meio a sussurros.
– Eu quero mais de você. – Seu olhar felino subiu ao meu e não teve que aguardar pela resposta que já era óbvia.
Apenas pelos nossos olharas nós entendemos que estava na hora de ir literalmente para cama. Mas ele, tão pouco quanto eu, queria ficar distante do contato imediato que se fazia necessário. Por isso fomos em direção a meu quarto, mas sem nos largar por nenhum minuto. Batendo nas paredes e eventualmente derrubando coisas por onde passávamos. Ele, continuando a me enlouquecer então, tocava meus seios, dando a devida atenção a ambos.
Em algum momento no caminho comecei a desafivelar o seu cinto e desabotoei sua calça. Ele não ficou para trás e fez o mesmo com as minhas. Chutamos nossos sapatos para um lugar qualquer da casa e continuamos até a cama.
Eu percebi que já estávamos nela quando me jogou contra a mesma, minhas costas batendo na colcha macia.
– Onde você guarda os preservativos? – Perguntou com a respiração ofegante.
– Oh meu Deus, eu achei que vocês homens sempre levassem essas coisas com vocês, não os tenho aqui. – Disse com o rosto preocupado e vi sua feição desabar como uma criança que tinha seu doce favorito arrancado das mãos.
– Sério? Nenhuma chance de você me dizer que toma pílula? – Respirou fundo, seus braços o mantendo sob mim, seus olhos fechados como se buscasse por auto controle. – Eu quero fazer isso com você, na verdade, não acho que imagine a quantidade de coisas que quero com você em várias posições diferentes, porque eu te venero , é como se seu corpo fosse o meu templo particular, mas... – Ele ia continuar, porém o interrompi com meus risos. – O que? Eu não...
– As camisinhas ficam na mesa da cabeceira. – Continuei em meio às risadas. – Oops, acho que contei uma mentirinha. Mas foi divertido te ver sofrendo tanto assim por um pouco de sexo. – Dei de ombros e o vi igualmente sorrir só que de forma muito mais esperta e maliciosa.
– Não sofrendo por um pouco de sexo, porque nós faremos muito, querida. – Sua voz rouca afirmou, me conduzindo com uma cobra hipnotizada pelo seu flautista.
Sua mão se esticou, abrindo a gaveta e pegando um dos preservativos.
Mas como sempre não fora como a maioria dos homens e me surpreendeu mais uma vez me dando mais preliminares.
Passou sua língua por trás da minha orelha, mordiscando o lóbulo tirando arfares de mim, talvez dando um dos melhores castigos existentes pela minha pegadinha. Ele foi descendo então seus beijos pela minha barriga, aumentando minha ansiedade, fazendo das batidas do meu coração aceleradas, lambendo e sugando até chegar na borda da minha calcinha. Senti minha barriga tremer em expectativa enquanto ele abaixava aquele fino tecido, continuando a depositar seus beijos nas minhas pernas no caminho.
Ele era quente e queimava como o inferno, agora mesmo eu sentia tanto calor, meu corpo parecia prestes a entrar em combustão. Então seus lábios passaram pelos meios das minhas pernas, chegando ao lugar de mim que mais clamava por atenção.
– Você é tão deliciosa. – O escutei dizer sem conseguir responde-lo, com nada além de gemidos.
– Por favor. – Sussurrei.
– Você quer mais? – Riu com sua voz falha. – Eu não deveria considerando que você foi má para mim, mas... Estou me considerando especialmente bom hoje. – Ele disse antes de passar sua língua onde eu mais desejava.
E continuou em um vai e vem, circulando-a, acariciando meus seios com a suas mãos. Seus dedos lhe ajudando a brincar em cima com meus mamilos e percebi que também embaixo quando senti um choque percorrer minha espinha no instante em que ele os introduziu. Eu puxava seus cabelos, enlouquecida com aquele estado de êxtase que me dominava.
Senti que ele estava parando e choraminguei a contra gosto.
– Calma, eu não vou parar, não mesmo. Mas quero você tendo orgasmos comigo. – O escutei e sorri maliciosa, como eu estava sendo egoísta, hum?
Virei meu corpo por cima do dele, que caiu deitado na cama, sorrindo.
– Você também deveria estar se divertindo mais. - pronunciei-me antes de fazer o mesmo que ela havia feito comigo e começar a lhe distribuir beijos pelo corpo. Mordendo seu lábio inferior, puxando seus cabelos, porque como eu amava aquilo, fazia me sentir como se estivesse no controle, estar por cima me dava à sensação de poder. Segurei e arranhei sua nuca enquanto trocávamos aquele beijo intenso. Os seus murmúrios me incentivando a continuar naquela brincadeira.
Uma que não durou tanto tempo, pois nenhum de nós conseguia mais aguentar, então eu abaixei sua cueca, o deixando completamente exposto a mim. E ele era perfeito. Pronto para o que estávamos prestes a fazer. Depositei um pequeno beijo em seu órgão e lambi toda sua extensão, o que o fez imediatamente me puxar para cima.
– Eu. Preciso. De. Você. Agora. – Falou com a respiração entre cortada, me levando a sorrir.
Deslizei a camisinha pelo seu membro e devagar, fui me sentado sobre este. Aproveitando e curtindo cada centímetro em que descia. Minhas costas se curvando em prazer enquanto eu assistia a feição magnificente de que era como um espelho da minha, expressando toda a luxúria daquele ato.
Então ao chegar o final daquilo, subi todo o caminho de volta e voltei a descer, os gemidos de me incentivando a continuar. Mas ele era voraz e queria mais, então suas mãos rapidamente voaram para as minhas nádegas e começaram a me ajudar naquele ritmo maravilhoso que estabelecíamos.
Meus gemidos a muito já tinham se descontrolado, e agora a cada estocada eu não pensava duas vezes e só me deixava ir. O que parecia deixar meu parceiro ainda mais excitado, se é que isso era realmente possível.
Minhas pernas eram fortes e continuavam a subir e descer, mas mesmo com sua ajuda elas começaram a ficar fracas com a chegada do meu prazer. Então e eu invertemos posições.
Ele por cima fazia me sentir tanto prazer quanto o contrário. Suas estocadas iam cada vez mais rápidas. Sua mão e boca insistiam em não esquecer de todas as outras partes do meu corpo, me tocando, beijando , lambendo e chupando.
Senti que ia alcançar meu ápice enquanto ele continuava a estocar.
... Eu... – Tentei falar algo, e percebendo a minha situação ele me fez um pedido.
– Abra os olhos, quero ver você gozar olhando para mim. – Sussurrou a beira do meu ouvido.
E assim eu o fiz, atendendo ao seu pedido. Meu corpo começou com os espasmos enquanto eu olhava nos seus olhos e mordia meus lábios. Seu olhar parecia fascinado. Nós dois em completo êxtase.
Não demorou muito para que também viesse comigo, e foi tão bom vê-lo ter seu prazer como possuir o meu próprio.
Então ficamos ali jogados na cama, nossas respirações ofegantes, esperando nos recuperar para mais uma rodada daquele contato imediato.

Oops, we broke up
We’re better off as friends


Depois que terminamos de tomar café da manhã tinha que ir embora, então aquela era a última oportunidade de conversarmos, de ser honesta com ele.
– Eu estava pensando... – Comecei.
– O quê? – Perguntou, sua expressão já confusa como se já soubesse pelo o que esperar.
– Você é ótimo. – Me adiantei. – É só que... Acho melhor se não contarmos sobre isso a ninguém, que seja uma coisa que fique entre nós. – Sussurrei o pedido envergonhada.
– Ah, bem, acho que por mim tá ok. – Deu de ombros, levemente aliviado, como se esperasse por algo pior, mas eu ainda não havia terminado.
– E... – Olhei para baixo e respirei fundo antes de continuar aquela conversa, indo rumo à parte mais pesada. – Também acho que não deveríamos fazer isso de novo, nem hoje nem... Nunca. – Falei tudo quase sem respirar, em uma cajadada só, e esperei para ver o que ele iria me responder.
Mas ele ficou quieto, resposta alguma partiu de ti. Continuou a terminar de lavar seu prato de costas para mim, como se nada estivesse acontecendo e eu nem existisse. Mordi meu lábio apreensiva, meus pés balançando inquietos, e quando eu estava prestes a perguntar se ele não tinha nada a me dizer ele fechou a torneira e se voltou para mim, encostando no balcão.
– Tudo bem. – Revirou os olhos, seu tom de voz debochado ao responder.
Naquele momento eu me encontrava mais irritada do que nunca com ele. Era tudo muito confuso, pois eu não queria que ele se derramasse em lágrimas e fizesse tudo ainda mais difícil para mim, no entanto, não esperava que ele ligasse tão pouco, principalmente porque eu me importava.
E me importar, como eu já imaginava, era uma droga. Como eu desejava não dar a mínima para nada disso, ser fria como uma pedra, mas não, aqui estava eu, magoada, e nem tinha certeza se a culpa era mesmo dele.
– Só isso? – Me forcei a indagar. – É tudo?
– O que espera que eu diga? – Franziu as sobrancelhas. – Que você está sendo medrosa? Bem, você está. Que acho que isso é só uma forma de você tentar escapar dos seus próprios sentimentos? Eu acho! – Levantou os olhos, encarando o teto durante alguns segundos, balançando a cabeça e suspirando antes de voltar a falar. – Agora, se você espera que eu te diga que tudo vai ficar bem... Eu não posso.
– Por que não? – A essa altura minha voz começara a ficar embargada, mas eu continha minhas lágrimas tão bem quanto possível.
Mais uma vez, de forma idêntica a como aconteceu com o meu chefe, não conseguia pensar rápido o suficiente para lhe fazer as perguntas corretas e nem lhe dar as respostas que desejava, era como se eu sempre ficasse a mercê do discurso dos outros. Escutando e escutando, sem nunca levantar a voz o suficiente para que fosse ouvida.
– Porque eu não sei se vai tudo ficar bem. Você não é a única pessoa que tem medo. Eu odeio admitir, sinto raiva dessa confusão, mas sei tanto sobre o que pode acontecer ou não, quanto você. – Pausou. – A vida é um risco, sempre.
– Eu sei. – Disse em um suspiro. – Mas essa noite não tem que mudar nada entre nós, basta fingirmos que ela nunca aconteceu, francamente, que diferença vai fazer? – Questionei nervosa, rindo das minhas próprias palavras, tentando torna-las leves para mim, mas estas pesavam tanto quanto um caminhão de cimento.
Eu me assustei ainda mais com a sua demora em responder. Aquilo não estava acontecendo, certo? As coisas supostamente tinha que ficar melhores daquele jeito, não piores. Eu só estava agindo assim justamente para que não o perdesse. Será que ele não enxergava isso?
Eu o queria.
Muito.
Mas era melhor assim.
Melhor.
Melhor.
Repeti mil vezes em minha mente até que comecei a ver verdade nas minhas palavras. Sim, tinha sido tolo demais pensar que ia ser fácil, mas aquilo era momentâneo, em uma semana estaríamos completamente bem um com o outro. Sequer lembraria aquele momento.
Ou pelo menos, foi o que achei.
– Você provavelmente está certa. – Suas palavras saíram duras e frias, afiadas como uma faca. – Talvez seja melhor nos afastarmos um tempo e tentarmos esquecer que isso aconteceu.
– Mas não foi isso que eu falei. – Minhas palavras se atrapalhavam enquanto ele saia da cozinha e eu o seguia até o quarto onde ele recolhia sua blusa e sapatos. – Eu não quero que nos afastemos. Você me entendeu mal, espere aí. – Segurei seu braço e quase bati meu corpo no encontro do seu quando ele parou abruptamente.
– Não, não foi o que você disse. – Ele parecia irritado agora, fiquei com medo de que toda essa raiva fosse e aparente frustação fosse minha culpa. Eu estava sendo muito babaca? – Foi o que eu disse, e por enquanto, acho que vai ser melhor assim.
Ele estava exagerando, certo? Aquilo não era nada além de um direito meu. O meu querer também tinha vez, e devia ser respeitado.
– Por que você não pode me entender?! – Quase gritei, soltando seu braço, irritada demais com tudo.
Chegando até mesmo me questionar sobre como ele podia ser sempre tão compreensivo, e justo quando eu mais precisava se transformar em um babaca na frente dos meus olhos.
Ou... Talvez eu também estivesse exagerando. Afinal de contas, o que eu pretendia com aquilo tudo? O que nós dois estávamos fazendo um ao outro? O que ele queria de mim?
Escutei sua risada desgostosa.
– Eu compreendo tudo que você está querendo dizer. – Chegou mais perto de mim, largando suas coisas em cima da cama antes de me abraçar e depositar um beijo em minha testa, me estilhaçando por dentro como se eu fosse algo fácil de ser quebrado, algo que com um sopro já estava ao chão. – Espero que também consiga me entender. – Sussurrou em meu ouvido antes de pegar suas coisas de volta e sair veloz pela porta do quarto, e tão logo, da casa, mas infelizmente não do meu coração.

[...]


Acordei cedo na manhã seguinte, mal havia piscado os olhos à noite inteira, e agora eram seis horas e meu sono já havia ido para o espaço. Depois de uma tarde inteira chorando, não sentia como se a alegria tivesse vindo pela manhã. Constatei que estava certa depois de levantar e ir até ao banheiro dar uma olhada na minha aparência no espelho. Eu me sentia horrível, então deduzi que devia estar parecendo condizente com isto.
Revirei os olhos ao reparar nos meus cabelos frisados e olhos inchados da noite de ontem, as olheiras pareciam imensas. Será possível que eu era a única pessoa no mundo que acordava assim? Quer dizer, minhas amigas sempre reclamavam sobre uma coisinha aqui, outra ali em relação à aparência delas, mas eu as considero tão bonitas. Daí quando elas afirmam isso fico as achando loucas, além de cegas. Chegando a cogitar “céus, se elas se têm em tão baixa estima assim o que devem achar de mim?”.
Mas creio que era assim para a maioria. Só que como ninguém saia pela rua com pijamas amarrotados e cara amassada, criava-se essa ilusão de vidas perfeitas e pessoas as quais nada nunca ficava ruim. Tinha certos dias que o instagram virava meu pesadelo pessoal, eu trancada no escritório e tendo que ver todos postarem fotos em lugares paradisíacos, como se fosse um complô. Por sorte, na maioria dos dias eu me encarava no espelho e sentia orgulho da mulher que era – não pelo o que estava por fora, apesar do externo também ser uma parte da qual todos deveríamos nos orgulhar, independentemente de sermos mais assim ou assado – mas a parte que sentia que mais brilhava em mim vinha de dentro.
Era difícil racionalizar assim tão cedo, no momento tudo que queria fazer era exatamente o que estava na cena que se seguiu: escovei meus dentes, e me joguei de volta embaixo dos cobertores, onde era quentinho e seguro, fiquei mexendo no meu celular, as horas passando e eu pensando.
Aquele não era um dia bom. Essa semana não era uma boa.
Primeiro eu havia sido claramente maltratada pelo meu chefe, em seguida, sem aguentar mais, pedi demissão e me dei conta. Como iria pagar minhas contas? Eu não receberia auxílio desemprego, o que eu tinha era o suficiente apenas por este mês. Perfeito! Só de lembrar me dava vontade de chorar tudo de novo. Não contente com a desgraça sendo pouca, fui burra o bastante para dormir com meu melhor amigo e depois brigar com este.
A merda já estava feita e a solução agora parecia ser essa, me esconder do mundo por quanto tempo fosse possível. Comer, dormir, chorar e assistir netflix. Soava como o pacote ideal para quem estava caindo aos pedaços e fraca demais ainda para poder recolher todos os cacos.
Escutei minha campainha soar, despertando-me do meu transe.
Será que era ele? ? Ele tinha voltado para mim? Havia feito o que eu mais queria? Lido nas entrelinhas e entendido que não tinha a menor possibilidade de ficarmos separados? Corri para abrir a porta e então voltei no meio do caminho para dar uma última rápida checada no espelho.
O meu rosto continuava amassado do mesmo jeito. Ah, que se dane. Ele já tinha me visto pelada, ou me aceitava com meus defeitos e o pacote inteiro ou não. Por mais que vivesse na incerteza de nós dois, ali quase tive certeza de que ele me acolheria por inteira, com cada pequena e irritante parte, e por isso, eu o amaria ainda mais.
Mas ao abrir a porta encontrei dois rostos muitos diferentes do que esperava.
Era Isabella e Melissa, e nenhuma das duas tinha uma expressão muito agradável aos olhos.
– Oi meninas... – Cumprimentei incerta, uma enxurrada de desesperança me atingindo com tudo a constatação da não presença de ali. – O que vieram fazer aqui? – Indaguei confusa.
– Olha, nós já sabemos de tudo, não adianta se fazer de sonsa não. – Isabela entrou esbarrando em mim, seguindo para sala e jogando sua bolsa no sofá enquanto Melissa a seguia com expressão igualmente severa. – No que você estava pensando quando disse para sobre “esquecer” que a noite de vocês aconteceu? – Fez aspas com os dedos e indagando, seus olhos arregalados e narinas bufantes.
– Pera aí. Como vocês sabem disso? – Franzi as sobrancelhas ao me dar conta de que mais problemas vinham a minha frente.
Já tinha conhecido a não realização profissional e o coração partido, e acho que essas garotas estavam prestes a me apresentar à culpa e a idiotice.
– Como você acha que a gente sabe disso? – Mel perguntou ironicamente. Eu tinha impressão que a bronca sequer havia começado, e mesmo assim, já não me agradava em nada. – O nos contou.
Belo fofoqueiro.
Pelo visto a parte do “fingirmos que nada aconteceu” entrou por uma orelha e saiu pela outra. Não que tivesse realmente problema às meninas saberem. Eu provavelmente contaria para elas em algum momento, mas definitivamente não agora quando ainda me encontrava tão estressada e com vontade de tacar um vaso de plantas na cabeça do primeiro que desse um bom dia torto para mim.
– Olha, sinceramente não sei no que estava pensando quando o pedi tal absurdo. Mas sei que se ele houvesse feito o que eu queria vocês não estariam aqui agora piorando minha dor de cabeça. – Fui grossa, mas sincera.
Não que eu me achasse dona da razão, mas para tudo há um limite, e considerando meu estado emocional, o que eu menos precisava era de alguém que me alertasse sobre o quão imbecil eu sou.
– Para ser justa, ele não queria contar. – Isabela deu de ombros. – Apareceu lá em casa de roupa toda amassada, cara de choro, querendo saber onde estava a chave do carro dele que não encontrava e tinha que ir ao estacionamento buscar. Foi aí que a espertinha da Melissa...
– Obrigada! – A morena a interrompeu, quase me fazendo rir, se eu não estivesse tão brava pela invasão descarada de um assunto íntimo o teria feito.
– Continuando. – Isabela coçou a garganta revirando os olhos. – Ela percebeu que a roupa do era a mesma de ontem à noite. E eu te pergunto, quais são as chances dele ter ido para casa e não ter trocado de roupa em nenhum momento, nem mesmo para ir a minha casa horas e mais horas depois da festa? – Levantou uma das sobrancelhas ao me questionar.
– Só isso, foi assim que vocês descobriram? – Indaguei.
– Bem, isso e o fato de que quando perguntamos se ele tinha dormido aqui com você e afirmamos que apoiávamos vocês juntos e tal, ele surtou levemente. – Melissa deu de ombros e eu a observei abismada, de boca completamente aberta. Como assim nos apoiavam? Elas já sabiam daquilo antes mesmo de acontecer? Senti o coração acelerar e as bochechas esquentarem de vergonha. Será que eu tinha dado muito na cara que era a fim dele? – O que foi? Você não pode estar tão surpresa. Quer dizer, os dois ficam o tempo inteiro praticamente babando um no outro.
Criei um mantra na minha própria mente que me dizia para ficar calma. Não era nada demais, nada para ficar tímida sobre. Ela havia se referido a nós dois, ou seja, mesmo barco, mesma canoa furada. Eu devia estar analisando demais aquilo, não tinha nada demais em amigas próximas repararem em uma paixãozinha sua.
Exceto que ele não era só uma paixão. Ele era isso, mas também era muito mais.
era muito mais que aquilo. O que eu sentia por ele me arrebatava ao estremo deixando meu coração zonzo e minha vida de pernas para o ar.
– E foi nesse surto que ele contou o que tinha acontecido? – Quis saber.
O peito apertado, agoniado com a sombra de medo de que ele tivesse colocado palavras duras e fortes contra mim. Eu não queria ser a garota que transformaria o príncipe no sapo, nem a garota que beijaria o sapo para este virar príncipe. Havia um único homem o qual eu desejava, mas do que qualquer outro, o homem pelo o qual eu trocaria o ator e cantor mais gato de todos, e olha, vindo de mim isto era um baita elogio. Ele sim tinha toda minha atenção.
Esse que também, por mais que eu odiasse admitir, carregava parte de mim na palma de sua mão. Não gostava de ter a certeza disso, mas me consolava saber que por não ser nem príncipe nem sapo, por ser apenas o cara que eu mais confiava no mundo, aquela parte minha que lhe pertencia seria guardada com carinho. Então consegui relaxar os ombros, me lembrando da pessoa que eu sabia que ele realmente era. Alguém que por mais raiva que estivesse de mim, não sairia por aí me xingando de tudo quanto é nome a troco de nada.
Seu único pedido antes de me deixar fora para tentar lhe entender.
O que quer que elas me dissessem, era isso que eu faria, tentaria entender.
– Foi. – Afirmaram. – Ele não quis falar muito sobre, mas... Querida, por que você fez isso? – Isabela veio caminhando até a mim e puxou minha mão, a segurando na sua, passando um pouco de sua força para mim, nos levando até o sofá. – Por que praticamente o mandou embora?
– Eu não entendo. Nós sabemos que você o quer. – Mel pausou. – Então qual é o problema?
Respirei fundo. Meus olhos já cheios de lágrimas. Meu lado emocional estava mais na superfície do meu corpo do que nunca. Qualquer coisa parecia me deixar daquele jeito, prestes a começar a chorar, quase me levando a rir pelo sentimento de boba que se instalava.
Mas não era bobo, fazia todo o sentido do mundo estar daquele jeito. Qualquer um estaria. No entanto, era difícil para alguém que estava acostumada a vestir sua armadura de mulher maravilha todo santo dia, se expor e abrir dessa forma.
Contudo, era igualmente necessário o fazer.
Eu precisava parar de manter aquilo para mim, precisava de conselhos e saber o que também sentia, afinal, ele também era muito amigo delas. Todo mundo parece gostar de tentar, mas ninguém deveria nem por um único segundo, nem sequer pelo tempo de uma piscada de olho ou do bater de asas de um beija-flor, pensar que deve carregar o peso do mundo sozinho nas costas.
Sim, é corajoso tentar! Não tiro o mérito de quem tem esse ideal.
Mas absolutamente todos nós, precisamos de apoio, e não tinha nada de errado com aquilo. Nós poderíamos continuar sendo fortes do mesmo jeito, e carregando todos os pesos que nos é exigido, mas ao invés de levar tudo nas costas, por que não arranjar um carrinho de mão?
– Certo. Vou explicar tudo a vocês. Cada coisa que me aterroriza e apavora. – Disse, sem mais resistir. – Mas, vocês tem que me prometer que não haverá julgamentos.
– Jamais. – As duas se apressaram em responder.
– Tudo bem, então aqui vai. – Fechei os olhos e tentei relaxar meu corpo antes de continuar. – Eu sei que isso vai soar clichê e horrível, além de parecer mentira, mas não é ele, sou eu. Eu sou o problema. – Afirmei, já começando a sentir lágrimas virem ao meu rosto. – Sim! – Afirmei. – Eu tenho medo que ele falhe comigo, mas é algo tão pequeno e insignificante perto desse pânico que me possui quando penso que pode ser eu quem vá falhar.
– Mas querida, você não pode tirar conclusões precipitadas. Ninguém sabe o que vai acontecer. – Isabela me disse o que eu já sabia.
– É! A Isa está certa. – Concordei com a cabeça com ambas.
– Eu sei disso, mas é tão difícil não se deixar levar pelo velho “e se”. Sim, tudo pode ser maravilhoso, mas tudo também pode se tornar um pesadelo. pode falhar comigo, mas conhecendo como em o conheço. – Sorri entre as lágrimas e a visão turva, com o coração demasiadamente nublado. – Ele não vai. Não que ele seja perfeito, mas meio que no meu coração eu sinto que ele é perfeito para mim. É como se até as nossas brigas fossem o tipo irritante de brigas que eu sempre sonhei ter sem nem saber. Ele é o dono do meu coração e isso é uma benção porque ele está em boas mãos, mas também é assustador.
– Assustador? Eu não entendo. Como assim assustador? Você mesma acabou de dizer que é ele é bom para você. – Mel indagou confusa, e eu a entendia perfeitamente bem. Se era tudo um emaranhado para mim, imagine para essas duas garotas. – Além disso, você não acha que está se colocando em baixa estima? Você é tão boa quanto ele.
– É que... – Pensei bastante na frase que eu estava prestes a dizer e em como ela parecia horrível, e pronuncia-la me deixava morta de medo de mim mesma, o quão bizarro isto é? Sentir medo de si mesma? Por que o ser humano tinha que ser complexo e difícil assim? – Eu sou o problema. – Sussurrei. – Tenho medo de mim. É como se tudo que eu tocasse morresse por dentro e por fora. Eu não quero matar nossa amizade nem o amor. Fico apavorada só de imaginar que irá acordar um dia e perceber que eu não sou mais tudo aquilo que ele queria, e o pior é que eu tenho certeza que ele vai ser para sempre o que eu quero. Então me digam? O que eu posso fazer? Como posso lidar com isso? Com a culpa de eu fui a responsável por transforma-lo em um idiota? Como vou poder olhar nos olhos dele e ver que não há mais amor ali e que eu sou a culpada por isso?
– Oh, querida! – Sua voz doce soava na tentativa de me confortar. – Você não pode ficar se adiantando, isso é loucura! Dessa forma nunca irá arriscar em nada. É como se você me dissesse que estará ficando trancada em casa pelo resto do mês porque a previsão do tempo disse que talvez vá chover. – Isa passou seus longos braços ao redor dos meus ombros me segurando, mas eu me sentia tão quebrada que não sabia como meus cacos não cortavam sua pele e a afastavam para longe de mim.
Talvez essas duas garotas merecessem um mérito muito maior do que eu as lhe dava.
– Como vou poder vê-lo feliz com outra? Casando, tendo filhos, e todas as coisas que já sonhei para mim? Quer dizer, isso é tolo agora quando tenho mil outros planos na frente, mas talvez quando eu for mais velha eu queira levar uma vida pacata. – Dei de ombros. – Então, como vou arrancar de dentro do meu coração essa sensação que se alastra como um fogo e queima tudo por dentro gritando em minha cabeça que eu nunca vou encontrar alguém que me ama tanto quanto ele, alguém que seja melhor para mim. – Sem mais aguentar, aquela nuvem pesada que eu carregava pesou mais ainda, foi como raios e trovões começando a surgir e rugir no meio daquela tempestade louca que se formava e extravasava de mim em forma de choro, deixando meus pensamentos turbulentos como o mar bravo.
– Eu entendo agora. – Melissa sussurrou, e entre meus soluços tentei escutar o que ela dizia. – Eu sei o que você está sentindo. Não é fácil. – Vi seu peito subir e descer rápido, como se ela também estivesse prestes a chorar, sequei minhas lágrimas, agora realmente lhe dando a devida atenção. – Sentir que você não é boa o suficiente é uma cruz. Eu passei por isso o Gabriel... – Pausou. – Fui uma louca ciumenta e doentia. Achava que ele sempre ia pensar que havia uma mulher mais bonita do que eu, ou mais divertida, simpática... – Riu em desgosto. – Então não deixava ninguém se aproximar, fazia cenas e escândalos por nada, o fazendo sentir vergonha, embaraçava a nós dois.
– Eu não sabia disso.
– Eu ainda não conhecia vocês quando saia com ele. Nós terminamos.
– Está vendo! É isso que me preocupa, eu não quero arruinar tudo! – Exclamei e só depois me dei conta do quanto aquilo podia magoar Mel. Ela não tinha culpa de nada, quer dizer... – Eu não quis dizer que... – Me apressei em tentar explicar, mas fui interrompida.
– Eu sei o que você quis dizer. – Respondeu com o olhar ainda mais triste. Burra. Idiota. Não podia manter sua maldita grande boca calada não é ? – E o que eu tenho para te falar é: vocês se amam, e o amor não acaba de uma hora para outra, eu diria que hoje a única coisa que eu vejo que pode estragar o amor de vocês é a sua insegurança. – Pausou. – Como você vai saber no que vai dar se não tentar? Então, o que tenho para te pedir é para não fazer o que eu não fiz. Tenha coragem! Grite aos quatro ventos que o ama e não olhe para o lado para espiar se tem alguém ali vendo vocês, tudo que importa é vocês dois. Olhe nos olhos dele, se eles gritarem aos seus que te ama de volta... Isso é tudo que basta, nada mais nem ninguém importa. É fato que só amor ás vezes não é suficiente, mas pelo o que eu conheço de vocês dois, amor é muito mais do que suficiente nesse caso, aliás, suficiente parece uma palavra tão ridícula para se encaixar perto de amor quando se trata de vocês.
– Ela está certa ! – Isabela disse mais empolgada e enxugando minhas lágrimas. – Você precisa ir atrás dele! Precisa trocar de roupa agora e ir até sua casa e dizer que o ama.

Now I accidentally need you
I don’t know what to do


De repente toda coragem que me faltava pareceu dar o ar das graças. Um raio certeiro havia atingido o chão e acendido uma chama dentro de mim. Olhei nos olhos dela, sem precisar dizer mais nada. Com o coração acelerado e rindo em uma mistura de alegria e nervoso sai correndo para pegar qualquer peça de roupa.
– Quer saber, que se dane, vou de pijama antes que eu perca esse surto de adrenalina. – Rimos juntas. – Então, qual de vocês duas vai me levar? – Questionei e logo as duas pularam da cama, pegando suas bolsas e corremos as três para o carro.
Fomos rindo no caminho inteiro, tanto de ansiedade quanto de felicidade. Eu fui sentada no banco de trás pulando como uma louca, não conseguindo me segurar e manter parada e calada. A cada dez segundos olhava pela janela e tentava localizar em qual ruas estávamos e se ainda faltava muito. Isabela parecia dirigir devagar demais e todos os sinais de repente pareciam vermelhos. Qual era a implicância comigo?
– Anda logo com isso, Isa. – Reclamei, mais uma vez chiando em seu ouvido e a vi revirar os olhos.
– Eu estou indo no máximo do limite permitido ok. Eu te amo, mas acabei de comprar esse carro, ele é velho, mas é meu, e não quero multas. – Melissa olhou para ela também revirando os olhos. – Desculpa ok? – Nos olhou abismada e nós duas bufamos.
– E se ele não tiver em casa? – Mel questionou, fazendo de mim ainda mais nervosa.
Ah! Pelo amor de Deus! Eu sequer havia cogitado isso, e com a minha maré de sorte essa semana, era bem capaz dele não estar em casa, ou estar dormindo e não ouvir a campainha, ou escutando música alta demais. Comecei a me agitar mais ainda, meu coração, se é que isso era possível, começou a bater ainda mais veloz.
– Será que eu deveria ligar para ele então? – Olhei para as duas incerta sobre o que fazer.
– O quê?! Não! – Bati com as costas no banco com a freada que Isa havia dado no carro, gritando para mim. – Não faça isso! Vai tirar todo o romantismo da coisa.
– Tudo bem... – Sussurrei, olhando ainda assustada para ela.
– Eu nunca mais ando de carro com você. – Minha outra amiga sussurrou.
– Eu sou romântica, ok? Pode não parecer, mas sou. – Isabela afirmou, dando os ombros.
Quando me dei conta todos sinais de transito e ruas haviam sido deixados para trás e nós agora estacionávamos o carro na frente do apartamento de . Senti a boca seca. Parecia que botar o pé para fora na calçada naquele instante era o mesmo que balançar a perna sentada em rochas que cairiam no abismo. Acredito naquele momento como o sendo o mais surreal, estranho e apavorante que já vivi, mas de forma torta, também acontecia de ser o mais brilhante, confortante e libertador.
– O que eu faço agora?
– Agora é com você. – Sussurrou minha motorista louca ao me sorrir.
– Vá lá e arranque dele um beijo digno de cinema. – A outra garota tão especial para mim sugeriu ao me encarar com traços maliciosos em seu olhar.
Abri um sorriso do tamanho da felicidade que me invadia, e esta era o mesmo que toda a via galáctica, infinito. Saltei do carro, batendo a porto atrás de mim. Corri até a portaria e pedi ao seu João, já velho conhecido meu, para subir. Ele prontamente atendeu a mim. Chamei o elevador, mas ele parecia demorar demais, então olhei para escadas e respirei bem fundo antes de correr até ela e subir os degraus correndo o máximo que conseguia.
Desse jeito minha aparência vai ser perfeita quando eu chegar lá em cima. Pensei ironicamente comigo mesma.
No segundo andar eu já estava morrendo e minhas pernas já pediam socorro e me lembravam do quão burra era a ideia de não pegar o elevador, mas só faltava apenas um andar, e quem está na chuva é para se molhar, então eu continuei a correr sem parar até que me vi estática em frente a sua porta.
O número 303 gritante parado bem ali.
Parei, me acalmando. Tentei com desajeito arrumar meu cabelo. Minha respiração ofegante fazia meu peito subir e descer de pressa, o nervosismo também não colaborou com a minha ideia de relaxar.
E se... Eu sei que eu tinha dado fim aos “e se”, essa era a última vez, promessa de dedinho, mas... E SE, eu tivesse lhe dado tempo o suficiente para pensar, descobrir o quão louca eu sou? Pior, e se eu houvesse lhe magoado de uma forma que ele não estava disposto a perdoar?
Meus ombros caíram com o peso do mundo querendo tomar apoio neles uma vez mais, meus lábios inferiores tremendo assim como as minhas mãos. Fechei meus olhos uma vez mais. Respirei fundo.
Não! Dessa vez eu não ia levar a mim mesma para baixo, eu sou mais forte que isso!
Toquei a campainha com o olhar cerrado e decidido. Eu estava pronta para aquilo. Eu merecia ser feliz. Afirmei a mim mesma.
Tomei um susto com a forma com que a porta se abriu depressa, me fazendo dar um pulo para trás.
– Nossa, wow! Isso foi rápido. – Comentei.
– As garotas me mandaram uma mensagem avisando. – Sorriu. – Você sabe, elas queriam garantir, só no caso de você resolver dar para trás. – Mordi o lábio inferior envergonhada.
, eu vim aqui para te dizer que...
– Eu sei. – Ele me interrompeu.
– Não, mas você precisa me escutar, eu tenho que te pedir desculpas. Eu não estava pensando certo e...
– Eu te desculpo! – Se apressou em dizer, mas uma vez me interrompendo e me fazendo sorrir leve. – Contanto que você me diga o que mais quero ouvir. – Seu sorriso caiu como uma nuvem, deliciosamente pretencioso.
Esse era meu. Desculpe, garotas.
Fechei os olhos, sem olhar para os lados para ver se tinha mais alguém ali ou não. Ri me dando conta do que estava prestes a fazer e o quão vergonhoso isto iria ser, mas agora eu literalmente não dava a mínima para isso.
– Eu te amo! – Gritei aos quatros ventos como as meninas tinham me dito e o vi me olhar engraçado.
Primeiro porque bem... Eu havia gritado.
Segundo porque ele me amava de volta e aquela graça no olhar era a felicidade que alguém apaixonado tinha ao saber que nós viemos a este mundo para amar e ser amado, e ele possuía completamente e totalmente o meu amor, eu conseguia ver isto claro como o dia.
– Na verdade eu estava esperando escutar que você trouxe pizza, mas obrigada. – Ele deu de ombros com aquele sorrisinho sarcástico pregado no canto da boca.
Empurrei-lhe pelo braço com a boca aberta, surpresa com a sua piadinha, antes de começarmos a rir. No meio da risada me pegou pela cintura e puxou meu corpo para perto do seu. Cara a cara, minhas risadas cessaram, meu fôlego sendo tirado pelo seu olhar tão constante e insistente no meu.
– Eu sei que você está de pijamas e tudo mais, então isso talvez soe estranho, mas eu juro que nunca em todo esse tempo que te conheço a vi mais bonita. – Declarou, me fazendo olhá-lo de lado meio que desconfiada e totalmente feliz e agradecida. – Pode ter sido efeito do “eu te amo”. – Ele riu, dando de ombros e eu o acompanhei. – Ou quem sabe porque já faz um tempo que venho querendo te ver assim. Entregue a mim. – Rimos juntos. Então eu vi seu suspiro saindo e me preparei para o que sabia que estava prestes a vir, minha pele se arrepiando e o estômago dando voltas em expectativa. Agora eu até chegava a acreditar que tudo havia sido premeditado pelo destino desde o primeiro dia que nos vimos, nós só não sabíamos disso na época. – Eu também te amo, . Acho que sempre amei. – Foram suas últimas palavras antes que seus lábios macios se encostassem aos meus.
O beijo que demos foi um que me fez ter certeza de que meu coração havia sido levado para sempre, e o melhor era que eu não me arrependia nenhum pouco, sequer me sentia mais assustada. Agora que realmente havia confessado o amor que sempre guardei e nunca soube dar meu corpo parecia leve. O futuro nos aguardava cheio de promessas e esperanças que de repente tive certeza que se realizariam.
O encaixe de nossos corpos e bocas eram sublimes, mal conseguia lembrar do meu próprio nome, como se fosse impossível desviar minha mente para outro objeto senão nós. Um beijo para guardar para sempre na memória, algo lindo e inquebrável que nada nem ninguém jamais seria capaz de nos tirar.

[...]


Mais tarde naquele mesmo dia recebi uma mensagem me dizendo que o meu ex chefe havia sido demitido com diversas provas de assédio contra ele, e bem fui chamada de volta ao trabalho para conversar. Na semana seguinte já estava de volta ao trabalho, recontratadíssima, eles haviam desconsiderado o meu pedido de demissão e pedido desculpas em nome da companhia, não era o ideal, mas eu podia conviver bem com aquilo.
Durante as semanas que se seguiram tudo era motivo de risadas e felicidades.
Minha nova chefe era um anjo. Claro que não brincava em serviço, mas era super educada e no primeiro dia até aceitou nos acompanhar para o happy hour depois do trabalho. No entanto, aquela foi a única vez, já que ela não queria passar nenhum tipo de impressão errada, principalmente por estar começando lá. O que era triste, pois a mulher foi louca na nossa saída, hiper divertida e me fez querer ser mais sua amiga, mas eu entendia seu ponto. Separar vida pessoal de trabalho e tudo mais.
Já estava no fim do meu expediente, tinha combinado de ir me buscar. Estava arrumando minhas coisas quando ele me ligou pedindo para descer. Ao chegar à calçada da rua o vi parado, encostado na porta do carro me esperando.
Tudo que consegui pensar foi.
Nossa, esse cara é realmente meu.
Corri até ele lhe abraçando o pescoço enquanto sentia suas mãos se depositarem ao redor da minha cintura. Então aproximei mais uma vez meus lábios do seu esperando que nosso toque continuasse sendo tão mágico como sempre era e bem...
O resto vocês já podem imaginar.

Now I accidentally know that you’re in love with me too
Oops baby I love you




FIM



Nota da autora: Eu absolutamente amo as meninas do little mix, adoro essa música, e nem acredito que consegui pegar. Espero que vocês tenham gostado e que eu tenha feito justiça a letra.
Deixem suas opiniões e críticas construtivas nos comentários por favor. Irei adorar ver a interpretação de cada uma.
Muitos beijos e abraços a todas!





Outras Fanfics:
Proteja-me do que quero
04. Oops
05. Hair
02. Holdup
07. Playboy


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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