Finalizada em: 14/04/2021

Capítulo Único

Senti meu peito se aquecer no exato momento em que vi a grande placa, que anunciava o bom e velho “Bem-vindos à Greenville”. Estampado nela, o rosto sorridente de Miranda estava desgastado pela ação do tempo, mas ainda assim era possível sentir o calor receptivo que a mulher emanava.
Respirei bem fundo, como se assim fosse possível sentir mais uma vez o cheiro gostoso dos biscoitos recém assados por ela todas as vezes em que eu visitava a sua casa, um gesto singelo que demonstrava o quanto gostava de mim e pensar nisso só me fez lembrar que realmente não merecia seu apreço.
Acelerei o carro, visualizando as primeiras residências em meio às ruas povoadas por rostos familiares e o saudosismo me fez recordar das diversas vezes em que passei por ali, na maioria delas a pé, rodeado pelos meus antigos amigos, ou com o carro velho do meu pai.
Naquela época, eu jamais me permitiria sonhar em ter um carro como o que eu usava naquele momento. Não que nossas condições fossem extremas, elas eram razoáveis, mas eu sabia bem que se quisesse crescer de verdade na vida, só conseguiria fazer isso quando deixasse Greenville para trás.
Mais alguns metros me levaram até o Uncle Tom’s, um bar local onde eu costumava ir apenas quando queríamos beber cerveja barata até não aguentarmos mais para depois seguir para um lugar como o Led’s, onde realmente as festas começavam.
Eu conseguia ouvir as risadas altas de meus amigos enquanto cruzávamos aquelas ruas, cambaleando e nos apoiando uns nos outros até chegarmos ao local completamente lotado em plena quinta-feira. A música dali era sempre boa e por mais que as bebidas ali fossem mais caras, sempre tinha a rodada por conta da casa para quem topasse subir no balcão e dançar ao som de Girls Just Wanna Have Fun.
Aquela tradição havia começado com apenas garotas subindo, sendo sempre ajudadas pelos marmanjos que rodeavam o balcão tentando conseguir alguma dose de álcool gratuita. Até o dia em que Louis, um de meus amigos, questionou o motivo de só as garotas fazerem aquilo e nós dois subimos no balcão logo em seguida, gesto que foi copiado por mais uma dezena de outros caras ali no lugar.
Naquela quinta-feira, eu subi como fazia desde sempre e agradeci aos deuses divinos por estarem servindo doses de Fireball, porque era a bebida que eu mais curtia. E foi virando um shot que eu encontrei ela.
Na verdade, encontrar não é bem o termo certo, afinal, nós éramos conhecidos desde sempre, mas foi naquela noite, em cima daquele balcão, que eu realmente reparei em , isso mesmo, a filha da mulher sorridente da placa de boas-vindas.
E o motivo de não merecer nenhum dos biscoitos quentinhos era que eu havia quebrado o coração daquela garota em mil pedaços.
Nós dois éramos jovens demais ao nos envolvermos. Eu havia recém completado meus dezenove anos enquanto ela tinha dezoito. Nenhum dos dois podia beber nesses lugares que frequentávamos, mas nem ligávamos em andar por aí com identidades falsas, na verdade, nós não pensávamos em muitas coisas que fazíamos.
Dona Miranda não fazia ideia, embora houvesse alguns boatos do que nosso grupo aprontava, mas ela simplesmente não conseguia acreditar que a sua , sempre uma boa filha e aluna exemplar, seria capaz de pichar os muros da cidade.
Honestamente, quando eu a notei pela primeira vez, também não imaginei, mas gostava disso em . Era como se nós dois fôssemos almas feitas uma para a outra.
Eu a amava, analisando tudo enquanto eu continuava percorrendo as ruas de Greenville, eu tive a certeza disso. Em cada canto daquela cidadezinha, eu a via sorrindo para mim, pulando nas minhas costas e se agarrando ao meu pescoço como se precisássemos andar grudados para viver, enquanto corríamos de uma maneira completamente desengonçada até o fôlego fugir completamente de meus pulmões.
Ninguém me fazia rir como ela, assim como ninguém ria como .
Caramba, eu sentia falta de ouvir a risada dela.
Assim como eu sentia falta de cada um dos suspiros que ela dava enquanto falávamos até tarde no telefone e de repente o silêncio surgia. Não era ruim ficar com daquela forma, na verdade, aquele silêncio trazia uma paz gostosa que deixava meu peito totalmente aquecido.
Como eu tinha sido capaz de magoar aquela mulher?
Simplesmente porque eu era um completo babaca.
Simplesmente porque naquela época eu não fazia realmente ideia do quanto eu amava . Do quanto meu peito sangraria com saudades dela desde o momento em que a vi partir, tendo como última memória sua o seu olhar de decepção e aquela terrível ligação na calada da noite.

— Minha mãe estava errada sobre você, . Você é exatamente como todos os outros e me usou como fez com todas aquelas garotas. Eu tive receio disso no começo. Receio de me machucar. Talvez fosse alguma parte minha avisando sobre quem você era de verdade, mas nenhuma de nós duas quisemos acreditar nisso. Preferimos pensar que era besteira não acreditar em príncipes encantados porque você estava ali, bem na nossa frente. — Sua respiração, de repente, ficou pesada e sua voz mais fina. — era o único que te via como você era de verdade. Um lixo de pessoa. E eu não quero nunca mais te ver na minha frente. Esqueça que eu existo, .

Quando a ligação se deu por encerrada, eu ainda continuei ali, com o celular colado ao ouvido, sentindo meu peito acelerado e uma dorzinha chata, que não condizia em nada com o que eu esperava sentir.
Tudo que ela havia dito era verdade. Eu não merecia . Eu tinha ao meu lado a garota mais maravilhosa de todas e havia jogado tudo aquilo no lixo simplesmente por diversões momentâneas com garotas aleatórias que eu encontrava quando não estava com .
Não irei culpar nenhum dos meus amigos porque convenhamos que seria muito mais covarde da minha parte dizer que eu só havia saído para curtir por aí porque eles me chamavam. Não, eu fui porque quis. Fui porque ainda procurava por algo que estava o tempo todo diante de meus olhos.
Eu havia perdido e nada me traria ela de volta.

Soltei um longo suspiro enquanto estacionava o meu carro diante do meu destino final. Eu não sabia como havia tido realmente coragem de ir até ali, muito menos como havia sido convidado para aquele evento.
Talvez estivesse louco pela sensação de nostalgia ou quisesse me sentir acolhido novamente, já que eu estava completamente perdido, por isso fui.
E talvez me convidaram porque nada daquele passado importava mais para ela.
Depois do trágico fim de meu relacionamento com , fiz de tudo para dar o fora daquela cidade e consegui. Na verdade, eu realizei todos os meus sonhos possíveis, consegui montar minha companhia, era muito bem-sucedido, mas nunca me conectei com alguém como havia acontecido com ela.
Sinceramente, eu nem tinha mais esperanças com relação a isso e talvez esse fosse o maior motivo da minha confusão. Talvez por esse motivo eu estivesse ali, prestes a entrar naquele local lotado de pessoas conhecidas do meu passado para presenciar aquilo que eu acreditava ser o ponto final que eu precisava para superar a maior cagada da minha vida.
Eu estava prestes a presenciar o casamento dela, da minha .
E não me surpreendi nem um pouco quando soube que o noivo dela era . Na verdade, eu sempre soube que ele também tinha sentimentos por ela, mas, ao contrário de mim, não era um babaca e no fundo eu estava feliz por saber que também estava.
No entanto, no momento em que eu a vi irromper nas portas da igreja e cruzar o enorme corredor, eu soube que meu ponto final nunca chegaria. Eu sempre seria apaixonado por ela, sempre carregaria o peso dos meus erros e estava fadado a ser apenas o cara que um dia amou.




FIM



Nota da autora: Okay, talvez eu tenha sofrido um pouquinho aqui, mesmo esse pp tendo realmente pisado na bola. Comentem aqui embaixo o que acharam!
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Beijos e até a próxima!
Ste.



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