— E você, senhorita , aceita o príncipe como seu legítimo esposo? — O padre perguntou diretamente à mulher, depois de ouvir a resposta do rapaz.
, naquele dia, se casaria com um príncipe — futuro rei, claro —, se não fosse pelos seus princípios. Ela não queria ser qualquer uma em sua vida, não queria estar roubando o lugar de mais alguém e pela resposta hesitante do homem, juntamente das olhadas tristonhas para uma pessoa em específico na multidão presente, aquela continuava sendo a situação, mesmo depois de meses tentando seu máximo.
e eram noivos há anos e se conheciam ao mesmo tanto de tempo, o pai da garota era o conselheiro real do rei e, bom, a proximidade de ambos fez com que seus futuros fossem decididos. Ela por muito tempo quis aquilo, por anos foi seu e de mais ninguém, apesar de não existir um amor real ali, apenas o peso do compromisso, que fez com que eles fossem basicamente exclusivos e políticos um com outro.
Ele a deixava fora de exposições desnecessárias — mesmo que não fosse muito de sair em manchetes — e ela fazia o mesmo por ele, não se envolvendo em confusões, sempre tirando as melhores notas na faculdade, além de quase não ter amigos por não saber distinguir quem realmente estaria com ela no futuro ou não.
Tudo isso aconteceu normalmente, até que entraram em seu terceiro ano de faculdade.
estava cansado de todos quererem mandar em sua vida, sabia que seria coroado assim que se casasse e estava sendo pressionado para que isso acontecesse o mais rápido possível, afinal, ninguém ali entendia o peso de você não casar com a pessoa que realmente ama. Aquela, que veio do “nada” e que ele descobriu que se tornaria “tudo” em uma aula de história ocidental, em uma plena tarde da primeira segunda-feira de maio.
— Não! — Ela disse de repente, assustando a todos ali presentes. — Olha, , nos conhecemos desde que nascemos, ficamos noivos assim que completamos dezessete e ainda sim você nunca foi capaz de me amar da mesma maneira que você a ama.
já não suportava isso, ela viu tudo acontecer de perto, passo a passo de seu futuro marido, o homem que passaria o resto da vida ao seu lado, apaixonando-se pela verdadeira pessoa que havia ganhado seu coração.
— O que você está fazendo? — Ele sussurrou um pouco desesperado e inquieto com a situação.
— Estou livrando os dois desse fardo! — Ela disse, tranquila. — Eu não posso me casar com você, quando a única pessoa que você pensa há dois anos está na quinta fileira assistindo a isso.
— Eu... — ele disse e se calou de repente. — e eu nunca tivemos nada, se é isso que te preocupa, nunca teremos. Você sabe que o acordo entre mim e você é sério.
— Eu sei, não se preocupe, você é e sempre foi respeitoso e cuidadoso. — Ela disse, colocando a mão nos ombros dele. — Mas eu te conheço bem demais para dizer que não estou mais em seus pensamentos ou que sou sua prioridade, eu não quero me machucar ou ser apenas parte de um acordo, não sabendo que tenho a chance de nunca ser parte de você.
— , eu... — ele tentou dizer, mas ela o interrompeu.
— Não, escuta! — Ela disse. — Eu me apaixonei por você, , eu realmente me apaixonei e não era para menos, nós passamos mais tempos juntos do que eu e meu cachorro. — sorria, talvez a tristeza não aparentava ser grande, enquanto dizia aquelas palavras, mas seu coração apertava a cada vez que se dava conta de que ela realmente estava o deixando ir. — E eu não sei se um dia eu realmente amaria alguém da forma que eu amei você, mas eu tenho que deixar isso para trás pelo meu bem, porque, sim, eu sou egoísta, não quero ter alguém ao meu lado que teve a vida perfeita por algum tempo e foi impedido por mim de viver ela por completo, isso seria um desastre! — Ela disse, rindo.
— Eu posso mudar, isso vai passar, . — Ele disse, segurando as mãos da garota. — Eu sequer sei se ela sente o mesmo por mim.
— Para isso, você tem que tentar saber se ela sente ou não e se ela estiver na dúvida, faça com que ela entenda o seu amor. — respondeu, afastando suas mãos da dele. — Você é uma ótima pessoa, mas correr da situação, querer se casar apenas para evitar com que as pessoas falem, chega a ser desrespeitoso.
— Eu nunca quis te desrespeitar, eu apenas estou querendo te proteger... — ele disse, olhando para o chão envergonhado.
— Se você me respeita, não me proteja. — Ela disse, colocando o buquê que segurava na mesa à sua frente. — Apenas fale, me diga a verdade, pare de fingir que nós não somos um caso fadado a um futuro infeliz juntos.
não conseguia abrir a boca, estava não indignado, mas surpreso pelas palavras da mulher à sua frente, nunca havia imaginado que ela pensava dessa forma. Talvez ela estivesse certa, talvez eles devessem ter sido mais sinceros um com o outro.
— Você não está cansado de fazer isso sempre? Se você se casar comigo hoje, o que será amanhã? Você sabe me dizer? — Ela perguntou e ele a encarou no mesmo momento. — Digo, você não está cansado de fazer coisas pelas pessoas, quando elas sequer retribuem ou, melhor ainda, não está cansado de sempre que faz coisas para você mesmo, ter que pensar no que diria se algum tipo de manchete surgisse no dia seguinte?
— Mas essa tem sido a minha forma de viver desde que nasci... — ele riu, tristonho. — Aliás, eu nasci para fazer isso, para ser assim e, por isso, sempre foi parte de mim pensar antes nas pessoas do que em mim mesmo.
— Pelo amor de , presta atenção no que você está dizendo, não faz o menor sentido! — Ela disse um pouco irritada. — Você, antes de um príncipe, sempre foi uma pessoa, só nunca se deu conta até o dia em que você a viu pela primeira vez, porque ela te tratou como uma pessoa e não como o príncipe e futuro rei de Seaport*.

ㅤ📍 First Monday of May - Seaport University, 2019:

— Você pegou o começo da matéria? — sussurrou baixo para o colega ao lado, assim que se sentou.
— Desculpa, cara, eu também cheguei não faz muito tempo... — o rapaz respondeu, voltando sua atenção ao professor à frente.
, naquele dia, tinha alguns compromissos importantes pela tarde, mesmo sendo seu primeiro dia de aula do ano, ele não teve como adiar e chegou atrasado.
— Aqui! — ergueu seu caderno para ele, que estava sentado atrás dela. — Não é muita coisa, ele explicou o primeiro capítulo e depois parou, porque teve que ir falar com o reitor, então você não perdeu muito. — Ela disse tranquila. — Me devolve no final da aula.
— Mas e você? — Ele perguntou sem entender.
— Depois eu passo a limpo... — ela disse, mostrando o outro caderno que tirou da bolsa.

Ele estranhou que por alguma razão passou a aula toda analisando a garota, talvez estivesse pensando qual seria o pedido da mesma como retribuição por tê-lo ajudado, afinal, estava acostumado com pessoas assim ao seu redor.
— Meu... — ela foi dizer e ele vendo que ela se aproximava, interrompeu-a.
— Pode dizer. O que você quer em troca? — Ele disse de repente, deixando-a confusa.
— Meu caderno de volta? — Ela respondeu hesitante.
— Huh? — Ele disse sem entender.
— Você está com meu caderno, certo? — Ela disse rindo. — Preciso dele para repor a matéria.
— Ah, claro! — Ele respondeu, entregando o caderno e esperando que mais alguma coisa viesse em seguida. — Só... isso?
— Um “obrigado” também seria legal, mas eu estou de bom humor hoje, não vou cobrar... — ela respondeu brincando.
— Obrigado! — Ele disse, assim que a viu pegar suas coisas e ameaçar sair dali.
— De nada! — Ela respondeu tranquila.
— Qual o seu nome? — Ele perguntou de repente.
— , me chamo ! — Ela disse, olhando no relógio. — E essa já está atrasada para estudos da humanidade, até mais.
— Até! — Ele respondeu rápido, antes que ela saísse da sala.
Mal sabia ele que os observava de trás, como se não estivesse ali.
— Quem era? — Ela perguntou de repente, assustando-o.
— . Quer dizer... — Ele coçou a nuca. — Uma garota que me passou o começo da matéria, já que cheguei atrasado por causa da reunião do meu pai com os senadores essa tarde.
— E você já a conhecia? Ela quis alguma coisa em troca? Porque se ela quiser alguma coisa, como sair em público ou algo do tipo, eu posso... — tentou terminar sua frase, mas a interrompeu.
— Não precisa! — Ele disse, olhando para a porta por onde saiu. — Ela não me pediu nada, além de um “obrigado”.
— Ah, verdade? — Ela perguntou intrigada.
Naquele momento, sentiu em seu coração que algo a partir daquele dia mudaria.

ㅤ📍 Last Friday of May - Seaport University, 2019:

— Nós somos universitários, ! — A garota choramingou.
— Não sei, ! — Ele respondeu hesitante. — Uma festa é muita exposição.
— Você tem que parar de ser assim... — ela respondeu. — Vamos estar juntos, não tem mal algum estarmos em uma festa juntos.
— Tudo bem! — Ele respondeu, já cansado de tanta insistência e ela bateu palminhas, animada. — Mas não vamos ficar muito ou beber muito.
— Eu não falei nada sobre beber... — ela respondeu rindo.
— Como se eu não conhecesse você e suas amigas... — ele disse rindo e ela fez o mesmo. — Tenho uma aula antes de ir para casa, te busco às nove.
— Certo! — Ela respondeu sorridente.
Apesar da garota saber que não era a única em sua vida, ficava feliz de receber os privilégios de sempre estar com o rapaz. Ela o amava, ele não fazia ideia de que seu amor era real e não apenas uma fachada como o dele. O contrário dela, que sabia perfeitamente que ele não a amava da mesma forma.

Talvez ela pensasse que fosse coisa da cabeça dela, mas nunca mais se sentiu a mesma depois que surgiu em suas vidas. Não podia julgá-la ou condená-la, porque ela não havia tentado se colocar entre eles, pelo contrário, a garota tinha princípios assim como ela, ela resistiu ferozmente aos seus sentimentos pelo príncipe, que, agora, também era um de seus amigos mais próximos. Ela respeitava a , não entendia a situação, mas respeitava de todas as formas que podia.

“I lied to my heart 'cause I thought you felt it
You can't light a fire, if the candle's melted
No, you don't have to love me
If you don't wanna
Don't act like I mean nothing
But if you're gonna
Well, then you better…”

— Sabe, eu menti para o meu coração, pois achei que você sentia algo, mesmo que fosse lá no fundo... — ela disse, apontando um de seus dedos para o coração do rapaz. — Mas eu me dei conta de que não se pode acender o fogo, se a vela está derretida.
— Eu prometo te amar daqui para frente... — ele disse um pouco triste, não queria mentir para a garota, mas sabia que aquilo era o que deveria fazer, assim que olhou a multidão que os olhavam confusos.
Não podia expor ela dessa forma, não naquele dia.
— Não, você não tem que me amar... — ela disse, tranquilizando-o. — Não, se você não quiser.

ㅤ📍 Last Friday of May - Party on the red house - Seaport, 2019:

— Por que demorou tanto? — Ela disse, entrando no carro.
— Desculpe! — Ele disse, choramingando. — O rei me viu tentando sair escondido pela porta dos fundos e eu ouvi sermão por mais de duas horas depois que ele descobriu que eu iria em uma festa, se não fosse pela rainha, eu ainda estaria lá e nós não iríamos a lugar algum.
— Você deveria ter saído pelo jardim de inverno... — ela disse rindo.
— Estella me veria e faria um alarde, ela anda por lá esse horário. — Ele disse, referindo-se à cachorra de estimação que passava a noite pelos jardins da enorme mansão.
— Esqueci que ela gosta de dar uma voltinha de noite... — disse rindo.
Ambos partiram para a festa e estavam prontos para terem uma noite cheia, sem ao menos saberem.

se esquivou de diversas conversas tortas que vieram para o seu lado durante a noite, assim como , que estava com suas amigas no bar se divertindo, mas, ainda assim, mantendo a atenção no noivo, caso tivesse que salvá-lo de alguma pessoa que o deixaria desconfortável.
Ao virar seu quinto shot de tequila, deu uma leve olhada para ver se tudo estava bem com o rapaz e presenciou uma cena que não imaginaria ser tão impactante em sua vida em um futuro tão próximo.
e se trombaram por acidente, fazendo com que ambos se assustassem no mesmo instante. Os olhos dele pareciam brilhar ao vê-la sorrir sem graça, enquanto se desculpava. A cena parecia tão amável, que podia sentir de longe a energia que ambos emanavam juntos. Não que visse algum tipo de interesse dela por ele em específico, mas que algum tipo de atração ou química fazia parte de seu “relacionamento”, isso estava evidente que havia.
A garota ficou furiosa e curiosa na hora, mas não tinha o que fazer, aquilo poderia ser apenas coisa de sua cabeça — e foi isso que pensou por dois longos anos. Mentiu para si mesma, esperando que aquilo não fosse durar por muito tempo e que no final, apenas os sentimentos que ele tinha por , mesmo que fosse apenas amizade ou consideração, fossem os únicos a durar e se manterem firmes.
nunca havia sido infiel, ela sabia disso muito bem, porém, assim que e ele se aproximaram, seu grupo de amizade aumentou por conta da garota, ele já não parecia mais o garoto reprimido que ela tinha que defender de más-línguas desde a quinta série, ele havia mudado. Concentrava-se melhor nos estudos, agia com independência e confiança quando ela estava por perto, ele era completamente diferente perto dela.
Todos os olhares de admiração que ela pegou sem querer dele para a amiga, fez com que ela finalmente notasse que aquilo não era um sentimento simples que teria que lidar mais tarde, mas, sim, amor.

— Mas... — ele murmurou.
— Sem mais desculpas para si mesmo, ou melhor, para mim! — Ela levantou a cabeça do rapaz, que se encontrava cabisbaixa. — Se você me respeita, pare de tentar me proteger como se eu fosse frágil e não soubesse lidar com verdades, apenas me diga a verdade, eu vou entender, porque nesse momento... — ela suspirou. — Eu só estou conseguindo sentir falta de apenas uma coisa: — ela olhou para multidão ali, esperando que ambos dissessem algo sobre o que estava acontecendo. — De um novo começo, o que nós nunca tivemos de verdade, então por que não fazemos disso... — ela apontou para todos ali. — O nosso novo começo? Seguir caminhos diferentes, estar com pessoas diferentes... — ela disse, olhando para que assistia tudo com atenção. — Sermos pessoas diferentes é bem mais a nossa cara.

“If you respect me
Don't protect me
You can tell me
I can handle it
Stop pretending, 'cause we're going down
If you let go
Then just let go,
It's disrespectful,
How you've handled this,
Never ending, kinda run around”

— Você é incrível, ! — Ele disse, dando um beijo na bochecha da garota, que riu.
— Não sou não. — Ela respondeu e ele a olhou confuso. — Eu estou te deixando no altar, pelo menos você fica com a fama de que foi deixado! — Ela riu, fazendo com que ele desse risada junto. — Mas estamos quites, porque eu... — ela disse orgulhosa. — Fico com a fama de fujona.
— Se você preferir, eu posso...
Ela o olhou brava e ele se calou, assim que se lembrou do que ela disse minutos atrás.
— Ok, se eu te respeito, não te protejo, porque você sabe cuidar de si mesma, já entendi.
— Será difícil para ambos por um tempo, já que será a exposição que nunca tivemos... — ela disse sincera. — Mas uma hora vamos superar.
— Você é incrível! — Ele disse mais uma vez.
— Você também! — via momentos que teve por anos com ele serem desfeitos ali mesmo, queria guardar aquilo dentro de si, mas nenhuma mulher com orgulho o faria.
As memórias, que pareciam cenas de trás para frente agora em sua cabeça, apenas pararam quando ele estendeu a mão na direção da garota e disse palavras que, mesmo que saberia que poderiam vir a qualquer momento, não esperava.
— Amigos? — Disse com a mão estendida.
— Amigos! — Ela respondeu.
E aquele momento foi marcado por “desbeijos”, “destoques”, “desroubos” de corações, ou seja, momentos que estavam indo embora e jamais voltariam.

“Unkiss me
Untouch me
Untake this heart
And I miss this
Just one thing
A brand new start
Can't erase this
Can't delete this
I don't need this
I can't handle it
I just feel it that you're over us…”

Nota da autora: Meu Deus, o sufoco para isso aqui sair sem algo muito rancoroso entre os pps foi complicado, viu? Não sei por que, mas durante o processo eu senti a necessidade de deixar esse dois com uma história que no final apenas tomassem rumos diferentes. Rancor faz mal para o nosso coração e corpo, então para que incitá-la mais ainda nos leitores? ashuashua Mas confesso, às vezes não tem como fugir... porém, esses dois, não sei, mereciam um momento assim, tranquilo.
Agradeço por você que leu e espero que seu dia esteja indo bem.

xoxo,
Caleonis

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