Finalizada em: 07/02/2021

Capítulo Único

Joguei a terceira pedra em direção à conhecida janela com cortinas cor de rosa, no terceiro cômodo do segundo andar. Meu olhar oscilava daquele mesmo ponto, onde eu podia ver a luz do abajur acesa, até os outros locais da casa de cor branca e varanda extensa.
Não podia arriscar ser pego em flagrante, afinal, arruinaria minha boa imagem com os donos da residência e eu jamais desejaria aquilo.
Torci para que minha presença fosse logo notada e ela ouvisse os sons das pedras batendo contra o vidro antes que acontecesse algum desastre como eu usar força demais e acabar quebrando a janela ou quem sabe ser ouvido pelas últimas pessoas que eu desejaria naquele momento.
Eu deveria me esconder no arbusto ao meu lado? Talvez fosse uma boa ideia ou talvez não, já que a planta não parecia grande o suficiente para dar cobertura ao meu corpo. Se um braço ou uma perna ficassem de fora eu estaria igualmente encrencado.
Bufei nervoso, coçando minha nuca e me segurando para não andar de um lado para o outro, perdendo aos poucos a paciência e deixando a ansiedade tomar conta.
Mentalizei alguns pensamentos que me deixariam mais tranquilo, então me abaixei mais uma vez para pegar outra pedra e eu estava prestes a jogá-la contra a janela quando vi a cortina se abrir e o rosto de aparecer, arregalando os olhos ao identificar minha silhueta em seu jardim.
Imediatamente, ela tratou de abrir a janela.
, o que faz aqui a essa hora? — sussurrou com urgência.
— Vim sequestrar você. — Dei de ombros, rindo baixinho da cara de espanto que apenas se acentuou ao ouvir minhas palavras.
— Me sequestrar? Você ficou maluco? — Balançou a cabeça em negação. — Se meus pais te verem aí embaixo, estamos ferrados.
— Eu sei, babe. Desce logo daí — lhe apurei ao colocar um pouquinho de tensão na minha voz.
— Você realmente perdeu a noção. Como que eu vou descer daqui, ? Voando? — Deu risada, desviando seu olhar de mim para a grama como se imaginasse o quanto se machucaria se ela caísse dali.
— Pela escada. — Pisquei, indicando que já tinha tomado conta disso para ela.
Mais uma vez, a garota balançou a cabeça em negação, completamente incrédula pela minha ousadia, mas acabou por concordar.
— Me dá cinco minutos — pediu e sem nem esperar por uma resposta voltou para dentro do quarto.
Achei por bem que mesmo o arbusto não me tampando o suficiente, eu ficaria meio em alerta para me jogar atrás dele caso a porta da frente se abrisse. O andar de baixo da casa estava com as luzes da cozinha acesas e na sala pelo tom bruxuleante eu imaginava que estaria o senhor assistindo os seus habituais programas de TV.
Divaguei por alguns minutos em pensamentos aleatórios, mas logo um barulho na janela dela tornou a captar minha atenção.
Eu não fazia ideia de como ela havia conseguido se arrumar em tão pouco tempo, mas não reclamaria, afinal.
Na verdade, eu não consegui fazer muita coisa enquanto meus olhos estavam fixos nela.
Minha .
Pelos deuses, como eu era sortudo por tê-la ao meu lado e não era apenas pela sua beleza, mas porque aquela garota tinha um dom de deixar leve qualquer lugar onde pisasse.
— Vai ficar por quanto tempo me olhando com essa cara de bobo? — A voz dela me despertou e eu soltei uma risadinha, voltando a prestar atenção nas coisas e percebendo que ela esperava alguma ajuda de minha parte para descer a tal escada.
A noite estava quente em Santa Cruz e uma brisa leve batia contra nossos rostos, tornando o clima um pouco mais agradável.
Me aproximei rapidamente, segurando a escada com firmeza e só aí eu parei para pensar no vestido floral que vestia. Ali de baixo eu veria tudo e mais um pouco e o pensamento me fez engolir a seco.
Não que eu nunca tivesse lhe visto de calcinha ou até mesmo nua, nós dois já estávamos juntos há um bom tempo, mas eu tinha certeza de que não importava por quanto anos eu namorasse , eu sempre me sentiria extremamente afetado por ela.
Eu era um bobo apaixonado e não sentia vergonha alguma de admitir isso.
Passei a língua pelos lábios, sem conseguir evitar que meus olhos dessem uma espiada nela e automaticamente eu escutei um pigarro vindo de sua parte.
— O quê? — questionei com meu melhor tom de inocência.
— Não pense que me engana, . Nunca te ensinaram que olhar debaixo da saia das meninas é feio? — Estreitou seus olhos para mim e em poucos segundos seu rosto estava na mesma altura que o meu.
Ela já nem precisava mais de ajuda porque estava a dois degraus do chão, mas ainda assim eu segurei em sua cintura e abri um sorriso torto.
— Me desculpa, minha linda. Como é que se arruma controle quando você está por perto?
Imediatamente ela soltou uma risada, jogando sua cabeça para trás daquele jeito adorável, então eu me dei conta de que ainda estávamos em uma missão de fuga e fiz sinal para que silenciasse.
— Droga, esqueci completamente — ela sussurrou, então mordeu o lábio inferior antes de juntá-lo ao meu em um beijo gostoso.
Eu poderia ficar horas ali agarrado com ela naquela escada, mas tinha outros planos e nós não podíamos ser vistos, então entrelacei seus dedos aos meus e a puxei para sairmos logo dali.
Certamente a cena de dois adolescentes correndo agachados era no mínimo cômica, mas não paramos para pensar muito nisso até já estarmos bem longe da casa de .
O bom de se morar pertinho da praia era que não precisávamos pegar nenhum transporte para ficarmos bem pertinho do mar e eu pude ver os olhos de minha namorada brilharem ao encarar o parque de diversões. Nós já havíamos ido a ele milhares de vezes, mas eu sabia que aquele era o seu lugar favorito da vida.
— Nunca me canso desse lugar — ela disse, como se pudesse ouvir o que eu estava pensando.
— Eu sei. E é por isso que eu não poderia escolher outro para comemorarmos nossos dois anos de namoro. — Abri um largo sorriso, vendo que ela então me encarou espantada, em um claro sinal de que havia sido pega em flagrante.
Dei risada e neguei com a cabeça.
— Não me diga que esqueceu. — Estreitei meus olhos, parando de caminhar e vendo ela usar as duas mãos para colocar as mechas de cabelo atrás das orelhas.
sempre fazia aquilo quando estava nervosa, mas eu a conhecia bem demais para saber que ela nunca se atentava às datas. O romântico daquela relação era eu desde o início.
— Me desculpa, . — Mordeu o lábio inferior e eu não me contive em puxá-la pela cintura.
— Te desculpo se me der um beijo — disse ao encarar sua boca.
— Dou até dois. — Ela riu e enlaçou meu pescoço com suas mãos, grudando nossas bocas em um beijo calmo.
Senti o vento vindo do mar bater contra nossos rostos e voltei a unir nossas mãos para seguir com ela até o parque, afastando nossas bocas com um selinho de leve.
— Aonde você quer ir primeiro? — perguntei mesmo que já soubesse a resposta.
— Montanha russa, é claro — respondeu em tom óbvio.
Eu amava o quanto aquela garota sempre preferia ir a brinquedos mais radicais mesmo quando eu desejava levá-la até alguns como a roda gigante, por exemplo, onde poderíamos ficar apreciando a companhia um do outro.
Vê-la gargalhar enquanto o carrinho despencava não tinha preço. Era melhor do que a sensação de frio na barriga que me atingia e eu poderia ficar horas e horas apenas apreciando aquela combinação perfeita de imagens e sons.
era perfeita para mim.
Exploramos cada canto daquele parque, curtindo todas as nossas atrações favoritas. Indo mais de uma vez no trem fantasma porque gostávamos de tirar sarro das pessoas que gritavam apavoradas, disputando nos carrinhos de bate-bate mais algumas repetidas vezes também.
Na nossa relação, não era eu quem acertava alvos para presentear , era ela quem conseguia os ursos para mim, mas acabava pegando-os para si mesma no final da noite.
Trocamos beijos, pedaços de algodão doce e risadas que eram nossa maior marca.
Quando a fome venceu a vontade de continuar brincando naquele parque, eu e ela compramos hambúrgueres no McDonald’s e resolvemos caminhar pela areia da praia enquanto os devorávamos.
— Não me canso de dizer que você é um presente na minha vida . — Fui pego de surpresa ao ouvir sua voz doce chamar minha atenção e eu a encarei abrindo um sorriso bobo que só se alargou ao ver que ela tinha ketchup no canto da boca.
Me aproximei bem dela, levando minha mão ao local sujo e o limpando delicadamente, encarando fixamente seus olhos.
— E eu não me canso de ouvir, . Assim como não canso de repetir que me sinto da mesma forma.
— Isso tudo que você fez hoje foi perfeito. Eu não tenho nem palavras para demonstrar o quanto estou feliz e… O que é isso? — questionou, ao ver que eu tirava um pequeno embrulho de meus bolsos.
— Achou que tinha acabado, meu amor? — O entreguei a ela e esperei enquanto o desfazia na maior empolgação de todas.
Então seus olhos se iluminaram ao ver a delicada corrente com uma medalhinha de pingente com uma réplica do parque que ela tanto amava gravada.
— Gravei aí o dia em que nos conhecemos — expliquei quando ela passou seus dedos pela parte traseira do pingente, onde havia uma data marcada.
— É maravilhoso, ! — Notei seus olhos um tanto marejados, então a vi posicionar a correntinha na frente do pescoço, virando de costas para mim para que eu a ajudasse a colocá-lo.
— Você repete tanto isso que um dia vou acabar acreditando — murmurei contra sua pele, encontrando o fecho do colar e o ajustando antes de ela se virar para mim.
— Não sei como não acreditou ainda. É a verdade. — Piscou para mim, então sem cerimônia embrenhou seus dedos nos meus cabelos e me beijou com paixão.
E ali na areia da praia nós nos perdemos um no outro, esquecendo completamente de tudo ao nosso redor porque tudo não importava. Aquele momento era apenas nosso.
— Eu amo você, .


DEZ ANOS DEPOIS


Assim que estacionei o carro diante do lugar conhecido, mas que eu não visitava há vários anos, senti uma espécie de bolo se formar em minha garganta.
Durante todo o meu trajeto até ali, as lembranças foram tomando conta de minha mente, trazendo à tona todas as coisas que eu tive e todas as que eu havia perdido ao longo do tempo.
Eu ainda sentia meu coração se apertar como se estivesse vendo-a partir mais uma vez. Dez anos haviam passado e ainda assim morava em meus pensamentos sem previsão alguma de quando sairia. Talvez porque tivesse carregado consigo o meu coração junto à sua mudança.
Parecia que eu ainda podia ouvi-la me contar aos prantos que seu pai havia conseguido uma oportunidade única de emprego do outro lado do país e que ela não tinha escolha a não ser acompanhar sua família pelo menos até conseguir passar em uma faculdade.
Nós prometemos um ao outro que nos inscreveríamos para a mesma e logo estaríamos juntos novamente.
Porém o tempo e o destino são cruéis quando bem querem e com o passar dos meses o distanciamento entre nós dois foi inevitável até que a relação não se sustentou.
Deixei ir, deixei ela escorregar por entre meus dedos e não havia um dia sequer em que não me arrependesse disso.
Não é preciso nem ser dito que depois dela, por mais que eu tentasse, todos os meus relacionamentos seguintes estavam fadados ao fracasso.
Suspirei fundo, cogitando se realmente era uma boa ideia comparecer àquela confraternização. Pisar mais uma vez o ginásio da escola onde eu e dançamos nosso último baile juntos talvez não fosse algo saudável, mas eu murmurei para mim mesmo que aquilo era como uma espécie de ultimato.
Se ela aparecesse, talvez tivéssemos uma chance de ter de volta o que foi arrancado da gente. Se não aparecesse, provavelmente ela havia conseguido sua própria felicidade, o que significava que eu precisava seguir em frente e buscar a minha.
Era tarde demais para as duas opções, mas o que eu poderia fazer?
Eu bem que queria uma chance de poder voltar ao passado.
Desci do carro e então segui um tanto ansioso para dentro da escola. Atravessei aqueles corredores, sentindo a nostalgia me corroendo e fazendo com que eu sorrisse e sentisse vontade de chorar ao mesmo tempo.
Não havia nenhum sinal dela ali e não nego que meu coração se apertou.
E com o passar dos minutos, ele murchou.
Joguei conversa fora com alguns conhecidos, bebi o ponche que não era batizado como costumávamos fazer nos tempos de escola e admirei a decoração porque eles haviam caprichado. De repente, eu estava de volta aos anos 90.
Sorri ao pensar nisso e engajei mais alguma conversa qualquer com Anthony, o cara que costumava ser meu melhor amigo. Ele estava muito bem casado e tinha três filhos lindos que fez questão de me mostrar enquanto me convidava para visitá-lo em sua casa.
Diferente de mim, ele não tinha saído da cidade.
Então de repente eu me desconectei por inteiro daquela conversa. Meus pensamentos foram longe e eu imaginei que a ausência de só poderia significar que, como Anthony, ela agora também tinha sua própria família.
Céus, eu daria qualquer coisa para apenas vê-la uma última vez.
Não faço ideia do que de repente me fez olhar para a entrada do ginásio e o meu coração saltou na boca, mas, de novo, nada passou por ali durante vários minutos.
Até o momento em que uma silhueta mais madura, porém conhecida, cruzou por ele.
Como dois ímãs, os olhos dela se fixaram em mim e eu senti que os meus lacrimejavam, porque depois de dez ano voltei a ter aquela sensação de que tudo parava ao meu redor.
Aquele era o efeito sobre mim.
Congelei onde estava, sem saber o que dizer ou fazer. Tanto tempo havia se passado e eu temi o que descobriria sobre ela.
Eu nunca havia ficado mudo perto daquela mulher, mas naquele momento eu estava.
Até o instante em que um sorriso lindo se formou nos lábios de e ela caminhou em minha direção.
E pendurado em seu pescoço, ainda estava a correntinha.


FIM



Nota da autora: Olá, meus amores! Lá vim eu com mais história soft pra aquecer os corações de vocês hehehe. Espero que gostem desse clichêzinho.
Comentem aqui embaixo para eu saber o que acharam! Isso incentiva muito.
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Beijos e até a próxima.
Ste.



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