Fanfic Finalizada

This is the story of how they met


O clima estava consideravelmente agradável, para uma tarde de outono, as árvores pelo caminho todas alaranjadas como uma pintura estereotípica da estação. O sol brilhava, e o céu era azul claro. Realmente, era como uma cena de filme! riu da ironia e continuou com o olhar na estrada consideravelmente vazia à sua frente. Aquela parte da trajetória parecia quase deserta. A mulher via um ou dois carros a cada dez minutos. Tudo parecia perfeito. Ela chegaria em Nova York, em um pouco mais de uma hora, se o trânsito continuasse límpido daquele jeito. Nada poderia dar errado.
A estação de rádio que ela escolhera, assim que saiu de casa, continuava com sinal, e ela agradecia, ainda mais porque tinha esquecido em que lugar do carro estavam seus CDs. Uma música que ela não sabia o nome acabou e logo começou a soar Whitesnake pelo som.
— Ah, meu Deus! — falou, entusiasmada. Olhou rapidamente e confirmou que a estrada continuava vazia. Aumentou o volume o máximo que pôde e colocou a cabeça para fora da janela. — You talk too much, never saying what's on your mind! — gritou com todo o ar de seus pulmões.
Deu uma longa gargalhada, assim que voltou a posição normal, e continuou a cantar, batendo as mãos no volante ao ritmo da música. Acelerou a velocidade de seu carro, pouco importando-se com o limite; sabia que naquele trecho não havia fiscalização eletrônica e, bom, não era como se tivesse alguém ali para vê-la.
I’m gonna slide it in! Slide it in! Slide it… Que droga é essa? — cortou, assim que sentiu um cheiro forte e um tranco no motor do carro.
Tentou reduzir a velocidade e abaixou o volume da música, para tentar entender o que havia acontecido. Porém, não muito depois, uma fumaça começou a sair de dentro do capô do carro, e a Lei de Murphy mostrou-se justa para a viagem que parecia perfeita. “Perfeito!”, pensou. “É isso que dá querer carro antigo. Você é genial, ! Parabéns!”. Grunhiu e tentou acalmar-se. Poderia não ser tão ruim assim. Encostou o carro na beira da estrada, ligou o pisca alerta e saiu de seu assento para examinar o caso.
Ao abrir o capô, uma grande nuvem escura levantou-se e a atingiu no rosto, asfixiando-a, sendo seguido de uma crise de tosses, enquanto afastava-se para pegar ar puro. Depois de um momento, voltou para ver o que tinha acontecido com o seu lindo bebê, que lhe custou os olhos da cara. Mas, para , aquilo não passava de um monte de peças de metal estranhas e emaranhadas... Neste momento, arrependeu-se até o último fio de cabelo por ter dispensado a aula de mecânica que sua tia iria lhe dar. Seria uma boa hora para ligá-la?
“Não, ligar para o seguro é menos humilhante.” Saiu da frente da desgraça causada e pegou o celular, discando o número. Foi o primeiro momento do dia em que odiou a solidão na estada. Tututu... A cada chamada, a vontade de dar um tapa na própria cara aumentava. Por que caralhos eles não atendiam? O serviço deles era exatamente atender quando alguém tem um problema, porra!
— Agência Sempre Bem, em que posso ajudá-lo? — O alívio que sentiu quando, finalmente, atenderam, quase a fez derramar uma lágrima.
— Oi. O meu carro acabou de dar problema, e eu tive que parar no meio da estrada. O motor parece não estar funcionando.
— Poderia me informar como percebeu a falha no motor?
— Eu estava dirigindo quando ouvi um barulho alto vindo do carro, resolvi parar e começou a sair uma fumaça escura de dentro dele.
— Em que estrada a senhora está?
— Hm, I-95, passando pela Pensilvânia, no momento.
— Qual quilômetro?
Qual quilômetro? Qual quilômetro? Ele realmente esperava que ela soubesse a porcaria do quilômetro? Mordeu o lábio inferior e fechou os olhos, antes de continuar:
— Eu não sei...
— A senhora tem certeza?
colocou a mão na testa, tentando não perder a calma com aquele cara do outro lado da linha. Sim, ela tinha certeza que não sabia onde foi obrigada a se ilhar. Mesmo se quisesse, não havia sinal algum de placa por perto.
—Olha, meu carro quebrou, eu não faço a menor ideia de que quilômetro estou e ainda não sei como vou chegar em Nova York com ele neste estado.
— Retornaremos a ligação em 15 minutos. Sem sua localização será difícil encontrá-la. Tenha uma boa tarde e obrigado por nos escolher.
— Não, mas... — A ligação foi desligada, e a vontade de era atirar a droga do celular longe e gritar o mais alto possível.
O grito veio, mas, ao invés de atirar o celular no meio da estrada, ela chutou a traseira de seu carro. Okay, definitivamente não se tinha muito a fazer. Havia um carro problemático que ela não sabia consertar, uma agência de seguros comandada por macacos e algumas milhas que precisavam ser percorridas. Emaranhou as mãos em seu cabelo, depois de andar em círculos pelo que pareceram dez minutos, e sentou-se em cima do carro. Onde estavam aqueles dois carros que deveriam passar neste período de tempo?
Enviou uma mensagem para Gabriel, seu amigo ocasionalmente empresário, dizendo que atrasaria e não poderia saber o quanto. A resposta recebida foi tanto preocupada quanto estressada: “Algum problema? Se, sim, diga logo porque precisamos dessa sua bunda magra aqui o mais rápido possível!”. Adorável como sempre. A mulher já estava pronta para responder a mensagem quando, finalmente, surgiu um carro ali na estrada.
— Hey! — gritou, tentando aproximar-se do carro, em uma distância segura. — Hey, aqui! — Abanou os braços, tentando chamar atenção.
Conforme o carro diminuía a velocidade, dois sentimentos cresciam na mulher: um de esperança e felicidade, e outro parecia mais com “por que eu fui fazer isso? Ele pode me estuprar e largar meu corpo no meio da estrada, tipo naquela história do Stephen King. Meu Deus, o carro tá parando!”. Quando o carro estacionou, um homem saiu de dentro e seu corpo inteiro congelou. Merda! Ela ainda pode correr, certo? E, bem... Ela o fez.
— Hey, por que você tá correndo? — gritou o rapaz, sem entender o motivo de pedir ajuda e depois fugir.
parou. Ela não sabia nem correr direito. Em todos os anos na escola, passara fugindo da educação física e o máximo de exercício físico que fazia era subir e descer as escadas de sua casa durante o dia. Mesmo se conseguisse correr, qualquer um a alcançaria, se quisesse. Deu meia volta e viu quem havia parado para ajudá-la, enquanto ia à sua direção, tentando esconder a vergonha que sentia de si. O rapaz parecia ter entre 25 e 30 anos, praticamente a mesma idade que tinha, não era alto, definitivamente, o cabelo era alguma cor entre castanho e loiro, que ela não soube dizer ao certo, e ele parecia bem confuso.
— Oi... Eu tive problemas com o carro... — Apontou para o mesmo, e a expressão de confusão no rosto do rapaz era a mesma. Deu um suspiro. — Hm, eu não queria ter corrido, foi instinto. Eu realmente preciso de ajuda com o carro, tinha um horário marcado e, pelo visto, não chegarei a tempo... Você poderia me ajudar?
A resposta não veio de imediato. Ele apenas encarava a garota, com um sorriso torto e um olhar de dúvida. Encarando por tempo demais. Okay, talvez ela realmente devesse ter corrido, devia ter fugido, devia ter esquecido todo o seu despreparo e sedentarismo, e...
— Você é a ?
Espera. O quê?
— Sou eu, sim, por quê?
Ele a conhece. Isso é um sinal bom ou ruim?
Então, o homem começou a rir. ergueu as sobrancelhas, praticamente com um sinal de interrogação em seu rosto, e a risada masculina parou. Apenas o sorriso e os olhos em direção a outra, tentando ler seus pensamentos. Provavelmente, percebeu que ela estava meio — completamente — perdida no assunto que ele mesmo criou e deu uma tossida, como se estivesse limpando a garganta, ou apenas envergonhado. Talvez, os dois.
— Meu nome é . . — Conhecia esse nome. De alguma forma, lembrou-se de Gabriel repetindo-o algumas dezenas de vezes... Mas não associava seu rosto com ninguém importante para Gabe, e percebeu sua tentativa. — Minha banda gravou a trilha sonora para o filme de seu livro.
Ela saiu correndo do homem que trabalhou consigo, ou quase isso. Se ela ficasse vermelha, provavelmente estaria agora, e pelo jeito que soltou uma risadinha, ela provavelmente já estava. “Que vergonha! Ugh! Eu só quero chegar logo a reunião, antes da festa, para enfiar minha cara no ombro de Gabe e começar a me chamar de idiota, e ele concordar”, pensou.
— Hm, mas, então, o que a escritora de sucesso está fazendo, pedindo ajuda no meio da estrada? A festa do seu filme é hoje, devia estar em Nova York.
— Estou pedindo ajuda exatamente porque não consigo mais chegar lá. — Apontei para o impala abandonado com um problema que precisava ser descoberto.
— Não me admira que tenha problemas — falou, olhando para o carro. — Isso aí deve ser mais velho que meu pai.
A dona abriu sua boca, em choque. Como ele ousa rir de um Impala 67?
— Ele é de colecionar, muito bem cuidado, por sinal.
— É — riu novamente —, tão bem cuidado que você está aqui, parada, no meio do nada, pedindo ajuda. — Uma resposta extremamente rude e ofensiva estava a caminho, porém, ele a impediu. — Eu vou dar uma olhada nele, se não se importa.
Então, já estava erguendo as mangas de sua blusa e levantando o capô novamente, mas, ao contrário de , ele parecia saber o que estava fazendo. Ela aproximou-se dele, para observar sobre o seu ombro o que ele tanto procurava naquela bagunça metálica. Em um momento, pediu para que entrasse e tentasse dar partida. Assim ela o fez, e a mesma cara de entendimento veio ao seu rosto, aquela mesma expressão que não tinha. “Nota pessoal: primeira coisa que eu farei quando voltar à minha casa será pedir aquelas aulinhas para minha tinha e esperar que ela aceite.”
— Então, , por que a escritora do livro que deu origem ao filme que todos estão esperando para ver está indo à própria festa sozinha nesta máquina do século passado?
Ela cruzou os braços e recostou-se no carro, enquanto ele ainda mexia em tudo.
— A interestadual 95 passa por Baltimore, onde eu moro, e é uma linha quase completamente reta para Nova York. A viagem é um pouco mais que três horas, nada que eu não pudesse fazer sem me preocupar. Melhor que gastar com avião ou trem.
Ele fez um gesto de negação com a cabeça, com um sorriso bobo no rosto, ergueu o corpo para ficar ereto e voltou a olhar as peças.
— Acho que uma chupeta consegue fazer esta velharia andar, pelo menos, até Nova York. — Finalmente, ela estava feliz como antes do problema.
— Sério? Puxa, fiquei meio preocupada com a fumaça, mas parece simples, se...
— Espera. Fumaça? Não sabia desse detalhe.
A cor de seu rosto não decidia-se se sumia por completo ou ficava mais vermelha que o all star do homem à sua frente.
— Ah... Então, quando eu ouvi um barulho estranho vindo do motor, decidi diminuir a velocidade, e uma fumaça começou a sair daí da frente... Mas pode não ser nada demais, não é? — Sim, ela estava esperançosa. Por que não poderia ser simplesmente a porra da chupeta e pronto? Lei de Murphy realmente era uma merda.
— Acho melhor ligar para o seguro, então. — A mulher fez uma careta de desgosto com a sugestão. — Vai dizer também que não tem seguro?
— Tenho, mas não é como se ele tivesse me ajudado muito. — Ele não tinha entendido. , aprende a contar a história inteira ao invés de falar uma frase só! A história foi explicada com centenas de palavrões e comparativos com peixinhos dourados, o que deixou bem clara a revolta que ela sentia com a divisão de quilômetros. A resposta dele foi — surpresa — uma risada!
Ele mesmo tirou o celular do bolso e perguntou o número da agência para, então, conversar com quem estava do outro lado da linha, que provavelmente estava mais feliz por falar com alguém que sabia localizar-se e explicar os problemas. Para uma escritora, não sabia se comunicar com os outros de forma clara. conseguiu dizer o trecho da I-95 e até mesmo o quilêmetro, e assim que desligou a ligação, avisou que um guincho estava a caminho.
— Um guincho, ótimo! Como eu chego naquela porcaria de cidade que está há quase uma hora e meia daqui?
— Comigo?
Se isso fosse um filme de comédia romântica, esta seria a cena em que a protagonista está bebendo algo e cospe tudo ao escutar algo que não esperava. Ao invés, ela deu um passo para trás e o encarou assustada, repensando toda a carreira dele e possível tendência psicopata.
— Oi? — perguntou, quase gaguejante.
Deu de ombros.
— Está indo à festa de estreia do filme, eu também. Vamos juntos no meu carro.
Centenas de formas de negar passaram por sua cabeça, desde “eu te conheço tem um pouco mais de meia hora”, até “acho que o pessoal do guincho pode me providenciar um táxi?”. Até mesmo a letra de uma música passou em sua cabeça; ela dizia para a pessoa ir se foder de uma forma tão delicada e elegante que ela acabou memorizando-a, talvez por achar que poderia usar em alguma situação como esta. Mas a sua consciência falou mais alto e ela veio em forma de uma mensagem de texto de Gabriel: “Se você não aparecer em uma hora, eu paro de participar de ONG’s contra o uso de pele animal. Meu próximo tapete vai ser feito com você!!!! XOXO”
— Acho que a carona será bem vinda — deu um sorriso forçado e os dois sentaram na traseira do carro para esperar o guincho.


A story that they will never forget...


Um feixe de luz foi o suficiente para despertar de seu sono, porém a consciência demorou um pouco a aparecer por completo. “Meu Deus! Minha cabeça estava pior que a sensação de assistir um remake de Carrie, a Estranha. O que diabos aconteceu? Eu bebi sozinha todo o estoque alcoólico de inverno da Rússia?”, pensou, mas, então, percebeu que pensar doía. Espreguiçou-se naquela cama e... Espera, isto não parece um travesseiro.
Ela levantou o tronco de súbito, apavorada, e encarou o corpo quase desmaiado ao seu lado, no mesmo estado que o dela. O cabelo loiro-acastanhado e os lábios contorcidos em um sorriso só trouxeram uma palavra à sua mente:
“Merda!”
Percebeu que havia gritado apenas quando o corpo ao seu lado deu um salto e virou em sua direção tão chocado quanto ela, porém este parecia se divertir mais com a situação. segurava o cobertor em frente ao seu corpo seminu e encarava com os olhos tão arregalados, que o rapaz acabou comparando-os com um desenho animado em sua cabeça, enquanto estava apoiado por um cotovelo, ainda sonolento.
— Okay, o que porra eu tô fazendo aqui só de calcinha e sutiã? — falou por entre os dentes, e o ar ainda lhe escapando, enquanto prometia a si mentalmente que nunca mais iria beber.
levantou apenas uma sobrancelha e se espiou por debaixo das cobertas.
— Hm, pelo menos, você acordou usando alguma peça de roupa.
O grito de antes havia acordado o homem que dormia ao seu lado, porém o grito que veio depois da frase dele, provavelmente, acordou o quarteirão inteiro. A pressa e a confusão da mulher eram quase cômicas. Levantou rápido, tentando cobrir-se com o edredom, mas lembrou do que ele falou e, então, jogou aquele pedaço de pano em sua direção e correu, tentando achar algo para se cobrir.
começou a rir. Ele também não lembrava-se de um segundo sequer do que aconteceu na noite passada, alguns borrões pareciam fazer sentido, porém nada muito certo. Uma coisa era certa: aproveitava aquilo tudo muito mais que a outra, que mais parecia no meio de um ataque de pânico.
— Para de rir! O que aconteceu? A gente... Ah, meu Deus, será que a gente fez, hm, sabe...
A sobrancelha erguida daquele rapaz parecia debochar até mesmo do último fio de cabelo de , o que a deixava ainda mais estressada.
— Sexo? — riu da vergonha da mulher à sua frente. — Desculpa, não sabia de seu voto puritano. E só para que você saiba, eu sei tanto quanto você sobre o que está acontecendo, só não achei conveniente sair correndo em círculos no meio do meu quarto.
já era conhecida e tinha fama de muitas coisas, porém, no meio delas, não estava “violenta”, mas, para ela, aqueles dentes de pareciam implorar para serem arrancadas por um soco de sua mão, que se fechou instintivamente em um punho. Não saberia dizer se ela realmente bateria no homem, mas, quando seu celular e a campainha começaram a tocar ao mesmo tempo, seu corpo enrijeceu-se e correu para cobrir o corpo com um roupão largado que encontrou, enquanto enrolava-se naquele cobertor para atender a porta.
O quão surpresa não — ficou ao perceber quem era a pessoa ao espiar por cima do ombro de e ver um Gabriel gelar em horror, surpresa e algo como aquele olhar “eu te avisei” que ele sempre fazia para a mulher.
... Devo perguntar?
soltou um riso e afastou-se da porta para que o outro entrasse.
— Pode tentar, ela não vai saber responder mesmo. — Deu de ombros e partiu em direção à sua cozinha, deixando os dois amigos na sala encarando-se. só conseguia pensar no quanto ela odiava astros do rock.
O olhar dela era baixo e as mãos agarravam o robe de cetim azul escuro contra o seu corpo. Enquanto seu rosto fazia um contraste vermelho, Gabriel observava a mulher e, se ela não fosse sua melhor amiga, além de cliente, já teria a chamado de todos os sinônimos existentes para estúpida, parva, tola, inepta, ignorante, mas, claro, ele nem estava contando quantas palavras seriam o suficiente para chegar ao seu nível. Gabriel pigarreou e apontou para o sofá, e as poltronas da sala, com o olhar, e a mulher, que mais sentia-se uma menininha de 12 anos, seguiu cabisbaixa e sentou-se em uma poltrona cinza, de frente para o agente.
, que antes parecia ter se esquecido dos dois em sua casa, apareceu com duas canecas grandes de café e um comprimido, que entregou à mulher assim que sentou ao seu lado. A princípio, não entendeu a função dele, mas a piscada por detrás da caneca do brincalhão a fez entender. Colocou na boca e virou um grande gole de café que ele havia trazido para ela. Apenas esperava que misturar remédios com café não fosse algo problemático.
— Então, minha querida. — Encolheu-se levemente na poltrona, esperando o longo esporro que levaria, como uma criança encrencada com seu pai. — Deve estar se perguntando por que eu vim aqui, atrás de você, se nem você mesma sabia que estava aqui.
Na verdade, ela não havia pensando nisso e parecia uma pergunta realmente boa assim que ele falou. Pegou o celular de dentro do bolso do blazer e o desbloqueou, logo depois estendendo para a mulher à sua frente, que cobriu a boca, em espanto, assim que segurou o celular. Naquele momento, a mesma palavra de antes voltou à sua mente:
“MERDA!”
— Eu odeio esse site! — apoiou-se na poltrona da mulher, para poder ler também.

Cantor é visto saindo de festa com a escritora
Nesta sexta-feira, 23, em Nova York, ocorreu a festa da estreia do filme “Casa de Lobos”, baseado no best-seller de , com trilha sonora de Censored!, banda em que é vocalista e guitarrista. E não é que foi uma bela surpresa esses dois pombinhos saírem juntos em meio à risadas da festa? Só sabemos de uma coisa: essa é uma garota de sorte!


devolveu o celular para Gabriel e apoiou sua cabeça em suas mãos. Estava furiosa e cansada. Esses sites ridículos não têm coisa melhor para postar do que a vida dela? já estava consideravelmente mais acostumado com tudo aquilo que ela. Músicos realmente chamam muita atenção, seus 12 anos no ramo lhe mostraram isso.
— O quão fodida eu tô? — murmurou, ainda com a cabeça baixa.
— Depende. De quanto você lembra-se de ontem?
levantou a cabeça e deu um meio sorriso torto ao amigo, que revirou os olhos em resposta.
— Lembro-me até o momento em que o diretor anunciou meu nome.
A reação dos dois foi praticamente a mesma: uma risada curta e um olhar em direção à ela. Okay, provavelmente lembrava-se de muito pouco.
— Ótimo, você só se esqueceu de cerca de duas horas de festa e tudo depois dela — falou, ironicamente, seu amigo.
— Ótimo, então, por que você não me conta tudo o que aconteceu, em vez de ficar me rebaixando? — perguntou, já estressada com o modo que a tratavam. Virou-se para o músico ao seu lado. — E você? Lembra-se até que momento?
— Lembro-me até a hora em que você começou a chorar e...
— Eu não chorei! Por que eu faria isso? — cortou, espantada, e o que falava apenas revirou os olhos e continuou.
— Você começou a chorar em mim, e eu perguntei se você queria ir embora, mas você respondeu algo sobre estar muito longe de casa e não sabia dizer onde estaria hospedada, então você perguntou se poderia vir aqui comigo... Então, o chegou, e eu não sei de mais nada. Pelo menos, sei quase uma hora a mais que você, linda.
Antes que pudesse responder àquele irônico “linda” à altura, Gabriel, mais uma vez, pareceu ser o único com decência no lugar.
— Eu fui embora antes dos dois, mas eu sei o que aconteceu no momento em que você começou a esquecer, .

foi anunciada pelo microfone pelo diretor, assim que ele acabou seu discurso. Deu um sorriso para o rapaz com que falava e saiu em direção de onde havia sido chamada, com um drink em sua mão. Já havia frequentado grandes festas de todos os mais variados tipos, mas aquilo estava sendo novo para a jovem moça. Era seu primeiro livro sendo adaptado para o cinema e, de alguma forma estranha para ela, era um dos centros das atenções. Ela gostava muito da vida de escritora, pois, apesar de receber atenção, ela nunca era máxima, estava quase perdida naquele lugar. Apareceu com um grande sorriso no lugar indicado e foi recebida com um microfone em sua boca. Okay, não estava em seus planos um discurso.
— Hm, boa noite. Eu não sabia que teria que falar em público, ainda mais com esses grandes artistas de quem sou muito fã e tenho muito orgulho. — Uma salva de palmas. Até que ela parecia estar indo bem. Sempre infle o ego de gente como essa. — Primeiro, muito obrigada a todos vocês que fizeram isso ser possível e obrigada por darem uma chance à minha história, e por me colocarem como roteirista, até porque, a pior coisa que existe é um filme que não tem nada a ver com o livro, né, nem preciso citar exemplos aqui.
As risadinhas constrangidas vieram junto do tapa de Gabriel em sua própria cara. Ele precisava tirá-la de lá. A única pessoa que realmente ria era ela, com o microfone na mão e o copo na outra. Alguém tentou tirar o copo de sua mão, mas ela o abraçou.
— Hey, pegue um para você! Onde eu estava? Ah, sim, também queria agradecer nosso maravilhoso diretor. Imagino como deve ser difícil ter seu trabalho e... Oi, Gabe! Calma, o que você quer? Eu tô falando aqui!
Tirá-la do palco não saiu como o planejado. Gabriel falava baixo que já havia acabado o tempo do discurso, e ela choramingava de volta. O amigo lembrou-se de algo apenas depois: ela não estava acostumada com bebidas, da mesma forma que não estava acostumada com saltos tão altos, e, pelo visto, todos perceberam o mesmo, assim que ela caiu do pequeno palco para o chão.


— Isso não aconteceu! Por favor, diz que não aconteceu! — começou a rir ao seu lado, e seus olhos se arregalaram. Havia passado pelo pior mico de sua vida! — Ah, meu Deus, eu caí na frente de todas aquelas pessoas!
— Calma, não foi tão ruim quanto você está achando. Foi assim: ele estava tentando tirá-la de lá, mas suas duas mãos estavam ocupadas, então ele te puxou pelo braço, você desequilibrou-se e caiu, mas não é como se tivesse caído de cara ou algo do tipo, foi meio que só seu joelho tocou no chão, e você disfarçou depois, e pediu desculpas. Ele exagerou um pouco na história.
Gabe rolou os olhos com a ultima frase do músico. colocou as duas mãos em seu rosto, ardendo em vergonha. Não sabia se era melhor lembrar ou ter se esquecido daquele momento descrito. Parecia horrível demais em sua mente, mesmo a segunda versão. Seu amigo percebeu e pigarreou, tentando aliviar a tensão.
, tenta ligar para o . Ele foi a última pessoa com quem se lembra de ter falo. Se ele não estava tão mal quanto os dois, vai falar o que aconteceu.
— Por que você não termina de contar tudo? — perguntou o outro homem.
— Como eu tinha dito, fui embora antes. Agora, pare de ser um idiota e ligue para seu amigo, que vocês dois — apontou — querem entender a história, então não reclame.
revirou os olhos e pegou seu celular para discar o número de seu melhor amigo, e companheiro de banda, e deixou a chamada no viva-voz, a pedido da garota. Repousou o celular em cima de sua mesinha de centro, para que os três escutassem e ele pudesse falar. O agente balançava continuamente a perna; estava ansioso, ou deveria estar. Ele sabia que, além do laço profissional com a mulher, o pessoal era muito importante. Ele queria ajudá-la, pois sabia, estava a pouco de entrar em um colapso.
Por incrível que pareça, era incrivelmente tímida. A situação inteira era um nó em sua cabeça. Nunca, em sã consciência, imaginou um cenário daqueles, e esse é o seu trabalho. Um dos motivos de ter se tornado escritora era porque sempre achou as vidas vividas nos papeis mais interessantes que a dela, simples e monótona. Ontem, havia olhado para com tanta esperança de entender uma vida agitada como a dele, e agora uma vida dessas mostrou-se um grande pesadelo. Ela estava pronta para ter um ataque, quando, dois toques depois, atendeu:
— Hey, dude! Já me ligando. Nossa, a escritora gata foi embora?
realmente queria responder, mas recebeu um braço de , empurrando-a para trás. Havia decidido abandonar toda aquela insegurança por um dia apenas para poder xingar Deus e o mundo, até entender tudo.
— Na verdade, não, por isso liguei. Pode dar um pulo aqui em casa?
— Oh, cara, que voz é essa? Algum problema?
— Maior do que você imagina, senhor “astro do rock”! — respondeu, desta vez, e recebeu um rolando os olhos e um Gabriel dando um tapa em sua própria testa.

My old friends become exes again


tocou a campainha de seu melhor amigo e recebeu uma mulher de 27 anos com um robe masculino e roupas do mesmo gênero por baixo dele, de braços cruzados e olhos prontos para exterminá-lo. Ela realmente não havia ficado feliz com a forma que os dois amigos conversavam. Ela deu as costas, e entrou, engolindo em seco, pronto para levar uma bomba em sua cara, mas, para sua sorte, parecia consideravelmente mais calmo que , e o outro homem ali, naquela sala, parecia indiferente demais a tudo.
Olhou na direção de seu companheiro de banda e fez uma expressão assustada, com olhos arregalados, tentando pedir ajuda, porém recebeu um aceno negativo de cabeça e um sinal com a mão para sentar-se no sofá, de frente para ele. Ele estava totalmente por fora do que acontecia naquela sala. Havia recebido uma ligação e, de repente, estava encrencado com uma mulher mais nova que ele e bem mais irritada. Apenas esperava que o ajudasse.
Sentou-se no sofá indicado ao lado do homem que não sabia o nome, mas lembrava-se de ter o visto na noite anterior. O mesmo guardou o celular no bolso de seu blazer, assim que sentou-se na poltrona. Os olhares, ali, direcionados a , eram distintos, a mulher parecia pronta para arrancar sua cabeça fora, seu melhor amigo parecia frustrado e entediado, e o outro homem parecia mais um pai que acabara de dar uma bronca.
— Hm, vocês parecem meio tensos... , o que aconteceu? — falou, perdido na situação.
— É exatamente isso que a gente quer saber, gênio! — percebeu que não era uma boa ideia conversar com a mulher assim que recebeu a resposta.
, explica ao seu amigo que eu preciso ir livrar a cara de uma certa pessoa da mídia. — Gabe levantou-se e virou para a amiga. — Tenta não matar ninguém, nem a você mesma.
O dono da casa não fez questão de acompanhá-lo até a porta e apenas disse para si mesmo que trancaria aquilo depois. A moça sentiu-se quase intimidada, seu amigo havia sido trocado por um cara que não conhecia, mas não perdeu a pose, e o intimidado naquela sala acabou sendo .
contou o básico para o novo elemento na situação, com alguns comentários de no meio de frases. Depois de uma explicação, chegou o momento em que entrava na historia. Ele era a peça que faltava para saber o final — ou quase isso — da noite. Depois, apenas as tentativas de lembranças daqueles dois adiantariam.
— Ah, é só isso — riu. — Foi por culpa dos cigarros.
sentiu-se mal por ter julgado tanto a mulher nas últimas horas. Naquele momento, estava como ela; talvez, até pior. Ela já havia se confundido demais naquele dia. Mais uma coisa era só outro detalhe. sentiu-se completamente incompetente. percebeu a cara de confusão dos dois e sentou-se mais à frente, gesticulado com os braços, tentando esclarecer:
— Sabe, você chorando... Foi por culpa dos cigarros. Praticamente todos os homens estavam fumando lá. Eu não entendi muito bem, mas você falou algo sobre odiar mentolados ou sei lá. Ah, e também as fotos da caixa de cigarros.
— Dude, quando você sabe que nós não entendemos que porra você está falando, você não fala só uma frase e para, você explica! — riu internamente. Pelo visto, não era a única com problemas com comunicação.
riu e balançou a cabeça, murmurando “okay”.

tinha um braço ao redor do ombro de , enquanto ela murmurava baixo sobre coisas desconexas, no momento em que chegou à mesa em que os dois estavam. Percebeu seu amigo envergonhado e começou a rir de sua cara avermelhada. O galanteador estava corado por ter uma menina que estava chorando em cima dele. O mesmo rebateu com um “cala a boca” e virou o rosto para outro lado. Deu de ombros com a resposta e resolveu perguntar para a mulher por que chorava, e ela só então percebeu a presença dele ali.
— Eu não tô chorando, seu idiota. — riu da resposta e da cara do amigo. — Esse cheiro é horrível, meus olhos ardem... Não é, tipo, proibido fumar em lugar fechado?
Os dois começaram a rir. “Ela ta mal”, falou um, e os múrmuros do outro confirmaram.
— Hey, do que vocês estão rindo? Ah, meu Deus, olha isso! — Apontou para o pacote de cigarro de em cima da mesa. — Essas imagens são horríveis! E vocês ainda pedem para eu não me sentir mal com isso!
A mulher esticou o braço, para pegar o maço, e começou a procurar uma caneta em sua bolsa, item que, com toda a certeza, teria. Ela nunca saia sem uma consigo.


ergueu as sobrancelhas e foi à procura do objeto citado, que estava dentro do bolso de seu blazer usado na noite anterior. Voltou com o maço na mão e sentou-se novamente, estranhando a letra mal feita no pedaço de papel exposto; a imagem de advertência havia sido descascada, como se alguém tivesse passado uma chave ali para rasgar. Ele mostrou aquilo para os outros dois, e a mulher parecia realmente animada com aquilo.
— Hey, eu lembro disso! — Pegou da mão que o segurava. — Eu peguei isto e escrevi meu nome. Falei que era mais agradável que aquelas imagens, certo? — Virou-se esperançosa para , que riu e confirmou com a cabeça.

Os três começaram a conversar e, na maior parte do tempo, era apenas o rindo do estado dos dois e, então, eles rindo com ele por não entenderem ou só porque sim. gesticulava com os braços enquanto falava sobre um fato engraçado de um show de sua banda, seu amigo acrescentava detalhes, e a mulher apenas ria, e repetia algumas frases que achava engraçadas.
As risadas e palavras desconexas chamaram a atenção de Nicolette, que sentou-se na cadeira ao lado esquerdo de , recebendo um olhar estranho de , que estava do outro lado dele. A loira nova na mesa era uma mulher muito bonita de 29 anos que atuava no filme fazendo o papel de Agda, personagem principal da trama. A atriz riu, sem graça, por perceber que todos ali pararam de falar assim que chegou.
— Nossa, vocês parecem bem animados! Acho que exageraram um pouco nas doses, hein — deu uma risadinha. — , quer ajuda para ir à sua casa? Eu te levo.
O homem sorriu com a proposta, mas a outra mulher ali presente pareceu não ter gostado e formou um bico, segurando no braço daquele ao seu lado.
— Eu não quero ir pra casa sozinha, eu moro em outro estado! Eu não posso ir. Eu ia com você, lembra?
— Hm, sim. Desculpe-me, Nicolette, eu tenho que ir com ela.
— Pode me chamar de Nico.
— Nico não é, tipo, masculino? — perguntou, confusa, e os dois homens começaram a rir.
—Nicolette... Hm, Nico. Desculpa, mas eu vou num táxi com ela. Não acho que ela consegue ir sozinha.
— Hey, você também não está tão bem assim, querido “astro do rock”.
— Hm — resmungou a atriz —, tanto faz, eu tentei.
A loira saiu e foi até outro rapaz ali perto, deixando os três da mesa rindo, mesmo que só um deles realmente tenha entendido tudo. ainda ficou mais um tempo com eles e ligou para um táxi, para que pudesse buscar os dois, e ainda ajudou-os a entrar naquele carro amarelo.


— Esta é a parte em que eu tenho que parar.
Os dois entenderam. A partir daquele momento, a única coisa que ajudaria seria a tentativa de lembrança na mente deles. O animado daquela casa não era dos melhores. resolveu despedir-se e ir embora, não seria mais útil e não queria ver a discussão que — obviamente — estava pela frente. Desta vez, trancou a porta.
colocou as mãos em seu cabelo. Ainda não vestia suas próprias roupas, pois, além de sujas e largadas no chão, não eram confortáveis e mostravam muito mais que aquelas masculinas que usava. O outro apenas levantou-se e foi à cozinha pegar mais café; parecia desinteressado em sua própria noite, o que irritou a mulher até seu ultimo fio de cabelo.
— Você realmente vai agir como se não se importasse?
— Eu não me importo.
A discussão chegou mais rápido do que imaginado.
— Sério? Vai simplesmente aceitar não saber nada o que aconteceu com você mesmo e tacar o foda-se?
— Eu sei o que aconteceu! Você também sabe, só não quer assumir. — Rolou os olhos. — Não entendo por que se preocupa tanto com isso.
— Por que me preocupo? Não sei, talvez porque eu acordei em uma cama com um cara que eu falei um dia em toda a minha vida, em uma casa em que eu nunca estive, sem ter a menor ideia de como eu cheguei lá! Pra você, pode ser bobo, mas, para mim, acordar em um lugar desconhecido é um grande motivo para entrar em desespero.
olhou para baixo. Sabia que ela estava certa. Na realidade, ele estava tão assustado quanto ela; decidiu não surtar também, pois seria pior para ambos. Não queria entender a noite passada, queria apagá-la por completo de sua mente e, infelizmente, não o faria, se a mulher continuasse ali.
— Não vai dizer nada? — vociferou a mulher.
— Importaria se eu dissesse? Deve ter sido divertido, então eu prefiro deixar assim, ao invés de questionar o nada!
A expressão de choque no rosto da mulher congelou seu corpo inteiro. Não conseguia acreditar naquelas palavras, não queria. Apesar de todo aquele inferno vivido nesse dia, em momento algum, ela pensou naquele homem como um babaca ou culpado. Ela repensou tudo vivido no dia anterior, desde a hora em que saiu correndo dele no meio da interestadual, as risadas durante os momentos que lembrava-se da festa e até quando ele a deu um remédio, e café, assim que acordou. Agora, a única coisa que tinha em mente era a palavra “babaca” repetida diversas vezes.
— Eu não consigo mais acreditar em uma palavra que você diz.
— Então, por que ainda estava ouvindo?
Não ouviria mais, não era obrigada. saiu do estado imóvel e foi até o quarto. Voltou apenas depois de vestida com seu vestido e seus saltos, com a cara inchada, prestes a derramar-se em lágrimas, porém, de forma alguma, aquilo aconteceria na frente dele. Sua pequena bolsa e seu celular estavam prensados contra seu corpo com tanta força que perguntava-se se aquilo não a machucava.
Os dois encaravam-se no meio da sala. esperava que ele se desculpasse, a xingasse, qualquer coisa, só não queria que ele ficasse quieto, e queria apenas poder desviar o olhar, se não acabaria arrependendo-se de tudo. E ele desviou o olhar, deixando a mulher sem esperança alguma de decência nele, que agora olhava para o chão.
— Terminamos isto por telefone depois.
A única coisa que ele ouviu foi a porta de sua casa batendo, completamente sozinho.

So let's fade away together one dream at a time


Uma coisa que não podia negar era que aquele filme havia a ajudado mais do que o esperado. Parecia que sua publicidade havia aumentado em dez vezes, e isso em apenas dois meses de estreia. Estava realmente contente e já se sentia pressionada para publicar outro. Estava em Chicago para uma sessão de autógrafos durante um evento e havia sido colocada no maior painel, onde falaria não só sobre todo o processo de escrita e adaptação para as telas, como responderia perguntas de fãs.
A sessão de autógrafo havia começado. 500 pessoas passariam por ela, ali, naquela mesa, para ter seus livros assinados. Repetia um mantra em sua cabeça de que conseguiria, apesar de estar assustada com a quantidade de pessoas que conseguiram senha, pois, se não, provavelmente, assinaria mais de dois mil exemplares apenas naquela tarde. “Casa de Lobos” era um suspense, não esperava ver tantos jovens interessados.
Já estava ali há cerca de vinte minutos e perguntava-se quantas pessoas ainda faltavam, dando pequenas espiadas na fila ocasionalmente. Não que ela não estivesse gostando, pelo contrário, não esperava ver uma fila tão grande para conhecê-la. Trocava comprimentos e palavras curtas com todos ali, apertava suas mãos e sorria, assim que a pessoa saia, e a outra já apoiava seu livro na mesa. Uma menina de cabelo roxo falava animadamente com ela, que ria e respondia tudo, até deixar seu celular cair no chão e ter que praticamente entrar de baixo da mesa para pegar de volta.
— Pode vir o próximo — falou, voltando e dando de cara com um rapaz alto de chapéu e cabeça baixa. — Coloco no nome de quem?
O susto tomado pela escritora foi o mesmo — ou até pior — que o de todas na fila, que estavam há um bom tempo a desconfiar.
— O que você tá fazendo aqui?
riu da cara da mulher.
— Pegando o autógrafo de uma autora incrível. — ainda estava com a boca aberta e não sabia se sentia raiva ou alegria por ele ter tentado se redimir de uma forma bem inusitada. — Eu li o seu livro, é melhor que o filme.
Ela riu e pegou o livro da mão dele. Não assumiria, mas também havia escutado suas musicas e, até mesmo, tinha algumas em seu celular agora. apenas pensava na ironia do momento. Quando pequena, não entendia histórias românticas. Na adolescência, repudiava comédias românticas ou histórias com finais perfeitos para um casal. Cresceu decidida que nascera para suspense, policial e, algumas vezes, terror. Parecia mais interessante. Mas, agora, aos 27 anos, via-se como a principal de uma comédia romântica, e aquilo não era tão ruim quanto esperava.
Ela estendeu o livro de volta e piscou, logo chamando o próximo da fila. riu e abaixou a cabeça. Havia sido melhor do que o esperado, porém nem tão bom quanto sonhado. Afastou-se da mesa e viu algumas pessoas à sua volta pedindo fotos e perguntando se os rumores que os dois estavam juntos eram reais. As fotos foram aceitas.
Conseguiu um pouco de privacidade e olhou o horário, o painel de seria em menos de dez minutos, ainda não sabia se iria ou não. Pensou na loucura que foi vir até aquela feira para tentar desculpar-se e esclarecer as coisas. Aqueles dois únicos dias foram incomuns demais para serem esquecidos, ele percebeu isso. Riu sozinho ao lembrar-se da primeira reação da escritora ao vê-lo e baixou a cabeça, percebendo o livro em sua mão, agora com uma dedicatória, que ele ainda não tinha lido, e era agora que iria fazê-lo.

Eu não vou à minha casa sozinha, astro do rock.




FIM



Nota da autora: Sem nota.



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