Finalizada em: 30/06/2020

Prólogo

Aquela imensidão branca era atordoante, o frio se instalava em cada milímetro do meu corpo. Correr parecia não ser o suficiente, e o rastro escarlate que deixava sob a superfície me lembrava dos morangos que surgiam no verão. Caminhei segurando firme em meus braços o pequeno ser que estava enrolado numa coberta de pele de lobo. Não poderia deixar o meu pequeno tesouro morrer. Apressei o passo após ouvir os latidos estridentes dos cães de Nyan Servent, ele desejava ceifar a vida do meu pequeno príncipe e isso eu não permitiria! Avistei uma cachoeira e, quase sem forças, me desloquei pelas águas gélidas, encontrei a caverna atrás da torrente e, usando meu corpo como proteção contra o frio daquele lugar, me encolhi ninando o pequeno. Fiz uma prece para que Petris encontrasse nosso pequeno príncipe. E com a imagem de meu pequeno adormecido e aquecido fechei meus olhos deixando que a escuridão me engolisse...


Capítulo 1

Atualmente...
Detestava o fato de meus pais serem artistas! Mamãe estava dirigindo o carro em direção à um vilarejo. Isso mesmo, um vilarejo! Esses lugares ainda existiam e o nome de Daniela Sefira era popular o bastante para chegar até em regiões como aquele lugar! Papai e mamãe sempre entravam em debates quando o assunto era o meu futuro e suas exposições.
Papai queria que eu seguisse seus passos, ele esculpia qualquer material o transformando em algo esplêndido! Já mamãe era pintora, sempre criava obras primas com um pouco de tinta e uma superfície que pudesse pintar. Mas ambos sempre se esqueciam que essa decisão cabia a mim! Eu tinha o direito de fazer o que eu quisesse!
As exposições a mídia me causavam dor de cabeça, ambos eram artistas famosos, Nyan Servent e Daniela Sefira eram um casal peculiar. Não que fossem ruins, mas eles estavam ocupados demais com a arte que muitas vezes esqueciam que tinham uma filha que estava na época de entrar na faculdade, mas como pais peculiares, me fizeram viajar o mundo duas vezes para conhecer inúmeras culturas e buscar inspirações para o meu futuro me fazendo perder duas vezes a chance de me inscrever em Stanford.
Queria cursar , algo totalmente fora do meio artístico. E agora com os meus 21 anos, me encontrava presa num carro com minha mãe seguindo para um vilarejo que parecia esquecido para o mundo.
— Mamãe, não era mais fácil ter nos hospedado no château de Bordeaux que sempre vamos quando você e papai brigam? – Indaguei quebrando o silêncio.
— Querida, já conversamos sobre isso. – Ela soltou cansada. — Não há nada lá que não tenha aproveitado, preciso de um lugar diferente dessa vez.
— Mas e o papai... – Ela me cortou.
Sefira Servent! Já falamos sobre isso e não vou voltar atrás. Seu pai sabe onde estamos de qualquer modo. – Daniela usou um tom que indicava que não aceitaria ser questionada.
Respirei fundo e fixei meus olhos na paisagem, eram muitas árvores, uma floresta densa ladeava os dois lados da estrada. Queria uma vida mais normal, a liberdade que eu tinha era agradável, mas a inflexibilidade dos meus pais em algumas coisas me deixava frustrada.
Toda briga, sem exceção, mamãe me arrastava para algum lugar e tentava me ensinar o seu ofício. Era irritante! Eu amava minha mãe, mas detestava pintura, a tinta me causava alergia e eu não sabia fazer nada com ela além de uns traços abstratos. Papai insistia em me ensinar a esculpir, mas o resultado era sempre uma pilha de pedregulhos e nenhuma forma aparente.
Era revoltante não ter um talento e, por inúmeras vezes, me culpei por não atender as expectativas até que entendi que não possuía qualquer veia artística. Era simples! Não adiantava forçar algo que não ia dar certo!
Mamãe entrou em algo que parecia ser de outro época! As construções eram semelhantes ao que vira em filmes que retratavam a era medieval. As casas, igreja, comércio, tudo naquele vilarejo parecia pertencer a outro século e não a era moderna em que vivíamos.
Ao menos as pessoas se vestiam de forma, quase, semelhante a qualquer outra pessoa do século XXI. Mamãe continuou a dirigir o carro até alcançar os portões de um castelo, não era brincadeira! Era um castelo gigantesco e seus detalhes me lembravam de forma incrível os traços que papai usava em suas esculturas.
— Milady Servent. – Um homem curvou-se perante a minha mãe após abrir a porta de seu carro.
— Me chame de Dani Joseph. – Mamãe riu após o que ele falou.
— Creio que essa seja a preciosa , correto? – Ele indagou olhando para mim com curiosidade.
— Exato. – Mamãe concordou, olhei para ela confusa. — Seu pai vai lhe contar quando chegar aqui. Ele não deve demorar.
Sem entender nada, a segui pelo castelo, a construção era impecável, toda a arquitetura me deixou embasbacada. Passamos por uma galeria de retratos nos quais foi possível ver os antepassados de papai. Basicamente, eu ainda me surpreendia com a minha família. Fui analisando cada detalhe e fiquei impressionada com a minha suíte, embora fosse uma construção medieval, havia banheiros modernos. A primeira coisa que fiz após ficar sozinha fora me despir e seguir para o banheiro. Afinal, a viagem havia sido longa! A água deslizava pela minha pele enquanto me ensaboava, havia um milhão de pensamentos percorrendo minha cabeça, mas com toda certeza havia algo que papai não havia contado.
Após o banho, apenas me enrolei no robe de seda e me deitei de baixo dos cobertores pegando no sono em poucos segundos...

Estava no meio da estrada, reconhecia a floresta à minha frente. Havia algo que me atraía para ela. Sem pensar, me aventurei, entrando na mata densa. A cada passo sentia o ambiente ficar cada vez mais frio, tornando difícil apenas respirar.
A mata densa aos poucos era substituída por árvores secas, sem vida, o chão firme estava tornando-se fofo, mas cheio de neve. Olhei surpresa, voltei meus olhos para trás não encontrando o caminho que fizera até ali. Estava cercada por árvores secas e um terreno cheio de neve. À minha frente encontrei um rastro escarlate. Curiosa, comecei a segui-lo. Sentia que devia segui-lo embora não entendesse o porquê...
...

Ouvi o meu nome ser pronunciado, mas não encontrei nada. A imensidão vazia trazia horror. Como se algo realmente ruim estivesse para acontecer! Me arrastei pela neve seguindo a trilha vermelha e então enxerguei.
“Papai?!”

A figura masculina que era idêntico ao meu pai estava montado em um corcel negro, suas vestes também escuras causava um contraste contra o cenário pálido. Era impossível perdê-lo de vista naquele lugar.
— Encontrem-na!

E a voz da figura também era igual ao de meu pai, mas era impossível! A figura masculina parecia pertencer ao século XV, XIV e não ao XXI. Era uma semelhança aterradora. Paralisada pelo choque, acompanhei ele dar ordens em um tom sombrio para encontrar uma mulher e o bebê. A raiva era exposta pelas orbes castanhas, e sua autoridade era explícita pelo modo que se portava. Os criados e guardas se espalharam com os cães pela neve. A respiração ficava visível através da névoa que saía pelos lábios.
Tomando consciência que estava parada muito tempo no mesmo local, apenas acompanhando os eventos, resolvi descobrir o que me levara até ali. A caminhada se tornava cada vez mais difícil, a neve estava mais profunda me obrigando a me mexer com cuidado para não ficar presa. Acabei então vendo uma mulher se jogar num lago, ela tinha um embrulho em seus braços e então ela desapareceu na água no instante em que um dos guardas acabou na beira da floresta que cercava o lago. O único som ouvido era dos latidos estridentes e da cachoeira que caía numa torrente sem fim.
Olhei com cuidado e então avistei a pobre mulher se esgueirar pela caverna se encolhendo. Corri até lá sem pensar e me vi adentrar o lago congelante, a água parecia ferir a minha pele, nadei sentindo a força da natureza me impelindo para longe, mas a minha curiosidade era muito maior. Com custo cheguei à caverna que a fugitiva havia se abrigado e sentindo o meu peito arfar a vi ninar seu pequeno bebê. E então ela me olhou, verdadeiramente, como de fato enxergasse-me. Assustada recuei um passo, mas ela sorriu docemente.
— Não fique com medo.

Ela tentou me tranquilizar. Olhei para os lados a fim de certificar-me se ela estava falando comigo.
. Pode parecer assustador mas nós não temos muito tempo! – Ela disse num tom urgente.
— O que está acontecendo?
— Meu pequeno está novamente em perigo. Preciso que o salve!
— Mas salvar quem?



Capítulo 2

Despertei assustada, meu coração estava disparado, meu corpo tremia e estava gélida. O quarto parecia estar carregado com tensão. Não entendia o que estava acontecendo somente tentava normalizar minha respiração; era assustador a sensação que tivera.
Os resquícios do sonho ainda martelavam em minha mente e isso fazia com que me arrepiasse por inteira. Tomei algumas voltadas de ar antes de notar que não estava sozinha, ao canto havia uma figura encoberta pela escuridão. Ainda temerosa, porém tomei a fala.
— Papai é você? – Indaguei a figura e então a figura se aproximou.
— Ainda me chama assim? – Ele comentou sorrindo. — Notei que estava tendo sonhos agitados, querida. – Ele se sentou e me abraçou de imediato.
— Pesadelos, papai. – Dei de ombros. — Apenas isso.
— Fico feliz que me chame quando está em perigo, me traz conforto. – Ele deposita um beijo em minha cabeça antes de voltar seu olhar para mim. — Nunca se esqueça que eu a amo, .
Olhei confusa para meu pai, mas o abracei. Mantendo-o perto de mim e sentindo o som característico de seu coração. As vezes sentia que poderia perdê-lo a qualquer momento; era uma sensação que não me abandonava e ter que ficar longe dele era difícil. Papai e mamãe sempre estavam viajando e isso me matava aos poucos embora fossem espíritos livres era parte de quem eram. Ambos sempre estavam o máximo que podiam ao meu lado. Eles eram únicos, porém por essa singularidade muitas vezes me perguntava porque não podia ser mais como eles?! Eram extraordinários e eu era uma medíocre.
— Como poderia me esquecer disso? – Comentei brincalhona.
— Eu te amo, my happiness. Você é o meu maior tesouro. – Papai beijou minha testa antes de se levantar. — Amanhã tenho muito o que lhe contar.
E então ele me deixou sozinha no quarto, meu coração ficou aflito. Papai não costumava ser misterioso, ele era alegre, irreverente, brincalhão, mas, em meio as pessoas, possuía um ar de mistério, como se se ele não pudesse ser atingido.
Ele era uma fortaleza, tratava as pessoas de forma cortez, sempre muito respeitoso e bem humorado, porém inatingível. Papai tinha belos olhos cinzas, a pele levemente bronzeada, seus cabelos eram de um tom azeviche, quando ficava irritado seus olhos escureciam, já mamãe possuía olhos castanhos-mel, cabelos dourados, porém a pele parda.
Ela era adorável, porém firme. Muito bem resolvida, possuía confiança em si mesma, mas mais que isso, ela confiava no que fazia de melhor: pintar. Seus trabalhos eram um melhor que o outro. Eles eram exatas almas gêmeas.
No entanto por nada a sensação de que havia algo de errado acontecendo me deixava. O sonho perturbador havia me deixado abalada. Me levantei e liguei a luz procurando uma roupa e encontrei um cômodo repleto de variados tipos de vestimentas. Deveriam ter providenciado no momento que mamãe os avisou que viria para esse fim de mundo.
Resignada, coloquei uma jeans, botas, uma blusa de lã escura e um sobretudo. Precisava respirar, e certamente aquela hora o vilarejo deveria estar congelando. Deixei o quarto e fui explorando parte do castelo, o corredor estava silencioso, havia tapeçarias imponentes, pinturas e muito luxo que chegava ao ponto de me incomodar.
Apressei os passos pelos longos corredores, havia a sensação latente de que estava enjaulada.
“Presa!”

Meus passos eram silenciosos, porém não encontrava uma saída. Um corredor me levava a outro e assim sucessivamente. Quando enfim avistei ao fim do longo labirinto, duas imponentes portas, não tardei em empurrá-las recebendo o ar frio da noite. Respirei fundo deixando que todos meus medos e receios fossem embora.
Observei a paisagem que se estendia diante dos meus olhos. Era um imenso jardim, repleto das mais variadas espécies de flores e nele havia guardas patrulhando todo o perímetro.
Todos, sem exceção, curvavam-se em respeito assim que passava por eles. Fiquei confusa, mas apenas sentia que precisava sair dali; corri pelo jardim e assim que atingi o seu fim segui para além dele.
Sentia a necessidade de escapar dos altos muros, havia guardas caminhando em cima das plataformas; era tudo muito bem protegido, mas contra quem? Do que estavam nos protegendo?
A perguntava rondava meus pensamentos, eram questões sem respostas, dúvidas e mais dúvidas! Desde que havíamos chegado ali, estava perdida, eram questões implícitas. As respostas pareciam estar nas entre linhas, porém não conseguia compreendê-las.
Enfim alcancei o portão que separava o bosque após o longo jardim da floresta. A densa mata estava silenciosa, o portão era de ferro forjado com lanças de prata no alto assim como em todo o muro; algo estranho estava sendo escondido e sabia que poderia encontrar parte das respostas naquela floresta!
Olhei de um lado para o outro verificando se havia alguém por perto antes de começar a escalar o portão, me segurei no muro antes de conseguir ficar de pé no mesmo. Encarei o chão, ele estava há uns bons metros de distância, mas como não podia abusar muito me lancei em direção à uma árvore.
De alguma forma havia conseguido me agarrar a um galho, assim consegui chegar ao chão de modo seguro. Sorri para mim mesma. Fora um feito impressionante para uma medíocre. Acabei rindo baixo antes de caminhar pela floresta. Era loucura fazer isso à noite, porém estava estranhamente à vontade ali.
Era algo completamente diferente, como uma corrente que me atraia à algum lugar. Estava completamente confusa, porém a curiosidade era maior que o meu bom senso, atravessava arbustos, me esquivava de galhos, e durante todo o momento sentia que conhecia o local mesmo nunca tendo estado ali antes.
Não que eu lembrasse, claro! Mas não duvidava que meus pais haviam me levado a esse vilarejo antes, todos daquele castelo tratavam-nos de forma lisonjeira demais!
A lua dava um tom opaco à floresta. Me sentia estranha, havia um formigamento em minha nuca, algo que somente ocorria quando estava sendo observada. Senti meu coração errar a batida; estava sozinha, sem ter algo para usar de defesa.
Apressei meus passos cogitando encontrar o caminho de volta, porém ao abaixar para passar por de baixo de um galho, ouvi algo como um galho se quebrando à minha direita, acompanhado por uma baforada baixa confirmando que não estava sozinha!
Permaneci imóvel por alguns instantes em busca de reconhecer mais algum som, porém como eu, o que quer que estava me seguindo havia cessado seus movimentos.
Girei lentamente minha cabeça na direção de onde surgira o som, e então avistei duas orbes azuis, frias como o mar do ártico, brilhantes como uma adaga e ambas estavam cravadas em mim, acompanhando meu peito subir e descer com a respiração desregulada.
Me levantei lentamente, mexendo um músculo de cada vez. O mais devagar possível dei passos para trás buscando ganhar certa distância de modo cuidadoso. A brisa da noite atingiu minha face, balançou toda a vegetação e revelou aquilo que me perseguia. A figura que estava oculta nas sombras fora iluminada.
“Um lobo!”

Sua pelagem preta com rajados cinzas havia sido capturado pelos meus olhos antes de disparar sem rumo pela floresta. Atravessava arbustos, pulava sobre os troncos ouvindo minha respiração alterada e meus batimentos cardíacos.
Porém o que ouvia com maior clareza era o rosnado da criatura que me perseguia, suas passadas eram precisas e quase o podia sentir próximo demais, sua boca lançava a respiração quente de encontro ao ar frio da noite. Era assustador encarar a situação, podia ouvir cada uma das suas patas contra o chão tamanha força e agilidade. Sua boca quase abocanhava meus tornozelos tamanha a sua rapidez.
Dei uma guinada para a direita alterando de repente minha rota, de esguelha consegui ver o lobo saltar, havia escapado por milímetros. A mata parecia mais densa conforme me infiltrava mais a fundo, meus pés me impulsionavam o máximo que conseguia, buscava manter-me o mais distante possível do lobo, seus rosnados ferozes tomavam a noite. Podia sentir minhas panturrilhas arderem pelo esforço que submetia meu corpo; meus joelhos estalavam de tempos em tempos.
Crack Crack Crack Crack

Não sabia por quanto tempo conseguiria correr, precisava encarar a situação de modo racional porque estava a um passo da morte. O lobo nem por um instante havia me dado resfolga, muito pelo contrário! Ele parecia estar cada vez mais perto. Não importava o quanto me esforçasse ele estava se aproximando.
“Ótima maneira de morrer, !”

Ouvi sons de quedas antes de ver a cachoeira, pelo som que emitia, indicava que não estava mais do que alguns metros de mim. A minha saída! A única. Me movi com mais força em direção ao escuro, afinal a luz do luar iluminava apenas parte da floresta e o que estava me orientando até aquele instante eram os meus instintos.
Senti, então, as pedras escorregadias sob as solas de minhas botas, havia chegado até ela. Parei abruptamente de correr e encarei o lobo. A minha frente ele projetava-se em um tamanho absurdo, era o dobro da minha estatura, sua mandíbula estava manchada de sangue, seus olhos me analisavam de modo cuidadoso. Mas parecia que estava esperando algo.
“Estava esperando eu agir!"

Deslizei meu pé pelas pedras contando quantos passos seriam necessários para conseguir saltar. De alguma forma ele entendeu o que eu faria e então se lançou no mesmo instante em que corri para as quedas.
Ele conseguiu parar antes de cair enquanto eu despencava, o vácuo era assustador, porém preferia experimentar a sensação ilusória de voar a sentir os dentes da criatura em minha carne. Fechei os olhos e meu nariz antes de atingir a água.
O baque contra a superfície da água roubou meu fôlego fazendo com que engolisse água no processo. Me sentia desnorteada, fraca, com frio, porém a adrenalina ainda corria em minhas veias. Impulsionei-me em direção a superfície.
O som ensurdecedor das quedas, as fortes toneladas de água caindo sobre mim. Era uma escolha que havia feito. Me obriguei a nadar, forçando o meu corpo pela última vez, porém fui atingida por algo em minha cabeça. A água se infiltrou pela minha boca e nariz, e a luz... Tão amarelada provinda da lua... Fora a última coisa que vi antes da doce escuridão me tragar enquanto sentia-me afogar...


Capítulo 3

O ar frio penetrava minha pele, o balanço era ritmado às passadas, havia um corpo que me mantinha quente porém não conseguia enxergar nada, minhas pálpebras estavam pesadas... O ar que entrava pelo meu nariz machucava. Tudo doía! Mal conseguia respirar. Meu corpo não respondia! O desespero era latente, cada mínima célula o sentia.
Apenas parte de mim estava consciente, e o que captava acabava machucando. Meus braços estavam pesados assim como todo o meu corpo... Era agonizante!
Desejava que tudo não parasse de um pesadelo, porém a minha memória não me deixava enganar. Não era fruto da minha imaginação! Estava bem longe disto!
O leve sacolejar me dava a certeza que estava viva. Porém havia uma questão a se analisar:
“Como e o que me tirara da água ?!”

As sensações era tudo o eu tinha, havia braços me segurando contra o tronco de forma carinhosa e cuidadosa ao mesmo tempo. O vento estava forte, era cortante. Meus dentes batiam uns contra os outros denunciando o que sentia. Mas havia um aroma.
Algo que me remetia a madeira e vegetação: FLORESTA! Porém vinha da pessoa que me carregava. O odor era agradável e me deixava confortável embora não soubesse quem fosse!
— Aguente um pouco mais... — O dono da voz se pronunciou. — Estamos quase lá!
— Frio... — Fora a única palavra que consegui formular. A garganta parecia ter sido arranhada por um milhão de pedrinhas. Era desgastante falar.
— Estamos quase lá...
Foram as últimas palavras que ouvi antes de cair novamente na confortável inconsciência.
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? Querida?

Ouvi alguém me chamar, era uma voz suave, tranquila. Meu corpo estava aconchegado debaixo das cobertas. Elas eram pesadas e quentinhas, bem diferente do quarto no castelo.
!

Despertei confusa e encontrei a mulher do meu sonho. Ela estava sentada na beirada do que parecia, de forma rude, um colchão. Me sentei ainda desnorteada; pisquei lentamente os olhos assim conseguindo vê-la com clareza.
— Quem é você ? — Perguntei de forma a desvendar de uma vez quem era ela.
— Sou Clarice Hekswinks. — Ela me respondeu com um sorriso doce em seus lábios.
— Não consigo entender porquê você me pediu tal tarefa. — Expressei minha dúvida a respeito do que me falara no sonho anterior.
— Você é a única que pode parar Nyan Servent! — Clarice falou segurando minhas mãos.
— Meu pai? O que ele fez? — Expressei minha confusão.

Papai não era o mesmo homem que aparecera no que havia visto naquele sonho. Os olhos os diferenciavam. Mas essa história estava me deixando cada vez mais confusa.
— Seu pai é descendente de uma longa linhagem de nobres. Os Servent's ainda causam medo ao mundo. Seu pai é detentor da metade dos negócios mundiais porque assim como as antigas famílias: Eles controlam tudo! — Clarice falou num tom sério.
— Isso é impossível! — A olhei como se o que Clarice havia me dito não passasse de loucura.
, então me explique o castelo? — Ela indagou de forma suave porém firme. — Existe muito a respeito de seus pais que desconhece, querida.
— Eu realmente não entendo. — Abaixei meus olhos para as minhas mãos. — Se, apenas se, o que estiver me falando seja verdade... — Pausei minha fala por um instante tentando digerir o que Clarice falara. — Como isso se relaciona a salvar seu filho? — A indaguei. — Quem é ele e onde está?
— Você o encontrou mais cedo. — Ela soltou a respiração devagar. — Infelizmente seu avô assassinou meu amado Logan...— Ela pausou sua fala por alguns minutos antes de prosseguir. — O pai de , meu filho. Ambos vieram da linhagem dos LycanWanders. Hoje sobrou apenas meu filho, o último lobo.
— Você está dizendo que aquela criatura que quase me matou era o seu filho?! — Falei de modo incrédulo.
— Ele agiu de modo defensivo... — A interrompi.
— Defensivo? — Gargalhei não acreditando no que ela havia dito. — Eu não sabia de nada! Estava completamente por fora de todo esse lance entre a minha e a sua família, ok? Como pode sequer considerar algo justo o que ele fizera! — Falei de modo categórico.
— Ele foge da sua família por séculos! — Clarice falou calmamente. — Você possui o perfume de um Servent... — Ela tomou novamente minhas mãos nas dela, havia as tirado de seu alcance após me dizer quem era o seu filho. — Os Servent's são inimigos para ele. vive sozinho nessa floresta. É o seu abrigo, a morada dele.
— Clarice, seu filho é capaz de se salvar. Ele não precisa de mim. — Desviei os olhos dos dela. Estava ainda presa no fato de que aquele lobo era na verdade um homem.
— Ele não vai conseguir sobreviver por muito mais tempo. Seu pai o tem rastreado já faz algum tempo. — Clarice se aproximou de forma a estar sentada diante de mim. — Você é a única chance de que permaneça vivo!
— Como irei parar algo se não sei bem o que é! Já é difícil aceitar que você é a alma da mãe dele, não posso esquecer que seu filho é um lobisomem! Eu vivia num mundo normal, Clarice!
N-O-R-M-A-L!
— A verdade sempre está diante de nossos olhos, porém dificilmente a aceitamos. — Ela comentou de forma paciente.
— Você sabe onde estou ao menos? — Indiquei o cômodo.
— Você logo descobrirá. — Clarice disse de forma misteriosa.
— Tudo bem! — Falei de forma cansada. — Estou sendo bombardeada por informações demais em pouco tempo.
— Eu sei que é difícil para compreender e que foi em pouco tempo, porém a urgência era maior. — Ela elevou minha face. Seus olhos âmbar me olhavam de forma suave. — Eu não queria te deixar assim, querida, porém vi em você a luz para .
— Como consegue fazer tudo isso já... — Parei no meio da frase ao me dar conta do que ia dizer.
— Que estou morta? — Ela comentou com naturalidade. — Sou uma guardiã. Estou sempre de olho no meu pequeno. — Seu carinho tácito era revelado em seu tom de voz. — Ele fora tudo o que me sobrara; o fruto de um amor impossível.
— Desculpe a indelicadeza. — Comentei de forma envergonhada. — Tudo o que dissera é novo e confuso.
— Não se preocupe, . Seu coração é bom. — Clarice mantinha o olhar suave em sua face.
— Voltarei a vê-la? — Indaguei.
— Depois que despertar terá parte das suas respostas. — Novamente o tom de mistério banhava a fala de Clarice.



Capítulo 4

Despertei, exatamente na mesma cama na qual havia falado com Clarice. Era estranho, confuso, o sonho fora tão real quanto o anterior, porém nesse havia um tom de seriedade.
Minha boca estava seca e minha garanta ainda ardia, meus membros não estavam mais pesados.
Conseguia me mexer novamente. Me sentei avaliando o ambiente em que estava. Era de fato uma cabana de madeira e pedras, algo muito rústico, porém havia certa beleza.
O espaço consistia em cozinha e quarto tudo no mesmo espaço e uma porta que eu julgava ser um banheiro. A cozinha possuía uma pia de algo que lembrava vagamente granito, um fogão à lenha, um armário e geladeira.
No centro da cabana, no lado contrário à porta, tinha uma lareira e em frente a ela uma mesa e duas cadeiras, o quarto/cozinha tinha um baú aos pés da cama e um armário de madeira maciça, o que eu julgava ser o guarda-roupa.
— Servent! — Minha análise fora interrompida pelo tom rouco e grave provindo atrás de mim. No canto, longe da luz das velas estava uma figura masculina, oculta nas sombras.
— Meu nome é . — Falei rolando os olhos, minha voz saiu um pouco baixa por conta da garganta machucada.
— Isso não importa... — A figura masculina saiu das sombras revelando sua aparência, embora não fosse um momento propício não pude deixar passar o fato da beleza estonteante. O porte alto, com músculos bem definidos, olhos azuis tais como o do lobo, aquela boca que me respondia com rigidez era tentadora. — Está me ouvindo? — O tom que ele usou era de escárnio.
Sorri da maneira mais mordaz que conseguia antes de me levantar; mas então notei que estava apenas com uma blusa que dava o dobro do meu tamanho. Olhei novamente para ele, estava com um sorriso sacana.
— Primeiro : creio que Clarice não acharia sua atitude a mais correta. Segundo: Sim, eu sei o seu nome, agradeça a sua mãe! Terceiro... — Fui interrompida pela repentina aproximação dele.
me ouvia com atenção, porém quando ouviu eu pronunciar o nome da sua mãe, deu algumas passadas me prendendo contra o encosto da cama. Seus olhos azuis estavam à poucos metros dos meus, sentia sua respiração contra meus lábios.
— Não ouse falar o nome dela, Servent. — Seu tom era frio e perigoso.
— Como eu disse: meu nome é ! — Frisei. — Segundo: eu gostaria de manter distância entre nós, portanto... — O empurrei tocando seu abdômen desnudo, tocando, mesmo que por alguns minutos, os músculos dele. — Mantenha-se em sua zona! — Falei de modo firme. — Terceiro: você me deve desculpas!
— Desculpas? Para você, Servent? Nunca! — Ele cuspiu as palavras com ironia e sarcasmos. Seu enojo era evidente em seu olhar.
— Sua imbecilidade! — Revirei os olhos. — Você acha mesmo que estou aqui por quê quero? — Usei do mesmo tom devolvendo o olhar. — Clarice me pediu ajuda.
Os olhos dele faiscaram como duas chamas azuis, sua boca curvou-se em desagrado em ouvir o nome de sua mãe ser pronunciado por mim, seus punhos cerraram-se e ele conteve-se, notei que gostaria de fazer algo, mas se impediu instantes antes de realizar.
— Já falei... — O interrompi.
— Para não pronunciar o nome dela, já entendi, mas o que você não entendeu é que se ela veio até mim fora porque não sabia mais o que fazer! — Falei de modo sério. — Eu mal sabia da sua existência até a noite de ontem! Eu tinha uma vida normal longe dessa rocha entre a nossa família e todo o resto. Eu não sabia nada! — Salientei de modo cansado, minha voz saía baixa, mas não menos séria. A minha garganta pedia ajuda. — Portanto você poderia me escutar, estou com pouca paciência e minha garganta está me matando, por sua culpa é claro! — O provoquei com humor.
— Vou preparar algo, fique aí. — Ele falou de modo categórico.
— Teria como eu fugir de um lobo, ainda mais assim! — Rebati a fala dele revirando os olhos.
Vislumbrei algo próximo de um sorriso vindo dele. Contive um semelhante. Estava à poucos minutos na presença dele e já havia revirado os olhos mais vezes do que a minha vida inteira. O filho de Clarice havia conseguido me tirar do sério!
Acompanhei com os olhos ele seguir até a porta saindo da cabana, deixei meu corpo cair de encontro ao “colchão” respirando fundo. Precisava pensar com clareza. Havia tantas questões a se analisar!
Papai não era um monstro! Ele era uma das melhores pessoas no mundo! Estava com medo de não saber quem eram os meus pais... Haviam tantos segredos!
Limpei uma lágrima que escapou após pensamentos rondarem minha mente. Tudo girava entorno da confusão. Era como uma tempestade e eu estava apenas recebendo o início dela!
Papai nunca deixou transparecer algo relacionado a essa cidade, ou a qualquer assunto que Clarice havia me dito! Era aterrador!
Coloquei meu braço sobre meus olhos, fechando-os um pouco. Estava analisando todo o ambiente enquanto pensava, portanto havia tomado a decisão de fechá-los, pois quanto mais eu divagava mais surgiam dúvidas!

— Espero que não tenha dormido! — Ouvi o tom mordaz de .
Acabei rindo do modo que ele falara. Como ele pronunciava as coisas levava-me a crer que pouco conversava. Fazia total sentido já que vivia no meio da floresta. Com quem mais falaria? Com animais.
Após esse pensamento, acabei gargalhando o levando a me olhar entre ultraje e curiosidade.
— Obrigada! — Agradecimento antes de pegar o copo. — Não tem nenhuma era venenosa nisso aqui? — O provoquei.
— Só descobrirá após tomar. — Ele deu de ombros com um sorriso zombeteiro em seus lábios.
— É mesmo um completo idiota! — Sorri antes de tomar o líquido.
Inicialmente, senti o amargor tomar minha boca, era um líquido espesso e de um tom esverdeado, porém após alguns instantes o sabor que ficava era doce. Era uma bebida, de fato, incomum. Senti que ela descia de modo agradável, não machucava a garganta machucada. Olhei para Martim surpresa. Ele me observava de modo atento. Seus olhos não perdiam um movimento que executava.
— Eu não mordo! — Quebrei o silêncio com humor. Não havia motivos para ser rude a não ser é claro o fato dele quase me matar.
— Mas eu sim. — Seu tom soou sombrio.
— Você quase me matou. — Soltei de modo impulsivo a sentença.
— Eu sei. — Ele desviou os olhos.
— Somente isso? Eu sei... Isso sequer chega perto de um pedido de desculpas. — Rebati com irritação.
— Eu sei que estou errado, porém julgue-me por agir de modo defensivo! — Ele deu de ombros. — Todos os Servent's que conheci queriam, sem exceção, me matar!
— Eu não quero... — Comentei me levantando da cama, descobri uma de cada vez as minhas pernas testando se não cairia. — Não quero matá-lo mesmo que você quase tenha feito isso. — Pontuei me aproximando. — Não sou meu pai, não sou igual aos meus antepassados. — Parei à uma distância segura dele. — Sou a exceção.
— Porque eu deveria acreditar em suas palavras? — Ele me respondeu na defensiva.
— Você viu eu me jogar na cachoeira a te enfrentar... Isso não diz muita coisa?! — Rebati cruzando os braços.
— Confesso que fui pego desprevenido com aquilo. — Ele sussurrou. Seus olhos agora estavam fixos nos meus.
— Eu nunca tinha visto um lobo antes.... — Dei um passo para frente. — Nunca estive aqui... — Dei outro passo. — Eu sequer sabia da minha história! — Parei à poucos centímetros dele. — E estou bem aqui. Sem qualquer meio de me defender... E perigosamente perto do homem que quase me matou. — Frisei a última sentença.
— Me desculpe... — Ele desculpou-se num tom baixo, caso eu não estivesse tão perto dele não teria o ouvido. — Eu agi por instinto, não sabia que poderia ser indefesa. — O sorriso dele deixava claro que estava tirando uma comigo. Balancei a cabeça em negação contendo um riso.
— Não tão indefesa! Porém temos bum acordo? — Estendi minha mão com a palma aberta.
— Acordo? — Ele olhou confuso para mim.
— Que você não vai me matar! — Expliquei.
— Sim, temos um acordo, ! — Ele frisou meu nome antes de apertar minha mão.


Capítulo 5

Após apertar minha mão, me afastei me deitando novamente na cama o que deixou-o confuso, acabei rindo da expressão que ele fizera.
— Estou com sono e parece que um caminhão passou por cima de mim. — Vi que ele me encarou confuso sobre a palavra caminhão. — É uma expressão, forma de falar. Significa meu corpo está cansado. — Esclareci.
— Obrigado... Onde pensa que eu vou dormir? — Ele se aproximou parando de frente à cama.
— No chão? Lá fora? — Sugeri.— Você não é um lobo?! Pois então, pode dormir em qualquer lugar.
— Minha casa, minha cama e então... — O interrompi.
— Nem perca tempo buscando provar argumentos. Você me deve isso! Deixe-me recuperar e eu vou resolver toda essa situação... Só, por favor, me deixe descansar. — Pedi com sinceridade.
— Ok, desta vez você tem um argumento válido, . — saiu da cabana resignado e nem um pouco contente.
Me arrumei na cama procurando uma posição confortável; estava me sentindo melhor após a bebida desconhecida de . Não demorou mais que alguns instantes para mergulhar na velha e agradável inconsciência.
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?
Ouvi alguém me chamar, porém estava confortável na posição que me encontrava. Murmurei algo como resposta antes de tampar minha cabeça com o travesseiro dando um sinal para quem quer que fosse sair e me deixar dormir.
!
Me sentei assustada; meu coração batia de modo descompassado em meu peito assim como a respiração pesada. Me espreguicei antes de fuzilar com o olhar o idiota que havia me despertado. O dito cujo estava com roupas pretas, uma camiseta, jeans, isso mesmo jeans! Um coturno nos pés e um boné em sua cabeça.
— Existe meios mais adequados de acordar alguém! — Falei num tom nada amigável.
— E eu tentei todos! Você está desacordada já tem sete dias! — rebateu no mesmo tom.
— Você tem certeza? — Indaguei confusa um pouco sonolenta.
— Não teria motivos para ocultar tal fato! — Ele rolou seus olhos.
— Merda! Meu pai deve estar louco atrás de mim! — Me levantei apressada e no processo quase caí, mas me segurou antes disto acontecer. Por breves segundos senti uma corrente passar pela minha pele apenas pelo rápido toque entre nossos corpos.
— Seria uma péssima ideia encará-lo vestida assim! — indicou o que eu vestia.
— Onde estão as minhas roupas? — Indaguei após me bater internamente me xingando.
— Tive que rasgá-las para poder te salvar. — Ele soltou num tom receoso.
— Você fez o quê? — O encarei incrédula.
— Era a única maneira, ok? — Ele levantou suas mãos, mas seus lábios expressaram um sorriso sacana.
— Seu lobo maldito! — Me aproximei dele o estapeando.
O que é claro não foi uma boa ideia já que era mais forte e não foi difícil segurar minhas mãos. O problema não fora isso... Ele as elevou acima da minha cabeça me prendendo contra a parede enquanto sua face estava próxima demais da minha. Seus olhos intensos esquadrinhavam os meus como se pudesse desvendar a minha alma, sua respiração batia contra a minha face, o calor de seu corpo era possível sentir sob os tecidos das roupas. A maneira que ele me prendia era gentil, ele apenas impediu que eu continuasse a estapeá-lo.
Sua destra tocou minha face, em um carinho. Era estranho estar tão rendida, os olhos dele me desarmaram e naquele instante estava aguardando o que ele faria.
Seus olhos em momento nenhum abandonaram os meus enquanto acariciava minha face; com toques suaves deslizou sua mão direita a parando em minha cintura, a qual ele envolveu com seu braço me trazendo para mais perto.
— Você está me enlouquecendo, Servent. — disse num sussurro, seus lábios estavam a poucos milímetros dos meus.
Tomando coragem, sorri antes de tocar os lábios dele com os meus, juntei-os em apenas um selar, porém isso não parecia o suficiente para ele. Largando meus pulsos, ele me impulsionou de forma a que eu envolvesse minhas pernas em sua cintura para assim ficar mais fácil. Aproveitando que ele havia livrado meus pulsos, retirei seu boné podendo enfim tocar seu cabelo.
Ele me segurou de forma firme antes de seguir até a cama, a qual ele sentou-se comigo em seu colo, sua boca não havia desgrudado da minha em nenhum momento. Suas mãos estavam em minha pele, seu toque era firme e delicioso.
Ele encerrou o beijo puxando meu lábio entre os dentes dele antes de beijar meu pescoço. Arfei me inclinando mais para ele, minhas mãos invadiram sua camisa, o obriguei a tirá-la assim podendo admirar aquele peitoral.
— Você é lindo, ! — Sussurrei antes de beijá-lo, mas agora de forma mais intensa deitando-o sobre o colchão.
As mãos de subiram pelas minhas coxas antes de pararem em minha cintura. O achei ainda mais encantador por ter feito isso. Seus lábios instigavam os meus, era como se houvesse chamas demais de ambas as partes!
Sefira Servent!

Me virei bruscamente após ouvir meu nome sendo dito pela voz furiosa de meu pai. Fiquei de pé me sentindo completamente envergonhada. Havia sido flagrada em uma cena nenhum pouco decente pelo meu pai. Ao lado dele estava alguns guardas. Senti meu sangue gelar. Olhei preocupada para que naquele instante vestia sua camiseta, sua postura era um reflexo idêntico a de meu pai. Ambos se encaravam furiosos, segurei a mão de . Tentando amenizar a tensão.
— Explique-se. — Papai vociferou, seu semblante estava entre nojo e raiva.
— Papai... — Iniciei de modo receos. — Eu saí para tomar um ar... — Ele me cortou.
— Para então se deitar com a fera! — Seu tom denotava seu nojo.
— Não! — O contestei. — Ele me salvou da fera! — Apertei a mão de na minha, tentando lhe passar uma mensagem. — Ele cuidou de mim, papai!
— Você me decepcionou, my happiness... — Nyan soltou num tom sincero me olhando com pesar. — Eu a conheço bem demais, filha...— Sua voz falhou por um instante. — Sei quando está mentindo.
Suas palavras me atingiram com maior impacto do que ele tivesse tomado qualquer outra medida. Seus olhos cinzentos revelavam sua dor.
— Levem ele até o castelo! — Nyan revestiu sua máscara fria.
— Não! Se afastem! Todos vocês! — Me coloquei na frente de .
, tudo bem. Deixa que eu resolvo isso. — beijou o topo de minha cabeça.
Me virei para ele tocando sua face.
— Não faça isso! Por favor! Ele ainda é o meu pai! — Implorei beijando uma de suas mãos enquanto meus olhos derramavam lágrimas. — Pai, por favor peça para eles para se afastarem. — Implorei em prantos.
— Não! — Nyan, foi inflexível. — Levem-no, AGORA!
— Não! — Olhei sob meu ombro para . — Fuja, por favor, salve-se... Papai...
— Tragam-na até aqui e capturem a fera! — Nyan ordenou furioso.
E assim a cabana, que era pequena, fora invadida por inúmeros homens de meu pai. Não importava o que eu fizesse, eles conseguiam me segurar. Tentava desesperadamente me libertar, porém um deles conseguira injetar algo em mim fazendo-me cair na inconsciência quase no mesmo instante, porém antes que fosse tragada por ela pude ver sendo atingido por socos, chutes, e por fim derrubado pela mesma substância que havia injetado em mim. Tentei em vão alcançá-lo, mas meu pai me puxara e assim apaguei...


Capítulo 6

— Eu quero-o longe dela! — Nyan se pronunciou.
Seus olhos cinzentos lembravam em muito uma tempestade, sua face não mascarava o que sentia e eu conseguia ver o quanto ele me odiava. Suas palavras eram afiadas, parecia muito com seu pai. O velho Brockhaus Servent. Tive o prazer de estraçalhar o assassino; não sentia qualquer arrependimento pelo que fizera a ele. Brockhaus havia matado meu pai diante meus olhos! Ainda lembrava de seus olhos castanhos e última frase:
“— Você pode estar ceifando a minha vida porém somos inúmeros e você fera é apenas 1! Não morrerá pelas minhas mãos mas ainda caíra pelas mãos de um Servent!”

E ele não estava errado! Estava bem longe de estar maluco. Seu filho carregava o nome do nosso primeiro carrasco. Era impressionante a semelhança! A única coisa que o diferenciava eram os olhos, Nyan era o único Servent que possuía olhos naquele tom. Todos, sem exceção, possuíam o tom castanho nas lumes.
— Sua filha... — Falei com dificuldade, ainda estava me curando. Minha regeneração ainda estava só no início. — Ela não é igual a vocês...
— Ela será! — Nyan trovejou se aproximando. — Ela foi enfeitiçada por você, fera! — Ele cuspiu as palavras me segurando acima do chão.
— Clarice HeksWinks. — Sorri de modo irônico. — Ela conversou com .
— Isso é uma grande mentira! — Nyan me jogou no chão, estávamos ainda em minha cabana que naquele instante estava quase totalmente destruída. — É impossível!
— Assim como é impossível existir lobisomens. — Cuspo as palavras. Me apoio no baú o encarando. — Sua família foi longe demais, Servent!
— Você não está em posição para falar qualquer coisa a respeito dela, LycanWanders. — Nyan parou agachado à minha frente.
— Ah, eu posso sim! — O respondi de forma ácida. — Sua filha... A bela e doce é a minha luz, meu caro.
E então senti o punho dele contra a minha face, ele não parou por ali. Nyan iniciou uma sequência de socos e chutes, eu podia apenas me curvar. Não podia me transformar por conta do que haviam injetado em mim.
O lobo não sairia e eu poderia morrer como um homem. Apenas um homem. Enquanto sentia os golpes de Nyan e podia apenas uivar a cada golpe pude vislumbrar algo luminoso. E estava vindo em nossa direção.
Nyan Rentis Servent!

Nyan cessou seus golpes quase no mesmo instante que ouviu seu nome ser pronunciado num tom grave. Minha visão estava um pouco nublada, mas ainda assim conseguia identificar uma figura feminina de frente ao meu promissor assassino.
! Isso não são modos de falar com seu pai. — Ouvi ele rebater num tom de aviso.
— Você sabe tão bem quanto eu que não é neste momento Nyan!
Ouvi um som de surpresa sair dos lábios dos homens de Nyan. Me sentei e pisquei um pouco meus olhos tentando desanuviar minha visão. Queria ver o que estava acontecendo.
— O que você fez com ela? — Nyan vociferou.
— Eu não fiz nada, ela está bem.
— Eu não acredito em você Clarice! — Nyan trovejou. — Me devolva !
— Ela permitiu...
— Porquê ela faria isso? — Ele falou exasperado.
— Porque assim como eu, ela não quer ver morto.
— Ela não tem poder de voto nisso! — O cortei.
— Ela não é mais uma garotinha, Nyan. — Me escorei com dificuldade. — Oi, mãe.
— Você está tão crescido, meu menino.
— Eu vou ter que fazer isso por mim mesmo, então!
Era como naqueles sonhos, em um momento você vê tudo acontecer ao se redor mas em outro seus movimentos se tornam letárgicos, lentos demais e você é apenas um espectador da cena.
Era dessa forma que me sentia, vi quando Nyan sacou uma Colt, era possível ver as balas de prata que me matariam! Vi ele destravá-la e pressionar o gatilho, porém a bala não me acertou. Ela parou no ar antes de prosseguir sua trajetória. E uma a uma foram sendo disparadas, mas todas acabavam da mesma forma.
Lancei meu olhar para o lado e vi sorrindo, porém logo me corrigi, era minha mãe ali.
Ela então abaixou sua mão fazendo com que todas as armas do local fossem parar aos seus pés. Mamãe me lançou um olhar carinhoso antes de usar as balas contra os homens de Nyan.
Eram rajadas que eles não podiam escapar, apenas observava. Nyan estava estático, ainda na mesma posição que tentara atirar em mim. Seus olhos acompanhavam os movimentos que sua filha/minha mãe executava.
se movimentava rapidamente, os homens de Nyan até tentavam detê-la, porém ela era veloz demais para eles. Ela os jogava para longe com apenas um toque, de fato aquela era minha protetora.
Mamãe nunca tirava seus olhos de mim. E quando o último homem caiu aos seus pés, morto, ela soltou Nyan que caiu ajoelhado. Seus olhos haviam perdido o brilho, ele estava preso em seus pensamentos.
— Deixe-me falar com minha filha. — Ele pediu encarando-a de modo sincero. Sua preocupação era evidente e expressava de modo subjetivo o amor que ele tinha por . Ela de fato era sua maior preocupação.
— Me garanta que viverá!
— Eu tenho que acabar com os lobos! — Nyan rebateu.
— Eu tenho a sua filha em minhas mãos e ainda assim insiste nessa ideia absurda?
— Não ouse machucá-la! — Nyan se levantou e exibiu seu punhal de prata o colocando sob o meu pescoço.
— Não toque em meu filho, seu cretino!
— Mãe, liberte a . — Sussurro enquanto segurava a mão de Nyan retirando o punhal dele e no processo cortando parte de minha palma. — Ela é a maior vítima nessa guerra entre nós. — Encarei Nyan. — não merece sofrer por algo que não sabia existir.
— Ele vai matá-lo!
— Não por amor à sua filha. — Respondi com um simplório sorriso. — Vamos acabar com essa perseguição idiota, Servent! Tanto ódio por nada!
— Eu sou o guardião desse legado! — Ele me encarava furioso.
— E está disposto a perder sua única filha por causa disso? Esse legado vale tal sacrifício? — Instiguei buscando mostrar a irracionalidade em prosseguir com isso.
está certo Nyan. Chega. Acabou!
— Mas... — O interrompi novamente.
— Servent, você não precisa gostar de mim e muito menos me aturar. — Me levantei com dificuldade. — Apenas me deixe em paz. Faz séculos que sua família me persegue. Nunca ousei tocar em um aldeão. Me manterei assim. Distante. Vivendo na floresta. Como sempre vivi! — Falei num tom sério deixando implícito que não me aproximaria de , mesmo que isso me custasse o meu próprio coração.

Meu coração havia sido cativado por tal mulher. Estava observando os muros daquele castelo quando a avistei; estava determinada a sair dali, sua ousadia em se arremessar havia me impressionado. Ela caminhava pela floresta com curiosidade e aparentava estar em paz ali.
Isso havia me intrigado, me provocado a acompanhá-la. Eu a seguia feito um cachorrinho, nas sombras escondia minha forma animalesca. Porém a brisa e o meu descuido me fizeram a assustá-la. Porém aquele frio e inebriante aroma provocara a fera. Ela cheirava como um Servent. E por instinto a cacei. Sem descanso, a persegui pela floresta que conhecia melhor do que ninguém, mas ainda assim ela me surpreendia. Isso me deixara abalado. Ela não estava buscando se defender, mas sim escapar, ela não reconhecia o que eu significava além de uma fera. E fora justamente isso que me freara. Eu não entendia tal ação, ela era um Servent e todos sempre tentavam me matar!
Quando ela se jogou nas quedas soube que tinha de ir atrás dela e fora isso que fiz, ela não ia sobreviver à cachoeira, sempre se desprendia algo e caí no profundo lago.
No entanto, a fragilidade de fora a o golpe final, como ela havia se afogado e, então, em meus braços formulada apenas uma palavra para exemplificar o que sentia. Era pequenos pontos que derrubaram as barreiras de meu coração.
Ela era frágil, porém tinha força, era doce, gentil, mas podia ser sarcástica. Ela era meu oposto mas ainda assim o meu melhor lado.
— E o que me garante isso? — Nyan se pronunciou tirando-me de meus pensamentos.
— Ela não se lembrará de nada do que aconteceu.
— Como posso acreditar em você? — Nyan se afastou e parou à frente de sua filha/minha mãe.
— Eu não passava de uma lenda até algumas horas atrás.
— Eu não irei mais atrás de você, LycanWaster, mas se caso aproximar-se de outra vez... — Nyan deixou a sentença no ar.
— Eu já compreendi. — Comentei, porém mantive meus olhos fixos na figura da mulher que não veria mais.
— Faça isso, Clarice! — Nyan ordenou.
— Deixarei vocês dois no castelo, mas antes deixe-me falar com meu filho.
— Não ouse mentir para mim. — Nyan se afastou e nos deixou sozinhos.
— Mãe... — Ela me silenciou.
— Não temos muito tempo, querido. Eu gostaria de lhe dizer muitas coisas, porém não há tempo.
— Eu te amo, mamãe, e sinto orgulho do que fora capaz de fazer para me salvar mas faça isso. Apague a memória de . Ela viverá melhor sem mim. — A abracei. Aquele perfume me assombraria pelo resto dos séculos.
— Eu sinto tanto orgulho de você, querido! Eu o amo tanto! Nunca se esqueça que sempre estarei por perto. Você nunca está sozinho minha criança e sei que discordaria de você por ora isso é o necessário a se fazer.
— Eu poderei vê-la um dia? — Tentei não parecer esperançoso.
— Quão inesperada do pode ser o destino, querido. Já é hora. Tenho que ir. Se cuide. Eu te amo.
E assim que ela passou pela porta a cabana voltou a ser como era antes, não estava mais destruída. Os corpos não se encontravam por ali. Sai dali e encontrei apenas a floresta, solitária e bela. Ergui meus olhos para o céu encontrando a lua, éramos apenas eu e ela novamente.




Fim?



Nota da autora: Quero agradecer a Thay por ter me dado a chance de participar deste ficstape. Foi uma honra!
Sinto-me grata por terem chegado até aqui.
Quero agradecer à minha irmã e a minha amiga que sempre me ouviu. Obrigada, Nick, você é a MELHOR.
E sim, WWH vai ter parte dois!
Me aguardem!
O que vai acontecer com a Bela e a Fera?


Outras Fanfics:
  • Write your name — Ficstape Star Dance — Selena Gomez
  • Rare — Ficstape Rare — Selena Gomez
  • Without a Word — Ficstape Birdy — Birdy
  • Oh my my — Ficstape Oh My My — One Republic.

    Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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