04. If You Could See Me Now

Fanfic fnalizada.

Prólogo

14 de fevereiro de 2014, 7:35 pm.
- Te vejo amanhã, então? – Noah, meu produtor, perguntou ao me ver passar pela porta do estúdio e eu assenti. – Não esquece que eu marquei aquelas fotos para você. É uma revista relativamente pequena, mas para começo de carreira, vai te ajudar muito.
- Eu estarei lá. – Sorri. – 12h, certo?
- Isso mesmo. Mandei o endereço para o seu celular. – Ele disse apontando para o aparelho em minhas mãos e eu assenti seguindo para o elevador. – Quer que eu passe para te buscar?
- Não precisa, eu vou com meu carro. – Respondi quando a porta do elevador se abriu. – Até amanhã, dude.

Apertei o botão do estacionamento e me distraí olhando algumas coisas no celular. Assim que a porta se abriu, saí e pude ver escorada em seu carro, conversando animadamente com meu pai. Assim que seus olhos se encontraram com os meus, ela sorriu e se desencostou do carro.

- Oi, meu amor. – Falei a abraçando e selei nossos lábios.
- Oi, lindo. – Ela respondeu e eu me virei para meu pai, recebendo um abraço apertado.
- E então, muito trabalho? – Ele perguntou e eu assenti.
- Terminei de gravar a base daquela música que te mostrei. – Falei. – Amanhã tenho umas fotos para uma revista.
- Esse teu namorado está ficando importante, . – Ele disse a encarando e ela riu.
- Daqui a pouco vou ter que dividi-lo com milhares de fãs apaixonadas. – Ela disse beijando minha bochecha.
- Não duvido, viu? – Meu pai riu. – Bom, vamos jantar? Eu estou quase verde de fome.

Meu pai me esticou as chaves do carro e se sentou no banco de trás. Dei partida e fomos conversando. Por conta da chuva, o trânsito estava levemente mais agitado do que o normal para Londres. Assim que o semáforo abriu, arranquei com o carro e logo escutei uma buzina. A última que vi foi um foco de luz muito forte, em seguida eu apaguei.
Acordei sentindo meu corpo todo doer. Minha cabeça pesada tanto quanto uma bola de basquete e eu não conseguia mover um dedo sem sentir dor. Tentei me mexer, mas soltei um pequeno gemido de dor e desisti.

- ? – Ouvi a voz apreensiva de Noah me chamar e abri vagarosamente os olhos. – Ei, cara, graças a Deus você está bem.
- O que aconteceu? – Perguntei olhando a minha volta e percebendo que estava em um quarto de hospital.
- Você não se lembra de nada? – Perguntou nervoso e eu neguei com a cabeça.
Ele soltou um suspiro pesado e me encarou com pena.
- Você sofreu um acidente. – Ele disse baixo e eu arregalei os olhos. – Um carro passou o sinal vermelho e pegou o seu em cheio.
- Cadê o meu pai? E a ? – Perguntei me lembrando que eles estavam comigo e Noah abaixou a cabeça, fazendo com que meu coração se apertasse.
Antes que ele pudesse responder, o médico entrou no quarto e sorriu ao me ver acordado.
- Boa noite, , eu sou o doutor Khalid. – Ele disse olhando minha ficha. – Fico feliz que já esteja acordado, apesar da forte colisão, você sofreu apenas ferimentos leves.
- Onde está meu pai? – Perguntei o cortando e ele me encarou. – E a minha namorada? Onde eles estão? Eles estão bem?
- Você ainda está muito fraco do acidente, não acha melhor falarmos sobre isso depois? – Ele perguntou e eu neguei.
- Doutor, por favor, não me esconda nada. – Pedi e ele assentiu.
O doutor apertou um botão ao lado da minha cama e logo ela começou a subir, me deixando sentando. Ele respirou fundo e me encarou.
- Após a colisão, o seu carro capotou algumas vezes, deslizando pela rodovia, até parar quando bateu em um poste da rua. – Ele começou a me explicar e eu ouvia tudo atentamente, sentindo meu coração apertar a cada palavra. – Como o carro pegou o seu do meio para trás, a porta de trás foi completamente destruída e seu pai acabou ficando preso nas ferragens. – Ele fez uma pausa, analisando minha expressão. – Nós fizemos tudo que pudemos, mas os ferimentos dele eram muito extensos e, infelizmente, ele veio à óbito.
- Você está mentindo. – Falei sentindo meus olhos marejarem. – Pelo amor de Deus, me diz que isso é mentira.
Olhei para Noah, que me encarava com os olhos marejados e soltei um soluço.
- Eu sinto muito. – Ele murmurou e eu me entreguei ao choro.
Meu pai estava morto. Era quase impossível de acreditar, já que a pouco estávamos conversando no estacionamento da gravadora e agora eu estava ali, em uma cama de hospital, chorando por sua morte.
- Eu posso vê-lo? – Indaguei um tempo depois, quando consegui me acalmar minimamente.
O doutor assentiu. Ele saiu da sala por alguns instantes e logo voltou com uma cadeira de rodas. Com certa dificuldade, por conta das dores que sentia, consegui me sentar na cadeira e ele me levou até a porta de uma sala.
- Vou deixa-lo à sós. – Ele disse se afastando e eu assenti.

Entrei na sala, sentindo meu coração pesado e pequeno completamente disparado. No centro havia uma maca de ferro, com um corpo coberto por um lençol azul. Respirei fundo e Noah me empurrou até lá. Minhas mãos tremiam desesperadamente e eu sentia que a qualquer momento poderia ter um ataque cardíaco. Me apoiei na mesa e levantei da cadeira. Respirei fundo criando coragem e puxei o lençol, sentindo minhas pernas falharem e voltei a me sentar na cadeira. Era ele.
A sua boca estava completamente roxa e ele tinha um corte enorme na lateral do rosto. Sua testa tinha um machucado que parecia sangrar um pouco e seus cabelos estavam sujos de sangue. Mesmo completamente machucado, era ele. Meu pai. Meu herói estava morto. Mesmo tremendo, levei minha mão até seu rosto e fiz um carinho, sentindo sua pele gelada. Soltei um grito de desespero e desabei. Aquilo era mais do que eu poderia aguentar e eu só pensava em porque não era eu no lugar dele. Senti Noah me abraçar e me deixei chorar, como se toda aquela dor que eu sentia pudesse sair do meu corpo pelas lágrimas.
Um tempo depois, depositei um beijo na testa de meu pai e Noah me tirou dali.

- Sinto muito, . – Doutor Khalid disse ao me ver.
Assenti com a cabeça e criei coragem para perguntar o que queria, pois eu estava sentindo medo dos pés a cabeça.
- E a ? – Perguntei tão baixo que achei que ele ninguém tivesse escutado, mas ele me encarou em seguida.
O médico ficou em silêncio e me empurrou para um dos quartos. Quando ele abriu a porta, precisei conter um pequeno grito. estava deitada em uma cama, ligada à diversos fios e tubos.
- Ela está em coma. – Ele respondeu e eu senti meu mundo ruir pela segunda vez naquela noite.
- E quando ela vai acordar? – Perguntei nervoso enquanto ele aproximava a cadeira da cama.
Entrelacei nossas mãos e depositei um beijo no dorso da mesma. Encarei , que parecia estar dormindo, exceto pelos inúmeros machucados e cortes por seu rosto.
- Ainda é cedo para estipular quando ela vai acordar. – Khalid disse. – Se ela vai acordar.
- Ela vai acordar. – Falei firme e me virei para ela. – Não é, meu amor?
- , por favor, não crie expectativas. – O doutor pediu. – Isso não é bom para a sua recuperação.
- Ela vai acordar. – Repeti, no mesmo tom, e me levantei da cadeira, me aproximando ainda mais da cama. Passei minha mão por seus cabelos e suspirei, sentindo meus olhos marejarem. – Você precisa acordar, . Por mim. Eu não posso te perder. – Falei baixo, acariciando seus cabelos. – Não me deixa, linda. Por favor. – Pedi, quase suplicando. – Eu te amo. – Sequei algumas lágrimas e suspirei. – Volta para mim, por favor. Eu não posso te perdei. – Finalizei já quase sem voz e voltei a me sentar na cadeira, respirando fundo.

Não. Aquele acidente não podia tirar tudo de mim. Era injusto demais.



Capítulo Único

14 de fevereiro de 2019, 00:00 am.
O relógio da cabeceira apitou indicando meia noite e eu respirei fundo sentindo meu coração apertar. Mais um ano vivendo esse dia infernal. Mais um ano com o coração dilacerado de saudades.

Cinco anos.
60 meses.
260 semanas.
1.826 dias.
43.824 horas.
2.629.440 minutos.
157.680.000 segundos

Cinco anos inteiros se passaram desde aquele fatídico dia e eu ainda não conseguia compreender como tudo aquilo havia acontecido. Encarei a foto de meu pai na cabeceira da cama e senti meus olhos marejarem, mesmo depois de tanto tempo eu ainda sentia saudades como se tivesse se passado apenas uma semana. Mas não havia se passado apenas isso, eram cinco anos sem ouvir sua voz, sem poder lhe mostrar minhas músicas novas, sem seus conselhos, suas brincadeiras, seus abraços reconfortantes, sem ele, sem meu pai.
Morto.
Meu pai estava morto.

Eu aprendi a conviver com a morte muito cedo. Aos cinco perdi meu avô, aos nove minha avó, mas eu só descobri o que era sentir seu coração ser arrancado do peito aos doze, quando minha mãe faleceu de câncer. Eu ainda conseguia lembrar de cada dia que passei no hospital ao seu lado, até o dia em que ela dormiu e não acordou mais. Nunca achei que pudesse sentir uma dor tão forte e excruciante quanto aquela, mas aí aquele fatídico 14 de fevereiro veio e eu descobri que podia sim. Descobri que a dor podia ser 10, 20, 30 vezes pior, afinal, eu estava sozinho no mundo.
Comecei a me sentir incomodado em minha própria cama e levantei, indo até a sacada. Assim que abri a porta, senti o vento gelado ricochetear em meu rosto e me abracei, tentando me aquecer. Ascendi um cigarro e dei o primeiro trago, observando o movimento na rua.
Observei um casal passar por ali, indo em direção a um parque de diversões montado a duas quadras do meu apartamento. Da sacada eu conseguia ver perfeitamente o parque cheio de brinquedos, montanha russa, roda gigante e barracas de comida. Aquele maldito parque poderia ser inofensivo para qualquer pessoa que passasse por ali, mas cada vez que eu olhava em sua direção, eu sentia meu coração se apertar ainda mais.

- Vem, . – disse me puxando para a fila da montanha russa mesmo sabendo do meu medo de altura. – Você pode se abraçar em mim se ficar com medo.
Ela disse beijando meu rosto e eu sorri.
- A gente precisa mesmo ir nisso, ? – Indaguei relutante e ela assentiu animada.
- Ah, qual é , vai ser divertido. – Ela passou a mão por meu rosto e me encarou. – Por favor?
- O que você me pede com esse sorriso que eu digo não? – Falei a encarando e ela sorriu.
- Você é o melhor! – Ela disse animada e entregou nossos tickets para o funcionário. O meu medo aumentava gradativamente enquanto a roda gigante subia. Eu provavelmente estava segurando a barra de segurança com muita força, pois segurou minha mão e me fez encará-la. – Você pode focar só em mim se estiver com muito medo.
- Prefiro mil vezes olhar para você do que para baixo. – Falei e ela sorriu.
se aproximou lentamente de mim e selou nossos lábios, fazendo com que meu medo se dissipasse aos poucos. Quando cortamos o beijo, a olhei sorrindo e respirei fundo, buscando coragem para fazer o que eu vinha querendo a tempos.
- Que foi? – Ela perguntou sorrindo, enquanto eu a encarava. Chegamos no ponto mais alto da mesma e eu sorri. Acariciei seu rosto e ela fechou os olhos.
- ? – Chamei e ela resmungou em resposta. – Você quer namorar comigo? – Perguntei de supetão e ela abriu os olhos assustada para me encarar.
- Repete. – Ela pediu com os olhos marejados.
- , você quer namorar comigo?
- É o sim mais fácil de toda a minha vida. – Ela respondeu e eu sorri, me inclinando para beijá-la.
Meu coração parecia ter sido esmagado. Mesmo tendo se passado cinco anos, minhas lembranças ainda doíam como se fizesse minutos de tudo aquilo. Senti minha garganta arranhar pela força que fazia para segurar o choro e dei mais uma tragada em meu cigarro. Bebi um gole da minha cerveja e ouvi uma pequena gritaria na porta do meu prédio. Olhei para baixo e vi meu vizinho de uns 16 anos brigando com o pai porque queria sair. Sorri me lembrando de todas as brigas desse tipo que tive com meu pai. O que eu não daria por tê-lo ali brigando comigo por conta do horário que estava saindo ou chegando em casa?

Meu celular se acendeu com a mensagem de Tony me perguntando se eu iria à festa. É claro que eu ia, não perderia por nada. A não ser que meu pai me pegasse saindo escondido, já que eu estava de castigo por conta de minhas notas. Respondi a mensagem, me levantei da cama, peguei meu tênis e saí quarto tentando ser o mais silencioso possível. Meu pai não poderia nem sonhar que estava saindo para aquela festa. Assim que girei a maçaneta da porta da frente, a luz do corredor se ascendeu e eu bufei. Meu pai me encarou com reprovação e eu rolei os olhos. Ah, qual é? Era só uma festa!
- Onde você pensa que vai? – Perguntou sério. – Espero que não seja na festa, porque eu já disse que você não vai.
- Ah, pai, a galera toda vai estar lá. – Argumentei e ele negou com a cabeça.
- Pode desistir, a resposta é não. – Ele disse e apontou para a escada. – Volte para o seu quarto e vá dormir.
- Pai, por favor, eu prometo que vou melhorar. – O encarei sorrindo e ele riu.
- Quando você melhorar poderá ir a todas as festas que quiser. – Ele disse calmo e eu bufei. – Mas enquanto seu boletim continuar como está, nada de festas para você. Rolei os olhos e segui para a escada. A festa já era mesmo.
- Você sabe que eu faço isso porque te amo, não é? – Ouvi meu pai perguntar e rolei os olhos. Cheguei no meu quarto e bati a porta de leve. Me joguei na cama e encarei o teto ainda irritado. Por que ele estava tão preocupado com uma nota vermelha em matemática e física se eu nunca vou usar isso na vida. Não me lembro da última vez que precisei usar a fórmula de bhaskara para escrever uma música.
Ri sozinho das minhas lembranças. Ok, de fato eu nunca tinha usado bhaskara para escrever uma música, mas meu pai só estava tentando me educar e eu era um adolescente mimado que achava que estava vivendo no pior dos mundos com um pai tão controlador. Encarei meu vizinho abraçando seu pai e sorri triste. Quem me dera ter a chance de abraçar o meu.
Peguei outra garrafa no frigobar e meu olhar pairou sobre a foto no criado mudo, onde eu sorria com meus pais. Era surreal pensar que aos 25 anos, no auge da minha carreira, eu não tinha nenhum dos dois ali para me abraçar, incentivar ou me assistir tocar.

Caminhei com meu pai pelo corredor do hospital já tão conhecido por mim. Minha mãe já estava internada a alguns meses, então eu vivia por ali, brincando com as poucas crianças que encontrava ou apenas fazendo companhia para ela. Assim que a porta foi aberta, minha mãe me olhou e sorriu. Ela parecia muito melhor do que os outros dias em que tinha a visto, o que me animou.
- . – Seus olhos brilharam e eu sorri caminhando até a cama, onde ela me esperava com os braços abertos. – Como foi a aula?
- Chata. – Respondi sincero e ela riu fraco.
- Não teve nadica de nada que você achou legal? – Perguntou desconfiando e eu assenti.
- Hoje meu time ganhou no futebol. – Falei animado e ela sorriu.
- Está vendo? Tudo tem seu lado positivo. – Ela piscou e eu a olhei confuso.
- Até o hospital? – Indaguei e ela assentiu.
- Lógico, meu amor. – Ela beijou minha bochecha e me puxou para mais perto dela. – No hospital as pessoas são curadas, nascem os bebês, os machucados param de doer... - Ela foi enumerando os benefícios do hospital e eu escutava atentamente. – Está vendo quanta coisa boa acontece nos hospitais?
- E quando a senhora vai poder ir para casa? – Perguntei. – O papai não sabe contar minhas histórias para dormir, ele sempre dorme no meio.
Minha mãe gargalhou da minha indignação e meu pai me encarou tentando segurar o riso.
- Pois o senhor vai ficar sem história na hora de dormir. – Ele disse apertando de leve o meu nariz e eu ri.
Passei o dia no hospital conversando com minha mãe. Ela estava tão bem que os médicos até liberaram que ela desse uma volta pelos corredores comigo e com meu pai.
- Tchau, meu amor. Se cuida. – Minha mãe disse me abraçando. – Obedeça sempre ao seu pai, ok? – Ela disse e eu assenti. – A mamãe te ama muito.
- Também te amo de ‘muitão’, mamãe. – Falei e ela riu, me abraçando. Quando estava quase saindo do seu abraço, ela apertou os braços ao meu redor e depositou um beijo demorado em minha testa.
- Não esquece que eu te amo, tá? – Ela pediu e eu assenti.
- Tchau, pai. – Falei o abraçando.
Por algum motivo, eu não iria dormir em casa e sim na casa da minha tia. Meu pai me abraçou e eu fui em direção a minha tia, que já me esperava na porta, sem olhar para trás.
Minha mãe faleceu naquela noite. Na época eu era muito criança e não sabia que aquela melhora repentina era apenas um efeito que muitas pessoas têm antes da morte. Se eu soubesse, teria me virado para olhá-la uma última vez, teria dito mais um eu te amo, teria me comportado melhor durante aquele dia, teria ficado o tempo todo com ela ao invés de ir conversar com um dos amiguinhos que tinha feito pelo hospital. Enfim, tantas coisas que eu teria feito diferente, mas eu não podia, porque ela estava morta e não voltaria nunca mais.
Bebi alguns goles da cerveja e suspirei. Voltei para a sacada e ascendi um baseado, traguei uma vez e senti meu corpo relaxar. Observei o céu estrelado e sorri pensando em meu pai e , as duas pessoas mais apaixonadas por estrelas que eu conhecia. Aliás, a amizade dos dois era uma coisa muito engraçada e fofa, que tinha começado no dia em que eles se conheceram.

- Pai? – O chamei assim que entrei em casa acompanhado por .
- Oi, filho. – Ele respondeu da cozinha e nós seguimos até lá. Assim que nos viu, meu pai sorriu e caminhou até nós. – Pai, essa é a , minha namorada.
- É um prazer te conhecer. – Ela disse sorrindo tímida e ele esticou uma mão para ela.
- O prazer é todo meu. – Ele respondeu. – Conhecer a garota que está colocando esse sorriso no rosto do meu filho é um prazer enorme. – Ele a abraçou. – Muito obrigada.
- Não precisa me agradecer, até porque ele também é o responsável pelo meu sorriso. – Ela disse e eu a abracei pela cintura.
- Agora vou apresentá-la para o resto da família. – Falei a puxando em direção aos meus tios.
Enquanto fazia amizade com minhas tias, meu pai me chamou para ajuda-lo a pegar os pratos na cozinha. Estava quase voltando para o jardim quando vi rindo e parei para observá-la.
- Você gosta mesmo dela, não é? – Meu pai perguntou parando ao meu lado e eu assenti. – Sua mãe teria adorado ela. Talvez sentisse um pouco de ciúmes, mas depois se renderia. – Ele riu e eu o acompanhei.
- Queria que ela estivesse aqui. – Falei soltando um suspiro triste e ele passou o braço por meus ombros, me puxando para um abraço.
- De onde ela estiver, tenho certeza de que está imensamente feliz por você ter encontrado alguém que goste de verdade. – Ele piscou. – Então vê se cuida dela, hein?
- É a mulher da minha vida, pai. – Falei sorrindo e a olhei. Nossos olhares se encontraram e ela sorriu. – Essa eu não vou deixar sair do meu lado nunca.
- Esse é meu garoto. – Ele disse e nós saímos da cozinha, indo para perto do pessoal.
Arrumei a mesa e me aproximei de , que conversava animadamente com uma das minhas primas.
- Ih, o assunto chegou. – Minha prima disse assim que me aproximei e elas riram. – Eu estava aqui falando para ela fugir antes que seja tarde demais.
- Eu vim roubar ela, antes que você a contamine contra mim. – Brinquei e ela riu.
Puxei comigo e a levei para um canto mais afastado do jardim.
- Sua família é um amor. – Ela disse e eu sorri. – Principalmente o seu pai.
- Ele te adorou. – Falei. – Você ganhou um fã.
- Eu também o adorei. – Ela sorriu e eu selei nossos lábios.
Jantamos em meio a risadas devido às piadas que meu pai e meus tios contavam. O pessoal começou a se despedir e logo estávamos apenas eu, e meu pai em casa. Eu estava sentado na grama e estava no meio das minhas pernas, com a cabeça apoiada em meu peito, observando as estrelas.
- Eu já disse que amo as estrelas? – Ela perguntou sorrindo e eu beijei sua bochecha.
- Eu já disse que você fica linda observando as estrelas? – Perguntei e ela desviou o olhar para mim. – Aliás, sabe quem ama estrelas tanto quanto você? – Ela negou com a cabeça. – Meu pai.
- Sério? – Perguntou animada e eu assenti.
Levantei e estendi minha mão para ela. Caminhamos até a lateral da casa onde estava o telescópio do meu pai e pude ver os olhos de brilharem.
- Ele leva esse assunto de constelação bem a sério. – Falei tirando a capa de proteção do telescópio e meu pai se aproximou de nós. – Pai, estou mostrando para a o seu telescópio, ela também é fascinada pelas estrelas, assim como você.
- Cada vez eu gosto mais de você, garota. – Ela sorriu. – Tentei transmitir esse gosto para o , mas falhei.
- Eu gosto de observar as estrelas, mas nada demais. – Me defendi e eles riram.
- Sou apaixonada pelas estrelas e constelações. – Ela disse. – Particularmente a minha preferida é a constelação de Órion, é linda demais.
- Eu gosto muito do Pegasus. – Ele disse direcionando o telescópio para o céu e dando espaço para que ela observasse. – Mas uma das mais incríveis que já vi é a Phoenix, vi quando fiz uma viagem ao Chile a alguns anos.
- Eu nem consigo ver os desenhos que vocês veem. – Falei olhando pelo telescópio. – Só vejo estrelas.
- Aí, , quanta insensibilidade. – disse rindo. Continuei observando as estrelas, que eu realmente não conseguia ver nada demais ali, enquanto os dois engatavam uma animada conversa sobre constelações.
Depois daquele dia, diversos jantares nossos terminaram com os dois observando as estrelas no quintal e a amizade deles só crescia. Respirei fundo olhando para as estrelas e sorri, eu ainda não via nada demais, mas eles gostavam tanto que eu acabei criando um carinho por observar o céu e o fiz muitas vezes depois do acidente. De alguma maneira eu me sentia mais perto deles, mais conectado aquelas duas pessoas que eu tanto amava e queria desesperadamente ter de volta em minha vida. Quando eu estava ali observando as estrelas, era como se estivesse vendo a vida pelos olhos dos dois.
Me joguei na cama para tentar dormir, mesmo que minha mente estivesse a mil, eu precisava descansar. Depois de um bom tempo rolando na cama, eu finalmente conseguir pegar no sono.
Acordei ouvindo meu celular tocar em algum canto do quarto e me levantei sonolento, procurando o mesmo.

- Alô? – Falei ao atender.
- Boa tarde, soneca. – A voz de Noah soou do outro lado da linha e eu ri. – Já são duas da tarde, .
- Já? – Perguntei chocado e olhei para o relógio na cabeceira da cama para confirmar. – Não estava conseguindo pegar no sono, então acabei dormindo muito tarde. – Suspirei. – Na verdade eu nem queria viver esse dia.
- , cara, eu sei que o dia de hoje lhe traz muitas lembranças ruins, mas hoje também o dia do maior show da sua carreira até hoje. – Ele disse e eu resmunguei. – Eu sei que a sua vontade é de ficar o dia inteiro na cama, bebendo e fumando, mas hoje tem 20 mil fãs te esperando.
- Eu sei, Noah... – Falei tentando me animar. – E eu vou fazer o melhor show da minha carreira hoje, vou dar o meu melhor naquele palco, mas eu tenho o direito de me sentir acabado porque não terei nenhuma das três pessoas mais especiais da minha vida lá.
- Pode ter certeza de que eles estariam explodindo de orgulho e felicidade por você. – Ele disse, me fazendo sorrir. – Sua mãe, seu pai e a Má te amavam muito, lembre-se disso.
- Obrigado. – Falei sentindo meus olhos marejados.
- Você sabe que pode contar sempre comigo. – Ele disse. – Agora vem pra cá que você tem que passar o som.
- Já chego. – Respondi e desliguei.
Me encarei no espelho e sorri. Aquele era o pior dia do ano para mim? Era. Mas também era o dia do maior show da minha carreira, do meu maior público e eu precisava focar no lado bom das coisas, mesmo que estivesse quebrado por dentro.
Tomei um banho rápido, troquei de roupa e saí em direção a O2 Arena. Sorri assim que vi a fila enorme de fãs que estavam acampados a alguns dias por ali. Como meu carro tinha insulfilm preto, passei tranquilamente e tive minha entrada liberada.
Assim que abri a porta do camarim, encontrei Noah me esperando.

- E aí, animou vendo a galera lá fora? – Perguntou me abraçando e eu assenti. – Eles estão cantando o dia inteiro.
- Tem muita gente. – Falei sorrindo.
- 20 mil pessoas, mané. – Ele disse animado. – Você lotou a 02 Arena.
- Se me dissessem isso a alguns anos, eu teria rido na cara da pessoa. – Falei o encarando. – É surreal, Noah.
- Isso é porque você é um bom músico e tem o melhor produtor do mundo. – Ele disse rindo e eu o acompanhei.
- Humilde também. – Disse e ele assentiu rindo.
Saímos do camarim e eu segui em direção ao palco para a passagem de som. Quando acabou, eu estava pingando de suor, mas me sentindo completamente feliz. Depois de comer e checar as últimas informações com o pessoal da produção, segui para o camarim para me preparar. Vesti o figurino do show e logo a minha cabeleireira chegou para arrumar meu cabelo.
Dos bastidores eu conseguia ouvir os gritos das fãs, que já ocupavam seus lugares pela O2 Arena. Dei uma espiada pelo canto do palco e senti meu coração acelerar. Estava completamente lotado. A galera se espremia na grade e todos os setores estavam cheios.

- Pronto? – Noah perguntou me encarando e eu sorri assentindo. – Sei que esse dia não é fácil para você, mas hoje você tem muita gente contando com toda a sua alegria e eu sei que você vai dar o seu melhor nesse palco porque você é incrível, como músico e como pessoa. – Ele me abraçou. – Vai lá e arrebenta.
- Obrigado. – Falei o abraçando mais forte. – Não sei o que seria de mim sem você aqui.
- Vai logo antes que eu comece a chorar aqui. – Ele disse e eu ri.
Me posicionei em minha marca, ajeitei o retorno no ouvido e fiz um sinal de positivo para a produção. O vídeo de apresentação do show começou a tocar e eu me sentia mais nervoso a cada segundo. Quando o vídeo acabou, a banda começou a tocar e eu entrei, sentindo diversos fechos de luz em meu rosto e ouvindo os gritos dos fãs. Sorri olhando para a multidão que estava ali para me ver e comecei a cantar a primeira música.

- BOA NOITE, LONDRES! – Gritei animado quando terminei de cantar e ouvi gritos em resposta. – Uau, quanta gente. Muito obrigado pela presença de cada um de vocês aqui. – Sorri. – Como vocês sabem, esse é o maior show da minha carreira e eu não poderia estar em melhor companhia, a não ser dos melhores fãs do mundo. – Falei e ouvi a galera gritar ainda mais. – Bom, então vamos ao que importa. Vocês conhecem essa? – Perguntei ouvindo os acordes da próxima música e comecei a cantar.

Era muita gente, muito mais do que eu conseguia contar. Óbvio que 20 mil pessoas era um público pequeno para muitos artistas, mas para mim era absurdo ver que eu tinha conseguido chegar até ali, onde eu sempre sonhei em estar. Estar em cima de um palco, cantando para quem gostava da minha música, era meu sonho desde pequeno. Eu cresci pensando se um dia viveria isso e esse dia tinha chegado. Eu tinha lotado a O2 Arena, a maior casa de shows de Londres e isso era muito mais do que eu tinha sonhado.

- Pessoal, é 14 de fevereiro, dia dos namorados. – Sorri. – Espero que vocês estejam acompanhados dos seus amores ou que eles estejam lhe esperando depois do show.
- E quem é solteira faz o que? – Alguma fã gritou e eu ri.
- Quem é solteira está tendo esse encontro comigo, porque vocês são as minhas namoradas. – Falei ouvindo as meninas gritarem e ri. – A próxima música se chama Two Ghosts e eu espero que vocês estejam melhores no amor do que o cara da letra.

Same lips red, same eyes blue
Same white shirt, couple more tattoos
But it's not you and it's not me
Tastes so sweet, looks so real
Sounds like something that I used to feel
But I can't touch what I see
Eu quase não precisava cantar já que as fãs cantavam extremamente alto e o som ecoava por toda a O2 Arena. Aquele era, definitivamente, o melhor momento da minha vida e da minha carreira até ali. Passei os olhos pela multidão e só conseguia sorrir vendo tantos olhares apaixonados na minha direção. Era milhares de garotas com os olhos marejados e sorrindo apaixonadas, mesmo estando esmagas na grade, querendo chegar um pouco mais perto de mim. O simples pensamento de que aquela loucura toda era por mim me fazia arrepiar.

We're not who we used to be
We're not who we used to be
We're just two ghosts standing in the place of you and me
Trying to remember how it feels to have a heartbeat
Sorri e parei de cantar por alguns segundos, deixando a multidão fazer isso por mim e analisei a letra da música. Tudo bem que aquela era uma música de amor, mas a letra dela dizia mais sobre mim naquele momento do que qualquer outra coisa. Eu era um fantasma tentando lembrar como era sentir meu coração bater. E eu já era esse fantasma a cinco anos.
Senti um arrepio diferente, algo que eu nunca tinha sentido antes e, quando olhei para frente, quase desmaiei no palco.
Eu não conseguia cantar, andar ou demonstrar qualquer reação. Meu coração parecia ter se esquecido que eu estava vivo e com certeza tinha parado. Ali, no meio daquela multidão, estavam meus pais abraçados. Os dois do jeitinho que eu conseguia lembrar. Minha mãe com seus longos cabelos negros e um sorriso tão aconchegante que me confortava só de olhar e, ao seu lado, meu pai, com um sorriso enorme, parecendo que estava assistindo a melhor coisa do mundo.
Aquilo não era real. Eu sabia perfeitamente disso, mas ainda assim, aquele era o melhor momento da minha vida em cinco anos. Eles estavam ali. Ou pelo menos pareciam estar. Os dois. Meus pais de braços dados, sorrindo e me vendo no palco, como eu sempre quis. Eu sentia que aquele seria o melhor show da minha vida, mas nunca poderia prever algo assim. E, qualquer que fosse a entidade que tinha me mandado aquela visão, eu seria eternamente grato.

- MUITO OBRIGADO POR HOJE, LONDRES! – Gritei após terminar de cantar a última música. – Graças a vocês, hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida. – Sorri e passei a mão pelos cabelos.
Encarei a imagem de meus pais no meio da plateia e sorri ainda mais.
- O dia 14 de fevereiro não é um bom dia para mim a cinco anos, mas hoje vocês me fizeram sentir felicidade verdadeira nesse dia tão difícil. – Respirei fundo ouvindo os gritos. – Muito obrigado, não só por hoje, mas por todo o suporte que vocês me dão. Eu amo vocês! – Sorri e encarei meu pai nos olhos.
Ele não estava ali, mas nos seus olhos eu conseguia ver o que sempre quis: orgulho. Meu pai estava orgulhoso de mim e isso era tudo que eu precisava.
- Até a próxima. – Falei me dirigindo para sair do palco. – E não se esqueçam: VOCÊS SÃO OS MELHORES FÃS DO MUNDO. AMO VOCÊS, OBRIGADO POR TUDO!

Sorri verdadeiramente para meus pais e para a multidão, andando lentamente de costas. Senti meus olhos marejados e meu coração se aquecer, a medida que a imagem dos dois sumia no meio do público. Desci a escada lateral e eu só conseguia sorrir. Encontrei Noah com os braços abertos e o abracei, sentindo as lágrimas correrem por meu rosto.

- Não fala nada, só vai. – Ele disse me esticando seu celular aberto em uma mensagem.
O olhei sem entender e comecei a ler, mesmo muito confuso.

‘Olá, Noah. Tudo bem? É o doutor Khalid, do Saint Claire Hospital, peguei seu número nos arquivos do hospital. Eu ia mandar mensagem para o , mas vi que hoje é dia de um show superimportante, então achei prudente falar com você. Preciso que ele compareça ao hospital o mais rápido que conseguir, se possível ainda hoje. Será que isso é possível? Aguardo o contato de vocês. Obrigado!”
Encarei Noah completamente confuso e ele deu de ombros. Respirei fundo e saí correndo. Eu não sabia o que era, mas tinha uma pequena desconfiança. Meu coração parecia que ia sair pela boca e assim que entrei no carro que Noah tinha deixado a postos, o motorista arrancou, seguindo direto para o hospital.
Passei pela porta principal do hospital e caminhei até o balcão.

- ? – Ouvi alguém me chamar e me virei e encontrando o doutor Khalid sorrindo para mim. – Que bom que você veio.
- Li sua mensagem. – Falei o encarando. – Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu. – Ele sorriu e apontou para a porta que dava acesso ao interior do hospital. – Me acompanha?
Assenti e seguimos pelos corredores do hospital. Aquele lugar me dava arrepios, me fazia lembrar dessa mesma noite, cinco anos atrás, quando meu mundo parecia ter desabado. Mas hoje algo estava diferente, eu não sabia o que, mas estava.
Ele parou em frente ao quarto 110 e eu o olhei, recebendo um olhar encorajador de volta. Levei minha mão até a maçaneta e só então percebi o quanto estava tremendo.
Abri a porta sentindo meu coração disparado e quase cai para trás. Cinco anos depois, no mesmo 14 de abril, lá estava ela, , sentada na cama olhando para a televisão com cara de tédio.
Ela estava acordada.
Eu não sabia mais como respirar e nem como andar. Eu estava travado na porta do quarto, sentindo meu coração bater tão rápido que parecia querer rasgar meu peito de qualquer jeito. Senti as lágrimas descerem livremente por meu rosto e então o seu olhar se encontrou com o meu. A sua feição, que antes era de tédio, se iluminou e ela abriu um sorriso incrivelmente lindo.

- Oi, . – Ela sorriu e eu senti minhas pernas fraquejarem.
Era informação demais para apenas alguns segundos. Aquele definitivamente era o melhor dia da minha vida.
Cinco anos.
Cinco anos visitando aquele quarto de hospital em todas as oportunidades que tinha e encontrando ligada àqueles aparelhos. Cinco anos sem resposta, sem esperança, sem ver o seu sorriso e ela finalmente estava ali, acordada e viva.
Assim que meu corpo se chocou com o dela, senti um arrepio percorrer toda a minha extensão. Era saudade misturada com amor, desespero e dor, mas aquilo finalmente tinha acabado. Fechei os olhos e a imagem de meus pais veio automaticamente em minha mente. Eu nunca acreditei em misticismo ou coisas paranormais, mas eu não conseguia explicar aquela visão e agradecia ao que quer que fosse, tanto pela visão, quanto por ter me devolvido . Meus pais ainda estavam mortos e eu sentiria sua falta todos os dias, mas eu não estava mais sozinho.

Afinal, o acidente não tinha me tirado tudo.


Fim!



Nota da autora: Olá, queridos. Mudei o plot dessa fic tantas vezes, que no final saiu algo completamente diferente do que pensei inicialmente, mas confesso que gostei bastante. Espero que vocês também gostem! E se gostarem, deixem um comentário para fazer a autora que vos fala feliz, hahahaha. Beijinhos! ♥ Grupo do face: https://www.facebook.com/groups/323599741600404/

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