Última atualização: 29/08/2018

Capítulo Único

Here we go, danger 위험해
It’s dangerous
어둠에 빛이 박힌 모양샌
Figures of light lingering in the darkness
더 서둘러 먼동 트기 전
Hurry more, before the day breaks


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A reação de durante todo o percurso de volta para o planeta através do lado mais distante do Outer Rim não era o que eu havia previsto que aconteceria. Ele estava sentado ao meu lado, em silêncio, com a musculatura firme no encosto do estofado, saltando espontaneamente suas veias enquanto seus braços tentavam permanecer imóveis no controlador da nave. Me remexi no assento, ouvindo o milésimo raio cair próximo da nave, acompanhando os ágeis movimentos de para que a nave se desviasse da tempestade de meteoros que viria a atingir a galáxia antes do que, novamente, eu previ.
— Sabe, um “obrigado” seria perfeitamente suficiente. — Foi só quando estávamos nos aproximando da Base que eu decidi me pronunciar.
expeliu um riso irônico e eu não soube dizer se o solavanco que se deu em sua garganta foi devido ao riso exagerado ou pelo golpe que um Stormtrooper lhe deu antes de derrubá-lo no chão e vir a ser magicamente salvo por mim.
— Que merda foi aquilo?! — Seu tom de voz sobressaiu o som berrante do motor. — Você poderia ter se matado! Eu estava muito bem lidando com tudo aquilo sozinho!
— Respondendo a sua pergunta, aquilo foi uma missão para te resgatar. Não se preocupe em me agradecer, foi um prazer, ! — Ele tossiu, não conseguindo realçar o seu tamanho deboche. — E eu não me matei, então não há necessidade alguma de entrarmos em uma discussão desnecessária e exaustiva, como todas as outras. — Respondi indiferente. — Meu pai me ensinou uma coisa e outra sobre como voar e lutar. Você não é o único com habilidades por aqui.
— Você acha que pode se safar de tudo só porque é a filha do General, não é? — disse surpreendentemente calmo e mais relaxado do que antes.
Encolhi meus ombros e pisquei para ele, jogando os pés por cima do painel e procurando uma barrinha de vitaminas pelo bolso. rolou os olhos ao se deparar com a minha despretensão em continuar com alguma provocação, bufando alto em seguida.
— Não é assim que fui criada para ser? — Quando a nave pousou, saltei da poltrona e estiquei os músculos, voltando a ganhar energia. vinha logo atrás, provavelmente articulando algum xingamento à altura, não se importando de ser educado e me acompanhar.
— Você tem sorte por ser boa no que faz.
, não é sorte, querido! É talento, algo que poucos infelizmente têm, mas quase todos almejam. — Falei alto para que ele ouvisse perfeitamente o meu tom convencido transparecer pela distância que se formou entre nós. Ouvi resmungar algo para outro piloto e gargalhei com a memória de quase se mijando quando a nave estava por um segundo de explodir.
Tageen me recebeu com um abraço acalorado no momento em que me viu cruzar os corredores da Base. Abri meus braços para retribuir a demonstração típica de afeto da minha prima e também melhor amiga, vendo-a ostentar um sorriso frouxo.
— Você não fez nada estúpido e idiota, não é?
— Estou aqui, não estou? — Dei de ombros e apertei rapidamente as suas bochechas, driblando suas mãos que tentavam atingir qualquer parte do meu corpo. — Se você perguntar para o , sim, eu fui uma idiota irresponsável, mas se perguntar para mim, não, só foi mais um dia no escritório.
— Você é tão igualzinha ao titio que às vezes me assusta. — Tageen me repreendeu com o olhar, cruzando os braços e caminhando marrenta mais à frente. — Falando nele, sabe onde é que aquele ser anda? Minha mãe está se descabelando toda vez que vê que ele não enviou nenhuma mensagem pelo rádio. Seus pais estão tentando salvar um novo planeta ou colonizá-lo e fugir da família?
— Se for assim, estarei também na parte da “família abandonada”, porque não tenho notícias deles há alguns dias. — Tageen evitou me lançar um olhar preocupado ou apreensivo, mas era visível que eu também me sentia da mesma forma que ela, apesar de tentar, ao máximo, esconder os meus sentimentos. — Eles devem estar agora brigando para descobrir quem foi o culpado pela missão ter quase fracassado e vão gastar mais algumas horas se reconciliando enquanto fabricam um irmãozinho para me presentear depois de tantos anos me ouvindo implorar. Não se preocupe, Tageen.
— Seu senso de humor é estranhamente cativante e isso me preocupa em níveis alarmantes. — Ela me olhou com os olhos estreitos como se estivesse pensando de qual parte da família herdei aquela característica e sorriu finalmente, dando de ombros e abanando as mãos, indicando que eu continuasse lhe seguindo.
— Ei, Solo, o está querendo falar com você. Pediu para encontrá-lo no Hangar. — Um dos pilotos gritou passando por mim antes de voar para fora da Base e correr em direção a algum lugar que eu não fazia um pingo de questão em saber.
Tageen levantou as sobrancelhas, lançando-me mais de um de seus olhares maliciosos e esfregando as mãos uma contra a outra e rindo diabólica.
— Ótimo. — Rolei os olhos com a insinuação exagerada de minha prima e acenei. — Nos vemos depois, se é que você não terá que me soltar da prisão por ter matado .
— Ah, claro, priminha. — Tageen respondeu. — Matá-lo de prazer, se bem te conheço.
Grunhi de nojo e lhe empurrei pelo ombro, mantendo distância de sua expressão e marchando para o Hangar, tentando não articular algo que criasse mais um cenário cansativo e interminável entre eu e .
Contornei o Hangar e me aproximei de , lhe vendo terminar o mais novo trabalho de manutenção e reparo na nave, consequência do meu inconsequente movimento brusco que poderia ter custado toda a extensão da veículo, mas principalmente a nossa vida. Quando me viu chegar, ele atacou um sorriso irônico, apontando para o estrago que causei, e retirou as luvas das mãos, esfregando-as pelo seu couro cabeludo em frustração.
— Se você não tivesse ficado todo nervosinho por eu ter salvado a sua vida, eu bem que poderia cogitar a ideia de você estar tendo uma paixão platônica por mim, piloto . — Apoiei o peso do corpo na lateral da nave e acompanhei o seu movimento corporal para retirar uma peça danificada. Ele a tombou ao fundo e esfregou as mãos pela calça, retirando o quilo de graxa que tinha.
— E o quê te fez ter essa impressão, Solo? — Ele piscou algumas vezes antes de rir e aceitar a provocação.
— Ah, seja realista, . Você me chamou aqui, só nós dois, ainda vibrando com a adrenalina de quase ter se matado na galáxia, não acreditando que eu embarquei em uma missão para te resgatar… Você deve estar pensando que poderia ter perdido tudo e não se declarado à tempo… Soa quase romântico aos meus ouvidos. — Brinquei com a gola da sua camisa, empurrando ainda mais para baixo e dando evidência para o arranhão em seu peito. — Se você quiser se inspirar na moda antiga e ser um fiel cavalheiro, a próxima coisa que fará é me convidar para tomarmos uma bebida ou darmos um passeio na galáxia desconhecida.
— Eu te chamei aqui para lhe agradecer por ter salvado a mim e à minha nave, mesmo que ela tenha apanhado muito por sua causa, e para me desculpar pela forma que reagi. — Ele mordeu a lateral dos lábios, forjando falsa preocupação.
— Bom, isso é ainda melhor que um jantar à luz das estrelas. — Eu sorri me apoiando em uma das asas. tirou as mãos dos bolsos das calças e apoiou o braço direito na altura da nave, enquanto o outro ficava pressionado atrás de meu corpo. — Podemos deixá-lo para um outro dia.
— Ah, é? Está combinado. — Ele murmurou contra a minha boca. Mordi os lábios reprimindo um sorriso e ri baixo, acompanhando o corpo de se aproximar ainda mais. Ele abaixou o olhar para a minha boca e alargou o sorriso, prendendo meu corpo contra o seu, descendo gentilmente a mão da nave em direção aos meus cabelos, enroscando os dedos pela extensão dos fios e transmitindo uma espécie de contato físico acalorado e eletrizante.
— Com certeza. — selou nossos lábios por fim, pedindo que eu deixasse que sua língua me relembrasse de outro talento nato que ele treinava esporadicamente comigo. Ele me deitou minimamente no suporte da asa e eu inclinei os braços para puxá-lo junto a mim, sentindo o peso de seu peitoral chocar-se contra os meus peitos. Ele riu entre o beijo, tentando recuperar o ar, enquanto eu não deixava que saísse impune das provocações em morder os meus lábios e não dar sequência ao beijo.
— Você é bem frustrante às vezes, já te falei isso? — Ele tentou dizer quando meus lábios se afastavam dos seus para voltar a beijá-lo ainda mais.
— Acho que uma ou duas vezes. — Respondi.
— E quantas vezes vou ter que pedir para não bancar uma de Princesa Léia? — Ele rebateu distribuindo selinhos demorados pelos meus lábios.
— Provavelmente muitas já que a Princesa Leia é a minha mãe e não há como eu não honrar os ensinamentos dela.— Ele gargalhou.
— Vou ter que tomar providências drásticas, então. — Ele cerrou os olhos quando meus lábios retrataram o verdadeiro estupor que aquela frase soou aos meus ouvidos. Segurei a sua nuca com carinho e beijei a lateral da sua bochecha, desmontando o clima erótico do ambiente e lhe deixando ainda mais frustrado.
— E o quê você pretende fazer? — Arranhei a extensão da sua nuca e ele gemeu baixo, apoiando a testa na minha. Olhou no fundo dos meus olhos, parecendo ter uma luz estelar escondida nas profundezas de suas jabuticabas, sorrindo cativante à medida que eu lhe apertava mais dentro dos meus braços.
— Na próxima pretendo dar uma de Han Solo e salvar a vida da minha princesa. Nem que eu precise vagar para te encontrar, te proteger e ser o seu salvador.

••●●••


— Você já pensou em se tornar uma Jedi?
A pergunta de veio de lugar nenhum e eu lhe lancei um olhar em dúvida, rastreando o vasto semblante de curiosidade que ele tinha no rosto.
— Você iria querer me ver usando aquele uniforme? Como faria para me tirar dele quando estivesse interessado em me jogar na sua cama? — rolou os olhos e me empurrou pelo quadril, continuando a mexer a rede de um lado para outro. Sorri em resposta, deixando meu olhar vagar pelo céu e ouvir os seus suspiros fracos.
— Sabe, a nossa vida seria diferente se eu me esforçasse para ser algo além do que sou agora. Eu poderia te dar um futuro, . — mirou seus olhos no meu semblante e parecia estar com dor, mas não daquelas físicas; a dor de ser alguém que não se considerava capaz de alcançar a felicidade.
— Nós não precisamos de funções ou status para mudarmos o que temos agora, . Tudo o que preciso está bem aqui. — Me aconcheguei entre seus braços e beijei o seu queixo. — Por que quer saber se já pensei em me tornar uma Jedi?
— Porque alguma hora alguém irá tentar te recrutar e você terá uma escolha a ser feita. — Ele apontou. — Vamos lá, estamos no planeta onde fica o Templo Jedi, é como se, indiretamente, fosse a nossa obrigação cogitar essa ideia. Não acredito que o seu pai venha a permitir que você se torne uma, mas eu te conheço e sei que nenhum “não” servirá de empecilho para você fazer o que bem entender.
— E você tem medo de que a minha resposta para essa pergunta seja “sim”? — não concordou, mas também não negou. — Por que você não quer que eu seja uma Jedi, ?
— Porque meu pai foi um. — Ele trouxe a memória à xeque. — E eu sei bem que as coisas não terminam bem para quem busca a salvação. Eu já perdi o meu pai, , não posso perder o amor da minha vida. Não quero te perder para o Código dos Jedi, para o mal da galáxia, para qualquer coisa que te tire de mim. Não quero e não posso.
— E você não vai, . — Afaguei as mãos pelo seu rosto e tentei lhe acalmar. — Estou aqui, com você, onde quero estar e onde estarei por todo o restante dos meus dias. É a minha promessa e, acima de tudo, a minha missão de vida. Ter um futuro com você é a minha missão de vida, , não importando o quanto tenhamos que lutar por um.
se sentiu tranquilizado e permitiu que meus carinhos fossem o único motivo para que ele permanecesse respirando com calma. Seus batimentos cardíacos eram uma espécie de avisos que ele precisaria aprender a suportar aquele tipo de emoção; de onde viemos, o pânico era a arma mais poderosa usada contra nós mesmos. Enquanto houver pânico, nunca poderemos atingir a nossa paz. Eu estava determinada a ser o seu estímulo para seguir forte nesta guerra.
Daqui todas as três luas de Tatooine eram claras e visíveis, tão brilhantes que meu tio, Luke Skywalker, poderia reconsiderar a sua teoria de que, se o universo possui um centro brilhante, nós estaríamos o mais distante dele. Tatooine era, em seu todo, o brilho que nos guiava.
— Olha quem está de volta. — Apontei para a lua de Chenini. — Lembra-se da primeira vez que a vimos daqui? Você a nomeou como “a nossa lua”. Parece que foi há uma eternidade, mas deve ter sido só há alguns meses.
— O tempo voa rápido. — sorriu ao primeiro sinal da lua de Chenini iluminando os nossos rostos. — Não tão rápido quanto eu no comando da minha neve, mas rápido o suficiente para fazer alguns fios brancos já surgirem na sua cabeça.
— Ei! Eu não tenho cabelos brancos! — Passei as mãos pela cabeça e bati no peitoral de . — Não ainda!
Ele gargalhou alto e rolou para cima de mim, tampando a minha visão do céu, escondendo o seu rosto entre os meus cabelos e nos enrolando no tecido da rede.
— Você está parecendo uma residente de Hoth. — apontou para o meu cabelo. — Com essa tonelada de pontos brancos no cabelo.
— Cala a boca antes que eu seja obrigada a usar a minha força contra você. — ofegou em descrença, fingindo espanto, e fez uma reverência.
— Me desculpe, queridíssima Princesa , estava apenas usando o meu bom humor para lisonjeá-la.
— Dizer que estou ficando com cabelos brancos é a sua forma de me lisonjear?
— Qual é o problema de eu preferir mulheres com aparência madura? — Ele tocou o próprio peito e suspirou magoado, me causando um semi-ataque de risos.
— O problema é que você fala demais, , e às vezes isso é o que te coloca em maus lençóis. — Tampei o seu rosto com o excesso do tecido da rede e segurou meus pulsos para que eu parasse de causá-lo uma quase asfixia.
agarrou a mão pela lateral do meu rosto e envolveu os fios de cabelo da nuca num abraço gentil com os seus dedos. A sua respiração pinicava no meu rosto e eu sorri vagarosamente com os relances físicos que o seu rosto fazia quando ele tentava ser charmoso e se segurava para não colar por fim nossos corpos. Ele acariciou a minha bochecha, brincando de desenhar algumas constelações na minha pele, mantendo seus olhos atrelados aos meus lábios.
Ele fechou os olhos e beijou a minha boca como se estivesse a experimentando pela primeira vez. Da mesma forma habitual, meu coração entrou em êxtase e todo o meu universo pareceu se iluminar como uma noite de Ação de Graças.
O infinito castanho de seus olhos encontraram os meus simplórios olhos e, com um sorriso que poderia me dizer tudo, não poupou de me alfinetar com uma de suas respostas sagazes.
— Estando com você, eu pouco me importo em quais lençóis me enfio.

••●●••


Era começo da noite e eu estava pronta para ensinar que, em nenhum momento de sua vida, ele deveria me desafiar à uma corrida galáctica, bem quando as naves eram como o meu berço e o universo o meu quarto. Eu conhecia de cabo a rabo todas as extensões daquela imensidão, tanto quanto conhecia bem as formas de deixar comendo poeira enquanto brigávamos para descobrir quem era o melhor.
Prendi o cabelo em um rabo baixo e solto, o suficiente para tirar do meu campo de visão e não se tornarem um empecilho na minha missão. Apertei as luvas até alcançarem a extremidade dos meus cotovelos e ajustei os cadarços das botas para que não as perdesse no percurso. Da última vez, por um infortúnio da vida, não prestei atenção nos meus pés e tive que dar adeus ao meu par de botas favoritos quando conseguiu retirá-los e lançar para fora da nave em um claro sinal de descontentamento com a minha manobra perigosa.
— Preparada para perder? — anunciou a sua chegada e arremessou o seu corpo pela minha cama. Empurrei o peso das suas pernas para fora e sentei na borda da cama, prendendo com mais cuidado o cinto da calça e dobrando a barra para que entrasse dentro da bota. — Estamos indo infringir algumas regras, não participar de um desfile de moda, . Pra que o look completo?
— Eu gosto de entrar de cabeça no papel, ok? Faz parte do meu ritual pré-vitória. — rolou os olhos e apertou a minha bochecha, correndo para o lado contrário do quarto antes que eu pudesse atingi-lo com algum objeto. Ele parou em frente à janela e manteve o olhar fixo no cenário por alguns minutos.
— Está escurecendo.
— O que foi? Passou a ter medo do escuro?
— Não do escuro, mas do que existe além dele. — olhou com seriedade para mim. Por um momento não entendi o motivo pelo seu comentário, muito menos a mudança de humor, mas em um lapso temporal instantâneo, ele voltou a me lançar um sorriso descontraído e deu de ombros.
O eco fino e irritante do rádio soou em cima da penteadeira e sorri alegre para , correndo para segurar o localizador e ouvir a voz de meus pais depois de todos esses dias.
— Finalmente lembraram que vocês têm uma filha?
Um pigarrear atrapalhou o que parecia ser a voz da minha mãe e sorri contente, tentando não provocá-la pela sua falta de habilidade em utilizar os aparelhos tecnológicos. Um murmúrio atrapalhado e desregular sobressaiu a falha técnica do aparelho e eu franzi a testa, aproximando o rádio da orelha.
— Mãe? É você?
— Querida, não tenho tempo para falar muito. — A voz da minha mãe se fez presente no quarto e, embora eu estivesse morrendo de saudade em ouvi-la, pude reconhecer de imediato que algo não estava certo.
engoliu em seco e sorriu vacilante para mim, estimulando com as mãos que eu a respondesse, já que petrifiquei no lugar.
— Estou te ouvindo.
— Você se lembra da história que te contei quando fui forçada a escolher entre entregar a localização da base da Aliança Rebelde ou ver o meu lar ser destruído pela Estrela da Morte? Lembra-se de que uma informação falsa me fez assistir Aldeeran ser explodido pelo Império?
— Lembro, mamãe. O que isso importa agora?
— Acontece que estamos revivendo essa experiência de novo, filha. Eu preciso escolher entre dar uma informação falsa ou ver o seu lar ser destruído, junto com todo o Templo Jedi e a base da Aliança.
— O que você está querendo dizer? Coruscant corre perigo? — Olhei para buscando orientação mental do único que poderia me estabilizar. — Me conte, por favor!
— Sim, querida. Coruscant, a Aliança, os Jedi e o seu pai.
— Mamãe, me diga onde vocês estão. Estou indo para aí agora mesmo! virá comigo, nós poderemos dar cobertura à vocês. Estaremos em vantagem e...
— Me desculpe, querida, mas não posso. Preciso cuidar das coisas sozinha, não posso colocá-la em risco. Eu e o seu pai fizemos uma promessa. — Embora minha mãe seja uma das criaturas mais fortes e destemidas que já conheci na vida, eu sabia que ela estava chorando. — Você ficará fora de toda essa bagunça, . Não podemos perdê-la.
— Estou implorando, mamãe, deixe-me ajudá-los! O que está acontecendo com o papai? O que eu posso fazer?
— Estávamos em Endor. Encontramos uma terceira Estrela da Morte e tentamos destruir, com a ajuda dos Ewoks, mas era tudo parte de um plano armado pela Primeira Ordem. A Aliança está corrompida e os Cavaleiros de Ren fizeram o seu pai de refém. Agora estou em algum lugar que não sei onde é, a única coisa que consegui salvar da nave foi o comunicador, mas já está prestes a quebrar. — Leia suspirou pesado. — Procure Luke e peça que ele use a Força para nos encontrar. É só isso que você precisa fazer, filha.
— E depois disso? O que precisamos fazer?
Mamãe suspirou derrotada. Era possível ouvir o movimento eufórico de seus pés, rodando em círculos, da mesma forma que fazia quando as coisas fugiam de seu controle.
— Diga que ele precisará descobrir quem é que está por trás do ataque e o porquê. Luke saberá o que fazer a partir daí.
A voz de minha mãe se tornou distante e, a medida que eu gritava contra o rádio, tentando ouvi-la novamente, segurava os meus ombros e pressionava os seus braços no meu corpo, impedindo que eu caísse.
A Aliança havia sido traída por um interno.
Alguém atraiu à todos e está tentando matar o meu povo.
A minha família.
Limpei o suor que despencava pelo meu rosto e avancei em direção ao Hangar. Antes de avisar Tageen de que precisávamos unir nossas forças, virei brevemente para .
— Prepare a nave. Nós vamos nos vingar.

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, minha doce sobrinha. Pelo o quê devo a honra dessa visita?
Tio Luke estava sentado em sua cadeira de balanço, na varanda de sua casa, balançando no ritmo do vento e sorrindo paterno para mim. Levantou-se com uma dificuldade que deveria ter sido resultante de algum treino de luta e corri para lhe abraçar, tentando não evidenciar o meu medo e pânico. Ele afastou o meu rosto do seu e sondou minha feição com cuidado.
O barulho do reator da nave ainda soava no meu tímpano e levei alguns segundos para assimilar as suas palavras. O clima de Tatooine estava mais quente do que em Coruscant, fazendo com que o meu uniforme pesasse ainda mais.
— O quê aconteceu? — Ele disse por fim, entendendo que a minha visita não era com o intuito de revê-lo somente pela saudade que sentia.
As palavras se prenderam na minha garganta e estava sendo difícil de contar a ele o que diabos estava acontecendo quando nem eu própria tinha ideia do que era.
— Estamos sob ataque, senhor. — foi quem criou ânimo nas cordas vocais e respondeu. Luke olhou por cima dos ombros e virou-se para , recebendo-o com um aceno acolhedor. — Leia e Han foram traídos. — limpou a garganta. — Os Jedi foram traídos.
Luke sentou de novo na sua cadeira e respirou fundo, digerindo as informações que jogamos em seu colo. Ele pressionou a palma da mão contra a boca, pensando em algo que eu daria tudo para descobrir o que seria.
Seu olhar encontrou o meu e ele sorriu, mesmo que não houvesse um rastro de alegria em sua face, esticando a mão para mim.
— Chegou a sua vez de mostrar que, assim como a sua mãe, você também luta como uma princesa, .

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— Avisem à Ordem de que precisamos proteger a propriedade. O Imperador tentará dominá-la. — Luke transmitiu a mensagem para um de seus vinculados. Ele olhou ao fundo de Coruscant e viu que o caos já havia se instaurado no planeta. Sem dar um devido olhar para mim, sabendo que aquela cena seria o suficiente para desarmar minhas barreiras e fragilizar o meu sentido, tio Luke me impulsionou para frente e fez com que eu entrasse na nave.
— Não deixe que essa imagem corrompa a visão que você têm do seu lar, querida. Coruscant é o seu planeta e sempre será, não importando quem tente mudar isto.
A voz de voltou como um raio na minha mente, atingindo o que restava do meu subconsciente.
Eu poderia te dar um futuro, .
Não haveria futuro para nós em Coruscant. Não haveria ao menos Coruscant se eu não fosse capaz de impedir o que aconteceria.
— Eles estão atrás de mim também, . — Olhei para ele. — E não terei tempo para fugir.
— Não diga isso, titio. Acharemos uma solução. — Tentei encorajá-lo.
— Você não entendeu, querida. — Ele rodou o seu assento em direção ao meu e apoiou os cotovelos nos joelhos, mantendo o rosto em direção o que restava da minha postura. — Eu não terei tempo, mas vocês sim.
finalmente o olhou.
— Eles estão atrás do último pedaço do mapa que os levará até o Mestre Jedi. Esse pedaço foi encontrado pela Resistência e nós conseguimos ocultá-lo, mas pelo o que parece alguém nos dedurou. Nós precisamos resgatar aquele fragmento, , só assim iremos vencer.
— E onde ele está?
— Em Jakku com o Lor San Tekka. Ele está escondendo o fragmento, mas não levará muito tempo para lhe encontrarem. — Luke coçou a barba e olhou vago para longe. — O problema é que esta é uma missão perigosíssima e não poderá ser confiada a qualquer um. Precisamos da melhor dupla de pilotos que exista para chegar até lá.
Meus olhos foram diretamente à musculatura rígida de . Ele já não olhava mais para nós e não custaria muito para entender que era porque ele não teria forças para resistir ao pedido de meu tio. Aquilo era uma missão que poderia facilmente terminar com as nossas vidas, nossos sonhos e nossas esperanças.
Mas ao mesmo tempo aquela era a nossa única oportunidade de ter um futuro.
— É tudo ou nada, . — Eu murmurei não me importando com a proximidade de meu tio. concordou com a cabeça, afobado, apertando ainda mais as bordas do volante, deixando suas juntas esbranquiçadas e dormentes. — É a nossa chance.
— É a nossa chance. — repetiu criando convicção na frase. Levou alguns minutos para que ele concluísse a hipótese. Me coloquei atrás de seu assento acariciando os seus ombros e acalmando-o do que viria a seguir. Não seria fácil, longe disso, mas teríamos um ao outro.
— Faremos isso? — Perguntei.
tirou a mão esquerda do volante e apertou a minha sob o seu ombro.
— Faremos isso.
Tio Luke suspirou baixo, mas não o bastante para criar uma atmosfera mais mórbida e temerosa no ambiente. Ele levantou e parou ao nosso lado, olhando para fora da nave, vendo que Kamino já criava forma.
— Vocês precisarão de um caça. — Ele disse olhando em volta para o estado da nave.
sorriu com um rastro de motivação que ressurgiu de alguma profundidade interna.
— Eu posso voar em qualquer coisa. — comentou, deixando tio Luke sem fala por um momento, para depois sorrir e dar um tapinha nas costas dele. — Aprendi a pilotar em um A-wing Interceptor RZ-1. Essa nave aqui é quase um tesouro na minha mão.
— Devo dizer que você é bem seguro de si, garoto. — Tio Luke provocou. — Ainda mais por estar saindo com a minha sobrinha, a filha de Han Solo e da Princesa Leia, o casal ternura do universo.
— Tio! — Retribuí um olhar repreensivo e senti as minhas bochechas ruborizarem. Os dois homens no recinto olharam para mim com distintos humores e eu só me limitei a rir, atordoada com a forma que era tão nítido o meu envolvimento com , e torcendo para que, quando meu pai voltasse para casa, não me obrigasse a organizar um jantar para que ele sondasse o, agora, genro.
— O quê foi? Espere para Han saber da novidade. — Ele deu de ombros fingindo demência.
— Ele já sabe. — disse. Olhei incrédula. — Seu pai sempre soube, até mesmo antes de nós.
É claro que ele sabia. Além de ser o meu pai, ele também é o meu melhor amigo. Conhecia meus nuances com a palma de sua mão, não perdendo nenhum detalhe minúsculo de quem eu era. Ainda mais quando eu era tão óbvia sobre os meus sentimentos referentes à .
— Por que tenho a impressão de que essa guerra vai ser infinitamente menos amedrontadora do que apresentar o meu primeiro namorado ao meu pai?
— É porque seu pai é seu pai. — Tio Luke disse. — E a guerra preferida de Han vai ser contra quem tentar tirar a sua filhinha do ninho dele.
— Muito obrigado pelo apoio moral, pessoal. Me sinto muito mais confiante agora. — simulou o sorriso mais falso da constelação.
— Você ainda tem tempo para desistir. — Eu lhe adverti.
sorriu sem olhar para mim.
— Nem em um milhão de anos-luz, starlight.

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Ao respirar fundo após um dos meus episódios de insanidade momentânea, a tempestade de meteoro já estava quase alcançando a nossa nave e dificultando as nossas chances de chegarmos à Jakku. As mãos de trabalhavam elétricas pelo painel de comando, buscando uma solução prática e emergente para evitarmos o inevitável, enquanto meu corpo mantinha-se congelado num estado de consciência desnecessária. O calor emanando do motor queimando logo no ponto mais próximo da porta de saída deveria ter sido o despertar que me fizesse retomar os sentidos e tomar uma atitude de que, de fato, trouxesse algum proveito para nós.
Ao contrário disso, a única coisa que se passava na minha cabeça era que, apesar dos sete bilhões de fragmentos meteóricos que poderiam nos atingir em segundos, não parou de lutar, nem por um segundo, para nos salvar.
nunca recuou e nunca pareceu estar determinado a fazê-lo. Entre sete bilhões de motivos para desistir, ele se apegou em um único motivo trivial: a esperança.
Enquanto houvesse esperança, haveria justiça. Enquanto houvesse justiça, ainda haveria a possibilidade de fazermos tantos feitios pelo nosso universo.
Eu estava me direcionando para uma dessas oportunidades. Nas minhas mãos continham a hipótese da persistência, da garra e, especialmente, da prova de que iríamos lutar — até mesmo quando as razões parecessem soar tão pequenas e esdrúxulas.
Somos a Resistência e jamais iremos servir.
Iremos Resistir porquanto for necessário e, após isto, continuaremos Resistindo.
Somos a maldita Resistência.
— No dois você ativa os defletores. No três eu nos projeto para fora. — levou alguns segundos para entender que eu falava sério. As suas pupilas dilataram e no mínimo resultado de rejeição, eu me apressei para poupá-lo. — É o que nos resta, .
— A chance de um meteoro nos acertar e transformar esse seu delicioso corpo em restos mortais é ridícula de enorme, . — Ele tinha quase humor no tom de voz. — É arriscado demais e eu não posso te colocar ainda mais em perigo.
— Eu não estou te pedindo autorização, estou te avisando. — Ajustei a trava de segurança em minha cintura e cheguei quatro vezes se os pinos estavam devidamente presos. Olhei para ele sustentando o contato nítido de receio e incerteza, sorrindo em seguida. — Vamos lá, não pode ser tão ruim. Talvez uma pequena amostra do inferno, mas que diferença faz se já fomos para lá infinitas vezes?
— Você não pode estar levando tudo isso na plena naturalidade, francamente! — Ele olhou para mim finalmente. — É sério, , não brinque comigo agora. Você quer fazer isso?
— Eu poderia continuar surtando e tendo o ataque de pânico do século, mas isso não mudaria a nossa realidade. Vamos morrer dentro de dois minutos se ficarmos aqui para descobrir quanto tempo conseguimos sobreviver a uma explosão. A nossa maior chance está lá fora, por mais estúpido que isso soe. — abaixou os olhos para as suas mãos e vi seus dedos transpirarem. Ele estava preso em uma linha de confronto com a sua consciência e o seu coração, lhe colocando para escolher aquilo que ninguém deveria ser obrigado a um dia ter de optar. — Estou escolhendo isso, , o risco é meu, mas se você preferir confiar nessa lata de sardinha e morrer aqui dentro, então serei obrigada a escolher o mesmo. — Ele fechou os olhos e suspirou fundo, assentindo com a cabeça, desprendendo as mãos do volante e encontrando as travas de segurança. A projeção da cabine estava pronta para ser feita e os seus dedos já se esbarravam com aquele único botão azul capaz de nos salvar ou nos destruir. — Faremos isso?
apertou a palma da minha mão por cima do banco desgastado e afundou a força na lateral do assento, assegurando que nosso contato não fosse quebrado.
— Faremos isso.
No dois, apertou os deflatores e um brilho cegante borrou a minha visão do que parecia ser o nosso fim. A camada de energia nos cercando e impedindo que os fragmentos mais minimalistas tocassem em nossa superfície decretou que a minha escolha tinha sido oficializada.
No três eu nos projetei no ar e, no próximo segundo, nada mais foi passível de ser compreendido.
Não porque nos livramos da tempestade, mas sim porque estávamos na escuridão.
E essa sim era infinitamente pior porque o breu do universo, quando encontrado, poderia ser mais cruel e fatal que uma estrela cadente eclodindo diante de nós.

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Antes mesmo de abrir os olhos eu pude reconhecer que algo havia saído errado. Aquele instinto traiçoeiro e apelante que causava uma espécie de medo antecipado e imprevisível, se é que poderia ser possível, era tão massante que abrir as pálpebras parecia ter se tornado o meu maior pesadelo.
Algo em volta de mim estava se movendo, ou afundando, eu não sabia dizer. O meu corpo cambaleou para o lado no momento em que tentei criar movimento nos meus pés, jogando-me na direção de uma espécie de vala. Meus olhos ainda doíam e no mínimo período de tempo que eu tive a oportunidade para raciocinar, descobri que deveria ser consequência de algum corte na área mais elevada do meu rosto.
Deslizei a língua pelas bordas dos meus lábios e o gosto de sangue seco e molhado, ao mesmo tempo, me alertou que eu cheguei a sangrar e ainda sim continuava a perder sangue. Devo ter ganhado uma cicatriz enorme de presente, mas o importante é que eu ainda estava viva e tinha chance de continuar vivendo.
Senti a extensão do corte na pálpebra do meu olho direito e, com muito esforço, consegui abri-lo minimamente com a ajuda dos meus dedos pressionando a abertura dos cílios. Não houve claridade inundando o meu campo de visão, nem um ponto de luz para me antenar de onde eu estava, então levei alguns segundos para entender se eu havia me cegado ou ainda estava na escuridão.
O breve ranger de uma porta soando na altura do que parecia ser distante de mim me motivou o bastante para estimular a força mais bruta do meu ser e criar ânimos nas pernas para levantar e procurar .
Quando minhas pernas fraquejaram com o estímulo, pensei em todas as vezes que ele foi o motivo para que eu não perdesse a vontade de fazer diferença, de ser mais do que a filha do General, a sucessora da princesa, a consequência genética de dois grandes heróis que precisavam de uma filha que estivesse motivada a ser tudo aquilo que eles foram, são e ainda serão.
era todas as minhas respostas para as perguntas que me faziam desmontar por muitas vezes.
Eu precisava só de mais um segundo para ficar mais forte. Só mais um.
Havia mais sangue nas minhas pernas, eu não tardei em notar. A dor, contudo, não estava abalando os meus sentidos nem me atrapalhando para continuar forçando um resultado — talvez fosse adrenalina ou um profundo estado psicológico de desequilíbrio que me condicionava à esquecer do trauma e me fizesse persistir na luta, tanto faz. A verdade é que, naquele momento, eu não me importava com nada mais do que .
Tudo para mim girava em torno de tê-lo ao meu lado. A vida parecia ser difícil e dolorosa demais de enfrentar se eu não pudesse olhá-lo com os olhos de quem o amava com todo milímetro de amor que poderia existir dentro de mim. Imaginar-me sem aquele homem para me ensinar a continuar Resistindo era o mesmo que ter a certeza absoluta de que não haveria chances para mim.
Não sem .
Se eu não o tivesse comigo, pelo o quê eu lutaria?
Starlight. — O apelido derramou-se pelos meus lábios após um choramingo ter sido mais forte que o meu autocontrole. Minha cabeça latejava na lateral, contribuindo para que piscar se tornasse uma missão mais impossível. Segurei a minha coxa e empurrei com os braços para o lado, tentando colaborar para que o tremor diminuísse e eu pudesse me erguer. O cheiro amargo de fumaça queimada reprimiu as paredes dos meus pulmões e eu acreditei que aquilo era a cereja do bolo.
Não adiantaria de nada tentar levantar, não quando eu não teria forças para continuar em pé. Não adiantaria abrir os olhos se eu não fosse ver nada além de escuridão. Não adiantaria chorar se não havia ninguém para me ouvir.
— Me desculpe, starlight. — Sussurrei contra a palma de minha mão. — Acho que chegou a minha hora de partir.
— Não ainda, meu amor. Não hoje e não aqui.
Meu coração poderia incendiar todo o universo e guiar todos os desafortunados de volta para casa se a energia que se expandia de mim pudesse se tornar real.
Sua voz soou um pouco longe de mim, mas era como se eu o ouvisse com os lábios grudados no meu ouvido.
Não tive muito tempo para compreender a espécie de milagre que atingiu minha vida naquele momento, mas meu corpo se ergueu como uma muralha sobrepondo-se diante do chão, levando comigo todo e qualquer resto de desgraça que deixamos para trás. Minha pele pelava e eu não soube dizer se era por causa de queimaduras ou pela chama de amor que me tomou.
Um par de mãos tocaram minha cintura e eu não precisei de mais nada para reconhecê-las.
— Eu te falei que não era uma boa ideia.
Eu gargalhei a ponto de sentir minhas bochechas estralarem de dor. Aos poucos sua forma tomou distinção em minha visão e um fio de sangue descendo pela sua testa e encontrando o seu pescoço massacrou o que restava da minha sanidade. Minhas mãos limparam aquela sentença da minha escolha e eu suspirei fundo, negando-me a me condenar agora.
— Você sabe que eu faço tudo errado. — Ele sorriu contra os meus cabelos e quando os seus braços tomaram o meu corpo, me senti de volta ao lar, embora estivéssemos distante do que conhecíamos como nosso porto seguro.
— A pancada na cabeça deve ter sido forte para te fazer começar a assumir que estou certo. — Dei um tapinha em suas costas e ele tossiu fingindo dor, apertando-me ainda mais contra si. Meu corpo não doía mais como antes, não estava mais frio nem trêmulo. Eu deveria saber a esta altura do campeonato, que a minha energia vital nunca veio de vitaminas ou de treinos árduos.
era toda a vida que existia dentro de mim e deve ter sido por isso que eu não me permiti morrer quando a cápsula encontrou terra firme. Ainda temos muito a vivenciar juntos, muito a construirmos. Não seria alguns bilhões de meteoros que nos impediriam disto.
— Estamos em alguma parte de Jakku. A parte mais sombria, suponho. — rasgou a borda de sua camisa e fez um curativo em torno da área cortada do meu olho, prendendo na parte de trás de minha cabeça, deixando que o meu olho pudesse se abrir completamente e não continuar a sangrar. O campo de visão finalmente se atenuou e eu pude reconhecer que aquele era o conto de terror que tio Luke sempre me advertiu a nunca conhecer.
— Péssima aterrissagem, . Não era você o número um da turma? — Brinquei com a sua carranca assustada. Ele se empenhou em não rebater, mas o rolar de seus olhos denunciaram que eu tinha conseguido lhe distrair, superficialmente, do temor que ele sentia.
— Você está fraca. Precisamos te arrumar água. — disse. Apertei a sua mão e indiquei com a cabeça para que continuássemos. — Céus, meu mundo acabou quando eu te vi desacordada. A Escuridão parecia o Paraíso perto do inferno que enfrentei tentando tê-la de volta… Por um minuto achei que estava delirando quando ouvi a sua voz.
Sorri, embora os movimentos dos meus lábios ardessem como fogo pelando minha alma, e estiquei minha mão até o topo de sua cabeça, acariciando-o com cuidado.
— Eu sempre voltarei para você, lembra? — Ele assentiu atônito, parecendo não estar crente de que, em pele e osso, eu estava ali. tocou as minhas bochechas e fungou alto, sugando todo o nervoso e desespero que ainda exalava de seu semblante.
Todas as partes do meu corpo pareciam estar travadas e imobilizadas, mas o meu coração assumia a dianteira da situação e me condicionava a continuar acreditando que, até mesmo quando tudo desabar e eu não tiver mais controle de nada, ele continuará resistindo e sustentando o amor que eu sentia por aquele homem.
— Não me olhe como se eu estivesse prestes a evaporar. — Apertei a ponta de seu nariz, tentando fazê-lo rir, e bati levemente a palma de minha mão em sua coxa, encorajando-a a sorrir e levantar. — Irei descansar depois de encontrarmos Lor San Tekka. Até lá, eu aguento.
— Aí que está o problema, . — riu, retomando os seus ânimos e suspirando baixo. Ele se ergueu, levando-me consigo, e levou alguns segundos para estabelecer a sua linha de pensamento. Seus olhos correram pelo ambiente e ao passo que os meus ainda se acostumavam com o que eu via, parecia estar perfeitamente habituado à realidade. — Nós encontramos Lor San Tekka. Quero dizer, encontramos o que era a sua casa. — Ele apontou para o entorno e só com o seu realce eu percebi que haviam pousado em cima de uma cabana ou, pelo menos, o que parecia ser uma.
— Como você sabe que é aqui que ele mora, digo, morava?
fechou o seu semblante.
— Há pegadas de Stormtroopers pela redondeza. Chegaram antes de nós. — Assenti. — Mas não dá para saber se conseguiram levar o que queriam.
— Então é isso que precisaremos descobrir. — Firmei meu braço em volta de seu pescoço. — E quem diabos é Lor San Tekka?
— Isso eu posso te responder com honra, senhorita. — retirou seu sabre na velocidade da luz, estendendo-o contra a escuridão, iluminando apenas um equivalente mínimo de espaço físico que não era vantajoso para nós. Minha mão foi parar na arma presa em minha cintura e o disparar de suas balas ecoou no fundo geográfico de caos que a tempestade atribuiu ao cenário.
— Vocês de Corsant possuem um jeito peculiar de se apresentarem. — A voz rouca e cansada finalmente fez presença quando se aproximou o suficiente do sabre de luz de . A ponta encontrou o peito do homem e, num sorriso cúmplice e sagaz, ele não precisou de mais delongas para matar a nossa dúvida.
— Lor San Tekka. — Eu me pronunciei. — Não era nessas condições que eu queria que nos conhecêssemos, mas o senhor deve entender, não é?
— Completamente, princesa. — Ele respondeu categórico. Seus olhos percorreram por mim e um sorriso mais amolecido substituiu aquele que poderia ser comparado com um inimigo pronto para lutar.
— Por favor, as formalidades ficam dedicadas apenas em homenagem à minha mãe. Eu sou simplesmente .
— Uma verdadeira princesa nunca se vê como uma princesa, senhorita , mas não se preocupe, o gene do ego herdado dos Solo em breve irá se revelar. — Curvei meu rosto e arqueei a sobrancelha. O tom ao qual o homem se referiu ao meu pai não foi o mais prazeroso de se ouvir, mas tratei de respondê-lo com um olhar que foi o bastante para que ele captasse que não gostar de brincadeiras desnecessárias era outro gene que herdei de meu pai. — Vejo que não veio desacompanhada. Segurança particular?
— Esse é . — Descruzei os braços e cessei a distância entre eu e . — O meu namorado.
O homem sorriu quase debochado e pareceu esperar que eu risse e anunciasse a piada. Quando percebeu que não havia nenhum ponto de humor no meu rosto, ele forjou pouca surpresa.
— Você e a sua mãe têm alguma coisa por pilotos, huh?
— E no quê mesmo isso diz respeito ao senhor, se não se insulta com a minha curiosidade?
sorriu ao meu lado e arfou o peito um pouco mais. Lor San Tekka revezou o olhar entre nós e, por fim, desabou os ombros.
— Em nada, senhorita. Desculpe-me pela indiscrição.
— Ela vai te desculpar se você nos entregar o fragmento que falta do mapa. — anunciou, só pelo tom de voz, que não estava no momento perfeito para dar continuação à enrolação do homem.
Lor San Tekka buscou ratificação em meu semblante. Cruzei os braços novamente e mantive o silêncio como o único indicador de que não haveria o que falar. Se tio Luke via um amigo naquele homem, não seria eu quem estaria interessada em descobrir o porquê. Depois de todos esses anos eu não tive mais vontade de entender de qual buraco de minhoca meu tio tira suas amizades.
— Skywalker foi quem enviou vocês até aqui? — Ele tossiu e abanou com as mãos a fumaça resultante de nossos motores explodidos.
— Meu tio tem suas particularidades quando o assunto é ser pouco revelador e esclarecedor quanto às missões que nos dá. — Rebati. Aquele indivíduo estava começando a me tirar do sério com a sua determinação em atrasar cada vez mais o nosso plano. — Só sabemos que tínhamos que encontrá-lo para recuperar algo que pode nos dar uma vantagem contra O Império.
— Luke sabia que isso viria a acontecer. Custava ter vindo por conta própria, bem antes de destruírem metade do universo? — Ele resmungou revirando dentro de sua bolsa de pano pregada na sua cintura.
— Você sabe, ele não é conhecido por ter um coração esperançoso à toa.
Lor sorriu menos superficial e mais vívido. Seus dedos correram pela borda de um material velho e eu reconheci de imediato que aquilo era o que faltava para completarmos o mapa.
— Quando tudo isso acabar diga a Luke que eu quero uma cabana nova em folha. Nada de um projeto de cabana, mas uma com madeira de verdade. — Ele advertiu. — Com direito a uma lareira.
— Se estivermos vivos quando tudo isso acabar, eu darei até mesmo um planeta inteiro só para o senhor. — Estendi a mão. — É bom manter os sonhos em dia, são eles as razões para continuarmos lutando.
O fragmento parecia minúsculo nas mãos do homem, mas aos meus olhos eram como um portal majestoso em direção à tudo que acreditei poder existir em nossas vidas quando a Resistência vencesse.
— Prometam que irão Resistir.
foi quem pegou o fragmento. Ele guardou com cuidado embaixo do que restou de seu casaco e ajeitou o tecido enquanto levantava o dedo indicador para o céu e esboçava um sentimentalismo que me derretia.
— Resistiremos ao infinito e além, até quando não existir mais o que conhecemos como além. Depois disso, ainda sim continuaremos Resistindo. Sempre.

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O nascer do sol indicava que mais um dia havia chegado e o tempo corria contra nós. Sem uma nave para pilotarmos, a única chance que tínhamos de sair deste planeta era tentando encontrar alguma alma caridosa que pudesse nos vender algum protótipo de caça, por mais simples e fajuto que fosse, o suficiente para nos ajudar a chegar até onde tio Luke estava tentando impedir que outros milhares de stormtroopers causassem mais desgraças pelo universo.
No bolso de trás da minha calça só existiam poucas notas de dinheiro e moedas que não serviriam nem para tomar um leite. revirou por algo que completasse a minha quantidade inútil de dinheiro e, igual à mim, ele não portava nada que fosse contribuir para o nosso brilhante plano.
— O que vamos fazer? Oferecer os nossos serviços em troca de uma venda parcelada? — tentou agir com humor, mas a minha pouca paciência denunciava que eu estava a um pulo de perder o bom senso.
— Precisamos de algo com retorno imediato. — Olhei em volta. — As feiras em Corsant são muito mais organizadas, fica mais fácil distinguir os vendedores dos pilantras. — Pensei alto. As pessoas se movimentavam afobadas sem rumo certo, zanzando entre as barracas, empurrando as sacolas contra todo mundo que se aproximasse com mais violência. Ao fundo, as barracas de alimentos estavam quase sumindo no campo de visão, já chegava próximo do horário do café da manhã e muitos provavelmente estavam tentando comprar os alimentos mais frescos do dia.
Meus olhos trombaram com uma barraca, à direita de onde se enfiava, com um catálogo recheado de pedrarias raras. A mulher sorriu harmoniosamente para mim quando notou que seus produtos tinham atraído a minha atenção e com um aceno de mãos me convidou para experimentar uma pulseira que ela já tinha quase posta em meus braços.
— Combina com o brilho dos seus olhos, querida. — Ela disse, sorrindo mais abertamente e apontando para o espelho, indicando a cor dos meus olhos. A pedra era uma ônix mesclando com uma tom cobre amarronzado, difícil de identificar, mas fácil demais de se encantar. aproximou-se de nós e tocou a pulseira no meu braço, sentindo o contato gelado do material eletrizar os seus dedos. — Você deveria dar de presente para a sua amada, rapaz.
— Talvez algum dia eu tenha condições para presenteá-la com uma preciosidade deste nível. — respondeu. Sua voz carregava um pouco de tristeza e minha mão buscou a sua com emergência, detestando que ele ousasse pensar que eu viria a precisar de uma pulseira cara para me sentir feliz. A mulher nos encarou pelo tempo que perdurou e eu sorri tímida, colocando a pulseira em seu lugar de origem e, quando empurrei os fios de cabelo para trás da orelha, lembrei-me do conjunto de brincos que usava, tendo um “click” mental que era tudo o que nós precisávamos.
— A senhora também compra pedras? — A mulher apoiou uma das mãos na mesa e a outra na altura de sua cintura, olhando para nós com curiosidade e um pouco de espanto.
“De onde você tiraria uma pedra preciosa, garota?” Era quase o que a sua expressão respondia. Para não ser insensível ou rude, a mulher sorriu simplesmente, acenando com a cabeça e esperando que eu desse continuidade ao assunto.
— Você não precisa fazer isso, . — pareceu entender o meu objetivo. Eu me endireitei em direção a mulher e me forcei a ignorá-lo. — Podemos arrumar outro plano.
— Está tudo bem, . — Sorri para ele. — Há vários outros como esse, posso voltar aqui e comprá-lo de novo outro dia. — Virei-me para a mulher e tirei os brincos de minhas orelhas. Por ser uma pedra famosa e cara em Corsant, a venda dela em Jakku me renderia uma boa espécie de dinheiro, ajudando a comprar algum caça no ferro velho para chegarmos ao nosso destino. O tempo continuava a correr e nossos minutos iam embora junto às chances de vencermos o Império. Brincos se tornaram simplesmente bens materiais supérfluos e inúteis para mim. — Quanto a senhora oferece por este par?
Suas bochechas ruborizaram e seus olhos se expandiram em graça. Ela sorriu contente, tocando com carinho nas pedras, já abrindo prontamente a sua carteira.
— O quanto você tiver em mente. — Ela aguardou pelo meu pedido e olhei para ainda tentando descobrir o quanto seria o bastante. Olhei para a placa do ferro velho e vi que havia uma placa dizendo que “o preço da casa começava a partir de quinhentas coroas”.
— Acho que mil coroas está bom. — Ela passou a contar as notas e me entregou, praticamente arremessando o dinheiro em minha mão, voltando a dedicar sua atenção ao novo adquirido de seu catálogo. Sorri convencida de que aquela tinha sido a melhor venda que fiz nos últimos anos e agradeci rapidamente, puxando para onde teria a nossa oportunidade de voar para bem longe.
— Em busca de um pouco de diversão, crianças? — O cara que deveria ser o encarregado de vender os caças descruzou os braços e nos ofereceu um aceno cortês. riu humorado, retribuindo o gesto do homem, e caminhou à frente vasculhando por algum caça. — Estão dispostos a pagar até quanto?
— Mil coroas. — respondeu. — Serve para você? — Ele virou-se para o homem e apontou para um caça que parecia ter alguns bons anos de uso, mas ainda conservava intacta a sua pintura de guerra. O número “88” se talhava no capô deste, em vermelho, e o restante todo branco. A ponta rangeu quando fiz menção de abri-la e uma cortina de pó se desprendeu do interior ao ter o peso do meu corpo se chocando com o assento um tanto duro e rasgado. checou o motor frontal e me mandou um joinha em resposta. Ele murmurou um “dá pro gasto” e eu desci.
— Ele vale um pouco mais que mil, mas posso fazer um desconto para os turistas. — O homem deu de ombros. — Para a princesa estar no meu ferro velho querendo comprar esse caça da guerra retrasada, só pode significar que algo deu muito errado no Planeta Das Maravilhas e eu possa vir a ser um herói por ter lhe dado cem coroas de desconto. — Ele piscou para mim e estendeu a mão para . — Vá, me entregue o dinheiro e dirija logo esse caça antes que eu me arrependa por ter sido caridoso mais de uma vez só hoje.
fez menção de passar o dinheiro para o homem, mas retardou seus movimentos quando virou-se para mim, sorridente, desabando sua carranca extrovertida em um semblante assustado e aflito. Girei-me no sentido contrário para descobrir o grande motivo para desmanchar a vibrante alegria da pessoa mais terna que existia no meu mundo e no mesmo segundo vi a dúzia de stormtroopers invadindo a sorrateira mecânica daquele homem e partindo em direção a mim. Suas armas presas contra seus braços, arremessadas no meu peito, fizeram minha respiração sair mais desregular do que seria aceitável para aquele momento. Minha visão turvou e eu sabia que de alguma maneira não sairia ilesa desse encontro. Meu corpo tomou-se de uma energética vontade de correr para perto de e lutar até que não houvesse um amanhã, mas o hoje não tardou em se acabar para mim.
O primeiro choque lançado foi o que me levou ao chão. Durante o meu percurso de encontro a terra, pude contemplar as veias de pulsarem a ponto de parecerem estourar de sua garganta e o salto que ele deu para conseguir impedir que os stormtroopers me levassem para longe. Um deles conseguiu me segurar em seus braços e me jogar violentamente no canto da nave, enquanto eu não sentia mais o próprio controle em meu corpo e ofegava desesperada por um pouco de ar ou fôlego.
Ao passo que ele tentava chegar até a nave, a minha mente deixava de processar com clareza o que era tão pertencente à mim — a presença de e todas as memórias que construímos juntos. A cada segundo, um pouco dele se partia do meu subconsciente, deixando um rastro confuso e sufocante.
Parte de mim sabia o que aquilo significava: eu estava o esquecendo.
Algo estava fazendo com que fosse um mero projeto de memória deflagrada e irreal na minha mente. Quando ele impulsionou o corpo para se apoiar na parte baixa da nave e desferiu golpes no stormtroopers, eu já sentia minhas têmporas pesarem e contribuírem para que meus olhos fechassem por fim. Naquele minúsculo lapso de tempo, deixei uma solitária lágrima se desprender e sofresse pelo meu fim. O golpe dado em minha nuca não foi apenas com o intuito de me derrubar e me deixar vulnerável — além de ser cruel e impiedoso, o golpe foi dado com o propósito de me envenenar.
Cada partícula do meu corpo se contaminava com o nojento e rancoroso vírus do Império, consumindo tudo aquilo de bom que existia e escurecendo a pessoa que ainda resistia dentro de mim.
Estava sendo rápido. Torturante e um tanto insuportável, mas rápido demais para que eu não conseguisse voltar a respirar tranquilamente.
Eu deveria ter resistido mais. Um pouco mais, o suficiente para não deixá-lo à mercê do que estava reservado para ele.
Eu deveria e, de alguma forma, eu iria Resistir, nem mesmo que seja necessário encontrar a Escuridão.
E que eu a encontre, então.

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— Sinta-se à vontade em casa, irmãzinha.
A atmosfera me forçou a abrir os olhos e varrer o ambiente em busca da voz responsável por me despertar. A nuca ainda doía e uma tontura certeira atingiu meus sentidos quando dei o primeiro indício da tentativa chula para me erguer.
Os fragmentos de memórias não me ajudaram a entender o que diabos estava acontecendo e se era seguro correr. O infinito escuro que se alongava diante dos meus olhos era o que eu encarei como um conselho para não ousar tomar nenhuma atitude impensada que pudesse resultar em uma consequência irreversível.
O sabre de luz no meu bolso cutucava a pele despida da minha barriga e notei que o resto de minha camiseta não parecia ser o que eu chamava de meu uniforme preferido. Eu estava detonada, fisicamente falando, com diversas sequências de machucados pela extensão do meu corpo. Um pânico atingiu-me quando não tive ideia da origem daquelas marcas, muito menos do por que eu parecia não estar sentindo mais nada.
Nem dor e fadiga. Nada que me alertasse do que estava enfrentando. Os únicos rastros que o meu inimigo deixou foram hematomas e uma enorme vontade de matá-lo.
— Está lembrada desta sensação, ? — A voz voltou a emergir da profundeza da escuridão e o paladar amargo da bile azedou os meus lábios. Cuspi a quantidade de líquido corrosivo e empurrei os cabelos para trás, forçando que meus olhos encontrassem algo no meu campo imapeável. — É claro que não. Você sempre foi a queridinha, como é que um dia poderia compreender o que é se sentir intoxicada pela escuridão?
— Quem diabos é você e porque fala como se me conhecesse? — Respondi no tom ideal para deixá-lo tentado a se aproximar.
— É porque eu te conheço. — Nada se estruturava à minha frente ou me ajudava a entender de onde aquela voz provinha. Algumas gotas de suor caíam pelo meu rosto e comecei a acreditar que deveria ser um surto de delírio devido ao o que eu possivelmente passei para estar aqui. Minha mente estava trapaceando minha consciência e eu não estava na Escuridão, mas sim presa em algum pesadelo decorrente de uma febre alta ou um novo golpe. — Você não está delirando, , mas em breve vai desejar que estivesse.
Pela primeira vez durante toda aquela bagunça, eu comecei a reconhecer um sentimento que não era propício da minha natureza — o medo.
Estava cegada por medo, a ponto de sentir todas as minhas entranhas diminuírem e se apertarem num conjunto angustiado de apelo e pavor. Medo por estar longe de casa, longe da minha família, de , da chance de ser livre e feliz.
Ao sentir medo, também senti que todas as minhas moléculas eram genuinamente puras para tal. Assim como todos os outros, eu estava sendo apenas um ser vivo detentor de emoções e sentimentos.
Talvez isso viesse a ser a coisa mais poderosa que eu pudesse usar ao meu favor.
— Você é um covarde. — Cuspi com rancor e ódio. — Tão covarde que não é capaz nem ao menos de mostrar a sua cara. Acha que se ocultar na Escuridão irá lhe proteger, mas está imensamente enganado.
Seu riso sobressaiu o barulho do vento e o arrepio na minha espinha alastrou-se tão imediatamente quanto os tremores.
As pesadas do indivíduo combinavam com os meus batimentos cardíacos — ele se aproximou depressa quase me deixando zonza com a sua movimentação corporal. Meus olhos não conseguiram acompanhar de onde ele surgiu, eu só sabia que era de algum canto distante da Escuridão, mas no segundo seguinte a sua figura criou forma e os nossos olhos se conheceram.
Os seus traços faciais possuíam um vestígio de familiaridade. A fisionomia séria, um tanto bruta, com o nariz empinado e alto, grande e definido, acompanhado de um par de sobrancelhas fartas, largas e desenhadas, olhos em forma de duas jabuticabas abertas, lábios avermelhados e cheios, não me parecia uma visão difícil de esquecer.
Não quando aquele homem parecia a junção perfeita dos meus pais.
Meu peito arfou num misto de negação e incredulidade. O seu sorriso, à medida que a distância entre nós cessava, alargava em deboche por contemplar o espanto expelido do meu rosto.
— Como se sente por saber que não é a herdeira prioritária na linha de sucessão, maninha? — Ele disse. Sua voz soou desgastada a ponto de não esboçar nenhuma compaixão. Suas cordas vocais pulsavam na garganta enquanto ele tomava o ar com um riso ácido e maldoso. Suas bochechas, vermelhas de tanto rir, praticamente entravam no sincronismo de seu corpo e levantavam-se freneticamente.
— Quem é você? — Minha voz vagou entre a Escuridão, apesar da resposta parecer ser o berro mais audível que eu já ouvira em toda a minha existência. Dolorosa e fatal, a verdade repercutiu contra o meu tímpano e cutucou a minha bile, transtornando-me por ter imaginado todas as outras verdades ocultas sobre a minha vida que poderiam vir à tona.
— Sou o seu irmão mais velho, Anakin. — Ele sorriu inexpressivo. — Nunca chegou a ouvir este nome na mesa do jantar, não é?
O sangue pingou no meu lábio e, mesmo sentindo a dor pinicar no fundo da minha alma só com o movimento dos lábios, eu sorri amarga e impiedosa para ele.
— Acho que meus pais acabaram se esquecendo de mencioná-lo. — Ele diminuiu o desdém e seus glóbulos oculares se estreitarem em um visível ódio.
— Deve ser porque você sempre foi a Solo favorita da família. — Anakin arrastou a ponta de seu sabre pela minha bochecha. — A Solo que saiu sob perfeita medida: herdou a aptidão mecânica do pai, a sensitividade da Força por parte da mãe, o talento com o sabre que o seu tio humildemente tem, é uma piloto no novo Esquadrão Rogue e para finalizar a cerimônia de orgulho nato da família, resolveu se unir às forças armadas da Nova República… O quê mais você pode ser, irmãzinha?
— Você prefere que eu te conte ou quer descobrir por conta própria, Anakin? — Ri debochada.
Ele assentiu com a cabeça, aceitando a alfinetada, e cruzou os braços, agora ponderando as palavras certas para atacar. Suas madeixas escuras deslizaram pelo seu rosto e eu não deixei de pensar numa fração de tempo ilusória que poderia chegar a existir em nossa realidade, onde aquele rapaz poderia vir a ser o meu irmão mais velho, a pessoa que estava destinada a cuidar e zelar por mim da mesma forma que eu me dedicaria a ele.
Havia tanto nele dos Solo quanto em mim. Éramos a combinação mistificada mais bela e absurda que alguém poderia testemunhar: enquanto aparentamos sermos tão diferentes e contrários, éramos tanto nossos pais e nós mesmos que chegava a ser surreal.
— Quero que você descubra o que é ser um Solo rejeitado, . Apenas isso. — Suas palavras soaram machucadas e frias aos meus ouvidos, mas nada se comparava com a sua expressão profundamente desolada e raivosa. No fundo eu sabia que Anakin só estava assustado e machucado por qualquer que tenha sido as consequências enfrentadas em sua vida, por toda a dor que carrega em decorrência de uma vida que meus pais lhe proporcionavam, se é que foi culpa deles. No fundo, eu não consegui odiá-lo como deveria.
Ele estava pronto para me matar. Pronto para ceifar a minha vida, destruir todo vestígio que veio a habitar esta galáxia e, inclusive, toda a bagagem genética que dividimos. Anakin queria simplesmente me matar.
E eu não conseguia detestá-lo por causa disso.
— Eu te perdoo, Anakin. Está tudo bem. Faça isso se é o que precisa para se sentir em paz. Me mate. — Ele levantou o olhar até a altura do meu rosto e um murmuro chicoteado de pesar se libertou. Anakin endureceu a expressão e apertou os lábios, suspirando quase em forma de uma brecha de ar, expandindo toda a sua emoção daquele momento. Meu coração desacelerou da mesma forma que o seu peito se acalmava e eu fechei os olhos pronta para encarar o percurso que estava destinado para mim.
— Você acha que te matar será o suficiente? — Ele riu descrente. — A morte seria a minha forma de te perdoar. O que quero te dar é muito pior do que isso.
Eu já não processava as suas palavras. Meu corpo estava fraco e desamparado, minhas energias escapuliam como os meus suspiros e meu peito ardia em chamas de brasa.
Não era daquela forma que eu imaginava que lutar seria. Não era o que eu esperava de uma luta.
Tudo se tornou um borrão e eu, por estar sem forças, não tive vontade de prolongar o que estávamos criando. Ele iria finalizar o seu plano e eu era só apenas um efeito colateral de algo fora do meu controle — seria assim, então, como as coisas terminariam.
Como se as lágrimas fossem o único gesto que o meu corpo queria exteriorizar, as gotas d’água mergulhavam o meu rosto num mar de tristeza e decepção. Anakin me olhava no fundo dos olhos, quase tocando o meu íntimo só com aquele contato visual, deliciando-se com o que estava fazendo comigo.
As minhas mãos levantaram em direção a ele e ficaram penduradas no ar até que eu não tivesse mais estrutura para sustentá-las. Vieram a desabar ao lado do meu corpo, eletrizadas pela carga porosa de energia que Anakin emitia, tão tóxica e corruptível que não era aquilo que eu queria sentir no final dos meus minutos.
— Sinto muito, Anakin. — Criei determinação para pronunciar o que acreditei serem as minhas últimas palavras. Ele, contudo, não se moveu, permanecendo imóvel à margem do ambiente, encarando-me com o mesmo desdém que cativava os seus sentimentos desde que pôs os olhos em mim. — Sinto muito que nossos pais tenham falhado com você e te abandonado. Sinto muito por todas as coisas que nunca foram de meu controle, mas mesmo assim me tornam inapta a criar algum argumento que lhe conforte. Eu apenas sinto muito.
O sorriso em seu rosto foi murchando-se com o passar dos segundos, sendo levado embora junto com a camada nebulosa que se formou em volta dele, um redemoinho que figurava tudo o que a alma de Anakin era — suja e machucada.
Encarar aquela cena era doloroso e fez até com que eu esquecesse da dor física. Um semblante de rancor tomou a expressão de Anakin e ele marchou erguido em volta de mim, rolando a ponta do sabre de luz sobre o meu peito e pressionando o contato da arma para que eu me acostumasse.
— Eles não falharam quando me abandonaram. — Um riso se escapuliu pelos seus lábios e o som propagou-se como um raio tocando o infinito. — Eles falharam quando desistiram de mim.
Quando meus olhos encontraram novamente os seus, depois de um momento de condenamento pessoal, eu soube dizer que Anakin não era nada mais do que o meu irmão. Talvez estar aqui, com ele, fosse o meu significado de “Resistir”.
— Está tudo bem, Anakin, eu entendo.
— Guarde a falsa compreensão para as pessoas da sua raça, . De onde venho é uma afronta esta sua ironia mascarada. — Ele vociferou instável.
Despretensiosamente eu estava lhe atingindo e Anakin não sabia lidar com a sensação de sinceridade transparente.
— Diga o que quiser, você não me conhece e se a sua escolha é colocar um fim à nossa chance de finalmente mudarmos nossas vidas, eu não pretendo fazê-lo mudar de opinião.
— Boa garota. Agora você está entendendo como as coisas funcionam por aqui.
Ele riu satisfeito e pressionou um pouco mais o seu sabre na minha garganta e eu suspirei fundo, pronta para o fim. Olhei acima de sua cabeça, encontrando o que deveria ser a constelação, e me apeguei na imagem criada pela minha mente de que eu estaria dizendo adeus em alguma parte da galáxia, onde tudo era mais belo e leve.
— Está na hora de você começar a implorar por ajuda, irmãzinha. Será que algum dos seus servos irão lhe ouvir?
— Eu sempre a ouço. Dizem por aí que é um lance de almas gêmeas e coisas do tipo.
Anakin virou-se instantaneamente e a brisa de seu corpo projetou um breve aroma de amargura, enquanto que meus olhos saudavam o projetor da voz. A atmosfera pesou-se e a gravidade estava um tanto mais densa, colaborando para que o meu corpo se apoiasse na chama de esperança que aflorou no meu coração quando a voz pronunciou sua presença.
— Você não esperava que eu fosse perder a chance de ser o seu salvador, não é, starlight?
sorriu radiante no fundo, bem atrás de Anakin, levantando o seu sabre e me lançando uma piscada de olhos, rápida e direta, apenas para que eu tivesse certeza de que ele estava ali. Comigo, por mim, por nós.
— Oh, se não é o pilotinho favorito de Corsant nos dando o ar da sua ilustre presença! Veio se juntar ao leito de morte com a sua amada? — Anakin tentou empurrar , mas ele sempre fora habilidoso e um bom lutador. Seu corpo rodou no ar e em um lapso de segundo ele já estava por cima de Anakin, desferindo golpes certeiros e duros no rosto dele. O ranger dos dentes de Anakin chocando-se uns contra os outros e o estralar de seu maxilar soando mais alto que os punhos de explodindo na estrutura óssea de Anakin era como um lembrete de que eu precisava me levantar. Céus, eu precisava fazer qualquer coisa que não ficar desengonçadamente jogada no chão, esperando que Anakin chamasse sua tropa de seguidores e causasse uma guerra que teríamos tudo para perder.
O sabre de luz de iluminou toda a nossa volta e explodiu no peito de Anakin, jogando o seu peso para mais longe e fazendo correr para alcançá-lo e dar continuidade ao ato de selvageria.
Choraminguei com o esforço de mexer os braços e vi que meu peito estava rasgado com algo que não iria ser bonito de curar no período de tempo que tínhamos. Fechei os olhos, me motivando a manter o foco no escape, e mordi os lábios para não gritar de dor.
— Deixe-o aí, , não precisamos fazer isso. — Eu gritei alto o bastante para que me ouvisse. Custou alguns segundos para desacelerar seus punhos e mirar um olhar para mim, buscando a razão pela qual eu não queria acabar com o inimigo. Suspirei cansada, não me vendo remontando aquela descoberta novamente. — A história é longa, mas não será eu e você quem irá colocar um ponto final. Vamos, vamos, precisamos voltar para casa.
me olhou confuso, soltando a gola da camisa de Anakin e deixando que o corpo dele desabasse por baixo do seu. A corrente de sangue desprendendo do rosto de Anakin embrulhou o meu rosto e eu tentei me convencer de que aquele não era, de fato, o meu irmão. Era apenas um inimigo.
, você não está entendendo. Eu não sou real.
Franzi a testa, soltando um riso frouxo, negando com a cabeça a pretensão de .
— Claro que você é, . Estou te vendo! Posso até te tocar… — Aproximei-se dele e, no segundo em que meus dedos estavam próximos de tocá-lo, eles vagaram no vazio, alcançando um enorme nada. borrou-se vagamente e depois voltou a aparentar plena solidez, sorrindo triste para mim. — O que está acontecendo?
— Estou morrendo para te salvar. Você está em um sono intocável, . Está vagando pela Escuridão, correndo o risco, a cada segundo, de se perder para sempre. Eu jamais permitiria que isso viesse a acontecer. Não, não posso. — Sua voz soou tão calma e serena que seu comentário pareceu loucura aos meus ouvidos. assentiu quando viu que eu estava prestes a questioná-lo, indicando que, se pudesse, tocaria os meus lábios para que eles se silenciassem. — Escolhi mantê-la protegida, como eu poderia não escolher? Você é a minha Resistência, sempre será. Não me importo com as consequências, foi o custo que paguei para trazê-la para casa. Está acabando, meu amor, eu prometo. Vou te trazer de volta.
— O que você fez, ? — Anakin estava despertando e perto de voltar a se tornar um problema em nosso caminho, mas pouco me importava. O corpo de se desintegrava e seus olhos iam lentamente se apagando. — Por favor, starlight, não me deixe. Eu não conseguirei sem você.
— Eu entreguei a minha alma para uma Flor Solitária. — Uma lágrima única apareceu na borda de seus cílios e eu só quis ser capaz de secá-la. — Se eu ao menos puder te acordar do seu longo sono… — Ele suspirou fundo, parecendo estar lutando com algo oculto para manter-se são. — Na escuridão negra, siga a luz brilhante que se alonga bem adiante e siga o brilho te dominando. esticou a sua mão e quase tocou a minha. A sensação foi de estar à beira de um penhasco, mas com os pés presos por cordas invisíveis. Estávamos tão perto, mas tão distantes… — Meu amor irá te guiar para casa e você ficará bem. Você consegue. Eu lhe prometi, lembra?
A sua voz se dissipou no ar e aos poucos a sua figura também. Emergi nas profundezas e busquei segurá-lo, mas ele não estava mais lá.
Enquanto a Flor Solitária de desabrochava-se diante de mim e me contaminava com a sua magia, Anakin se tornava só mais um projétil de desgraça que deixei para trás.
Suas mãos agarraram os meus tornozelos e ele estava prestes a soltá-los, antes da última pétala se abrir, até que o ponto de luz incandescente tomou forma e lhe distraiu. A Escuridão estava partindo, havia conseguido.
Aquilo significava que eu estava voltando para casa, mas ainda soava como a Escuridão, no final das contas.

••●●••


Abaixei a cabeça a tempo de ver a sombra branca tomar a minha visão e me entorpecer com a adrenalina de quase morte. As estrelas em volta da lua de Chenini me saudavam de volta à vida; deveriam, inclusive, estarem surpresas por eu ter sido capaz de sobreviver àquilo que estava premeditado para me condenar. O motor rangeu e no fundo o som das cordas batendo alvoroçadamente em baixo do suporte de saída me fizeram lembrar que, quando chegássemos na Base, teria que trabalhar em dobro para consertar aquele estrago.
As figuras de luz perdurando na escuridão pareciam gritar em meu cérebro a mensagem que eu deveria ter captado antes de ter pisado meus pés para fora da nave.
“Corra, mais rápido, antes que o dia acabe”.

Os músculos das minhas pernas ainda ardiam pela descarga de energia que contribuíram para eu sair viva — mas não totalmente ilesa — daquele caos instaurado. O riso ácido do Anakin ainda fazia eco dentro da minha mente, idêntico ao momento em que descobri não ser tão brava e destemida quanto eu acreditava que viria a ser.
A única coisa que fazia pleno sentido, agora, era . Ele vinha adiante derramando o seu brilho como as estrelas, desafiando a escuridão, lutando contra todos os diabos internos e externos que poderiam lhe dar infinitos motivos para se manter longe de mim.
Ele mirou seu par de olhos no meu corpo acuado e machucado, no canto da nave, sorrindo calorosamente quando meu rosto se contorceu em uma careta dócil. estendeu os dedos, pousando sobre os seus lábios, pedindo para que eu não me esforçasse para retribuir tudo o que ele fez por mim. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, meu coração já havia aceitado que aquele era o homem da minha vida.
Nada que ele fizesse ou deixasse de fazer iria tirá-lo deste posto.
Estávamos marcados, com uma sentença programada, para sermos o sabre de luz um do outro. Na escuridão mais sombria, ele tomaria a minha mão e me guiaria pelo infinito, sendo o meu salvador e o meu ponto de luz.
O meu sabre de luz.

Meu coração se apertou até que tornasse só um mero pedaço de músculos, recluído e murcho, explodindo em uma dor latejante. Minha mente vagou de encontro ao momento em que Anakin tentara me matar e em aparecendo para honrar a sua promessa. A sua despedida pinicando na minha memória era ainda mais doloroso do que eu conseguiria um dia suportar e todo o meu mundo voltou a desmoronar quando notei que aquilo deveria ser apenas uma ilusão, um sonho.
— Você está aqui? — Murmurei. sorriu ainda sem olhar para o meu rosto e assentiu.
— Estou. Você se saiu bem, meu amor.
— Como é que você está aqui? — Segurei na barra lateral e ergui o corpo. A cabeça de Tio Luke brotou entre a porta da galeria da nave e ele sorriu brincalhão, remexendo as sobrancelhas e balançando a cabeça com humor. Eu sorri desconcertada, e arfei de alívio. — Tio Luke! Como é possível?
— Lembra quando você tinha oito anos e eu te disse que sempre iria a encontrar? — Ele sentou-se do meu lado e afagou os meus cabelos, dando-me um beijo na testa e repousando a sua cabeça no meu ombro. — Eu te encontrei, com sorte de ter sido a tempo.
— E ? Ele me disse que… — As palavras se prenderam em minha garganta e eu não queria repeti-las.
— Ele estava morrendo, sim, mas consegui salvá-lo. — Continuei confusa, não entendendo como tudo aquilo tinha vindo a acontecer e Tio Luke deu de ombros, sorrindo preguiçoso e espreguiçando as pernas. — Um Jedi jamais revela os seus truques. Agora, se me der licença, tenho que terminar alguns reparos neste motor antes que ele nos deixe na mão. A viagem para Corsant será longa.
— Tio Luke. — Segurei em seu pulso. Ele sorriu condescendente, aguardando-me, paciente e educado como conheço. — Por que vocês nunca me contaram da existência de Anakin?
Ele engoliu em seco, amolecendo a expressão e passando a ostentar um ar negro e misterioso. Seus ombros se levantaram e suas mãos se esconderam dentro dos bolsos do casaco, ocultando o que poderia ser os seus punhos fechados ou um tremor. Qualquer uma das hipóteses me pareceu preocupante e colaborou para que eu entendesse que aquela história era muito mais profunda do que eu imaginei.
— Você era nova demais para ter de lidar com o que se passava com o seu irmão. Quando vimos, estávamos distanciando vocês dois e, bem, foi o que pareceu o certo, dadas as proporções da situação. — Tio Luke afastou-se e suspirou. — Seus pais fizeram o possível para mantê-lo são e controlado, mas acontece que Anakin está tomado pela Escuridão. É um caso perdido, mas um pai e uma mãe jamais desistem de seu filho. — Ele sorriu entristecido. — É por isso que eles estão por aí em busca de uma cura para Anakin. Enquanto houver vida, haverá esperança para eles. Só espero que eles não estejam se esquecendo de que, às vezes, nem a esperança é o suficiente.
— Então quer dizer que… — Organizei os pensamentos. — Eles não abandonaram Anakin?
Luke abriu um sorriso que parecia ser um pouco incrédulo. No minúsculo período de tempo que fui testemunha, nada mais me soava proporcional e real. Aquilo tudo era um aglomerado de loucuras delirantes e, por todas as forças grandiosas da Galáxia, eu só esperava que parte daquilo fosse mentira. Como a minha vida poderia ter sofrido um looping daquela forma e se revertido em um verdadeiro episódio de desgraças?
— Nunca. — Tio Luke sibilou o que sua postura já denunciava e eu assenti, ainda que aquela informação fosse estranha aos meus ouvidos. A memória de um Anakin não era o que eu mais poderia retratar em uma conversa, mas era como se, em alguma parte de mim, ele houvesse existido, realmente.
Olhei para , ainda consumida pelas revelações, e ele apertou a minha mão contra a sua, carinhosamente brincando com os meus dedos.
Tio Luke sorriu novamente e tentou parecer descontraído, livrando-se do peso do casaco e descendo a escadinha para chegar até a câmara do motor.
— Não se preocupe com isso agora, quando estivermos em casa arrumaremos uma solução. Estamos todos juntos, não é? Precisamos lutar com a sua mãe e libertar o bendito do Solo. Agora que sabemos que é Anakin o responsável pelo caos, será mais fácil colocar um fim em tudo isso. Vocês conseguiram encontrar o pedaço do Mapa, foi um excelente trabalho, assim como eu imaginei.
Concordei com a cabeça, sorrindo um pouco mais calma. A dor de ter sido feita de tola em todos esses anos e sido jogada para retranca em um assunto tão imensamente sério me magoou em níveis absurdos, mas foi o que foi e agora não havia retorno. Todos esses anos perdidos não voltariam e eu não poderia mais lutar para ter um irmão, apenas ajudá-lo a se lembrar de quem era e de tudo de bom que ele ainda poderia ser.
Resistir ainda seria o meu desafio número um e agora, mais do que nunca, eu não iria desistir.
O amanhecer chegou. deixou o piloto no modo automático e voltou a se aproximar de mim, tocando superficialmente o machucado aberto na minha testa. — Tudo voltará ao seu lugar. beijou cada dimensão do meu rosto e afagou os dedos pelos meus cabelos. Num segundo de fragilidade, o choro se desprendeu dos meus olhos e o suspiro angustiado aflorou pela nossa lata de sardinha, ecoando as verdades contra as paredes de metal, tudo aquilo que os meus lábios não conseguiam pronunciar. — E é aqui e agora que eu te darei o meu tudo.
— Você realmente iria morrer por mim? — sorriu mais largo e concordou com a cabeça.
— Sempre farei o impossível para mantê-la segura, starlight. A morte só é mais uma das hipóteses que tenho em mente para cumprir a minha missão. — Ele abriu um sorriso risonho e deslizou para o chão, sentando-se de frente para mim, apoiando os braços na beira do banco e tomando a cabeça de encontro ao meu ombro. Com um pouco de dificuldade, minha mão encontrou o caminho dos seus cabelos e lhe abracei, atrapalhada, contra mim. — Acho que você não percebeu uma certa coisa.
Me enrosquei em seus braços e cheirei o seu pescoço com vontade, lembrando-me do aroma de felicidade que só ele exalava e lhe dei um beijo rápido nos lábios.
— O quê?
— Acabei de ganhar pontos positivos com o seu tio. Pode falar, agora sou oficialmente um membro da família, huh?
Gargalhei alto e apertei meus braços em torno de seu pescoço, sentando-me no seu colo e voltando a beijá-lo incansáveis vezes.
— Com certeza, mas não se contente por muito tempo. — Sorri travessa. — O titio vai querer saber onde é que você aprendeu a usar tão bem assim o sabre de luz e, aí, meu amor, você irá ter de dar boas explicações.
— Não é só esse sabre que eu sei usar bem. — Ele sorriu sugestivo. — Mas não é para eles que provarei.
Céus, você tem sorte de eu estar debilitada o bastante para não socar a sua cara.
Arfei descrente e bufei em sua cara, dando-lhe um tapa no ombro e desaprovando o seu comentário, embora ele soubesse muito bem que aquilo era um teatro forjado.
Argh, eu não quase morri para você voltar e tentar me matar no tapa!
, se você morresse eu te ressuscitaria só para te matar de novo. Onde já se viu querer se livrar de mim?
gargalhou, afundando as mãos em meus cabelos e puxando delicadamente meu rosto para mais próximo do seu. Os nossos narizes roçaram um no outro superficialmente quando sua testa se apoiou na minha e deixou que eu sentisse o seu sorriso próximo do meu. Antes que eu pudesse me esquecer de onde estávamos, de tudo o que passamos e tudo o que ainda estava por vir, me permiti a viver aquele momento.
— Sabe, , acho que esse é um ótimo momento para você preparar aquele jantar à luz das estrelas como combinamos, mas não se sinta apressado, não é como se eu estivesse faminta.

손을내민널지키러이곳을
I wandered here to your outreached hand
찾아헤맸던너를위한
Found you to protect you, be your savior
암흑속내가빛이돼줄게
In the darkness I’ll be your light
A life saver, lightsaber




Fim.



Nota da autora: Essa foi, sem dúvidas, uma das fanfics que mais me surpreendeu até agora. Peguei a música unicamente por ter sido essencial no meu processo de conhecer e virar fã do EXO, mas achei que não iria conseguir honrar o seu propósito e fazer algo que fosse digno do Star Wars, ainda mais por ser uma completa negação em saber a vibe dos filmes e afins. #startrekloveroverhere
Quando vi, lá estava eu escrevendo loucamente enquanto pesquisava por cada detalhe desse universo. Saiu tão naturalmente que eu cheguei a parar e pensar “que isso, bicho, que loucura!”
Foi uma experiência incrível me ousar a escrever algo novo e totalmente diferente do que estou acomodada a reproduzir. Quem diria, huh?
Toda vez que leio essa obra, que preciso chamar de obra, porque realmente dediquei o meu coração para compô-la, me dá um sentimento de realização e adoração! Me sinto imensamente feliz por ter vencido meus receios e tentado honrar o contexto da música, o contexto dos filmes e, inclusive, o contexto do casal que quis criar. Esse pp, por Deus, é um dos meus favoritos para todo o SEMPRE! Meu grandíssimo anjinho, vou amar ele com todo o meu coração, não importando quantos futuros personagens principais eu venha a dar vida. Esse daqui é one and only always! ❤
Preciso dizer, também, que não consegui não ver a pp se sacrificando para que Anakin cumprisse com a sua vontade. Ela tinha tudo para lutar e resistir contra ele, assim como ela sempre acreditou que viria a Resistir, mas pareceu tão certo, para mim, ~e para ela~, que a sua benevolência fosse posta em xeque naquele exato momento. Ela é simplesmente assim e, quando percebi, ela estava me mostrando as suas próprias vontades! O rumo da estória foi traçado unicamente de acordo com quem ela se projetou “para fora da minha cabeça”, então não tive coragem de mudar essa parte da fic. Com sorte deu tudo certo, até agora, né non? O pp foi realmente o herói dela e eles ainda têm uma longa jornada para tentar derrubar Anakin e salvar a galáxia. Será que vai ter uma continuação dessa trajetória deles? Deixarei no ar a possibilidade!
Seria esse o começo de uma era de Star Wars na minha vida? Let me see, hehehe ;)
Como de praxe, preciso dedicar um agradecimento especial para o FFOBS, o lugar que me permite espalhar cada uma das minhas estórias sem medo. É aqui que me entrego e me sinto gratíssima por essa permissão e apoio. Y’all rock!
Viva o EXO, viva o FFOBS e, claro, viva Star Wars! Que a força esteja com você e que sejamos para sempre um só. ❤





Outras Fanfics:
08. Hurt
Unbreakable Destiny
The Chairwoman
01. Electric Kiss
05. Tactix

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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