Finalizada em: Jul/2021

28

“Eu envelheço
E aprendo sobre o mundo
Apesar disso, seria ainda pior se eu não tivesse conhecido o mundo?”


Min Yoongi sonhava em sonhar.
Pareceu uma piada no começo. Aos 8 anos em um jantar de família, as risadas explodiram na mesa, tão altas e duradouras que o fizeram questionar-se o que havia dito de tão engraçado. Ele ainda não era conhecedor de sarcasmos e ironias, mesmo que, anos mais tarde, fosse totalmente revestido delas. Aos 10 anos, não achava a vida fácil, só a achava simples. Até demais. E não aceitava as limitações de uma realidade que não o permitia arriscar-se por completo na busca por um patamar mais alto. Esse era o sonho em questão: ir mais alto. Mesmo que tal sonho estivesse à mercê de vários tipos de interpretação.
E nenhuma delas chegava perto do alto e real a que ele se referia: às planícies de um horizonte distante que revestiam sua mente especial quando adentrava em seu universo de olhos fechados.
Min Yoongi queria sonhar porque não sonhava como as outras pessoas.
Ele entrava em seus sonhos, na forma mais literal da palavra.
Nesses sonhos, o mundo era seu e totalmente seu. Ele o governava de acordo com seus próprios interesses. Quando criança, criou o mundo sem trabalho e sem horários de dormir, onde os carrinhos de brinquedo se transformavam em carros de verdade e meninos de 8 anos podiam ter carteiras de motorista. Os sorvetes parecidos com os da mercearia da velha Annella Casar eram distribuídos de graça e sem limite, e a escola era nada menos do que o equivalente a sede de uma gangue. Neste mundo, ele vivia feliz e sem preocupações, até ser acordado no dia seguinte para o outro mundo paralelo onde tinha que ir à escola – que era obrigatória nesta realidade – e ajudar a mãe na cozinha.
Aos 11 anos, começou a conviver com personagens novos. Ele não sabia se foi ele que os criou; àquela altura, com o início da puberdade, ele pensava em coisas demais e malucas demais à medida que interagia mais com o outro lado. Mas então, em seu mundo – que agora contava com uma bela mansão muito parecida com a de um filme qualquer que viu na TV que virou sua nova moradia –, ainda com a realidade de poder tomar sorvetes de graça e dirigir um carro esporte mesmo que não fizesse ideia de como dirigir, andava sendo frequentado por rostos distantes, porém conhecidos. Eram as pessoas do bairro, da escola, da igreja ou de qualquer círculo social onde já esteve, como se sua mente capturasse cada rosto que já tenha cruzado com seus olhos, porém Yoongi as via com seus olhos especiais. Roy Stoltz, o grandalhão que insistia em chutar suas panturrilhas e roubar sua porção de arroz na escola sempre que podia, aqui não passava de um ser minúsculo e feio com quatro olhos e uma pança que varria o asfalto – de forma literal. Era fácil conviver com o outro lado quando se lembrava que poderia transformar seus elementos desagradáveis em qualquer coisa que quisesse.
As pessoas sempre acenavam para ele, o que fazia sentido, pois aquele era o sonho dele. As pessoas que frequentavam o sonho dele eram conhecidas dele, porque foram colocadas ali por ele – mesmo que inconscientemente. Não seria legal se seres de fora interferissem em seu mundo se não fosse para fazer absolutamente tudo que ele quisesse e desejasse, por mais que seja um simples cumprimento.
À medida que o tempo passava, novas figuras eram adicionadas aos sonhos de Yoongi em consequência de sua maior interação com o outro lado, mesmo que, aos olhos das pessoas de lá, ele continuasse um garotinho mirrado e com sérios problemas sociais. Tais pessoas inconvenientes provavelmente se transformariam em monstros hilariantes depois, em seu mundo real. Nada deste lado parecia atingi-lo realmente. Assim, aos poucos, ele começava a entender como funcionava a adição de novos componentes em seu universo.
Mas algo começou a intrigá-lo.
Grande parte dessa estranheza partia de um único elemento, cada vez mais presente na redoma de seus pensamentos. Ele a tinha visto algumas vezes quando ia pilotar seu helicoptero, ou quando planejava seu passeio no Vale do Chocolate e até mesmo quando lutava contra stormtroopers na vizinhança – ele os atacava com grande maestria usando apenas os hashis anteriormente usados em uma grande e infinita porção de jajangmyeon, mas conseguia apanhar às vezes quando não havia grande escopo para a imaginação – em tradução: quando tinha alguma preocupação pendente do outro lado para resolver, como provas da escola.
Ela estava sempre ali.
Com 12 anos, ele estava ciente de sua memória fotográfica e de como ela agia sem controle algum. Mesmo que fosse indiferente à praticamente tudo do outro lado (que ele casualmente começou a nomear de Rem assim que as aulas de latim começaram – o lugar onde existiam despertadores e contas de aluguel), ele tinha plena consciência de que os novos integrantes de sua cidade mágica nasciam diretamente dos registros adquiridos no Rem. Mesmo que ele não se importasse realmente com a maioria das coisas vistas.
Mesmo assim, ainda levou um tempo razoavelmente longo até que se recordasse da garota presente em várias ocasiões aleatórias. Ela parecia ter a sua idade mas, diferentemente dos outros habitantes, não parecia estar se divertindo tanto assim. Isso beirava quase a um insulto – jamais existirá alguém triste na cidade mágica, a não ser que ele mesmo queira isso. Hoje em questão, a forma como ela estava sentada em um banco confortável parado ao meio fio enquanto comia um lámen com barras de chocolate dentro o deixou quase abismado. Tinha corrido e se exercitado bastante no Rem mais cedo, portanto todo seu gás para aventuras estava no auge – ele fechou os olhos naquela noite já começando os preparativos para correr sobre pontes que atravessavam rios de lava e lutar contra o imperador Palpatine, que hoje especialmente parecia uma mistura de Roy com seu pai.
Ele começaria tudo isso o mais rápido possível. Mas, antes, precisava de algum esclarecimento.
Yoongi caminhou até ela, que reunia os últimos filetes do lámen assim que ele se aproximou de sua frente e escondeu o sol alaranjado atrás de si.
— Quem é você? — perguntou ele, sem qualquer cerimônia. Era outra vantagem de seu próprio mundo.
O hashi fez barulho ao arrastar-se no plástico da embalagem, como se ela estivesse esperando que mais comida nascesse do zero. Não era impossível, pelo menos não para Yoongi. A garota ergueu a cabeça devagar, fitando-o nos olhos enquanto erguia o copo grande e vazio.
— Pode me dar mais? — ela lhe deu um sorriso.
Um sorriso que o fez se lembrar.
No Rem, Min Yoongi tinha uma irmã mais velha. Ela era pelo menos 8 anos à frente, o que resultava apenas em ter uma segunda mãe para atormentá-lo. Ele gostava de ir até a pequena sala da casa e assistir a seus filmes de aventura sozinho, sempre em busca de mais inspiração para vivê-las quando a noite caísse, mas Marzia não compactuava com esse tipo de coisa. Sua boca repetia incansavelmente a palavra estudos e faculdade, o que fazia Yoongi ter cada vez mais asco de tais substantivos. Ela havia se acostumado em tomar-lhe o controle da TV com força bruta e ligar na mesma programação, que julgava ser um prazer temporário, porém significativo para o desestresse: programas de talentos.
Ele só havia visto uma vez. Lembrava-se do sistema de classificação final e vencedores, e lembrava-se da garota dentro da tela pular e dançar enquanto curvava-se em agradecimento no meio de chuva de papel prateado.
Ele encarou o pote estendido.
— Não consegue fazer sozinha?
— Não sou a dona deste lugar — ela deu de ombros, e a frase o deixou confuso. Ele encarou o fundo vazio e piscou os olhos. Em um segundo, havia lámen e barras de chocolate misturados e embolados no mesmo pote, fumegantes diante dos olhos dele. Ela alargou ainda mais o sorriso e remexeu a comida com o hashi — Muito obrigada, Yoongi.
— Como sabe o meu nome?
— Como não saberia o nome do dono daqui? — ela franziu o cenho, como se estivesse lhe perguntando quanto era 1+1 — Você é o dono daqui, certo?
Ele ponderou a pergunta por um instante.
— Acho que sim — endireitou as costas e limpou a garganta — E qual é o seu nome?
Ela sorriu novamente, mas desta vez foi um sorriso de boca cheia.
— Você sabe o meu nome.
E de repente ele realmente sabia.
Close? — ele respondeu quase imediatamente assim que se lembrou do nome estampado em letras garrafais na TV. Ela fez uma careta.
— Pode me chamar de . Aqui não é a sociedade real de qualquer forma. Não tem porque conversarmos formalmente também — ela afundou o hashi no macarrão novamente — Afinal, temos a mesma idade, não é mesmo?
Ele imaginava isso, mas não respondeu. Observou a face despreocupada da garota enquanto se alimentava calmamente, sentindo tantas perguntas virem em sua mente que achava difícil organizá-las a tempo. Reconhecer que ela era a primeira pessoa que ele trocava mais palavras do que um mero oi naquele universo, o tirou toda a vontade das aventuras posteriores que estavam planejadas.
— Você… — ele começou, e ela olhou para ele novamente — Você é… Tipo, consciente?
Ela juntou as sobrancelhas.
— Quer saber se estou dormindo agora? — ele assentiu — Não sei, devo estar. A vida de artista em ascensão pode ser bastante corrida, cheia de encontros executivos e papéis para assinar, mesmo que eu só queira jogar bola ou matar monstros por aí.
— Você quer matar monstros?
— Não me parece uma má ideia.
— Eu estava… — ele ergueu um dedo para a direção pretendida automaticamente, e não compreendeu o gesto — Deixa pra lá.
A mão dela voou sobre a sua.
— Você está indo para uma aventura? — ela arfou, agora com um brilho cintilante nos olhos — Não acredito! Por favor, me leva junto! Parece que faz anos que não luto contra um dragão com cabeça de leão e vice-versa, ou que pego em uma espada ou arma de laser! Ah, por favor, me deixa ir junto com você! — ela já estava de pé, largando o lámen com chocolate no banco ao lado, balançando os braços dele em súplica.
Yoongi ponderou sobre a questão, seriamente pensativo e confuso sobre um possível bug de seu universo, mas a voz dela não o deixava pensar. Por fim, ele se soltou de seu aperto e apenas murmurou que ela poderia vir se não o atrapalhasse a vencer, e ele visualizou aquele sorriso novamente – o mesmo sorriso da TV, o mesmo sorriso que veria dia após dia desde então.
— Você é demais, Yoongi — a voz dela surgiu de trás de suas costas, com os pequenos pés batendo as sapatilhas brilhantes no asfalto em pulinhos contentes — Por onde vamos começar?
Ele virou o rosto de perfil e respondeu:
— Você gosta de vulcões?

Olhando para uma visão noturna completamente diferente
De dentro deste quarto com as luzes apagadas
As palavras que saem abafadas
Acho que estou lentamente me tornando um adulto
Não me lembro
O que eu queria?”


Yoongi agora tinha 22.
O ensino médio foi concluído com um ano de atraso, o que não foi surpresa alguma para a família. Suas notas nunca foram boas o suficiente para ao menos tentar uma boa faculdade, e o olhar de desgosto de sua mãe não era o pior de tudo – Marzia se tornara o pior, o carrasco. Em um pico de estresse, ele foi capaz de gritar palavras avulsas e desconexas sobre ela ser uma vadia dissimulada antes de juntar suas coisas e finalmente sair. Isso foi quando tinha 20.
Naquela época, deitado no pequeno quarto alugado e escuro, com os pés imprensados em uma panela de arroz e garrafas de soju entulhadas no canto da parede mofada, ele pensou que queria que as coisas fossem diferentes. O lapso de um sentimento guardado o fez querer voltar no tempo e talvez até se esforçar mais nos estudos para não ter que se ver apertado em 20m2 acima do restaurante de kimchi que havia conseguido emprego de meio período. Ao voltar àquela época, ele se lembrou de que era até bom em matemática, e gostava de resolver problemas e charadas. Era bom fazendo isso na cidade mágica também. Era onde tudo acontecia, onde ainda acontece.
Mas naquele dia, ele estava exausto e estressado. A vida no Rem sempre foi um saco, mas agora parecia pior ainda ao ver que estava sem rumo e perspectivas. Ele sabia que era necessário viver ali, que tudo veio dali, todo o seu universo partia do ponto de que ele existia no Rem, mas ele não controlava a vontade louca de jogar tudo pro alto e simplesmente dormir para sempre – viver na cidade mágica definitivamente, e não apenas durante as horas de sono.
Ele não notou quando chegou lá naquele dia. Desta vez, sentou-se na cobertura esfarrapada de alguma construção popular da cidade, rodeada de varais de luzes e cheiro de makgeolli. Ele tentou se recordar daquela vista no Rem, mas nada vinha. Uma música soava serena no background, com a voz dela se espalhando como o vento, tocando sua música favorita direto do céu. Ele havia dormido com os fones mais uma vez.
Ele não precisou esperar muito para que a voz em questão se materializasse ao seu lado, cegando-o com as mãos diante dos olhos e o sopro aveludado em seus ouvidos:
— Você demorou hoje.
Ele sentiu o característico bater de coração acelerado quando ela lhe soltou e sentou-se ao seu lado, puxando uma garrafa de soju de algum ponto – ela tinha todos os poderes para isso agora – e ajeitando o vestido esvoaçante e curto sem mangas. Ele a observou por vários segundos, sentindo o peito se aquecendo, os problemas do Rem se esvaindo levemente, a felicidade de encontrá-la que era sempre constante – a única coisa constante de toda a sua vida.
havia crescido junto com ele. Os cabelos agora eram longos e cheios, a maquiagem fazia parte de sua rotina e Yoongi tinha certeza de que ela era a mulher mais linda que ele já havia visto. Com o passar dos anos, essa era a única vantagem que ele parecia ter no Rem: ser a única pessoa da cidade metropolitana de Daegu que realmente conhecia a famosa cantora idol Close, mesmo que não fosse de um jeito normal. Mesmo que ele compartilhasse da mesma opinião de – que o mundo lá fora era perverso e assustador, e nenhum deles entenderá essa informação –, ele se via torcendo os punhos brevemente ou tamborilando os dedos com fervor quando observava os garotos mais novos deslizando os dedos em um zoom descarado em algum aparelho celular, focando no rosto dela ou em alguma outra parte de seu corpo. Por muito tempo, ele não entendia tal coisa. Ela é realmente bonita, e é muito talentosa, e é sua amiga, e você concorda com cada palavra do que eles dizem, então qual é o problema?
Ele entendeu o problema aos 18. E no começo, pareceu tão absurdo que era inimaginável que um dia chegasse a contar para ela.
— Você está com uma cara péssima — ela disse enquanto servia duas doses — Toma aqui. Tenho certeza que um pouco disso e pular de parapeitos deve resolver o problema.
— Acho que não estou afim hoje — ele murmurou, virando o líquido de uma só vez, olhando para as luzes vastas da cidade.
— Ah, por que? — ela guinchou, largando o shot pela metade. Ela nunca gostou de beber muito — Eu já imaginei toda uma perseguição envolvendo titãs e centauros gigantes, até preparei nossas armas de madeira e canhões que estão nos esperando na baía agora mesmo. Não vai me dizer que vai ficar de fora.
Ele entornou mais uma dose, baixando os ombros com a expressão cabisbaixa.
— Acho que só estou… cansado.
A voz baixa dele fez se aproximar. Isso o causava um nervosismo quente e agitado, mas ela não percebeu. Olhou para os olhos escondidos debaixo do boné e inclinou a cabeça.
— O que aconteceu? — perguntou ela.
— Nada demais…
— Ah, fala sério. — Ela estalou a língua, olhando-o em espera — Vai, conta.
— Eu saí de casa — respondeu, dando de ombros. Ela o encarou em dúvida — No Rem.
— Saiu da casa da sua mãe?! — ela parecia surpresa.
— Não parecia mais a casa da minha mãe, se quer saber — ele bufou — Ou parecia demais. É difícil dizer. Agora que saí, percebo que esperava que as coisas fossem diferentes.
— Como diferentes?
— Não sei, só… diferentes. Acho que, no fundo, esperava que quando fosse embora de fato, seria para algum lugar parecido com… — ele travou, encarando a cidade novamente.
— Com aqui — ela completou, soltando uma risadinha leve — Eu entendo. Vivemos aqui por muito tempo e é normal querermos que tudo isso exista em todos os lugares. Mas a cidade mágica é a cidade mágica, Yoongi. Ela não pode existir no Rem.
— Pra você é fácil aceitar isso — ele a encarou com os lábios franzidos, controlando o tom de voz para não soar com tanta amargura — Afinal, você tem uma vida ótima nos dois mundos. Não acabou de comprar uma cobertura em Gangnam?
Pela expressão no rosto dela, talvez Yoongi não tenha tido sucesso em seu disfarce. Ele revirou os olhos, cravando-os em algum ponto escuro e disforme, sentindo-se idiota por ter voltado o assunto para ela. Eles eram amigos há muito tempo e Yoongi certamente já havia se aberto sobre coisas maiores do que aquilo, mas a forma como se sentia daquela vez parecia diferente. Alguma coisa o atormentava e lhe apertava a garganta, algo implorando para sair.
— É isso que você quer? — ela disse depois de um tempo, o tom de voz seco — Gangnam? Dinheiro? Não achei que fosse tão ganancioso…
— Corta essa, — ele grunhiu, levantando-se rapidamente — Todo mundo quer essas coisas. E parece que só descobri isso agora, hoje, quando me vi sem nada disso e tendo que dar um jeito de consegui-lo. Sozinho. Eu me sinto sozinho, no Rem… Naquele lugar. Estive aqui por tanto tempo que não me sinto mais parte de lá… — ele suspirou, caminhando lentamente para o parapeito, ouvindo o barulho imaginário do tráfego vindo logo abaixo — Temos 20 anos, . Sinto que estamos nos tornando adultos…
Ele sentiu as mãos dela na sua, quentes como o verão escaldante que fazia no Rem naquele momento. Ele sentiu o coração pular com o desejo escondido, um outro desejo, aquele que ele ocultava de si mesmo: o desejo de sentir aquelas mãos no outro mundo.
— Quem disse que precisa se tornar um adulto? E qual é o problema em não ser? — disse ela, dando de ombros — Acha que as coisas tem que mudar por causa disso?
— Bem, as coisas lá fora parecem me dizer que sim…
— Besteira. Você nunca vai poder abandonar esse mundo. Ele é seu, Yoongi. Assim como eu…
Ela parou e engoliu em seco. Um rubor se formou no rosto dela enquanto suas mãos ficaram mais moles. O descompasso no peito do rapaz pareceu inflar de expectativa, esperando as próximas palavras.
— Você o que? — ele sussurrou.
Ela soltou suas mãos e caminhou de volta ao banco, juntando as garrafas vazias como se procurasse algo a fazer.
, não faz isso… — ele foi em sua direção.
— As coisas não precisam mudar, Yoongi…
— E se eu quiser que mudem? — ela teve o corpo virado para ele em um puxão firme, porém delicado. Ela parou de respirar ao ver o nariz dele tão próximo do seu, de encarar sua bochecha de tão perto como jamais esteve — E se eu quiser que isso mude?
Ela abriu a boca para responder, mas nada saiu. Yoongi sentia o corpo pegar fogo pela adrenalina.
— Yoongi, do que você está…
— Você sabe do que eu estou falando. E não diga que não podemos — ele balançou a cabeça, e sua voz saiu rouca e necessitada — Lá fora, você é perfeita e brilhante, e eu sou um merda sem rumo. Mas aqui nós sempre pudemos tudo, . Sem identidades, sem obrigações. É só nós dois e sempre foi assim. Não vê que era inevitável que eu sentisse isso?
Ele avançou uma mão lentamente pelo rosto pálido da garota, que ainda se mantinha imóvel com a aproximação. Uma onda quente subia em seu peito, e ela se via confusa com o próximo passo a ser dado.
— Não me importo de te ver pela TV no Rem porque sei que vou estar com você todas as noites assim que fecho os olhos. E essa vontade e expectativa foi crescendo, e cresceu, até que… — ele não completou, encarando o rosto curioso da garota, focando nos lábios vermelhos que já passearam em sua mente acordada por tantas vezes que ele não mais contava.
Ela viu o fascínio nos olhos dele e abriu um sorriso resignado, porém firme e confiante, como se entendesse repentinamente o que estava acontecendo. Era sobre isso que ele queria mudar?
— Pode ir em frente, Yoongi.
O garoto piscou os olhos ao ouvir a confirmação, ficando aéreo por meio segundo antes de atacar a boca da garota com uma vontade saída de um porão trancado a sete chaves por anos que pareceram bem mais do que apenas dois. Talvez ele sempre quisesse isso, mas sua capacidade de deixar coisas para depois sempre vencia no final. passou os dedos por sua nuca, puxando-o para mais perto em um movimento confiante, como se pudesse tomar conta da situação. Yoongi era inexperiente, um mísero moleque anti social que nunca havia se dado ao luxo de se envolver com outras mulheres porque tinha um compromisso importante de voltar para casa cedo e dormir o mais rápido possível.
Dormir para encontrá-la. Para matar monstros e resolver crimes juntos.
E então, ele já não se lembrava das tristezas sentidas e das incertezas sobre sua vida no Rem. Aquela era a realidade alternativa em que ele julgava ser a origem de tudo, mas vez ou outra, se via pensando onde as coisas realmente começaram. Este era o diagrama proposto em sua cabeça: Cidade mágica x Rem, quem nasceu primeiro?
Por que as duas coisas não podiam se misturar?
Ele só sabia que a realidade no Rem não importava. O que importava era o que acontecia ali e agora, onde realmente se sentia vivo.

“Pensei que iria mudar depois de completar vinte anos
Pensei que iria mudar depois de me formar
Merda, se continuar assim, depois de completar trinta anos
Sim, então o que mudou pra mim?”


Aos 22, um novo rumo tomou forma, e trouxe consigo novos questionamentos.
O restaurante de kimchi o considerava um funcionário de ouro. Não que existissem outros para se darem à comparação. O sistema de gorjetas o ajudou a se mudar para um quarto alguns metros maior e conseguir economizar alguma coisa. Uma felicidade recorrente, notada até mesmo pelos habitantes do Rem, significava que ele finalmente tinha algo que nunca teve: planos. Ou melhor: planos para o Rem. Expectativas de viver algo significativo além de sua vida de sonhos e desejos realizados na outra dimensão. Yoongi queria, ao menos uma vez, realizar algo nesta outra parte da linha.
Mesmo que, para isso, precisasse discutir os termos com outra pessoa.
Naquela noite, ele respirou fundo antes de fechar os olhos e se deitar. Tinha todo o texto preparado na mente, todos os argumentos possíveis para retrucar da forma mais inteligente possível. Sua consciência pousou em um cômodo bonito como um quarto, com detalhes amadeirados e uma varanda provençal e histórica com a vista para uma noite tão bonita que parecia tão mística quanto realmente era. Ele juntou as sobrancelhas e olhou ao redor, confuso com o lugar, tendo certeza de que não havia pensado em tal coisa quando viajou para a cidade mágica naquele dia.
Ele encarou a segunda janela ao lado da cama e viu algo pontudo e brilhante ao longe, e soltou uma gargalhada ao constatar a imitação perfeita da Torre Eiffel, percebendo o truque que havia caído.
Não demorou muito para que ela surgisse de uma porta larga de madeira, trajando nada mais do que uma camisola cor de vinho, que se iluminava ligeiramente com a luz da lua do lado de fora, combinando com as unhas pintadas das mãos e dos pés.
Ele mordeu os lábios e balançou a cabeça, ainda rindo. Ela se aproximou com a cabeça inclinada, estreitando os olhos.
— Isso foi ideia sua? — ele apontou ao redor, percebendo agora também as velas espalhadas pelas janelas — Hoje é algum dia especial?
— Você não apareceu ontem — ela colocou uma das mãos na cintura, sem sorrir — Tentei te procurar por todos os lados, mas não te encontrei. Passou a noite sem dormir?
— Ah… Mais ou menos — ele coçou atrás da orelha, lembrando-se da noite passada em claro enquanto pensava no assunto vaidoso que planejava contar enquanto olhava o pôster dela do Rem ao lado de sua cama — Precisei pensar em umas coisas. Inclusive, eu…
Ele foi interrompido pela boca da garota na sua com uma ferocidade admirável. Seu cérebro se apagou em instantes, mesmo que isso pudesse significar perder todos os rascunhos mentais das alegações que pretendia fazer. Ela afundou os dedos em seu cabelo e começou a dar passos para trás em direção à cama, fazendo com que Yoongi pulsasse de desejo, um desejo imensurável que existia entre ele e ela.
… — ele tentou dizer em meio aos beijos que recebia no pescoço e as mãos dela passeando pelo seu corpo — Precisamos conversar…
— Não precisamos conversar agora… — ela grunhiu em um tom de voz abafado, voando as mãos pelo casaco dele e o jogando em qualquer direção. A alça de sua vestimenta já havia sido baixada há muito, e algo forte e urgente latejava entre as pernas dela, desejando que ele não falasse mais nada.
Yoongi se encontrava completamente indefeso e sem forças. Ela arrancou a camisa de botão em um solavanco, lançando-lhe um sorriso lascivo e pecaminoso. Ele sentiu a cabeça girar e suas pernas bambearem quando ela começou a descer os beijos pelo seu peito, e então rapidamente, fazendo uma força sobre-humana, pegou em seu rosto e o ergueu para cima, tentando não se deixar levar por aqueles lábios avermelhados e selvagens.
— É sério, babe… — ele tentou dizer, ofegante com tamanha excitação — Preciso te falar uma coisa importante…
— Sabe o que é importante, sr. Min? — ela o interrompeu novamente, soltando-se levemente de suas mãos. Em um movimento só, baixou o que restava do vestido, revelando o corpo nu e delineado à meia lua. Ela jogou os cabelos para as costas e caminhou para trás, subindo na cama de lençóis roxos de joelhos, movendo-se de quatro enquanto fitava os olhos do rapaz com confiança — Minha compensação por ter sido deixada para trás ontem.
Yoongi sentiu o peito explodir. A libido o tomou de forma avassaladora e ele mandou pro inferno tudo que tinha a dizer, tudo que havia pensado cuidadosamente na noite anterior. Caminhou rápido até a cama e tomou a boca da mulher sem qualquer escrúpulo, sentindo a calça apertar, mas não por muito tempo. As mãos dela já estavam voando para que tirasse tudo e suas bocas só se separaram quando a dela abocanhou seu membro totalmente erguido, fazendo-o soltar um gemido de prazer enquanto agarrava a parte de trás de seus cabelos com firmeza, acompanhando os movimentos de sua cabeça indo e vindo sem parar em movimentos deliciosos e ritmados.
Sentindo as pernas dele fraquejarem, ela o puxou pela cintura para que ele se sentasse ao pé da cama. Passou a língua nos lábios, úmidos pelo líquido pré gozo que ele emitia e Yoongi soltou um suspiro pesado, tendo a certeza de que deveria estar em um sonho dentro de outro. Ela beijou seu lábios com fervor antes de se levantar e abaixar-se no chão na altura de seus joelhos, continuando o trabalho na região como antes, desta vez com mais rapidez e com os olhos contínuos em cima dos seus, enquanto Yoongi cerrava os dentes para que seus gemidos não se alastrasse para o Rem – aquela mulher o levava à loucura nos dois mundos, era completamente possível.
— Se você continuar… — ele tentou dizer em tom de voz sôfrego e pesado, apertando os dedos no lençol, visualizando o que estava por vir, quando ela parou e se levantou, abaixando-se até ele a tempo de passar uma língua molhada em seus lábios e então virar-se de costas, jogando os cabelos para o lado enquanto acariciava sua bunda, que estava na altura do queixo dele.
Ele espalmou a mesma, fazendo dar uma risadinha divertida enquanto sentia um dos dedos do rapaz resvalando por cima de sua intimidade, totalmente molhada pelo tesão prolongado de vê-lo ficar louco. Ela se aproximou, ainda de costas, de seu colo e agachou até que sentasse de uma vez só, sentindo Yoongi entrar inteiro dentro dela, causando-lhe uma sensação de êxito e luxúria. Ele soltou o ar com prazer, e ela agarrou suas coxas enquanto subia e descia repetidamente, fechando os olhos enquanto deixava os sons arrasadores escaparem de sua garganta sem parar.
Ele ofegou quando os movimentos ficaram cada vez mais rápidos, agarrando seu quadril macio e bem demarcado enquanto seu corpo se chocava contra o dele em um barulho alto e gostoso. As pontas do cabelo dela batiam quase na cintura, e ela virou brevemente o rosto para trás, com o lábio inferior preso entre os dentes e um olhar matador de lascívia. Yoongi não sabe como não gozou naquele exato momento.
Mas ele ficou louco o suficiente para tirá-la de cima de si e puxá-la para a cama, onde ela caiu de costas e ergueu-se naquela mesma posição, voltando a ficar de quatro e encarando-o acima dos ombros.
— Eu só sumi por um dia, babe — ele grunhiu, ofegante, espalmando mais uma vez a bunda erguida da garota enquanto se ajoelhava atrás dela. Estava mais duro que nunca — Por que você parece tão mais gostosa do que sempre foi?
— Porque senti sua falta — ela riu, arqueando a cintura enquanto a parte do tronco se baixava ainda mais, até que ela encostasse a cabeça no estrado da cama.
Ele sorriu com a frase e entrou de uma vez, rápido e firme. Ela soltou um grito do fundo da garganta com a investida, e agarrou a madeira com força quando ele puxou seu cabelo mais uma vez e entrou em um ritmo frenético de estocadas, que deixaram-na zonza e mole por um momento. Ela gritou seu nome, juntando as sobrancelhas, enquanto ele a penetrou com mais afinco, desejando aquela mulher como nunca antes, sentindo que deveria aproveitar o sonho como jamais fez.
— Yoongi… Eu… — ela disse com a voz trêmula, sentindo o corpo ficar rijo com a explosão que veio logo depois, fazendo-a soltar um grito seco e sem sentido. Ele sorriu e diminuiu o ritmo, puxando o corpo da garota para baixo e então virando-a para cima, abrindo suas pernas e então metendo-se ali no meio, sugando todo o resquício de orgasmo que ela expelia. Ela gostava disso, ele havia percebido desde a primeira vez. A garota arqueou as costas, colocando uma das mãos nos seios desnudos enquanto os apertava com vontade, sentindo ondas de um prazer maluco que a língua dele proporcionava nos mínimos detalhes.
— Ah meu deus… — ela sussurrou, sabendo que agora ele fazia de propósito. Em um minuto, ele erguia a cabeça e se colocava por cima dela, beijando-a com intensidade, movendo a língua para que ela sentisse seu próprio gosto, deixando sua cabeça ter um momento de puro pane com o erotismo da coisa.
— Você fica ainda mais deliciosa quando está com saudades… — ele disse enquanto transportava os beijos para a curva de seu pescoço, e ela era tomada por um calor que não estava disposto a deixá-la em descanso.
— Hmm, então você precisa voltar — ela respondeu, de olhos fechados, deslizando seu corpo embaixo do dele, fechando as pernas em sua cintura.
… — ele murmurou em um tom repreensivo, mas não podia controlar seu corpo. Ela falava por ele e concordava plenamente de que havia muito o que despejar para fora ainda. Ela mordeu os lábios ao imaginar, e a expectativa de Yoongi só cresceu enquanto posicionava-se novamente nela, que ergueu a cintura e o ajudou a achar o caminho. passou os braços acima da cabeça, sorrindo completamente entregue ao homem enquanto ele voltava a arremeter novamente, demonstrando que agora teria sua vez. Desta posição, ele via seu rosto e todas as expressões prazerosas que ela fazia, deixando-o completamente catatônico pela cena, sabendo que não demoraria muito. Os gemidos dela voltaram a tomar as paredes do quarto, e um dos dedos dele voaram até seu clítoris enquanto ele fazia seu trabalho. Ela respirou pesado em surpresa, mesmo sabendo que era natural de Yoongi pensar no prazer da garota do que no dele mesmo. Ele a estimulava com diligência, abaixando o tronco para chupar um mamilo, e então outro, passando a língua pela sua barriga e aumentando a velocidade a cada parte nova que provava de seu corpo.
não queria dizer que já estava chegando lá novamente, mas a tremedeira que arrematou seu corpo indicava isso. Ele agarrou os lençóis ao lado, contente em se concentrar na tarefa, sentindo o suor escorrer pela lateral do rosto.
— Yoongi… — ela disse, segurando em seus pulsos com as sobrancelhas franzidas, sabendo o que viria a seguir — Eu quero…
Ele diminuiu para ouvi-la, mas não precisou de mais do que isso. Ela havia dado o sinal claro e ele sentiu o coração bater forte de excitação e um tesão inimaginável, quase impossível de ser aumentado naquele momento. A luz que entrava pela janela batia no corpo suado da garota, e cintilava pelo líquido que saía de sua intimidade, e a visão era aterradora demais, irreal demais. Ele moveu o pênis por cima dos grandes lábios até que chegasse mais abaixo, onde ela abriu ainda mais as pernas para que ele conseguisse entrar em seu outro canal mais apertado, onde ela gostava quando estava tão fervorosa daquela maneira, e onde ele sabia que não demoraria para gozar.
Ela ergueu as pernas e segurou o travesseiro acima de sua cabeça, fazendo uma careta quando a ponta dele a alcançou, mas sentindo o mundo girar exatamente como gostaria. Yoongi soltou um suspiro pesado, entrando devagar como costumava, mas não demorando a sentir a fluidez que tanto tinha a capacidade de ter ali, e não se demorou a arriscar entrar ainda mais até que fosse seguro o suficiente a aumentar ainda mais os movimentos e sentir seu membro totalmente comprimido pela garota, visualizando novamente o que estava por vir.
Ela passou um dos dedos pelo seu próprio clitóris e levou-os à boca, chupando-o sensualmente enquanto a mente de Yoongi pareceu virar uma geleia e ele sentiu finalmente o que estava prestes a sair de dentro de si. Saiu de dentro dela em um movimento rápido, erguendo-se por cima de sua pelve e masturbando-o por um segundo até que o líquido saísse em um jato em cima dela, jorrando por sua barriga e respingando em um dos seios. Ele deu um gemido preso na garganta quando terminou tudo, vendo-a ainda passar um dos dedos no líquido perto da região do umbigo e levá-lo à boca novamente, cedendo a visão maravilhosa para os olhos do rapaz. Que mulher espetacular.
Isso não podia ser real.
Ele deixou o corpo cair ao seu lado, fechando os olhos enquanto descansava os braços que pendiam da cama. Seu peito descia e subia ofegante, e ele ouviu uma risadinha gostosa dela enquanto sentia beijos confortáveis em seu rosto e mãos em seu cabelo bagunçado.
Ele virou a cabeça para o lado, ainda respirando com dificuldade, olhando o rosto da mulher sob a luz azulada, que agora sorria pra ele em um estado de euforia. Suas pupilas estavam tão dilatadas quanto as dela, e ele sentiu um êxtase como sempre sentia quando a tomava daquele jeito.
— Eu te amo, — ele disse depois de um tempo, quando sua garganta seca foi capaz de proferir alguma coisa. Ela sorriu e deitou-se de lado, entrelaçando sua perna na dele.
— Eu também te amo, babe — ela se inclinou para um beijo, que foi lento e apaixonado, terrível para a mente de Yoongi, que começava a voltar aos eixos pouco a pouco. Seu coração parecia inflar do tamanho do planeta Terra. Não existia dimensão onde coubesse todo o amor que ele sentia por aquela garota.
Ela afastou seu rosto lentamente e ele a fitou com um brilho exponencial nos olhos, um brilho de admiração e de um amor louco que o dava medo às vezes. Mas um sentimento totalmente livre de dúvidas, totalmente são no mais profundo significado.
— Me deixa te ver — ele sussurrou com a voz falha, mas sem um pingo de incerteza. Ele falaria agora ou nunca mais faria.
Ela juntou as sobrancelhas em confusão, abrindo um sorriso.
— Do que está falando, meu bem? Já estamos nos vendo.
— Não. Não é isso… — ele suspirou, apoiando-se em um cotovelo para vê-la melhor — No Rem. Vamos nos ver no Rem.
O sorriso dela diminuiu aos poucos, avaliando o rosto do homem como se procurasse qualquer sinal de zombaria pela proposta, mas não encontrou. O queixo trincado dele demonstrava segurança. Ele estava mais sério do que ela se lembrava.
Ela desviou os olhos, afastando-se lentamente até a beirada da cama.
— Por que isso agora? — perguntou, prendendo os cabelos em um coque frouxo, olhando para o brilho amarelado ao longe.
Ele se sentou devagar, encarando as costas nuas dela enquanto pensava em como continuar.
— E por que não agora? — respondeu, deslizando os dedos levemente pela nuca dela, que se arrepiou ligeiramente com o toque — Nos conhecemos há 10 anos, . Você é a pessoa mais importante da minha vida. Quero te ter desse mesmo jeito em todas as partes dela… em todos os mundos.
— Você sabe que não é assim tão fácil…
— Eu sei. — pontuou, virando-a para si — Sei que no Rem as coisas são diferentes e limitadas, mas podemos dar um jeito. Sei que juntos podemos vencer qualquer coisa.
— Não estou sendo o suficiente pra você? — ela perguntou em voz baixa, os olhos de repente escurecidos. Ele a encarou sem entender — Não está satisfeito com a nossa relação?
— Claro que não, babe — ele tomou seu rosto em suas mãos, olhando-a de perto — Isso é totalmente impossível. Você é a mulher da minha vida e é exatamente por isso que eu quero mais. Te encontrar nessa cidade todos os dias me faz uma pessoa mais feliz, mas quero te ter também do outro lado. Quero que fiquemos juntos o tempo todo. Você não quer isso?
Ela umedeceu os lábios e acariciou os dedos de Yoongi em sua bochecha.
— Claro que eu quero…
— Então por que não concorda comigo? — ele murmurou, com a voz tristonha. Algo na expressão dela murchava seu coração.
Ela se livrou de suas mãos e ficou de pé, virando-se novamente para a janela e a paisagem linda e inventada por ela mesma. Seu coração era duro e cheio de receio, concentrando todo o seu sucesso em esconder de Yoongi tudo que o rondava.
— Te disse isso há dois anos, Yoongi. Há coisas que só podem existir aqui — ela virou o rosto em perfil — Coexistimos com o Rem porque não misturamos as coisas, e é assim que deve ser. Juntar tudo pode ser catastrófico, pode ser… — ela bufou, juntando as duas mãos no peito — Eu tenho medo…
Ele se pôs de pé e andou até suas costas, abraçando-a pela cintura em um movimento delicado, pousando os lábios em seu ombro. Os corpos ainda estavam quentes pelo ato anterior, mas sentia um frio repentino soprar em suas bochechas.
— Não precisa ter medo, babe — ele sussurrou em seu ouvido — Nada rege nosso caminho em soberania a não ser nós mesmos. Podemos fazer o que quisermos, mesmo com a limitação da outra parte. Você confia em mim?
Ela agarrou seus braços, concordando lentamente com a cabeça.
— Então confie que podemos fazer isso.
bufou, girando o corpo para beijá-lo mais uma vez, devagar e calmamente enquanto tentava pensar em uma resposta. Ela não era boa com atitudes imediatistas, a não ser se estivesse surrando algum monstro da floresta. Afastou-se ao perceber a mente mais clara e sagaz, sentindo os lábios dele beijarem a ponta de seu nariz em um gesto apaixonado.
— Então vá para Seul — ela disse em voz baixa, encarando a curva do pescoço dele, que batia em sua testa — E aí podemos esperar.
Ele cruzou as sobrancelhas, puxando o queixo dela para cima.
— O que quer dizer com isso?
Ela umedeceu os lábios antes de responder:
— Vamos esperar até os 30.
— Quê? — ele arfou, afastando-se com surpresa — Por que? 8 anos, … Por que precisamos esperar 8 anos para ficarmos juntos?
— Nós estamos juntos!
— Juntos na vida real! — ele abriu os braços, aumentando o tom de voz e sentindo uma pontada de indignação que não permitia vir à tona sempre. Ainda mais com .
Os olhos arregalados da garota causaram um pesar de arrependimento no peito dele. Yoongi não costumava perder a paciência em nenhuma situação. Não era adepto a brigas ou qualquer coisa que envolvesse aumentar algumas oitavas a mais da voz, porém a frustração pela resposta de pareceu cegá-lo por alguns minutos.
— Então é isso? — ela disse em um fio de voz — Você não me considera real o bastante? Precisa ter certeza disso me encontrando no Rem… porque lá é o seu verdadeiro mundo real, não é mesmo? Não é a cidade mágica, como sempre imaginei.
, me escuta…
Ele avançou para segurar seu braço, mas ela logo o afastou bruscamente enquanto apanhava a camisola no chão, subindo-a novamente pelo corpo. Apertou os passos para a mesma porta que havia entrado, mas Yoongi foi mais rápido, colocando-se na frente da mesma.
— Será que dá pra gente conversar direito?
— Você parece já ter tomado sua decisão, não há o que conversar — ela cruzou os braços em teimosia, e pareceria incrivelmente sexy se Yoongi não estivesse realmente falando sério.
— Meu bem, por favor… — ele bufou, pegando em uma de suas bochechas, aproximando-as o bastante para que ela cedesse, mas seus pés se mantiveram firmes no chão — Eu só quero te ver, . Quero as duas facetas da realidade, quero você junto comigo em todas as dimensões da palavra limites, será que você me entende? Consegue perceber que já esperamos tempo demais para isso?
Ela balançou a cabeça, afastando-se para começar uma caminhada em semi círculos, colocando as mãos na cintura e cravando os olhos no chão.
— É por causa da sua carreira? Porque não precisamos…
— Não tem nada a ver com isso — ela o interrompeu, travando os pés à sua frente — Tem a ver com a dureza do outro lado, isso sim. Lá fora, somos obrigados a nos empenhar e se esforçar para conseguir sobreviver em um mundo cruel e competitivo. Meus pais notaram isso desde o começo e deram um jeito de explorar até o fundo de mim mesma em busca de algo que poderia valer um bom dinheiro, e conseguiram achar. Mas todas as situações que passei, toda a infância perdida no Rem que só pude passá-la de bom grado porque tinha você aqui, Yoongi… — ela fungou, mas não havia lágrimas — Só quero que você entenda que ainda precisamos de algum tempo até que tudo se consuma de vez. Até os 30, posso trabalhar o bastante pra anunciar férias prolongadas ou simplesmente minha aposentadoria e você vai ter tempo suficiente para conseguir ir mais alto. Alcançar algo naquela cidade imensa não é pra qualquer um, mas tenho fé em você, Yoongi. Sempre tive. E então, depois de todo o nosso trabalho duro, poderemos nos encontrar e ficar juntos pra sempre. Nos dois mundos.
Ela passou as unhas pelos poucos fios do rapaz ainda grudados na testa, encarando seus olhos com firmeza e paciência. Ele engoliu em seco, sentindo como se fosse uma criança que tivera o caminhão elétrico roubado sem pudor, mas considerou fortemente a sinceridade da mulher. era inteligente e decidida, e nada do que dissera eram desculpas esfarrapadas. Yoongi sabia o que era melhor, e engolir seu orgulho era a primeira coisa da lista.
— E então as coisas irão mudar de novo? — ele perguntou com a voz falha, depois de ter afogado todos os demais argumentos goela abaixo. Sentiu os dedos dela agora sobre seus lábios, em um movimento hipnotizante e certeiro.
— Sim, elas vão — respondeu, dando-lhe um selinho superficial, lembrando-se da mesma conversa de dois anos atrás — Você será um adulto. Então podemos ficar juntos quando você for um adulto.
Ele assentiu com a cabeça e viu sua boca se aproximar de novo. Um beijo intenso começou enquanto ele tomava sua cintura e apertava seus corpos novamente, com um desejo forte que simbolizava o selamento de uma promessa. Ele deixou seus sentimentos mais profundos nos lábios da garota, que recuou apenas pelo tempo necessário para abrir um sorriso largo e poderoso, deixando o rapaz zonzo com a potência que tal gesto tinha sobre seu coração.
Aquele sorriso não existia no Rem. Era o sorriso exclusivo da cidade mágica. Exclusivo de Yoongi.

“A vida que eu esperava, a vida que eu queria, apenas aquela vida
Não importa mais o que era”


A mudança veio aos 28.
Acredita-se que tudo começou em uma manhã qualquer, quando Yoongi levantou-se na mesma hora de sempre e entrou na pequena padaria – ou mercearia, as duas pareciam vender as mesmas coisas – da esquina no pequeno bairro de Sinchon. Pediu o de sempre: a porção menor de arroz junto com a sopa e demais acompanhamentos. A mistura de cores da comida por cima da mesa metálica era contrastante com o tempo cinzento do lado de fora, anunciando a chegada do inverno. O balconista organizou os pratos redondos em paralelo abaixo do nariz do garoto, andou até um controle empoeirado por trás de um vaso de plantas artificiais e ligou a pequena TV ligada a um suporte na parede, enchendo o lugar vazio com a voz formal do jornalista, que balbuciava algo como o trânsito caótico do centro e as reformas na ponte do rio Han.
O rapaz pegou os hashis, começando a se alimentar com os olhos na comida, como sempre fazia. Seu rosto não passava absolutamente nada para o mundo; parecia cansado, uma expressão envelhecida por trabalho árduo ou pouca vitamina C. Com certeza não tinha interesse em fazer amigos ou sequer ser simpático com alguém. Quem entrar pelo pequeno estabelecimento, certamente se verá tentado a sentar há alguns metros dele. Não era nada pessoal; ele no fundo preferia assim.
Já teria que usar seus melhores sorrisos durante o dia no trabalho.
Yoongi havia adquirido aquela habilidade com o passar dos anos: a simpatia elegante de um lado e a melancolia inibidora do outro. Eram duas pessoas na mesma, duas personalidades de dois mundos diferentes. Fazia um tremendo sentido, e não é como se fosse visto como maluco ou coisa do tipo. Quem presenciava um lado, não presenciava o outro. Era simples assim.
Mas naquele dia foi diferente.
Ele deixaria para ligar o telefone quando estivesse de fato caminhando para o trabalho, uma concessionária de carros perto de Gangnam, onde estava cada vez mais perto de se tornar o gerente. Os sorrisos bem ensaiados haviam feito quase todo o trabalho. Ele quis rir ao pensar em toda a baboseira dita nas escolas de que, para crescer em alguma coisa, bastava que tivesse especializações e assinaturas em diplomas. Besteira. As pessoas eram carentes e solitárias por dentro, e era muito mais inteligente dar um jeito de chegar em seus corações do que apresentá-las um pedaço de papel. Portanto, ele degustava seu café da manhã calmamente, sabendo que uma boa cordialidade venceria as inseguranças de seu chefe em um possível atraso. Não que pretendesse fazer isso. Ele se preparava para juntar tudo e finalmente se levantar e sair, quando ouviu a música.
A voz do jornalista foi tomada por um timbre animado e enérgico ao dizer por cima do som: “A cantora e atriz Close fechará a turnê mundial no estádio olímpico de Seul no sábado à noite! Depois de uma temporada viajando pela América, ela finalmente fará um ciclo de performances em grande estilo em um dos maiores palcos do país, prestigiando sua casa com o fim de uma das tours internacionais mais rentáveis da história. Boatos de que teremos música nova para fechar com chave de ouro…”
Yoongi não ouviu muito mais. Encarou a pequena tela grudada à parede com um sorriso singelo e automático no rosto. Um trecho do MV promocional passou por ela, com efeitos de luzes e uma bela coreografia que a deleitou com uma roupa de couro que estava sendo um complemento muito eficaz nas fantasias de toda uma população. Yoongi elogiou toda a produção na época, tentando controlar sua vontade de se gabar por ter aquela mulher só para ele, todos os dias. E que logo a teria por completo, sem interferências de mais nenhuma limitação.
Ele estava esperando.
Quando empurrou a cadeira de madeira para trás, algo o fez olhar para frente. Um senhor idoso, muito provavelmente na casa dos 80 anos, passou devagar à frente de sua mesa. Yoongi não sabia dizer da onde ele havia saído; também não adiantava tentar adivinhar, já que ele normalmente não prestava atenção aos clientes esporádicos ao redor. Ele levantou-se ao mesmo tempo em que o velho parou e virou o corpo completamente para ele, fitando-o com curiosidade.
Yoongi sustentou o olhar por alguns segundos, franzindo o cenho. Ele tinha as sobrancelhas grossas, enquanto a barba era rala, e só agora Yoongi percebia que tinha um brinco nas orelhas. Eles eram prateados e refletiam as luzes fluorescentes do teto. O homem o encarava de cima abaixo devagar, como se estivesse tentando extrair algo que Yoongi não podia ver.
— Posso ajudá-lo? — ele usou seu tom formal, agora já enraizado em sua língua. Era uma questão de educação básica respeitar os mais velhos, mesmo que aquele senhor estivesse começando a irritá-lo com os olhares atravessados e sem modos que lançava.
Ele, por sua vez, girou a cabeça devagar até a tela pequena onde o homem de terno falava pela última vez sobre e então voltou-se para Yoongi. Ele piscou os olhos algumas vezes e olhou para os pratos vazios na mesa.
— Acho que você está extrapolando um pouco, filho — ele suspirou, passando alguns dedos sobre a nuca, erguendo os olhos novamente — Mas não é culpa dela. Lembre-se disso. Tudo fluiu de acordo com os seus interesses.
Yoongi sentiu os pés sendo presos ao chão e um calafrio anormal atravessou sua espinha. Tudo o mais que conhecia passou pela sua mente, e em nenhuma memória escondida ele lembrava-se de conhecer o homem estranho.
— Do que está falando? — ele murmurou, e em seguida sentiu os dentes trincarem — Quem é você?
Os olhos do homem se moldaram em uma expressão de pena que incomodou Yoongi até o último fio de cabelo. Em um movimento devagar – ele era extremamente devagar para se mover –, se aproximou do garoto, que era pelo menos uma cabeça mais alto, e pôs uma mão em seu ombro, dando-lhe leves batidinhas.
— Era de se esperar que eles ficassem desequilibrados, mas aconselho a dar logo um jeito de controlá-los, meu jovem. Antes que alguém se machuque — ele pontuou em voz baixa, porém com seriedade nata que travou os músculos de Yoongi. Ele não fazia ideia de quem era o homem e não retinha nenhuma de suas palavras, mesmo que soassem como uma advertência de vida ou morte — Lembre-se de segurá-los. Afinal, você precisa começar a se tornar um adulto... — ele apontou o dedo indicador pequeno e gorducho para a testa, encarando-o com pesar uma última vez antes de caminhar para a porta.
Yoongi prendeu os músculos do maxilar, imóvel no mesmo lugar enquanto sentia a mente virar uma avalanche. Ele sentiu um grande desconforto no peito e virou-se para mandar o velho procurar alguma casa de repouso e não sair mais perturbando os jovens por aí quando viu algo tão terrível e assustador que só serviu para que travasse o queixo e sentisse as pernas bambas.
O homem se esgueirava até a entrada devagar porque era a única velocidade possível quando se tinha um manto gastrópode em vez de pernas, locomovendo-se por um muco gosmento e nojento que ia deixando um rastro largo e espesso para trás. Um soco pareceu atingir seu estômago quando lembrou-se do conselheiro do castelo encantado no meio da floresta espiritual, meio-homem meio-lesma. O rosto parecia diferente, mas ao mesmo tempo era igual. Era um rosto já visto no Rem e transportado para a cidade mágica, da forma como a mente de Yoongi interpretava, mas essa era a parte estranha. Nunca, jamais, suas interpretações foram materializadas no Rem. Ele não tinha controle sobre esse lado. Jamais viu nenhuma de suas criações enquanto estivesse de olhos abertos, então como…
Como aquilo estava acontecendo?
— Rapaz?
Ele virou-se em um susto, topando com os olhos assustados e receosos do balconista, que o encarava seriamente preocupado. Ele prendia os dedos em um punho leve, pronto para fazer algo caso o garoto catatônico e pálido decidisse surtar e quebrar cadeiras. Yoongi olhou o homem inteiro com rapidez, procurando resquícios estranhos ou partes estranhas que seu corpo poderia conter para constatar imediatamente que não estava louco.
— Está tudo bem? — o homem de meia idade perguntou, cauteloso. Yoongi coçou a garganta, recuperando-se rapidamente.
— Sim, está tudo bem — ele endireitou a postura, saindo por trás da mesa e pegando a carteira — Vocês deveriam prestar mais atenção nos loucos que aceitam aqui dentro.
— Como?
— O senhor que estava aqui agora há pouco. Fala sério… — ele deu uma risada engasgada, puxando algumas notas e estendendo-as para a frente — Deve ter tido alguma fuga em massa de um asilo nas redondezas. Melhor ficar de olhos bem abertos, velhos também podem ser perigosos.
O homem franziu o cenho com tanta concentração que não foi capaz de pegar o dinheiro do cliente de imediato. Yoongi arqueou as sobrancelhas, fazendo uma pergunta silenciosa ao atendente: tem algo errado?
— Meu rapaz… — ele travou, umedecendo os lábios enquanto avaliava todas as linhas do rosto do garoto, lançando-lhe um olhar igual ou pior do que o velho de antes; a compaixão, a pena — Não tinha nenhum senhor aqui além de você. Com quem estava falando?

*


Yoongi ainda teria um dia cheio pela frente.
O choque inicial da visão perturbadora de mais cedo já estava sendo suficiente para drenar toda a concentração que ele normalmente tinha durante o expediente. Pensar que era impossível não ajudava em nada – a imagem não desaparecia de sua mente e nem se transformaria em mentira de uma hora para outra. Porque, por mais que tentasse se convencer de que estava alucinando, não existia razão para aquilo. Yoongi era recluso e não tinha lá amigos de verdade no Rem, mas dormia bem e era um homem são. Que dirá da noite passada! Cansaço extremo não era motivo suficiente para sua mente pregar peças depois de uma noite de amor avassaladora com sua garota. Eles podem ter passado um pouco do ponto e por isso talvez ainda estivesse com resquícios da magia do outro lado; pensando bem, não era a primeira vez que aquilo acontecia. Desde que chegou a Seul, ele podia se lembrar de, certas vezes, estar andando pela rua e ter alguns lapsos de criaturas da cidade mágica. Homens de 3 metros de altura, mulheres com garras e vampiros de cabeça para baixo eram uma visão turva no canto de olho. Quando virava-se no ímpeto, eles já não estavam mais ali, mesmo que tivesse certeza absoluta de que os tinha visto. Concluiu que as visões eram um resíduo, uma memória do outro mundo.
Mas elas nunca haviam aparecido tão sólidas daquele jeito. E em hipótese alguma haviam falado com ele.
A estranheza do dia tomou nova forma quando, no momento breve de almoço, onde se sentava sozinho em uma mesa grande e circular no restaurante ao lado da concessionária, seus ouvidos se empinaram para uma conversa de colegas de trabalho que tinham os olhos sugados pela tela de um aparelho celular abaixo de seus queixos, dando risadinhas e cutucando um ao outro enquanto diziam:
— Eu sabia! Aish… — um deles arranhou os dentes, rindo logo em seguida — Não é como se um patrimônio da beleza nacional como Close fosse ficar solteira para sempre.
Yoongi travou as mãos.
— Ela ainda vai continuar pervertendo minha inocência — o outro suspirou, recebendo uma risada escandalosa — Mas quem é o cara? Parece que não o conheço…
— A sorte realmente tem seus favoritos — ele revirou os olhos — Parece que é o filho mais velho chaebol que estava morando no exterior. Ele faz uma dessas coisas difíceis na bolsa de valores, e os dois devem ter se encontrado por lá nessa última turnê. Diz até que devem estar juntos bem antes disso…
Yoongi arrastou a cadeira com violência para trás. Um zumbido estranho e alto apitava em seus ouvidos, deixando-o surdo por alguns momentos. Os dois comentadores avulsos viraram-se com o susto pelo barulho, e receberam o olhar cortante do rapaz de pé. Em um movimento só, Yoongi andou até eles, agarrando o celular de uma das mãos e encarando a tela com ansiedade.
— Ei! — o dono do aparelho gritou — Você é doido?!
Yoongi não se importava. A foto mostrava claramente a sua — de braços dados com um homem alto e elegante, trajando roupas bem passadas e pomposas, exalando a riqueza apenas nos gestos. Ela sorria nos cliques, que se repetiram em outros lugares diferentes, inclusive na América. Uma sensação quente e vertiginosa tomou conta de sua cabeça. Ele prendeu a respiração.
— Ei, seu…
O celular voou para o peito do homem enquanto Yoongi dava as costas e saía do estabelecimento, sentindo a cabeça latejar. O mundo pareceu girar como um vórtice, sugando toda a sua sanidade e capacidade de se manter calmo.
Ele nunca se importou. Em 16 anos, sempre soube separar bem a do Rem e a sua da cidade mágica, mesmo sabendo que, em essência, eram a mesma pessoa. Mesmo depois da conversa que tiveram há 6 anos atrás, quando deixou sua ansiedade falar mais alto e propôs que tudo fosse parte da mesma coisa, ele soube aceitar a espera, assim como seus argumentos. Encarar a veracidade das coisas no Rem era o que mais estava acostumado a fazer, e ver comentários públicos e sexualizados sobre sua garota por toda uma multidão era tolerável quando se lembrava que ela era sua, e que sempre seria. E que o dia em que tudo se fundiria em uma só realidade chegava cada vez mais perto.
Mas ele não considerou a possibilidade de interferência de terceiros. Era algo impossível demais para ser considerado. Quando estava com , desfrutando de amor e aventura em um mesmo nível equilibrado de felicidade e prazer absoluto, não existia muito espaço para falarem do Rem em questão. Nos 6 anos posteriores à conversa, quando Yoongi sentia-se novamente atormentado por passar seus dias do outro lado vendo-a apenas por uma tela de algum apetrecho tecnológico, ele respirava fundo e sussurrava seus desejos intensos no ouvido da garota, de forma branda e amável. Não como uma cobrança, apenas uma pontuação. A reafirmação da promessa de espera.
Claro que ele já havia estado perto dela no Rem. Ou tão perto quanto qualquer um dos milhões de fãs que enchiam as arenas de seus shows no país, mais um entre milhares, mas ainda assim seu coração batia forte por se sentir especial. Por sentir que aquela mulher incrível era mais do que roupas brilhantes e o padrão de beleza nacional. Ela era sua , a mulher de seus sonhos e o amor de sua vida inteira, preenchendo sua vida com verdade e júbilo, como uma divindade feita especialmente para ele.
Por essas e tantas outras coisas, ele era capaz de se embrenhar na multidão e encará-la do melhor assento, com um sorriso confiante e orgulhoso, como se cada movimento e risada que ela desse em cima do palco fossem direcionados a ele. E um dia ele pode jurar que vira tal coisa — uma piscadela, um sorriso secreto direto para o rapaz no meio da massa de pessoas.
Mas as fotos… Elas não faziam sentido algum.
Os dois estavam esperando. Os dois mantinham seus esforços ativos até os 30, para quando tudo fosse mudar, para quando finalmente virariam um só.
A voz dela surgiu em sua mente de repente, fazendo-o parar ao meio-fio ao se recordar: “podemos ficar juntos quando formos adultos”. Era o que estava tentando fazer, o que fazia há 6 anos. Ele estava se tornando um adulto, ele alcançaria aquele patamar com êxito, com…
“Fala sério, você já é um adulto!”
— Não! — ele trincou os dentes, levando as duas mãos às orelhas, assustado por um momento pela voz repentina. Não reparou nas pessoas que franziram o cenho pela atitude louca e momentânea, nem os dedos apontados para si. Ele apertou o passo, andando para lugar nenhum, ouvindo a frase se repetir como martelo e prego, insistindo em uma inverdade mal caráter — Eu ainda não sou… Não sou…
Os sussurros saíam de seus dentes até que curvou em uma esquina próxima, apoiando as costas na parede úmida de um beco, onde um cão ao lado revirava o lixo restante do fim do expediente de um restaurante. Yoongi sentia a têmpora latejar e a visão ficar turva, chegando a jurar que a cor do vira-lata na verdade era verde e ele tinha cauda de baleia. Mas quando piscou novamente, tudo sumiu. Ele era apenas cor de caramelo.
Ele olhou para o céu, sentindo o coração descompassado. Precisava falar com . Precisava tirar esse peso de dentro de si, precisava não enlouquecer com conclusões precipitadas.
Depois de respirar fundo por 3 vezes, ele saiu do beco e caminhou de volta para o trabalho.

Agora eu estou assustado
Para onde foram os fragmentos do meu sonho?”


Naquela noite, não apareceu.
Yoongi não sabia se era realmente capaz de virar a cidade mágica de cabeça para baixo, considerando o teor literal que dominava todas as coisas do lugar. Mas um fio de nervoso começava a tomar conta de todo o seu corpo, e suas teorias eram sórdidas e malucas, acompanhadas de um medo que o gelava o sangue por ponderar sobre a mínima possibilidade de perder a mulher do nada.
A ideia nunca havia passado pela sua cabeça. Ele nunca nem se deu ao trabalho de imaginar alguma fase da vida onde ela não estivesse presente, o que o fazia recusar educadamente — às vezes nem tão educadamente assim — as tentativas de sua família e os poucos amigos, junto com os colegas de trabalho, de lhe apresentarem uma garota enquanto insistiam que já passara da hora de ele se casar. As alegações de sua mãe se mostraram mais preocupadas a cada ano, até que um dia ele se abriu sobre a verdade escondida e incompreensível que esperava que a fizesse sossegar os próprios nervos e o dele.
— Vou me casar aos 30 — disse ele com sinceridade, a maior verdade que já disse para a mulher. Ela arqueou as sobrancelhas confusa, esperando que ele desmentisse a piada.
— Como tem tanta certeza disso? — ela repuxou os lábios, ficando ainda mais nervosa — Nunca te vi com uma mulher, Yoongi. Nunca te vi com ninguém. Como pode saber que vai encontrar alguém tão rápido em tão pouco tempo…
— Eu não vou encontrar ninguém, ela já existe — ele respondeu, suspirando. A mulher o olhou ainda mais perdida — Não é algo que precisamos falar agora, e espero só voltar a mencionar isso quando você receber os convites. Mas estou dizendo a verdade — ele lhe deu um aperto amigável nos ombros, com um olhar tranquilizador — Vou me casar com a garota dos meus sonhos. Agora aceita um chá?
Ela aceitou o chá e a explicação.
Não havia verdade maior no coração de Yoongi. Ele se casaria com Close aos 30 anos. Ele se tornaria um adulto. Já estava mais do que comprovado.
Então por que ela não estava aqui hoje?!
Ele sentiu a necessidade de extravasar; de gritar o seu nome, espernear pela sua presença e uma explicação. Sua cabeça girava pelos acontecimentos anteriores, das criaturas encontradas no Rem e de daquele mundo poder estar naquele exato momento com outro homem. Outro homem! Ele soltou uma gargalhada de nervoso. Nunca, jamais, havia pensado sobre outra pessoa entre os dois. Porque não existia a mínima possibilidade daquilo acontecer. o amava. Sempre foi assim. Ela o amou primeiro, ela apareceu em seus sonhos, era com ele que compartilhava realidades alternativas e sentimentos verdadeiros que ultrapassavam limites de espaço e tempo. Amor, era isso! Eles se amavam.
Por causa disso, ele precisava urgentemente se acalmar e esperar pela explicação que ela certamente daria. Precisava se lembrar de que sua posição social era alvo constante de mentiras e tabloides fantasiosos, e que a verdade não poderia ser conhecida pelo público, pelo menos não por enquanto. Aos 30, eles fugiriam e se casariam em um lugar distante, e então o céu e a terra virariam nada além de uma linha tênue no horizonte. Os dois mundos se uniriam.
Mas então, ela não apareceu na próxima noite também. E nem nas duas seguintes. Um pico de desvario começava a tomar conta de Yoongi. Ele não era mais tão capaz de controlar o temperamento antes calmo e prudente, agora se transformando em uma xícara prestes a transbordar, perdendo a cabeça com mínimos erros do dia-a-dia e tentando perder a consciência no horário de almoço para ir à cidade mágica em busca da garota. Ainda nada. Tudo estava virando uma completa bagunça dentro de si.
Na semana seguinte, sentado em sua cama enquanto encarava o ingresso comprido para a entrada no estádio, ele sentiu uma adrenalina cortante atravessar seu corpo ao pensar nas medidas drásticas que estava prestes a tomar. não aparecia há 7 dias, e esses foram arrastados de puro desespero e terror regado a possibilidades terríveis que o atormentavam até durante o sono. Ele não havia lutado contra os monstros, não havia feito espadas e nem nadado no Triângulo das Bermudas, apesar de que flashes das mesmas criaturas continuavam aparecendo em intervalos de relances cada vez menores, o que o deixava à beira de um pânico raivoso. Um deles esbarrou em seu ombro ao sair do mesmo restaurante após o almoço, e não sumiu imediatamente assim que se virou para vê-lo. Um ataque de ódio o fez partir para cima da criatura invisível, dando-lhe socos e pontapés enquanto as pessoas ao redor não viam nada a não ser um homem louco e barulhento que precisou ser separado do asfalto molhado da chuva anterior.
Ele estava perdendo a cabeça. Naquela mesma noite, pode jurar que avistou seu chefe usando saias irlandesas enquanto vendia hambúrgueres de siri nas ruas da cidade mágica. Entre as duas bases do pão, ele pode observar os dedos do animal vivo se mexendo lentamente enquanto um cliente se deliciava com sangue fresco escorrendo pela boca.
A mágica estava medonha. Um horror absoluto o tomava a cada dia que se passava. Ele precisava agir, precisava fazer alguma coisa.
Apertou-se na entrada da arena junto com a multidão ensandecida que se encontrava gritando em euforia pela sua garota. Um pouco do dinheiro da poupança havia sido suficiente para que seu lugar fosse de primeira, mesmo que, se alguém se desse o trabalho de reparar, ele não se parecia em nada com um fã consagrado da bela Close. Parecia estar ali para vigiar.
Por mais que as coisas estivessem ruindo, ele conseguiu esboçar dois ou três sorrisos automáticos enquanto a via em cima do palco, mais linda do que nunca, deleitando-se em carisma e talento, fazendo valer cada centavo retirado de seu fundo que servia exatamente para os dois. se movimentava com leveza e selvageria ao mesmo tempo, sendo um perfeito escopo para a imaginação não só de Yoongi, que sentiu o peito doer de saudades, mas o de uma aglomeração inteira. Tudo que queria era que ela o visse, que diminuíssem o tempo daquela promessa, que tudo voltasse a ser como antes.
Quando percebeu que o show estava quase acabando, seguiu para a saída lateral empurrando ombros e desviando de lightsticks piscantes em rosa e amarelo. Ele lembrava-se vagamente do caminho que a mídia usaria, e era bom em memorizar placas e modelos de carro, trazendo bem a calhar o conhecimento adquirido no trabalho. Não demorou para chegar no lugar, já tomado pela imprensa e câmeras com lentes gigantes, esperando para serem usadas na entrevista de encerramento. Ele puxou o capuz para cima, camuflando-se na escuridão por trás do bolo seletivo de pessoas e esperou.
Quase uma hora e meia depois, a agitação tomou conta dos profissionais e os flashes começaram a todo vapor quando ela surgiu de dentro de um carro preto e reluzente. Yoongi achou que teria uma parada cardíaca com a visão aterradora da mulher à sua frente, brilhando em um vestido curto com brincos grandes e os lábios avermelhados em tom natural, aqueles lábios que ele não via há uma eternidade. Seus pés agiram antes de sua mente, sendo detidos apenas por ombros largos que o empurraram e congestionaram o caminho até ela, que acenava e respondia rápido algumas perguntas na presença de seguranças de pelo menos 2 metros de altura, junto com uma mulher baixa de cabelos curtos que parecia ser a responsável por direcionar as mesmas.
! — ele se viu gritando, mas várias pessoas faziam a mesma coisa. O nome dela era entoado em uníssono, tão loucos quanto ele pela sua atenção, o que o causou um tipo de sentimento desesperador e sujo; como se quisesse que todos eles explodissem ou fossem engolidos pelo chão. Que só sobrasse ele mesmo e a mulher cercada de brilho; desejou estar na cidade mágica. Lá tudo era possível.
Ele continuava tentando se embrenhar com sofrimento pelas pessoas, judiando das cordas vocais que já iriam encontrar um limite. Ela não o olhava, não fazia absolutamente nada. Continuava cedendo-lhes aquele sorriso — um sorriso do Rem — e respondendo as perguntas que lhe eram passadas.
Ela não o veria? Não reconheceria sua voz? Como isso era possível? Era ele! Não era qualquer pessoa!
Quando conseguiu chegar ao meio da confusão, imprensado como uma sardinha, as vozes ao redor pareceram ganhar forma e força e ele se sentiu surdo para o que ela falava. Eram muitas perguntas e gritos feitos ao mesmo tempo, muitas luzes que o faziam encarar a situação em câmera lenta, causando-lhe uma estranha fotofobia, mas tudo pareceu ficar ainda mais caótico quando ele finalmente conseguiu escutar.
E o que escutou pôs toda sua vida numa corda bamba.
, ! É verdade que está namorando aquele chaebol, Kim Taehyung?
Ele viu a mão dela erguer-se para esconder uma risadinha de constrangimento. Os lábios dele ficaram secos. A resposta veio em forma de uma concordância de cabeça enquanto o público de fotógrafos entrava em um êxtase completo e insano.
Ele não sabe o que fez logo em seguida. Seu corpo ficou rijo no mesmo lugar enquanto observava a mulher baixa começar a dispersar as pessoas, alegando que as entrevistas tinham chegado ao fim e era hora de tirar um longo descanso. Yoongi ouviu as palavras por alto, distantes, como se viessem de quilômetros em suas costas. Ele viu ela se afastando, protegida e delimitada por brutamontes grotescos, erguendo as mãos em acenos simpáticos enquanto voltava andando para outro carro preto enorme.
Ele não sabe como aconteceu. A força sobre-humana adquirida do desespero surgiu do nada, fazendo-o acotovelar com violência os demais e derrubar câmeras e apetrechos de gravador, correndo como um touro na direção dela, cego para as demais pessoas e circunstâncias ao redor. Tudo que conseguia ver era sua — e as palavras não ditas, a resposta que se cravou como uma espada élfica da cidade mágica em seu peito, que não chegava a matar, mas doía como uma foice. Ele não podia simplesmente vê-la ir, vê-la falar coisas tão fora de si e ficar parado.
! — ele berrou com a força de seus pulmões, o qual foi ignorado pela garota. O nome dela se misturava entre tantos da multidão — , não! O que você está fazendo? ! — ele jogou o corpo como um jato por cima de um dos braços erguidos do segurança e durou apenas um segundo. Um segundo foi tempo suficiente para que conseguisse tocá-la pelo cabelo, agarrar qualquer parte dela antes de ele mesmo ter o corpo contido pela montanha de músculos.
Mas ele conseguiu o que queria. Por um breve minuto, que pareceu durar todos os últimos 16 anos, ela se virou e o encarou nos olhos.
— O que você fez? ! — ele gritou, tendo o corpo arrastado com brutalidade para longe, fitando os olhos dela tentando enxergar uma resposta silenciosa.
Mas ela não veio. Nada de da cidade mágica veio. A garota à frente apenas franziu levemente as sobrancelhas e uma escuridão sem precedentes tomou seus olhos, junto com traços pesados de seriedade e desprezo com o toque repentino dele. Não parecia uma garota doce. Não parecia com nada do que ele tenha visto…
Tão logo ela ajeitou os cabelos e voltou a apressar o passo para o carro, revestindo-se do sorriso de um minuto atrás, como se aquele momento da verdade nunca tivesse existido.
Antes que continuasse lutando, os dedos em seus braços se transformaram em garras profanas e a pele por baixo do terno escuro em escamas grandes como placas. Uma voz quente e fétida sussurrou em seu ouvido, calando todas as outras por um terço de segundo:
Pare já com isso e trate de se tornar um adulto.
Ele perdeu a voz imediatamente e deixou ser arrastado pelo monstro para longe das luzes.

*


O abismo era um vácuo escuro e infinito.
Parecia mais real do que qualquer outra coisa já foi na cidade mágica. A escuridão terrível há toneladas de metros abaixo era a ilustração perfeita de como sua mente se parecia. Vazia e morta.
A luz esverdeada da aurora boreal passeava por sua pele desnuda dos antebraços, fornecendo nada mais do que um brilho ínfimo de suas íris, tão opacas quanto todo o resto. Seu corpo nem aguentava mais sentir raiva ou frustração; qualquer uma dessas coisas seriam capazes de desgastá-lo até que se desmontasse como uma pilha de tijolos. Tudo que conseguia pensar no momento era o que aconteceria se decidisse avançar mais alguns passos e deixar seu corpo se perder no precipício. Provavelmente não morreria, mas poderia demorar a voltar. Não era algo que estava disposto a reclamar. O Rem havia se tornado o próprio inferno, assim como as nuances macabras que afligiam a cidade mágica.
Ele não ouviu os passos arrastados no cascalho atrás de si. Os olhos focados na ruína o tiravam de qualquer tom de realidade, que só passou quando sentiu os dedos quentes e macios pegarem seu pulso.
— Yoongi?
Ele ouviu a voz claramente, mas não se virou de imediato. Estava certo o bastante de que sua mente estava lhe pregando peças, colocando coisas na frente de seus olhos que não eram reais, e também não eram imaginárias. Ele balançou a cabeça e fechou os olhos com força, virando-se lentamente em sua direção.
Ela estava parada ao seu lado, e não demorou a soltar o lindo sorriso que ele se lembrava tão perfeitamente. O sorriso mágico. Ele sentiu os braços passarem por sua nuca e seu corpo ser envolvido em um abraço apertado, que não foi capaz de retribuir. A informação da presença dela ainda estava sendo processada com lentidão em sua mente, que parecia estar armada contra mais ciladas feitas pelos mundos.
Babe, senti tanto a sua falta! Te procurei por todo canto, você tinha sumido… — ela dizia na curva de seu pescoço, e até seu cheiro era parecido.
Ela balbuciou mais algumas palavras que a mente dele não captou e se soltou devagar do rapaz, olhando-o em confusão.
— O que houve? — perguntou, em um fio de voz.
Ele finalmente olhou em seus olhos, trincando o maxilar em tentativa máxima de não estourar. A expressão dela era limpa, inocente, sem nenhum resquício do desprezo velado que demonstrou no Rem — aquela feição que fugia totalmente da que estava parada à sua frente. Como se não o reconhecesse.
Mas ele não precisou de muito para validar que estava na frente de sua garota de verdade, mesmo que não conseguisse apagar tudo que havia acontecido na última semana.
— Onde diabos você esteve? — perguntou ele, a voz falha e rouca.
Ela cruzou as sobrancelhas, sem entender.
— Como assim? — soltou uma risada curta — Eu estava bem aqui.
— Mentirosa! — Yoongi se afastou bruscamente da garota, sentindo os espasmos da respiração pesada e cortante atingirem todas as paredes dos pulmões — Você está mentindo pra mim… Mentiu esse tempo todo!
ficou paralisada pela reação imediata do rapaz. Yoongi viu a confusão genuína em seu rosto, mas se recusava a se deixar levar sem provas. Podia ser uma armadilha… Tudo podia ser uma grande mentira.
— Yoongi, você está me assustando…
— Assustando você? E quanto a mim?! — ele trincou os dentes mais uma vez, tentando se manter coerente enquanto era inundado pela corrente da raiva — Como acha que eu fiquei quando você simplesmente desapareceu? E quando fez aquilo depois do show…
— Do que você… — ela deu um passo para a frente.
— Não minta, ! — Yoongi ergueu as mãos rapidamente, avisando cegamente que ela deveria ficar onde estava — Não tenta me dizer que não sabe do que estou falando. Você me viu! Escutou a minha voz, olhou dentro dos meus olhos no Rem e simplesmente… foi embora.
Ela abriu a boca para responder e fechou-a logo em seguida. Agora havia mais em seu rosto do que apenas confusão; tinha desespero.
— Você foi me procurar no Rem? — ela avançou vários passos, aproximando-se dele tão rápido que não o cedeu tempo para se afastar — Por que fez isso, Yoongi? Por que fez isso tão antes do tempo?
Ele riu em ironia, mesmo que não tenha durado muito ao avaliar aqueles olhos que agora o encarava em repreensão. Ela só podia estar louca…
— Como tem coragem de me perguntar uma coisa dessas? — a voz dele não parecia ter nenhuma vida em especial. De nenhum dos dois lados — O que esperaria que eu fizesse depois de te ver exibindo outro cara na frente do país inteiro?
Ela arregalou os olhos, agora se afastando por conta própria. Ele sentiu dor ao ver seu corpo se distanciando, como se a presença dela fosse uma necessidade fisiológica e, por mais que estivesse zangado, ele se sentia inegavelmente melhor com ela por perto. Sentia que precisava afogar toda a saudade e vontade louca de agarrá-la para ouvir as explicações sobre os disparates, precisa vê-la desmentindo algo que ele já não queria acreditar.
— Não é nada disso que você está pensando.
Os ombros dele baixaram em um alívio instantâneo, mas seus olhos continuaram nos dela, esperando. Precisava ouvir mais do que isso para se convencer por completo. Só um pouco mais.
— Você descumpriu nosso trato. Você duvidou — ela umedeceu os lábios, olhando-o de forma dura — Por isso tinha sumido… Já expliquei várias vezes como funciona a do Rem, e de que ela precisa viver uma vida baseada em mentiras porque é assim que se ganha dinheiro na Coreia. Você tinha entendido isso! Sabe que minha vida ainda não é totalmente minha e que os números regem mais do que a minha própria vontade. Era pra você confiar em mim, Yoongi. Achei que confiasse…
Ela repuxou os lábios em uma expressão de choro, e Yoongi sentiu o coração pesar e esmorecer com a cena. não era uma pessoa que chorava com facilidade, e a cena de tal coisa sempre se tornava um pesadelo para ele. Uma vontade absurda de jogar a fúria por aquele precipício tomou cada célula de seu corpo, junto com todas as lembranças do que havia acontecido naquela semana. Ele se sentiu um idiota genuíno. Um porco sem coração.
Contudo, não fez nada. Não conseguiu se mexer. Uma vibração silenciosa estourava em seu interior, como se o deixasse em puro estado de alerta, gritando para que prestasse mais atenção nos detalhes.
… — ele começou a dizer, dando ouvidos à sua razão, pretendendo dar uma chance à investigação.
Mas ele não disse muito mais. Em um segundo, sentiu os braços da garota em volta de si e a boca dela na sua em ímpeto. Absolutamente tudo se apagou de sua mente, transformando-se no espaço negro logo ao lado. A necessidade pela sua estava presente em todas as partes do seu corpo, e eram mais fortes do que as vozes de sua cabeça. Era mais forte do que os atributos estranhos que fizeram parte daquela semana. Por um minuto inteiro, ele mal pode lembrar-se delas. Só conseguiu se ver capaz de agarrar a cintura da garota com força e trazê-la para perto, o mais perto possível, da forma mais desesperada e cega que foi capaz.
— Yoongi… — ela tentou dizer durante o beijo, com o rosto encostado ao dele, as respirações se misturando — Eu te amo. Você é o único que eu quero. Acredita nisso?
Ele ainda mantinha os olhos fechados, absorvendo as palavras como um mantra e deixando-se abrir um sorriso singelo de vitória. De repente estava tudo bem. Ela estava ali e tudo era verdade. o amava, ele sentia isso. Sentia em cada músculo de seu corpo. Agarrou a boca dela com ferocidade novamente, marcando território na mulher, chupando seus lábios com sede, com tesão acumulado. Em sua mente, só existia ela e a certeza absoluta de que as coisas voltariam a ser o que eram antes.
Ela se afastou dele de repente, e o brilho do sol quase o cegou quando abriu os olhos. O cenário agora era do mesmo quarto que compartilhavam, onde a paisagem fora da janela era volátil e escolhida por ela. Naquela ocasião, planícies esverdeadas de florestas pulsantes e um sol brilhante e vivo iluminavam todas as copas de árvores e jorravam feixes largos pela sacada às suas costas. Um espaço cavado ao chão deu lugar a uma piscina retangular onde a água era límpida e o infinito verde era visto logo abaixo de seus pés pela estrutura envidraçada. Como se mergulhassem na paisagem por si só, que comandassem aquele mundo inteiro.
Ela largou as roupas ao seu lado, caminhando nua até mergulhar com êxito na água cristalina. Ao emergir, ela levantou o dedo indicador, esticando-o para chamar Yoongi, ainda parado e totalmente imerso na paisagem paradisíaca que o fez perder o fôlego por um instante. Quando voltou a si, tratou imediatamente de arrancar as roupas e entrar ao lado dela, puxando-a para sua boca novamente, sentindo as pernas da garota cravarem ao redor de sua cintura, chamando-o para um jogo divertido e libidinoso ao sentir seu quadril se remexendo por cima de seu pênis. Ele sentiu a mente pifar.
— Senti sua falta… — ela arfou, sentindo-o pronto para ela, e em seguida os lábios do rapaz abocanharam seus seios com vontade. Tudo à sua volta girou e ela fechou os olhos, os mamilos duros sendo tomados com desejo imensurável.
Ela voou para sua boca de novo, desprendendo as pernas em volta de si. Os dedos de Yoongi foram prontamente para o fundo dela, que soltou um gemido ruidoso por entre os lábios juntos, sentindo todas as partes serem invadidas por ele. Ela sentia o corpo inteiro dar cambalhotas de prazer; o ritmo dele era constante e perfeito. Ela soltou uma risada marcada pela respiração pesada e passou a língua por seus lábios, levando uma mão para baixo e começando a acariciá-lo, o tanto quanto conseguia se concentrar diante das investidas ferozes e cruéis do amado.
Ele levou um dos dedos até a boca dela, que deu uma mordida sutil e o empurrou até a parede da estrutura transparente, beijando-o mais uma vez. Yoongi sentia-se anestesiado; ele a tomava com sofrimento, desespero, como se um medo escondido o dissesse que a fantasia logo desapareceria. Agarrou a cintura dela e levantou seu corpo até a borda da piscina, abrindo suas pernas e enterrando a boca em sua intimidade com um fechar de olhos de desejo maluco. Ela arqueou o corpo para trás, sentindo sua língua apoderar-se de cada parede de seu corpo, cada mísero pedaço de pele que ele conseguisse alcançar. podia ver o sorriso que ele lançava enquanto chupava os grandes lábios, enquanto apertava sua barriga e quase conseguia ver pontos pretos e brancos acima de sua testa, como se aquele prazer fosse demais.
Tudo era demais quando estavam juntos. Era a consequência de não se preocupar com limites.
Depois de um tempo, com o céu pintado em tons de roxo e rosa e o corpo nu de agora cochilando profundamente sobre a cama, Yoongi parou para observar os detalhes. Ancorado sobre um cotovelo, a visão que tinha dela era a mesma de sempre, mesmo que os burburinhos que vagavam pelo seu corpo mais cedo o informassem para prestar atenção. O rosto era o mesmo do Rem, e o amor que ele sentia beirava a uma doença que o consumia cada vez mais, e por muito tempo ficou bem com isso. Tê-la em seus braços era o verdadeiro sentido de sua vida, e o futuro seria apenas uma melhoria do que já tinha hoje. Ele poderia esperar.
Mas a frase o intrigou. O fez se lembrar. Quando estavam se amando profundamente mais cedo, ela sussurrou em alto e bom som em seus ouvidos, mesmo que estivesse tão nocauteado pelo prazer que não se atentou no momento. Mas as palavras estavam lá, e trouxeram de volta os últimos dias.
Nunca mais duvide. A magia não tolera descrença. Ela desaparecerá…

Eu respiro, mas
Parece que meu coração está quebrado
Sim, agora eu me tornei um adulto, me tornei um adulto
Que acha difícil segurar o seu sonho”


A nicotina atravessou todo o seu corpo ao tragar pela terceira vez.
Yoongi não costumava fumar. Era um hábito que acabaria com sua vida sem razão alguma. Ele não era uma pessoa que pensava muito na morte, nem a desejava tão cedo. Tinha tantos sonhos e planos que queria vivenciar com , tantas aventuras ainda não vividas e talvez nem sonhadas que pensar em arriscar tudo isso por prazeres momentâneos era pura loucura. Ele era uma pessoa enérgica e transbordava vivacidade dentro de si, mesmo que o lado de fora fosse frio e indiferente, como diriam as demais pessoas. Talvez, em sua visão particular, ele não fosse assim tão diferente dos outros – os adultos. Ele se parecia com um deles. Mas, por dentro, não era.
Ainda não era. Mas, lentamente, começou a pensar que estava se tornando um.
As coisas com estavam resolvidas, aparentemente. Sua rotina de estarem juntos voltara a ser a mesma, partindo do ponto de antes. As notícias do Rem perturbavam sua mente com fotos dela e do homem alto, agora totalmente assumidos e com sorrisos felizes e contentes enquanto engajavam as redes sociais e as vendas de revistas de fofoca. Não deveria ser um problema, pensava ele. Estava explicado, tudo estava às claras. era dele e de mais ninguém. Ela estava sendo obrigada a fazer tal coisa.
Mas um rugido permeava as paredes de seu peito constantemente, como algo implorando para sair. Ele não se via mais capaz de sorrir e acenar diante das notícias, de pensar que todo o circo midiático a fazia se prestar àquela atuação nojenta, de imaginar as mãos de outro homem tocando em sua pele para melhorar a audiência podre dos consumidores da mentira. Esses e outros pensamentos o torturavam durante o dia, e ele não conseguia disfarçar tão bem ao lado dela quando a noite caía. Alegava estar perturbardo com as coisas do trabalho e ansioso pelo novo cargo, mas não sabia se era convincente o suficiente. Ele sentia as mãos tremerem com o desejo de agir.
E os monstros continuavam a aparecer.
Parecia um teste da cidade mágica sobre seu dono, testando seus limites enquanto desafiava-o a desacreditar de novo, a duvidar da veracidade de todo o conteúdo vivido por lá. Ele não tinha mais a hesitação na fé, mas tinha o questionamento. Olhava as notícias de enquanto se perguntava: por que precisamos das regras de lá? Por que não nos libertarmos de qualquer regra, seja de qualquer mundo, por que não criarmos as nossas próprias?
As criaturas estavam perdendo o controle. Tais elementos da cidade mágica estavam se misturando ao Rem. E ele preferia interpretar essa confusão da forma que o convém: era hora de tomar as rédeas da situação e libertar ele e de todas as amarras dos dois mundos.
Era esse plano que repassava quando largou o cigarro no asfalto e apagou a chama com a sola dos sapatos. Entrou no carro alugado, olhando o pacote marrom no banco do passageiro e deu a partida. Olhou para as nuvens pesadas pela janela uma última vez antes de focar os olhos à frente e seguir decidido para seu objetivo.
Horas mais tarde, em uma grande casa envidraçada e escondida por grandes muros em algum ponto do bairro de Itaewon, abria a porta da frente, deixando bolsa e chaves escorregarem para cima do carpete e tirando os sapatos enquanto bufava pelo fim de mais um dia de trabalho agitado. Os charts estavam a seu favor, assim como as outras vendas e planejamentos futuros, o que não a deixavam outra opção a ser sentar e relaxar por saber que o caminho à frente era ladeado apenas por sucesso e tranquilidade. Como uma bela estrela fadada à fama deveria ser.
Era quase noite quando acendeu as luzes e observou a chuva, antes ameaçadora, começar a cair em gotas grossas do lado de fora. Ela sentiu uma névoa fria passar por sua pele e andou até as janelas altas de vidro do chão ao teto, certificando-se de não ter deixado nada aberto. Antes que pudesse vasculhar qualquer erro da estrutura, ouviu o som alto e estridente do telefone, voltando-se para onde o tinha largado no sofá e erguendo-o no ouvido.
— Você demorou a ligar — ela sorriu satisfeita, jogando-se no couro branco e puxando as pernas para cima — Já estava ficando com saudades.
— Mentirosa — a voz masculina soou do outro lado, rindo logo em seguida — Você não sente falta de nada.
— Você sempre me pega — ela revirou os olhos — Se você fosse feito de diamantes ou pele de focas, eu pensaria seriamente em sentir alguma coisa.
— Tudo bem, isso também é mentira — eles riram — Sei bem de uma coisa que você deve estar morrendo de saudades.
Ela mordeu os lábios e encarou o teto, lembrando-se do quarto no segundo andar e dos lençóis bagunçados que aquela visita sempre deixava, sentindo um tremor no ventre que simbolizava mais do que sua voz seria capaz de dizer.
— Se sabe tanto, por que ainda não está aqui?
— Quem disse que não estou?
A campainha tocou imediatamente. Ela cruzou as sobrancelhas, perplexa por um instante, não se atentando ao fato de que já havia dado liberdade explícita nos portões para que aquele carro passasse livremente pela entrada, sem precisar avisá-la. Primeiro, era tudo parte do plano. Depois, ela realmente desejava que ele fizesse isso todos os dias.
Ao abrir a porta, ela foi tomada por seus braços em um beijo intenso, porém curto. Os breves instantes foram o suficiente para seu vestido ir parar na cintura. O movimento de suas cabeças era magnético e sincronizado, como se fossem o perfeito encaixe um do outro. Exatamente como os tabloides diziam.
— Ei, ei — ela se afastou com manha, vendo-o morder os lábios enquanto a via ajeitar o vestido e andar de volta até a sala — Tenha modos na minha casa, sr. Kim.
— Não parece que você quer isso — ele riu, passando uma das mãos pelo cabelo — Mas pode dizer o que quer antes que alcancemos o segundo andar, porque lá não vai existir nenhuma hipótese de pararmos.
Ela riu, olhando o homem com desejo verdadeiro. Durante toda a sua vida, foi ensinada a ser uma mulher exigente. Criada para agradar toda uma população, seus gostos pessoais precisavam ser intimamente vigiados e extremamente metódicos para que nada fosse mal visto. Viver dessa forma fez nascer uma pequena revolta dentro de si, uma vontade louca de fazer tudo ao contrário, acarretando um relacionamento maluco na adolescência que envolvia um homem tatuado da cabeça aos pés e amante de entorpecentes que quase a fez perder o rumo. Que quebrou seu coração de forma tão maldosa, misturado com os esforços poderosos de toda uma equipe de agenciamento para afastá-lo de si, que fez a garota se fechar para tudo e todas as coisas que pudessem chegar ao seu coração. Principalmente relacionamentos, ressaltando um desprezo específico pelos homens que sua mãe achava que combinariam com ela, e que ela repelia por pura teimosia. Não seguiria as opções de terceiros, não deixaria que regessem suas fantasias, não mais. Ela viveria em seu próprio mundo.
Por isso era estranho e surpreendente que o homem à sua frente, vestido formalmente de calça cáqui e camisa social, usando óculos de aro redondos e exalando toda a inteligência que realmente tinha, estava conseguindo arrombar todas as paredes que ela havia erguido e se enfiado para fugir da realidade.
— Eu quero… — ela começou a falar, e o sorriso foi murchando. O medo abalou seu peito — Quero…
O sorriso dele diminuiu como o dela, mas não sumiu por completo. Em vez disso, ele tomou uma nova forma, um tanto divertida, deixando-a hesitante. Ele sentiu um formigamento no estômago e caminhou lentamente até a mulher, colocando as mãos nos bolsos, nervoso como um adolescente.
— Eu também quero — ele disse em voz baixa e aveludada, fitando-a com firmeza — Quero muito, .
Ela sentiu os lábios trêmulos e soltou uma risadinha forçada em disfarce.
— Você está dizendo isso porque Sandra provavelmente mandou…
— Sandra — ele riu alto — Desde quando empresárias alheias dizem o que devo fazer? Nem ela e nem matérias de blogs. Não importa se você aceitou aparecer comigo para calar os anseios de nossas famílias, estou dizendo agora que quero. Eu, e apenas eu. Ninguém fala por mim.
Ela sentiu o coração dar um descompasso. Ele era o padrão de seus pais, pelo amor de deus! Como poderia estar tão afetada com suas palavras? Era loucura demais.
Mas ela se viu capaz apenas de sorrir e deixar que ele se aproximasse, demonstrando a certeza de que também queria tomar conta de suas atitudes. Não importava se tudo começou como um plano, que depois se transformou em uma relação com benefícios e por fim acabara ali, com seu coração tomado por um homem perfeito – perfeito! Ela riu com ironia. Rico, bem sucedido, inteligente e de boa família. Tudo que ela jamais imaginou querer.
Quando ele estava pronto para tomar seus lábios, tudo aconteceu rápido demais.
O estrondo veio de lugar nenhum. Ela sentiu os lábios molhados não pela saliva dele, mas por outro líquido quente e espesso, com odor de ferro e metal. A cor avermelhada inundou a camisa de botões. Os olhos dela se arregalaram pelo choque. A perfuração na altura do coração dele estava bem diante de seus olhos, assim como o corpo erguido e tão petrificado quanto o dela. Ele cambaleou e abriu a boca para dizer algo, mas apenas conseguiu esticar uma mão e cair com brutalidade no chão.
parecia não ver a cena de verdade. O corpo de Taehyung despencou em câmera lenta e ela precisou de um minuto inteiro de corpo e alma tremendo para enfim conseguir emitir um berro. Ele saiu maltratando sua garganta, já tão seca quanto um deserto árido. Seus olhos não acreditavam no que viam. Taehyung apenas, ele apenas…
— Não se preocupe — a voz veio de suas costas, uma voz estranha, uma voz que não estava ali antes — Não precisamos mais nos preocupar com ele.
Ela se virou lentamente para o som, sentindo um frio mórbido tomar todos os músculos de seu corpo. O homem parado há alguns metros, emergente da escuridão de algum canto da ilha da cozinha, tinha a arma abaixada ao lado do corpo, olhando o cadáver ainda quente no chão com frieza e em seguida erguendo o olhar para ela, com um sorriso doce e singelo.
Aquilo a fez perder a força nas pernas e se tocar da verdade escancarada que a gelou o sangue: a voz na verdade estava ali antes. Estava ali o tempo todo.
Por quanto tempo ele esteve escondido ali?
Sem conseguir se mexer, ela o viu se aproximando dela a passos rápidos, tomando-a em um abraço apertado, sentindo a respiração dele em sua nuca. Ela parecia uma espectadora, incrédula demais para falar e com um branco terrível sobre como mexer as pernas. Aquele homem, quem era aquele homem?
Babe, finalmente te encontrei. Nem acredita em como sonhei com esse dia — ele fungou no topo de sua cabeça, absorvendo seu cheiro — Eu sabia que te encontraria, sabia que poderíamos ficar juntos antes do tempo. Eu te disse, não disse? Não precisamos mais esperar, … Não precisamos…
Ele teve o corpo bruscamente empurrado com uma força que a garota nem sabia da onde viera. Estava assustada demais, com os nervos absolutamente retesados e as mãos tremendo tanto que ela já havia desistido de tentar controlar. rangeu os dentes e ligou todos os sinais de alerta, olhando o homem com horror inimaginável, mas também com raiva. Uma fúria infernal que começava a transbordar como café amargo.
— Quem diabos é você?! — ela achou sua voz e gritou, sentindo a garganta arder, assim como o nariz, e os olhos marejados ao dar passos para trás e encostar os calcanhares em alguma parte do corpo morto de Taehyung — O que você fez?! QUEM É VOCÊ?
Ela só podia estar louca de berrar com um cara armado em sua própria casa, depois de assistir a uma demonstração clara de que ele não hesitaria em atirar, mas algo forte e poderoso se apossou dela. Os instintos a diziam para chorar e implorar por sua vida, mas a imagem de Taehyung não saía de sua cabeça. Ele ainda estava com os olhos abertos no chão.
Em contrapartida, Yoongi conseguiu apenas encará-la desconcertado, percebendo agora a tremedeira latente no corpo da mulher.
— Você está com medo de mim? — perguntou ele, inocente, sinceramente surpreso. Não havia ofensa em seu tom; apenas um rastro de indignação. Ele voltou a dar passos para a frente.
— Não se aproxime de mim! — ela gritou mais uma vez, afastando-se do corpo de Taehyung.
Babe, o que é isso… — ele parou novamente, cruzando as sobrancelhas — O que está fazendo? Sou eu, Yoongi. Vim para encurtar nossa promessa.
— Você é louco… — ela colocou as duas mãos na cabeça, desejando sair de todo aquele pesadelo. As lágrimas desciam quentes e velozes por suas bochechas, mas ela não estremecia pelo choro — Eu nunca te vi em toda minha vida. Não sei do que está falando. Céus, como isso pode…
Ela vasculhou rapidamente o ambiente, forçando a mente a lembrar-se do celular, ou de qualquer coisa que pudesse apanhar e conseguir sair dali o mais rápido possível. A capa de cor gritante do aparelho estava virada para cima no sofá do outro lado e ela engoliu em seco ao ver os pés tortos de Taehyung logo ao lado dele, mas fechou os olhos com força e correu até lá.
Yoongi percebeu imediatamente o que ela pretendia. Em um movimento mais rápido e certeiro, resultado de batalhas bem lutadas e várias vitórias seguidas de captura a bandeira, ele agarrou o celular primeiro, pegando no braço da garota logo em seguida, prendendo-a perto dele.
, se acalma — ele pediu em tom quase gentil, porém urgente, enquanto ela gritava e esperneava para que ele o soltasse — Eu sei que devo ter te assustado com o tiro, eu sei, me desculpa! Mas era a única maneira, meu bem, por favor…
— Para de me chamar assim! — ela gritou, socando-o mais uma vez no peito, que não parecia surtir efeito algum — Seu assassino desgraçado! Maldito! O que ele fez com você?! Por que fez uma coisa dessas com ele… — a voz saiu embargada, sôfrega, as lágrimas caindo agora sem parar. Ela sentia seu coração se partindo em um milhão de pedaços a cada segundo que se tocava da realidade.
— Ele estava tentando roubar você de mim! — a vez de gritar foi a dele, que já começava a se irritar com a cena da garota — Por que está desse jeito? Eu te libertei mais cedo desse imbecil para que pudéssemos seguir em frente, para ficarmos juntos aqui no Rem, assim como na cidade mágica! Agora nada pode nos impedir, agora somos um só…
— De que merda você está falando!? — ela trincou os dentes, o desespero crescendo com o ódio. O rosto e a voz dele falando com tanta convicção a enchia de ânsia — Eu não entendo absolutamente nada do que você diz, seu maluco filho da puta… Você é um louco de merda! Me solta! — ela puxou seus braços do aperto dele bruscamente, firmando os pés para não cair.
Yoongi estava perplexo. Seu corpo estava imóvel frente a todo o surto de , que parecia genuinamente apavorada e amedrontada. Ela lhe lançou aquele olhar novamente, o mesmo daquela noite do show — desprezível, petulante, como se não o reconhecesse.
, você… — ele respirou fundo, esfregando o nariz com o pulso que segurava a pistola — Você não sabe quem sou eu?
Ele a viu rir com descrença. Toda a paciência começava a se esvair de Yoongi. Ela não se parecia em nada com a sua , mesmo depois de ter repetido a si mesmo um milhão de vezes que encontraria a mesma pessoa. Mas aquela risada banhada em cólera, o cheiro da angústia que partia dela e a forma como parecia se manter sempre em frente ao corpo caído como se quisesse protegê-lo faziam o sangue dele ferver.
— Por que deveria saber quem é você? — ela respondeu com os olhos estreitos, vermelhos pelas lágrimas — Por favor, vai embora… Só vai embora daqui!
Ele sentiu o coração parar. Ela deixou escapar um grito agudo de puro sofrimento, um choro alto que estava preso na garganta. A expressão dele era de legítimo espanto. As palavras que ela dizia – sem sentido algum – dançavam em sua frente.
— Você já teve o que queria, então sai daqui! Sai daqui… — ela arqueou as costas, fechando os olhos com força e lutando para não virar para trás e ver o sangue de Taehyung escapando para o piso. Mais sangue do que os respingos que haviam pegado nela.
Yoongi tentava reunir a lógica da situação, juntando as peças do diagrama e tentando pensar no porquê ela dizia aquelas coisas. Estava confuso, transtornado. Ela chorava de pânico e luto, e nenhuma dessas coisas poderia se aplicar a ele. Então por que ela estava agindo assim? Ela deveria estar feliz! Afinal, ele estava ali, finalmente ali!
Atravessou a sala rapidamente e pegou em seu braço novamente, desta vez não tendo problemas com a resistência dela, que já não tinha mais forças para tentar alguma coisa. Seu rosto era vermelho pelo choro intenso, e suas pernas estavam prestes a desabar por todo o esgotamento emocional.
— Do que você está falando, ? — ele trincou os dentes e puxou seu queixo para cima, forçando-a a olhá-lo nos olhos — Essa brincadeira patética já perdeu a graça! Você precisa de um tempo para recobrar as memórias, é isso? É assim que funciona desse lado? Tudo bem, eu posso esperar, podemos esperar um tempo até que você…
O tapa veio forte e violento em seu rosto. Ela não tentou correr ou algo parecido. Simplesmente o atacou e permaneceu no mesmo lugar, controlando os soluços, olhando-o com seriedade mórbida. Ela não aguentava mais suas palavras; palavras loucas, ignorantes, irracionais.
Ele colocou a mão no lugar de impacto, virando o rosto estupefato. A feição dela era dura e odiosa. Uma máscara de traços que nunca imaginou ver naquele rosto.
— O que você…
— Pode me matar se quiser, seu stalker desgraçado — ela conseguiu dizer, com o coração arrebentando o peito, mas sem ânimo para implorar por qualquer misericórdia. Quando entendeu toda a loucura, sabia que não podia lutar contra. Ela jamais chegaria ao celular, agora jogado em qualquer canto. Jamais seria ouvida pelos seguranças no portão há quilômetros de distância. E jamais veria Taehyung com vida de novo.
— Stalker? — ele arfou, abalado — Até quando vai fazer esse jogo de palavras, ? Quanto tempo mais pra que você se lembre? Nós nos amamos! Vivemos juntos na cidade mágica há 16 anos, você é a garota dos meus sonhos, será que não consegue se lembrar…
— Pois é exatamente isso que eu sou, seu porco maldito! — ela cuspiu as palavras em raiva plena, empurrando-o para trás, bufando com o ódio mais autêntico que conseguia sentir — Uma alucinação dos seus sonhos repulsivos, que deveriam ter ficado trancados seja lá em que buraco você os meteu! Seu obcecado de merda! Você me dá nojo!
Ela o empurrou mais uma vez e perdeu toda a razão e coragem, colocando as mãos no rosto enquanto fazia barulhos inaudíveis de lamentações.
Yoongi não soube explicar o tsunami de sentimentos que passaram na frente de seus olhos com aquela imagem desestabilizadora. As palavras de foram como um banho de gelo, como cinco espadas élficas da cidade mágica que, agora, poderiam facilmente matar. Era exatamente como se sentia: morto por dentro. Sentiu as mãos tremerem e as lembranças o engolirem como um redemoinho. Sua consciência foi transportada para os últimos momentos com ela, para as noites de amor e também de aventuras, para as conversas profundas e sinceras e o primeiro abraço. Se viu aos 18 anos, quando percebeu que a amava pela primeira vez e, dois anos depois, declarou seu amor por inteiro. Se declarou para aquela , que existia, que existe, e que seria a mesma no Rem, que seguiria em frente com ele para o mundo de sonhos conjuntos, que os dois seriam felizes para sempre.
Uma vertigem de repente fez seu corpo cambalear enquanto sentiu o cérebro queimar com a rebobinação de antes. Memórias perdidas, esquecidas da infância diferente e conturbada no Rem. Um garotinho de 10 anos que se sentou em frente à TV junto com a irmã em um dia qualquer e assistiu um programa bobo de talentos guiado por puro tédio. A música não o agradava e muito menos as coreografias, mas a garotinha saltitante no mar de papel picado foi a primeira coisa realmente atrativa que o deixou com vontade de sonhar depois. Alguma coisa nela parecia elevar seu espírito. Algo naquele sorriso marcou sua mente com fogo, e ele havia se esquecido de todas essas sensações quando a viu pela primeira vez em seus sonhos. Como pode ter se esquecido disso? Ele era quase palpável diante de seus olhos agora, algo físico e ardendo em chamas. Ele sentiu o destino. Sentiu que sonharia com ela. Sentiu tantas coisas…
— Ela se tornou o seu próprio sonho — ele ergueu o olhar para a voz estranha e arrastada como uma lâmina. Estava flutuando logo atrás da garota chorando, em uma forma de Marzia da cintura para cima e tentáculos esvoaçantes e tenebrosos na parte debaixo — Mas você passou a ter a mania terrível se esquecer que controlava tudo. Que as coisas seguiram de acordo com seus próprios interesses. Porque ela não passa de uma criação da sua cabeça. Da sua obsessão.
Ela se tornou o seu próprio sonho.
Os olhos dele se esbugalharam ao mesmo tempo em que um frio horrendo misturado com terror atravessou seu corpo. O monstro estava ali e um sorriso grotesco escapou da personificação de Marzia. Os dentes cintilantes mostravam uma verdade que veio a ele com brutalidade.
De fato, tudo sempre foi mágica. O mundo é mágico, feito de sonhos. O Rem nada mais era do que uma outra parte de seus sonhos, uma parte não aproveitada, a segunda metade de uma maçã mastigada. Normal, indiferente, sem graça e com outras regras, mas ainda era um sonho. Ou, pelo menos, era assim que ele é a viam. Como a realidade que não importava. E a cidade mágica era...
Uma realidade disfarçada de sonho. Mutável, controlável e perfeita. Onde seus desejos se materializam à sua vontade. Mas onde suas regras jamais se aplicariam na outra metade. Duas metades que não se sobrepunham. Ele percebeu o impossível com pesar.
Yoongi não soube segurar os seus sonhos. Não soube respeitar os limites de ter acesso a mundos demais, e agora eles estavam por toda parte. O mesmo velho do café da manhã passou com seu muco pela sala, lançando-lhe o mesmo olhar de pena e condenação. Mãos grudentas se moviam pelo vidro da janela no lado de fora enquanto uma rã gigante olhava-o do mesmo jeito. A espada élfica encostada na sacada ria de sua cara, como se ele tivesse caído em uma perfeita pegadinha criada pela associação de todas as bestas.
As risadas e murmúrios dos sonhos encheram sua cabeça, e de repente o ambiente estava barulhento demais. Ele sentiu qualquer entusiasmo se esvaindo, o mundo ruindo ao seu redor, uma dor hedionda no peito que seria capaz de o estraçalhar por inteiro. Os olhos queimaram em lágrimas, um nó na garganta o impedia de falar e as risadas aumentavam à medida em que ele se desesperava mais e mais.
— Eu te disse, garoto — a voz do velho soou novamente, branda e autoritária — Nos tornamos adultos a partir do momento em que abrimos mão da fantasia. Você tentou algumas vezes, mas deixou ser pego pelos seus próprios sonhos… Deixou que eles o levassem à ruína. Agora levante-se e abra mão deles. Torne-se um adulto.
Ele deu um rugido violento para a voz anciã, apontando o revólver para a direção de onde o via e apertando o gatilho sem hesitar. O tiro atravessou sem causar qualquer dano, escapando do outro lado, atingindo o vidro. Ele ouviu um grito. Atirou novamente na espada, que continuou rindo com vigor e em seguida virou-se para a irmã em forma de demônio, que riu e arqueou as sobrancelhas em desafio, como costumava olhá-lo quando criança. Ele respirava arduamente, as lágrimas descendo, um ódio sem limites se apoderando de si. De repente, tudo era repugnante. O Rem era um lugar pior que o inferno. As palavras de antes o invadiam, tentando trazer verdades enquanto ele só conseguia gritar um grande foda-se e alegando não passarem de mentiras.
Aqui não era o sonho. Não era a cidade mágica. Sua vontade não reinava sobre esse aspecto da realidade. Mas eles não tirariam sua felicidade e seus últimos 16 anos de bem estar plácido com seu amor verdadeiro e aventuras alucinantes. Eles não tirariam dele! A sua !
Ele apontou a arma para a garota, que tinha os olhos arregalados e apavorados com o surto louco e repentino do homem.
— Você não é a verdadeira — ele falava para ninguém em especial, ainda torcendo os olhos para os monstros — É uma cópia, uma ilustração… Maldita imitação! Você não é ela! — ele gritou mais uma vez, aproximando-se do rosto trêmulo de terror. Ela estava com medo desde o começo, mas agora estava sendo tomada por um pavor genuíno ao ver aqueles olhos assassinos e malucos — Você não é ela…
— Uh, ele foi enganado! — Outra voz surgiu em seus ouvidos, vinda de algum canto da sala. A risada foi escandalosa e contagiou todas as outras, agora tendo ainda mais criaturas assistindo seu show humilhante. A sala se enchia cada vez mais. não conseguia se mexer, vendo as pálpebras do garoto piscar repetidamente, como um tique.
— Calem a boca! — berrou ele, apontando a arma para todos ao mesmo tempo — Seus vermes! Eu mando em vocês! Voltem agora mesmo para o outro lado!
As risadas aumentaram ainda mais, em sinal claro de deboche à atitude de Yoongi. Toda a sua mente parecia estar entrando em colapso. Até o trovão que estremeceu o céu escuro da noite parecia estar se divertindo às suas custas, rindo de uma vida inteira de mentiras e fantasias exacerbadas.
Era isso que tinha sido. Fantasias. Promessas que nunca existiram. Batalhas sonhadoras de um garoto de 10 anos que, em algum momento, passou a ter 28 e se encontrava preso em uma concha de seu próprio mundo – uma concha de suas próprias obsessões.
não existia. Sua era um sonho. Ele não queria aceitar. Ele não podia…
Um baque rigoroso atingiu a parte de trás de sua cabeça com hostilidade, lançando-o ao chão com força bruta. Zonzo, ele não conseguiu impedir que a garota chutasse a pistola para longe e, ao mesmo tempo, corresse até ela em uma velocidade absurda e a pegasse, apontando-a para ele. As criaturas giravam no canto de seu olho com a visão turva, e o cano da arma era um círculo escuro apontando direto para seu rosto. Ele estava lento, e ficou ainda mais quando sentiu a cotovelada em seu nariz, jogando seu corpo para trás mais uma vez, sentindo o sangue escorrer por ele.
Sua visão escureceu com uma sombra que pairou logo acima de sua cabeça. E uma voz quente, nada doce, nada contagiosa, nada reconfortante, nada como ela, soou com um timbre doloroso:
— Espero que arda na maior das profundezas do inferno — ela sussurrou furiosa em seu nariz, e então o estampido veio.
Ele não sentiu dor. Percebeu que suas batalhas sangrentas na cidade mágica já haviam livrado seu corpo físico desse atributo. Tampouco sentiu medo. A recapitulação de uma vida inteira que se passa diante dos olhos antes do cessar dos batimentos também não aconteceu. Tudo que sentiu foi alívio. Um imenso abraço das sombras que calou todas as vozes ao redor.
Os sonhos se calaram. Os fragmentos de sonhos descontrolados. Não havia mais fantasia, não havia mais a magia. E, de repente, pela primeira e última vez, Min Yoongi sentiu que se tornara um adulto.
E se foi com um sorriso no rosto.


FIM.



N/A FIXA 📌: Obrigada por ter lido :)


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