Finalizada em 20/08/2021

Capítulo Único

eumak handago kkapchinji myeot nyeon jinaji anha
(Não se passou muito anos desde que eu brinquei que ia fazer música)
daegueseo eumakhamyeon jaldoebwaja eumakhagwon
(O melhor lugar para isso então é na academia em Daegu)
wonjangina hageji ran saenggagi nal ppakttaeryeo
(O pensamento de que vou ser o principal me preocupava)
eochapi hanbeon saneun insaeng mwodeun ildeung hanbeon haebwayaji
(Esta é a minha única vida, já que era assim então eu deveria tentar me tornar o número um pela primeira vez)


Os olhos do garoto alcançaram a extensão da entrada do lugar, que não era lá muito grande, para ser sincero. Deixou que os mesmos percorressem algumas pessoas que ali se encontravam e pressionou os lábios, engolindo em seco.
não estava nervoso. Ou pelo menos, queria acreditar que não. A única coisa que rondava sua mente naquele momento era que precisava fazer melhor do que havia treinado e se esforçado, mesmo nas madrugadas acordado em que ao menos conseguia prestar atenção em suas aulas devidamente. Ele precisava, mais do que nunca, mostrar que estava ali preparado, mas pensar que teriam tantas pessoas ao seu redor, mesmo que com os amigos que lhe acompanhavam, o deixava receoso.
Alguns pensamentos inoportunos começaram a rondar sua mente, mesmo que estivesse se esforçando o bastante para que isso não voltasse a acontecer. Durante todo esse tempo em que se manteve são, deixando todos os negativos guardados em um canto qualquer em sua consciência, era inevitável que não voltassem a atormentá-lo. não queria pensar em tudo o que tentou o fazer desistir, pelo menos não naquele momento, mesmo que parte desses acontecimentos tivessem sido o motivo para descontar todo o seu descontentamento e frustração pelo que sempre ouviu, desde o começo. Desde que entendeu o que, verdadeiramente, queria fazer de sua vida.
E aquilo não envolvia nenhum daqueles que havia o intimidado.

Seus olhos percorriam alguns rascunhos, um pouco amassados por conta do tempo em que havia escrito e muito mais pelo tempo que os segurava de um lado para o outro, gravando parte de seus versos, mesmo sabendo que aquilo poderia também ser a sua ruína. Não que se importasse com aquilo, claro que queria ser o melhor nos estudos, queria dar o seu melhor para ser alguém na vida como parte do bando que frequentava àquela escola, mas ele não queria que fosse daquela forma. Não. Ele queria ser mais, ele queria ser o melhor com a música. queria mostrar ao mundo como ele era bom e como tudo o que escrevia transparecia as verdades que queria demonstrar.
Mas sabia perfeitamente que o caminho seria mais do que árduo. Seria doloroso, custoso e, sobretudo, espinhoso. Nunca teve dúvidas quanto a isso.
Passou a língua pelos lábios, sentindo o coração bater um pouco mais rápido com aqueles pensamentos e balançou a cabeça veemente para espantá-los, voltando a focar nos versos que existiam sobre as linhas. Com uma caneta nos dedos, começou a escrever mais algumas palavras até que a folha fosse puxada de sua mão, sendo amassada sem qualquer resquício de delicadeza.
Ele ponderou alguns segundos antes de erguer seu olhar e observar o garoto que o encarava, alternando seu olhar entre a folha em mãos e o rosto inexpressivo de .
— O que é isso? — arqueou uma das sobrancelhas, lendo o que ali estava escrito e soltando uma risada nasalada. — Já não basta ser um merda nos estudos, ainda tenta ser bom em alguma coisa?
— Devolve. — disse baixo, mas quase parecendo um rosnado para o outro que estava de pé. O garoto franziu o cenho, curvando o corpo até ficar na altura do que estava sentado.
— O que foi que você disse? Não consigo ouvir fracassados muito bem.
— Eu falei para devolver a merda da minha anotação.
Continuou com os olhos sobre o do mais alto, sem esboçar qualquer tipo de reação e aquilo, só o irritou ainda mais.
— Você quer que eu devolva, ? — perguntou, voltando a olhar a folha em mãos. O garoto ficou alguns segundos em silêncio e balançou a cabeça, quase como se tentasse demonstrar algum tipo de pensa pelo outro. E com isso, a única coisa que pôde ouvir em seguida fora o barulho do papel sendo rasgado.
No segundo seguinte, os pedaços picados voavam pelo corredor.
— Pronto. Agora você pode continuar em paz. — levou as mãos em direção aos cabelos de , bagunçando os mesmos de forma bruta, o que só fez com que o que estava sentado pressionasse seus lábios, contendo todo e qualquer tipo de sentimento repugnante que o fizesse explodir. — Perdedor.
Ele observou o rapaz se afastando enquanto comentava algo com os amigos que estavam a seu redor, engolindo em seco. Um sentimento conhecido voltou a tomar conta de seu coração e mente, só o fazendo ter certeza de que um dia, esperava muito que sim, pudesse mostrar a cada um que lhe humilhou, o quanto estavam errados.

Ele poderia muito bem ter desistido e focado em outra coisa, mas a última que queria fazer era deixar claro para todos eles que estavam certo e que havia valido a pena que tivessem o humilhado.
Não. não deixaria aquilo acontecer.
O garoto precisava tentar, era o mínimo que poderia fazer e se nada ali desse certo, bom… Ele poderia começar a pensar em sair de Daegu para tentar em outro lugar, algum que fosse compreendido e que o fizesse ter uma visão diferente do que queria.
Deixou que os olhos percorressem mais uma vez a entrada de toda a academia, percebendo que logo seria a sua vez e entender o que acontecia ali, por mais um momento, havia o deixado inteiramente receoso.
— A competição está sendo organizada por ele. Fiquei sabendo que é um cara respeitado.
— Quem? — virou o rosto para Jeong, um dos mais velhos que participaria da competição com ele e mais um outro amigo.
Bang Sihyuk. Você não conhece?
O mais novo limitou apenas a balançar a cabeça de forma negativa, voltando sua atenção para a fila que só ia diminuindo à medida em que aguardavam e por um momento, ele quis mais do que tudo mostrar que não estava ali para brincadeira, era a última coisa que ele pensaria no momento.
Quando um dos responsáveis, parecendo ser algum tipo de assessor, abriu a porta lateral, ajeitou sua postura, voltando a relembrar os versos que tinha em mente. Não era algo tão difícil para ele, já que parte do que faria e tinha certeza disso, seria improvisado.
O seu nome foi chamado, assim como o dos outros dois e mais do que depressa, o mesmo adentrou o local, não demorando muito para começar conforme solicitado, mesmo com todos aqueles olhares o julgando de todas as formas possíveis.
Seu coração batia rápido, mais rápido do que poderia explicar. As linhas saíam com facilidade, assim como a batida que ressoava pelo local, combinando perfeitamente com sua voz nasalada. Por alguns minutos, enquanto ainda cantava, se esqueceu de todos os problemas que assombravam sua mente e toda a inquietação que o atormentava por tudo o que havia ouvido e principalmente, por tudo o que queria provar.
não percebeu quando realmente começou a improvisar, ignorando todas as frases que havia escrito anteriormente e que pensou em usar no dia daquela audição.
Até que a competição terminasse, recebendo como resposta apenas o olhar analítico dos jurados que ali estavam, antes que pudesse se virar para sair do local.
Ao retornar para casa, ainda com os dois amigos que haviam o acompanhado, ele permaneceu em silêncio, repassando como havia sido e se teria alguma possibilidade de ao menos dar certo. Se ele pelo menos conseguisse…
— Eles disseram que temos que passar pela primeira fase, a de hoje, para conseguirmos ir para a final. — sentiu os ombros sendo balançados pela evidente animação de Jeong. O olhou brevemente, querendo compartilhar da mesma emoção, mas sua mente estava longe, o que o fez pegar o celular no bolso da calça no meio de toda aquela euforia.
Tão longe que a única coisa que se passava por ela, era que precisava falar com uma pessoa em específico, e com uma curta mensagem, pressionou o botão de envio do celular, encaminhando.

“Preciso te contar uma coisa. Podemos nos encontrar no lugar de sempre?”

magyeonhan mideum geuge nae seonggongui bongeoji
(Aquela esperança vaga, aquilo seria a base do meu sucesso)
jinan irira yaegihaneunde yeseon daeumnal
(Estou dizendo tudo isso agora porque está no passado, mas no dia seguinte após a fase preliminar)
jeonhwa han tongi wasseo jiyeokbeonhoneun 02
(Eu recebi um telefonema do código de área zero dois)
2010nyeon 11wol 7il seoul ipseong
(No dia onze de novembro de dois mil e dez, cheguei em Seul)


O céu estava estrelado e, coincidentemente, como em todas as noites que ele e costumavam se encontrar. Não era como se sentissem a obrigação de fazer aquilo. Os dois compartilhavam uma amizade que não conseguiria ser esclarecida com palavras, nem mesmo saberiam dizer o que nutriam um pelo outro. sempre a teve como apoio, nunca ousou sair do lado da garota da mesma forma que pensava o mesmo sobre ele. Ela era uma amiga melhor do que poderia querer em sua vida. Não se lembrava muito bem quando é que haviam se aproximado daquela forma, nem mesmo se havia tido algum motivo específico que tinha feito aquilo acontecer, mas conseguia ter algumas nuances de fazendo o possível para estar sempre com ele e principalmente, para defendê-lo de alguma forma, por mais que não precisasse daquilo e deixasse bem claro.
Ela sempre tinha aquele gênio de teimosia e talvez aquele pequeno traço de personalidade tivesse chamado a atenção do garoto, como não achou que fosse acontecer.
colocou as mãos no bolso da calça jeans, podendo sentir o vento frio que passava por ali e assim que avistou a garota caminhando em sua direção com uma sacola em mãos e um sorriso acalorado no rosto, ergueu uma das mãos, acenando para ela.
— Eu espero que o que tenha nessa garrafa seja um pouco de whiskey. — apontou, fazendo graça. ergueu uma das mãos, batendo de leve no topo de sua cabeça.
— Como se você tivesse idade para beber.
— E desde quando isso me impediu?
A garota parou por alguns instantes, parecendo pensar e balançou a cabeça, concordando com o amigo.
— É verdade, você tem razão. — deixou uma risadinha fraca escapar, sendo acompanhada por . Ela se sentou ao lado do mesmo no degrau das escadas espaçadas que o observatório de Apsan lhes fornecia, assim como a paisagem de parte da cidade e soltou um suspiro alto. — Você vai continuar me deixando curiosa?
Aish, como é apressada. — resmungou, apoiando os braços para trás. Ele virou o rosto em direção a ela, observando um pouco do perfil de sua amiga. nunca fora o tipo de garota que fazia questão de chamar atenção de quem quer que fosse e a pouca maquiagem em seu rosto evidenciava aquele fato, mas na concepção de , aquilo só a deixava ainda mais bonita do que já era. A garota não precisava de muito para se tornar bela.
— Vai continuar me encarando?
— Eu só estava pensando em uma forma de começar, mas se não quer saber… — respondeu, tentando disfarçar que ainda a olhava. virou em direção a ele, se aproximando rapidamente.
— Você sabe que eu estava brincando. — fez um biquinho. Aquilo fez sorrir minimamente. — Vai, me conta.
— Hm… — deixou um murmúrio baixo escapar e inclinou a cabeça levemente, deixando seus olhos caírem sobre a lua que resplandecia entre as estrelas daquela noite. Ele podia sentir nitidamente a empolgação e ansiedade que exalavam de e aquilo, de certa forma, só o deixava ainda mais inquieto.
— Não sei se você se recorda muito bem, mas há um tempo atrás eu descobri uma audição, naquele cartaz que colocaram na escola. — pausou, a vendo afirmar. — E você disse que eu poderia tentar.
— Que você deveria tentar. — consertou, deixando um sorrisinho breve. Seu olhar ainda era focado em . — E você foi até lá?
— Sim, fui com Jeong e Daehyeon. Nós participamos da primeira fase e, bom… Antes de sairmos, eles disseram que qualquer interesse, entrariam em contato conosco. Eu espero ter conseguido impressionar o avaliador, cheguei até a improvisar…
— Você improvisou? — a garota abriu a boca levemente, sorrindo em seguida. — Nem sei porquê estou espantada, você é bom com qualquer coisa relacionada a música.
Aquela frase fez com que parasse brevemente, analisando cada pequena palavra que ela havia dito. Deixou que seus olhos repousassem por cada mínimo detalhe que conseguia observar no rosto de e isso fez com que sua mente o lembrasse mais uma vez em como ela era essencial em sua vida. Não conseguia se recordar muito bem se algum dia havia pensado em não tê-la em sua rotina como sempre acontecia e agradecia mentalmente pela garota sempre estar ali por ele. Ela havia sido um dos motivos para que nunca cogitasse em desistir de seu sonho, nem mesmo deixasse de lado as ideias de crescer no ramo que queria, ainda que fosse compondo músicas e desejando estar no topo algum dia.
E a verdade era que aquilo era o que ele sempre quis.
— Obrigado, . — iniciou, pressionando os lábios em um sorriso desconcertado. Ela continuou o olhando. — Você sempre me incentivou. Sei que tenho muito o que aprender ainda, muito a melhorar e mudar, mas acho que pode ser um bom começo…
— Claro que é um bom começo, bobo. — deixou uma risadinha fraca escapar, inclinando o corpo para empurrar o amigo levemente. — Eu sei que aos poucos você vai conseguir e um dia, eu tenho certeza, ainda vou te ver estampado em algum outdoor ou até mesmo na televisão.
— Não precisa exagerar tanto assim. — fechou os olhos brevemente, desta vez, sorrindo verdadeiramente ao sentir o vento gélido, mas ameno daquela noite.
— É sério, , você tem esse potencial. Por que não acredita mais em si mesmo?
O rapaz virou o rosto em direção à garota, podendo notar que ela ainda o observava como se esperasse uma resposta diferente das anteriores. tinha aquele brilho no olhar indecifrável, que deixava um pouco mais curioso do que sempre fora em relação à ela. Não sabia descrever o tipo nem o tamanho da sensação que sentia por ter os olhos da garota sobre si e aquele bendito frio na barriga, que torceu piedosamente todos os dias em que estava com ela para que não surgisse, começava a se remexer na boca de seu estômago.
Engoliu em seco.
— Vou passar a acreditar só por perceber o quanto você faz isso por mim. — murmurou, arrancando um rolar de olhos da garota ao seu lado e aquilo o fez soltar uma risada, achando graciosa sua reação. — Estou brincando. Sabe que tem sido boa parte do meu incentivo, não é?
— Não precisa ser meloso também, . — lhe respondeu, fazendo uma careta e aquilo só arrancou uma gargalhada gostosa dos dois, que se olharam mais uma vez durante aquela noite estrelada.
— Tudo bem. Você não vai me contar o que tem aí dentro? Nenhum resquício do whiskey que eu gosto? — o rapaz arqueou uma das sobrancelhas, deixando o corpo um pouco mais para frente para tentar ver o que tinha dentro da sacola plástica que ela carregava antes.
— Quando é que vai parar de beber assim? — murmurou, enquanto virava o corpo puxando a sacola para si e aquilo fez com que o barulho das garrafas que tinham dentro da mesma ficasse evidente ao se chorarem. sorriu. Ela o olhou. — Não me olha assim, não é como se fôssemos beber até cair.
— Que tipo de pessoa estimula a outra a parar de beber trazendo bebidas no tempo livre juntos?
— É por uma boa causa, não coloque a culpa em mim.
balançou a cabeça, tentando conter uma risada ao ver a expressão mau humorada que tomou conta do rosto da amiga e aquilo fez com que ele quisesse, por uma pequena fração de segundos, enlaçar seus braços ao redor do corpo minúsculo de , em um abraço apertado e singelo. Como se só aquilo bastasse naquela noite.
Mas se conteve, pegando uma das garrafas de Soju que a mesma havia retirado e deixando seu olhar cair sobre o dela mais uma vez.
— Ei. — a chamou. A garota virou o rosto em direção ao dele ao terminar de bebericar um gole da cerveja. — Obrigado. Por tudo.
Os dois mantiveram aquela pequena troca de olhares por alguns segundos, sentindo o peito aquecer gradativamente só por saber que sempre teriam a companhia um do outro. sorriu, maneando com a cabeça e deixou transparecer um sorriso ameno como o dela, voltando a focar seu olhar na luz do luar.
Por mais que tivesse seus planos e que desejasse de todas as formas que seu destino fosse o mais longe possível de Daegu, torcia para que o acompanhasse mesmo longe dali, mesmo em outro lugar, mesmo que não pudessem estar juntos como naquele momento, no observatório de Apsan, que julgava por ser o ponto de encontro dos dois, sempre que precisavam conversar sobre algo mais sério ou apenas relaxar.
só queria que as coisas melhorassem em sua vida e que todos os problemas que lhe atormentavam diariamente se dissipassem, dando lugar a felicidade que ele tanto corria atrás para ter. E ele suplicava muito para que aquilo não demorasse a acontecer.

gangnamdo byeolgeo eopne daegu chonnomui giseon jeap (Não tem nada demais em Gangnam, a confiança de um caipira de Daegu)
geu nal jeonyeogeun kulhage sameogeoji
(De modo maneiro, fui jantar fora)
What the fuck gyesanseoe nuni doragaji (Mas que porra? Meus olhos arregalaram quando vi a conta)
handal saenghwalbineun gojak 30 shit
(Lá se foi minha mesada de um mês que era só trinta, droga)
taekdo eopneun doniran geol nugu boda algie
(Eu sabia que isso não era nem perto do suficiente)

não podia acreditar, e na verdade, ele não sabia se podia.
O toque de seu telefone era estridente dentro daquela sala de jantar pequena e não tão arrumada, mas os detalhes não eram o que importavam quando ele havia tido a resposta que tanto tinha esperado nos últimos tempos. Será que aquele era o início de seu sonho, o início de sua redenção? Não sabia explicar e a única coisa que rondava sua mente naquele momento era discar o número de uma única pessoa, a que ele sabia certamente que ficaria mais do que feliz com aquele resultado.
Ainda mais que ele.
Claro que não queria criar toda aquela esperança por ter passado para a segunda fase da audição que tinha feito, nem mesmo queria se decepcionar se algo desse errado, mas tudo aquilo parecia tão surreal que ele precisava de alguém para lhe mostrar que estava sendo sua realidade. Que realmente havia acontecido.
Com os dedos agitados, conseguiu digitar os números no display do celular, ouvindo o toque da discagem em seguida.
?
O rapaz demorou alguns segundos para respondê-la, ao ouvir a voz serena da garota do outro lado e por um lapso momento, pôde sentir seu coração esquentar dentro do peito.
— Oi. Eu te atrapalhei?
— Hm… Você não costuma se importar muito com isso. — a garota comentou, soltando uma risadinha fraca. O rapaz soltou um resmungo quase inaudível com sua resposta, ainda sentindo que estava em outro mundo. — ‘Tá, tudo bem, pode falar. O que aconteceu?
— Não precisa se preocupar, é só que…
— É só que? — a garota lhe interrompeu, impaciente da forma que sabia ser. — O que me preocupa é esse seu tom de voz e a frase sem um minucioso xingamento sequer.
O rapaz encostou o corpo na parede mais próxima, com um sorriso pequeno e involuntário se formando no canto de seus lábios ao ouvir a forma com que lhe descrevia. Ela o conhecia melhor do que ninguém.
— E então? , você sabe que eu não…
— Eu consegui.
O silêncio se tornou um pouco mais evidente na linha que os dois ocupavam.
— O que? O que você conseguiu? Será que está falando sobre o trabalho de… Oh! — a garota parou de falar com uma entonação surpresa ao parecer se dar conta do que ele falava. respirou fundo, ainda aguardando o restante do que ela lhe falaria. — É o que estou pensando? A audição? !
O grito da mesma indicando seu nome e sobrenome fez com que o garoto soltasse uma risadinha fraca, quase como se tentasse camuflar aquele fato. Ele não conseguiria se conter, só de notar a animação que começara a falar.
— Você entendeu agora?
— É sério mesmo? Você passou para a segunda fase? Não está brincando comigo, não é? — a sequência de perguntas fez com ele sorrisse um pouco mais. — Eu sabia! Falei para você acreditar que conseguiria… Caramba! , você não faz ideia de como eu queria comemorar isso com você!
— Eu sei que você faria se pudesse, mas foque nas provas que estão se aproximando. Eu só… Isso é surreal para mim. Precisava falar com você. — confessou, mas sua voz saindo quase em um sussurro. Ele pôde ouvir um resmungar do outro lado.
— Você não é nem um pouco doido de não ter falado comigo. Sério, eu caçaria você na escola só para te bater.
— Essa é a que eu conheço.
Os dois soltaram uma risada animada ao comentarem, a mesma cessando nos segundo seguintes. continuou encostado à parede, divagando sobre tudo o que poderia lhe acontecer a partir dali enquanto do outro lado, não conseguia controlar o sorriso nos lábios por saber que seu amigo começava a conquistar o que tanto queria.
Era um silêncio confortável para eles.
— Como você vai fazer? Eles te disseram como vai ser? Onde vai ser? Eles vão fazer a segunda fase aqui em Daegu?
O rapaz pressionou os lábios, se perguntando como contaria da melhor forma de que a partir daquele dia seus dias em Daegu seriam reduzidos apenas para
as aulas que teria que assistir até o final de sua formação no ensino médio. Ele não queria dizer que mal veria sua melhor amiga como estava acostumado e que ela quase não teria notícias suas. Era uma das coisas que ele queria esconder, que queria fingir que não aconteceria, mas seria impossível.
sabia que alguma parte de tudo o que aconteceria, iria lhe machucar.
— Eles vão fazer algumas avaliações mais minuciosas digamos assim. Vou ser analisado assim como os meninos e aí, quem sabe, podemos seguir até a audição final. Eu não sei o que achar disso tudo, por mais que seja maior do que eu tenha sonhado, mas…
A voz do rapaz aos poucos ia diminuindo a tonalidade, até que quase sumisse ao ponto de ouvir apenas o silêncio do outro lado.
— Por que parece que tem algo que você não está gostando? — a garota perguntou, preocupada. Não queria que seu amigo se sentisse daquela forma, não naquele ponto em que as coisas estavam ocorrendo exatamente como ele queria. — Aconteceu alguma coisa, ?
— Além do que já lhe contei?
Perguntou, tentando arrancar uma risada fraca de sua amiga, o que não aconteceu.
— Sem piadinhas. Você sabe que não é hora para isso.
— Ah… — suspirou, passando uma das mãos pelos cabelos, de forma nervosa. — Eu não queria te dizer isso, porque é um pouco incômodo, pelo menos para mim. É só que… Eu não vou passar muito tempo em Daegu, como agora. Parte dos meus dias serão em Seul e eu vou ter que tentar conciliar com o trabalho de meio período e a escola, mas não é isso que me preocupa. É só que, eu tenho você, não é? E não vamos poder nos ver, nem vou poder lhe…
. Ei, respira. — o cortou, respirando fundo do outro lado. O rapaz sentiu o rosto esquentar ao cair em si sobre tudo o que havia dito. — Não se preocupe com essa questão agora. Você precisa focar que conseguiu subir um degrau tão sonhado em sua vida e caramba, , não é como se eu fosse deixar de ser sua amiga por não te ver mais. Claro que não vai ser tão legal como antes encher a cara enquanto falamos bobagens no observatório, mas temos a tecnologia, não é? Você pode me ligar quando estiver entediado em Seul.
A garota deixou uma risadinha fraca escapar com sua fala, já que não havia como aquilo acontecer em uma cidade como aquela. queria sorrir com sua frase, ele queria poder entender e não esquentar a cabeça com o que aconteceria, mas sabia certamente que não conseguiria. Ele sabia que nada seria fácil como estava imaginando.
— Podia ser fácil como você costuma falar.
— E vai ser. Só basta acreditar. — resmungou, quase como se estivesse achando ruim sobre os pensamentos do amigo. — Você devia estar comemorando. Vai ser famoso, só não vira um esnobe.
soltou uma gargalhada, balançando a cabeça.
— Com você? Nunca. Só se me tirar do sério.
— Esse é o que eu conheço.
Pela primeira vez desde que havia feito o teste para aquela audição, o sentimento de pavor e receio não invadiram seu peito como de costume. Uma pequena pontada de esperança começava a se alastrar por sua mente, dando lugar ao sentimento de insegurança e descrença que volta e meia faziam morada por ali. agora, pensava aos poucos em tudo o que ele poderia alcançar, em como tinha almejado aquilo e que, talvez, sua amiga estivesse certa. Ele precisava começar a acreditar em si mesmo. Claro que, por mais que seus encontros fossem curtos agora, que ele estivesse longe por algum tempo, ele tinha algo para se agarrar.
E em meio a conversas paralelas, voltando sempre ao assunto inicial, principalmente incentivando o amigo, os dois passaram a noite até que desse a hora que precisassem desligar, sem vontade de fazer aquilo.

Se relembrar do momento que havia tido com era como um pequeno impulso para que ele sentisse que as coisas poderiam acontecer como ela sempre o dizia. A verdade era que queria que tudo fosse tão fácil como ela sempre idealizou que seria, que não haveria nenhum problema, obstáculo ou dificuldade no meio de todo aquele árduo caminho. Não era como se ele simplesmente pudesse ignorar o fato de que suas conversas seriam menos frequentes e que o rosto de ficaria um pouco menos nítido com toda a ocupação que ele teria, mas o rapaz não queria que fosse daquela forma.
Não queria que as coisas mudassem como provavelmente aconteceria e sentia que deveria fazer o possível para que os melhores momentos dos dois ficassem guardados por um bom tempo, fazendo com que se lembrassem sempre que a amizade poderia ser mais forte do que qualquer outra coisa.
Com isso, o único pensamento que se passava em sua mente naquele instante era de que ele a pegaria dentro de alguns minutos e deveria estar, minimamente, apresentável, mesmo que não fossem à um lugar tão chique assim. merecia aquilo e ele achava que os dois precisavam comemorar de uma forma correta, daquela vez, sem whiskey e petiscos.
O rapaz passou as mãos pelos cabelos bagunçados, como se aquilo fosse ajeitar os fios teimosos e sorriu fechado para si mesmo em frente ao espelho, sentindo um pequeno sentimento de aconchego dentro de si. Parecia que as coisas estavam começando a se encaixar.
Quando o táxi parou frente à casa de e ele viu a amiga saindo animada e com o sorriso que ele tanto gostava de observar estampado em seu rosto, se sentiu como se estivesse em casa. E talvez, o fato de estar perto dele realmente lhe mostrava essa verdade. Ela parecia mesmo ser o seu lar.
Uma pequena conversa se iniciou enquanto estavam à caminho do restaurante e por alguns instantes, enquanto trocava algumas frases vagas e engraçadas com a amiga, ele se esqueceu de tudo o que o aguardava dali em diante. Não era como se tivesse algo para se preocupar.
— Você tem tudo o que precisa para levar? Não está esquecendo algum casaco, não é? — perguntava ao adentrar o minucioso restaurante na avenida Songhyeon-dong ao lado do amigo. Mesmo que não fosse sua intenção, a garota conseguia demonstrar nitidamente o quão preocupada estava com a ida de seu amigo e se ele estaria levando tudo o que necessitaria por lá.
— Sério, ? Não precisa agir como minha mãe. — o rapaz rolou os olhos, não deixando de transparecer um pequeno sorriso. — Eu fiz as malas mais cedo, coloquei um pouco de cada coisa. Não precisa se preocupar, é só um fim de semana.
Ela o olhou brevemente e deu de ombros, deixando um bico para lá de gracioso em seus lábios. observava.
— Não é isso, . — resmungou, deixando os olhos caírem por todo o recinto ao se sentarem em uma mesa mais afastada. — Você é um cabeça de vento, provavelmente acabaria esquecendo algo.
— Você é tão delicada.
— Que bom que você gosta. — dito isso, soltou um beijinho no ar, arrancando uma risada nasalada do rapaz. Eles se olharam por alguns instantes e a garota encostou o corpo na cadeira, sorrindo mais consigo mesma do que para ele. — Você está crescendo, , não faz ideia de como me orgulho.
— Não notei diferença no meu tamanho nesses últimos dias. — apoiou o cotovelo na mesa e sua mão abaixo do queixo, parecendo um pouco pensativo. Isso fez com que ela esticasse uma das mãos, empurrando o braço do mesmo. Ele sorriu. Assim que o garçom se aproximou, fazendo com que fizessem seus pedidos, voltou a olhá-lo com um certo brilho nos olhos.
— Não estou brincando. Você tem conquistado o que sempre sonhou aos poucos, mesmo com todo o trabalho e os estudos. Com certeza é o que eu conheço. — sorriu abertamente, querendo de alguma forma lhe dar um abraço apertado, para mostrando de uma forma maior o quão orgulhosa estava. — Você é esforçado, sempre fez de tudo para que as coisas fossem boas para você e…
… — tentou interrompê-la, mas viu que a mesma balançou a cabeça como se pedisse para ele não cortá-la daquela forma. apenas voltou a observá-la, exatamente como ele gostava de fazer.
— E você merece o mundo, . Você merece tudo isso que está te acontecendo e muito mais, ainda é pouco. Merece que te reconheçam pelo artista incrível que sei que é, pela personalidade forte e extraordinária que tem. — afirmou, sorrindo fechado. — Não pense em desistir nunca, nem mesmo se algo se mostrar difícil no caminho. Você é maior do que isso.
, qual é. — o rapaz disse, com a voz falha, de certa forma. Todas as palavras ditas pela amiga haviam preenchido seu coração de uma forma que não conseguia explicar, nem mesmo saberia dizer com todas as palavras o jeito com que ela havia lhe deixando ao constatar todos os fatos que, por mais que ele soubesse, não queria, nem conseguia, encarar tão nitidamente assim.
— Não fica envergonhado. Suas bochechas estão uma graça nesse tom. — apontou, soltando uma risadinha fraca ao notar as bochechas em tons rosados do amigo. abaixou a cabeça.
— Não sei colocar em palavras como agradecer pelo apoio que tem me dado. Acho que sem você, eu não estaria nem na metade do caminho.
— Não. Sem você, não estaria. Eu só dei um empurrãozinho. — rebateu esperta, arrancando uma risadinha fraca do amigo. balançou a cabeça, resolvendo por ceder naquela noite e concordar com o que a amiga falava, tentando esquecer o fato de que logo estariam longes um do outro, com quase pouco contato e uma vida inteiramente cheia de afazeres e um tempo abreviado.
Não era como se os dois estivessem com seus olhos focados no relógio quando todo aquele tempo daquela noite passava, sem fazer muita questão com o fato de que logo já teriam que retornar para suas casas. não percebeu quando o garçom se aproximava, já que ele e estavam engatados em uma conversa animada e soltavam algumas risadas, e portava a conta final daquela noite.
— Nós precisamos ir embora agora mesmo? — observou o olhar de vagando sobre a mesa, demorando alguns segundos ao retornar para ele. O rapaz a observou um pouco mais, antes de balançar a cabeça concordando e, com um pequeno sorriso ameno, esticou as mãos em direção a sua carteira, respirando fundo ao vagar os dedos pelas poucas notas que ali estavam.
sabia que não tinha muito para se esbanjar, e na verdade, ele nem poderia estar gastando daquela forma. Sabia ainda mais que seu orçamento ultimamente andava mais baixo do que imaginou um dia e que, a partir de que começasse a ir para Seul, seria ainda mais apertado. Ele já começava a trabalhar em outro turno em seu trabalho que antes era apenas de meio período e sentia seu cansaço pesando o corpo cada vez mais, mesmo que tentasse pensar que todo aquele esforço era por um bom motivo e necessário, exatamente como passava para ele, só que tinha algo.
O porém que tanto martelava em sua mente e que, no fundo, sabia que era a mais pura verdade. Tudo aquilo servia para lhe mostrar que, por mais que não quisesse acreditar naquele tipo de pensamento, ele não podia ser bom o bastante para e até mesmo que não podia lhe oferecer tudo o que ela merecia.
merecia o mundo e ele ao menos poderia lhe dar parte do que tinha nele.
Com os olhos ainda perdidos em sua carteira, o rapaz ouviu a entonação de sua amiga, em questionamento.
? O que foi?
— Nada, é só que… — endireitou a postura, tentando disfarçar o fato de que talvez não conseguisse pagar aquele jantar por completo. Ele sabia que precisaria pedir ajuda a , mas estava se odiando por ter que fazer aquilo. Como é que ele podia convidá-la para sair se ao final a mesma teria que ajudá-lo a pagar? Não achava justo, era o mínimo que poderia fazer e ainda estava falhando.
— Você não achou que pagaria por tudo sozinho, não é?
Ele piscou os olhos por alguns segundos.
, não posso aceitar, eu que te convid-
— Pode parando por aí mesmo. — a garota o cortou, rolando os olhos ao notar o que ele começaria a falar. — Até parece que você não me conhece, . Não tem essa de não te ajudar, eu já falei. E não adianta continuar me olhando dessa forma. — apontou para o rosto do rapaz, esticando a mão em seguida para bagunçar seus cabelos. ainda a encarava. — Vamos?
Não deu muito tempo de questionar, a mesma havia levantado o corpo, ainda com o sorriso nos lábios que fazia com que, mesmo que por míseros segundos, se perguntasse se realmente existia algum problema para se preocupar. Ele queria muito acreditar que não haveria nenhum e que tudo continuasse tão simples como transparecia, mas sabia que nada ocorreria daquela forma.
Mas de momento, pelo menos por enquanto, a única coisa que ele queria focar a se lembrar era dos momentos em que conseguia passar ao lado de sua melhor amiga.
O céu parecia estar em um azul mais escuro, com o brilho das estrelas pintando cada pequeno pedaço dele e com isso, resolveram que seria mais interessante caminharem para aproveitarem um pouco mais do tempo juntos. Não tinham muito o que conversar e nem queriam muito, o silêncio que pairava por ali agora parecia ser suficiente para suprir a sensação de que devia ser daquela forma. permanecia com suas mãos no bolso da calça e admirava as estrelas tão esperançosa como ela sempre havia sido, com aquele brilho no olhar que conseguia espantar toda e qualquer dificuldade capaz de encontrá-los. E talvez fosse por isso que se encaixavam tão bem, pelo fato de serem inteiramente opostos.
Aquilo não importava. Pelo menos naquele finalzinho de noite, com as nuvens passeando pelo céu escuro, esqueceria que dali há alguns dias, sua rotina mudaria por completo.

sijakhaedeon saebyeok alba uh
(Então eu começava cedo meu trabalho de meio período uh)
ttaemune deunggyosiganeun maebeon dalla uh
(Isso sempre afetou o tempo que eu chegava na minha escola uh)
hakgyoreul gamyeon da don manheun jip jasikdeul
(Quando ia para a escola, todos eram de famílias ricas)
nae handal saenghwalbi myeot baereul sulgapse chyeobageo
(Eles gastam mais dinheiro em álcool do que o valor do meu aluguel de um mês)
geurigon mwo mwo? don eopdadeon gasikdeul
(E o quê? O quê? Eles fingem que não tem dinheiro)

pressionou os lábios, com os olhos estreitos em direção à entrada do colégio, observando cada um que por ali passava, sem qualquer expressão estampada em seu rosto. Ele não precisava de um motivo específico para não fazer questão de se aproximar de todos aqueles alunos, que julgava por serem tão fúteis e superficiais a ponto de nem mesmo se importarem com o próprio futuro. Até porque, não precisavam.
Ele conseguia apontar o dedo sem hesitar para cada rosto que poderia ganhar um carro facilmente, que conseguiria uma bolsa de estudos em um piscar de olhos e que nunca, nem mesmo por um instante, necessitaria correr atrás de seus sonhos, já que a única coisa que tinham para se preocupar, se é que realmente se preocupavam, era o fato de que seus pais tinham tudo sobre controle para eles, e por conta disso, era fácil.
Fácil demais.
O garoto deixou um sorriso debochado escapar no canto de seus lábios, ainda com um dos braços apoiados no joelho enquanto seus olhos tinham toda a atenção focada para aquela cena inacreditável. Não queria comparar sua vida com a deles, por mais que fosse impossível não fazer algo como aquilo, mas se sentia tão cansado que, em certo momento, achava injusto e por uma fração de segundos, mesmo não querendo focar no que acontecia, se pegava pensando em como seria ter a vida que eles tinham.
Como seria ter tudo.
O que só o fazia lembrar de que agora, faltavam questão de dias para que a formatura fosse alcançada e que pudesse dar o adeus tão desejado que pensou naquele ano inteiro. não via a hora de estar longe dali, de deixar para trás tudo o que o sufocava e o tirava dos eixos. A verdade era que ele queria esquecer os dias difíceis que estava vivendo. Queria apagar como a facilidade de uma borracha as noites mal dormidas, o trabalho árduo e esforçado de todos os dias e madrugadas, as brigas constantes dentro de casa. Se ele pudesse, com toda certeza, nunca mais ousaria pensar em tudo aquilo, por mais que fosse parte do processo para que tivesse conquistado tudo o que havia conseguido até ali.
Depois de ter passado para a segunda fase da audição que havia feito, suas idas para Seul ficaram mais frequentes do que ele havia imaginado e mesmo com seu salário apertado, as coisas ficaram ainda mais difíceis por ter que se deslocar quase todos os fins de semana para ensaios e reuniões. Nunca imaginou que cresceria ao ponto de passar para uma das fases mais importantes na empresa, mesmo não criando tanta esperança de se tornar trainee e muito menos na possibilidade de debutar tão cedo.
Talvez ele devesse ter acreditado no que havia dito. Ele conseguiria, só bastava acreditar.
Pensar na garota, o fez sorrir de forma melancólica. sentia falta de sua amiga, sentia falta das conversas jogadas fora e das noites que passavam no observatório Apsan, mesmo que ficassem calados apenas apreciando a presença um do outro. Sua falta crescente só dava ênfase no fato de que era essencial em parte de tudo o que fazia e a distância que agora tinham, se fazia mais presente do que qualquer outra coisa. Ele não a encontrava com a frequência que queria, nem mesmo conseguia oferecer o tempo que antes tinha e aquilo apertava um pouco mais seu coração.
queria ser suficiente, mas sabia que não poderia e isso só fazia aquele pensamento injusto crescer um pouco mais dentro de si. Injusto porque ele sabia que não era certo deixar as coisas daquela forma com e muito mais porque sabia que ela tentaria achar um jeito de fazer tudo dar certo.
E, naquele momento, ele já não sabia se teria como realmente dar.
Os seus dedos já se encontravam nervosos ao pensar que aquele intervalo já estava chegando ao fim e que não conseguiria encontrar nem se fosse para conversar um pouco e até mesmo, para saber se ela estava bem. Ele já não tinha muito tempo para aquilo com toda sua rotina atarefada e a única forma de conversar um pouco mais sobre tudo o que a amiga fazia eram por mensagens, nem sempre respondidas no mesmo instante.
Deixou os olhos caírem uma última vez sobre os alunos que terminavam de retornar a parte interna do local e respirou fundo, ouvindo o toque repentino de seu celular.

“Ei, ! O que vai fazer antes de anoitecer? Quer ir ao observatório? :)”


Ele leu e releu a mensagem por alguns segundos, focando seu pensamento em como queria aceitar aquele pedido e em como queria poder aproveitar um pouco daquele momento com sua amiga. Mas ele não poderia.
Sabia que agora as coisas não se resumiram mais a passar algum tempo livre apenas para espairecer.
Com o tão conhecido aperto em seu peito, releu uma última vez antes de responder, desligando o display assim que apertou o botão de enviar e dando impulso para se levantar, pronto para assistir sua última aula para que fosse trabalhar, como todos os outros dias, mesmo que cansado.

“Eu sinto muito, , acho que vamos ter que marcar para outro dia…”


E, mesmo enviando aquela mensagem, não saberia dizer se aquele dia realmente chegaria mais.

naega 20sari doe beoryeone joreopsil punggyeongeun sseok gurine (Assim eu alcancei meus vinte anos e a cena do nosso hall de graduação era ridícula)
bamsae dobakhadeon geu saekkideul?
(Esses idiotas que ficavam jogando a noite toda?)
joreopseonmullo oejechal kkeune geugeon jom bureopne (Eles ganharam carros importados na graduação, admito aquilo me deixava com inveja)
bureopne sesangeun bulgongpyeong
(É, fiquei com inveja, mas o mundo é injusto)


não queria estar ali. Ele não queria estar mesmo dentro daquele salão decorado enquanto uma música qualquer e possivelmente conhecida tocava por todo o local. Ele conseguia observar em como todas aquelas pessoas pareciam felizes e aliviadas pela formatura ter chegado e por saberem que dali em diante não precisariam se esforçar para acordar todos os dias mais cedo, como se aquele fosse mesmo um grande empenho.
Uma risada escapou de seus lábios, achando cômica a forma com todos estavam se portando. Ele conseguia dizer com toda a certeza sobre cada um que ali estava, mas naquela noite, era a última coisa com que queria se importar, já que sabia que não veria nenhum deles nem tão cedo e aquilo não seria importante. Não como antes.
Por mais que não quisesse aproveitar o momento que tinha, algo rodeava sua mente enquanto as luzes coloridas e frenéticas passavam diante de si como a animação daquela festa. disse para si mesmo antes de sair de casa que durante aquela formatura, focaria em aproveitar o máximo que pudesse ao lado de sua melhor amiga e que tentaria não pensar no que havia lhe acontecido, já que ao menos havia dito à o que lhe tinha sido ofertado.
Provavelmente tinha mais de vinte e quatro horas desde que havia recebido a ligação da empresa, com a novidade que ele sempre havia sonhado e compartilhado nos últimos meses com sua amiga, mas não pareceu ter sido o momento certo para ter acontecido.
havia sido selecionado, não para uma outra audição, mas sim para fazer parte de um projeto inicial, para um grupo que possivelmente poderia debutar em um futuro não tão distante. Claro que de início não acreditou ao ouvir a voz do manager do próprio Sihyuk do outro lado da linha, mas pôde ter certeza quando lhe passaram toda a informação e a mais importante, de que agora, sua vida começaria definitivamente em Seul.
E era aquela parte que ele não havia dito a .
Ele nem sabia ao certo como dizer aquilo.
Seu coração se apertava gradativamente ao observar de longe o sorriso da garota estampado nos lábios como se estivesse vivendo o melhor momento de sua vida. contemplava a beleza que a mesma ilustrava sem qualquer esforço, em como o vestido escuro havia lhe caído bem por mais brega que ele achasse aquele tipo de vestimenta. Em , tinha um efeito contrário.
Enquanto a música ressoava pelo lugar, fazendo as pessoas dançarem agitadas, ela continuava lá, conversando com os outros colegas, mesmo tendo insistido para que a acompanhasse, para que, de acordo com ela, ele aproveitasse um pouco mais do último dia em seu colégio. Ele queria concordar com a amiga, mas a situação só constatava o fato de que ele nunca, nem mesmo se quisesse, conseguiria fazer parte de seu mundo.
tinha toda aquela aura que inevitavelmente conseguia ser ignorada, por ser tão extrovertida e conquistar todos a seu redor. O esforço de sua amiga por um futuro brilhante que sabia que ela teria era notável, tanto que ele tinha certeza de que ela conquistaria tudo o que quisesse e esse era um dos motivos que o fazia crer que ela poderia ser melhor se ele não estivesse por ali. não merecia ter alguém com que se preocupar todo o tempo, alguém que não tivesse condições o suficiente para lhe pagar um simples jantar, alguém que só lhe trouxesse problemas para serem resolvidos.
Ela merecia muito mais.
Naquele momento, queria apenas olhá-la. Queria gravar o máximo de detalhes possíveis da garota que sempre fez questão de nunca soltar sua mão, de nunca desistir de sua amizade e de, em nenhum outro momento, fazer questão de estar ali pelo rapaz. Aquela cena lhe fez pensar no que tanto pairava sua mente desde que havia recebido a proposta e vendo tão encantada, não estando a seu lado, só fez com que tivesse certeza de que talvez, aquela fosse a decisão certa a ser tomada.
Ele queria mais do que tudo que a garota fosse feliz, que conquistasse tudo o que um dia sonhou e que tivesse tudo o que realmente merecia, como havia pensado desde cedo.
E sabia que não seria ele a proporcionar isso. Ele ao menos poderia…
O rapaz respirou fundo, cedendo a vontade que o consumia de seguir em direção a garota e com passos vagarosos, em meio a multidão de alunos que movimentavam seus corpos e a música estrondosa que ali tocava, se aproximou, ainda observando tão livre mexendo o corpo de acordo com a batida de cada linha daquele som.
Por um segundo, ele não quis dispersá-la. Confessava que se perderia naquela cena para sempre, apenas com sua atenção sendo focada pelos movimentos graciosos de sua melhor amiga, mas a realidade lhe puxou para o que acontecia, murchando o pequeno sorriso que antes reluzia no canto de seus lábios.
virou o rosto em sua direção, resplandecendo um olhar que só ele conseguia entender.
E não esqueceria daquilo nunca.
— Achei que você não sairia de lá. — se aproximou, dizendo alto o suficiente para que ele pudesse ouvir em meio a agitação que se encontrava. Ele balançou a cabeça.
— Eu só queria te dizer uma coisa. — respondeu da mesma forma, aproximando seu rosto do dela. permaneceu com seus olhos fixos ao de , como se tentasse desvendar o que se passava na cabeça de seu amigo. Ele não tinha mais aquele sorriso de canto que ela achava encantador, mesmo que acanhado, nem mesmo tinha o mesmo brilho nos olhos que lhe fazia acreditar que o rapaz não havia desistido de seus sonhos. Não era como ela conhecia, parecia diferente. parecia observá-la com tanto afinco que algo no fundo de seu coração despertou, um sentimento de angústia, não parecendo estar certo.
Mas a única coisa que ela conseguiu receber de volta, depois daquela afirmação, fora um sorriso triste no canto dos lábios enquanto seus olhos ainda permaneciam sobre os dela.
Ele não queria que fosse daquela forma, nem mesmo queria que fosse ali, no meio de tanta gente e quase incomunicáveis, mas precisava. Ele precisava fazer aquilo pelos dois.
Por mais que fosse magoá-la.
E, com um último olhar, ergueu seus braços em direção ao corpo de , a puxando para um abraço apertado, fazendo com que seus olhos se fechassem por breves segundos, podendo sentir o cheiro fraco que exalava do corpo da amiga.
Ele não a esqueceria nunca.
— Seja sempre assim, . Seja sempre a que eu conheço.
Assim, afastou o corpo do dela, camuflando a entonação fraca com o piscar de um dos olhos enquanto os dela ainda o observava. se segurou o suficiente para que não se deixasse levar pelo aperto no coração de pensar no que iria fazer, mas vê-la sorrir no instante seguinte, o abraçando rapidamente mais uma vez, o fez perceber que por mais que fosse doer, ele não poderia voltar atrás.
— Eu vou pegar algo para bebermos.
Com toda a animação que manifestava, virou o corpo caminhando determinada até o outro lado do salão.
observou a amiga se afastar, pressionando seus lábios e abaixou a cabeça, virando o corpo na direção contrária. Exatamente para a saída do salão. Ele não queria se despedir, não queria ao menos deixá-la. não queria sentir toda aquela sensação ruim remexer a boca de seu estômago e o sentimento de arrependimento tomando conta de seu coração. Ele não queria ver o olhar perdido de a sua procura, não queria ver o quão angustiada ela ficaria e, com toda a certeza, ele sabia mais do que tudo que ela não o perdoaria.
O rapaz deu uma última olhada antes de caminhar para longe dali, para sua casa onde as malas se encontravam prontas para que fosse direto para Seul e respirou fundo, sorrindo para a amiga, por mais que ela não pudesse vê-lo.
Ele só esperava que, algum dia, pudesse lhe desculpar e entender que nunca, nem mesmo por uma pequena fração de segundo, deixou de pensar no que seria melhor para ela.
E sabia mais do que ninguém que aquilo não incluía ele.




FIM



Nota da autora: Oi, meu amor! Se você chegou até aqui, eu espero do fundo do coração que você tenha gostado de todo o enredo! Espero também que me perdoe pelo que nosso principal acabou fazendo, mas caso você queira saber o que aconteceu logo após, você pode saber em 01. Moonlight! Ah, e não esqueça de deixar um comentáriozinho para eu saber o que você achou hihi Beijos!
E se você se interessar por mais histórias minhas, o link da página de autora vai estar logo aqui embaixo.



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