Fanfic Finalizada em: 08/01/2022

2012


– Me promete uma coisa. – Meus olhos moveram-se do horizonte distante para a direção de Seokjin. O rosto sereno dele, que sempre me passava uma imensa paz e conforto, estava virado para cima, com sua cabeça em meu colo, e reluzia a claridade do sol daquele fim de tarde.
– Você não gosta de promessas, . – Ele me respondeu, ainda com os olhos fechados.
– É uma exceção – entortei os lábios, apoiando meu corpo nos braços esticados para trás, e voltei a encarar o horizonte. Com o silêncio dele, continuei: – Não importa como irão te tratar, você não vai mudar e deixar que mudem você.
– E por que eu deixaria que me mudassem? – O tom de Seokjin nunca se fazia por arrogância, ele realmente tinha dúvidas e não se importava em perguntar; uma das coisas que eu mais adorava em nossa relação era como podia confiar em sua transparência, porque para ele a transparência se fazia excepcionalmente importante.
– Não sei, Jin… É um padrão. As pessoas mudam quando se deslumbram com o que o mundo pode lhes dar – continuei encarando o horizonte. – E já vai ser extremamente doloroso te perder para Seul e a vida de trainee. Tem certeza de que quer isso mesmo?
Não tive resposta, mas continuei a encarar o mesmo ponto, como sempre apaixonada pelo pôr do sol. Porém, a demora de Jin para responder, me fez desistir e mover meu rosto para que eu pudesse o encarar e assim que o fiz, nossos olhos se encontraram. Ele estava com as pálpebras abertas, não sabia quanto tempo já fazia, e me olhava de uma forma profunda.
– A única certeza que eu tenho é que não quero te decepcionar. – Seokjin disse com a voz baixa.
– E eu sei que não vai – tentei sorrir simples, umedecendo meus lábios. – Eu vou estar lá, em todas as primeiras fileiras. Você já é a minha celebridade favorita – completei, mantendo nossa troca de olhares.


2019


A multidão gritava tanto, que se eu não estivesse usando o protetor em meu ouvido, poderia ficar surda. Embora estivesse acostumada com shows e toda a comoção, além do som extremamente alto das caixas para todo um estádio, ainda assim era muito barulho para uma pessoa aguentar – e também se tratava de um público muito bem conhecido por ser demonstrar toda sua personalidade calorosa no barulho durante os shows, com a interação mais marcante dentre todos os outros ao redor do mundo; então, longe de mim reclamar da gritaria brasileira enquanto caminhava em direção à lateral do palco pelo backstage. Falar sobre o volume de todas as vozes juntas era apenas uma observação. Minha maior preocupação, na verdade, era chegar a tempo de pegar a apresentação desde o ínicio.
Felizmente eu consegui me juntar aos inúmeros corpos do público, no lugar que sempre era “reservado” para que eu ficasse quando quisesse aproveitar o show junto da multidão em qualquer que fosse dos estádios durante a turnê do BTS. E ao chegar, sutilmente cercada por seguranças, para que não fosse possível que chegassem tão perto – e grata por não chamar atenção por isso ou pelo lugar em que estava –, me preparei para e enxurrada de sentimentos que viria a seguir com o que aconteceria no palco. Não importava quantas vezes eu já tivesse visto e escutado, a letra e melodia somados ao timbre tão apaixonante e carregado de sentimentos, fazia com que todas as vezes soassem como uma primeira. Se fazia completamente inevitável não se sentir tocado pelo que ouvia e isso transbordava para além de quem estava dentro daquele estádio ou queria estar; quando se trata sobre um amor próprio, ouvir com tanto sentimento chega a doer, porque isso é algo que nem todos nós possuímos a capacidade de conquistar.
Na verdade, temos capacidade, mas a coragem é o mais difícil. Porque exige muita bravura para se amar acima de tudo, se colocar no lugar que deve estar. Um dos motivos pelo qual eu não perdia qualquer oportunidade de estar ali, abaixo do palco, vendo do ângulo de uma audiência, toda a emoção. O filme que se passava na minha cabeça era sempre finalizado com tamanha gratidão por estar no ponto em que estava.
Era como uma via de regra: Seokjin começava a cantar e automaticamente um start em minhas memórias era apertado.
Meu coração acelerou quando ele surgiu em frente ao piano, como sempre tão entregue ao que estava fazendo ali. Sendo único. Singular.
Quando nos conhecemos ainda estávamos na escola, no período de preparação para a universidade. Havia me mudado com meus pais do Brasil para a Coreia do Sul, por conta dos meus avós maternos precisarem de cuidados. Meu pai conseguiu um trabalho dentro da própria área em Gwacheon-si e minha mãe passou a se dedicar em nossa casa por período integral por conta de seus pais. Por mais que eu tivesse contato com a cultura do país pelos meus avós e minha mãe, ainda me sentia mais estrangeira, afinal cresci no Ocidente e me acostumei com tudo o que vivi em São Paulo. Logo, foi muito complicado me acostumar com a forma coreana de viver, sendo o idioma o menor dos meus problemas, e como eu estava prestes a entrar na universidade, tudo era mais intenso.
Acontece que, não importa onde esteja, as pessoas serão más com você se seu jeito não for do agrado comum. E Seokjin foi o primeiro a me estender uma mão, me apresentar uma epifania. E tão natural quanto o próprio estado de espírito, ele se tornou minha pessoa favorita no mundo.
Seokjin foi o responsável por me mostrar que o singular é tão bom quanto o plural; que é possível se encontrar no mínimo e se fazer múltiplo. Sua mão estendida sempre me serviu como um mapa para me encontrar em primeiro lugar, o tendo no final, como um bônus por me ter. Se tratava de ter a si para ter o outro. Se iluminar para que encontrasse o outro. Ou como ele dizia na letra que cantava, escrita por mim: ser aquele que amava.
Não importava se era muito ou pouco tempo dele no palco, em frente ao piano, abaixo dos holofotes, cantando, olhando para o público ou todas as outras coisas que completavam sua performance, era único.
– Precisamos ir, .
Somente a voz do segurança ao meu lado conseguiu me trazer para a frequência da realidade outra vez. Eu assenti brevemente, acompanhando seus passos de volta para o backstage. Ao cruzar a barreira e estar totalmente afastada do público, tirei a proteção dos ouvidos e o boné, soltando meus cabelos e ficando outra vez à vontade. Logo uma das assistentes do palco me trouxe uma garrafinha de água e eu continuei minha caminhada, agradecida por seu jeito solícito, enquanto ansiava por encontrar Jin no camarim.
Impedi meus pés de se moverem extremamente rápido quando vi que ele estava um pouco mais a frente, prestes a entrar no camarim. E como se nossos sentidos fossem mesmo tão conectados, assim como diziam e sentíamos, ele se virou para trás, sorrindo abertamente ao me ver. Meu coração acelerou, palpitou e quis sair pela boca ou qualquer poro do meu corpo, com suas inúmeras piruetas. Era essa a mesma sensação sempre que eu via aquele sorriso, aquele rosto sereno, me passando total conforto e paz. Toda vez uma primeira vez. E contra esse sorriso eu não consigo me controlar, mesmo usando um salto médio, meus pés se moveram rápidos e eu estava correndo naquele curto espaço que nos separava, para me jogar diretamente em seus braços – e mesmo que estivesse de olhos fechados, com meus lábios contra os dele, sabia que a equipe em volta nos encarava, pensando o que quisessem sobre nós dois.
– Ei! – Seu braço direito, envolvido em minha cintura, não me soltou quando nossos rostos foram afastados pelo fim do beijo. Com a pouca distância, pude encarar seus olhos com meu rosto levemente inclinado por conta da diferença de altura. – Eu estou todo suado, meu bem.
– Não me importo. – Sorri, selando seus lábios outra vez. – Me deu saudade.
– Eu sei que deu. – Ele riu fraco, beijando minha testa. – Falta pouco para irmos embora. Cadê-
Sabia qual era a pergunta de Seokjin, mas não foi preciso ele completar. A porta ao nosso lado fora aberta e de dentro do camarim um grito histérico saiu, acompanhado das gargalhadas de Hoseok.
– Desculpa, não consegui segurar por muito tempo. – Hobi pediu desculpa, coçando a nuca e eu apenas assenti o tranquilizando.
As pernas de Seokjin foram envolvidas pelos bracinhos curtos de Hwa-gi, ansiosa como sempre pelo colo do pai e eu me afastei para que ela tivesse seu momento.
– Aprovado? – Ele a questionou, já tendo-a em seu colo, deixando um beijo em sua bochecha.
– Sim! – Hwa ergueu os braços para cima, sorrindo animadamente. O sorriso tão igual quanto o de Jin. – Hwa foi boazinha com o tio Hopi, agora posso comer doce, papai?
Sua pergunta com a fala infantil me tirou toda a concentração, como sempre. O biquinho que fazia a cada junção de sílabas e a sonoridade embolada, me fazia ter inúmeras borboletas no estômago.
– Ela foi mesmo boazinha, tio Hobi? – perguntei para Hoseok, forjando um tom sério
– Foi sim, dessa vez eu não fiquei com os cabelos em pé. – Ele respondeu com uma piscadela para ela. Hwa ficou risonha, piscando de volta.
– Vocês dois, hein, são cheios dos segredos. – Seokjin disse, virando-se para a porta. – Eu deixo você comer doce, mas só se der um beijinho gostoso no papai.
Ela fez uma careta, hesitante.
– Mas você está suado, papai. Ew! – disse com nojinho, afastando o rosto.
Alheia aos dois, vendo a cena com as risadas sendo a trilha sonora, enquanto entravam no camarim, respirei fundo, sem inibir meu sorriso e coração apaixonado. Dentro da singularidade que conquistamos, o nosso plural era meu tesouro favorito. E eu não poderia ser fã de uma pessoa melhor do que o homem com quem escolhi me casar.





FIM.



Nota da autora: Olá. Obrigada por ler e, por favor, não esqueça de comentar! É muito importante o feedback da sua leitura.

Bom, aqui tem o link onde você consegue acompanhar a autora pelo instagram e entrar no grupo de WPP dos Leitores da May 🎈



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
CAIXINHA DE COMENTÁRIOS

Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.


comments powered by Disqus