Última atualização: 21/09/2021

Capítulo único.

Os raios do Sol já estavam longínquos, dissipando-se pelo céu e, numa mistura química de gases e luz, o céu revezava em cores alaranjadas e rosadas. As nuvens se moviam com pressa, como se quisessem passar o remoinhais rapidamente. À medida que a noite se aproximava, o vento gélido e a escuridão acolhedora vinham num combo convidativo demais aos meus olhos, que, francamente, sempre optaram pelas manhãs quentes.
Seriam atos e sentimentos esquisitos para o meu eu de alguns meses atrás, mas, nas últimas semanas, eu me identifiquei bem demais com as noites estreladas e frias. Pequenas estrelas pelo céu, me deixando tonto com seu brilho reluzente.
Plimmmm.
O som do despertador tirou-me de meus devaneios, avisando que eu deveria averiguar a carne no forno, antes que ela queimasse.
Fui me aproximando a passos lentos, finalmente percebendo a xícara de café sobre a bancada, que eu largara ali pela manhã antes do trabalho. Uma gota do líquido escuro acabou escorrendo e manchando minimamente o mármore branco, mas não me atentei como deveria àquilo.
Assim que toquei na xícara, notei que ela estava fria, como o esperado. O cheiro do café, já não mais tão forte e marcante, adentrara minhas papilas olfativas, me desnorteando por meros segundos.
Eu realmente amava a cafeína.
Uma vontade enorme de comer meu jantar com café me preencheu. Não pensei em relutar contra aquele desejo, por mais estranho que ele fosse.
Conferi rapidamente a carne, logo desligando o fogo e deixando-a ali, esquentando por mais um tempo. Curvei-me para alcançar a chaleira no fundo do armário inferior, ouvindo um leve estalar de minha coluna. Suspirei profundamente, eu estava detonado.
Meu cansaço físico era fruto de todas as noites mal dormidas que vim sofrendo nas últimas duas semanas. Ou já haviam se passado três?
Eu tinha perdido as contas.
Não deixei com que a água ultrapassasse metade do canecão, logo descansando-a sobre o fogão e acendendo o fogo. Pensei em ir esperar no sofá, mas uma curiosidade aleatória de assistir as bolhinhas de ar quente pulando pela água fora mais forte, deixando-me plantado ali, ao lado da chaleira.
Um borrão azul no meio do chão da sala me chamou a atenção de repente, fazendo-me reparar na camiseta largada no pé do sofá. Não me lembrava de tê-la deixado ali.
Dirigi-me até a peça de roupa, novamente me curvando para que meus dedos alcançassem o tecido no chão. Repentinamente, senti muito uma sensação esquisita de déjà vu, e jurei ter te escutado chamando a campainha.

Ding Dong.
Levantei a cabeça na direção da porta, estranhando que alguém apareceria ali àquela hora da noite. Com apenas cinco longos passos, alcancei a entrada da casa e rodei a chave, destrancando-a e dando de frente com você.
— Hey, .
?
— Eu mesma… — você se contorceu levemente, incomodada. — Não vai me convidar para entrar?
— A-ah, claro.
Dei-lhe licença, esperando que começasse seu discurso. Assim que rodei a chave, virando-me para você, senti meus olhos caírem.
As lágrimas já se faziam presentes naquela conversa que mal havia começado. Nós dois sabíamos, só não queríamos falar em voz alta aquela dor que prensava no peito de ambos.
— Eu acho que… — falamos juntos, sem manter nenhum contato visual.
— Você primeiro — sorri de lado, sentindo-me sem graça de repente.
O clima pareceu despencar alguns graus, causando arrepios – mesmo que as janelas estivessem fechadas e o aquecedor, ligado.
— Eu não aguento mais nossas brigas, .
Minhas sobrancelhas automaticamente se ergueram, demonstrando minha surpresa. Não que eu aguentasse, mas era engraçado escutar aquilo de você. Preferi ficar em silêncio, esperando que você continuasse:
— A gente sabe que não tem mais como, né? — sua voz saiu baixa e embargada. Meu coração se partiu em alguns pedaços.

— Eu pensei em vir aqui e implorar para continuarmos, que eu iria me esforçar ainda mais para te amar e… — interrompeu-se com um soluço, logo fechando os olhos e encurvando as costas, tentando abafar o choro.
Meus braços rapidamente se ergueram, como num costume de ir te abraçar ao te ver assim, mas minhas pernas não se mexeram.
Eu não conseguia mais.
— Quanto mais eu quero, menores são as chances de acontecer — falei sem pensar, apenas deixando com que meu coração se comunicasse ao seu. — Eu já gritei tanto para você me dar amor, , não posso implorar isso novamente.
Você não disse nada, apenas concordou com a cabeça, ainda chorando compulsivamente. Meus dedos se tremeram com a vontade de passeá-los em seus cabelos, num carinho íntimo.
— Achávamos que nossos destinos estavam entrelaçados, mas estávamos errados, e ‘tá tudo bem — minha voz travou por alguns milésimos de segundo assim que meus olhos encheram-se de lágrimas. No entanto, nenhuma escorreu.
— Me desculpa, , por favor… Eu só… Eu…
Sua mente parecia dar leves rodopios, te deixando tonta e perdida. Eu não podia te julgar. O meu coração se dilacerava a cada lágrima sua que escorria.
Senti um líquido quente em minha bochecha direita.
— Mesmo se fôssemos um casal transbordante, ninguém perceberia se não fizéssemos som algum — continuei, dando um passo em sua direção. — Éramos frios e distantes, mesmo com tantas juras de amor.
Seu rosto se ergueu e meus olhos encontraram os seus, que estavam vermelhos e levemente inchados. Em silêncio, me aproximei e segurei suas mãos, pressionando meus lábios e me forçando a não chorar.
— O amor se foi, . Eu não posso te prender comigo para sempre — sorri tristonho, mas tentando te passar confiança. Seus lábios se comprimiram. — Faça o que você precisa fazer.
Um soluço alto saiu de sua garganta, junto de gordas lágrimas escorrendo de seus olhos. Sua testa se enrugou, demonstrando o quanto você não queria que aquilo acontecesse.
Permaneci quieto, apenas segurando suas mãos.
Esperei você se acalmar, que o choro diminuísse gradativamente e que sua voz pudesse sair, agora com um pouco mais de força:
— Acabou, .


Eu só percebi que meus nós dos dedos da mão estavam amarelados, de tanta força que eu fazia, quando o barulho da chaleira se tornou ensurdecedor, fazendo-me despertar.
Meu rosto estava molhado, mas não me importei. Corri até a cozinha, desligando o fogão e perdendo toda a vontade de tomar café.
Tudo ainda me lembrava de você. Tudo ainda era sobre você.
Mas tudo iria mudar.
Porque assim como o cheiro do café, o amor desapareceu.
Assim como as luzes da cidade, o nosso amor desapareceu.
Sem fazer barulho algum, o amor de foi.
Desapareceu, assim como você desapareceu da minha vida depois daquela noite fria e escura.




Fim.



Nota da autora: Misericórdia, o que eu fiz?
Desculpa gente, acho que estou escrevendo essa fic na minha tpm, ou estou com o coração partido (ou os dois!)
Espero que tenham gostado dessa dose de café amargo. Sei que a história é triste, mas essa música me deixou nessa vibe! CULPEM O BAEKHYUN!!!
Mas enfim, caso tenham gostado, não se esqueçam de me dizer hihi <3 um cheirooooo
~xoxo



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