05. Hair

Última atualização: 25/06/2017

Capítulo Único

I call my girl
‘Cause I got a problem
Only a curl
Is gonna solve it


Quando eu ainda era uma garotinha vi meu pai abandonar minha mãe.
Não sabia afirmar qual havia sido a pior parte para mim: ver o relacionamento dos dois ir se destruindo de pouquinho a pouquinho, ou a última vez que o vi saindo pela porta, levando uma mala cheia de roupas, me dando um beijo na testa e sussurrando:
“Pense no papai como um ioiô, eu vou, mas eu volto, é apenas uma viagem”.
E eu acreditei.
Na primeira semana. Na seguinte. Durante o mês inteiro.
Até o dia em que vi minha mãe chorando no conforto de sua cama à noite, embolada em meio ao cobertor e agarrada a um travesseiro tentando abafar seus soluços, foi ali, assistindo uma das piores cenas da vida de qualquer garotinha, que percebi que meu pai tinha mentido para mim. Ele não iria voltar.
Aquele foi o meu primeiro coração partido, e foi também o que mais doeu e machucou mais fundo, causando danos irreparáveis a mim, deixando meus sentimentos em carne viva para sempre, qualquer toque a partir dali fazendo com que eu me retraísse em temor.
Se um gênio da lâmpada aparecesse na minha frente e perguntasse qual era o meu desejo, definitivamente seria apagar aquela memória em específico. Esquecer completamente dos olhos vermelhos da minha mãe e seu corpo trêmulo a me abraçar enquanto eu escalava para a sua cama pretendendo, segurá-la de volta.
Só quem já viu a própria mãe sentir tanta dor pode entender como aquilo me destruiu. Mães foram feitas para consolar, dar carinho... Elas supostamente deveriam concertar o seu coração partido, nunca o contrário.
Acontece que mães também são seres humanos, com vidas inteiras que vão além de nós, que de forma egoísta, pensamos ser a única coisa que importa para elas. Provavelmente e com sorte, se você tiver uma mãe feita de açúcar e carinho como a minha, então você é o que ela mais ama, mas não isso não faz de nenhum de nós o suficiente para fazê-las felizes sozinhos.
Descobri isso na madrugada enquanto ela já tinha pegado no sono e eu permanecia acordada, ainda em seus braços, com medo de que ela também fosse embora. Na minha mente pequenina talvez fosse eu quem os atrapalhava. Quem sabe meu pai não tinha saído de casa por minha culpa? Eu só dava trabalho, chorando e berrando.
Então suavemente, contendo meus soluços para não despertá-la, também deixei que lágrimas caíssem e, esperançosamente, me lavassem a alma naquela noite.
Eu tinha apenas nove anos quando tudo isso aconteceu, agora os tempos eram outros, mas o coração parecia se partir da mesma forma, deixando aquela lembrança fresca na minha mente, como se houvesse acontecido ontem.
Como eu não percebi antes? Como pude ser tão burra? Os sinais estavam bem na minha frente.
Digitei o número de na tela, usando das mesmas mãos trêmulas que haviam rodeado a cintura da minha mãe outra hora, e liguei. As chamadas pareciam estar mais longas do que de costume, como se eu nunca fosse ser atendida, o atordoamento era constante e interminável.
Voltei então a lembrar do relacionamento dos meus pais. Lágrimas caiam cada vez com mais força e eu mal conseguia enxergar um palmo a minha própria frente.
A última briga deles que havia presenciado, tristemente, foi a primeira coisa que me surgiu a cabeça.
“Mamãe havia passado a tarde inteira ligando para papai, porém ele não atendia. Eu estava morrendo de medo e abraçando o meu urso de pelúcia favorito, o senhor Dominus. Me agarrava forte a ele, como se aquele bichinho fosse meu amuleto da sorte, então prendia o choro na garganta e rezava pedindo para ele, Deus, ou o que quer que fosse, que meus pais não brigassem de novo.
Mas não adiantava porque ninguém parecia escutar o meu pedido de ajuda, eu estava sozinha. A constatação só me fazia temer ainda mais.
Então ele chegou em casa, abriu à porta meio cambaleante, mamãe esperando por ele acordada, eu escondida no escuro da escada, preferia vigia-los, me iludindo de que se caso acontecesse alguma coisa eu poderia impedir. Estaria a postos em instantes.
Doce inocência.
Eles começaram a discutir, um gritava mais alto que o outro. Ela queria saber o porquê dele estar cheirando a bebida e com quem ele havia saído. Já o meu pai queria que ela o deixasse dormir e parasse de ‘exagerar’ e ‘reclamar’ sobre tudo o que ele fazia. Mas eu estava com minha mãe nessa, não parecia justo que ele chegasse de madrugada sem mal nos dar atenção ou um beijo. Eu o amava, e queria mais tempo com ele.
– Você fica insinuando coisa porque é uma vagabunda. Deve dormir com os seus homens aí na rua e acha que eu faço igual. – Ele gritou. – E se for verdade? Você vai fazer o que? Ninguém pode me culpar por querer algo melhor que isso. – Disse, a olhando de cima a baixo.
O seu bafo de bebida inundando a casa inteira.
– Você cala a sua boca antes de me chamar de vagabunda! – Ela gritou, de volta se esgoelando. – Mas eu devo ser bem vagabunda mesmo, não devo ter vergonha nenhuma na cara. Se eu tivesse, ao invés de sair do meu trabalho de merda e voltar para essa casa para cuidar da nossa filha, eu estava indo para a night como você. – Seu tom de voz era debochado, e eu odiava quando mamãe usava aquele tom, porque eu sabia que aquilo só o deixava mais furioso.
– Aquele emprego onde você finge que trabalha só para poder ficar o dia inteiro fora de casa enquanto EU trabalho de verdade? – Revidou. – Nem para a sua filha você liga, se não estava aqui ó. – Bateu na parede. – Dentro de casa! – Exclamou. – Claro que para você deve ser mais vantajoso ir para cama com seu chefe. – Deu de ombros, ironizando a situação.
Aquilo foi o suficiente para ela pegasse um jarro ao alcance de sua mão e jogasse em direção aos seus pés, sem a intenção de atingi-lo, apenas por pura raiva. Ela espatifou o vidro no chão nervosa.No entanto, sua ação serviu para fazê-lo explodir.
– Você está louca? Perdeu completamente o resto dos seus neurônios? – Avançou até ela, segurando e apertando seus pulsos, gritando bem na sua cara. Podia apostar que o mau hálito de cerveja a estava fazendo passar mal, fora a dor no pulso.
– Eu tenho n-o-j-o de você. – Disse, pausadamente.
Ele encarou seus olhos por um instante, duvidava que qualquer um dos dois enxergasse uma poeira perdida de amor no olhar do outro. Contudo, não questionava nenhum pouco se o ódio os cegava.
– É você que me causa ânsia. – E então ele cuspiu na cara dela.
Fiquei sem reação ao ver aquilo, era ali que eu deveria entrar e interferir, como planejei, mas fracassei. A única reação que consegui ter foi começar a chorar, escandalosamente, acordando os dois de seus transes, levando seus olhares assustados até a mim.
– Mamãe. – Chamei por ela, que imediatamente veio correndo e me abraçou, murmurando mentiras sobre como aquilo não tinha sido nada, que eles estavam apenas tendo uma briga boba e não era para eu ficar preocupada.
Meu pai me ignorou e saiu pela mesma porta a qual havia entrado, indo para sabe-se lá Deus onde.”

Ele, o primeiro homem que amei na vida e que durante alguns dias chegou a ser o meu herói, me decepcionou uma vez mais. Quando o meu pai se foi, apesar de não ter sido uma grande surpresa, chorei mesmo assim, pois o amava.
De uma forma tão grande, um amor tão forte que parecia inerente à racionalidade. Demorou muito tempo até que tudo aquilo fosse embora e restasse em mim somente a decepção.
De repente meu coração murcho se fez curioso, quantas vezes aquele infeliz teria partido o coração da minha mãe?
Voltei a realidade ao escutar a voz no outro lado da linha.
– Alô, ? Está tudo bem? – A voz doce de me atravessou em cheio, alívio percorreu o meu corpo.
Eu não estava sozinha.
– Não. – Respondi com a voz sôfrega de minha garganta ainda doída. – Você pode, por favor, vir aqui?
– Estarei aí em cinco minutos. – Afirmou, me fazendo sorrir.
Amava o fato de que ela era uma pessoa de ações, não se preocupava em saber o que estava acontecendo, se eu lhe pedia socorro ela vinha correndo sem pensar duas vezes. O mundo precisava não só de mais mulheres assim, como de mais seres humanos que agissem como aquela garota de olhos brilhantes e reconfortantes fazia.
Mulheres fortes, independentes, poderosas e livres de preconceitos. Completamente soltas das amarras que a sociedade tentava lhes impor.
Era esse o meu ideal, nisso que eu acreditava e tentava me inspirar. Só que parecia muito mais fácil falar do que fazer, porque olhando para trás agora... Só via o lampejo de algo que se dizia mulher, mas que foi fraca e cega.
Tão pontual como uma britânica, em cinco minutos escutei minha campainha soar. Levantei nervosa, convencendo a mim mesma a segurar meus nervos. Eu não ia chorar, não podia, eu era mais que aquilo.
– O que aconteceu? – Perguntou no instante em que seus olhos pousaram em mim.
Eu apenas neguei veementemente com a cabeça e cai no choro, a abraçando. As palavras, por mais que eu quisesse, não destravavam da minha garganta, me fazendo sufocar e afogar nelas mesmas.
– Acabou, de verdade. – Sussurrei e senti seus braços me apertando ainda mais forte.
Nós entramos, sentamos no sofá, e depois dela me pegar um copo d’água para eu me acalmar e contar toda a história, prosseguimos.
– Você quer que eu chame o , a Anna ou mais alguém? – Questionou sobre a presença dos meus melhores amigos, mas mais uma vez me vi negando.
– Não, por favor, não. Principalmente o , tudo que ele vai fazer é piorar a situação me dizendo sobre quantas mil vezes afirmou que o não prestava. – Bufei. – Eu o amo! – Pausei, tomando mais um pouco da bebida e acalmando meus nervos. – Mas isso é tudo que eu menos preciso agora.
– Você sabe que ele não faz por mal, isso é só porque...
– Ele me ama. – A interrompi. – Do jeito romântico de se amar. – Senti as lágrimas começarem a querer novamente dar as caras enquanto eu tentava completar minha fala. – O que só deixa tudo ainda pior.
– Como saber que há vários alguéns que se importam com você pode deixar as coisas piores? Quer dizer, faça o que você achar melhor, mas tem certeza?
– Absoluta! – Continuei com o olhar perdido, fixado no tapete da sala, totalmente a deriva. – Vê-lo aqui só vai me lembrar em como sou tola por não ser recíproca, por ter escolhido o cara errado, por... Ter perdido uma grande chance de felicidade fácil e certa.
– Ah, meu amor. Você não perdeu nada, você só está naquela fase melancólica do término, é normal, daqui a pouco estará arrasando corações por aí, estou certa disso! – Quase acreditei nela, pois aquilo que ela descrevia certamente se encaixava na de antigamente, mas será que dessa vez as coisas não haviam ido longe demais? – Você não perdeu nada! Nem – com todo o respeito ao seu coração partido – aquele idiota do , nem o , e tão pouco sua chance de ser feliz. Você é muito mais do que um ou dois homens. – Segurou e apertou minhas mãos ao pronunciar cada uma das palavras.
É por isso que é uma daquelas amigas para se guardar na bolsa e tirar de lá sempre que precisar ser lembrada de que a vida não para. Ela anda somente para frente – e por mais difícil que alguns dias, como este, sejam – dias melhores estão por vir. Minha vó costumava dizer que “é para frente que se anda”. Às vezes as pernas doem, estão cansadas, você está com fome, sede, mas não importa, precisa tentar. Nem que seja engatinhando primeiro, para somente depois começar a dar seus primeiros passos, mas é essencial que nunca se esqueça do mais importante: você deve ser a sua prioridade.
– Eu sei que você está certa, é que... Dessa vez eu realmente pensei que ia dar certo, nem sei bem o porquê. Ele era mesmo um babaca, e eu me sinto a pessoa mais idiota do universo inteiro por não ter enxergado o óbvio antes. Eu nunca aceitaria as coisas que ele fazia e dizia de nenhum outro homem, mesmo assim me ceguei aos seus atos, convencendo-me de que eram normais, que ele me amava. – Meus pelos do braço se eriçaram, minha pele se arrepiando diante daquela confissão.
Se eu sabia que ele era um babaca por que continuei com ele? Por que achei que era daquele jeito mesmo? E o mais importante de tudo: por que, apesar de tudo que ele me tinha feito e dessa minha leve consciência de que aquilo seria para melhor, no fundo meu coração ainda gritava para que eu o ligasse implorando e rastejando para que me aceitasse de volta?
– Você não tem culpa dele ser o belo merda que é. – Se apressou em me contradizer, como se lesse meus pensamentos. – Tudo que você fez foi ser boa para ele, e o que ganhou em retorno? Aqueles ridículos ataques de ciúme?
– Eu achava que a roupa que o incomodava, a hora que eu saía ou chegava, meus amigos homens, meu emprego, tudo isso demonstrava a preocupação dele comigo, é que... – Respirei fundo, tentando remover toda aquela sujeira que ainda se apoderava de mim, tentando me fazer mais leve. – Minha mãe viveu exatamente o contrário. – Desabafei. – Ela que se importava com tudo que meu pai fazia ou deixava de fazer, e advinha? Ela o amava, com todo o seu ser, enquanto ele... Eu sequer sei se amava a si mesmo. Pensei que estava segura, que se ele agia assim, quase que paranóico, se importava, mas não! – Meus olhos voltaram a lacrimejar enquanto sentia aquele aperto no peito.
... A história da sua mãe é completamente diferente. Ela não agia daquela forma porque era doida. Ela tinha mil e uma razões para desconfiar que seu pai dormia com outras mulheres, de que ele não dava a mínima para nada, nem a própria família. – Tomou cuidado ao tentar me explicar e tocar naquelas palavras, sabendo o quanto aquele assunto ainda tinha poder sobre mim. – Você nunca deu motivos para as loucuras que o fazia, e mesmo se desse. Você se submetia aos pedidos dele praticamente sem questionar.
Não valia a pena. Aquela relação estava fadada ao fracasso.
Eu repetia mil vezes e mil vezes mais.
Acontece que nunca houve batalha dentro de mim em que o cérebro pudesse vencer o coração, então demoraria um tempo até que eu me restabelecesse.
– O que mudou? – Suas sobrancelhas se juntavam, confusas e questionadoras. – Nós sempre te alertamos sobre ele, mas nunca importou, então por que agora?
– Ele estava me traindo. – Dei de ombros tentando fazer pouco caso da situação, como se não fosse nada demais, enquanto, sinceramente, aquilo cortava todas as partes do meu corpo como navalha, uma dor da qual eu não conseguia desviar meus pensamentos, era como sal em todas aquelas feridas. – Logo ele. – Ri ironicamente. – Que agia como se eu fosse sempre a errada da história. Só que não para por aí, o que consegue ser ainda pior é que não fui eu quem descobriu e terminou com ele. – Tomei fôlego para continuar. – Ele me largou, contou a verdade, arrumou as coisas e... Tchau.
– Oh, querida... – Ela me abraçou, apertando tanto quanto podia.
Não dei a mínima sobre chorar no conforto do seu ombro naquela tarde, eles pareciam me salvar da correnteza que me arrastava em direção as pedras, me mantendo sã.

I’m over him I swear


Caia sete vezes, levante oito.
Foi o provérbio com que acordei na cabeça naquela manhã, dois meses depois. Parcialmente refeita, pronta para ressurgir das cinzas como uma fênix.
Aquela noite seria a típica deixe o amanhã para depois, pelo simples fato de que foda-se o amanhã. Nós iríamos arrasar essa noite. Ela era tudo que importava.
Lógico que não tinha sido fácil chegar aquele ponto, aos pouquinhos, em cada dia que se passava eu via mais de mim mesma no espelho, mais amor próprio, confiança e autoestima cresciam. Aos poucos eu ia esquecendo de cada fala cruel que tive que escutar de durante os dois anos em que estivemos juntos:
“Você parece gorda nesse vestido”.
“Não fez suas sobrancelhas?”.
“Desculpa, mas não da para sair com você nessa roupa, está ridícula”.
“Isso é algo tão burro de se dizer”.
“Porra, parece que você não sabe fazer nada”.

Nenhuma daquelas coisas deveria importar, e não importariam se não tivessem sido usadas contra mim sempre como termos pejorativos, motivo de deboche, na intenção de me rebaixar.
E daí se eu parecia, ou era gorda? Quem ligava se eu tinha esquecido, enrolado, ou até mesmo se eu não quisesse fazer as sobrancelhas? O que lhe importava meu gosto por moda? Ele era estilista por acaso? Algum gênio desconhecido para criticar o que eu fazia ou falava o tempo inteiro?
Mas isso era passado. Dois anos de tortura, dois meses de superação e ainda acreditando que o melhor estava absolutamente SEMPRE por vir. Eu ainda não tinha visto o melhor da vida, esperava que não, pois gostava da ideia de algo maior e inalcançável caminhando a minha frente, alguma coisa a se esforçar constantemente para conseguir. Qual seria a graça do mundo se todo mundo tivesse absolutamente tudo?
Era noite das garotas, eu, , a Anna e a Lua iríamos sair para uma boate, dançar, beber... Tudo que precisava para tirar todo o estresse do meu corpo e rir muito.
Eu já estava pronta. Vestida de uma calça de cintura alta jeans rasgada e cropped, cansada dos vestidos pretos tubinhos de sempre, que eu amava e me deixavam sexy, mas existiam mais roupas a serem usadas no meu armário. Além disso, amava quando eu os usava, o que agora fazia com que eu sentisse certa repulsa a eles.
O melhor é que eu me sentia muito mais confortável assim, sem preocupação de pagar calcinha, ou não poder dançar tão livre e louca como eu adorava.
Todos deveriam estar hábeis a usar o que preferem sem serem julgados, quer dizer, não estou dizendo “vá de lingerie para a empresa que trabalha e estará tudo bem”, não é fácil assim, mas ir de terno, por exemplo, em um país tão quente como o nosso parecia ridículo. Não vou mentir, amava um homem de terno, mas apenas não fazia sentido. Infelizmente o mundo ás vezes parecia preto e branco demais para o mundo colorido e plural no qual eu acreditava.
Outra coisa boa de seguir em frente, constatei sorrindo. Meus ideais voltaram todos para mim, mais fortes do que nunca, o que era esplendido porque eu voltei a sentir que ainda tenho muito para oferecer ao mundo. Queria fazer mais do que apenas viver e ser feliz por minha conta, queria ajudar a melhorar a vida de outras pessoas e fazer delas também felizes.
Muitas vezes ficamos parados sentados em nosso sofá, dentro de nossas casas pensando “o dia que eu tiver isso, ou aquilo eu vou ajudar de x e y forma”, mas na maioria das vezes você pode ajudar sempre! Seja colocando um pote com água na sua calçada para os cachorros de rua, ou indo até um asilo oferecer apenas sua conversa para os idosos, ajudar a preparar e servir comida aos mais pobres... Eu ainda estava encontrando a maneira que mais me fazia feliz e na qual eu mais me encaixava.
Mas uma coisa era certa: eu queria mais. Não ia me contentar com pouco daqui para frente.
Vi a tela do celular começar a acender enquanto a face risonha de aparecia. Atendi já sabendo que provavelmente ela me aguardava lá embaixo. Peguei uma pequena bolsa e saí correndo calçando os sapatos no meio do caminho.
Logo estava no carro com minhas melhores amigas e, inesperadamente, .
– Achei que era noite das garotas. – Comentei, rindo.
– Ué, e o não é uma? – Anna perguntou ironicamente, se fazendo de desentendida e brincando.
Eu ri nervosa. Nesses dois meses tinha evitado ver por medo de que ele me julgasse de alguma forma, todas as vezes que o vi foram rápidas demais, só conversávamos por mensagens, onde eu evitava o assunto ao máximo. Aquela iria ser a primeira vez em um longo período em que ficávamos cara a cara durante tanto tempo.
Fiquei extremamente tensa e receosa.
A noite mal tinha começado, mas já não estava caminhando exatamente como o planejado.

[...]


Ao chegar à boate fui direto ao bar, impaciente demais comigo mesma para tolerar aquela saída sóbria. Minha mente traidora me desafiava testando tudo de mim. Lá estava eu, iludida, achando que podia viver um dia sem me preocupar com absolutamente nada, e de repente.
BAM! Levava um soco na boca do estômago.
... Doce . Nome de arcanjo, rosto angelical, toque divino, abençoado de todas as maneiras possíveis. O único problema é que ele parecia ser intocável por mim, como se eu tivesse medo de que no instante que pusesse a ponta dos meus dedos nele, tudo queimaria como nas chamas mais profundas do inferno.
Talvez por isso eu nunca me visse o amando da forma romântica, quer dizer, eu o desejava até certo ponto. Contudo, um amor de verdade? Daqueles que fazia perder as estribeiras, dava tremedeira nas pernas e palpite no coração? Nunca.
O que não significava que minha mente a todo o momento tentava me corrigir insistindo: é com ele que você deveria estar, ele é o cara certo, deixa de loucura menina, faz o gol e corre para o abraço.
Só que acontece que uma vez me disseram que, se ao te perguntarem se você já amou de verdade e você hesitar em responder, então nunca amou ninguém. Isso se aplica diretamente a mim. Eu já tinha amado, eu acho, mas será que aquilo que eu havia sentido nas outras vezes era realmente amor, ou minha versão distorcida e ilusória do mesmo? Quando sabemos que estamos amando?
O amor ele pode nascer, crescer e florescer? Ou amor de verdade é aquele a primeira vista? Em que você já sente que vai ser algo incrível desde o primeiro momento?
O que era o amor?
Eu não tinha certeza, e de toda forma, não ia ser essa noite que iria descobrir, porque hoje era dia de encher a cara com as amigas, dançar até me acabar e ir para casa só quando o dia estivesse amanhecendo.
E assim meu plano seguiu.
Depois de todos os meus amigos me acompanharem em doses de tequila fomos para a pista de dança. Aquela altura eu já tinha me perdido na batida e dançava como louca.
A cada música que tocava eu e as meninas imediatamente reconhecíamos e começávamos a grita-la ao mesmo tempo em que balançávamos nossas cinturas, agindo como se aquela canção fosse de nossa autoria.
achava engraçado e cantava junto também, e quanto mais o tempo passava, mais nós ríamos juntos brincando. O que serviu para que aos poucos me esvanecessem todos aqueles chatos pensamentos pessimistas sobre como ia ser ruim ter que encará-lo.
Meu coração disparava com cada sorriso dele. Virava e mexia eu fazia alguma dança doida do tipo que só eu entendia para ele, que morria de rir, me incentivando a continuar. Afinal, se tinha uma coisa que eu amava mais do que ser sensual dançando era fazer as pessoas rirem. Quer dizer, às vezes era ótimo se sentir sexy e ter aquela troca de olhares que diziam muito mais do que palavras, mas agora parecia ainda mais eloquente escutar o som alto de sua gargalhada tão natural e espontânea quanto o brilho do sol em uma manhã de verão.
Cansados de tanta dança resolvemos todos nos sentar em um dos lounges da boate, que, por sorte, não estava ocupado.
Um silêncio estranho o qual eu não esperava se estabeleceu. Imediatamente eu entendi que eles estavam com medo de tocar em algum assunto que não sabiam se iria me afetar negativamente. Quase que instantaneamente me senti enfurecida e ofendida por pensarem que eu era tão fraca assim.
– Ei, como foi aquela entrevista sua, Lua? – começou.
Minha amiga havia tido uma entrevista com um agente de modelos há duas semanas, mal podia acreditar que eu tinha esquecido e não lhe perguntei nada. Nos últimos tempos eu vinha sendo tão focada em mim mesma e me encontrar, era difícil lidar com um turbilhão de coisas que cresciam dentro de mim e ao mesmo tempo não me esquecer de todos que me cercavam.
– Ah, não sei não. Para falar a verdade eu estou bem desanimada em tentar continuar nessa carreira de modelo. Todos os trabalhos que consegui até hoje foram tão pequenos. – Deu de ombros. – Fora que. – A observei rolar os olhos em fúria e imediatamente soube que o machismo mais uma vez tinha atacado. – Não é a primeira vez que acontece, e eu já estou por aqui com esses caras que se acham fodões o suficiente para querer pedir teste na cama.
Meu coração se encheu de raiva em súbito.
– Um bando de babacas que não tem mais o que fazer, nem devem com quem transar, aí se acham no direito de falar merda e dar uma de espertões. O mais triste é saber que vai ter garotas que se sujeitarão a esse papel, mesmo sem querer, apenas para conseguir o trabalho. – Eu disse com fumaça saindo das orelhas.
– Eu sinceramente já não sei nem mais o que dizer. Pareço um disco arranhado, sempre escutando casos e mais casos de assédio e não podendo me conter em comentar o quão e em quantos níveis isso é errado. – Comentou .
– Esses caras são uns idiotas. – continuou, tomando de sua bebida e também rolando os olhos, seus punhos fechados. – Em pensar que eu podia ser um deles, quer dizer, a criação influência muito nisso, talvez se eu não tivesse sido criado por uma mãe solteira e sim por uma família machista, eu fosse querer bancar de machão também. – Graças a Deus pela mãe dele, que o tinha feito tão lindo e educado. – Chega a ser engraçado como eles se acham os donos da merda do mundo.
Triste verdade.
Mais inconsolável ainda era saber que o pensamento que o garoto ao meu lado tinha não era o da grande maioria dos homens. Além disso, por mais que não tivesse sido tão atingido pelo machismo, eu podia ver neles várias influências. Como, por exemplo, o fato de absolutamente nunca ter o visto chorar. Nem nos seus piores momentos, e olha que já havia presenciado ele bêbado e na merda. Mas o estereotipo “homem não chora” ainda o seguia.
Vivíamos em um mundo em que todos nós algum dia tivemos ou ainda vamos ter atitudes machistas. Eu confesso que até eu já as tive, especialmente durante meu relacionamento com , por várias vezes culpei as garotas para as quais ele olhava ao invés de culpá-lo.
É incrível como eu parecia estar literalmente cega. Cada dia que se passava eu ficava mais livre de todos aquelas sensações ruins. Agora eu conseguia ver as coisas com clareza, me sentia leve como uma pluma. Não queria jamais voltar aquilo. Sequer entendia como havia chegado aquele ponto, nunca achei que ia acontecer comigo, jamais aceitei menos que o melhor para mim, justamente por causa do meu pai.
Quem sabe tenha sido o fato de que no início era o melhor, romântico e deslumbrante, mas conforme o tempo foi passando o príncipe idealizado se transformou em sapo, a princesa, confusa e tola, mal conseguiu perceber. Ficou achando que seus beijos bastariam para trazê-lo de volta.
– No meu caso minha família é completamente machista, eu sinceramente não sei como tenho essa cabeça. Todo dia lá em casa é uma discussão diferente. Minha mãe falando mal das mulheres, e meu pai fazendo o tipo conservador não pode isso, pode aquilo. – Anna suspirou cansada. – Quando eu saí de casa e eles descobriram que eu, sendo mulher, bebia... Xiii. Foi um drama.
– Ah, mas eu concordo, homem deve apenas beber. – disse antes de terminar de virar seu chope, nos levando a cair na gargalhada. – Homem deve apenas beber pouco, mulher tem que beber muito mesmo para aguentar uma palhaçada dessas.
– Ok ok. Chega desse assunto, vocês estão ficando irritadas, eu também, vamos voltar para pista que é melhor. – levantou, puxando primeiro as minhas amigas pela mão, as tirando do sofá.
– Me deixa só descansar meu pé mais um pouquinho. – Ri, sentindo o efeito da bebida enquanto me agarrava no encosto.
O garoto a minha frente abriu um sorriso terrivelmente malicioso. Senti meu coração palpitar, me fazendo achar que ele literalmente tinha escapado uma batida. Quando é que ele tinha se tornado tão atraente assim? Seus olhos pareciam tão... E seus cabelos também estavam tão... E céus...
– Você vai vir comigo agora, dona . – Sua voz rouca ressoou perto do meu ouvido, imediatamente meus pelos se eriçarem. – Pelo que sei aquelas duas te arrastaram para fora de casa para se divertir, você pode descansar os pés, as costas, e seu corpo inteiro amanhã. Eu faço uma massagem para ajudar. – Ele era meu amigo, e acho que tinha um pouco de vergonha de fazer qualquer sugestão mais explícita por isso, por pensar que eu ainda me recuperava do término e também por acreditar que nunca lhe daria a chance que merecia.
Não podia estar mais errado. Porque de súbito uma vontade tomava conta de mim me deixando com vontade de fazer um monte de sacanagens com ele. Várias das quais eu tinha medo com por ele poder falar que era coisa de “puta".
Terminei de virar meu copo e estendi a mão a ele, que imediatamente me puxou para cima, fazendo nossos corpos se chocarem, uma corrente elétrica percorria minha coluna por inteiro, olhei em seus olhos e sorri.
É... Eu com certeza tinha superado o meu ex namorado.

Gonna bleach him out, peroxide on him
Here on the floor like a memory of him


E aqueles desejos não foram a lugar algum. Quanto mais eu o observava, mais a minha cobiça aumentava. Já não sabia se era a bebida falando por mim ou o que estava acontecendo comigo, mas eu sim sabia que eu precisava de , nem que fosse só por aquela noite.
Então eu dançava, tentando sensualizar, e apesar de sentir seus olhos repousando em mim o tempo inteiro me sentia ridícula fazendo aquilo sozinha. Já cansada, vi a oportunidade perfeita quando uma música mais lenta e libertina começou a soar.
– Vem dançar comigo. – O chamei, puxando-o pela gola da camisa.
Não podia ter amado mais o fato dele ter se deixado levar tão fácil, como se tivesse esperando por aquilo a noite inteira, assim como eu. Gostei daquela sensação, de senti-lo vulnerável a mim, fazia com que me sentisse poderosa, no controle das coisas.
– Opa! – Senti sua risada ressoando abafada. – Tudo bem, eu acho.
Não lhe dei tempo de falar nenhuma única palavra a seguir e puxei suas mãos, as trazendo para minha cintura. Ele fez questão de mantê-las apertadas bem no lugar em que eu as havia deixado. Então, virei de costas para ele comecei a rebolar da melhor forma que podia.
. – Chamou meu nome, me repreendendo pelo o ato e o estado que, aos poucos, ele ia ficando por culpa da minha conduta perigosa.
Mas escutá-lo pronunciar meu nome daquela forma, saber que eu o estava enlouquecendo daquele jeito... Aquelas coisas só me incitavam a continuar.
O som da música ia nos levando e eu sentia o corpo de colado ao meu, só que por incrível que pareça, ainda assim continuava a querer mais dele. Então logo joguei o meu cabelo para um dos lados em um movimento sugestivo que lhe dava livre acesso ao meu pescoço, ele compreendeu o recado e se aproveitou da oportunidade.
– Acho que talvez eu nunca tenha lhe dito isso, mas o seu perfume é maravilhoso. Toda vez que eu o sinto fico zonzo. – Sua risada saiu quente contra a minha pele.
– É o 212, muita gente tem na verdade.
– Bem, não cheira tão bem neles como em você. – Respondeu sussurrando, então cheirou o meu pescoço uma última vez, fazendo os cabelos da minha nuca se eriçarem. Não tarde tratou de mordiscar minha orelha, quando percebi para onde os seus beijos caminhavam, me pronunciei.
– Se você está pretendendo beijar meu pescoço, eu tenho que ser honesta, não me responsabilizo mais pelos meus atos essa noite. – Sua risada ressoou incrivelmente gostosa no vão do meu ombro, eu o acompanhei, rindo mais de ansiedade do que por outra coisa.
Logo ele começou a descer seus beijos. Eu fechei os olhos, me deixando levar pelo toque dos seus lábios na minha pele. Como eu amava aquilo.
Ele devia ter me escutado, de verdade, pois agora não me sentia hábil a sequer pensar corretamente. Tudo que passava na minha mente era uma imagem de mim mesma pulando em seu colo e indo em meio a amassos ao banheiro dessa boate para transar da forma mais impura possível ali mesmo.
Não me importei se as pessoas na boate podiam reparar, ou se até mesmo minhas amigas – que dançavam um pouco mais distantes da gente, nos dando certa privacidade – iriam me repreender mais tarde por estar, de certa forma, brincando com os sentimentos do garoto com quem dançava. Deixei tudo isso ir, voando e estourando como uma bolha de sabão no ar, porque a energia que emanava dos nossos corpos superava absolutamente tudo.
Ela era do tipo que nos afastava da realidade, arrastando a nós dois para um mundo onde eu era uma dançarica exótica. Lá eu tinha liberdade sexual, não havia ex-namorados, um total de zero preocupação, e no meu trabalho? Bem... Bastava dançar como se não houvesse amanhã. Nesse universo paralelo ele havia requerido uma dança comigo e eu, por não ser boba nem nada, me aproveitaria ao máximo da situação.
– Você sempre foi provocadora assim? – Perguntou, um sorriso deliciosamente malicioso costurado na sua boca.
Minha mente flutuava enquanto nossos corpos continuavam a se mexer perfeitamente sincronizados um com o outro.
– Eu gosto de brincar um pouquinho. – Virei-me de frente para ele, mordendo os lábios, me segurando para não rir da situação em que o homem a minha frente se encontrava.
– Me sinto responsável em te avisar que você está brincando com fogo.
– Não tem problema, porque essa noite eu posso apostar que estou queimando mais do que você. – Gentilmente, peguei suas mãos educadas que repousavam em minha cintura e as conduzi até mais abaixo.
imediatamente riu surpreso e negou com a cabeça. Ele logo me puxou mais para perto, acariciando e apertando o local em que suas mãos tinham sido postas. Nossos corpos conversavam em um idioma próprio deles, que não cabia compreensão, apenas sentir.
E foi assim que eu fiz. Seguindo o conselho de todas as terminações nervosas do meu corpo que me imploravam para não me afastar nem um milímetro. Não tive receio em momento algum.
Eu não queria ser convencida, mas eu era corajosa, eu me sentia sexy, dona de mim mesma, não tinha porque temer uma coisa tão natural como aquela.
Quando seus lábios se aproximaram da minha clavícula, com seus beijos subindo de pouco em pouco até chegar ao meu maxilar e finalmente a minha boca senti minha barriga contrair, demasiadamente ansiosa pelos segundos que se seguiriam.
Então nossos lábios finalmente se encostaram. Começamos a nos beijar, e o beijo estava ótimo, só que, de repente, algo não pareceu mais ser certo.
– Para, por favor. – Pedi em voz baixa.
Ele imediatamente se afastou procurando pelos meus olhos para saber o que estava acontecendo. Só que o problema não era ele, nem o beijo e sim que... Ah Deus...
– O que foi?
– Eu não estou me sentindo bem. – Sussurrei preocupada, imediatamente tentando calcular exatamente quantos shots e cerveja eu tinha tomado. – Eu acho que eu vou... – E antes que eu pudesse concluir a frase me vi vergonhosamente vomitando no chão da boate.
Eu não me sentia tão bêbada assim, mas aparentemente aquilo tudo tinha sido mais do que o meu estômago podia aguentar.
– Ei, , o que foi? – Minhas amigas perguntaram, se aproximando. Ao menos eu achava que elas só chegavam mais perto agora.
Será que estavam ali o tempo inteiro? Mas haviam permanecido tão quietas... Senhor, não sabia nem onde elas estavam e pensei mesmo por um segundo que permanecia sóbria?
– Eu preciso ir para casa. – Falei de cara amarrada, emburrada como uma criança de cinco anos.
devia estar morrendo de nojo, principalmente dado o fato de que nós havíamos no beijado segundo antes daquilo. A sua atração por mim devia ter morrido ali, minha dignidade descansando em paz junto.
– Eu te levo para casa. – disse, passando a mão pelas minhas costas a acariciando, me aninhei ao seu peito sem receio.
Eu odiava passar mal, e ficava extremamente carente e vulnerável quando isso ocorria.
– Obrigada. – Agradeci, sorrindo.
Aquilo era diferente. Não contava com seus cuidados, principalmente porque se fosse com ele faria um escândalo, me dizendo a vergonha que eu estava fazendo, gritando para toda boate coisas do tipo “olha lá, bêbada”, com repúdio em sua voz, como se ele não bebesse, como se nunca houvesse passado mal por isso.
Ficava triste por lembrar essas coisas, pois aquilo não era uma hipótese, eu sabia, tinha certeza, que sua atitude diante dessa situação não seria boa. Já havia passado por aquilo com ele há muito tempo atrás, as suas palavras permaneciam frescas como se tivesse sido ontem.
“O casamento do amigo do havia sido lindo, melhor ainda estava sendo a festa depois, todos festejando e dançando, eu amava um bom casório. Nada me deixava mais feliz do que ver o sorriso constante e brilhante de todos. Então bebíamos, comíamos, e comemorávamos como nunca. O único problema é que minha cabeça tonta me fazia achar que esta noite em especial eu tinha passado um pouco da conta.
Era fraca para bebidas e sabia disso, mas em alguns eventos eu ia bebendo e nem percebia o quanto tinha consumido até que fosse tarde demais. No instante em que percebi a linha sendo cruzada cutuquei o braço do meu namorado o chamando para irmos embora.
Deixei as meninas com quem fiz amizade ali e algumas que já conhecia e fui atrás dele que conversava com seus amigos.
– Amor... Já podemos ir? Não estou me sentindo muito bem. – Ele imediatamente me interrompeu.
– Licença. – Pediu, sorrindo para os seus amigos antes de pegar no meu braço e ir comigo até um canto. – Você está doida? – Seu jeito educado de antes mudou para um raivoso e agressivo.
– Ué, . O que foi dessa vez, heim? – Interroguei igualmente furiosa, ele também não dava um tempo, toda hora confusão atrás de confusão.
– Como você me fala isso na frente deles? Vão achar que você estava por aí largada na festa, provavelmente conversando com algum macho e enchendo a cara.
– Ah, faça-me o favor. – Disse sem mais paciência. – Não quer me ajudar a ir para casa porque está conversando e se divertindo não precisa, eu vou sozinha. – Tentei me desvencilhar de seu aperto e começando a sair dali, mas ele me puxou de volta.
– Você está passando mal porque bebeu? – Pausou me olhando nos olhos. – Sim, não é mesmo? Nossa... Sua roupa cheira muito mal, derramou algo em cima do vestido? – Sim, eu havia deixado uma dose cair, mas aquilo não era da conta dele considerando que a noite inteira tinha ficado longe de mim. – Às vezes você me da nojo.”

Depois daquilo fomos para casa, chegando lá tentei comer alguma coisa, mas meu estômago não segurou e fiquei pior ainda, ele brigou ainda mais. Tirei minha roupa, tomei um banho, e sem mais aguentar chorei embaixo da água, continuando depois que saí dali. Ele viu aquilo e não disse nada, até na manhã seguinte em que me pediu desculpas, então como sempre pensei que tudo estava resolvido, mesmo não estando.
– Onde estão suas chaves? – Perguntou procurando na minha minúscula bolsa.
– Não sei. – Me limitei a dizer.
– Hm... Você vai se incomodar se formos para o meu ap então? – Apenas neguei, sem forças para falar.
Ele ser diferente foi um alívio, fez com que eu me sentisse segura, não tinha que me preocupar em fingir estar melhor do que estava, sabia que esta noite teria um médico particular de plantão no quarto comigo.
Dito e feito.
Durante todo o caminho até a sua casa ele foi gentil. Chamou o táxi e esperou comigo sentado na calçada, segurando minha mão com seus dedos entrelaçados nos meus, minha cabeça apoiada em seu ombro.
Quando chegamos ao seu apartamento ele abriu a porta, e eu corri direto para o banheiro mais uma vez passando mal. Ele segurou meus cabelos. Na hora um pensamento tolo e insistente de quem se recusava a parar de ser romântica, apesar de todos os pesares, me atingiu em cheio: era aquilo que eu queria, exatamente aquilo! Alguém que estivesse ao meu lado sempre, independente de qualquer coisa, que fosse me ajudar em um piscar de olhos.
Mas... Pera aí.
Isso parecia errado nesse momento, quer dizer, eu não deveria carecer de alguém, e agora eu sentia como se ele fosse necessário. Quase uma bengala em que eu me apoiaria até estar forte o suficiente para andar com minhas próprias pernas. Ele merecia mais do que isso, eu também.
Mais que qualquer outra coisa no mundo, era importante que eu aprendesse a não precisar de ninguém além de mim mesma. As pessoas tinham que vir na nossa vida para nos acrescentar coisas boas, não completar. Nenhuma delas nunca poderia reparar danos que somente nós sabemos que existem.
Era difícil me convencer daquilo. Minha cabeça sabia o certo, não era hora para embarcar em mais uma confusão que me levaria a ganhar machucados. Eu gostava de comparar aquilo com estar em guerra, havia perdido a primeira batalha, o momento era de reagrupar e ir para o ataque depois.
Esperava que meu coração teimoso pudesse entender e esperar mais um pouco antes de se jogar em cada oportunidade.
– Ei, ? – Chamei seu nome antes dele deixar o quarto, que ficaria inteiro para mim por insistência sua, já deitada, e de banho tomado, fazendo de uma de suas camisas pijama.
– O quê? Passando mal de novo? – Virou alarmado.
Não pude conter risadas e mais risadas. Gargalhei até minha barriga ficar doendo. Ele me acompanhou, mesmo sem saber o motivo, meus risos claramente o divertiam e contagiavam.
– Você realmente está preocupado que eu vá sujar sua cama, né?
– Um pouco. – Admitiu, rindo. – Mas não tem problema.
– Posso te perguntar uma coisa?
– Já não está perguntando? – Revirei os olhos com a sua resposta.
– Vem aqui. – Chamei, batendo com as mãos no outro lado da cama.
Logo ele se deitou ali, então ficamos de lado, um encarando o outro. Ele perdido em seu mundo de pensamentos. Eu perdida no universo dos meus.
– Você acha que eu sou burra? – Fui franca.
– O quê? Claro que não! – Falou apressado e surpreso.
– Eu achei que seria a primeira coisa que você ia me dizer quando me visse de novo. – Franzi a testa enquanto lhe confessava meus receios. – Por causa do . Você sempre tentou me alertar sobre ele.
– E você achou que de repente eu ia agir da mesma forma que ele e ser um idiota? – Questionou ironicamente, com certeza em parte ofendido.
– Não é isso. Você entendeu errado. – Tratei logo de explicar. – É que... Você sempre foi bom para mim, e constantemente tentava me avisar sobre ele, já deixou claro os seus sentimentos uma vez, eu me sinto extremamente estúpida por não tê-lo escolhido. Você é a opção perfeita para mim. – Sua risada ressoou pesarosa dentro do quarto.
– Se isso fosse verdade eu não iria ser uma opção. Não ia ser eu ou o pior cara do mundo. Você ia simplesmente saber. – Passou a mão pelo cabelo, o bagunçando de um jeito divertido que me fez abrir um sorriso. Ele coçou a nuca, incomodado em estar conversando comigo tão abertamente.
– Eu estive pensando sobre isso, e acho que cheguei a uma conclusão: não concordo. Acho que a gente não tem certeza de nada na vida, então sempre escolhemos o que nos parece melhor esperando que aquilo seja o ideal, ás vezes é, outras não.
– Então você nunca amou de verdade.
– Mas você acha que amor é algo que se pode aprender?
– Não estou certo quanto a isso. – Ele franziu os lábios, sua confusão o torturando.
– Porque se sim, não sei se é a bêbada falando agora, mas... – Pausei. – Isso é algo que me agradaria muito. Ser ensinada a te amar. – Peguei a palma de sua mão, a beijando e depois a fechei em punho, lhe dando o que na hora pareceu ser um grande presente. – Para você manter guardado com você nos dias frios e solitários. – Ri e depois aproximei minha cabeça do seu peito, ali encostando e adormecendo.

Drama now, now it just seems so funny


Já havia se passado mais dois meses desde que eu disse aquelas palavras a , elas corriqueiramente visitavam minha cabeça me lembrando do meu pedido “...isso é algo que me agradaria muito. Ser ensinada a te amar...”.
Nesse meio tempo eu conversava com ele no telefone, por mensagens, e havíamos saído algumas outras vezes, sempre em grupo. Contudo, em determinados dias todos os meus esforços pareciam ser ineficazes. Existiam aqueles momentos irritantes. Como hoje, em que eu acordei me recordando de e me peguei sentindo saudade.
No entanto, ainda tinha algo pior.
A primeira coisa que vi ao levantar e pegar o celular foi a data quatorze de maio estampada, exatamente quando meu pai nos deixou quase vinte anos atrás. Mesmo depois de tanto tempo, e do machucado sarado, a cicatriz ainda permanecia ali, e parecia doer, me causando umas pontadas de vez em quando, como se só para não me deixar esquecer que não importava o quanto eu corresse do meu passado, ele permaneceria ali, como um cão raivoso no meio do caminho, rosnando para mim. E por mais que eu me esforçasse não conseguia fazer as pazes com ele e deixar ir de vez.
Mas se havia uma coisa que eu descobri nos últimos tempos é que eu não ia desistir de mim mesma. Nunca.
Era por isso que eu estava de pé em frente à casa da minha mãe, me desafiando a conversar com ela sobre um assunto o qual eu mal tinha tocado com o passar dos anos. Dessa vez, no entanto, era diferente. Eu precisava sair dali com respostas.
Meu medo me atingia em cheio. A dúvida ia me destruindo enquanto permanecia parada ali, dividida entre tocar a campainha ou não. Segurei todos os meus pedacinhos juntos, tentando me convencer de uma calma na qual eu não acreditava.
O dia era bonito, ensolarado, muito diferente do que eu sentia dentro de mim. Enquanto o sol brilhava no céu, parecendo sorrir, uma névoa atípica investia no meu corpo e mente.
Não queria chegar a esse ponto, porque eu sabia que tocar naquele assunto machucaria minha mãe, reabriria feridas. Pelo menos eu achava que assim seria. Fora o medo do que podia escutar.
A culpa de tudo era realmente minha? Caso a resposta dela fosse sim, não ia ser fácil constatar que antes do meu nascimento tudo era perfeito. Na verdade, ia ser a coisa mais difícil que eu teria que enfrentar na minha vida. Ter a certeza de que eu tinha levado tempestade até a vida deles, só a ideia já me apavorava. Não queria ser a responsável por ter arruinado o sol que brilhava em suas vidas.
Respirei fundo, fechei os olhos e deixei que aquele sentimento intimidante fosse aos poucos se esvaindo. Tentei me convencer que nada era pior do que aqueles questionamentos. Eu sabia lidar melhor com o fracasso do que com aquilo, que me corroía por dentro como ácido, consumindo-me aos poucos.
Toquei a campainha rapidamente, como se ela desse choque, então guardei minha mão de volta para mim, segurando as alças da minha bolsa, totalmente inquieta e nervosa.
Alguns segundos depois mamãe viu pela janela quem estava ali e abriu a porta com um sorriso mais que belo, do tipo que só uma mãe sabe dar, me deixando aquecida por dentro. Não tinha motivos para me preocupar, eu estava em casa.
Então coloquei meus dois pés para dentro e tratei de lhe dar um abraço apertado, cheirando seus cabelos.
– Shampoo novo? – Perguntei, tentando amenizar minha própria ansiedade.
– Sim, gostou? A Linda me indicou. – Respondeu sorrindo.
Linda era a vizinha sobre a qual minha mãe estava sempre falando, uma vez até tentou me apresentar para o filho dela, eu logo dei um jeitinho de escapar da furada. Elas estavam sempre conversando sobre todo o tipo de coisa. Casa, filhos, jardinagem, carros, moda, famosos, trabalho... Mas principalmente sobre tênis, as duas amavam jogar a tinha formado uma dupla para participar de uma competição na cidade. Eu adorava ir torcer por elas, mesmo quando perdiam lidavam com aquilo da melhor maneira possível e se esbaldavam no sorvete.
– Adorei. Depois você tem que me mostrar qual é. Meu cabelo anda meio ressecado ultimamente, acho que é o tempo.
– Claro. O que você está fazendo aqui? Pensei que não iria vir a Georgia até o próximo feriado. Ficou com saudades? – Novamente me abraçou, e céus, havia melhor lugar do que o conforto dali? Aqueles braços que sempre me protegiam com carinho de tudo e todos.
Nós duas contra o mundo.
Esse era o nosso lema, sempre que me sentia para baixo quando era pequena minha mãe fazia com que eu lhe desse meu mindinho e prometesse a ela que éramos nós duas contra o mundo, e por isso nada nos abalaria, pois não importava o que acontecesse, pertencíamos uma a outra.
Só que eu cresci, mudei de cidade, me envolvi em um relacionamento abusivo tão ruim quanto o que ela viveu. Ela percebia, tentava me alertar, e eu tola, nunca dei ouvidos. Cheguei a acusar de estar paranóica. Perdi o nosso lema no meio do caos, preferi acreditar que era eu e contra tudo e todos. Agora tentava me convencer que era contra o mundo.
Só que continuava soar errado. Não foi assim que planejei. Nos meus sonhos todos os que já amei jamais teriam me magoado. Dessa forma eu poderia afirmar com a convicção mais forte do mundo que éramos um por todos e todos por um.
Duvidava que nós últimos dois anos houvesse dado a minha mãe motivos para se orgulhar de mim, podia apostar que seus desejos para minha vida eram bem diferentes daquilo. Tirando o meu emprego que ia muito bem – eu atuava como advogada na área trabalhista, e amava – não conseguia pensar em mais nada além disso que ela podia ver em mim, e se gabar para as amigas.
“Ah, a está com um cara super escroto”.
“Se mudou, me abandonou aqui”.
“A vida está uma merda, mas pelo menos tá trabalhando e ganhando bem, né?”

Não que minha mãe fosse dizer aquelas coisas horríveis para alguém, nem em um milhão de anos, mas será que aquilo não passava pela sua cabeça ás vezes?
– Morrendo! Você pode, por favor, fazer seu sanduíche especial para mim? – Pedi oferecendo lhe uma carinha de anjo. Meu estômago já roncava e me incomodava. – Depois conversamos. Eu estou morta de fome.
– Danadinha. – Me olhou de canto e sorriu antes de caminharmos juntas a cozinha.
– E a vó e o vô, como estão? Eu ainda não passei lá, mas quero muito ver se consigo dar um beijo e abraço neles antes da volta.
– Como sempre foram né? Dois turrões, que se amam, mas vivem brigando um com o outro. Sua vó reclama com ele que está velho demais para subir em escadas e trocar lâmpadas, daí depois vai lá e inventa de jogar água na varanda para lavar, ah... Aí já viu né? Ele enlouquece também. É o sujo falando do mal lavado. – Rimos.
Meus avós eram umas figuras, nunca conheci um casal de velhinhos tão engraçados quanto aqueles dois. A história de amor deles era linda. Em uma época muito mais preconceituosa do que a que vivíamos agora – apesar de até hoje ver uns atos de ódio que me apavoram – eles começaram a namorar escondidos. Minha vó era uma mulher negra, família pobre, meu avô branco e de família rica, aí já viu né?
A família do vô a acusava de ser interesseira, maltratava, agia como se ela fosse empregada deles quando visitava a casa, dizia para os outros que eles não tinham nada um com o outro... Como ela sofreu.
Até o dia que meu avô, mesmo com o coração partido de ter que tomar uma atitude drástica quanto à própria família, saiu de casa para morar em outra cidade, casou com ela, engravidou, e pronto. Festa feita. Infelizmente poucas foram às vezes em que meu avô falou com a família depois daquilo. Contudo, a perda maior era a deles, preferiram perder o filho e chance de ter uma pessoa tão amável quanto a minha vó, do que passarem a agir bem... Como seres humanos.
Só de pensar no que eles devem ter sofrido, sentia uma angústia que marejava meus olhos e esmagava o coração.
– O amor deles é tão lindo, né, mãe?
– É sim, muito. Lembro de ser uma garotinha e orar para encontrar algo como aquilo um dia. – Por um instante fiquei triste por ela não ter achado o que buscava, mas então ela voltou a falar, interrompendo minha linha de pensamentos, levando consigo um pouco das nuvens que me nublavam. – Até que você nasceu. – Pegou meu queixo e beijou minha testa, depositando meu lanche a minha frente. – Então eu finalmente descobri como era encontrar o amor da sua vida. De verdade, foi como se em meu coração eu soubesse que nossos destinos tinham sido traçados pela eternidade.
– Eu te amo.
– Eu amo mais.
Comi meu sanduíche e fiquei enrolando pelo resto da tarde vendo filme na televisão, comendo pipoca e me distraindo, aproveitando o máximo que podia. Quando não tive mais como adiar puxei as palavras com toda força de dentro de mim.
– Eu e terminamos. – Soltei como quem não queria nada, sabendo que ela não ia saltar de felicidade com medo de me magoar, e eu duvidava também que ela estivesse feliz, assim ela estaria se, para começo de conversa, eu nunca tivesse namorado ele.
– E como você está? – Levou a mão até os meus cabelos, ajeitando uma mexa atrás da minha orelha.
– Bem. – Dei de ombros.
– Eu acho que foi para melhor assim. Também acredito que quanto mais o tempo passar você perceberá isso melhor. – Ela estava certa, quanto mais o tempo passava, menos doía, só que isso não parecia bastar.
– Mãe, posso eu te perguntar uma coisa? – Meu coração disparou enquanto aguardei sua resposta.
– Hm... – Me olhou desconfiada e riu levemente. – Sabia desde o início que não era só saudade. – Terminou de lamber a colher de brigadeiro.
Peguei também a minha última colherada antes de me pronunciar, colocando um pouco de açúcar nas veias para relaxar.
– Eu me lembro de você e do papai, e como as coisas eram ruins. – A observei largar a colher e se virar lentamente para me olhar nos olhos, como se estivesse com tanto medo e tão receosa quanto eu. – Lembro-me de algumas brigas, e mesmo depois que vocês se separaram, nas poucas vezes que conversamos sobre isso, você sempre deixou claro o quão problemático o relacionamento de vocês foi, mas uma coisa que vem me atormentando, e que eu necessito te perguntar é... – Você é corajosa, você consegue. Sussurrei a mim mesma. – Se era tão ruim assim, como eu sei que era, e você mesma afirma... Por que você nunca o deixou? Por que eu nunca deixei antes?
– E-e-eu... – Seu olhar era perdido, então inquieta ela levantou e começou a caminhar de um lado para o outro, como se não soubesse o que me falar, não tivesse o que responder. – Eu o amei. – Começou, soltando a primeira frase em um suspiro, as palavras saíam trazendo consigo mais do que significados literais, havia muito dor implícita nelas. – Seu pai não foi sempre o monstro, você sabe disso, por várias vezes você foi à garotinha do papai. – Ela deu de ombros. – Eu costumava me perguntar onde tudo tinha começado a dar errado, até que percebi que, provavelmente, aquilo sempre esteve nele.
– Quer dizer que você não acha então que a culpa foi minha, que depois que eu nasci... – Ela abriu a boca para me interromper, mas a impedi. – Seja honesta!
– É óbvio que não! Você só fez das coisas muito melhores, desde que chegou ao mundo, ainda pequenina nos meus braços. – Sentou ao meu lado, passando a mão pela minha bochecha. – Um dos poucos motivos que me dava forças a continuar, mesmo nos piores momentos, era você.
– Obrigada. – Murmurrei sem graça, não sabendo ao certo o que responder.
– Eu que tenho que te agradecer, estaria perdida sem a luz da minha vida. – Pausou e me deu um beijo na bochecha antes de voltar a falar. – Ninguém nasce mau ou bom, todos são produtos do meio, seu pai não teve uma história bonita, e infelizmente não soube tirar o melhor dela, então acabou reproduzindo o que conhecia. Não vou te dizer que não o culpo por nada, porque culpo. Quando penso todo o tempo desperdiçado ao lado dele, todas as mentiras, ataques, o desgaste... A constante de não se sentir em casa, mesmo estando na minha própria casa, o tempo todo tentando lhe dizer que se não mudasse iria me perder, e tudo para nada.
– Você se culpa? – A questionei intrigada.
– De forma alguma. Durante um tempo foi difícil não me questionar sobre onde eu havia errado, mas logo percebi que não tinha nada que eu pudesse ter feito de diferente e funcionaria. Já aproveito de antemão para avisar que você também não deveria se culpar. Às vezes coisas ruins acontecem para pessoas boas, e temos que tentar tirar o melhor delas para que possamos melhorar, evoluir... Sermos mais perceptivas. – Acariciou meu braço.
– Não é tão fácil como achei que seria... – Confessei.
Suas palavras tocavam nos lugares mais fundos dentro de mim, quase como se pudesse alcançar meu espírito e lhe dizer “está tudo bem, você está bem agora, não precisa mais ficar assustada”. Aquela conversa era exatamente o que eu precisava para tirar de vez dos meus pensamentos. Para finalmente parar de me culpar. E principalmente para aceitar que meu pai havia sido o que fora, aquele era ele, sem tirar nem por nada, com fatos não se discutia, eu não o estraguei.
– Nunca é. – Beijou minha testa. – O ponto principal de tudo que eu estou querendo dizer é: não perdoe, nem esqueça o que te fez, mas também tente não viver com ódio dele, porque assim só vai se machucar mais. Saiba que a culpa não é sua, você não é cega, muito menos idiota. Assim como seu pai, ele era um bom cara a princípio, por isso foi tão difícil para nós, perceber aquilo e nos desprender. A esperança é magnífica, mas pode ser traiçoeira se for depositada no lugar e nas pessoas erradas. Você fica rezando para que aquela pessoa mude quando, na verdade, ás vezes só te cabia aceitar. – E como desejei que ele mudasse, como acredite que assim seria porque pensava que ele me amava. – Tente não ficar constantemente se questionando os porquês das coisas, porque justo comigo, porque justo com você. Só aceitando você vai conseguir seguir em frente. E nunca, jamais, deixe que isso aconteça de novo. Não hesite em denunciar se algo grave te acontecer, ou recorrer a mim se sofre qualquer tipo de violência, psicológica, física, sexual... Ninguém se preocupa mais com você do que sua mãe. Não imagina o quão aliviada me deixa saber que agora você o enxerga por quem ele realmente é.
– Alguém já te disse que você é a melhor mãe do mundo? – Sorri doce, ela logo me abraçou.
– Fui a melhor que pude ser. – Acariciou meus cabelos. – Uma última coisa.
– Diga.
– Não duvide, nem pelo tempo de um piscar de olhos, que você merece as melhores coisas do mundo. O melhor amor. A melhor carreira. A melhor família e amigos... Você é uma mulher incrível, e tenho orgulho de poder dizer que sou sua mãe.

We're going out, ain't got no worries


Essa noite eu iria sair novamente com minhas amigas, , e o Igor, que estava saindo com a Anna. Aquilo não era um encontro de casais ou algo do tipo, de forma alguma, isso me apavoraria, apenas amigos marcando de sair juntos para comer uma boa e velha pizza.
Novamente não senti necessidade de por um vestido que me apertasse, e dessa vez me surpreendi ao constatar que aquilo não tinha mais nada a ver com o fato de que gostava deles. Agora era diferente, apenas tinha descoberto que eles já não me agradavam tanto assim. Então aqui estava, novamente de calça e cropped, meus preferidos atualmente. Eu me sentia malditamente bonita e apreciava isso.
Não demorou muito Anna chegou com o Igor para me dar carona. Ela ia dirigindo, como sempre comandando tudo e tomando frente. Totalmente controladora em todos os quesitos de sua vida, o que eu admirava. Eu fui sentada atrás observando os dois, ele toda hora a espiando de lado e sorrindo, completamente bobo e apaixonado. Os dois só não estavam namorando ainda por escolha dela, em parte eu conseguia entender o medo em oficializar as coisas, antes me questionava e pensava “ela é louca”, mas passei a entender que relacionamentos traziam responsabilidades, e no momento em que eu me encontrava, concordava perfeitamente que algo casual podia ser muito mais prazeroso.
Por isso no decorrer de todo o caminho meu estômago ficou agitado, minhas mãos? Suando. Tão nervosa quanto poderia estar, o motivo era o que me encontrava prestes propor.
Durante todo esse tempo cheio de conversas casuais, e um ou outro esbarrão, me peguei um dia olhando para uma foto de e sorrindo. Aquilo não era amor, não mesmo, mas... Existia um ponto de interrogação ali, talvez um gostar. Eu sabia que precisava ter ele para entender o que me atormentava, mas o necessitava principalmente porque o desejava.
Eu o olhava e só conseguia reparar em como sua barba rala deveria ser gostosa arranhando a pele do meio das minhas pernas. Seus lábios cativantes pareciam gritar para que eu os mordesse. Sentia cada dia mais vontade de tocá-lo de uma forma pecaminosa, e queria ser tocada por ele como nunca fora antes.
No meio desse meu caminho torto em busca da minha liberdade completa se encontrava mais um objetivo o qual eu queria alcançar. A liberdade sexual. Antes de eu havia transado apenas com dois outros homens.
O primeiro deles era um adolescente, ambos éramos na época. Foi com ele que perdi minha virgindade. Como a maioria das primeiras vezes não havia sido nada bom. Além disso, eu não estava realmente apaixonada por aquele menino. Suponho que para algumas garotas seja diferente, mas para mim foi totalmente estranho e constrangedor olhar em seus olhos depois daquilo. O garoto parecia ter amado o ato, mas eu me encontrava extremamente decepcionada e me perguntando “é só isso?”. Na hora dos beijos, da excitação e os hormônios lá em cima, pareceu à coisa certa a se praticar, mas depois da ação, eu só fiquei desejando voltar atrás e ter permanecido só nos amassos mesmo.
O segundo foi o meu primeiro namorado. As coisas com ele foram muito melhores, na verdade, provavelmente nós dois só não demos certo porque tanto ele quanto eu éramos muito imaturos na época. Até hoje ele tinha sido o melhor sexo que eu havia tido, porém aquilo tinha ocorrido há tanto tempo que já não sabia mais se minhas fantasias aumentavam as coisas, ou se realmente tinha sido sensacional.
E o terceiro... O . Não podia dizer que transar com ele fora tão ruim quanto com o menino que eu perdi a virgindade, seria mentira. No entanto, não deixava de ser bem longe das minhas expectativas mais altas de prazer. Ele era o que podíamos chamar de... Extremamente conservador. Nunca queria tentar nada novo, só mamãe e papai, fora o fato de que não parecia se importar nenhum pouco em me dar prazer depois de obter o seu próprio.
Cada pensamento daquele me fazia refletir sobre o quão cego podemos ficar diante de determinadas situações. Eu não ligava para aquilo quando estávamos juntos. Ficava frustrada, porém “feliz” por ele estar “satisfeito”, sentia como se eu tivesse de alguma forma ridícula, cumprindo o meu dever.
Só de pensar no tanto que eu lutava para tentar fazer nossas preliminares durarem mais dava vontade de rir. Podia muito bem ter lhe dado um toque em algum momento, acontece que tinha medo de ferir o seu orgulho. O mundo era bizarramente machista e injusto. Contudo, evitava pensar que aquele tempo se perdera. Não me faria bem algum insistir no pensamento de que eu havia sido passada para trás, por mais que aquilo me perseguisse, tentava enxergar tudo como algo a ser usado positivamente, uma experiência necessária para que eu nunca, jamais, deixasse aquilo se repetir, exatamente como minha mãe havia me aconselhado a fazer.
E tinha o quarto... Que com toda sorte o mundo, passaria a fazer parte dos homens com quem eu já havia me deitado essa noite, e eu esperava que ele fosse o melhor.
Aquilo pairou na minha mente enquanto eu saltava do carro e ia caminhando em direção a nossa mesa, onde minhas duas outras amigas e se encontravam sentados e conversando.
– Ei! – Disse ao me aproximar cumprimentando a todos.
Enquanto eu fazia isso Anna e Igor pegavam seus lugares a mesa, propositalmente, ou não, deixando o único lugar vago ser o ao lado do .
– Vocês já fizeram o pedido? – Anna indagou, provavelmente com seu estômago roncando e morrendo de fome tanto quanto eu.
– Estávamos esperando vocês chegarem. – respondeu, sua voz soando como música para os meus ouvidos. – A queria ter pedido uma para comer logo, e depois quando vocês estivessem aqui, outra. Fui tentar impedi-la e quase levei uma mordida no braço, é melhor vocês todos tomarem cuidado essa noite. – Continuou, levando a resmungos da minha amiga enquanto riamos.
– Não gosto que fiquem controlando meu apetite.
Nós falamos com o garçom o que queríamos, os minutos iam se passando, eu estava distraída mexendo no celular, sem saber ao certo como iniciar uma conversa que me guiasse a sexo com , esperando que o vinho chegasse e me desse, quem sabe, um pouco mais de coragem. Contudo, o maravilhoso homem ao meu lado cutucou minha perna chamando minha atenção.
– Está quieta. – Falou com suas sobrancelhas franzidas e face curiosa.
– Eu sei... – Murmurei, deixando o telefone de lado naquela hora.
– Ei, olha só essa foto da Katie. – Disse animado e pegou o seu próprio para me mostrar a foto da sua sobrinha, que era a coisa mais fofa do mundo.
– Ela ainda faz essa careta? – Perguntei incrédula começando a rir.
Já fazia algum tempo desde que havia ensinado aquilo a pequenina, e ela passou um bom período apertando os olhos e dando língua em absolutamente todas as fotos.
– Não sempre, mas eu disse que essa era para mostrar a você. – Riu. – Acho que sente saudades, já faz um tempo. – Deu de ombros e tomou um gole de sua bebida.
– Sim... Eu deveria visitá-la em breve. Lembro que sua ex namorada, a Lisa, odiava quando eu aparecia na casa da sua família, em algum ponto comecei a ficar sem graça. – Rolei os olhos.
– Que isso, a Lisa te amava! – Exclamou.
– Só se for quando você estava por perto. – Afirmei. – Teve uma vez em que ela me trouxe um copo d’água e, honestamente, eu joguei fora no jardim com medo de ter alguma coisa na bebida. – Confessei brincando e escutei sua gargalhada ressoar pelo ar, tão gostosa como cobertor quentinho em uma manhã fria de domingo.
– Você é incrível. – Declarou.
Senti minhas bochechas esquentarem, esperançosamente elas não iriam corar e me causar vergonha pública.
– Pelo visto concordamos em algo. – Dei de ombros, lhe sorrindo de lado. – Você não está saindo com ninguém, certo? – Aproveitei o gancho da conversa para ir logo aonde queria com aquilo.
Não aguentava mais não saber como ai ser. Daqui para frente eu queria ter o controle de tudo assim como a Anna, sempre. Honesta, franca, rápida. Preto no branco.
– Por que isso do nada? – Riu, estranhando. – Não vai me dizer que... – Seu olhar e sorrisos maliciosos recaíram sobre mim.
Eu duvidava que ele esperasse que eu fosse confirmar suas ideias, mas foi exatamente assim que eu segui.
– Que mantenho tudo que disse naquela noite? Que ainda quero mais do nosso beijo interrompido? – Pronunciei baixo, dando os ombros como se aquilo não fosse tão importante como, na verdade, era.
– Por que não disse isso antes? – Sua voz soava séria dessa vez.
A conversa honesta entre nós me deixava nervosa, ao mesmo tempo em que acendia um fogo dentro de mim, que aos poucos se alastrava. Seus olhos queimavam em minha pele, sua respiração tão perto me levava aos arrepios.
– Por que você não disse? – Devolvi a pergunta, sabendo que ele sentia o mesmo.
– Isso é algum tipo de jogo? Porque se for... – Por baixo da toalha da mesa sua mão escalou até o meu joelho e se arrastou para cima e para baixo sobre a minha calça. – Eu não sei se estou disposto a parar de jogar.
Enquanto sentia suas mãos no meu jeans, me amaldiçoei por não ter colocado algo mais curto, que permitisse sentir mais de sua pele diretamente na minha. Imediatamente recordei o motivo de saias e vestidos costumarem ser populares comigo, eram bem mais práticos naquelas ocasiões.
– Me leve para casa e descubra. – Declarei e o observei morder os lábios enquanto passava a mão pelos seus cabelos, em seguida a deixando fechada em punho ao seu lado, enquanto a outra pressionava minha perna ainda mais forte. A sensação de que ele estava se contendo para não me ter ali mesmo, em cima da mesa me contagiava, imaginar que eu era tão irresistível a esse ponto... Qualquer uma iria à loucura com aquilo.
– Você ainda quer esperar pela pizza? – Sussurrou no meu ouvido.
Infelizmente naquele exato instante o garçom chegou para nos servir, o olhar que eu lhe dei de lado, no entanto, respondia tudo.
Assim que acabássemos por ali, estaria lhe oferecendo a sobremesa na minha casa.

[...]


Graças a todos os deuses facilitava tudo para mim, então embora eu estivesse mordendo meus lábios ansiosa, ele brincava durante o caminho no táxi e me contava sobre o seu trabalho, família... Ao mesmo tempo o desgraçado não ajudava e ficava passando as mãos entre as minhas coxas, acariciando, subindo perto de um lugar muito inapropriado e novamente descendo. Aquilo não facilitou prestar atenção em nada do que me contava.
Assim que chegamos ao meu apartamento e fechei a porta me virei até ele sem conseguir mais me segurar.
– Tem certeza? – Foi tudo que ele perguntou, palavras fizeram-se inúteis para que minha resposta ficasse o mais clara possível.
Caminhei até ele com os olhos felinos, largando a chave e a bolsa por um lugar qualquer no chão. Então pulei em seu colo sem hesitar. Ele me segurou pela minha traseira e novamente abriu um sorriso cretino.
– Vou considerar isso como um sim. – Respondeu com a sua voz sedutora.
Maldito sorriso safado que me causava aquela vontade inapropriada de posse. Eu o queria para mim, em mim, precisava beijá-lo.
Então nós encostamos nossas bocas uma na outra. E foi, quase que literalmente, como fogos de artifícios explodindo por todo o lugar. Nunca antes o havia beijado, quer dizer, aquela vez na boate não contava.
Céus, eu iria para sempre me arrepender daquilo. Descobri no momento em que constatei como sua língua trabalhava como uma cobra ardilosa dentro da minha boca, me envenenando com o melhor do prazer. Nossos lábios se entrelaçavam de uma forma a qual eu nunca tinha experimentado antes. Ele parecia estar dando tudo que tinha para mim naquele beijo, completamente entregue, e querendo me ter também.
Isso só fazia da batalha travada naquele beijo ainda mais deliciosa, pois eu não estava disposta a me entregar facilmente a ninguém. Gostava da sensação de ser a minha única dona, fazia com que eu me sentisse uma fera indomável. Com toda certeza se vivêssemos no universo de A Bela e A Fera eu seria a fera, amaldiçoada, porém feroz e poderosa.
Ele caminhou em meio aos beijos até uma parede e lá pressionou minhas costas nesta. Seu corpo contra ao meu me levava ao paraíso, mas só aquilo não bastava, as roupas eram chatas demais. Vestido, blusa, calça, saia... Tudo bobagem, bom mesmo seria estar nua nos braços dele. Fora tolice minha gastar tanto tempo pensando na lingerie que usaria , ela estaria fora em dois segundos também.
Por querer mais dele, que comecei a tirar meu cropped por cima da cabeça.
– Você tem bom gosto. – Comentou safado sobre o que eu usava por baixo. – Sempre quis deixar um chupão em cima dessa sua pinta vermelha. – Admitiu e encostou seus lábios levemente no lóbulo da minha orelha, me fazendo apertar seus ombros pedindo por mais.
Como eu já suspeitava o sutiã saiu logo do caminho, nos dando mais liberdade. Seus lábios logo pressionavam minha pele. Os beijos e chupões distribuídos pelo meu pescoço e seios me levavam aos gemidos.
E eu queria mais.
Provavelmente naquele instante descobri que ia querer continuadamente mais.
Mesmo com tão pouco, ele já me fazia ter delírios, diferentes de todos os outros.
Quando ele finalmente chegou com seus lábios na bendita pinta, a forma como ele me tocou... Foi como se, de uma forma totalmente estranha, eu me sentisse... Enaltecida.
Como se com aquele primeiro toque ele me afirmasse que eu era uma deusa, rainha egípcia, Cleópatra, e que ele estava ali apenas para me servir e louvar. Então sua boca se apertou deixando ali uma futura marca onde ele mais desejava. Não me importei, na verdade, gostei.
costumava me dizer que deixar chupões em mim fazia com que eu parecesse uma "piranha mal comida". “O que os outros vão pensar?”. Bem, querido, eu não dava uma foda para o que os outros iriam achar.
Tudo que eu sentia ali era deleite, do tipo mais puro e profundo. Um leve arfar escapou dos meus lábios. Meu coração extasiado de uma forma incomum, como se eu finalmente descobrisse que eu merecia ter prazer como queria. Apertei sua nuca o incentivando a dar mais atenção ao meu colo, a deixar mais beijos por ali, quantos ele quisesse.
Ele logo se dirigiu ao meu mamilo, contornando o com a língua.
– Oh, Deus. – Sussurrei em meio a um gemido. Ele se afastou momentaneamente, me encarando com aqueles belos olhos navegantes, cor de mar a ser desbravado. – Hm. – Reclamei pela falta de contado.
– Não acho que seja adequado chamar por ele agora. Talvez o nome caia melhor nos seus lábios. – Provocador? Sim, de forma torturosa, porém boa.
– Por favor... – Pedi e vi seus olhos repousarem em mim ainda esperando. – . – Completei, desistindo e pronunciando o seu nome, esse era uma luta que podia ficar para depois quando fosse a minha vez de estar no controle do seu prazer.
– Já escutei muitos poemas, músicas... Mas não acredito que qualquer coisa tenha soado melhor até hoje do que o meu nome na sua boca. – Se aproximou e mordiscou meu lábio inferior, o puxando para ele.
Tão logo desceu e fez o mesmo em meu seio. Voltando a atenção a ele o mordiscando, de uma forma dolorida, mas que me dava um imenso prazer.
– Não vamos deixar sua irmã com ciúmes. – Conversou com um dos meus seios, me fazendo rir em escutar aquilo. Rapidamente puxei o ar de volta para dentro quando sua boca tocou o outro.
. – Arfei.
Pensei que minhas pernas fossem ceder e desprender da sua cintura, mas consegui me manter firme ali com sua ajuda por todo o tempo que ele tomou me tocando.
– Você não faz ideia de por quanto tempo eu tenho desejado te ter assim. Você é linda por dentro e por fora. Cada pequeno detalhe seu... – Suspirou sussurrando contra a minha boca, seus olhos fechados apertados, quase como se lhe causasse sofrimento confessar aquilo. Instantaneamente fiquei com medo de que ele fosse dizer que me amava, não estava pronta para aquilo, não podia responder de volta. Eu o amava sim, só não da forma como ele precisava ser amado. – Seu cheiro, seu cabelo, o som da sua risada, seus olhos... Seus malditos olhos que parecem me caçar constantemente.
Ainda de coração tremulo levantei o seu queixo, seu olhar se abriu para o meu. Mesmo que completamente vestido nunca havia o percebido tão desnudo quando agora. Antes que pudéssemos dizer qualquer coisa que fosse estragar aquele momento perfeito tomei sua boca para mim. Lhe dei um beijo guardado especialmente para ele, para demonstrar que podíamos deixar o amanhã para depois, mas que nesse instante, eu o adorava.
Nosso beijo era suave, lento, eu me entregava de corpo e alma, não tendo medo de me machucar pela primeira vez desde o meu término com . Durante meses vivi encolhida, um passo atrás de todos, para que se algo acontecesse, desse tempo de ser a primeira a dar no pé da confusão. Como todo processo de amadurecimento, libertação, e reconstrução, aquela foi a hora que acordei para algo muito importante: não importava se eu amanhecesse morrendo de medo de ter meu coração estilhaçado novamente, aquilo não iria durar muito tempo, eu ia, eventualmente um dia, conseguir seguir em frente, sem mais receios.
– Eu preciso de você agora. – Declarei e vi os seus olhos brilharem, reluzindo de uma forma especial demais para que fosse possível descrever com palavras. Percebi que iria começar a caminhar para o meu quarto, mas ele estava muito longe, então novamente lhe disse. – Agora. – E olhei para o macio tapete da sala.
Ele velozmente entendeu o recado e me carregou no colo até lá. Quando fui deitada fechei meus olhos e consegui me imaginar em outro mundo, como a rainha sendo colocada com toda delicadeza sobre seus cobertores egípcios. Obviamente suspeitava que o tapete da sala não era tão confortável quanto um, mas a magnitude do sentimento era exatamente a mesma, sem tirar nem por nada. Com uma única diferença, eu duvidava que qualquer outro lugar seria melhor do que esse se ele não estivesse lá.
Eu era uma rainha, não por título, coroa ou reino, e sim um súdito em especial que parecia me venerar.
A sensação era terrivelmente boa, e eu me recusava a deixá-la ir embora.
Ajudei a se livrar de sua blusa tão rápido quanto podia, passando a mão pelo seu abdômen lisinho e mordendo os lábios. Céus. Que homem. Ele realmente existia? Ou minha mente louca havia o fabricado?
Imediatamente quis arranhar suas costas, deixar nele também a minha marca, para que em breve não fosse uma opção quando se tratasse de esquecer esta noite.
Então quando ele abaixou o troco de volta a mim, novamente para trilhar mais de seus beijos, tratei de prendê-lo ali com minhas pernas e me aproveitar dele. De seu peito nu pressionando aos meus seios igualmente desnudos. Arranhei suas costas, mordi e beijei seu pescoço, sua clavícula... Fiz o pacote todo a meu belo prazer.
Quando seus beijos começaram a descer em direção ao meu estômago já sabia qual seria a próxima peça a dar adeus. Seus dedos delicados e ágeis trataram de abrir o botão e tirar logo minha calça do caminho, levando junto consigo a calcinha.
Depois de retirar ele pegou minha perna pela panturrilha, e a forma como me olhou, me senti porcelana prestes a quebrar. A suavidade com que seus lábios seguiram ao encostar em meu tornozelo, e então ir subindo beijando até o meu joelho, me arrepiando por inteira cada vez, aos poucos chegando na parte interna da minha coxa, onde um beijo estratégico foi colocado ao lado de onde eu mais queria que ele chegasse.
Então, completamente inebriada senti quando a pele áspera de sua mão me tocou afastando mais minhas pernas uma da outra, o suficiente para que sua cabeça se encaixasse ali.
Sua barba roçando em mim exatamente como tinha imaginado. Quando senti sua língua tocar minha parte íntima, indo de baixo até em cima, vi estrelas. Eu amava sexo oral, era uma pena que até então na minha vida sexual eu tivesse tido este prazer tão poucas vezes. Quantas mulheres não mereciam aquilo também? Sentir como se pudessem tocar um pedacinho do céu.
Sua boca repetiu o movimento e a aquela altura eu já não tentava mais conter meus gemidos, não tinha porque me segurar, meus vizinhos que me desculpassem, mas esta noite era minha.
Segurava seus cabelos os puxando sem dó alguma, mantendo exatamente na posição em que deveria.
– Espertinha. – disse sorrindo quando eu comecei a rebolar, tirando o maior proveito possível.
Sua pausa levou a um resmungo meu que logo o fez voltar ao seu trabalho. Eu queria aquilo para sempre.
Meus gemidos e suspiros não paravam enquanto ele continuava. Arfei quando senti ele introduzir um de seus dedos e o retirar, depois dois, tudo isso enquanto sua boca continuava atuando como James Dean no meu clitóris. Cada vez mais rápido.
– Vem, . – Ele murmurou em meio às estocadas de seus dedos.
– Ah... – Foi tudo que consegui pronunciar antes de sentir tremores de prazer tomarem conta do meu corpo, o sentindo continuar mesmo depois disso para ter certeza de que eu havia alcançado todo prazer do mundo.
Então nós paramos, minha respiração acelerada, ele visivelmente duro. O garoto que havia me dado tanto até agora, talvez ele merecesse algo em troca também. Sorri sapeca e vi ele devolver meu olhar e sorriso, suspendendo as sobrancelhas e arregalando os olhos brincando quando nossos olhares ficaram firmes demais. Ele não conseguia ser sério. Que bom, porque eu andava mesmo precisando rir.
– Tem gosto de mel. – Declarou após lamber seus dedos.
– Para de ser mentiroso. – Empurrei seu ombro.
– É verdade. Talvez devêssemos começar a engarrafar e sair vendendo por aí, coisa assim. – Balancei a cabeça rindo.
Mais que tudo, estava surpresa por ele não imediatamente me ter feito retribuir o que ele havia me dado, estava óbvio que ele necessitava aquilo e eu fazia questão de lhe dar tudo em dobro, mas fiquei feliz em perceber que se eu lhe dissesse: terminamos, boa noite. Por mais frustrado e, provavelmente, louco, que ele ficasse, não iria me pressionar a nada.
– Acho que eu deveria descobrir qual o seu gosto agora então... Quem sabe você passa a ser meu sócio? – Sugeri dando de ombros, sorrindo e olhando de lado, aguardando a sua reação, que foi a melhor possível.
– Melhor. Amiga. Do. Mundo. – Novamente ri antes de me virar, ficando por cima dele e lhe dando um beijo.
A partir dali muitas mais coisas rolaram. Aquele meu primeiro orgasmo do dia havia sido esplêndido, o segundo, fenomenal, quando chegamos ao terceiro comecei a me preocupar de estaria hábil a andar na manhã seguinte.

Gotta get him out my hair


Mais dois meses haviam se passado, dois meses cheio de risadas, sexo, saídas e pura diversão. Além de tudo aquele tempo tinha sido muito útil para mim, que aproveitei para avaliar todas as coisas que queria para minha vida daqui para frente. Com quem queria estar, onde queria, o que gostaria de fazer.
Todas essas reflexões me fizeram bem, mas também me causaram um leve temor, já que nem tudo eram flores. Era esse o motivo que tinha me trazido a casa da , pronta para assistir netflix com um bom brigadeiro e conversa fiada de companhia, tudo que eu precisava. Ela é minha melhor amiga, me ajudaria a decidir tudo e a tentar entender esses meus conflitos.
No dia seguinte a primeira vez que dormi com contei para as meninas o que estava rolando. Não fiz questão de me aprofundar muito no assunto, mas aquilo foi o suficiente para que elas pirassem. Afinal de contas, nós dois éramos seus amigos, e acho que elas enxergavam algo legal no fato de dois de seus amigos ficarem juntos.
– Você gosta do brigadeiro mais durinho ou mais molinho? – Ela gritou da cozinha.
– Tanto faz. – Respondi também aos berros e a vi chegar com a panela e duas colheres na sala.
– Ótimo, porque ia ter que esperar ele esfriar para comer mais no ponto de brigadeiro mesmo e não estou com paciência para isso, sou ansiosa, quero agora! – Explicou me fazendo rir. – Que filme você quer ver?
– Comédia, por favor. Nada de filmes que façam chorar, eu estou para a bad como você está para nadar.
– Eu não sei nadar. – Respondeu com expressão confusa.
– Exato! Agora você entendeu. – Ela finalmente se tocou e começou a rir enquanto abocanhava sua primeira colher de chocolate.
– Ei, antes de começarmos a ver o que quer que seja, eu estava lembrando sobre aquele livro que você estava me contando no outro dia, qual é o nome mesmo?
– O verão que mudou a minha vida. Caso queira emprestado posso trazer na próxima vez que vier aqui, isso só tem que ser logo, porque... – Deixei a frase se desfazer esperando que sua curiosidade a levasse a questionar o que eu tinha a dizer.
– O quê? – Sorri extremamente ansiosa para lhe falar tudo.
– Eu estou me mudando. – Contei como quem não queria nada e a vi levantar do sofá surtando.
– O quê? Como assim? Quando? Para onde?
– Irlanda. Um ano.
– Mas e sua vida aqui? Sua família? Emprego? Amigos? Eu? – Pausou. – Não entendo , pensei que estivesse começando a gostar de .
– Eu gosto, muito. – Tratei de me explicar. – E também vou morrer de saudade de todos vocês, isso é a única coisa que me fez ficar em dúvida, mas eu já decidi, e vou ir. Sempre quis viver um ano fora, ver uma nova cultura, conhecer pessoas diferentes. – Enquanto eu falava sentia que meus olhos brilhavam, não só de felicidade, mas também por estarem marejados, falar daquilo me fazia ficar emocionada, pelo simples fato de que era um sonho o qual eu estava prestes a alcançar.
– Você nunca disse nada sobre isso antes, por quê? – Perguntou com o olhar semicerrado.
– Nunca pensei que fosse possível, jamais consegui por esse tanto de fé em mim, mas agora eu sei que é. Já comprei as passagens para daqui a três meses, já vi um hostel, e até mesmo um emprego em uma cafeteria.
– Você já falou sobre isso com o ? Eu jurava que vocês iam começar a namorar. – Ouvi e senti meu coração se partir um pouquinho, de um lado por ela não ter ficado tão animada quanto eu gostaria, de outro pelo meu melhor amigo, justamente o assunto o qual tinha vindo até aqui para conversar com a minha amiga. – Quer dizer, eu estou feliz por você, de verdade querida, quero que todos seus desejos sejam concedidos, se pudesse eu mesmo os realizaria como sua fada madrinha particular, só estou perguntando isso porque não quero que ninguém saia machucado nessa história.
– Eu não conversei com ele ainda. Amanhã à noite devo passar na casa dele e aproveito para lhe contar a novidade. Já faz uma semana que não o vejo, isso é um recorde desde que tudo começou, estou morta de saudades. – Um pesar claro tomava parte de minha voz. – De uma certa forma me sinto idiota em estar triste e pensando tanto nele, acho que... Estou apaixonada, de verdade, e me sinto tola por isso. Não faz muito tempo eu tive meu coração partido, e já quero me meter em furada de novo?
– Ei! – Exclamou, me repreendendo. – Não confunda tolice com compaixão. O que vocês sentem um pelo outro é bonito e não tem nada de bobo. Você não pode viver para sempre com esse receio, amor não nos faz fraco, ele nos fortalece. – Pegou em minhas mãos, me passando confiança enquanto me dizia palavras que pareciam vir do fundo do seu coração. – Eu não me vejo sendo tão romântica quanto você ou a Lua, admito, mas isso não significa que vocês são fracas, de forma alguma! Amar não te torna idiota, mesmo que você acabe sofrendo no final, quer dizer apenas que você deu uma chance ao que acredita e isso é nada além de coragem. – Seu olhar era tão determinado e verdadeiro, transmitia tudo o que ela sentia de bom dentro dela.
– Quando eu crescer quero ser igual a você. – Brinquei, lhe respondendo.
Apesar da piada, eu compreendia tudo que ela havia me dito, e ficava feliz em saber que amor não era fraqueza. Eu amava amar. Apesar de todos os pesares, mesmo com todas as vezes que duvidei desse sentimento e me perguntei se não era melhor me fechar para o mundo, ser mais fria, eu continuei me apaixonando pela vida. Queria mais daquilo, por isso precisava correr atrás de todos os meus sonhos.
– Espero que seja tão bom para mim quanto você e não fique magoado quando eu lhe contar minha decisão. – Levantei os cantos dos lábios de forma fraca, na tentativa falha de sorrir. – Não quero que o que temos acabe, mas também não sou louca de pedir a ele que espere por mim. – Pausei, recuperando minha respiração, e então em meio a um suspiro, confessei. – Dito isto, seria maravilhoso se ele resolvesse que quer me aguardar.
– Ele é ótimo, você também. Tudo vai dar certo, afinal, tudo está bem quando acaba bem, hum? – Ela se aproximou afastando a panela e me abraçando apertado, senti o seu cheiro de sabonete de rosas e, apesar daquilo ainda não ser uma despedida, tentei guardar ele em minha memória. Como eu iria sentir falta daquela garota. – Tudo bem, que tal assistirmos esposa de mentirinha? Já está meio antigo, mas continua sendo tão bom e engraçado.
– Claro.

[...]


Pleno sábado me atingia em cheio, sol escaldante, céu completamente claro e azul. Por que os dias mais bonitos eram justos aqueles que eu me sentia para baixo?
Ei cara aí de cima, se você existe, me da uma moral poxa.
Contudo, assim que levantei decidi que não ia mesmo ficar trancada no meu apartamento esperando que voltasse da casa da sua irmã, ia virar uma tortura, não podia passar o dia inteiro me questionando sobre como uma conversa que nem tinha acontecido ia ser.
“E se” para lá “e se” para cá. Não, não, não, me recusava àquilo.
Por isso resolvi que eu merecia um pouco de luxo e me dei um dia inteiro no salão. Pedicure, manicure, estava me sentindo renovada e completamente linda. O mais radical tinha sido o meu novo corte, agora mais curto, e terrivelmente bem hidratado, fazia com que eu tivesse vontade sair por aí batendo cabelo a la Beyoncé.
Já era de final de tarde, eu estava em casa esperando que me mandasse uma mensagem avisando que já tinha chego. Nessas horas eu me encontrava preocupada, ficava meio paranóica quando alguém não atendia celular e o dele estava fora de área, com certeza porque estava no caminho ainda, mesmo assim meu coração não aquietava.
Para minha surpresa e felicidade, não demorou muito ele me ligou.
“Ei, onde você está?” – perguntei, sorrindo ao atender.
“Eu. Estou. Chegando agora” - sua voz estava ofegante, o que logo estranhei.
“Está correndo?” - questionei de testa enrugada, sem entender absolutamente nada do que estava havendo. - “Aconteceu alguma coisa?”
“Não não. Você está vindo agora, tipo exatamente agora?”
“Sim, vou só pegar minha bolsa e pronto”.
“Perfeito” - sua felicidade era tão linda que me atingia através da linha, ele era tão diferente de todos que já havia conhecido.
O barulho da campainha me despertou do meu transe. Esse porteiro do prédio era mesmo uma desgraça. Coitado do senhor Eurico, ele era um velhinho muito gente boa, mas vivia deixando as pessoas subirem sem perguntar pelo interfone se podia. Bastava ele conhecer o rosto e pronto.
“Pera aí que tem alguém aqui na porta, já te ligo. Beijos.” - mordi meus lábios novamente, sorrindo enquanto o escutava mandar beijos de volta, sua voz novamente abafada, talvez fosse o seu celular que estivesse ruim.
Aí, que saco, como eu era boba, ficava feliz com tudo que tinha a ver com aquele homem.
Ao colocar o telefone de lado e ir até a porta refreei por um segundo. O senhor Eurico deixava todos que ele conhecia de rosto subirem, ele não teria... Céus, ele conhecia pouquíssimos amigos meus, e ao menos que minha mãe tivesse viajado até ali sem me avisar – o que era totalmente improvável – ou uma das meninas estivesse me visitando... Sim, era isso, uma das meninas.
Comecei a rir de mim mesma enquanto colocava minhas mãos nas chaves e a rodava. Por um segundo havia pensado que podia ser , mas francamente... Quais eram as chances?
Então eu abri a porta e dei de cara com uma coisa que me deixou mais chocada do que qualquer outra. A minha frente estava não uma pessoa qualquer e sim... Bem, um buquê de flores tampava seu rosto, mesmo assim soube dizer exatamente quem era.
Por isso, com vontade de chorar e coração disparado peguei as malditas e amáveis flores, as coloquei de lado, pulei em seu colo o abraçando, e enchi seu rosto de beijos por todos os cantos.
– Parece que alguém realmente sentiu minha falta. – Ele disse em meio a sua risada, sua risada perfeita e harmoniosa, que enchia a casa inteira de cor.
– Seu mentiroso! – O acusei. – Você disse que estava na sua casa, .
– Eu queria fazer uma surpresa. – Deu de ombros. – Gostei do cabelo, você está muito, muito gostosa.
– Você diria isso até se eu estivesse careca, mas obrigada!
– Não é minha culpa se você fica linda de qualquer jeito. – Se defendeu, brincando fazendo minhas bochechas ganharem cor.
– Quanto a me surpreender, bem, conseguiu. Não sabia que estava com tantas saudades suas até agora. Céus, senti tanto sua falta. Continuo sentindo mesmo com você aqui na minha frente e suas mãos na minha bunda. – Disse e lhe encarei sorrindo de lado.
– Posso te dizer que não estava esperando uma recepção tão calorosa assim. – Seu sorriso de lado se abriu, aquele maldito sorriso que fazia as borboletas do meu estômago começarem a bater as asas, causando cócegas imparáveis. – Mas eu gostei. Também senti saudade.
Disse antes de depositar um beijo rápido nos meus lábios.
Merda. Como eu ia conseguir ir embora daqui sem você, ? Como? Me diz, heim? Seu garoto chato.
– Obrigada pelas flores. – Desviei meus olhos dos seus para vê-las, ainda lindas, no chão do corredor. – Na próxima vez chocolate? – Sugeri não tão discretamente o levando a cair na gargalhada.
– Que mal agradecida. – Reclamou, brincando. – Deveríamos entrar, não? – Olhou para a porta aberta atrás de mim.
Eu não queria, porque queria dormir com ele, e transar incontáveis vezes antes de abrir minha boca para lhe dizer qualquer coisa que pudesse estragar tudo, porém não podia. Não seria justo da minha parte esconder algo desse tamanho e falar a verdade apenas quando fosse mais oportuno a mim. Não faça com o outro aquilo que não quer que façam com você, certo?
– Sim, vamos. Tenho que conversar com você. – O pesar ia dominando meus olhos e corpo conforme eu falava. – Já te digo que... Não sei se você vai gostar muito. – Vi sua testa ficar franzida e um leve temor passar voando sob seu olhar.
Um olhar que já me pertencia, não porque eu o domava, seus olhos eram indomáveis, não havia como, era um felino nato, assim como eu, e nenhum de nós se vestia mais em pele de cordeiro. O que eu amava isso. Ainda assim eu afirmava com toda convicção que seus olhos eram meus, isso por acreditar piamente só eu conseguia lê-los da forma mais perfeita e sublime que existia.
– Deveria estar preocupado? – Sua risada saiu nasalada e nervosa.
– Eu espero que não. – Dei de ombros e lhe olhei apreensiva então vi seu feição fechar de vez conforme nós caminhávamos até o sofá da sala.
Ali sentei, minha mãos na dele, minha boca semi aberta, sem sequer saber por onde começar, o que dizer, ou fazer. Olhei em seus olhos, olhei de verdade, não uma simples olhadela para admirar sua beleza, nada rápido ou constrangido, não. Busquei o fundo da sua alma ali, tentei lê-los da forma que eu acreditava saber, segundos e segundos se passando como se tivessem tempo infinito.
No meio daquele universo todo, engoli seco, e finalmente consegui ler nas entrelinhas. Vi tudo o que estava escrito naquele céu que era o seu olhar, todas as estrelas e planetas, vi os navios que passavam no mar que morava em sua íris, as ilhas perdidas do seu oceano... Mas o mais importante de tudo: eu vi a mim mesma.
Vi uma que eu amava, e amava amar. Percebi que ela tinha morada ali, que ela adorava se perder naquele homem que estava a sua frente, e que não sabia o que seria dela sem ele. Por isso, tive medo, e constatei que não estava pronta. Entregar seu coração, o confiar a alguém completamente, aquilo era quase como o pior filme de terror do mundo passando na minha frente.
Então pelo o que seria a última vez, tive uma recaída. Senti algo que já não me alcançava fazia algum tempo. Senti minha garganta começar a doer e meu peito se apertar. E se e nunca fosse capaz de me entregar de corpo inteiro novamente? Por mais que eu insistisse parecia algo que ia além de mim, mais forte do que eu.
Por mais que eu trabalhasse comigo mesma, por mais que eu tivesse superado quase todos os meus problemas e receios, encarado a todos eles de frente, de cabeça erguida como um desafio, e tivesse tentando fazer o mesmo com aquilo... Com aquele temor que subia pelas minhas entranhas até chegar aos meus pensamentos e me dominar completamente, logo eu, que vinha insistindo tanto em sempre estar no controle de tudo perdia minhas estribeiras e entrava em pânico.
Fechei os olhos apertados. Quando os abri e pisquei senti uma lágrima escorrer.
– Você está me assustando. O que é? Me diga. Eu vou te ajudar a resolver, prometo. – Sua voz soou melodiosa. – Só, não... Não chore, por favor. – Minhas mãos foram largadas pelas suas, mas somente para que seus braços me envolvessem em um abraço caloroso, na minha testa ele deixou um dos seus beijos.
Seus lábios ali, em mim. Provavelmente foi aquilo que ajudou a clarear meu pensamento e me dar forças para o que eu tinha que lhe falar.
– E-e-eu... – Gaguejei no começo, então respirei fundo, passei a mão pelo rosto e olhos clareando minha visão. Arranhei a garganta para que pudesse falar melhor e não com a voz falha que me encontrava agora. – Eu vou me mudar. – Comecei a mexer nas suas costas, passando a mão por ali, o segurando pela camisa, não querendo que ele se afastasse.
Nunca.
Mas então eu senti seu corpo ir para longe de mim, o suficiente para ficarmos cara a cara. De repente estômago embrulhou. Por que parecia que meu coração ia sair pela boca? Isso não podia ser normal.
– Como assim?
– Eu... Decidi que vou para a Irlanda. – Falei pausadamente e vi seu olhar semicerrado de estreitar ainda mais. – É um sonho meu, viver a experiência de morar fora algum tempo, viver completamente inserida em uma cultura tão diferente da nossa. E agora é o melhor tempo que já tive para realizar isso. – Observei seu rosto virar para o chão da sala.
Seus braços me largavam totalmente enquanto ele se virava para frente e apoiava os cotovelos em seus joelhos. As mãos na cabeça, pude observar quando elas se fecharam em punhos, junto com suas pálpebras espremidas e boca travada.
Permaneci ali sem saber o que mais lhe falar. Decidindo se o melhor era me calar ou tentar me explicar, mas tudo que eu ainda conseguia pensar era na sensação ruim deixada pelos seus braços se desprendendo de mim.
– Ei, pelo menos tenho chance em ver alguém em um kilt. – Tentei me forçar a rir e carreguei minha mão até o seu ombro.
– Quando você pretende ir? – Sua voz soou dura e séria.
– Comprei as passagens para daqui a três meses. – Sua cabeça lentamente contornou para mim e soube pela sua expressão de dor que tinha dito a maior merda da minha vida.
– Como assim “já comprou”?
Oh céus. Oh Deus. Não, não, não. Aquilo não estava caminhando para o lugar que eu gostaria. Por favor, eu imploro, não faça isso comigo.
– Eu andei pesquisando sobre e... – Sussurrei com a voz totalmente embargada, tentei voltar com ela ao normal, mas não conseguia mais falar, não tinha capacidade de abrir a boca, pois sabia que se eu falasse um aí que fosse ia desabar em choro ali mesmo.
– E quando pretendia me contar? Esse tempo todo você pesquisava e pensava sobre sem me falar nada? – Escutei sua risada fria ressoar pelo ar. – Deve ter sido divertido brincar de casinha com o melhor amigo enquanto fazia outros planos. – Sua voz era irônica e me cortava.
Eu odiava aquilo, com todas as minhas forças, porque eu não pretendia machucá-lo, mas assim o fiz, e eu duvidava que sua intenção algum dia tinha sido me ferir, mas assim o fazia.
– Você sabe que não! – Respondi com a voz firme dessa vez, meu rosto ia ficando molhado, mas eu não me importava mais.
– Então por que não me contou antes? Por que escondeu isso?
– Eu não sabia que você ia achar que eu estava ocultando qualquer coisa de você, não tinha ideia de que importava.
– É claro que importa! – Esfregou as mãos pelo rosto e deixou suas costas caírem no sofá enquanto encarava o teto.
Ali vi uma única lágrima escolher pelo canto do seu olho, seu corpo tremulo. O garoto o qual em anos eu não tinha visto chorar, bem ali a minha frente. Não me culpei, também não joguei a culpa para cima dele. Ambos éramos vítimas do inconveniente. Eu precisava viver a vida de uma forma que ele não entendia agora. Ele necessitava o mesmo, também de um jeito que no momento era impossível para mim.
– Eu tenho que fazer isso. – Murmurei na esperança de que ele entendesse, tentando me convencer de que ele era um idiota e que se fosse o contrário eu o apoiaria. – Por mim.
Tudo inútil, afinal, eu sabia que estaria em frangalhos se estivesse na sua posição, com grandes chances de ficar pior do que me encontrava agora mesmo.
– Adiantaria alguma coisa se eu lhe pedisse para ficar? – Sua voz o deixou em um arfar.
– Você não pode me pedir isso. – Lhe afirmei. – E mesmo se assim fosse eu... Receio que não.
– Preciso pensar. – Foi tudo que ele disse antes de levantar em um pulo e correr para fora do meu apartamento.
Tardiamente tentei ir atrás dele, mas quando abri a porta do corredor ele já não estava mais lá. Fechei a mesma, tentando manter toda minha merda junta, mas como na cena de um filme dramático assim que a encostei me arrastei por esta até o chão, até abraçar minhas pernas e me render aquela tsunami de sentimentos. Chorei até meus olhos ficarem inchados, e no meio dos soluços gritava ocamente, minha cabeça berrava, mas nada saia da minha boca.
O que minha mente dizia e me ensurdecia tanto?
Que o amava. Eu o amava. Ele tinha me ensinado a lhe amar, exatamente como eu queria, só tinha um porém.
O navio tinha afundado, eu me afogava, e o capitão, o único que podia me arrastar até a borda da praia tinha acabado de abandonar a tripulação.
Uma hora depois de ficar naquela, apática à situação, ainda no mesmo lugar, escutei a campainha ressoar. Minha face já estava seca, no entanto eu ainda me encontrava ali, encarando as flores no chão, parada, sem saber reagir, com uma vontade zero de abrir a porta e ser simpática com quem quer que fosse.
Não teve outro jeito, tive que levantar e reagir. Dei um salto para trás quando abri e me afastei da porta e vi que estava ali, de novo.
Não sabia se sorria ou chorava mais. Não tinha ideia do que ele queria comigo.
– Voltou? – Perguntei o óbvio com a voz ainda demasiadamente frágil.
– Não deveria ter saído sem terminar de conversar com você. – Afirmou. – Mas também não vou pedir desculpas por isso, principalmente porque me ajudou muito caminhar, durante os primeiros quarenta minutos. – Deu de ombros, todo seu aspecto corporal ainda era o de alguém triste, queria abraçá-lo, mas não tinha certeza se deveria.
– E o que aconteceu nos outros vinte?
– Resolvi comprar isso. – Tirou um bombom do bolso da sua calça. – Eles não tinham nada mais de chocolate, e você disse para que na próxima vez eu trouxesse chocolate. – Ele estava falando sério? Por que ele não podia estar, certo? Ninguém era tão bom assim.
– O quê? Mas como assim?
– Eu te amo. – O ouvi dizer, e foi como voltar à superfície e aspirar ar fresco uma vez mais. Suas palavras me lembravam de tarde de domingo na casa da vovó, bolo de aniversário, risada de criança, cócegas na barriga, os gritos do ano novo, os fogos de artifício, lembrava aquela sensação pura de felicidade, aquela crença e fé cega de que a vida é boa e o futuro nos reservava o paraíso.
– Eu... – Comecei, mas então ele me interrompeu, colocando um dedo nos meus lábios.
– Espera. Um minuto. – Pediu e ao me ver assentir voltou com sua mão para o seu lado. – Eu te amo. – Repetiu, meu coração novamente se enchendo de alegria, transbordando. – E é por isso que estou aqui. Eu sei que o que temos não é só uma passatempo para nenhum de nós dois, e ainda não entendo a razão em você não ter me dito logo de cara esse seu sonho, mas... Não quero desperdiçar nosso tempo. Três meses é tudo que temos? Ótimo, então vou fazer o máximo que posso desses momentos. Espero que minhas palavras não te assustem, pois juro, estou prestes a implorar que se você não me ama, então continue fingindo só por mais esse período porque honestamente, você é a melhor coisa que aconteceu para mim nesses anos, talvez você não enxergue isso, afinal de contas cada um tem o seu lado e versão da história, mas... Ao contrário de mim. – que nunca me fiz realmente necessário, já que na maioria das vezes você foi autossuficiente, o que me atrai para caralho em você – , todas as vezes que precisei durante todos esses anos, solteiro ou namorando, não importava o que ou onde, em um piscar de olhos você esteve lá por mim. Quando perdi meu emprego e demorei um tempo até achar outro, quando terminei com a Lisa, na época em que minha avó faleceu... Acho, de verdade, que a cada dia que passa você se torna uma mulher ainda mais incrível, só há um pequeno detalhe o qual não tenho certeza se você ainda enxerga com clareza. Você nunca, nem por um segundo, deixou de ser uma das melhores pessoas que conheço.– Terminou de falar engolindo em seco.
Agora era a minha vez e só uma resposta cabia àquela declaração.
– Eu te amo.
Não precisou de mais nenhuma outra sílaba. Aquilo bastou para que ele me enlaçasse pela cintura.
– Isso soa como canto de sereia. – Ele disse antes de pegar os meus lábios nos seus.
E acho que pela primeira vez na minha vida, confiei em um homem de coração e alma limpas e lavadas. Fechei os olhos e deixei que seu beijo me guiasse para outro mundo, como ele sempre fazia.

Seis anos depois…


– Sim, tudo bem, eu não esqueci que vamos sair amanhã para comemorar o aniversário da Olívia. Prometo não furar. Eu sei querida. – Respondia Anna pelo telefone impaciente, não que fosse culpa dela, mas meu dia tinha sido do cão e finalmente estava colocando os pés para dentro de casa. – Tudo bem, tenho que desligar agora.
Arranquei os sapatos e deixei os mesmos jogados próximos a porta de entrada. Meu trabalho tirava tudo de mim, era exaustivo, mas também extremamente prazeroso. Acontece que depois do restante do meu tempo aqui ter sido passado com minhas amigas, família e , eu fui para a Irlanda, e foi maravilhoso, completamente mágico. Uma das melhores experiências que já havia tido. Os campos e parques verdes de lá, o sol, o frio, o vento, as casas, as pessoas, tudo era tão lindo que parecia fingido.
Nesse meio tempo eu não mantive meu relacionamento, se é que podia chamar disso na época com o , nós terminamos tudo oficialmente logo antes que eu partisse. Não ficamos brigados. Ele me acompanhou até o aeroporto, assim como as meninas, o Igor e a minha maravilhosa mãe, sem mágoas.
Na Irlanda eu cheguei a sair com alguns caras, suponho que ele também tenha feito isso com algumas garotas aqui, mas não quis saber, preferi tentar viver no momento.
Minha mãe, que por mais louco e de certa forma até engraçado que pareça, estava namorando um garoto apenas cinco anos mais velho do que eu. A princípio fiquei totalmente chocada, quer dizer, ele é bem mais jovem e tem vigor, me apavorou pensar que eles podiam ter uma vida sexual ativa. Depois eu o aceitei, João era um ótimo cara e lhe fazia feliz.
Quem é Olívia? Você deve estar se perguntando.
A filha da Anna e do Igor, que faria um ano de idade, a festa ia ser sem mim, iria estar trabalhando, infelizmente, mas para que eu não perdesse toda a diversão nós iríamos sair amanhã a noite. Eu, a , a Lua, a Anna, o Igor, e é claro, o . A gangue reunida.
Lua que tinha arranjado uma brecha na sua atual agenda lotada, pois ela finalmente tinha conseguido suceder em sua carreira. Não como modelo, seus planos haviam mudado, o sonho deixou de ser aquele, e quando ela menos esperava recebeu uma proposta para atuar em uma novela e brilhou. Descobriu que amava o estrelato com todas suas forças e estava mais radiante do que nunca.
, bem, outra que jamais tinha visto tão feliz. Estávamos todos realmente vivendo a fase de nossas vidas, claro que tinham dias e dias, meses e meses, ninguém é feliz o tempo todo, mas conseguíamos transpor todas as barreiras que a vida nos impunha lutando muito para isso. Assim minha amiga fez. Após a minha ida para a Irlanda ela descobriu que era isso que queria, viver liberta, livre, leve e solta no mundo. Então primeiro decidiu fazer um mochilão pela Europa, e vivenciando todas aquelas experiências, saltar de bungjump, escalar montanhas e tomar um chazinho sentada – afinal, ninguém é de ferro – percebeu que gostaria de proporcionar aquilo aos outros, agora trabalhava junto a uma agência de viagens de tempos em tempos era direcionada com grupos para país X ou Y, e ela amava.
Isso era o mais importante de tudo.
O amor.
Amor esse que explodiu mais forte do que nunca e queimou mais ardente que o sol quando eu revi depois de um ano, ainda tivemos um período até que nos resolvêssemos, mas...
– Amor, o que você acha de pedir comida japonesa hoje? – O observei caminhar até a mim segurando um panfleto, vindo da nossa cozinha, na nossa casa.
– Ai, sim! Por favor, nunca se sabe quando pode ser sua última refeição, e comida japonesa antes de partir seria... Meu último desejo, definitivamente. – Disse para implicar com ele já sabendo que o mesmo odiava quando eu mencionava aquelas coisas.
– Para com isso! Você sabe que eu não gosto.
– Já deveria ter se acostumado, já fazem três anos. – Caminhei até ele e depositei um beijo nos seus lábios, quando fui me afastar ele me puxou de volta pela cintura.
Seus braços envolviam meu corpo e o que eu sentia ainda era o mesmo desde a primeira vez em que constatei que o amava, a sensação de não querer deixar aquele lugarzinho no mundo continuava a ser inebriante. Invencível e imbatível.
Assim era o meu amor pelo meu melhor amigo, acordava e ia dormir com ele, com seus beijos e seu braço ao meu redor. Dançava com ele, rodopiando por qualquer lugar que fosse sem ligar se pareceríamos bobos. Fazíamos piadas internas, como duas crianças sapecas. Ele me fazia feliz.
E por que aquela chatice toda quando eu brincava sobre “meu último desejo”? Bem, quando voltei da Irlanda vim determinada a prestar concurso, determinada a ser delegada. Há três anos consegui, trabalhava hoje na delegacia da mulher, lugar onde tentava ajudar a todas, como se elas fossem minhas irmãs de alma. No entanto, meu trabalho o preocupava, não era à toa, eu o entendia perfeitamente bem.
Mas era o que eu amava fazer, e se dependesse de mim não ia parar tão cedo.
Seis meses, total de tempo que eu levei para me libertar da perseguição das más lembranças e sentimentos ruins relacionadas ao meu pai e de , seis meses de muitos altos e baixos. Algumas coisas, relacionadas ao meu pai, viravam e mexiam ainda voltavam a mim, mas sem realmente me atingir.
Agora eu gostava de pensar que nós aprendemos a admirar o oceano, e talvez muito disso vinha do fato de que passamos anos sem poder navegá-lo. Admiramos o céu, afinal, também foi percorrido um longo caminho até desbravá-lo. Eu admirava a mim mesma. Nada mais justo, pois chegar onde eu tinha chego era muito mais difícil do que podia parecer. Meu amor próprio era uma conquista das mais admiráveis. Todas as garotas – e garotos – assim como eu, deveriam saber que eles valem um esforço muito mais louvável do que qualquer outro de sua nação inteira.
Eles valem ouro.
Eles importam.
Você importa!


Fim.



Nota da autora: IMPORTANTE, POR FAVOR, LEIAM! (<3)
Nessa nota gostaria de esclarecer várias coisas que se passaram na fanfic, e o motivo de ter retratado tal assunto como o fiz, realmente apreciaria se vocês tirassem alguns minutos para ler aqui, já peço desculpas pelo tamanho da nota. Fiquem a vontade para discordar de qualquer ponto posto em pauta. Tomem liberdade para fazer críticas construtivas a mim e a fanfic (e também elogios, espero haha).
A primeira coisa é: a principal existe, ela é real, e ela pode estar precisando da SUA ajuda. Muita gente (especialmente mulheres) fica presa em um relacionamento abusivo durante anos e só percebe quando sai dele. Até pensei em falar mais sobre essa ajuda aqui nas notas, mas não sou especialista, então só mostre para aquela pessoa que você está lá, independente de tudo.
A segunda coisa é: não quis que houvesse violência física no relacionamento da nossa principal. A intenção foi mostrar que nem todo relacionamento abusivo vem acompanhado (necessariamente) deste tipo de violência, o que pode levar a muitas mulheres pensaram que está tudo bem, quando na verdade não.
A terceira seria: seus pais também tem uma vida além de você, seja sensível a isso sempre que possível, como diz uma música que estou completamente viciada chamada trem bala “sorria e abrace seus pais enquanto estão aqui, que a vida é trem bala parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir”.
A quarta: resolvi retratar só o sexo oral pelo fato de várias pesquisas indicarem que a maioria das mulheres atinge mais facilmente o prazer pelo clitóris do que na penetração.
Quinta: amo meus amigos, e amo minha família, então queria que a nossa principal também amasse os seus. Sou romântica, então não consegui me conter em colocar alguém perfeitamente imperfeito para ela, mas, por favor, não deixem isso influenciar nem desviar o foco do principal que é a superação dela.
Sexto: se tem uma coisa que eu amei foi ela ter virado delegada da delegacia da mulher. Que mulherão da porra.
Sétimo: um questionamento que não relatei na fanfic e tardiamente percebi é que o extraiu a personagem principal, provavelmente transou com ela enquanto mantinha esse outro relacionamento, e se eles tivessem feito sem camisinha? Ai a pp depois de ter terminado faz sexo com o pp e podia estar ali transmitindo uma DST sem nem saber. Exames de DST, se você puder fazer regularmente, se puder se vacinar, perfeito! Mas na maioria das vezes as pessoas não fazem isso, logo o que eu diria é que usem sempre camisinha, e se não usar e descobrir depois algo como a nossa principal descobriu, tentem fazer o teste! Não fiquem com medo!
Oitavo: Não queria que o Bruno aparecesse e vou tentar me explicar aqui haha. Bem, a música diz “and when you see him in the club Just flip your hair, don’t show him any love”. Então por que DIABOS você não fez uma cena babadeira de bate cabelo?
Pensei em fazer, massss, decidi seguir outro caminho, que é o caminho que o Ted segue em uma cena de How I Met Your Mother que gosto muito. Não pelo o que acontece, mas por uma frase em especial dele que é a seguinte “CRIANÇAS (haha) vocês podem pensar que as suas únicas opções são engolir sua raiva ou joga-la na cara de alguém, mas existe uma terceira opção: você pode simplesmente seguir em frente”. Não sei se foi o ideal, o certo, ou errado, mas foi o que quis fazer.
Nono: Amei escrever essa fanfic, amei minha personagem principal, espero que também tenha sido do agrado de vocês.
Décimo: espero que não tenha soado como lição de moral ou algo do tipo essas notas, NÃO É! Nem tenho a intenção de deixa-las paranoicas, é mais um lembrete de utilidade pública mesmo.
Desculpem qualquer coisa e deixem comentários!!!!!!!!!!<3



Outras Fanfics:
Proteja-me do que quero
04. Oops
05. Hair
02. Holdup
07. Playboy


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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