Finalizada em: 25/11/2021

Capítulo Único

Todas as lembranças cultivadas no asilo estavam aos seus pés. Cada idoso que amou, cada presente que ganhou, cada família que consolou, eternizados em muitas fotografias. Um amuleto da sorte, um anel para entregar para um filho que nunca chegou a ir buscar, a foto das netas, um vestido de baile, um peão, um jogo de dominó e uma caixa vermelha pequena estavam aos pés de quando cheguei em casa naquele dia.
Já que ela era conhecida pelas suas crises de nostalgia, o fato de ela ter pego todos os presentes que recebeu não me impressionava muito, nem o fato de estar chorando sem parar. Mas eu a impressionei chegando naquele horário, e sabia disso só porque a conhecia tão bem. Ela não gostava de desabar na minha frente. Ela era a rocha. Ela era a consoladora e eu era o consolado, sempre.
Em um dia normal, ela iria afastar as lágrimas e sorrir, fingindo que estava tudo bem. Foi só uma crise de tristeza, já passou, ela dizia, tentando minimizar o próprio sofrimento. Mas hoje ela não fez isso. Quando me viu passando pela porta do quarto do hotel onde morávamos, chorou ainda mais.
Corri até ela, que não se importou que eu estivesse sujo de terra e cimento, nem brigou comigo pelo sapato sujando o carpete. Não se importou em encaixar a cabeça no meu pescoço grudado de suor e nem em me dizer o que estava acontecendo.
— Ele se foi, . – Ela sussurrou depois de um tempo. Se afastou do meu pescoço e limpou as lágrimas do rosto, agora, sujo. – Ele morreu.
Senti muito pelo pastor Nicholson, mas senti mais ainda pelo que aquilo significava.
— Eu sinto muito, . – Acariciei a cabeça dela. – Sei que ele era importante para você também.
Ela abraçou os joelhos, perdida em pensamentos.
— Ele me dava aula de salsa todas as quartas de manhã. – Ela comentou. – Disse que fez isso por quarenta anos e não suportava a ideia de não poder mais andar e nem ensinar. Eu disse a ele que poderia fazer o que quisesse, e ele se tornou o melhor professor de salsa de Sunnyside.
— Bom, ele era o único.
riu, batendo de leve no meu ombro.
— Ele disse que a gente podia ficar aqui quanto tempo precisássemos. Que estava de portas abertas para nós. Ele nos deu tudo que estava nos faltando, exatamente quando a gente mais precisava, , como se fosse uma resposta de Deus para as nossas orações, e agora...
— Ei, não diga isso. – Repreendi.
— Isso o que?
— “Como se fosse”. – Repeti. – Ele foi a resposta de Deus.
— E agora foi embora! Que tipo de Deus é esse que nos ousa dar um pouco de esperança e depois tira tudo de nós? – Ela rugiu, tornando a chorar.
— Você não tem como saber o que vai acontecer.
— Acontece que eu sei. – Soluçou. – Moramos de favor nesse quarto há dois anos, é uma questão de tempo até algum dos filhos dele bater nessa porta.
Balancei a cabeça.
— Duvido que fariam isso. Pelo menos não agora!
deu uma risada sem um pingo de humor.
— Você não conhece mesmo os filhos dele.
— O pai acabou de morrer, . Se têm o Senhor no coração como aquele homem, então...
— Não. – suspirou. – Eles não... não têm.
Afaguei a face dela com o meu polegar.
— Você não pode atestar a fé de ninguém, meu amor. Nem mesmo a de pessoas que você acha que conhece. O nome disso é julgamento, e nós dois não fazemos isso. Nós não julgamos.
Seu olhar repousou na caixa vermelha que estava aos seus pés.
— Ele me deu isso na última aula. Disse que ia me fazer feliz e que era um grande milagre. Ele me fez uma oração e disse que via coisas lindas para o nosso futuro. – Falou, apontando para a caixa. – Eu nunca abri para ver o que era, então eu nunca agradeci. E agora ele se foi e eu não consigo abrir essa maldita caixa!
Ela tornou a chorar, a culpa pesando em seus ombros pequenos. Mas de repente se levantou, a expressão de tristeza sendo substituída por outra que eu conhecia bem: desespero.
. – Ela se levantou do chão, finalmente, e eu aproveitei para me levantar também. – , o que você está fazendo aqui?.
E então me lembrei do meu sofrimento, da minha manhã péssima. Lembrei de Tony Pequeno reunindo todo mundo e informando que a obra foi cancelada por falta de verbas. Lembrei dele dizendo para todo mundo que o pagamento atrasado do mês passado jamais chegaria a nossas mãos, e que não havia nada que ele pudesse fazer. Lembro da indiferença de Tony com todos os homens que estavam ali, bem como me lembro do fiapo de pena que vi escorre de Michael Harris, o dono do terreno, quando viu que estava prestes a colocar mais de 70 famílias na miséria porque desistiu de vender o terreno e a obra proposta jamais aconteceria.
Direitos trabalhistas existiam no mundo todo e eu com certeza poderia correr atrás dos meus. Poderia reivindicar o pagamento que eu mereci, pelo esforço do meu trabalho, poderia prestar queixa e levar todos aqueles homens comigo, até Tony pagar o que foi combinado. O que era meu pertencia a mim, e eu tinha certeza que ganharia a causa, como um cidadão daquele país qualquer.
Acontece que eu não era.
Oitenta por cento daqueles homens estavam nos Estados Unidos de forma ilegal, e eu era um deles. E Tony Pequeno sabia disso, ou não teria ficado tão indiferente diante daquela eventualidade. O que nós íamos fazer, chamar a polícia?
O fato do pastor Nicholson ter morrido e eu estar sem emprego era muito, muito ruim. não estava empregada, era voluntária na igreja e no asilo, e muitas vezes éramos alimentados assim, com doações. Mas contávamos com o meu dinheiro, contávamos com os ganhos que recebíamos nessa cidade de fim de mundo para podermos ir embora e recomeçar, e não podíamos voltar à estaca zero novamente.
— A obra foi cancelada. Dispensaram todo mundo. – Consegui dizer, baixinho.
— O Senhor está nos testando. Que tipo de prova é essa? – Sussurrou, desolada. – Quanto temos?
Eu sabia a resposta. Contava aquele dinheiro todos os dias.
— Três mil quatrocentos e sete dólares.
— Não é muito.
Dei de ombros.
— O suficiente para dar o fora daqui.
Ela assentiu.
— Temos que ir na igreja. Agradecer e nos despedir.
Ninguém combinou de realizar uma mudança instantânea, mas como se tivesse sido verbalizado, e eu nos levantamos para recolher nossas coisas.
Nós não tínhamos muitas. Chegamos nos Estados Unidos dois anos antes com nada a não ser a roupa do corpo e uma bagagem de mão com itens de higiene. Sair do Brasil para vir para cá foi um risco, um que sabíamos muito bem o que estaríamos perdendo. E a resposta era nada. Não nos restava nada no Brasil. Nenhuma família sentia nossa falta, e já não restava mais nenhum amigo para visitar. Ninguém que realmente valesse nosso esforço. Éramos miseráveis no Brasil, e continuaríamos miseráveis nos Estados Unidos se não saíssemos dessa cidade o quanto antes.
A comunidade ajudava. Todos nos conheciam, por causa do pastor Nicholson, e todos nos ajudavam sem pestanejar. Agora que o senhor bondoso que tinha nos acolhido tinha ido embora, eu não gostava de pensar se eles seriam tão receptivos conosco. Eu estava fazendo o que acusei de fazer mais cedo, julgando. E odiava pensar assim.
Todas as nossas coisas importantes couberam em três mochilas. Algumas coisas não iriam conosco, porque para começo de conversa nem sabíamos para onde estávamos indo.
A única coisa que deixei para fora foi o dinheiro, para contar pela última vez. Todo o dinheiro que conseguimos juntar em dois anos estava espalhado em blocos organizados em cima da única cama do recinto. O hotel não era bonito, na verdade era bem simples, ainda que limpo. Mas o fato de não precisar pagar nos ajudava muito, era muito mais do que ousaríamos pedir para o pastor daquela cidade quando o procuramos no primeiro dia.
Ele nos atendeu, nos compreendeu e nos acolheu em sua própria casa por três dias. Orou por nós, nos alimentou e me indicou para o Tony Pequeno para trabalhar com ele nas cidades próximas. Depois nos colocou em um quarto no hotel que administrava e nos disse que podíamos ficar ali. Quando recebi meu primeiro pagamento e tentei pagar, ele não aceitou. Parecia que ele sabia que o dinheiro tinha um propósito maior.
Ele não conhecia nosso propósito de chegar até Michigan, mas Deus falou com ele de alguma forma. A passagem de avião que compramos no Brasil só nos levou até Miami, e isso era tudo. A partir daquele momento, tínhamos que lutar para chegar lá, um pouco mais de cada vez.
A gente saiu do Brasil com um plano. Chegar em Miami, trabalhar para juntar dinheiro e comprar passagens de avião para Detroit. De lá eram apenas algumas horas até Manistee, uma cidade minúscula no norte do estado, mas bem-aventurada, porque era lá que encontraríamos o pai biológico de .
A primeira parte do plano deu certo, mas, apesar de termos sobrevivido, ainda faltava muito para conseguirmos fazer dar certo. Pelo menos era um começo.
Esquecendo todos os meus problemas, senti um pesar profundo pela morte eminente do pastor Nicholson. Eu nem pude me despedir. Ele cuidou de nós quando chegamos a essa cidade com uma mão na frente e outra atrás, e cuidou dele quando ficou tão fraco que não conseguia mais nem andar. ficou com ele até o fim, e eu nem me despedi.
Pela última vez, contei os bolos de dinheiro que conseguimos com tanto esforço. Eu ainda não tinha tomado banho, mas já estava pronta para o que quer que fosse.
— Ei, má notícia. – Falei, tentando soar mais otimista do que realmente me sentia. – Tem cem dólares a menos do que da última vez que contei. Acho que contei errado.
Ela ergueu as sobrancelhas, parecendo decepcionada.
— Parece que precisamos de um milagre, entã...
foi interrompida por algumas batidas na porta. Estávamos no meio da tarde em um dia de semana, quem poderia querer alguma coisa àquela hora?
Olhamos um para o outro quando a porta bateu de novo. Fiz um gesto pedindo para ela ficar onde estava e destranquei a porta para abri-la.
Joey e Martin, também conhecidos como os filhos do pastor, me encaravam do outro lado da porta.
— Oi. – Cumprimentei. – Sinto muito pelo seu pai.
Martin deu um muxoxo, e Joey me empurrou sem sutileza.
— Eu quero mais é que você vá embora, porra!
— Ei! – Gritou , vindo em minha direção.
— E você não se mete, vagabunda. Fica na sua.
corou e parou onde estava, e Joey voltou a falar antes que eu pudesse defende-la.
— Fora desse quarto, agora! Meu pai podia não se importar, mas eu me importo, porra. Sumam do caralho dessa cidade.
Ergui as mãos como quem se rende.
— Tudo bem, calma. Vamos só juntar nossas coisas. Não há necessidade de briga, estamos indo agora mesmo.
Mas Joey me empurrou de novo e foi tarde demais, a porta foi escancarada. Martin pousou os olhos diretamente no bolo de dinheiro, e cutucou Joey, que deu uma risada feia.
— Vocês tinham dinheiro e abusavam da boa vontade do meu pai? – Ele estalou a língua. – Aquele velho era um idiota mesmo.
— Eu tentei pagar a ele várias vezes, mas ele não aceitava. – Justifiquei, sentindo meu orgulho me empalidecer de vergonha. Não suportava viver de favor, não suportava isso.
Joey me encarou profundamente.
— Quer saber? – Ele foi até a cama, pegando todos os bolos de dinheiro e enfiando nos bolsos, Martin logo correu atrás para ajudá-lo. Senti todos os meus sonhos morrerem por dentro, senti um desespero como nunca havia sentido antes. Pela primeira vez na vida, e odiei esse pensamento, duvidei se Deus estava mesmo comigo para deixar uma coisa daquelas acontecer. – Acho justo ficarmos com isso. Dois anos de aluguel, mais juros pela insolência.
Ele passou os olhos pela cama, que ainda tinham algumas quinquilharias que os idosos davam a que ela ainda não tinha guardado. Joey rasgou o vestido dado pela Sr. Summers, bem como espalhou e chutou o jogo de dominó favorito de Joseph no chão e arremessou o pião de madeira esculpido pelo próprio Henrik quando chegou na caixa vermelha e prendeu a respiração.
— Cara, já chega. – Disse Martin, pela primeira vez. – Já fez o bastante. Pegamos o dinheiro e eles estão indo embora. Deixa para lá.
Hesitante, Joey derrubou a caixa vermelha no chão, que fez apenas um som oco, como se estivesse vazia.
Vazia como eu.
— Sumam, porra. – Avisou Joey antes de dar as costas.
Assim que eles saíram, desabou pela segunda vez no dia, pegando a pequena caixa vermelha e colocando na mochila mais próxima. Enxugou as lágrimas antes mesmo que eu me aproximasse e colocou a mochila nas costas.
— Eu disse que eles eram horríveis.
...
— Porque isso está acontecendo, ? Porque coisas ruins acontecem com pessoas boas?
Eu não tinha a resposta para aquela pergunta. Então, não respondi nada, apenas a abracei.

Já estávamos andando a horas, em círculo, sem teto, sem comida, sem um dólar sequer, toda a esperança sugada do nosso coração. Seguimos em direção a saída da cidade sem nem termos planejado isso, provavelmente era o melhor mesmo. Eu ainda não tinha tomado banho, estava sujo e fedido. Quem olhasse para nós veria um casal de sem-teto, o que claramente éramos agora.
A luz estava começando a diminuir e fiz o maior esforço do mundo para não ouvir o estômago de roncando ao meu lado. Ela não merecia isso, essa situação toda era culpa minha. A gente devia ter saído antes, eu devia tê-la deixado trabalhar, eu devia, a gente devia...
— Eu peguei. – Ela disse, por fim. – Me desculpe.
— Pegou o que? – Questionei, olhando para ela. devolveu meu olhar, enquanto arrumava a alça da mochila.
— Aqueles cem dólares, eu peguei.
Parei de andar, enrugando a testa.
— Porque?
Ela deu de ombros.
— Por nenhuma razão. Só queria ter comigo, ter a segurança de ter alguma coisa.
Fiquei animado de repente.
— Está com você?
— Não. Devolvi o dinheiro quando abriu a porta para Joey. Eu sinto muito, não devia ter pegado sem pedir. Eu não gastei nem nada, só queria ter algu...
— Controle. – Ajudei, fornecendo a palavra que ela tinha perdido.
assentiu, desolada.
— O que a gente vai fazer? Esse dia está todo errado, parece um pesadelo que não acaba nunca.
— Para tudo há um propósito, .
Ela suspirou.
— Às vezes me pergunto se há mesmo um deus.
— Não diga isso, você sabe que há. Ele se mostra para você todos os dias.
— De que maneira Ele se mostrou para mim hoje? Quando nos arrancou a única pessoa que nos ajudava, o seu sustento, nosso dinheiro e nosso lar, tudo ao mesmo tempo? – Gritou, bufando em seguida. – Que grande Deus.
Estávamos nessa juntos, sempre estivemos. Mas eu não sabia o que faria se Aline perdesse sua fé, não sabia quem era sem a fé que nos movia. Deus era a única coisa que nunca nos era arrancada e eu precisava que ela visse isso.
Bem quando eu ia argumentar um carro passou por nós, parando quando nos viu. O homem ao volante usava uniforme militar, e e eu nos petrificamos diante dele. Tudo que ele precisava fazer era pedir os documentos, e então todos os nossos sonhos e tudo que tínhamos vivido até ali teria sido em vão.
— Vocês estão bem? – Perguntou o estranho. permanecia rígida olhando para frente, mas eu, ousado, tentei forçar um sorriso.
— Bem, nós estamos bem, obrigado.
Achei que ele balançaria a cabeça e fosse embora, mas o carro não acelerou.
— Vocês não parecem bem. – Pontou, mas não parecia ter pena e nem julgamento em sua voz. – Para que direção estão indo?
Percebendo que talvez ele quisesse apenas oferecer uma carona, senti relaxando ao meu lado, enquanto eu não fazia ideia de como sair daquela saia justa. Para onde nós estávamos indo? Os olhos do homem eram gentis e eu não tive coragem de mentir para eles.
— Na verdade, nós não sabemos. – Foi tudo que eu disse.
O oficial assentiu, diminuindo ainda mais a velocidade do carro.
— Pois bem, vou dizer para onde eu estou indo. Estou indo em direção a uma boa alimentação, a uma cama confortável e um chuveiro há menos de dez minutos daqui. Se estiverem interessados.
Os olhos de marejaram, talvez se lembrando de quando tinha duvidado da existência de Deus minutos atrás. Esse homem era o sinal que passamos o dia todo esperando, o sinal para que não perdêssemos nossa fé.
Mas já aceitamos um presente assim antes e olha só onde viemos parar.
— Muito obrigado, mas nós estamos bem.
O homem inclinou a cabeça.
— Meu nome é . – Disse, o que me fez sorrir. – E vocês podem só passar a noite para conseguirem decidir o que fazer amanhã. São muito novos para ficarem na rua assim.
Ele não questionou sobre nossos pais, por isso deduzi que ele talvez já soubesse sobre nossa irregularidade, mas preferisse não saber. E não fazendo perguntas iria evitar isso.
— Tudo bem. – Eu disse. Era só por uma noite.
. Me chamo , e esse também é , mas chamamos ele de . – Disse ela, se esgueirando para o banco traseiro do carro.
riu, acelerando o carro. Pouco menos de dez minutos depois, estávamos em uma casinha rural, com uma decoração rústica que parecia adorável. Havia uma horta bem cuidada ao lado da casa e eu senti que se morasse ali também transmitira a paz daquele homem.
Descemos do carro indo em direção a porta da entrada. Três crianças irromperam ao mesmo tempo, derrubando que não esperava pelo atropelamento. O acidente o fez rir, enquanto a menor das crianças, uma menina, pulava na barriga dele como se ele fosse um pula-pula.
— Georgia, você está mais alta? – Ele disse para a pequenininha. – Tenho certeza que você cresceu.
— Eu cresci noventa centímetros essa semana, papai. – Disse ela, pulando nele de novo.
— Cresceu nada, ela é uma mentirosa. – Disse um dos meninos. – Pai, você viu meu machucado? – Falou, exibindo o joelho. – Eu ralei meu joelho salvando o Sandy.
Sandy estava ainda pior, com um arranhado na parte direita da face, mas o sorriso omitia qualquer dor que estivesse sentindo.
— É mesmo? – Disse . Ele se virou para nós, diminuindo o tom de voz. – Eu só fiquei fora de casa por um dia.
O comentário nos fez rir, porque as crianças faziam parecer como se não vissem o pai há anos. Por um pequeno momento eu contemplei aquela família, pensando em que tipo de homem eu teria me tornado se tivesse um pai como o .
— Esses são meus filhos, Georgia, Sandy e Marlon. – Disse . Em seguida apareceu uma mulher morena de feições delicadas, que sorriu para nós. – E essa é Carmem, minha esposa.
— Entrem, fiquem à vontade. Vou separar toalhas para vocês tomarem um banho. – Ela olhou para mim, e pela primeira vez me senti constrangido por estar todo sujo. Mas Carmem me olhou com gentileza. – Acho que as roupas do devem servir em você.
Tomamos banho e trocamos de roupa, e quando fiquei limpo, não sabia muito bem o que fazer. me chamou e notei que estavam todos ao redor de uma mesa, com um jantar pronto.
Mas ninguém a mesa comia. Quando me sentei, descobri o porquê.
— Senhor, graças te dou pelo pão que dispôs sobre a minha mesa, pela família que o senhor me deu para amar e cuidar e pelo dia que me concedeu a honra de conhecer meus convidados e . Peço que cuide deles, Pai, e que tenha misericórdia do que quer que os aflija. É o que eu te peço, em nome de Jesus, amém.
— Amém. – Repetimos, e começamos a comer, conversando como se nos conhecêssemos a eras.
— Você me lembra o pastor da nossa antiga igreja. – Comentou , depois que as crianças deixaram a mesa. – O nome dele era pastor Nicholson. O senhor o conhecia?
Os olhos de brilharam.
— Ah, e como o conhecia! Ele vai bem?
O sorriso de murchou.
— Não, ele... desculpe, ele faleceu hoje pela manhã.
curvou a boca com uma tristeza profunda, e Carmem afagou uma de suas mãos. Naquele instante escutamos um barulho vindo de um dos cômodos e Carmem saiu atrás das crianças para ver o que era.
— Eu sinto muito. – Ele disse. – Esse homem era muito humilde.
Assenti.
— Ele nos deixou ficar no quarto de seu hotel de graça pelos últimos dois anos.
franziu as sobrancelhas.
— E porque tiveram que sair?
Dei de ombros.
— Os filhos dele nos expulsaram. – Foi Aline quem respondeu por mim. – Mas está tudo bem. Hoje eu e iremos fazer uma vigília e tenho certeza de que Deus vai nos mostrar o caminho.
Sorri, feliz de notar que sua fé não tinha morrido.
— Faremos a vigília com vocês. – Ofereceu , mas balançou a cabeça.
— Sinto que já fizeram demais por nós, não queremos privar seu sono também.
sorriu.
— Aposto que você é a garota de quem ele tanto falava. A aluna de salsa.
sorriu.
— Não sabia que era a única aluna.
— Foi a única que se interessou.
Carmem voltou com um Marlon envergonhado, segurando uma caixinha vermelha. Percebi que era a caixinha que o pastor Nicholson tinha dado a . Aquela que ela ainda não tinha aberto.
— Vamos Marlon, peça desculpas a moça. Eu já ensinei sobre ser curioso. – Ralhou Carmem, cruzando os braços.
Ele foi até , de cabeça baixa, segurando a caixa vermelha.
— Me desculpe, . – Falou, envergonhado. – Não devia ter mexido nas suas coisas.
pegou a caixa e suspirou, olhando para mim.
— Talvez seja um sinal. Para eu abrir logo.
Assenti.
— É uma boa ideia. – Olhei para . – Foi um presente do pastor. A última coisa que ele deixou antes de morrer.
— É como se ele soubesse.
balançou a cabeça.
— Não é coincidência. Deus sabe de todas as coisas.
Todos observamos desfazer o laço do presente, abrir a tampa da caixa e arquejar, me olhando com lágrimas nos olhos.
! Ah, ! – Ela disse, antes de cair de joelho e chorar. Pensei que estava destruída de novo, mas ao olhar para ela, vi mais esperança do que nunca. Percebi que ela estava agradecendo.
Fui até ela, parando de respirar quando vi o conteúdo da caixa. Ao que parecia, milagres aconteciam. Quando vi o que tinha lá dentro, todos os meus sonhos foram ressuscitados, todas as minhas esperanças voltaram, a cor voltou para o meu rosto e lágrimas saíram dos meus olhos antes que eu me desse conta.
Porque dentro daquela caixa estava nosso futuro.

Voem tão alto quanto puderem!
Estarei orando por vocês.
- Henrik Nicholson


E bem embaixo do bilhete haviam duas passagens de avião.
Para Detroit.




Fim!



Nota da autora: Me baseei no clipe da música para escrever essa oneshot! Espero que tenham curtido e não se esqueçam de comentar!




Outras Fanfics:
LONGFIC
The Only Girl [original/em andamento]
Burn With You [original/finalizada]
Take Me Back To San Francisco [especial A Whole Lot Of History/ em andamento]

SHORTFIC
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