05. In

Fanfic Finalizada: 22/02/2021

Capítulo único

O Reencontro

se olhou no retrovisor do carro mais uma vez, conferindo o visual antes de sair do carro. Ativou o alarme e caminhou do estacionamento até a área de desembarque do aeroporto. Sentia-se um pouco nervosa, mas sabia que era apenas ansiedade. Revê-lo sempre a deixava assim, por nunca saber se milagrosamente a amizade deles permanecia a mesma ou se enfim teria mudado com a distância física entre eles.

tinha o sonho de viver da música e há dois anos havia embarcado em um cruzeiro para se apresentar cinco noites por semana. A ideia era ficar apenas um ano, mas além de não ter nenhuma despesa e um bom salário, ele estava tendo a oportunidade de conhecer lugares que nunca havia imaginado antes. E foi assim que estendeu seu contrato por mais um ano.

conferiu na tela de pousos o status do voo dele. A aeronave já tinha pousado e não demorou para que os primeiros passageiros cruzassem a porta automática. Lembrou-se da última vez que o viu, antes de ele partir, e se perguntou se ele estaria como antes ou se teria mudado o visual, mas nem teve muito tempo para pensar sobre isso, pois logo ele surgiu, em meio a outras pessoas, puxando uma mala enorme de rodinhas. Estava exatamente igual.

Ele não tinha certeza se iria buscá-lo. Aquilo tinha sido combinado há algum tempo e sabia que algumas coisas tinham mudado na vida dela. Mas não precisou de muito esforço para reconhecê-la entre as pessoas na espera do desembarque. sorriu verdadeiramente, como sempre fazia quando a via.

Ela estaria mentindo se dissesse que aquele sorriso não causava um efeito diferente nela. amava o sorriso do melhor amigo, principalmente porque era extremamente verdadeiro. Ela sabia que ambos estavam felizes naquele momento, o que só se confirmou com o longo e apertado abraço que trocaram pouco tempo depois.

— Meu Deus, como é bom ver um rosto conhecido! — Ele apertou um pouco mais o corpo dela contra si, sentindo o cheiro característico dos cabelos dela.
— Pensei que nem se lembraria de mim depois de dois anos. — o alfinetou, caminhando ao lado dele para a saída do aeroporto.
— Eu pensei que você não viria me buscar. — Ele devolveu e ela foi pega de surpresa pelas palavras.
— Por quê? — Estranhou aquele comentário. — Nós tínhamos um combinado e eu nunca furei um compromisso com você. — Lembrou enquanto abria o porta-malas para que ele guardasse sua bagagem.
— É, mas soube que seu noivo é meio super protetor com você em relação a seus amigos. — Tinha acabado de dar partida no carro, virou o rosto para ele, boquiaberta.
— As fofocas sobre mim chegaram a você no Oriente Médio?

estava incrédula, achava que depois da fase de escola e de faculdade eles estariam livres desses tipos de comentários, mas pelo visto ela se enganara. Por outro lado, isso significava que ele havia conversado sobre ela com outra pessoa e ela não sabia como se sentia em relação a isso.

— Algo assim. — Ela negou com a cabeça.
— Para onde vamos? — Desbloqueou o celular, acessando o GPS em seguida.
— Você não está trabalhando? — Dentre todas as coisas que sabia sobre , uma delas era o quanto ela levava todas as suas responsabilidades a sério.
— Não. — Ela sorriu. — Tirei o dia para te receber de volta.
— Então eu adoraria ir naquele café perto do seu apartamento.

Durante o trajeto, perguntou várias coisas sobre essa experiência dele. Ela tinha sido totalmente contra a ideia quando ele contou. Largaria o emprego que tinha desde que tinha se formado para sair sem rumo num cruzeiro sem nenhuma garantia. Ao longo desses anos ela acabou percebendo que não existia só um jeito de se levar a vida e, nas raras vezes que conseguiam conversar, viu o quanto a experiência tinha sido engrandecedora para ele.

O interesse genuíno que ela parecia ter sobre os lugares que ele tinha conhecido o contagiava a contar em detalhes as paradas na Grécia, que foram as mais lindas na opinião dele. Contou também da tempestade que pegaram e que foi a única vez que ele realmente acreditou que ia morrer. Tinha poupado de contar esse evento para ela e para a família, pois não queria preocupá-los, mas agora que estava em terra firme, tinha sido bom compartilhar.

precisou dar duas voltas na quadra para achar um lugar para estacionar, mas valeu a pena por conseguir uma vaga na porta. Sentaram-se na mesa de sempre e nem precisaram olhar o cardápio para saber o que pediriam. Era algo que poderia parecer estranho para muitas pessoas, mas eles tinham quase que um cardápio definido para cada lugar que iam juntos.

— Achou mesmo que eu não ia te buscar? — Ela perguntou, depois de responder as mensagens importantes do trabalho em seu celular.
— Não. — Ele guardou o próprio celular no bolso e sorriu. — Eu não consigo te ver me deixando na mão. Nunca. — Ela sorriu de canto. — E você sabe que é recíproco. A menos que eu esteja trabalhando em alto mar. — Acrescentou sobre não estar com ela em seu aniversário, coisa que ela fazia questão em todos os anos desde que eles se conheceram.
— Não estou mais noiva. — soltou vendo que ele não tocaria no assunto. Mesmo que sempre falassem sobre tudo, assuntos amorosos costumavam ficar de fora.
— Sério? — Deu um gole no café recém chegado. — Eu achei que vocês já estavam até morando juntos.
— Bom, nós meio que estávamos e foi isso que me fez perceber que ele não era o cara.
— Detalhes, . Detalhes. — Pediu, fazendo-a rir.
— Eu acordei um dia e vi que se minha vida fosse ser daquele jeito dia após dia eu não ia ser feliz. Não era o que eu queria. Não é o que eu quero, como eu quero viver meus dias.
— Eu diria “que pena”, mas você parece em paz com essa ideia. — concordou com a cabeça, colocando um pouco de bolo na boca.
— Estou e acho que no fundo Anthony também sabia disso, porque foi o término mais harmônico que eu já passei na vida.
— Nenhum término seu foi traumático, . — Ela abriu a boca para contestar, mas ele continuou. — Imagino que você tenha ficado sabendo do que rolou com a Donna, né?
— Se as fofocas te alcançaram no navio…
— Pois é, lembra como você me aconselhou a não ir namorando? — assentiu. — Mais uma vez você tinha razão, mesmo que no fundo eu ache que você imaginava que eu fosse acabar traindo.
— Eu não imaginei que você ia trair, ! E muito menos ela. Eu só achei que ficando um ano fora, seria mais fácil estar solteiro.
— De qualquer forma foi praticamente assim. — Deu de ombros como se não ligasse.
— Ela realmente ficou com outro cara na frente do seu primo? — Ela fez uma careta e ele riu.
— Acho que ela não sabia que meu primo estava na mesma festa, mas isso não muda o fato. Acho que no fundo foi bom, porque se ele não tivesse visto ela provavelmente teria ficado com muitos outros enquanto eu estava no cruzeiro.
— Posso confessar uma coisa? — falou baixinho, como se fosse um segredo, e ele se aproximou dela, assentindo.
— Nunca fui muito com a cara dela. Tinha bem cara de quem aprontaria uma dessas.
— Você nem a conheceu, .
— Mas eu vi fotos, . Uma mulher percebe muitos detalhes por fotos, acredite. — Ele sorriu de lado e bebeu mais um pouco do café.

No fundo já tinha superado toda essa história. Tinha sido péssimo, é claro. Mas ele estava longe, com um ano promissor com sua música e com novas oportunidades todos os dias. Donna era apenas uma lembrança distante agora.

— Sabe o que isso quer dizer, não é? — falou depois de um tempo em silêncio em que ambos terminavam seus lanches.
— O que quer dizer o quê? Do que você está falando? — não tinha acompanhado o raciocínio dele.
— Você está solteira, eu estou solteiro e nós faremos trinta anos em breve… — Deixou no ar, esperando que ela concluísse onde ele queria chegar.
— E?
— Não me diga que esqueceu nosso combinado! — Ele acusou com expressão de choque.
— De ficarmos juntos caso chegássemos aos trinta sem nos casar? — devolveu um pouco confusa.
— Ah, você se lembra. — riu.
— Nós tínhamos dezessete anos, ! — Ela riu também.
— Não deixa de valer. Acho que nós temos que cumprir. — negou.
— O que aconteceu com seu apartamento? — Uma proposta de morarem juntos nessa altura soava como algo já planejado por ele, o que automaticamente a deixava com o pé atrás.
— Então… — Coçou a nuca, um pouco sem graça e sorriu. negou com a cabeça, ele devia saber que aquilo a deixava propícia a aceitar qualquer coisa dele. — Meu irmão estava devendo um pessoal no poker e vendeu meu apartamento com praticamente tudo que tinha dentro para pagar a dívida.
— Como é? — perguntou com a voz um pouco mais alta. — Marvin vendeu seu apartamento e ficou por isso mesmo?
— Não exatamente. A gente brigou e eu falei que ele podia esquecer o assunto, mas que não precisava aparecer por aqui tão cedo.
— Então morar comigo estava nos seus planos há um tempo. — Ela afirmou e ele deu outro sorriso discreto.
— Você é a única pessoa que eu confio completamente que ainda mora nessa cidade. Eu não ia nem tocar no assunto se você ainda estivesse noiva.
— Larga de ser ridículo, . Mesmo que eu estivesse noiva eu não iria te negar um lugar para ficar até você se ajeitar.
— Senti sua falta. — sentia que era verdade, principalmente pela forma como ele segurou sua mão em cima da mesa.
— É claro que sentiu. Você me ama. — Sorriu.
— Amo mesmo. — Confirmou.
— Também senti sua falta. Tem coisas que só fazem sentido compartilhar com você.
— Nós somos uma bela dupla. — tirou dinheiro da carteira e deixou sobre a mesa. — Agora que já decidimos sobre minha nova moradia, acho que quero ir pra casa.
— Já que você ressuscitou essa história de anos, está lembrando das suas funções?
— Eu cozinho e você lava a louça, eu… — Ela o interrompeu.
— Ótimo, podemos ir então.

Se você está dentro, eu estou dentro

tinha imaginado várias e várias vezes como seria se eles morassem juntos ao longo dos doze anos de amizade, mas em nenhuma delas ela tinha se visto tão feliz como estava desde que se mudara para o apartamento dela.

Eles não tinham se desentendido uma única vez sequer e como sempre, se divertiam bastante na companhia um do outro. Um mês já havia se passado e a sensação era a de apenas alguns dias. tinha levado a sério a sua parte, não apenas sobre cozinhar, mas sobre toda a divisão de tarefas que ela tinha proposto e de contas que ele tinha achado justo pagar.

Sempre tinha algo acontecendo e a vida de poderia ser considerada bem agitada se comparada com os meses anteriores. tinha conseguido apresentações fixas em um bar e quase sempre convencia a melhor amiga a acompanhá-lo. Nas primeiras noites livres revezavam os filmes que assistiam, pois ele sempre insistia em suspense ou terror, que ela odiava, sendo uma amante da comédia romântica, que ele não via graça.

Cansado dos filmes que escolhia, na segunda semana em casa ele havia comprado um videogame, coisa que ela nunca tinha tido ou jogado, mesmo na infância. Ela dizia não levar jeito e odiar os jogos, mas sabia como convencê-la e ela acabava se rendendo às noites de jogos. Em contrapartida, ela vinha tentando fazer com que ele se interessasse por séries, que ele não tinha o hábito de ver por achar pura enrolação.

Era sábado à tarde, tinha feito lasanha para o almoço e os dois estavam preguiçosamente no sofá, assistindo a mais um episódio de Elite, seu novo vício. tinha zoado com a cara dele por ter gostado justamente de uma série adolescente, mas ela adorava histórias como aquela e pretendiam finalizar a temporada naquele dia.

Estavam tão concentrados no desenrolar da história que nenhum dos dois ouviu a porta sendo destrancada e alguém entrando no apartamento.

— Meu Deus! Você quer me matar, Summer? — levou as mãos ao coração.
— Eu nem teria subido se você tivesse lido ou respondido às minhas mensagens. — Se defendeu e procurou o celular entre as almofadas. — Oi, .
— Oi, Summer. — Acenou para a melhor amiga de .
— Não me diga que você esqueceu do chá de lingerie da Scarlett. — fez uma careta e gargalhou.
— Esqueci e não esqueci. Comprei o presente, mas não me lembrava que era hoje. — Se levantou do sofá. — Prometo que não vou demorar. — Falou do corredor, pensando em qual roupa usaria.

Quarenta minutos depois as duas estavam no carro de , a caminho da festa da colega de faculdade. Summer tinha pedido para a amiga dirigir, pois ela quase nunca bebia em festas, e ela tinha aceitado de bom grado. Não era realmente amiga de ninguém da faculdade e sendo ela a responsável pelo carro, poderia voltar quando estivesse de saco cheio, sem precisar negociar com a carona.

está mesmo morando com você? — Summer disparou assim que saíram da garagem do prédio.
— Eu te contei. — a olhou, voltando a olhar para frente logo em seguida.
— Sim, eu sei. Mas achei que era algo momentâneo. — Se explicou. — Não esperava entrar na sua casa e ver os dois deitadinhos um do lado do outro no sofá. Me senti a maior estraga prazeres.
— Larga de besteira, nós só estávamos vendo tv.
— Quando vocês vão assumir que se gostam e assumir um relacionamento? — Foi direta.
— Hum… — fingiu pensar. — Nunca? — Sugeriu irônica. — Não sei quantas vezes você quer que eu repita isso, sério.
— Não é possível que vocês dois sejam tão cegos assim. — Summer negou com a cabeça. — Você lembra da minha teoria na época da faculdade, não lembra?
— Como esqueceria? Você a repete toda vez que vê ou escuta o nome do .
— E você está vendo que eu não estava errada. Foi só dar tempo e afastar das pessoas da faculdade que vocês estão super próximos novamente.
— Nós somos amigos, Summer. Sempre fomos e é só isso.
— Não preciso te lembrar de quantas vezes você questionou os seus próprios sentimentos em relação a ele, né? — rolou os olhos.
— Como se isso fosse algo de outro mundo. — Ficou na defensiva. — Super normal em momento de carência questionar os próprios sentimentos. Não existia nada demais antes e não existe nada demais agora. Somos amigos.
— Então aceita uma aposta? — Desafiou. — Se tem tanta certeza de que não se gostam de outra forma e não vão ficar juntos.
— Voltamos a ter dezoito anos?
— Não aceita porque sabe que tem chance de eu estar certa. — estacionou o carro e não falou nada. Não queria voltar a questionar seus sentimentos agora.
— Não mencione nada disso aqui, por favor. — Alguns episódios desagradáveis da época de faculdade passaram pela mente dela.
— Claro que não! Não sou uma péssima amiga.

Talvez se estivesse bebendo ela veria graça naquela festa, mas sóbria ela só queria ir para casa. Devia ter pelo menos umas setenta pessoas na festa e Scarlett estava abrindo presente por presente e tentando adivinhar quem tinha dado qual lingerie. Cada vez que ela errava, ela virava uma dose, e não demoraram a notar os sinais de embriaguez da noiva, que já ria de praticamente tudo, principalmente dos presentes zoeiras como algemas, sex toys ou calcinhas comestíveis.

Pegou o celular na bolsa para tentar se distrair e viu algumas mensagens de . Ele havia mandado uma foto da TV com o próximo episódio da série e na mensagem ele dizia que não sabia se aguentaria esperar por ela para continuar assistindo.

“Você não ousaria.”

“Estou muito entediado.”


“Vou te odiar pra sempre.”

“Você sabe que não consegue.”


“Não acredito que você vai ser ridículo a esse ponto.”

“Você que me viciou, considere isso uma vitória.”


“Na verdade nem te julgo por assistir.
Queria estar fazendo o mesmo.”

“Muito ruim aí?”


“Acho essas brincadeiras muito idiotas. Se eu tiver um desse um dia, espero que seja mais decente.”

“Deixa de ser careta!
Aposto que não tem nada demais, além de uns doces em forma de pinto.”


“Nunca vi tanto doce nesse formato, não vou mentir.
Mas não era disso que estava falando.
Não vejo graça em ouvir experiências sexuais dos outros.”

“Ih, o sexo com o ex era tão ruim assim?”


“Ah, cala a boca!
Não vou discutir isso por mensagem com você!”

“Você nunca discutiria isso na minha frente.”


“Exato.”

“Acho que precisamos ir a uma casa de swing.”


“Como é que é?”

“Sério, seria libertador para você.”



— Com essa cara, aposto o que você quiser que está falando com ele. — se assustou com a presença de Summer e bloqueou o celular rapidamente.
— Não é minha culpa se isso aqui está um tédio.
— Você está perdendo! Já aprendi três novas posições que quero testar. — fez careta.
— Summer, você sabe que não tenho interesse em dividir esse tipo de informação.
— Deveria. Aposto que aceitaria testar todas de bom grado com você. — Falou baixo e sentiu as bochechas esquentarem.
— Volta logo para elas, sua pervertida!

Cerca de uma hora depois, Summer já estava bastante alterada. nem mesmo sabia o quanto ela tinha bebido, mas a conhecia o suficiente para saber que aquele era o limite dela e que era hora de irem embora.
Durante o trajeto de volta para o apartamento, Summer cantarolava alguma música que a amiga não reconheceu e, quando estavam quase chegando, resolveu voltar no assunto .

— Se eu hipoteticamente dormisse na sua cama e não deixasse espaço para você. Acha que o te daria a cama dele ou você dormiria no sofá?
— Eu te empurraria na cama até você ocupar só um lado dela. — Respondeu decidida, mas no fundo sabia que cederia a cama.
— Eu acho que te deixaria com a cama. — Disse depois de encarar a cidade pela janela por um bom tempo. — Ou te ajudaria a me colocar no sofá para você ficar com a sua cama. — Gargalhou como se fosse algo bem engraçado, e negou com a cabeça, sabendo que outras coisas deveriam estar passando pela cabeça dela. — Como você acha que ele seria na cama com você?
— Summer, não vou te responder isso. Você está bêbada! — Se esquivou.
— Você é tão chata quando está sóbria. — Fez um biquinho. — É que ele tem cara de quem curte umas safadezas, mas acho que com você ele seria meio príncipe. Pelo menos nas primeiras vezes.
— Chega desse assunto. — pediu, terminando de estacionar. — Não quero ter que explicar para ele porque estamos falando disso.
— Aposto que seria bem divertido. Ele ia rir e você ia ficar sem graça. E ia colocar a culpa no que eu bebi.
— Pode apostar que sim.

Chegaram no apartamento e tudo estava silencioso, apesar das luzes estarem acesas. Summer foi pelo corredor direto ao quarto da amiga, que parou no corredor para pegar uma toalha limpa no armário.

— Summer, aqui está a toalha. — Disse ao entrar no próprio quarto e riu fraco ao ver a cena.

Summer tinha tirado seu vestido, que agora estava no chão ao lado da cama, e estava deitada apenas de lingerie ocupando quase toda a cama. Se aproximou da cama e chamou-a pelo nome duas vezes, mas o que recebeu em resposta foi um ronco baixo. Era oficial, ela havia acabado de perder a própria cama.

Tirou a maquiagem, tomou um banho, deixou o quarto já vestindo seu pijama e com um dos travesseiros nos braços. Sentiu o cheiro de pipoca e andou até a cozinha, deixando o travesseiro no sofá.

— Pipoca? — Disse apenas para chamar a atenção dele. — Achei que já estava dormindo. Estava tudo quieto quando chegamos.
— Estava jogando. — Ele sorriu, despejando toda a pipoca feita em uma grande bacia. — E agora nós vamos terminar essa temporada, porque não vou dormir sem saber quem foi o culpado.
— Você não viu? — Apesar da surpresa, sorriu.
— Claro que não!
— Eu tinha certeza que você já tinha assistido até a segunda. — Ela exagerou.
— Que nada, eu até queria, mas a foto foi só para te provocar mesmo. É algo muito bom de se fazer porque você sempre leva a sério e eu me divirto com você nervosa.
— Palhaço! — Acertou o travesseiro nele.
— Por que seu travesseiro está aqui? Ia maratonar sem mim, ? — Lançou um olhar acusador e ela negou.
— A bêbada capotou na minha cama. — Sentou-se no sofá, enchendo a mão de pipoca em seguida. — Acabei de perceber que estou com fome.
— Não me diga que não comeu nada na festa só porque tinham formato fálico.
— Comi, mas quando as pessoas vão pensando na bebida, quem não bebe passa fome.
— Exagerada.
— Aperta o play logo nisso.

Assistiram os episódios restantes até o final da temporada e apesar da insistência de para começarem a segunda temporada, foi convencido pela expressão de sono e inúmeros bocejos de a deixarem para o dia seguinte.

— O que pensa que está fazendo, ? — Ela o olhou tentando entender do que ele estava falando.
— Você não vai dormir no sofá. Pega suas coisas, dorme lá na minha cama. — continuou parada no mesmo lugar. — Anda. — pegou o travesseiro e o edredom que ela tinha levado para a sala e a guiou para o quarto dele.
, não precisa.
— Eu sou muito mais acostumado a dormir em sofás do que você. Lembra que eu sempre fazia isso na época da faculdade para não perder a hora?
— Lembro, mas você não precisa sair da sua cama por minha causa. — Ela rebateu.
— Está me chamando para dormir com você, ? — Arqueou a sobrancelha sugestivamente. — Porque se você está dentro, eu estou dentro. — Sorriu com outras intenções e foi a vez de ela empurrá-lo para fora do quarto.
— Boa noite, . — Fechou a porta em seguida, mas ouviu a risada alta dele no corredor.

O cheiro dele estava por toda parte e ela tinha certeza que sonharia com o melhor amigo aquela noite.

Encontro anual da turma XXVI

— Posso saber por que o seu nome não está na lista de confirmação do churrasco até agora? — disparou assim que chegou do trabalho.
— Porque eu ainda não decidi se vou. — Deu de ombros. — Estou bem, obrigada. — Soltou com ironia.
— Que bom. — Ignorou a ironia e deu a volta no balcão da cozinha, cercando-a. — Como assim não decidiu se vai? É a nossa chance de ver como todo mundo que se formou com a gente está e nos sentirmos extremamente bem por não estarmos como eles.
— Será que estamos?
— Como assim, ? — Estranhou a forma como ela estava respondendo e a seguiu para o quarto dela.
— Ah, antigamente era legal a gente comparar a vida deles com as nossas. Colegas indo para carreiras totalmente diferentes, se mudando, casando, grávida do terceiro filho. Mas sete anos depois não é tão divertido assim. Parece que a vida de todos andaram menos a minha. — Tinha uma expressão cansada. — E a sua. — Acrescentou.
— Eu não imaginava que você via a sua vida assim. — Declarou, sentando-se na beirada da cama dela e a observando enquanto ela tirava os brincos, relógio e prendia o cabelo em um coque. — Você é uma profissional excelente, super reconhecida, fez projetos para pessoas famosas.
— Mas a vida não se resume a trabalhar, . Nós estamos literalmente com quase trinta anos e tirando a minha vida profissional, sinto que o restante está travado. — Desabafou. — Não sei se quero encontrar com pessoas que vão intensificar esse sentimento em mim.
— Você queria ser mãe, é isso? — Tentou adivinhar o que realmente a incomodava. — Porque você sabe que não quero ser pai, mas estou aqui disponível… — Ela o interrompeu.
— Cala a boca, ! — Riu fraco. — Eu não quero ser mãe apenas para ser mãe. Tem todo um contexto por trás. E para de insinuar que você quer dormir comigo. — O empurrou, mas ele segurou o braço dela, puxando-a consigo quando caiu deitado na cama.

Os dois se encararam por um tempo, ela deitada por cima dele, e então ela rolou para o lado. Permaneceram deitados lado a lado e ele esperou que ela quisesse falar algo. Como nas outras vezes, ele estaria ali para ela.

— Se nós formos, vou te deixar a uma quadra de distância e você termina de chegar a pé. — Declarou, ouvindo a risada alta dele em seguida.
— Que palhaçada é essa agora, ? Está parecendo aquelas crianças que têm vergonha de chegar de carona com os pais.
— Eles já vão falar de nós pelo simples fato de passarmos o tempo juntos lá, se ainda chegarmos juntos vão falar mais ainda.
— E por que você ainda liga para o que eles acham ou deixam de achar?
— É fácil para você falar, não era você que tinha que ouvir comentários idiotas quase todos os dias naquela universidade. — se deitou de lado, olhando-a fixamente até que ela fez o mesmo.
— Que comentários? — Ele não fazia ideia do que ela estava falando.
“Seu namorado não vem hoje?”, “Devolve essa blusa de frio que peguei com seu namorado?”, “Está estressada porque o namorado está viajando?”, “Eu sei que boca resolveria o problema da agora.” — Fez uma voz afetada. — Poderia continuar por horas.
— É sério isso? — Ela concordou com a cabeça. — Mas você estava a fim de mim ou algo assim? — Ela apenas deu de ombros. — Porque eu nunca achei que estivesse. Nunca achei que teria a menor chance com você. — Ela riu. — Você sempre foi certinha com tudo, . Eu sou o completo oposto.
— A minha teoria favorita que inventaram sobre nós é que namoramos escondidos e eu nunca superei o fora que você me deu. — riu alto.
— Está decidido. — Ele puxou o celular dela do bolso. — Desbloqueia, eu vou confirmar que você vai. Mas sem essa palhaçada de me deixar na esquina. — Ela colocou a digital, liberando o aparelho. — Será que encontro alguma foto comprometedora nessa galeria?
— Você é patético. — Declarou e se levantou da cama.
— Pronto, sua presença está confirmada e tem mais. — Ela o encarou, esperando que ele contasse o que estava aprontando. — Você não vai dirigir, porque você vai beber nessa festa.
— Por quê? Você sabe que não faço questão.
— Porque entre nossas promessas ao longo dos anos você concordou que ainda iríamos a uma festa em que você beberia até dançar em cima da mesa. — Respondeu com um sorriso típico de quando mentia.
— Eu concordei, aham… — riu. — Qual é a graça nisso? Por que você sempre quis me ver bêbada a esse ponto?
— Porque deve ser divertido, ué.

Passaram horas conversando, lembrando de outras festas que foram ao longo do curso e das coisas que aconteceram com eles. Grande parte do que contava levava a fazer uma careta, mas ambos deram boas risadas também.

Domingo chegou e por mais que tivesse tentado mudar os planos, continuou firme na sua ideia. Foram de táxi, talvez ele bebesse uma ou outra cerveja durante o dia, mas tinha garantido a ela que ficaria de olho e que ela podia beber e se divertir.

Como previsto por ela, a maioria dos colegas lançou olhares ou sorrisos que diziam muito pelo simples fato de os dois terem chegado juntos. percebeu como era fácil para ignorar tudo e se esforçou para não ligar também.

As horas se passaram e ambos estavam se surpreendendo com aquele dia. Muitos dos colegas tinham enfim amadurecido e conseguiam ter conversas muito interessantes, trocar experiências de viagens e também de trabalho. estava cumprindo mais uma vez sua palavra, de tempos em tempos levava um drink para , que ficava cada vez mais solta.

O sol começava a se pôr e várias garotas decidiram dançar, estava no meio delas e era algo inédito. sempre dava um jeito de se livrar do que ela dizia ser chamativo demais. A festa agora tinha mais pessoas e não sabia se eram convidados de alguém, mas estava particularmente incomodado com um cara que ele não conhecia e que dançava cada vez mais próximo de , arriscando vez ou outra um toque nela.

— Até quando vocês vão ficar nesse zero a zero? — Summer perguntou, atraindo a atenção de que não tinha percebido a aproximação. — Nem tente mentir para mim, eu estou vendo a forma como você está olhando para ela praticamente o dia todo.
— É estranho. — Comentou e ela o olhou. — É como se as coisas tivessem mudado de sexta para hoje.
— Como assim? O que aconteceu sexta? O que você fez? — Disparou as perguntas e ele sorriu.
— Não sei se foi coisa da minha cabeça ou se ela deixou no ar algo sobre realmente ter sido a fim de mim. De qualquer forma tudo pareceu mudar depois dessa informação.
— A teve coragem de falar que realmente gostava de você? — Summer soltou a verdade e arregalou os olhos.
— Ela gostava? — Estava incrédulo.
— Você é tão inteligente para umas coisas e tão sonso para outras, . Sinceramente, o mundo inteiro percebeu ao longo desses anos que o que existe entre vocês não é uma simples amizade. Mesmo que nenhum de nós saiba classificar o que vocês têm.
— Eu não acredito nisso. — Declarou. — Eu e nunca estivemos na mesma página sobre nada. Eu tenho quase certeza de que não passo nem perto do que ela deseja para a vida dela.
— Mas é com você que ela aceitou dividir o apartamento quando ela não fazia isso nem com o próprio noivo. — Deu as costas para ele quando avistou outra pessoa chegando na festa e ele permaneceu pensativo.

Ele não poderia negar que essa possibilidade havia cruzado sua mente algumas vezes. Tudo era tão tranquilo e completo com que passarem o resto da vida juntos era algo assustadoramente confortável. E se desde sexta ele já se sentia confuso, a fala de Summer havia apenas intensificado isso. Tentava se lembrar de ter recebido algum sinal de em algum momento ou se tinha apagado isso de sua mente uma vez que ele não estava pronto para um relacionamento sério na época da faculdade, mas foi em vão.

— Se você perdeu sua chance você foi um babaca, . — Murmurou para si mesmo e voltou a realidade quando uma moça tropeçou nele.

Procurou com os olhos, mas ela não estava mais na rodinha de dança. Não demorou muito para identificá-la sentada em um dos bancos mais afastados e o rapaz de antes cada vez mais próximo dela. Ele não tinha certeza de como gostava dela naquele momento, mas sabia que não queria vê-la ficando com outro cara na frente dele e sem pensar exatamente no que diria, caminhou até a melhor amiga.

— Amor, estava te procurando. — Sorriu para ela.
— Ah, eu não sabia que você tinha namorado. — O rapaz deu um passo para trás.
— Sou . Muito prazer. — Estendeu a mão e o aperto foi correspondido.
— Sou Connor. — Deu um sorriso amarelo. — Vou pegar mais uma cerveja. — Deu as costas e saiu de perto deles.
— Por que fez isso? — perguntou, cruzando os braços.
— Fiz o quê? — Se fez de desentendido.
— Fingiu que estamos juntos.
— Você me fez prometer que jamais te deixaria ficar com um cara feio, esqueceu? — franziu a testa, tentando se lembrar de ter falado isso alguma vez para . Mas aquilo era tão a cara dela, que ela não questionou.
— Acho que já deu dessa festa. Vamos embora? — Pediu se levantando e ajeitando a pequena bolsa no ombro.
— Vamos. Tive uma ideia. — Ela o seguiu para fora do prédio, mas ao invés de aguardarem um carro, começou a andar. — Tem um parque a duas quadras daqui, podemos pegar um ar fresco antes de ir para casa.
— A festa era ao ar livre, . — riu, cada vez mais sóbria.
— Só vem.

Me diga, o que estamos esperando?

Caminharam em silêncio, lado a lado até o parque. Algumas pessoas caminhavam, algumas crianças de bicicleta e outras no parquinho. a guiou até mais próximo do lago e eles se sentaram. O vento estava mais fresco e gostava de senti-lo em seu rosto. A lua estava tão cheia que era possível ver um lindo reflexo na água.

— Você está muito quieta. O que foi? — perguntou, olhando-a com o canto do olho.
— Estava revirando aqui minha memória, tentando lembrar quando foi que te pedi para me impedir de ficar com um cara feio. E também de onde você tirou que o Connor era feio. — Ele reprimiu uma careta, mas não passou despercebida para . — Você inventou aquilo, não foi? — Olhou-o diretamente.
— Se eu responder a verdade, tenho direito a uma resposta honesta sua também? — assentiu. — Eu inventei. Ele não parecia ser seu tipo. — Deu de ombros.
— E qual o meu tipo? — Ela devolveu de imediato.
— Minha vez de fazer pergunta. — Evitou respondê-la. — Você já gostou de mim em algum momento durante todos esses anos que nos conhecemos? — Ela engoliu em seco. — Digo, como mais que amigos?

desviou o olhar do rosto dele para o lago. Tinha prometido uma resposta honesta e julgava que pela demora em responder ele já teria tirado as próprias conclusões. Mas quando voltou a olhar na direção dele, viu que ele ainda esperava por uma resposta.

— Sim, . Eu gostei de você de outra forma. — Respondeu da forma mais neutra que conseguiu, mas ele sorria. — Que diferença faz saber disso agora?
— Por que não me contou antes? — Soltou outra pergunta ao invés de respondê-la.
— Porque não teria dado certo. — Usou como resposta o que ela dizia para si mesmo anos atrás.
— Como você tem tanta certeza?
— Só um palpite. Acho que estávamos em momentos diferentes demais para que algo entre nós além de amizade existisse.
— Então você basicamente tomou a decisão por nós dois. — Não era uma pergunta e ela permaneceu olhando nos olhos dele.
, existiam duas possibilidades e em ambas o risco de acabar com a nossa amizade existia. Eu não estava pronta para arriscar não ter você mais na minha vida. — Ele abriu a boca, mas ela não o deixou interromper. — Eu sei que você manteria a amizade sem problemas, mas eu não sou assim, eu acabaria me afastando de você e eu não estava pronta para isso.
— Parece que alguém gastou um bom tempo analisando as possibilidades.
— Seja honesto. — Repetiu as palavras dele. — Você acha que teríamos dado certo há oito ou nove anos atrás?
— Acho que jamais saberemos. — A expressão dele era tranquila, mas sentia as mãos frias. Aquela conversa nunca teria começado se ela estivesse totalmente sóbria e ela não tinha certeza se queria saber onde terminaria.
— Talvez seja melhor assim. — Ela respirou fundo, sentindo o ar mais gelado entrando em seus pulmões.
. — Chamou e ela voltou a olhá-lo. — Me diga, o que estamos esperando? — A expressão dela era de confusão, mas logo passou a surpresa quando sentiu a mão dele em sua nuca, conduzindo o rosto dela para mais perto do dele.
— O quê? — tentou colocar alguma ordem em seus pensamentos ou em seu coração que batia acelerado.
— Não consigo mais apenas imaginar como é te beijar. — Ele confessou baixo.
— E o que está esperando? — Respondeu no mesmo tom, com um sorriso que o fez sorrir também antes de, enfim, beijá-la.





Fim



Nota da autora: Olá! Espero que não queiram me matar pelo final em aberto (ou parcialmente)! Essa é uma história com bastante realidade misturada e talvez isso tenha contribuído para que o fim ficasse assim.
Me contem aqui a opinião de vocês e o que acham que aconteceu depois disso.
Beijos e até mais!





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