05. Inside of You

Última atualização: 06/08/2017

Capítulo Único


Você foi convidado para a festa de Libby Madison!”.
Era o que dizia no topo do convite vermelho e branco que acabara de achar em seu armário. Em seu rodapé era quase legível um pequeno asterisco invisível com a nota: fique muito satisfeito por não ser mais um excluído.
sorriu para o nada. Não era nenhum excluído, as pessoas sabiam quem ele era e até tinha alguns amigos do time de futebol da escola. Enfiou o convite dentro do envelope que tinha seu nome em letra cursiva e bem desenhada novamente sem parar para pensar se realmente iria, mas não deixou de sentir uma pequena pontadinha de felicidade ao saber que havia sido convidado para festa mais esperada do ano.
As festas de aniversário de Libby Madison eram conhecidas por serem fora do normal, regadas a bebidas e muita música, a sempre em um lugar diferente e secreto somente para quem tivesse os convites. Os adolescentes de Goldsprings se matavam para ganhar um, o que deixava a filha do prefeito mais do que satisfeita em provocar e torturar os jovens com fotos de lugares aleatórios, quase como se os desafiasse a descobrir onde seria, mesmo que não pudessem entrar.

fechou a porta de seu armário com o sorriso ainda preso no rosto, encontrando um Luke muito sorridente logo atrás dela o encarando como um maníaco.
— Então você também foi convidado. — Luke, o ruivo alto com o rosto salpicado de sardas que chamava de melhor amigo, constatou com um sorriso travesso assistindo o garoto guardar o papel dentro da mochila azul. — Estava preocupado de ter que mentir pra me livrar de você no sábado.
— Primeiro de tudo, Luke, pare de espreitar! Qualquer hora você vai enfartar alguém. — resmungou ignorando o resto da frase pelo bem da amizade de infância que tinham. Luke Johanson conseguia ser um babaca a cada duas frases sem querer.
— Só se Annabelle for cardíaca e não aguentar a pressão! — o ruivo fez piada levantando a mão esperando por um hi-five que não veio, ao contrário da careta de nojo que tomou conta do rosto do amigo.
— Que nojo, Johanson! É da minha irmã que você está falado, tenha um pouco de respeito por seus próprios dentes.
Luke e Annabelle haviam começado a namorar há um ano e alguma coisa. No começo, até pensou em objetar, mas achou melhor a irmã menor — que tinha uma enorme diferença de idade de um ano — namorar alguém que ele confiava do que qualquer cara babaca ridículo por aí, mesmo que esse alguém fosse o sem noção do seu melhor amigo.
— Tanto faz. — o ruivo deu ombros caminhando ao lado do amigo pelo corredor lotado de adolescentes. — Anna e estão esperando a gente para almoçar. — desconversou antes que irritasse o mais velho.
Seguiram em silêncio até a lanchonete, para então pegar uma fila curta para a comida e sairem arrastando os pés insatisfeitos com suas bandejas de comida não muito apetitosas até a mesa onde as garotas os esperavam.

— Hm, delícia de purê de ervilha! — foi a primeira a fazer graça quando olhou para o prato do moreno sentado ao seu lado. — Meu favorito, não é mesmo ? — perguntou com o sorriso engraçadinho brincando em seus lábios cheios já sabendo das frescuras culinárias do amigo.
apenas riu e balançou a cabeça como se desistisse de resistir as bobagens dos amigos, entretanto evitou sabiamente manter muito tempo seus olhos presos ao da amiga.
era sua paixão desde os sete anos de idade.
Também era sua melhor amiga desde a mesma tenra idade, o que o deixava em uma sinuca de bico com seus próprios sentimentos. Mas não o suficiente para o impedir de sonhar com seus grandes olhos azuis e cabelos castanhos esvoaçantes.
Gostava de pensar sobre o dia que teria coragem de conversar francamente com ela sobre como não se sentia mais como seu melhor amigo, como gostava dela mais que o fraternalmente sugerido. Nos longos diálogos dentro de sua cabeça o derrubaria em câmera lenta no chão e o beijaria uma infinidade de vezes depois de ouvir sua declaração e então todos os jantares de Ação de Graças e reuniões de Natal não seriam mais tão maçantes, pois enfim teria sua namorada ao lado.
— Então… Sábado é o grande dia. — a morena comentou sugestiva ao seu lado arrancando-o de seus devaneios.
— Hã?! — soltou perdido, mas logo se lembrou do convite no fundo de sua mochila e concordou — Ah sim! A festa da Libby, né?
— Aham, festa da Libby, . — soltou com uma voz engraçada como se a sentença fosse uma piada, mas como nenhum riso veio do amigo ela ficou séria e cética ao perguntar: — Você vai?
— Acho que sim, parece bacana. Você vai? — devolveu a pergunta virando-se para a morena que o encarava com as sobrancelhas franzidas.
virou os olhos para Annabelle a sua frente que assistia a conversa atentamente e julgava o irmão com os olhos, silenciosamente. Ela e a amiga trocaram um olhar cheio de significados e logo a morena voltou para com um sorriso falso que deixou o garoto confuso.
— Bem, Anna e Luke vão, então parece um programa interessante. — deu ombros desistindo do assunto e então voltou a virar para a irmã do garoto — Você acredita que Victor Christensen perguntou se eu queria ir junto com ele na festa?
, que tinha acabado de colocar uma colherada de purê de ervilha com arroz na boca, engasgou na hora. Luke foi ao seu resgate estapeando suas costas com força para o desengasgar.
— Tô bem, porra! — empurrou o ruivo depois do sétimo tapa que havia levado, sentindo não só o rosto e a garganta arderem, mas também o espaço entre as omoplatas que havia sido castigado por Luke. — Victor foi falar com você? — perguntou ignorando completamente os murmúrios do cunhado ao fundo que o acusava de não ser grato pelo esplêndido resgate que ele havia feito.
Os grandes olhos azuis de se estreitaram desconfiados para e ele sentiu perfeitamente quando o bloco de gelo desceu rasgando por seu estômago.
Lembrava-se como se tivesse sido a momentos atrás quando Victor Christensen, o galã do futebol, o encurralou depois de uma aula de biologia que tiveram juntos perguntando sobre sua amiga. Ele viu nos olhos verdes do colega de classe todas suas nada nobres intenções para com a garota. Foi mais forte do que ele responder que não era interessada por garotos e não era muito fã de jogadores de futebol, quase como se o monstrinho verde do ciúmes tivesse controlado seu corpo.
Na hora Victor pareceu conformado com a informação, contudo saber que ele mesmo assim tentou investir na garota fez gelo correr por suas veias, não somente pelo medo de ser descoberto na mentirinha que havia dito, mas por medo de Victor fisgar a sua garota tão facilmente com seu corpo definido e olhos de esmeralda.
— Você parece surpreso. — pontuou intrigada — Por que? É difícil acreditar que um cara como Christensen iria querer algo com uma garota como eu?
— Não, claro que não. Quero dizer, olha pra você! É claro que ele iria querer ter qualquer coisa com você. — o moreno balbuciou atordoado focando em encarar o empanado de frango intocado em seu prato — Mas você não vai com ele, né?
A fina fumacinha de esperança ainda o rodeava quando a risada animada de Annabelle praticamente a afastou com a mão para longe.
— Claro que ela vai. Ela teria que ser muito louca pra negar, não é mesmo ? — Anna pirraceou jogando a tampinha de seu leite na amiga — Olha aquele deus grego, ! Se ele me pedisse pra jogar o Luke de uma ponte eu jogava sem nem perguntar o porquê.
— Amor, eu tô aqui! — o ruivo rolou os olhos entediado para a namorada — Me respeita que eu sou sensível.

A morena gargalhou pela cena e a acompanhou mesmo contrariado com o assunto, Luke tinha o dom de deixar qualquer assunto ruim uma completa palhaçada e tornar tudo tolerável. O sinal que avisava o final do almoço soou estridente e os alunos começaram a dispersar rapidamente.
e Annabelle pegaram suas bolsas de cima da mesa e foram se levantando, apesar de mal terem comido.
— Precisamos ir, prova de história. — a morena rolou os olhos teatralmente antes de se abaixar e plantar um beijo no alto da cabeça de e acenar para Luke. — Até depois garotos do meu coração.
— Espera! — virou-se tão rapidamente que se fosse qualquer outro não tão desesperado no assunto teria ficado tonto — Você não respondeu…
— Ah! Bem, vou pensar com carinho. Não é todo dia que um Victor da vida me chama para sair, não é mesmo? — a garota disse animada demais para o gosto do moreno e o gritinho animado de sua irmã ao lado dela conseguiu matar o resto de humor dentro de si.
não esperou qualquer réplica, pegou o pulso de Annabelle e a arrastou até o corredor principal para irem ligeiras para a prova que as aguardava. E a restou observar a figura da garota do seus sonhos sumir pelo arco da porta enquanto fofocava sobre o possível encontro romântico com um perdedor que não era ele.
Virou-se novamente para frente e pegou Luke o encarando com o sorrisinho sarcástico preso no rosto. Rolou os olhos com preguiça dos enigmas que ele soltava quando achava que sabia de alguma bosta.
— Você tá tão fodido. — o ruivo soltou categórico e riu da sua cara logo em seguida.
— Não sei do que você está falando. — deu ombros tentando terminar de comer sua comida já fria.
— Ah, sabe sim. Se tem uma coisa que você sabe, essa coisa é do que eu tô falando.
— Cala boca, Luke.
— Meu conselho é: fale com ela antes que ela fale com Victor. — continuou sem se importar com a repreensão do melhor amigo — Quero dizer, olha a competição que você vai se meter. O que eu tô falando, né?! É óbvio que você sabe que se ele estiver na jogada você vai estar mais perdido que filho de puta em dia dos pais.
— Isso é sua conversa motivacional, Johanson?
— Se liga, . Isso aqui não é Ted Talks não, como seu melhor amigo minha missão na terra é esfregar a verdade na sua cara pra você parar de ficar rolando na bosta esperando alguma coisa acontecer. — resmungou como se fosse óbvio, logo parando e enfiando o dedo quase no nariz do amigo — Isso e comer sua irmã.
— Vai tomar no cu, Luke! — jogou o garfo na cara do ruivo que apenas riu da cara de enjôo.
Deixaram suas bandejas vazias no suporte acima do lixo e seguiram para suas aulas. Não viu nem Annabelle no final da aula e nem na hora do almoço do dia seguinte, segundo Luke as duas só respondiam nas mensagens do grupo e se recusaram a dar alguma localização.
Na sexta-feira a noite mandou uma foto de um vestido vermelho para o grupo com uma legenda que fez seu coração se enterrar mais fundo de tristeza:
“Victor vai gostar desse vestido?”

♥♥♥

Deu uma última encarada no espelho antes de descer correndo para atender a campainha que tocava. Sabia que estava muito bonita para aquela noite, Anna havia se certificado de que Victor perderia o ar quando visse em sua melhor produção. Por isso as últimas cinco horas haviam sido dedicadas totalmente a modelar cachos em babyliss, uma longa tortura com depilação brasileira e uma maquiagem que nem com mil anos de tutoriais no youtube seria capaz de reproduzir.
Estava ansiosa desde o dia do convite e não poupou a melhor amiga de escutá-la resmungar sobre isso a cada cinco minutos. Também pudera, Victor Christensen possivelmente havia sido esculpido a mão por Michelangelo, como Pietá. Não havia outra explicação para o corpo perfeito e coberto de tatuagens - que tinha certeza que haviam sido feitas escondidas -, aquele maxilar desenhado, boca carnuda e olhar matador do rapaz. O cabelo loiro escuro cortado no corte da moda fazia querer deslizar seus dedos por ele.
Suspirou antes de alcançar a porta e ajeitou uma última vez o vestido vermelho que a abraçava. Sua mãe apoiada na porta da cozinha lhe deu um sorriso satisfeito e levantou os dois polegares aprovando a produção. A morena mandou um beijinho no ar antes de abrir a porta e encontrar Victor parecendo um príncipe parado sorridente na soleira da porta dentro de uma blusa listrada e uma jaqueta jeans.
— Você está muito linda, senhorita . Tenho inveja do rapaz que vai sair com você esta noite. — brincou com sua voz profunda oferecendo o braço a morena a guiando em direção ao carro que estava estacionado junto ao meio fio.
— Digo o mesmo, senhor Christensen. Vou ficar com inveja de dividir sua atenção com mais gente. — falou em um tom zombeteiro depois de terem entrado no carro e Victor riu de sua resposta.
— Posso te contar um segredo? Acho que nem que eu se eu pudesse conseguiria desviar os olhos de você nesse momento, quanto mais ser capaz de dar atenção para mais gente.
gargalhou e o empurrou pelo ombro mandando dirigir logo, enquanto Victor apenas riu e ligou o som do carro feliz por o encontro estar dando certo até então.
Chegaram em menos de quinze minutos e enquanto faziam o caminho conversaram sobre seus gostos em comum e como ambos gostavam de esportes.
O loiro tinha o braço passado por sobre o ombro da garota a mantendo junto de seu corpo enquanto caminhavam para dentro da festa. Acenou para alguns conhecidos e foram a procura do bar no fundo do salão.
O lugar escolhido para festa era a balada mais popular da cidade e havia sido fechada somente para que Libby pudesse comemorar seu aniversário. O som alto fazia se sentir perdida no meio de tanta gente, mesmo com Victor a segurando firmemente.

Mal percebeu quando ele lhe ofereceu o que deveria ser sua sexta garrafa de cerveja, estava ocupada olhando por cima do ombro e esticando o pescoço para tentar encontrar os amigos no meio da multidão de adolescentes. Já passava de duas da manhã e ainda não tinha esbarrado com nenhum dele.
— Achei engraçado você gostar de futebol. disse que você não era muito chegada. — o loiro falou perto de seu ouvido continuando a conversa que estavam tendo antes dele ir buscar mais uma bebida.
— O que? — perguntou confusa.
disse que você não gostava de futebol. — repetiu um pouco mais alto.
— Mas olhe só, querendo me jogar embaixo do ônibus. O que mais esse amigo da onça falou de mim? — disse em um tom engraçado esperando qualquer resposta boba não o que Victor disse:
— Que você era lésbica.
quase engasgou com a cerveja em sua boca, arregalou os olhos para ele desacreditada da informação.
— Eu sabia que ele estava mentindo, então fui confirmar com sua amiga. — ele riu em seu ouvido e o ar quente, que em qualquer hora teria feito todo seu corpo arrepiar, naquele momento apenas a fez se sentir menor. — Melhor coisa que fiz.
— Por que ele diria algo assim de mim? — a pergunta escapou seus lábios sem que pudesse evitar. O loiro a encarou brevemente e ficou confuso com a expressão chocada no rosto da garota.
— Acho que ele ficou com ciúmes, sei lá. Você não ficou chateada com isso, ficou? Ele não deve ter feito por mal.
A morena não teve tempo de responder, os colegas de time de Victor chegaram para cumprimentar o amigo e usarem a mesa em que estavam encostados para deixar suas coisas. aproveitou a distração do rapaz com a algazarra para procurar os amigos novamente, dessa vez dando a sorte de encontrar os cabelos alaranjados de Luke facilmente no meio daquele monte de gente. Avisou educamente que iria cumprimentar seus amigos rapidamente e logo voltaria para aproveitarem a noite.

A simples visão de sorridente conversando com os amigos com uma cerveja na mão a enfureceu ainda mais. Não conseguia pensar em um único motivo plausível para ele deliberadamente sair inventando um boato maldoso sobre a melhor amiga. Pior do que isso, como ele teve o sangue frio de falar isso para Victor mesmo sabendo que ela definitivamente teria interesse no rapaz. Anna já havia feito um esforço sobre-humano para acalmá-la por ele ter esquecido do aniversário de dez anos de amizade deles. Garotos esquecem as coisas fácil, foi o que a irmã de disse no topo de sua pose de psicologa. tentou encaixar isso em sua cabeça com muito esforço, mas nada no mundo a faria entender o boicote que tentou lhe fazer.
Luke foi o primeiro a vê-la chegando e logo a puxou pelos ombros fazendo graça como sempre:
— Vocês gostaro? Porque eu amaro! — Luke gritou afetadamente fazendo uma pose engraçada que fez a morena rir mesmo contra sua vontade, logo empurrando o garoto para dar um oi decente para a melhor amiga e então se virando para que a encarava com um sorriso bobo no rosto.
— Você está… Deslumbrante. — elogiou . Por um breve segundo ela esqueceu sua fúria e deu um sorriso igualmente bobo como resposta, gostava quando o amigo reparava nela como uma garota de verdade, mas logo tratou de se recompor, precisava tirar um assunto a limpo com ele.
— Obrigada. Posso conversar com você rapidinho, ? — sua voz soou um pouco dura demais, o que fez Luke e Anna trocarem um olhar assustado.
— Claro.

se deixou ser arrastado até um canto mais afastado e escuro. Em outras circunstâncias ele até pensaria em ficar animado com a possibilidade de algo a mais acontecer, mas a conhecia bem demais para não ter interpretado seu olhar irritado lhe atingindo certeiro.
A observou se encostar contra a parede e cruzar os braços logo abaixo dos seios os fazendo marcar no decote e sendo emoldurados pelas ondas de cabelo que caiam por seus ombros, o que foi o suficiente para fazê-lo repetir um mantra mental para conseguir resistir a tentação de olhar para baixo. Resolveu focar firmemente nos olhos azuis que tentavam lhe queimar com a força do pensamento e tentar esquecer o quão especialmente linda ela estava aquela noite.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou depois que a garota passou quase um minuto inteiro só o encarando com a sobrancelha erguida numa tentativa bem sucedida de intimidá-lo.
— Você falou para o Victor que eu sou lésbica? — falou alto para se fazer ouvir sobre a música que tocava.
O moreno não soube exatamente o que na sua expressão o entregou, ao menos teve tempo suficiente de negar, abriu sua boca em um ‘O’ perfeito e o socou no peito.
— Eu não acredito numa coisa dessas, ! — gritou irritada — Qual a porra do seu problema?
— Ei, calma aí! — reclamou tentando segurar as mãos da amiga ao perceber que ela iria o atingir novamente — Eu estava só tentando te proteger.
— Me proteger? De que exatamente? De alguém que fosse tentar fazer bullying sobre minha orientação sexual por culpa de um boato que você mesmo inventou?
— Não, não! — ainda a segurava pelas mãos a impedindo de acertar novamente seu peito, estava sentindo os pés começarem a gelar com a ansiedade que chegava — Eu não… Eu não queria que você ficasse de coração partido quando ele não quisesse nada sério com você.
— E achou que a melhor saída não era eu mesma decidir se queria ou não ter meu coração partido por ele. Obviamente tentar me boicotar pareceu brilhante na hora!
— Exatamente! Quero dizer, não! Eu só não queria que ele usasse você e depois te deixasse sozinha.
— Não é sua decisão, . Você não pode simplesmente falar coisas maldosas sobre mim e fingir que fez isso para me proteger. — torceu os próprios pulsos para tentar se soltar do garoto — Além de tudo você conseguiu esquecer nosso aniversário de dez anos. — sua voz aguda chegava a machucar a garganta ao chiar isso — sabe mesmo como evitar que partam meu coração. — pontuou sarcástica finalmente conseguindo se livrar das mãos do amigo.

Foi um breve estalo de entendimento que o acometeu. Finalmente as indiretas e provocações de sua irmã fizeram sentido e todo comportamento estranho de durante aquela semana.
Dez anos.
Dez fodidos anos apaixonado por uma garota que nem sonhava com os sentimentos que escondia e seu presente era deixá-la furiosa graças a uma estúpida crise de ciúmes. Bom trabalho, !
— Me desculpe, , de verdade. Por tudo. Por ter esquecido e ter falado aquilo para o Victor. Fiquei com ciúmes. — assumiu envergonhado.
A morena estalou os lábios ao compreender a motivação e então a raiva se dissipou tão rápida quanto veio. Garotos sempre serão garotos, ouviu a voz de sua mãe dizendo no fundo de sua cabeça.
— Não precisa ficar com ciúmes, . — disse entre um sorriso doce, tocando em seu ombro como se o confortasse. Jamais o deixaria por qualquer pessoa que fosse. — Você sempre vai ser meu melhor amigo, não importa o que aconteça, ninguém vai roubar seu espaço no meu coração.

Foi como uma queda livre de cima de um prédio de vinte andares e acertar o chão sem qualquer proteção, quase pode ouvir perfeitamente o som de seu próprio coração partindo. O olhar complacente que ela o dava fez toda bebida que havia ingerido se revoltar dentro de si.
Eu não quero ser seu amigo, quero te beijar. Era o que gostaria de poder gritar isso bem em sua cara.
— Você não entendeu, . — disse afastando a mão da garota de seu ombro — Não fiquei com ciúmes porque achei que ele fosse roubar minha melhor amiga. Fiquei com ciúmes porque sei que ele vai roubar a minha garota sem que eu possa fazer nada.
Assistiu os olhos de crescerem a sua frente assustados com a revelação e seu passo vacilante para trás tomando mais espaço. E guiado por seu instinto bêbado tomou um passo mais a frente fazendo-a ficar presa entre ele e a parede.
— É uma tortura pra mim te ter ao meu lado todos os dias e não poder chamar de minha. Como eu deveria me sentir, ? Huh?! Você me abraça e tudo que eu quero é poder te beijar. — o fluxo de palavras saia de si sem que pudesse controlar, nem sequer podia ligar para a expressão chocada no rosto da morena — Você queria comemorar dez anos de amizade, mas pra mim são dez anos que eu sou apaixonado por aquela garotinha banguela com a mochila da Barbie e nunca tive coragem de falar.

— O que você quer que eu faça? — a pergunta era retórica, mas o desespero que a garota ouviu na voz dele a fez se contorcer por dentro.
Havia percebido alguns sinais ao longo dos anos, mas preferiu ignorar e acreditar que eram coisas da sua cabeça, afinal a via como sua irmã. E então ela se sentiu mal. Mal por não ter previsto isso. Mal por não sentir o mesmo.
— Me desculpe. Eu não… Eu não sabia. — balbuciou confusa — Não quero te magoar, você sabe que não. E eu te amo tanto, mas… — a voz morreu em sua garganta só de pensar na possibilidade de partir o coração de e perder sua amizade.
— Mas?
— Mas eu não sou apaixonada por você. — completou em um sopro de coragem sentindo o próprio coração partir de tristeza ao ver os olhos do amigo se anuviarem. — Me desculpe.
Ele apenas ofereceu um sorriso triste e levantou os ombros, como se aceitasse a derrota. Em um impulso ficou na ponta dos pés e lhe deu um selinho rápido e saiu sem dizer mais nada, deixando , seu coração partido e prêmio de consolação para trás.

Não soube dizer quanto tempo ficou no canto parado olhando para o nada apenas sentindo os lábios formigarem onde haviam encontrado com os de . Só percebeu quando Luke o sacudiu pelo ombro obrigando a olhá-lo.
— Cara, o que aconteceu? A acabou de ir embora com uma cara muito estranha, nem deu tchau pra gente. — perguntou preocupado.
— Eu falei tudo pra ela.
— Tudo o que, moleque?
— Tudo, Luke. E ela me rejeitou.
O ruivo soltou um “oh” de compreensão e lhe ofereceu um olhar complacente que fez querer socá-lo na boca. Não queria que os outros sentissem pena do pé na bunda que havia levado, ele só queria poder escapar vinte anos para o futuro e saber se aquela sensação horrível no peito um dia passaria. Porque o que mais lhe deixava mal não era a rejeição em si e sim o medo de perder a amizade da garota para sempre. Conviver com sem ela ser sua era algo que já estava mais do que acostumado, mas não conviver com seria um verdadeiro inferno.
— Estraguei tudo, Luke. Eu devia ter ficado quieto. — murmurou choroso.
— E ter morrido com a dúvida? — o ruivo arremedou — Bem, ela não te quer… Que pena! Mas agora você sabe disso, . Sabe que você não está dentro do coração dela daquele jeito. Agora você pode partir pra outra sem ficar com esse “e se” martelando na sua cabeça, cara. Porque você sabe que esses “e se” matam a gente aos poucos.
— Eu nunca vou estar dentro do coração dela, não é?
Luke deu um sorriso amistoso passando o braço por cima dos ombros do amigo, lhe dando um abraço desajeitado.
— Nunca é tempo demais, né? Melhor deixar o tempo fazer seu trabalho. — disse o puxando em direção ao bar onde Annabelle os esperava — E melhor ainda é fazer isso enquanto toma um porre pra anestesiar essa bunda chutada.
riu apesar de lhe faltar humor para qualquer coisa e deixou Luke o guiar para a maior bebedeira de todos seus dezessete anos de vida.
Lembrava vagamente de no final da noite estar chorando abraçado a uma lata de lixo antes de o arrastarem para dentro de casa e o largarem desajeitado no sofá. De um borrão que julgava ser seu amigo largar um balde ao seu lado para evitar qualquer acidente.
— Luke?! — grunhiu no alto de sua embriaguez — Luke!
— Que é, caralho?!
— Ela pode não me amar, isso é fato. Mas cara eu preciso dizer que sua conversa motivacional melhorou muito, eu tô muito melhor cara. Tô nem sentindo meu coração doer mais! Quem precisa estar dentro de mesmo? Pfff… — resmungou babando na almofada do sofá o que fez Annabelle gargalhar ao lado de Luke e o mandar dormir logo.

Já na cozinha Anna e Luke dividiam um suco sentados na bancada conversando aos sussurros.
— Você acha que um dia ela vai perceber que também gosta dele? — Luke perguntou bebericando do copo.
— Às vezes é melhor a gente se acostumar com a ideia de que alguns amores não foram feitos para serem correspondidos do que ficar alimentando essa ilusão de que ela vai mudar de ideia. É como entrar num trem pra lugar nenhum, qual o ponto de ficar perdendo tempo com algo que já foi negado? — deu ombros com um sorriso triste pelo irmão em seu rosto. Luke por outro lado a encarava surpreso e então deu um sorriso bobo.
— Minha namorada é a Oprah Winfrey de Goldsprings e eu nem sabia.
Annabelle apenas o empurrou pelo ombro contendo o riso. Quando deitaram para dormir pediu silenciosamente para Deus que seu irmão se recuperasse logo do coração partido e conseguisse alguém que o amasse como ele merecia.
Pediu por alguém que tivesse espaço para guardá-lo com carinho dentro de si.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.




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