Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

É engraçado, agora que eu paro para pensar, como nossas perspectivas sobre o amor mudam quando estamos maduros o suficiente para entender como a vida funciona. Durante a infância, nós tencionamos a imaginar que vamos encontrar o “amor das nossas vidas” na primeira oportunidade, e que vai ser um amor épico, algo arrebatador e intenso, culminando num felizes para sempre. Talvez seja porque é o que nós vemos nos livros de romance, nos filmes… E todos eles pintam o amor de cor de rosa. Não mostram o quanto dói ter um coração quebrado. Como você se sente tão vazio e sem esperança. E, principalmente, como demora até que você se sinta bem de novo. Se sinta você de novo, na verdade. Acima de tudo, nós não estamos esperando ser rejeitados, e, deixe eu te dizer, isso machuca.

Eu nunca fui uma garota ingênua. Observar os seus pais brigarem o tempo inteiro, as palavras duras que eles atiravam um ao outro… Isso faz você desacreditar que um sentimento tão bonito exista. Na minha cabeça, era algo semelhante a uma criatura mítica. É, o amor era um mito. Mas então eu conheci ele. .

Aconteceu há alguns meses. Por acaso.

É importante saber que o trabalho da minha mãe implicava diversas viagens, ela tinha de estar numa cidade diferente a cada oito ou dez meses, e eu a seguia. Era uma faca de dois gumes. A ideia parece tentadora, ganhar tantos recomeços, não se importar com as opiniões alheias porque, afinal, em alguns meses, não veria mais aquelas pessoas, porém isso também significava que eu nunca conseguia estabelecer uma amizade duradoura, eu era sempre a “garota nova”. Não deveria me acostumar com isso, mas me acostumei.

Certo. . Também conhecido como o meu vizinho. Eu e a minha mãe fomos até a escola, ela já tinha feito algumas ligações para garantir a minha matrícula e precisava apenas preencher a papelada, mesmo assim eu já via os estudantes me observando curiosos, um burburinho que eu odiava. Não gostava de ser o centro das atenções. Quando nós finalmente voltamos para nossa casa nova, levando mais algumas caixas para dentro, eu o avistei. Foi a primeira vez.

Naquele final de tarde, sempre que penso sobre esse momento, lembro como ele estava lindo. O cabelo comprido, jogado para trás em displicência, as roupas amassadas e a testa franzida. Era óbvio que ele estava preocupado com algo. Então, como se tivesse percebido que eu o estava encarando, ele ergueu o olhar, aqueles olhos azuis tão bonitos, uma sobrancelha erguida e as feições mergulhadas numa confusão genuína. Eu acenei, engolindo a timidez, e ele sorriu, acenando de volta. Juro que até hoje é o sorriso mais lindo que eu já vi. E eu não acreditava em amor à primeira vista, ou no amor, sinceramente, mas não podia negar que tinha ficado balançada com o pequeno gesto.

Dias depois, quando a mudança já tinha acabado, a bagunça de móveis, roupas e utensílios já estava organizada, ele bateu na minha porta para se apresentar. Tinha até uma torta de maçã nas mãos, uma oferta de boas vindas. Consigo saborear a emoção que senti no momento, tão animada que o convidei para entrar e comer um pedaço comigo. Nunca tinha ficado assim antes, as palmas das mãos suadas, o coração acelerado. Era esquisito.

Fiz um café pra gente, ele sentado na pequena mesa da cozinha. Nós conversamos tanto naquele dia. Eu descobri que ele gostava do mesmo estilo de música que eu, que tinha assistido praticamente todos os meus documentários preferidos e que, além dos detalhes amenos, não se sentia intimidado pelos meus comentários ácidos. Na verdade, ele os respondia à altura. Era estranho, tinha certeza disso, só que existia algo de tão certo na nossa dinâmica.

Mais tempo passou.

Entrementes, nós nos tornamos amigos inseparáveis, sempre rindo juntos, conversando sobre bobagens. Era uma conexão forte. Eu nunca tinha tido um amigo assim. E o tanto que ele me melhorava… Eu seria para sempre grata por ele sempre me estimular a sair da minha zona de conforto.

Sendo filha única e com todo o contexto de ser uma “estranha” em qualquer tipo de grupinho de amigos, fiquei um pouco acanhada quando ele perguntou se eu não queria conhecer os amigos dele. No entanto, toda insegurança desapareceu rápido, aquela cidade parecia encantada. Mágica.

Liam e Elliot eram perfeitos cavalheiros comigo, me apertando em abraços sempre que me viam. As garotas, Brooklyn, Amber e Lydia, também estavam felizes de me integrar ao grupinho deles. De acordo com elas, tinha tido muitas desventuras num curto período de tempo e que a minha presença melhorou o humor dele imensuravelmente. Me recordo de ter sentido algo aparentado a borboletas no estômago, porque ele também tinha sido bom para mim. E, vindo de uma pessoa que não conseguia criar laços tão facilmente, esse feito era muito significativo.

Com tudo isso, não foi exatamente uma surpresa que nós começamos a sair um tempo depois. tinha sido tão adorável quando me perguntou se ele poderia me chamar para um encontro, gaguejando um pouco quando disse que não como melhores amigos. Que ele não me queria só como uma melhor amiga. Não conseguiria dizer não nem se quisesse. Não sei se foi ali que eu percebi que durante esse tempo todo eu estava me enganando quando dizia para mim mesma que eu o via como um irmão mais velho. Acho que nunca o vi assim.

Deve ser óbvio que tudo desabou. Existia um detalhe que ele falhou em me contar: ele tinha uma namorada. Bem, tecnicamente, eles não estavam mais juntos. Antes mesmo de eu chegar à cidade, Kimberly Hudson viajou para outro país num programa de intercâmbio. Pelo que a Brooklyn me contou, eles decidiram que era melhor terminar o namoro enquanto ela não estava mais aqui, que não fazia sentido tentar longa distância, mas que tentariam resolver as coisas quando ela voltasse. E isso o tinha deixado completamente quebrado, uma vez que era apaixonado por ela desde criança. Kimberly era o amor da vida dele.

Existe algo sobre estar apaixonado por alguém que os livros de romance nunca te contam: um dia eles vão quebrar seu coração. Não importa quanto tempo demore, um dia vai acontecer. Eu só não pensei que doeria tanto. Ouvir que ele amava alguém que não era eu… Estilhaçou meu coração. Eu queria que ele amasse a mim, que escolhesse a mim! Não uma garota que o deixou para trás na primeira oportunidade.

Só que não era a minha escolha para tomar e eu não queria estar no meio de uma relação tão complicada, então eu fiz o que me pareceu evidente: fugi. Algumas vezes você tem que abandonar antes que você seja abandonada.

Consegui ver nos olhos dele, aquele tom de azul que eu tinha uma adoração inefável, a confusão. Que ele não estava totalmente curado ou pronto para tomar uma decisão. Saí da casa dele apressada e já faz duas semanas desde então. tentou ligar, tentou mandar mensagem, mas eu era teimosa. Não importava a dor descomunal que eu estava sentindo, não ia abrir mão da minha dignidade.

Agora, com as mãos no volante, olhando para a entrada da casa dele, eu tinha desistido de ser forte. Contemplei, na noite anterior, como eu não queria ser o tipo de pessoa que não lutava pelo que ela quer. E foi a primeira vez que eu percebi que o amava. Mais do que eu pensava que um dia ia amar alguém. Ele também me amava, tinha certeza disso, mesmo que eu estivesse em segundo lugar. Eu precisava tentar. Ficar no “e se” ia me consumir inteira.

Respirei fundo, reuni todos os gramas de coragem que tinha e saí do carro. A escuridão do lado de fora tornou possível perceber que as luzes da sala de estar estavam acesas, a viatura do pai dele não estava lá, então só podia significar que era ele quem estava ali. De pé, em frente à porta de madeira, dei duas batidas fracas, suor começando a empapar minhas roupas. Enquanto esperava por alguma resposta, pensei em como era estranho estar tão nervosa em ver alguém que me dava tanta tranquilidade.

“Você esqueceu as chaves de novo, pai?” disse, numa meia risada, antes do seu rosto se fechar em choque. “? O que é que você tá fazendo aqui?”

“Eu… Eu vim para conversar, se estiver tudo bem com você.”

“Ah… Claro.” Ele se afastou, abrindo uma brecha para que eu pudesse entrar. “Vem, entra, por favor.”

Entrei silenciosamente, o olhar treinado no carpete como se isso fosse me ajudar a não me sentir tão ansiosa. Não ajudou. Meu coração ainda batia com força contra as minhas costelas e eu sentia o suor escorrer nas minhas costas. Essa conversa não ia ser fácil, conseguia perceber que ele estava tenso. Eu entendia, a última vez que nos vimos, eu não tinha sido gentil.

fechou a porta e nós dois fomos para a sala de estar juntos, num silêncio esmagador que ele não se importou de quebrar. Depois de sentados no confortável sofá, numa distância considerável, eu finalmente me forcei a olhar para ele. Externamente, ele continuava o mesmo. Tinha deixado a barba crescer, fora isso, continuava tão bonito quanto eu lembrava. Ainda mais, se isso era possível. Só que quando você conhece alguém tão bem quanto eu o conhecia, você meio que percebe as pequenas coisas. Por exemplo, ele estava repuxando o tecido da barra da camisa, balançando a perna. Ele estava nervoso. Nunca tinha sido bom em ocultar as emoções.

Sorri fraca com o pensamento.

“O que é que você quer de mim?” Ele finalmente perguntou, me queimando viva com um único olhar. “Eu honestamente-”

“Cala a boca.” Soltei, sem filtros, endireitando a minha postura. “Eu vou falar e você me ouvir, estamos claros?”

“Eu tenho alguma escolha?”

“Não.”

“Certo.” Umedeci os lábios. “Eu te falei que não queria estar num relacionamento complicado, não queria te separar da sua ‘alma gêmea’. A Brooklyn me contou tudo, e eu me senti tão mal, sabe? De ficar no meio disso tudo. Mas que merda, , eu não posso mentir para mim mesma. Eu te amo e isso provavelmente é a pior coisa que você deve ter ouvido hoje.”

…”

“Sh.” O silenciei, colocando minha mão no joelho dele. “Eu percebi que eu não quero desistir de você, nunca. Acho que se eu não te tiver, o amor vai estar completamente fora de questão para mim. E eu quero que você me escolha. Que você me ame também.”

“Eu queria te dar uma resposta melhor, eu juro, mas…”

“Não vou te pressionar. Só vim até aqui para te dizer que não acabou para mim. O que nós tivemos nesses meses, eu nunca tive com mais ninguém antes e eu não estou disposta a ceder sem lutar.” suspirou, colocando a mão quente sobre a minha. “Só me diz que você vai pensar sobre isso antes de decidir voltar para ela.”

“Pelo amor de Deus, eu não tenho pensado em outra coisa. Desde o dia que eu te vi ir embora, não consigo pensar em mais nada. Ponderando o tempo todo se eu deveria escolher alguém que eu amei, que fez parte de toda a minha vida, ou a pessoa que me ajudou a colar os pedacinhos do meu coração quebrado. Você me ensinou que é possível amar alguém do nada, tão rápido. Te amar me faz sentir como se eu estivesse voando. E é por isso que eu não sei. Porque eu amo as duas.”
“A questão é, quem você ama mais?”

Antes de me levantar, eu me inclinei para beijar a bochecha dele e, sem dar uma oportunidade de réplica, eu desapareci pela porta da frente, com mais esperança do que tinha quando eu estava dentro do meu carro, decidindo se iria até ele ou não.

Uma semana se passou desde que eu o tinha visto. Era esquisito o tanto que eu estava esperando por uma resposta. Todas as vezes que o meu celular vibrava, eu esperava que fosse ele me ligando ou mandando uma mensagem. Quando a campainha tocava. Até mesmo quando alguém pegava no meu braço na escola. Porém ele não tinha me contactado. E, no domingo, que marcava o oitavo dia, decidi que a escolha dele estava clara. Não era eu.

Estar apaixonada por ele tinha me arruinado de formas que eu não conseguia descrever com acurácia. Mas eu não podia parar a minha vida por causa disso, então eu escolhi me focar na escola, me jogar de cabeça em algo que eu tinha controle. Estava sentada no sofá da sala, com um notebook no colo, e pesquisando sobre escritores chave do ultrarromantismo. Tinha uma redação para escrever sobre o período para amanhã e não tinha tido nenhuma sorte até agora.

Com um suspiro, decidi que um pouco de café me ajudaria a pensar melhor. Antes mesmo que eu pudesse chegar lá, entretanto, ouvi a campainha soar, anunciando a chegada de alguém. E alguém apressado, porque tocaram umas quatro vezes seguidas.

“Quem é?” Gritei, andando até a porta.

“Sou eu, .”

“Ah, espera um segundo.”

estava de pé na porta da minha casa, tremendo de frio por estar ensopado com a chuva torrencial que caía, e arfando, como se tivesse corrido até ali, o que poderia ser verdade considerando a situação.

“Você tá maluco?” Perguntei, o puxando para dentro. “Você pode ficar doente assim.”

“Eu precisava falar com você.”

“Tá, mas primeiro você precisa trocar de roupa. Eu acho que tem umas roupas do meu pai, vou buscar para você, tá?”

“Espera.”

Ele tinha um sorriso estampado, segurando o meu pulso com delicadeza.

“O quê?”

“É você.” Disse, as mãos molhadas e geladas agarrando minhas bochechas, me trazendo para mais perto. “Eu fui um idiota, não te dei o meu todo, mas se você ainda me quiser, eu vou passar o resto da minha vida tentando compensar por todo esse inferno que eu te fiz viver.”

Sem hesitar um segundo sequer, eu uni os nossos lábios, me arrepiando com o contraste de temperatura. Eu senti tanta falta disso, dos lábios rosa pressionados gentilmente nos meus, das mãos explorando os meus quadris, massageando sem pressa. Eu senti falta dele em geral. Da ponta do nariz na minha bochecha, dos cabelos caindo no meu rosto, dos sorrisos entre cada beijo. Tudo.

Alguns momentos depois nos separamos, as respirações ainda entrecortadas, testas coladas. Eu ri baixinho quando ele escondeu o rosto no vão do meu pescoço, a barba pinicando a pele sensível.

“O amor nunca vai estar fora de questão quando o assunto é você.”

“Não diga coisas que você não pode garantir que são verdade.”

“Te garanto que é verdade.” Os dentes mordiscaram, leve, o meu pescoço, eu já estava toda molhada por causa da nossa proximidade, a água sendo absorvida pelo tecido do meu moletom. “Eu te amo muito mais do que planejei. E eu sinto muito que demorou tanto tempo para eu perceber.”

“Bem, meu amor, eu também te amo.” Com um sorrisinho no rosto, o empurrei para trás um pouquinho para roubar mais um beijo.

“Agora a gente pode compensar o tempo perdido lá em cima? No seu quarto, de preferência. Naquela cama de solteiro.” Malícia toma as feições dele. “E depois no chão. Contra a parede…”

!” Arregalei os olhos enquanto me rendia a uma risada alta.

“O quê? Não vai me dizer que você não estava pensando.” Ele me impulsionou para cima, minhas pernas se enrolando ao redor da cintura, enquanto ele nos levava para o primeiro andar onde o meu quarto estava. “Você queria me tirar dessas roupas. Não negue.”

“Porque você está molhado!” Argumentei. “E agora eu também.”

“Eu sei a melhor maneira de consertar isso.” piscou, rindo em seguida.

Naquele instante não consegui evitar de pensar que apesar de todos os altos e baixos, de todas as minhas descrenças, eu tinha conseguido encontrar alguém para amar. E eu estava completa sozinha, mas ele me fazia transbordar.


FIM



Nota da autora: Sem nota.

Nota da scripter: Quero começar dizendo que eu gostei muito da sua escrita. Muito fluida e gostosa de ler, me passou todas as emoções da personagem principal e eu fiquei aqui torcendo muito pela felicidade dela.
Aaaaa que coisa mais fofa esse final! Eu adorei o fato de ela dizer que estava completa sozinha. Achei perfeito!
Parabéns pela fic. ♥

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