Finalizada em: 25/10/2021

Capítulo Único

“...He was oh so into me
Seems like things are meant to be
But I don't know” 🎶



Eram meados de setembro na agitada cidade de New York, os tons amarelos, vermelhos e laranjas misturavam-se em uma perfeita harmonia pela cidade e assim como as folhas das árvores caiam ou se transformavam, o calor incessante desaparecia também. Aquela era uma das estações mais bonitas e a favorita de Soprano, a garota de cabelos claros, jeans e moletom parada a alguns minutos em frente a livraria pública na Fifth Avenue.
A estação era linda, mas não naquele dia.
, ou apenas “”, como gostava de ser chamada, jamais havia ficado tão perdidamente confusa quanto nos últimos dias e, por mais que ela tentasse, sua mente cismava em castigá-la ao lembrar do que tinha acontecido há poucos dias.
E, por esse motivo, por um milésimo de segundo, repensou se deveria ou não seguir adiante e adentrar naquela biblioteca para finalmente dar sequência a mais um de seus planos malucos. Depois de respirar fundo, a jovem quase optou pela primeira opção, afinal, ela era uma Soprano, não era? E “todo aquele medo bobo” não fazia parte de seu perfil, mas, apesar de seus pais terem a ensinado desde cedo como lidar com cada obstáculo que sua vida agitada pudesse oferecer, desde o maldito dia em que seus lábios quase tocaram os de , todos os seus planos de permanecer sendo “inabalável” falharam miseravelmente, um por um.
Certo, , se seus pais estivessem mortos agora, eles estariam se revirando no túmulo por isso. Pensou a garota, rindo de si mesma por ainda estar naquele “impasse” de entrar ou não. Aquilo tudo era um grande saco e, assim como as borboletas em seu estômago denunciavam seu nervosismo, todo ambiente ao seu redor premeditava algum tipo de catástrofe, o frio de doer a alma e aquele tempo cinza escuro incomum para a estação, talvez não fossem um “bom presságio”, mas ela era persistente e a maldita curiosidade cismava em persegui-la também e, então, ela finalmente abriu a porta. O som repentino da velha campainha, posicionada logo acima da porta de entrada da biblioteca, havia servido como um perfeito estopim para que ela voltasse à realidade ao qual se encontrava.
Don't freak out, it's okay…
Ao adentrar por completo no local, reconheceu de imediato a pequena senhora de óculos e cabelos grisalhos atrás do balcão de madeira polido, era a mesma bibliotecária que sempre encontrava quando tinha folga dos ensaios e podia aproveitar um bom e velho amigo livro. Aquele sem dúvidas, era um dos seus pontos de paz.
Quando passou pela senhora, sorriu com lábios fechados e, após encher novamente seu pulmão de ar, andou a passos largos até um dos melhores aconchegos daquele lugar, mas, apesar de já ter feito aquele percurso milhões de vezes, quase vacilou pensando qual caminho deveria seguir, afinal, quanto mais o tempo passava, mais próxima ela ficava do “encontro” com e lidar com um coração acelerado por conta de um garoto, não era uma de suas habilidades.
Por fim, xingou mentalmente mais uma vez antes de se perder por completo entre as prateleiras.
Após alguns minutos vasculhando algo do seu interesse, para se distrair durante o tempo livre, sentou-se sobre o assento confortável e sutil da janela. Do lado de fora, o céu começava a castigar a cidade. Ainda assim, diferentemente do lado de fora, dentro da biblioteca o clima era ameno e, por um milésimo de segundo, a garota se permitiu fechar os olhos e absorver toda a essência daquele local.
Segurava o livro preso ao peito, como se fosse um objeto sagrado e, instantaneamente, o som dos pingos de chuva do lado de fora, preencheram seus ouvidos, servindo como um perfeito transmissor de alívio. A sensação de paz não acabava ali, pelo contrário, o cheiro peculiar dos livros era característico e aquela sensação era quase tão boa quanto quando a garota estava sobre algum palco e assim como em qualquer apresentação, estar naquele meio, fazia com que o seu coração se acalmasse e ela torcia para que o aroma servisse como uma máquina do tempo de sensações, afinal, bastava apenas alguns poucos segundos para que os aromas fizessem reviver experiências, tanto boas, quanto ruins.

Flashback on
Inspira, respira, inspira, respira. Mentalmente ela repetia o mantra enquanto esperava o sinal. As luzes do anfiteatro permaneciam sutis, enquanto as do palco estavam apagadas, mas, mesmo assim, ela sabia exatamente aonde ir. Era a última apresentação do dia e havia apenas mais alguns segundos antes da última música da disputa entre corais começar.
De um lado do palco, suas duas melhores amigas estavam à sua direita, , seu irmão, estava de prontidão à esquerda junto ao melhor amigo dele e ela, como o de costume, estava sobre o centro. Do outro, na mesma sequência se encontravam os outros alunos. Sua academia havia se preparado para aquele momento a meses e, sabendo da capacidade de todos, duvidava muito que algo não saísse como o esperado e, quando as vozes dos backing vocals se fizeram presente e a luzes estrategicamente planejadas acenderam-se no palco, a melodia de “Don’t Stop Believin” preencheu o todo ambiente.
esperava sua deixa, ela estava plenamente preparada para aquele momento, amava dançar, amava atuar e, acima de tudo, amava cantar. Então, respirou fundo deixando transparecer sua felicidade e, quando a voz do cantor principal da academia rival e consequentemente “seu par” naquela apresentação, começou a soar a primeira parte da música em seus ouvidos, ela jamais imaginou que pudesse se conectar tanto com alguém que até pouco tempo atrás, odiava.
Sempre haviam sido inimigos, eram sempre “” contra “Soprano”, a “RAB” (Academia Real da Broadway) contra a “BSA” (Academia Estrelas da Broadway) e, quando os representantes figurões da competição informaram que ambas as escolas deveriam se juntar para uma avaliação final, ela não tinha ideia do que aconteceria.
E eles realmente haviam desempenhado um ótimo papel de “Rachel Berry e Finn Hudson”, inclusive no “quase beijo” ao final da música. Isso fazia com que ganhassem pontos com os jurados, além do talento, deveriam demonstrar atração, domínio e acima de tudo, paixão. Mas, quando os aplausos cessaram e as luzes se apagaram, todos os veteranos se apressaram para deixar o local. Menos os dois. Permaneceram alguns segundos ali, naquela mesma posição, tão próximos um do outro que que podia sentir o cheiro gostoso de hortelã vindo do hálito de , mal percebeu que estavam com a respiração ofegante e os olhos fixos para os lábios um do outro.
Foi então que por uma obra do destino, em um momento de pura euforia, pegou-a pela mão e a puxou para um abraço que aos poucos, deu lugar para todos os seus outros colegas.
Flashback off

O cara de vestes molhadas, passava a mão pelo cabelo escuro, na tentativa inútil de evitar que esse grudasse em sua testa, ele era alto, pele clara e a característica física de seu rosto mesmo vista de lado, denunciava que não era americano. Andava apressadamente pela chuva, xingando baixinho por ter esquecido o guarda-chuva e sentindo falta do sol e a grama verdinha do verão.
O caminho para a biblioteca não era particularmente longo, porém, foi suficiente para que ficasse totalmente encharcado durante o percurso, mas mesmo com toda aquela chuva tomando sua atenção, ainda conseguia sentir a barriga agitar ao lembrar da garota. Quando recebeu a carta de aceitação da RAB, achou que nada poderia ser melhor do que aquele dia, até que conheceu em uma apresentação de boas-vindas da academia rival. A garota era linda, determinada, talentosa e com o certo “Q” de arrumar problemas e, apesar dos dois viverem em constante provocação, ela era admirável.
Ele apenas não admitiria aquilo em voz alta.
Mas, quando ficou tão próximo da garota, sentiu todo o seu corpo arrepiar-se ao simples olhar dela e aos poucos tudo foi ficando cada vez mais sem sentido na vida do garoto. Eram raros os motivos que o faziam ter desinteresse total em ensaiar alguma coisa nova. Mas (por que sempre tem que haver um “mas”?), desde o final da competição, parece que as únicas coisas que prendiam sua total atenção eram os lábios, olhos e o sorriso de Soprano. Agora, enquanto as folhas do outono começavam a trocar de cor, ele ainda só conseguia pensar no calor e na euforia que emanava de seus corpos naquele dia.
Foi aí que ele soube que estava perdido.
Pensou por muito tempo se deveria seguir adiante com os planos que carregava consigo, lembrava-se do jeito doce e ao mesmo tempo sensual dela, do seu olhar e do amor que compartilhavam pela música e instantaneamente soube que estava no caminho certo. Quando a chuva deu uma pequena trégua, ele já estava em frente a porta do local, torceu um pouco de suas roupas e chacoalhou o cabelo antes de abrir a porta. Ele ouviu o ressoar de um sino tocar quando adentrou e não foi surpresa alguma quando recebeu um olhar reprovador da bibliotecária por estar encharcado.
Mas antes que pudesse se explicar, sentiu um olhar sobre si e ao se virar, as irises marcantes de , estavam fixas nele. O ar lhe faltou por um momento e permaneceu sem reação por mais alguns segundos, naquela mesma posição, na tentativa de estimular seu corpo a fazer algo que não fosse um total absurdo e então o som da campainha de entrada novamente ressoou e fez com que o garoto não pensasse duas vezes antes de se aproximar de e a puxar delicadamente pela mão até o lado de fora, ao canto do olhar conseguiu ver que a garota sorria, o sorriso mais lindo que já vira.
E foi então que mal percebeu que a chuva havia voltado a cair, assim como que aproveitou aquele momento perfeito para pôr em prática o que viera de fato, fazer.
— Você sabe que tudo vai mudar depois disso, não sabe? - questionou o garoto frente a frente a .
— Eu sei, mas você, mais do que ninguém, sabe que não me importo. - ela sorriu antes de segurar o rosto de delicadamente e finalmente, selar seus lábios.
Foi então que, esqueceram-se do nervosismo, esqueceram-se da chuva e de todas as brigas que já haviam tido. Naquele momento, e só queriam viver e aproveitar aquele momento juntos, sem se importar com o amanhã e o que falariam para seus colegas no outro dia.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

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