Prólogo
olhava para os lados sem saber exatamente como começar. A timidez associada ao nervosismo, que sempre apareciam nos momentos mais inoportunos, já haviam tomado conta de seu corpo, e a vontade que tinha era de sair correndo de cima do palco. Se fosse um bruxo, teria aparatado para longe há muito tempo. Nesse momento, passou a questionar todas as decisões que o fizeram acreditar que era capaz de ficar ali, na frente de toda a escola, cantando. Por Deus! Por que ninguém o havia impedido de fazer essa loucura?
O público, por sua vez, já se olhava confuso, não entendendo a demora do rapaz para começar a cantar. O senhor Gonzáles tinha feito menção de ir até o aluno para questionar se estava tudo bem, mas foi impedido por Oliver, que torcia para que o amigo conseguisse continuar por si só, sem a intervenção do professor. O menino já tinha feito a sua apresentação, uma espécie de monólogo que tinha achado na internet. Embora não tivesse sido excepcional, acreditava que tinha conseguido uma boa nota, que era o seu único objetivo.
Respirando fundo para tentar se acalmar, olhou para as pessoas que o encaravam com uma incontida ansiedade, esperando a sua apresentação. Pensou nos seus pais, que estavam em algum lugar do ginásio, orgulhosos do filho. Pensou em Oliver, seu melhor amigo, que tinha sido o seu maior incentivador desde que havia contado o que planejava. E pensou nela. A responsável por fazê-lo ignorar seu medo de plateias e, assim, sair de sua zona de conforto para inovar no que poderia ser apenas um simples trabalho de espanhol. A única que causava efeitos tão fortes em si, que as típicas borboletas e mãos suadas já eram reações conhecidas, que abraçava com naturalidade. E, talvez por destino, ou por uma mera coincidência do acaso, foi o olhar dela que encontrou, em meio a um mar de alunos, quando finalmente teve forças para olhar para frente. De onde estava, não conseguia observar com clareza as vestes ou o que a menina tinha feito com o cabelo, mas conseguiu ver algo que era muito mais importante para si: o seu sorriso. sorria largo, como sempre sorriu para ele, mostrando o seu apoio do modo mais sincero que conseguiu. Os polegares para cima eram a sinalização de que ela acreditava na capacidade dele de fazer tudo o que quisesse, do jeito que sempre tentou deixar claro.
estava ali por ele. Como sempre esteve. E como sempre estaria. Com isso, apenas sorriu de volta, um sorriso mais contido, mas com a mesma sinceridade que lhe era direcionada. Finalmente, sentiu-se encorajado a continuar. Assim, arrumando o violão em suas mãos e ajustando o microfone para a sua altura, ele começou.
O público, por sua vez, já se olhava confuso, não entendendo a demora do rapaz para começar a cantar. O senhor Gonzáles tinha feito menção de ir até o aluno para questionar se estava tudo bem, mas foi impedido por Oliver, que torcia para que o amigo conseguisse continuar por si só, sem a intervenção do professor. O menino já tinha feito a sua apresentação, uma espécie de monólogo que tinha achado na internet. Embora não tivesse sido excepcional, acreditava que tinha conseguido uma boa nota, que era o seu único objetivo.
Respirando fundo para tentar se acalmar, olhou para as pessoas que o encaravam com uma incontida ansiedade, esperando a sua apresentação. Pensou nos seus pais, que estavam em algum lugar do ginásio, orgulhosos do filho. Pensou em Oliver, seu melhor amigo, que tinha sido o seu maior incentivador desde que havia contado o que planejava. E pensou nela. A responsável por fazê-lo ignorar seu medo de plateias e, assim, sair de sua zona de conforto para inovar no que poderia ser apenas um simples trabalho de espanhol. A única que causava efeitos tão fortes em si, que as típicas borboletas e mãos suadas já eram reações conhecidas, que abraçava com naturalidade. E, talvez por destino, ou por uma mera coincidência do acaso, foi o olhar dela que encontrou, em meio a um mar de alunos, quando finalmente teve forças para olhar para frente. De onde estava, não conseguia observar com clareza as vestes ou o que a menina tinha feito com o cabelo, mas conseguiu ver algo que era muito mais importante para si: o seu sorriso. sorria largo, como sempre sorriu para ele, mostrando o seu apoio do modo mais sincero que conseguiu. Os polegares para cima eram a sinalização de que ela acreditava na capacidade dele de fazer tudo o que quisesse, do jeito que sempre tentou deixar claro.
estava ali por ele. Como sempre esteve. E como sempre estaria. Com isso, apenas sorriu de volta, um sorriso mais contido, mas com a mesma sinceridade que lhe era direcionada. Finalmente, sentiu-se encorajado a continuar. Assim, arrumando o violão em suas mãos e ajustando o microfone para a sua altura, ele começou.
Capítulo 1
Quinze anos antes
estava assustado. Por mais que aquele local fosse extremamente colorido, com alguns brinquedos bastante divertidos espalhados por todo o espaço, a presença de todas aquelas crianças fazia com que o pequeno garoto tivesse o anseio de sair correndo de volta para o carro de seus pais. era uma criança tímida, ao contrário do irmão mais velho, que não podia ver outro ser humano que começava a acenar e mandar beijinhos. Colin sempre fora exibido. Os seus pais costumavam falar que todo o descaramento da família havia ido para o menino, que aos quatro anos já era o maior xodó das professoras e dos coleguinhas de classe. Mas não era assim. O menino não costumava encarar outras pessoas por muito tempo e sempre corava quando alguém perdia mais de alguns segundos olhando para ele. O pequeno possuía alguns amigos que eram filhos de conhecidos de sua família, mas nunca havia tido a iniciativa de conversar com eles por si só, muito pela dificuldade que ainda tinha em formular algumas palavras. só tinha três anos, então não entendia o porquê dos risos que gerava quando falava alguma palavra extremamente complicada para o seu ser infantil. Ele só sabia que não gostava nadinha dessa sensação e que tinha certa vontade de chorar sempre que algum adulto desconhecido vinha apertar as suas bochechas depois de ouvi-lo dizer “aunitorrinco”. Era irritante, na sua concepção, mesmo que ainda não soubesse distinguir com certeza a natureza desse sentimento.
Como uma soma de tudo isso, o pequeno estava agarrado às pernas da sua mãe, com um bico de choro e os olhos lacrimejantes, enquanto pedia incessantemente para voltar para casa.
— Pufavor, mamãe! — O menino implorou, apertando o tecido da calça jeans da mãe com seus dedos pequenos. — Quero ir embora.
Rachel, mãe de , sentiu o coração apertar ao ver os olhos tristes do filho mais novo. A verdade era que aquele momento estava sendo difícil tanto para o filho quanto para a mãe. Na vez de Colin, no ano anterior, a mulher sentiu que sofreu sozinha, uma vez que o menino havia apenas dado um beijo na bochecha da mãe e um na bochecha do pai para, então, sair correndo para dentro da mesma sala em que hoje deixavam , sem ao menos olhar para trás e ver os pais se debulhando em lágrimas. Mas, como gostavam de mostrar dia após dia, os irmãos, embora tivessem a mesma criação, divergiam muito em suas personalidades.
— Michael, por favor! — Olhou suplicante para o marido, que tentava focalizar em qualquer outro ponto que não fosse o seu garotinho choroso. O homem tinha a plena certeza de que se olhasse para o filho por mais de um minuto, o pegaria no colo e o levaria para fazer o que fosse necessário para trazer de volta o seu sorriso. tinha muito da personalidade do pai, que era tão tímido e introvertido quanto o garoto, por isso o homem sempre tentava o proteger das adversidades que o mundo real trazia.
— Você não acha que pode estar cedo demais para colocarmos ele na escola, Rach? — perguntou o homem, tirando as mãos do filho da calça da esposa e tomando para si em seus braços — Talvez estejamos sendo precipitados e ele ainda não esteja pronto para isso — falou arrumando o menino em seus braços, que agora se aninhava no pescoço do pai, com os vestígios de lágrimas ainda no rosto.
— O Colin começou a estudar nessa mesma época, Michael! — rebateu a mulher, olhando pelo cômodo em busca de alguma professora que pudesse socorrê-la. — Não podemos atrasar o , pode ser prejudicial para ele — falou, bufando em seguida. — Será que não tem nenhum adulto disponível neste lugar? — reclamou ao perceber que os responsáveis pela sala de aula ali presentes estavam conversando com outros pais, ocupados demais para virem socorrer a pequena família.
Por conta disso, distraídos em sua própria bolha, os três s não notaram a presença de uma quarta pessoa, que apenas se fez notar ao cutucar gentilmente a cintura de Rachel.
— Licença — disse a criança, com uma voz tímida, que combinava perfeitamente com as feições de menina meiga que estampavam em seu rosto infantil. A menina era franzina e bastante pequena, além de possuir um par de trancinhas que eram uma febre entre as garotinhas da época. Além disso, provando-se ser mais encantadora, a menina ainda exibia um grande e aberto sorriso, que ressaltava uma covinha na bochecha esquerda.
— Pois não, querida? — Foi a matriarca quem respondeu, em um tom leve, abaixando-se para poder ficar na mesma altura da garota.
— Ele tá bem? — inquiriu preocupada, apontando para que ainda estava agarrado ao pescoço do pai. Ao ouvir a pergunta, Rachel sorriu, pensando que essa seria a primeira amiguinha de na nova escola.
— Ele só está um pouquinho assustado, sabe? — respondeu a mulher, em tom de quem contava um segredo — Qual o seu nome, meu anjo? — questionou em seguida, ao perceber que a menina havia franzido o cenho ao ouvir que estava assustado. Para ela, aquele dia estava sendo muito legal e divertido, mesmo que não fizesse mais do que alguns minutos desde que os seus pais haviam deixado ela e o primo no local. Então ela não entendia o que o menino tanto temia ali.
— É — falou simplesmente. — E aquele ali é o meu primo, o Oliver. — Apontou para o menino atrás de si, que se divertia com um conjunto de blocos, não ligando muito para a ausência da prima.
— Que nome lindo, igual à dona! — disse carinhosa, sorrindo leve ao ver que as bochechas da mais nova estavam coradas. — O nome dele é . — Apontou para o filho, que ainda parecia indiferente à presença da outra criança.
— Nome legal! — respondeu animada, olhando mais uma vez para o menino, ainda encolhido. — Posso falar com ele? — perguntou um pouco relutante. Seus pais já a haviam alertado sobre o fato de ela, por vezes, ser intrusiva demais, coisa que poderia desagradar algumas pessoas. Por mais que os pais de achassem improvável alguém ser explicitamente rude com uma criança tão nova, temiam pelos sentimentos da filha perante alguns adultos mal humorados.
— Claro que sim! — afirmou, aproximando-se do filho, que ainda estava no colo de Michael. — ? — Chamou baixinho, pegando a atenção do menino para si. — Tem uma amiguinha querendo falar com você. — Continuou de forma suave, acariciando a bochecha gordinha dele.
— Não quero, mamãe — respondeu contrariado, voltando a enterrar o rosto no pescoço do pai.
— , por favor. — Pediu Michael, tentando ajudar a esposa e recebendo mais uma negativa em resposta. Suspirando, o homem olhou para Rachel, que balançou a cabeça em negação, sem saber como acalmar o filho.
— ? — Uma voz fininha o chamou, aproximando-se sorrateiramente da família. — Você sabia que eu tenho toda uma coleção de bonequinhos do miranha? — disse meio embolada, vendo que o tênis do menino era do super herói citado. — Se a gente fosse amigo, eu podia te mostrar um dia… — continuou, mexendo nas trancinhas do cabelo, de forma persuasiva. Após ouvir a fala da menina, Rachel e Michael se entreolharam ansiosos, sabendo que a maior paixão do filho era o Homem Aranha e, de algum modo, a menina conseguiu acertar a maneira de chamar a sua atenção.
— O quê?! — Virou-se rapidamente, quase caindo do colo do pai e fazendo com que mais um sorriso largo surgisse no rosto de — É sério?
— Eu não minto! — falou cruzando os braços, mas ainda com um sorriso nos lábios — Posso te mostrar um dia, se quiser!
— Eu posso ver, papai? — perguntou animado, nem parecendo que há poucos segundos estava em um pranto inconsolável.
Contudo, antes mesmo que Michael respondesse, tomou a frente novamente, lembrando de um detalhe importante.
— Você nem disse se quer ser meu amigo, ! — falou de um jeito bastante incisivo para uma criança de três anos. — Mamãe disse que só posso levar amigos para a minha casa. — Explicou, vendo o menino a olhar engraçado. Meio confuso com a situação, fez força para sair do colo do pai, sendo rapidamente colocado no chão pelo mais velho. Ao se ver no chão, ainda relutante, olhou para os pais em dúvida, vendo-os fazendo gestos de incentivo com as mãos. Mesmo que sentisse que deveria permanecer em seu drama infantil, a proposta da menina parecia muito interessante para ele, que se sentia muito tentado a aceitar.
— Ok, podemos ser amigos. — Afirmou após alguns segundos de dúvida, aproximando-se da menina, que aumentou o sorriso para ele — Mas me chame de . Só os meus pais me chamam de . — falou em uma careta, o que fez com que os seus pais segurassem a risada.
— Então me chame de . — Rebateu, vendo o assentir. Assim, a garota puxou o menino para um abraço, assustando-o levemente pelo gesto repentino. era extremamente extrovertida e carinhosa e logo perceberia isso.
O garoto estranhou o toque de início, mas rapidamente relaxou ao sentir os braços curtinhos da menina o envolvendo.
— Agora somos amigos. — Anunciou ao soltá-lo, já segurando uma das mãos do menino e o guiando até Oliver, que sorriu ao ver a aproximação das duas crianças. — Esse é meu primo. — Apresentou rapidamente, pegando alguns dos blocos ali dispostos e oferecendo para — Quer montar um castelo com a gente? — Convidou, vendo o garotinho acenar positivamente.
Inesperadamente, tinha parecido esquecer toda a timidez e o medo que o dominavam desde que tinha entrado na escolinha. Por alguma razão, a presença de o deixava bastante à vontade, o que fazia com que seus pais sentissem um grande alívio os dominar. Não parecia ser um mero interesse em bonecos do Homem Aranha, mas sim que uma amizade bonita crescia ali.
— Você acha que eles serão realmente amigos? — perguntou Michael, observando as crianças de longe.
— Eu tenho certeza. — Afirmou a mulher, com o coração mais leve ao perceber que o filho estaria em boas mãos. Se pudesse apostar, diria que e seriam inseparáveis.
estava assustado. Por mais que aquele local fosse extremamente colorido, com alguns brinquedos bastante divertidos espalhados por todo o espaço, a presença de todas aquelas crianças fazia com que o pequeno garoto tivesse o anseio de sair correndo de volta para o carro de seus pais. era uma criança tímida, ao contrário do irmão mais velho, que não podia ver outro ser humano que começava a acenar e mandar beijinhos. Colin sempre fora exibido. Os seus pais costumavam falar que todo o descaramento da família havia ido para o menino, que aos quatro anos já era o maior xodó das professoras e dos coleguinhas de classe. Mas não era assim. O menino não costumava encarar outras pessoas por muito tempo e sempre corava quando alguém perdia mais de alguns segundos olhando para ele. O pequeno possuía alguns amigos que eram filhos de conhecidos de sua família, mas nunca havia tido a iniciativa de conversar com eles por si só, muito pela dificuldade que ainda tinha em formular algumas palavras. só tinha três anos, então não entendia o porquê dos risos que gerava quando falava alguma palavra extremamente complicada para o seu ser infantil. Ele só sabia que não gostava nadinha dessa sensação e que tinha certa vontade de chorar sempre que algum adulto desconhecido vinha apertar as suas bochechas depois de ouvi-lo dizer “aunitorrinco”. Era irritante, na sua concepção, mesmo que ainda não soubesse distinguir com certeza a natureza desse sentimento.
Como uma soma de tudo isso, o pequeno estava agarrado às pernas da sua mãe, com um bico de choro e os olhos lacrimejantes, enquanto pedia incessantemente para voltar para casa.
— Pufavor, mamãe! — O menino implorou, apertando o tecido da calça jeans da mãe com seus dedos pequenos. — Quero ir embora.
Rachel, mãe de , sentiu o coração apertar ao ver os olhos tristes do filho mais novo. A verdade era que aquele momento estava sendo difícil tanto para o filho quanto para a mãe. Na vez de Colin, no ano anterior, a mulher sentiu que sofreu sozinha, uma vez que o menino havia apenas dado um beijo na bochecha da mãe e um na bochecha do pai para, então, sair correndo para dentro da mesma sala em que hoje deixavam , sem ao menos olhar para trás e ver os pais se debulhando em lágrimas. Mas, como gostavam de mostrar dia após dia, os irmãos, embora tivessem a mesma criação, divergiam muito em suas personalidades.
— Michael, por favor! — Olhou suplicante para o marido, que tentava focalizar em qualquer outro ponto que não fosse o seu garotinho choroso. O homem tinha a plena certeza de que se olhasse para o filho por mais de um minuto, o pegaria no colo e o levaria para fazer o que fosse necessário para trazer de volta o seu sorriso. tinha muito da personalidade do pai, que era tão tímido e introvertido quanto o garoto, por isso o homem sempre tentava o proteger das adversidades que o mundo real trazia.
— Você não acha que pode estar cedo demais para colocarmos ele na escola, Rach? — perguntou o homem, tirando as mãos do filho da calça da esposa e tomando para si em seus braços — Talvez estejamos sendo precipitados e ele ainda não esteja pronto para isso — falou arrumando o menino em seus braços, que agora se aninhava no pescoço do pai, com os vestígios de lágrimas ainda no rosto.
— O Colin começou a estudar nessa mesma época, Michael! — rebateu a mulher, olhando pelo cômodo em busca de alguma professora que pudesse socorrê-la. — Não podemos atrasar o , pode ser prejudicial para ele — falou, bufando em seguida. — Será que não tem nenhum adulto disponível neste lugar? — reclamou ao perceber que os responsáveis pela sala de aula ali presentes estavam conversando com outros pais, ocupados demais para virem socorrer a pequena família.
Por conta disso, distraídos em sua própria bolha, os três s não notaram a presença de uma quarta pessoa, que apenas se fez notar ao cutucar gentilmente a cintura de Rachel.
— Licença — disse a criança, com uma voz tímida, que combinava perfeitamente com as feições de menina meiga que estampavam em seu rosto infantil. A menina era franzina e bastante pequena, além de possuir um par de trancinhas que eram uma febre entre as garotinhas da época. Além disso, provando-se ser mais encantadora, a menina ainda exibia um grande e aberto sorriso, que ressaltava uma covinha na bochecha esquerda.
— Pois não, querida? — Foi a matriarca quem respondeu, em um tom leve, abaixando-se para poder ficar na mesma altura da garota.
— Ele tá bem? — inquiriu preocupada, apontando para que ainda estava agarrado ao pescoço do pai. Ao ouvir a pergunta, Rachel sorriu, pensando que essa seria a primeira amiguinha de na nova escola.
— Ele só está um pouquinho assustado, sabe? — respondeu a mulher, em tom de quem contava um segredo — Qual o seu nome, meu anjo? — questionou em seguida, ao perceber que a menina havia franzido o cenho ao ouvir que estava assustado. Para ela, aquele dia estava sendo muito legal e divertido, mesmo que não fizesse mais do que alguns minutos desde que os seus pais haviam deixado ela e o primo no local. Então ela não entendia o que o menino tanto temia ali.
— É — falou simplesmente. — E aquele ali é o meu primo, o Oliver. — Apontou para o menino atrás de si, que se divertia com um conjunto de blocos, não ligando muito para a ausência da prima.
— Que nome lindo, igual à dona! — disse carinhosa, sorrindo leve ao ver que as bochechas da mais nova estavam coradas. — O nome dele é . — Apontou para o filho, que ainda parecia indiferente à presença da outra criança.
— Nome legal! — respondeu animada, olhando mais uma vez para o menino, ainda encolhido. — Posso falar com ele? — perguntou um pouco relutante. Seus pais já a haviam alertado sobre o fato de ela, por vezes, ser intrusiva demais, coisa que poderia desagradar algumas pessoas. Por mais que os pais de achassem improvável alguém ser explicitamente rude com uma criança tão nova, temiam pelos sentimentos da filha perante alguns adultos mal humorados.
— Claro que sim! — afirmou, aproximando-se do filho, que ainda estava no colo de Michael. — ? — Chamou baixinho, pegando a atenção do menino para si. — Tem uma amiguinha querendo falar com você. — Continuou de forma suave, acariciando a bochecha gordinha dele.
— Não quero, mamãe — respondeu contrariado, voltando a enterrar o rosto no pescoço do pai.
— , por favor. — Pediu Michael, tentando ajudar a esposa e recebendo mais uma negativa em resposta. Suspirando, o homem olhou para Rachel, que balançou a cabeça em negação, sem saber como acalmar o filho.
— ? — Uma voz fininha o chamou, aproximando-se sorrateiramente da família. — Você sabia que eu tenho toda uma coleção de bonequinhos do miranha? — disse meio embolada, vendo que o tênis do menino era do super herói citado. — Se a gente fosse amigo, eu podia te mostrar um dia… — continuou, mexendo nas trancinhas do cabelo, de forma persuasiva. Após ouvir a fala da menina, Rachel e Michael se entreolharam ansiosos, sabendo que a maior paixão do filho era o Homem Aranha e, de algum modo, a menina conseguiu acertar a maneira de chamar a sua atenção.
— O quê?! — Virou-se rapidamente, quase caindo do colo do pai e fazendo com que mais um sorriso largo surgisse no rosto de — É sério?
— Eu não minto! — falou cruzando os braços, mas ainda com um sorriso nos lábios — Posso te mostrar um dia, se quiser!
— Eu posso ver, papai? — perguntou animado, nem parecendo que há poucos segundos estava em um pranto inconsolável.
Contudo, antes mesmo que Michael respondesse, tomou a frente novamente, lembrando de um detalhe importante.
— Você nem disse se quer ser meu amigo, ! — falou de um jeito bastante incisivo para uma criança de três anos. — Mamãe disse que só posso levar amigos para a minha casa. — Explicou, vendo o menino a olhar engraçado. Meio confuso com a situação, fez força para sair do colo do pai, sendo rapidamente colocado no chão pelo mais velho. Ao se ver no chão, ainda relutante, olhou para os pais em dúvida, vendo-os fazendo gestos de incentivo com as mãos. Mesmo que sentisse que deveria permanecer em seu drama infantil, a proposta da menina parecia muito interessante para ele, que se sentia muito tentado a aceitar.
— Ok, podemos ser amigos. — Afirmou após alguns segundos de dúvida, aproximando-se da menina, que aumentou o sorriso para ele — Mas me chame de . Só os meus pais me chamam de . — falou em uma careta, o que fez com que os seus pais segurassem a risada.
— Então me chame de . — Rebateu, vendo o assentir. Assim, a garota puxou o menino para um abraço, assustando-o levemente pelo gesto repentino. era extremamente extrovertida e carinhosa e logo perceberia isso.
O garoto estranhou o toque de início, mas rapidamente relaxou ao sentir os braços curtinhos da menina o envolvendo.
— Agora somos amigos. — Anunciou ao soltá-lo, já segurando uma das mãos do menino e o guiando até Oliver, que sorriu ao ver a aproximação das duas crianças. — Esse é meu primo. — Apresentou rapidamente, pegando alguns dos blocos ali dispostos e oferecendo para — Quer montar um castelo com a gente? — Convidou, vendo o garotinho acenar positivamente.
Inesperadamente, tinha parecido esquecer toda a timidez e o medo que o dominavam desde que tinha entrado na escolinha. Por alguma razão, a presença de o deixava bastante à vontade, o que fazia com que seus pais sentissem um grande alívio os dominar. Não parecia ser um mero interesse em bonecos do Homem Aranha, mas sim que uma amizade bonita crescia ali.
— Você acha que eles serão realmente amigos? — perguntou Michael, observando as crianças de longe.
— Eu tenho certeza. — Afirmou a mulher, com o coração mais leve ao perceber que o filho estaria em boas mãos. Se pudesse apostar, diria que e seriam inseparáveis.
Capítulo 2
Dez anos antes
— Vamos, ! Não precisa ter medo. — A menina incentivou, vendo o olhar de receio no rosto do amigo. — Do chão você não passa!
— Muito bom o incentivo, . — Oliver debochou, vendo as feições assustadas de aumentarem após a fala da garota. O menino estava um pouco distante, arrumando o boné que usava com certa dificuldade, visto que o acessório parecia levemente desproporcional para si. — Ele agora está verde de medo! — Apontou, bufando levemente ao perceber que não conseguiria colocar o boné do modo que desejava.
— Porque é besta! — Cruzou os braços, indo para debaixo de uma árvore. Era verão e o sol escaldante já incomodava os mais novos, que aproveitaram uma tarde de férias para andarem de bicicleta. Só existia apenas um pequeno obstáculo: não sabia andar sem as rodinhas.
Dias antes, os pais de tinham ensinado ela e o primo a conduzirem a bicicleta sozinhos. Embora tivessem alguns ralados devido às quedas constantes que acabaram levando por serem iniciantes, ambos já conseguiam se equilibrar bem o bastante nas duas rodas ao ponto de ensinarem o amigo. Não que concordasse muito com isso. e Oliver nunca seriam exímios professores e a breve idade já era o suficiente para explanar isso. Mas o garoto não queria ficar de fora das brincadeiras dos melhores amigos, sendo o único a não saber andar na bicicleta sem apoios. Muito menos depender de Colin para aprender algo. Apesar de amar o irmão, o menino era extremamente impaciente, o que transformava e Oliver nos instrutores mais capacitados para tal função, mesmo estando longe do ideal.
A opção mais óbvia eram os seus pais, mas Rachel e Michael estavam em uma rotina muito frenética em seus trabalhos, chegando em casa extremamente exaustos para cogitarem ensinar o filho mais novo a andar de bicicleta. Que sorte a dele. Por esse motivo, lá estavam eles. Prestes a integrar ao clube dos ralados.
— Calem a boca, por favor! — finalmente interveio, após observar os amigos começarem uma discussão sobre a natureza dos seus medos. — Eu preciso de calma, ou não vou conseguir pedalar sem cair! — disse com os pés ainda no chão, sentindo as mãos levemente trêmulas e pouco capazes de segurar o guidão.
Um pouco chocados com a fala repentina do , os primos se olharam por um instante, confusos acerca da postura que deveriam seguir para auxiliar o amigo. Por fim, deram de ombros em conjunto, decidindo que era mais proveitoso atuar em dupla para, assim, evitar assustar ainda mais, visto que o menino já demonstrava sinais de querer desistir.
— Desculpe, . — Pediu , fazendo uma careta ao sair da sombra para se aproximar do amigo. — Vamos te ajudar, ok? — Avisou ela, indo para a parte de trás do veículo para que pudesse dar o equilíbrio necessário que precisava.
Ao ver que a situação era um pouco mais complicada do que parecia, ela sinalizou para Oliver, que logo correu até os amigos para ajudar com o apoio. Para , esse ato pareceu levemente exagerado. Afinal, era realmente necessário três pessoas — incluindo ele — para apoiarem uma única bicicleta? Todavia, estava assustado demais para negar qualquer ajuda ofertada.
— Agora você monta e tenta pedalar, . — Instruiu ela, ainda servindo de base para a bicicleta. — Eu vou estar te segurando aqui atrás.
— Mas eu vou cair! — falou tenso, com os pés bem firmes no chão. — Isso não vai dar certo…
— Pare de ser tão pessimista, ! — ralhou, limpando uma gota de suor que descia por sua testa devido ao tempo abafado. — Se nós conseguimos, você também consegue!
— Mas eu não quero ficar todo machucado igual a vocês! — reclamou mais uma vez, apontando para o joelho de Oliver, que era quem estava mais próximo a si. — Acho melhor tentarmos outro dia… — disse temeroso, fazendo menção de descer do veículo e guiar os amigos para outra atividade.
Contudo, antes que pudesse ter êxito no que pretendia, o garoto sentiu uma mão delicada segurar seu cotovelo, o que fez com que virasse o torso para trás. Sentindo certo desconforto pela posição, viu levantar de onde estava, após perceber que o amigo estava bem apoiado no solo e não possuía riscos de tombar para um dos lados.
— Você sabe que nós estamos aqui para te ajudar, certo?! — Olhou rapidamente para Oliver, fazendo o menino apoiá-la em sua fala. — Se você não quiser tentar hoje, não tem problema. De verdade! — Ressaltou ao vê-lo fazer uma careta de descrença. — Nós podemos brincar de outra coisa. Papai trouxe uns jogos diferentes na última viagem dele e podemos jogá-los — falou animada, com os olhos levemente fechados devido à forte presença do sol. — O que acha?
parou por um instante, sem responder imediatamente ao questionamento da amiga. Mesmo sem tocá-la, tinha a certeza de que a sua cabeça estava bastante quente devido aos intensos raios solares. O seu corpo já estava levemente grudento e molhado por causa de todo o suor que estava expelindo. Além disso, uma incômoda sede também começava a aparecer, mostrando que o verão não era muito bem-vindo por ele e que a sua vontade maior era voltar para casa e ir tomar uma limonada gelada. Mas algo no rosto da amiga fazia com que ele se sentisse confortável o suficiente para querer ficar ali. E foi essa sensação que o fez negar com a cabeça e criar uma feição confusa no rosto de . Vendo que ela ia falar algo, ele a interrompeu, explicando a sua vontade:
— Eu vou tentar — falou ainda assustado, mas com mais coragem. — Mas não riam de mim se eu cair! — Exigiu, em uma careta engraçada. A resposta de , por sua vez, fez com que Oliver e abrissem largos sorrisos e se animassem novamente com a aventura.
— Você não vai cair, relaxa! — Oliver garantiu, tentando aumentar a confiança do amigo e recebendo acenos positivos de , que voltou para a posição que estava anteriormente.
Mas caiu. Não só uma, mas várias vezes. Também ganhou alguns arranhões e marcas vermelhas e levemente doloridas pelo corpo. Contudo, a cada nova queda e ralado que surgiam, ele recebia o apoio de e de Oliver, mostrando que eles não iriam abandoná-lo. Nem desta vez, e nem nunca.
— Vamos, ! Não precisa ter medo. — A menina incentivou, vendo o olhar de receio no rosto do amigo. — Do chão você não passa!
— Muito bom o incentivo, . — Oliver debochou, vendo as feições assustadas de aumentarem após a fala da garota. O menino estava um pouco distante, arrumando o boné que usava com certa dificuldade, visto que o acessório parecia levemente desproporcional para si. — Ele agora está verde de medo! — Apontou, bufando levemente ao perceber que não conseguiria colocar o boné do modo que desejava.
— Porque é besta! — Cruzou os braços, indo para debaixo de uma árvore. Era verão e o sol escaldante já incomodava os mais novos, que aproveitaram uma tarde de férias para andarem de bicicleta. Só existia apenas um pequeno obstáculo: não sabia andar sem as rodinhas.
Dias antes, os pais de tinham ensinado ela e o primo a conduzirem a bicicleta sozinhos. Embora tivessem alguns ralados devido às quedas constantes que acabaram levando por serem iniciantes, ambos já conseguiam se equilibrar bem o bastante nas duas rodas ao ponto de ensinarem o amigo. Não que concordasse muito com isso. e Oliver nunca seriam exímios professores e a breve idade já era o suficiente para explanar isso. Mas o garoto não queria ficar de fora das brincadeiras dos melhores amigos, sendo o único a não saber andar na bicicleta sem apoios. Muito menos depender de Colin para aprender algo. Apesar de amar o irmão, o menino era extremamente impaciente, o que transformava e Oliver nos instrutores mais capacitados para tal função, mesmo estando longe do ideal.
A opção mais óbvia eram os seus pais, mas Rachel e Michael estavam em uma rotina muito frenética em seus trabalhos, chegando em casa extremamente exaustos para cogitarem ensinar o filho mais novo a andar de bicicleta. Que sorte a dele. Por esse motivo, lá estavam eles. Prestes a integrar ao clube dos ralados.
— Calem a boca, por favor! — finalmente interveio, após observar os amigos começarem uma discussão sobre a natureza dos seus medos. — Eu preciso de calma, ou não vou conseguir pedalar sem cair! — disse com os pés ainda no chão, sentindo as mãos levemente trêmulas e pouco capazes de segurar o guidão.
Um pouco chocados com a fala repentina do , os primos se olharam por um instante, confusos acerca da postura que deveriam seguir para auxiliar o amigo. Por fim, deram de ombros em conjunto, decidindo que era mais proveitoso atuar em dupla para, assim, evitar assustar ainda mais, visto que o menino já demonstrava sinais de querer desistir.
— Desculpe, . — Pediu , fazendo uma careta ao sair da sombra para se aproximar do amigo. — Vamos te ajudar, ok? — Avisou ela, indo para a parte de trás do veículo para que pudesse dar o equilíbrio necessário que precisava.
Ao ver que a situação era um pouco mais complicada do que parecia, ela sinalizou para Oliver, que logo correu até os amigos para ajudar com o apoio. Para , esse ato pareceu levemente exagerado. Afinal, era realmente necessário três pessoas — incluindo ele — para apoiarem uma única bicicleta? Todavia, estava assustado demais para negar qualquer ajuda ofertada.
— Agora você monta e tenta pedalar, . — Instruiu ela, ainda servindo de base para a bicicleta. — Eu vou estar te segurando aqui atrás.
— Mas eu vou cair! — falou tenso, com os pés bem firmes no chão. — Isso não vai dar certo…
— Pare de ser tão pessimista, ! — ralhou, limpando uma gota de suor que descia por sua testa devido ao tempo abafado. — Se nós conseguimos, você também consegue!
— Mas eu não quero ficar todo machucado igual a vocês! — reclamou mais uma vez, apontando para o joelho de Oliver, que era quem estava mais próximo a si. — Acho melhor tentarmos outro dia… — disse temeroso, fazendo menção de descer do veículo e guiar os amigos para outra atividade.
Contudo, antes que pudesse ter êxito no que pretendia, o garoto sentiu uma mão delicada segurar seu cotovelo, o que fez com que virasse o torso para trás. Sentindo certo desconforto pela posição, viu levantar de onde estava, após perceber que o amigo estava bem apoiado no solo e não possuía riscos de tombar para um dos lados.
— Você sabe que nós estamos aqui para te ajudar, certo?! — Olhou rapidamente para Oliver, fazendo o menino apoiá-la em sua fala. — Se você não quiser tentar hoje, não tem problema. De verdade! — Ressaltou ao vê-lo fazer uma careta de descrença. — Nós podemos brincar de outra coisa. Papai trouxe uns jogos diferentes na última viagem dele e podemos jogá-los — falou animada, com os olhos levemente fechados devido à forte presença do sol. — O que acha?
parou por um instante, sem responder imediatamente ao questionamento da amiga. Mesmo sem tocá-la, tinha a certeza de que a sua cabeça estava bastante quente devido aos intensos raios solares. O seu corpo já estava levemente grudento e molhado por causa de todo o suor que estava expelindo. Além disso, uma incômoda sede também começava a aparecer, mostrando que o verão não era muito bem-vindo por ele e que a sua vontade maior era voltar para casa e ir tomar uma limonada gelada. Mas algo no rosto da amiga fazia com que ele se sentisse confortável o suficiente para querer ficar ali. E foi essa sensação que o fez negar com a cabeça e criar uma feição confusa no rosto de . Vendo que ela ia falar algo, ele a interrompeu, explicando a sua vontade:
— Eu vou tentar — falou ainda assustado, mas com mais coragem. — Mas não riam de mim se eu cair! — Exigiu, em uma careta engraçada. A resposta de , por sua vez, fez com que Oliver e abrissem largos sorrisos e se animassem novamente com a aventura.
— Você não vai cair, relaxa! — Oliver garantiu, tentando aumentar a confiança do amigo e recebendo acenos positivos de , que voltou para a posição que estava anteriormente.
Mas caiu. Não só uma, mas várias vezes. Também ganhou alguns arranhões e marcas vermelhas e levemente doloridas pelo corpo. Contudo, a cada nova queda e ralado que surgiam, ele recebia o apoio de e de Oliver, mostrando que eles não iriam abandoná-lo. Nem desta vez, e nem nunca.
Capítulo 3
Cinco anos antes
encarou em silêncio, sem saber como se pronunciar. A informação que tinha sido jogada em seu colo deixou um gosto amargo na garganta e um enjoo desconfortável já tomava conta de seu estômago. Fazia um tempo que se sentia levemente estranho ao encarar a melhor amiga, passando a reparar mais nos detalhes de seu rosto, na sua risada, no jeito que franzia o nariz quando estava incomodada com algo…
Mas ele gostava de pensar que isso era apenas efeito da puberdade. Claro que ele não estava gostando de . Óbvio que não! Bem, era evidente que ele gostava dela, mas não gostava, gostava, como tinha feito questão de frisar para Oliver mais de uma vez. A garota era apenas a sua melhor amiga. Ele nem tinha idade para se apaixonar! Por mais que treze anos, para alguns garotos, fosse uma idade em que beijos eram corriqueiros, isso não ocorria com . nem conseguia olhar muito tempo para uma menina sem ficar totalmente vermelho e perder toda a sua capacidade de raciocínio e de fala. Era patético, mas ele não sabia agir de uma forma distinta.
Contudo, se o que sentia por estava apenas no âmbito da amizade, por qual motivo ele estava sentindo o seu peito tão apertado ao encará-la?
— Você não vai falar nada? — Ela quebrou o silêncio, mordendo o lábio em ansiedade. — , o Caleb me chamou para sair! — Repetiu, achando que o amigo não tinha ouvido direito. — Semana que vem!
— O que você quer que eu diga? — rebateu, com a voz levemente áspera, arrependendo-se no mesmo momento ao ver a cara surpresa da amiga. — Eu só… — pigarreou, bagunçando levemente os cabelos. — Eu só estou surpreso.
— Não mais do que eu, certamente. — Riu ela, jogando-se na cama de e agarrando uma pelúcia do Charmander. — O meu crush me notou, finalmente! — Deu um gritinho afetado, cobrindo o rosto com um travesseiro de . O ato, por sua vez, a impediu de ver a careta desgostosa que se construiu na face de , que sentia o enjoo em seu estômago aumentar consideravelmente.
— Grande dia — disse ironicamente, afundando-se ainda mais no pufe que estava sentado. Contudo, a menina estava tão extasiada que acabou nem percebendo o timbre do amigo.
— Uma pena que eu não vou poder ir. — Suspirou, tirando o travesseiro do rosto e arrumando a sua postura na cama. A fala de , por sua vez, fez com que desse um pulinho no seu próprio lugar, passando a prestar mais atenção na menina.
— Você não vai? — Questionou confuso, disfarçando o sorriso que queria sair. — Eu pensei que ele fosse o seu crush… — debochou em um arquear de sobrancelha, fazendo referência ao termo utilizado por anteriormente.
— E é. — Assentiu, agarrando a pelúcia de Pokémon novamente. — Mas meus pais não iriam deixar. — Fez uma careta. — Só tenho treze anos, esqueceu?! Sem chances de sair em um encontro sozinha com um garoto. — Fez um biquinho indignado, mas se mostrando já resignada com a situação. — Além disso, eu marquei de assistir Avatar com você. — Ressaltou como se fosse óbvio. — Prioridades, certo?! — Gracejou, jogando o Charmander no rosto de , que não foi rápido o suficiente para desviar do objeto. Todavia, ele nem mesmo fingiu estar bravo com . Não depois de ouvi-la dizer que um encontro trivial com ele era mais importante do que sair com a sua paixão infantil. Ele não queria se sentir um bobão, mas não conseguiu evitar o sorriso torto que estampou seus lábios, o que chamou a atenção da menina.
— Tá sorrindo como um idiota por quê?! — perguntou interessada, tombando o rosto levemente para o lado e vendo o amigo balançar a cabeça em negação, como se minimizasse a sua própria reação.
— Só estou pensando em uma coisa. — Rebateu, encarando-a rapidamente.
— No quê?!
— No quanto você fica com uma cara de idiota quando está curiosa. — Rebateu rapidamente, jogando uma almofada no rosto da menina em vingança pela pelúcia que ela atirou anteriormente. não conseguiu evitar o riso ao ver a cara de choque que fez ao sentir o tecido macio em contato com a sua pele. Por conta disso, ele acabou se distraindo e não a viu levantando rapidamente da cama para pegar algumas almofadas e outras pelúcias que estavam espalhadas pelo quarto.
— Ah, é?! — Devolveu em um desafio, preparando-se para atacar , que olhou surpreso para a menina. — Agora é guerra, então! — Declarou, começando a jogar os objetos no amigo, vendo-o tentar desviar desajeitadamente com os braços.
Não que ele ligasse. A sensação ruim que o dominara anteriormente já havia sumido e ele estava feliz. Recebendo algumas almofadas dolorosas no rosto, mas, ainda sim, feliz.
encarou em silêncio, sem saber como se pronunciar. A informação que tinha sido jogada em seu colo deixou um gosto amargo na garganta e um enjoo desconfortável já tomava conta de seu estômago. Fazia um tempo que se sentia levemente estranho ao encarar a melhor amiga, passando a reparar mais nos detalhes de seu rosto, na sua risada, no jeito que franzia o nariz quando estava incomodada com algo…
Mas ele gostava de pensar que isso era apenas efeito da puberdade. Claro que ele não estava gostando de . Óbvio que não! Bem, era evidente que ele gostava dela, mas não gostava, gostava, como tinha feito questão de frisar para Oliver mais de uma vez. A garota era apenas a sua melhor amiga. Ele nem tinha idade para se apaixonar! Por mais que treze anos, para alguns garotos, fosse uma idade em que beijos eram corriqueiros, isso não ocorria com . nem conseguia olhar muito tempo para uma menina sem ficar totalmente vermelho e perder toda a sua capacidade de raciocínio e de fala. Era patético, mas ele não sabia agir de uma forma distinta.
Contudo, se o que sentia por estava apenas no âmbito da amizade, por qual motivo ele estava sentindo o seu peito tão apertado ao encará-la?
— Você não vai falar nada? — Ela quebrou o silêncio, mordendo o lábio em ansiedade. — , o Caleb me chamou para sair! — Repetiu, achando que o amigo não tinha ouvido direito. — Semana que vem!
— O que você quer que eu diga? — rebateu, com a voz levemente áspera, arrependendo-se no mesmo momento ao ver a cara surpresa da amiga. — Eu só… — pigarreou, bagunçando levemente os cabelos. — Eu só estou surpreso.
— Não mais do que eu, certamente. — Riu ela, jogando-se na cama de e agarrando uma pelúcia do Charmander. — O meu crush me notou, finalmente! — Deu um gritinho afetado, cobrindo o rosto com um travesseiro de . O ato, por sua vez, a impediu de ver a careta desgostosa que se construiu na face de , que sentia o enjoo em seu estômago aumentar consideravelmente.
— Grande dia — disse ironicamente, afundando-se ainda mais no pufe que estava sentado. Contudo, a menina estava tão extasiada que acabou nem percebendo o timbre do amigo.
— Uma pena que eu não vou poder ir. — Suspirou, tirando o travesseiro do rosto e arrumando a sua postura na cama. A fala de , por sua vez, fez com que desse um pulinho no seu próprio lugar, passando a prestar mais atenção na menina.
— Você não vai? — Questionou confuso, disfarçando o sorriso que queria sair. — Eu pensei que ele fosse o seu crush… — debochou em um arquear de sobrancelha, fazendo referência ao termo utilizado por anteriormente.
— E é. — Assentiu, agarrando a pelúcia de Pokémon novamente. — Mas meus pais não iriam deixar. — Fez uma careta. — Só tenho treze anos, esqueceu?! Sem chances de sair em um encontro sozinha com um garoto. — Fez um biquinho indignado, mas se mostrando já resignada com a situação. — Além disso, eu marquei de assistir Avatar com você. — Ressaltou como se fosse óbvio. — Prioridades, certo?! — Gracejou, jogando o Charmander no rosto de , que não foi rápido o suficiente para desviar do objeto. Todavia, ele nem mesmo fingiu estar bravo com . Não depois de ouvi-la dizer que um encontro trivial com ele era mais importante do que sair com a sua paixão infantil. Ele não queria se sentir um bobão, mas não conseguiu evitar o sorriso torto que estampou seus lábios, o que chamou a atenção da menina.
— Tá sorrindo como um idiota por quê?! — perguntou interessada, tombando o rosto levemente para o lado e vendo o amigo balançar a cabeça em negação, como se minimizasse a sua própria reação.
— Só estou pensando em uma coisa. — Rebateu, encarando-a rapidamente.
— No quê?!
— No quanto você fica com uma cara de idiota quando está curiosa. — Rebateu rapidamente, jogando uma almofada no rosto da menina em vingança pela pelúcia que ela atirou anteriormente. não conseguiu evitar o riso ao ver a cara de choque que fez ao sentir o tecido macio em contato com a sua pele. Por conta disso, ele acabou se distraindo e não a viu levantando rapidamente da cama para pegar algumas almofadas e outras pelúcias que estavam espalhadas pelo quarto.
— Ah, é?! — Devolveu em um desafio, preparando-se para atacar , que olhou surpreso para a menina. — Agora é guerra, então! — Declarou, começando a jogar os objetos no amigo, vendo-o tentar desviar desajeitadamente com os braços.
Não que ele ligasse. A sensação ruim que o dominara anteriormente já havia sumido e ele estava feliz. Recebendo algumas almofadas dolorosas no rosto, mas, ainda sim, feliz.
Capítulo 4
Dois anos antes
— Você precisa chamar ela para o baile! — Oliver afirmou, enquanto fechava o seu armário com certa força. O trinco estava danificado há um bom tempo e cada vez mais ficava difícil trancá-lo corretamente. — Não acha que já está na hora de confessar essa sua paixãozinha? — Questionou em um suspiro, após assegurar que o armário estava bem fechado.
— Fala baixo, seu idiota! — repreendeu em uma voz estrangulada, puxando o amigo para seguir junto a si em direção ao refeitório. Certamente, a algazarra dos demais alunos sufocaria o som da conversa de ambos.
Era o horário do almoço e os estudantes já começavam a se amontoar nos corredores, deixando o caminho, além de barulhento, extremamente complicado para que Oliver e atravessassem sem esbarrar em nenhum distraído.
— Se a escutasse a nossa conversa, era um favor que eu te fazia! — Oliver disse arrumando a alça de sua mochila, que tinha sido bagunçada após trombar com um grupinho de garotas. — Faz mais de três anos que você sofre em silêncio, !
— Eu não sofro em silêncio! — Rebateu indignado, entrando no refeitório e olhando rapidamente as mesas para ver se estava na que eles costumavam se sentar. — E eu nem sei do que você está falando. Eu não gosto da desse jeito. — Desconversou, mesmo sabendo que seria perda de tempo. O melhor amigo já tinha ciência de seus sentimentos e ficava indignado quando o garoto se fazia de desentendido quando era confrontado. Embora respeitasse o tempo de , Oliver defendia que negar a paixão que sentia era mais doloroso. Desse modo, o menino assistia em silêncio os relacionamentos em que se envolvia, não podendo expressar todo o seu descontentamento com o fato.
— Acredite no que te fizer feliz, mate. — Oliver suspirou, entrando na fila da comida e pegando uma bandeja para servir. Felizmente, a fila estava pequena e logo os rapazes poderiam se sentar para comer. — Mas depois não reclama quando ela aparecer com outro.
— Claro que não vou reclamar. — Negou, seguindo os passos do amigo. — Você que viaja com essa história de que eu sou apaixonado pela . — Falou mais baixo, olhando rapidamente para os lados a fim de conferir se a amiga não estava por perto para ouvi-lo, suspirando aliviado ao perceber que não.
— Que bom saber disso, . — Oliver falou ironicamente, pegando uma maçã e um sanduíche. — Porque eu acabei de ver o Ian aos risos com a . — Declarou, apontando para a pilastra localizada ao lado do final da fila da comida. — Mas você não se importa, não é?!
parou por um momento, olhando fixo para o local que Oliver tinha apontado, sem reação. Como o amigo tinha dito, sorria abertamente para Ian Carrington, o capitão do time de futebol. Poderia ser mais clichê do que isso?, pensou amargurado. O garoto tinha um dos braços apoiados na pilastra, enquanto que com o outro fazia um carinho de leve na cintura da menina, que jogava o cabelo para trás de modo distraído. De onde estava, não podia ouvir o assunto da conversa, mas era óbvio que se tratava de um flerte. era bastante popular na escola. Apesar de não estar dentro de nenhuma das inúmeras equipes esportivas da escola, como de natação ou o grupo de líderes de torcida, o seu jeito expansivo e descontraído fazia com que as pessoas se apaixonassem rapidamente por ela. Além disso, o fato de ser prima de Oliver, que era o wide receiver do time do colégio, também a colocava em bastante evidência. Também colocava o próprio , que tentava ignorar os holofotes e era o único dos três amigos que fugia da popularidade.
— Não, não me importo. — Mentiu, apressando-se para se servir após receber um cutucão de um menino que estava atrás dele. — Ela é livre para fazer o que quiser — falou mais baixo, ao se verem próximos à . A menina, ao perceber a presença dos amigos, deixou um beijo na bochecha de Ian em despedida e, na sequência, saiu dando pulinhos até chegar ao lado deles, rumando em grupo até a mesa que costumavam sentar.
— Olá, homens da minha vida — disse animada, abraçando lateralmente os dois meninos, que tiveram reações diferentes ao senti-la tão perto. Enquanto Oliver abriu um sorriso que se dividia entre divertido e irônico, retraiu de leve, nervoso com a proximidade da menina, esta que veio logo após o assunto que debatia com o melhor amigo.
— Oi, . — Oliver respondeu, sentando-se na cadeira após localizar o local desejado e jogando sua mochila no chão. — Muitos pretendentes para o baile? — provocou , que rolou os olhos discretamente enquanto dava uma mordida na sua maçã.
— Alguns. — Admitiu, enquanto roubava algumas batatinhas do prato do primo, recebendo um olhar indignado em resposta. — Mas estou esperando um em específico… — Olhou rapidamente para , que não percebeu por estar distraído com a sua comida.
— Oliver doesn’t share food! — Exclamou em um timbre afetado, fazendo com que a prima rolasse os olhos com tédio e risse de leve. — Mas fale-me mais sobre isso. — Pediu enquanto se inclinava para frente, cutucando o melhor amigo com um dos pés. — Está esperando o convite de quem? — questionou insinuante, arqueando as sobrancelhas de forma caricata.
, por sua vez, fechou o cenho para o primo, sabendo que ele a provocava explicitamente. Se não fosse tão lerdo, certamente perceberia as intenções de Oliver, que não fazia questão de escondê-las. No fundo, o rapaz se divertia ao ver que os dois amigos se gostavam secretamente, sem fazer ideia de que os sentimentos eram recíprocos. Em momentos distintos, ele havia prometido não se meter na relação de e , fato que o fazia se arrepender amargamente. Além disso, por mais que não admitisse, Oliver tinha medo de que os amigos se envolvessem e, por algum motivo, não dessem certo e, assim, acabassem com a amizade de anos. Ele não gostaria de escolher um lado. Sendo bastante franco, ele nem saberia escolher um lado! era sua prima e a sua melhor amiga desde que se entendia por gente, enquanto era o irmão que a vida lhe deu e nunca seria capaz de ficar longe do menino. Ou seja, estava fora de questão selecionar um dos dois em detrimento do outro. Contudo, tinha algo dentro dele que o dizia que não era preciso temer. e não iriam dar errado e, no fundo, ele sabia disso. Por isso, fazia questão de pressioná-los para admitir os seus sentimentos e acabar com toda a aflição envolvendo o assunto. Conselho que era totalmente ignorado pelos dois.
— Não é da sua conta! — falou entredentes, encarando rapidamente , que a olhava de volta, com o cenho franzido. — Mas e vocês, já convidaram alguém? — perguntou levemente ansiosa, assistindo as bochechas de corarem levemente, ao passo que Oliver abria um sorriso malicioso, logo após bufar para a prima que não parava de comer as suas batatinhas. tinha almoçado mais cedo, aproveitando o tempo de aula livre que tinha para comprar algo na lanchonete do colégio. Todavia, aparentemente, a refeição não foi o suficiente e ela continuava com fome.
— Cadê o seu feminismo para supor que alguma menina nos convidou? — Provocou Oliver, rindo ao sentir uma batatinha em sua testa — Ei, comida é sagrada! Sem desperdícios!
— Nenhuma garota seria idiota o bastante para convidar você para o baile, Ollie. — Debochou, recebendo um dedo estirado em resposta. — A tia sabe que você faz esse tipo de gesto para a sua priminha querida? — Ironizou novamente, recebendo um rolar de olhos do primo.
— Os diálogos entre vocês dois são sempre cativantes. — se intrometeu, depois de terminar a sua refeição. Talvez fosse por comer rápido, ou pela enrolação dos amigos, mas o tempo de conversa entre e Oliver foi o suficiente para comer tudo o que estava em sua bandeja, possibilitando, desse modo, que prestasse mais atenção no assunto de ambos. — O senhor Crawford não sabe o que está perdendo ao deixar de analisar essa primorosa amostra do que é o comportamento humano. — Zombou, recebendo também uma batatinha em seu rosto e rindo levemente pela atitude previsível de .
O senhor Crawford era o professor de sociologia do colégio, conhecido por passar situações-problema para que os alunos avaliassem de maneira crítica. Por isso, costumava provocar os primos, sempre reiterando como seria interessante a análise do comportamento deles.
— , eu vou pegar esse pacote de você! Tô falando sério! — Oliver ameaçou, colocando o indicador em riste — Mas vou deixar passar essa porque sempre é bom atirar coisas no . — Deu de ombros, dando uma mordida em seu sanduíche. somente rolou os olhos para o menino, enquanto ria, ainda curiosa com o seu questionamento que não tinha sido respondido.
— Vocês ainda não me responderam! — Insistiu, encarando os dois mais incisivamente, com mais ênfase em . — Já possuem um par?
— Não precisa ficar tão interessada assim sobre mim, . — Oliver tomou a voz novamente, sabendo que iria irritar a prima com mais uma zombaria. — Somos primos e, você sabe… — abriu os braços, como se fosse para provar o seu ponto. — Seria estranho se fôssemos juntos, não acha?!
— Eu não estou interessada no seu par! — Rebateu rapidamente.
— Então, admite que está interessada no par do ? — Riu provocante, batendo nos ombros do amigo e recebendo olhares feios de ambos. — O é um lerdo e não possui nenhum par ainda. Por que não juntam o útil ao agradável e vão juntos? — Sugeriu falsamente inocente, interessado na reação dos amigos frente a isso.
Contudo, como se fosse uma brincadeira maldosa do destino, antes mesmo de ou falarem algo, Ian chegou ao lado da mesa do grupo, segurando o ombro de com delicadeza. O garoto não percebeu o clima levemente tenso que se estabeleceu com a sua presença, focalizando toda a sua atenção apenas para a menina.
— Estamos indo para a aula de inglês agora, você sabe como o Senhor Binns odeia atrasos. — Fez uma careta, enquanto bagunçava o cabelo de modo despretensioso. De fato, a sala de inglês ficava do outro lado da escola e o professor era uma espécie de carrasco, impedindo a entrada de qualquer um que chegasse um ou mais minutos atrasado. — Lewis e Tina já foram. — Fez referência a dois de seus amigos em comum. — Vamos também? — Convidou de forma levemente ansiosa, sentindo-se um pouco constrangido pela presença de e Oliver. Embora fosse o capitão do time de futebol do colégio, o garoto não seguia muito dos estereótipos que Hollywood gostava de explorar em suas tramas. Apesar de ser bastante descontraído com seus amigos, Ian era tímido quando estava na presença de pessoas com quem não compartilhava tamanha intimidade, como era o caso de e Oliver. Mesmo que Ollie também fosse de sua equipe e que os dois se considerassem bons colegas.
— Olha… — começou hesitante, virando o torso para encarar o moreno — É que estávamos falan… — a menina não conseguiu concluir, no entanto, já que se intrometeu no assunto e tomou a voz para si.
— Vai, . Você sabe que o Oliver não vai terminar de comer tão cedo — falou, sinalizando o amigo que ainda mastigava o seu sanduíche. — Você não quer se atrasar, não é?! Nosso próximo horário não é inglês.
— Mas… — tentou protestar, sendo interrompida mais uma vez.
— Depois a gente se fala. — Sorriu levemente, sinalizando outra vez que ela deveria ir com Ian. ainda hesitou por alguns segundos, encarando o amigo em silêncio, mas acabou balançando a cabeça em negação e, em seguida, seguiu junto a Carrington para a saída do refeitório.
— Não fala nada, por favor. — pediu, sem encarar o amigo, sabendo que ele diria algo a respeito do que tinha acabado de presenciar. — Eu entendi o que você quis fazer, mas eu só… — suspirou, fechando os olhos com força. — Eu não estou pronto.
— Você sabe que enquanto você não se prepara o suficiente, tem outros, como o Ian, que estão loucos para tomar o seu lugar, não sabe?! — Oliver alertou, segurando um dos ombros do amigo em sinal de apoio.
— Agora não, Oliver. Sério. — Suspirou novamente, sabendo que o menino estava certo. Mas ele realmente não se sentia preparado para enfrentar a avalanche de sentimentos que lhe assolava quando o assunto era . Não nesse momento. Enquanto isso, só restava a torcer para que nenhum outro fosse capaz de passar na sua frente na luta pelo coração da menina.
— Você precisa chamar ela para o baile! — Oliver afirmou, enquanto fechava o seu armário com certa força. O trinco estava danificado há um bom tempo e cada vez mais ficava difícil trancá-lo corretamente. — Não acha que já está na hora de confessar essa sua paixãozinha? — Questionou em um suspiro, após assegurar que o armário estava bem fechado.
— Fala baixo, seu idiota! — repreendeu em uma voz estrangulada, puxando o amigo para seguir junto a si em direção ao refeitório. Certamente, a algazarra dos demais alunos sufocaria o som da conversa de ambos.
Era o horário do almoço e os estudantes já começavam a se amontoar nos corredores, deixando o caminho, além de barulhento, extremamente complicado para que Oliver e atravessassem sem esbarrar em nenhum distraído.
— Se a escutasse a nossa conversa, era um favor que eu te fazia! — Oliver disse arrumando a alça de sua mochila, que tinha sido bagunçada após trombar com um grupinho de garotas. — Faz mais de três anos que você sofre em silêncio, !
— Eu não sofro em silêncio! — Rebateu indignado, entrando no refeitório e olhando rapidamente as mesas para ver se estava na que eles costumavam se sentar. — E eu nem sei do que você está falando. Eu não gosto da desse jeito. — Desconversou, mesmo sabendo que seria perda de tempo. O melhor amigo já tinha ciência de seus sentimentos e ficava indignado quando o garoto se fazia de desentendido quando era confrontado. Embora respeitasse o tempo de , Oliver defendia que negar a paixão que sentia era mais doloroso. Desse modo, o menino assistia em silêncio os relacionamentos em que se envolvia, não podendo expressar todo o seu descontentamento com o fato.
— Acredite no que te fizer feliz, mate. — Oliver suspirou, entrando na fila da comida e pegando uma bandeja para servir. Felizmente, a fila estava pequena e logo os rapazes poderiam se sentar para comer. — Mas depois não reclama quando ela aparecer com outro.
— Claro que não vou reclamar. — Negou, seguindo os passos do amigo. — Você que viaja com essa história de que eu sou apaixonado pela . — Falou mais baixo, olhando rapidamente para os lados a fim de conferir se a amiga não estava por perto para ouvi-lo, suspirando aliviado ao perceber que não.
— Que bom saber disso, . — Oliver falou ironicamente, pegando uma maçã e um sanduíche. — Porque eu acabei de ver o Ian aos risos com a . — Declarou, apontando para a pilastra localizada ao lado do final da fila da comida. — Mas você não se importa, não é?!
parou por um momento, olhando fixo para o local que Oliver tinha apontado, sem reação. Como o amigo tinha dito, sorria abertamente para Ian Carrington, o capitão do time de futebol. Poderia ser mais clichê do que isso?, pensou amargurado. O garoto tinha um dos braços apoiados na pilastra, enquanto que com o outro fazia um carinho de leve na cintura da menina, que jogava o cabelo para trás de modo distraído. De onde estava, não podia ouvir o assunto da conversa, mas era óbvio que se tratava de um flerte. era bastante popular na escola. Apesar de não estar dentro de nenhuma das inúmeras equipes esportivas da escola, como de natação ou o grupo de líderes de torcida, o seu jeito expansivo e descontraído fazia com que as pessoas se apaixonassem rapidamente por ela. Além disso, o fato de ser prima de Oliver, que era o wide receiver do time do colégio, também a colocava em bastante evidência. Também colocava o próprio , que tentava ignorar os holofotes e era o único dos três amigos que fugia da popularidade.
— Não, não me importo. — Mentiu, apressando-se para se servir após receber um cutucão de um menino que estava atrás dele. — Ela é livre para fazer o que quiser — falou mais baixo, ao se verem próximos à . A menina, ao perceber a presença dos amigos, deixou um beijo na bochecha de Ian em despedida e, na sequência, saiu dando pulinhos até chegar ao lado deles, rumando em grupo até a mesa que costumavam sentar.
— Olá, homens da minha vida — disse animada, abraçando lateralmente os dois meninos, que tiveram reações diferentes ao senti-la tão perto. Enquanto Oliver abriu um sorriso que se dividia entre divertido e irônico, retraiu de leve, nervoso com a proximidade da menina, esta que veio logo após o assunto que debatia com o melhor amigo.
— Oi, . — Oliver respondeu, sentando-se na cadeira após localizar o local desejado e jogando sua mochila no chão. — Muitos pretendentes para o baile? — provocou , que rolou os olhos discretamente enquanto dava uma mordida na sua maçã.
— Alguns. — Admitiu, enquanto roubava algumas batatinhas do prato do primo, recebendo um olhar indignado em resposta. — Mas estou esperando um em específico… — Olhou rapidamente para , que não percebeu por estar distraído com a sua comida.
— Oliver doesn’t share food! — Exclamou em um timbre afetado, fazendo com que a prima rolasse os olhos com tédio e risse de leve. — Mas fale-me mais sobre isso. — Pediu enquanto se inclinava para frente, cutucando o melhor amigo com um dos pés. — Está esperando o convite de quem? — questionou insinuante, arqueando as sobrancelhas de forma caricata.
, por sua vez, fechou o cenho para o primo, sabendo que ele a provocava explicitamente. Se não fosse tão lerdo, certamente perceberia as intenções de Oliver, que não fazia questão de escondê-las. No fundo, o rapaz se divertia ao ver que os dois amigos se gostavam secretamente, sem fazer ideia de que os sentimentos eram recíprocos. Em momentos distintos, ele havia prometido não se meter na relação de e , fato que o fazia se arrepender amargamente. Além disso, por mais que não admitisse, Oliver tinha medo de que os amigos se envolvessem e, por algum motivo, não dessem certo e, assim, acabassem com a amizade de anos. Ele não gostaria de escolher um lado. Sendo bastante franco, ele nem saberia escolher um lado! era sua prima e a sua melhor amiga desde que se entendia por gente, enquanto era o irmão que a vida lhe deu e nunca seria capaz de ficar longe do menino. Ou seja, estava fora de questão selecionar um dos dois em detrimento do outro. Contudo, tinha algo dentro dele que o dizia que não era preciso temer. e não iriam dar errado e, no fundo, ele sabia disso. Por isso, fazia questão de pressioná-los para admitir os seus sentimentos e acabar com toda a aflição envolvendo o assunto. Conselho que era totalmente ignorado pelos dois.
— Não é da sua conta! — falou entredentes, encarando rapidamente , que a olhava de volta, com o cenho franzido. — Mas e vocês, já convidaram alguém? — perguntou levemente ansiosa, assistindo as bochechas de corarem levemente, ao passo que Oliver abria um sorriso malicioso, logo após bufar para a prima que não parava de comer as suas batatinhas. tinha almoçado mais cedo, aproveitando o tempo de aula livre que tinha para comprar algo na lanchonete do colégio. Todavia, aparentemente, a refeição não foi o suficiente e ela continuava com fome.
— Cadê o seu feminismo para supor que alguma menina nos convidou? — Provocou Oliver, rindo ao sentir uma batatinha em sua testa — Ei, comida é sagrada! Sem desperdícios!
— Nenhuma garota seria idiota o bastante para convidar você para o baile, Ollie. — Debochou, recebendo um dedo estirado em resposta. — A tia sabe que você faz esse tipo de gesto para a sua priminha querida? — Ironizou novamente, recebendo um rolar de olhos do primo.
— Os diálogos entre vocês dois são sempre cativantes. — se intrometeu, depois de terminar a sua refeição. Talvez fosse por comer rápido, ou pela enrolação dos amigos, mas o tempo de conversa entre e Oliver foi o suficiente para comer tudo o que estava em sua bandeja, possibilitando, desse modo, que prestasse mais atenção no assunto de ambos. — O senhor Crawford não sabe o que está perdendo ao deixar de analisar essa primorosa amostra do que é o comportamento humano. — Zombou, recebendo também uma batatinha em seu rosto e rindo levemente pela atitude previsível de .
O senhor Crawford era o professor de sociologia do colégio, conhecido por passar situações-problema para que os alunos avaliassem de maneira crítica. Por isso, costumava provocar os primos, sempre reiterando como seria interessante a análise do comportamento deles.
— , eu vou pegar esse pacote de você! Tô falando sério! — Oliver ameaçou, colocando o indicador em riste — Mas vou deixar passar essa porque sempre é bom atirar coisas no . — Deu de ombros, dando uma mordida em seu sanduíche. somente rolou os olhos para o menino, enquanto ria, ainda curiosa com o seu questionamento que não tinha sido respondido.
— Vocês ainda não me responderam! — Insistiu, encarando os dois mais incisivamente, com mais ênfase em . — Já possuem um par?
— Não precisa ficar tão interessada assim sobre mim, . — Oliver tomou a voz novamente, sabendo que iria irritar a prima com mais uma zombaria. — Somos primos e, você sabe… — abriu os braços, como se fosse para provar o seu ponto. — Seria estranho se fôssemos juntos, não acha?!
— Eu não estou interessada no seu par! — Rebateu rapidamente.
— Então, admite que está interessada no par do ? — Riu provocante, batendo nos ombros do amigo e recebendo olhares feios de ambos. — O é um lerdo e não possui nenhum par ainda. Por que não juntam o útil ao agradável e vão juntos? — Sugeriu falsamente inocente, interessado na reação dos amigos frente a isso.
Contudo, como se fosse uma brincadeira maldosa do destino, antes mesmo de ou falarem algo, Ian chegou ao lado da mesa do grupo, segurando o ombro de com delicadeza. O garoto não percebeu o clima levemente tenso que se estabeleceu com a sua presença, focalizando toda a sua atenção apenas para a menina.
— Estamos indo para a aula de inglês agora, você sabe como o Senhor Binns odeia atrasos. — Fez uma careta, enquanto bagunçava o cabelo de modo despretensioso. De fato, a sala de inglês ficava do outro lado da escola e o professor era uma espécie de carrasco, impedindo a entrada de qualquer um que chegasse um ou mais minutos atrasado. — Lewis e Tina já foram. — Fez referência a dois de seus amigos em comum. — Vamos também? — Convidou de forma levemente ansiosa, sentindo-se um pouco constrangido pela presença de e Oliver. Embora fosse o capitão do time de futebol do colégio, o garoto não seguia muito dos estereótipos que Hollywood gostava de explorar em suas tramas. Apesar de ser bastante descontraído com seus amigos, Ian era tímido quando estava na presença de pessoas com quem não compartilhava tamanha intimidade, como era o caso de e Oliver. Mesmo que Ollie também fosse de sua equipe e que os dois se considerassem bons colegas.
— Olha… — começou hesitante, virando o torso para encarar o moreno — É que estávamos falan… — a menina não conseguiu concluir, no entanto, já que se intrometeu no assunto e tomou a voz para si.
— Vai, . Você sabe que o Oliver não vai terminar de comer tão cedo — falou, sinalizando o amigo que ainda mastigava o seu sanduíche. — Você não quer se atrasar, não é?! Nosso próximo horário não é inglês.
— Mas… — tentou protestar, sendo interrompida mais uma vez.
— Depois a gente se fala. — Sorriu levemente, sinalizando outra vez que ela deveria ir com Ian. ainda hesitou por alguns segundos, encarando o amigo em silêncio, mas acabou balançando a cabeça em negação e, em seguida, seguiu junto a Carrington para a saída do refeitório.
— Não fala nada, por favor. — pediu, sem encarar o amigo, sabendo que ele diria algo a respeito do que tinha acabado de presenciar. — Eu entendi o que você quis fazer, mas eu só… — suspirou, fechando os olhos com força. — Eu não estou pronto.
— Você sabe que enquanto você não se prepara o suficiente, tem outros, como o Ian, que estão loucos para tomar o seu lugar, não sabe?! — Oliver alertou, segurando um dos ombros do amigo em sinal de apoio.
— Agora não, Oliver. Sério. — Suspirou novamente, sabendo que o menino estava certo. Mas ele realmente não se sentia preparado para enfrentar a avalanche de sentimentos que lhe assolava quando o assunto era . Não nesse momento. Enquanto isso, só restava a torcer para que nenhum outro fosse capaz de passar na sua frente na luta pelo coração da menina.
Capítulo 5
Hoje
, e Oliver seguiam em um contraste de sentimentos para a aula de Espanhol. Enquanto e conversavam animados sobre o trabalho que o professor havia prometido passar, Oliver se martirizava mentalmente pelo ganho de mais uma atividade escolar para fazer. A temporada de jogos interescolares estava chegando e era importante que o rapaz se dedicasse nos treinos. Caso se destacasse, poderia conseguir uma bolsa de estudos em uma universidade e isso era o que mais ansiava desde que tinha entrado no time.
— Vocês são muito nerds, por Deus! — Resmungou Ollie, andando vagarosamente de forma proposital, de modo a demorar o máximo possível a chegar para a aula. — Do eu não espero nada, mas você deveria honrar o sangue da família, ! — Reclamou, ouvindo risinhos dos outros dois, que o puxaram para andar mais rápido a fim de não chegarem atrasados.
— Ninguém na família é tão perdedor quanto você, Ollie. — Provocou a menina, recebendo um estirar de dedo em resposta. — Cruzes, como você está azedo. — Fez uma careta falsamente afetada, rindo de leve ao ganhar outro gesto obsceno.
— Como vocês podem estar felizes com mais um trabalho? — Questionou indignado, lamuriando ao ver que a sala de espanhol se aproximava. — E um complicado, ainda por cima!
— Vamos lá, Oliver! — finalmente se pronunciou, abraçando o amigo de lado. — Vai ser divertido! O senhor Gonzáles é famoso por esse tipo de trabalho e ele nunca mandou nada assim para a gente.
— Felizmente! — respondeu, parando em frente à porta e olhando rapidamente a disposição de lugares, antes de voltar a sua atenção novamente para . — Que tipo de idiota gosta de ter trabalhos para fazer?
— Sheldon Cooper. — deu de ombros, empurrando o primo para o lado de modo a conseguir entrar no cômodo, que estava levemente vazio, visto que a maioria da classe estava conversando na frente da sala. — E pessoas interessadas em sair da zona de conforto.
— Desde quando você gosta de sair da sua zona de conforto? — Devolveu um tempo depois, após seguir junto a para uma mesa mais ao meio da sala, enquanto se sentava em sua frente. — Namorou o Carrington por um ano porque não teve coragem de assumir que estava apaixonada pelo ! — Apontou de forma sussurrada, olhando rapidamente para o lado para ver se prestava atenção nele, suspirando aliviado ao ver que não.
O menino tinha acabado de começar uma conversa com Mary, uma aluna recém transferida de outro estado. Embora a garota tivesse um certo problema em se enturmar, ela estranhamente se dava muito bem com . Esse fato, por sua vez, fazia com que se incomodasse levemente com a garota, mesmo sabendo que essa era uma atitude bastante infantil e infundada. Afinal, e ela eram somente amigos, não eram?! Ela não tinha o direito de questionar nada, já que não possuía coragem o suficiente para tomar alguma decisão.
E não, Ian não foi um estepe para ela! Ela não seria capaz de fazer algo do tipo, por mais que a sua consciência afirmasse o contrário. A garota gostava muito do rapaz e sempre deixou claro para ele que não estava completamente envolvida romanticamente. Não deu nomes, mas explicou que guardava sentimentos por uma outra pessoa. Contudo, Ian insistiu em firmar um relacionamento e, por adorar ficar com ele, ela acabou aceitando o pedido de namoro. E, honestamente, eles foram felizes pelo tempo que durou, mesmo que às vezes ela sentisse que lhe faltava algo. Até que essa sensação a sufocou ao ponto de fazê-la achar injusto prender o quarterback dentro de um relacionamento incompleto.
Por isso, finalizou tudo o que tinha entre eles. Situação que foi até benéfica para Carrington, se fôssemos analisar. Ian, tempos depois, assumiu um namoro com Ashley, a capitã do grupo de debates da escola, e eles pareciam bastante felizes. Sorte a deles e azar o meu, pensava sempre que esbarrava no casal pelos corredores.
— Oliver! — falou mais alto do que pretendia, recebendo alguns olhares curiosos e corando de leve em decorrência da atenção demasiada em cima de si. — Já discutimos sobre isso! Não se mete na minha vida! — sussurrou raivosamente, percebendo apenas no momento que tinha virado para os amigos com o cenho franzido, recebendo um aceno negativo em resposta, mostrando que estava tudo bem. Assim, o menino voltou a sua atenção para Mary, e Oliver e continuaram a conversa.
— Você quem sabe, . Mas há quanto tempo você abdica da sua própria felicidade por medo? — perguntou cansado, já que não aguentava mais abordar esse tema com os dois amigos. Sendo sincero, ele possuía o desejo de trancar os dois em um quarto e falar algo como vocês dois se amam, agora conversem porque só sairão daí quando esclarecerem tudo o que sentem um pelo outro. Todavia, ele sabia que essa atitude precisaria vir de ou de . Não cabia a ele se meter na vida dos amigos. Infelizmente, ele sabia ser sensato.
— O professor chegou, vamos prestar atenção na aula. — Mudou de assunto rapidamente ao ouvir a voz do senhor Gonzáles reverberar por todo o cômodo. Oliver apenas riu fraco, sabendo que estava fugindo mais uma vez.
, por sua vez, virou-se para a frente, arrumando a postura para conseguir focar verdadeiramente no professor. Contudo, a sensação amarga que lhe dominava era bastante incômoda e presente. Oliver estava certo. Ela realmente era uma hipócrita.
Mas teria ela forças para se declarar para , sem saber se era recíproco ou não? Ou pior, sem saber se acabariam estragando a amizade que mantinham há anos? Ela realmente não fazia a menor ideia.
— Como vocês já devem saber, finalmente chegou o momento do trabalho interdisciplinar entre Artes e Espanhol. — A voz grossa do professor chamou a atenção dos alunos para si, logo após ele cumprimentar rapidamente toda a turma. — Conversando com a professora Williams, chegamos a um consenso que vocês deverão fazer uma apresentação artística, autoral ou não. Pode ser um monólogo, uma peça, uma música… — explicou, olhando rapidamente para os alunos, que prestavam atenção em suas palavras. — Sejam criativos. O trabalho pode ser individual ou em grupo, desde que estes tenham até quatro estudantes. Alguma dúvida? — Questionou, recebendo alguns braços levantados. — Pois não, Elliot? — Sinalizou para um garoto que estava no fundo, olhando para o professor com uma feição risonha.
— O trabalho precisa ser em espanhol? — perguntou idiotamente, ganhando alguns risinhos e olhares de desdém em resposta.
— Se você quiser que ele seja avaliado, sim — respondeu direto, fazendo uma careta aparecer de leve no rosto do mais novo. — Mais alguém? — Gonzáles falou novamente, apontando para uma menina que estava ao lado de . — Pode falar, Paige.
— As apresentações possuem limite de tempo?
— Até quinze minutos, com uma tolerância de cinco minutos para os trabalhos mais longos — falou, sinalizando em seguida para , que também tinha o braço levantado. — Diga, .
— Quando precisaremos entregar o trabalho? E precisa ter algum tema específico?
— Daqui a um mês, no Show de Talentos Anual da escola. Ano passado tivemos um baixo número de inscrições e a Diretora Walker achou interessante que o trabalho fosse apresentado na data. Sobre o tema, vocês são livres para abordar o que quiserem. Pode ser algo mais histórico, relacionado à América Latina, ou alguma coisa romântica, engraçada, enfim… — balançou a cabeça. — A única exigência é que a apresentação precisa ser em espanhol. — Olhou rapidamente para Elliot. — Usem o poder da criatividade, que eu sei que vocês dominam. Alguma outra pergunta? — Tentou mais uma vez, encostando-se no quadro branco. Ao receber negativas em resposta, ele assentiu com a cabeça e continuou: — Já que não temos mais dúvidas, vamos seguir com a aula.
Xx
Finalmente havia chegado o dia da apresentação. e estavam extremamente nervosos com os seus respectivos trabalhos, enquanto Oliver estava bastante animado com o que iria acontecer dentro de alguns minutos.
Semanas antes, ele tinha descoberto o que ambos os amigos iriam apresentar e, além de incentivá-los, ajudou-os com os preparativos para que tudo saísse perfeito, até se esquecendo, por vezes, de que também iria ser avaliado.
e estavam no escuro quanto às apresentações um do outro, visto que necessitavam do efeito surpresa para que as coisas fossem mais emocionantes. Ao passo que Oliver apenas se divertia com as teorias da conspiração que eram levantadas devido a todo o mistério que envolvia esses trabalhos. Era como se todo o estresse que passou durante anos, devido à inércia de e , estivesse sendo dignamente recompensado.
Por sorte ou azar, tinha sido sorteado para apresentar antes de , que vinha logo em seguida ao garoto. O menino já tinha sido chamado para o palco e estava estancado no lugar, sem fazer nenhum movimento e parecendo paralisado de pânico.
olhava para os lados sem saber exatamente como começar. A timidez associada ao nervosismo, que sempre apareciam nos momentos mais inoportunos, já haviam tomado conta de seu corpo e a vontade que tinha era de sair correndo de cima do palco. Se fosse um bruxo, teria aparatado para longe há muito tempo. Nesse momento, passou a questionar todas as decisões que o fizeram acreditar que era capaz de ficar ali, na frente de toda a escola, cantando. Por Deus! Por que ninguém o havia impedido de fazer essa loucura?
O público, por sua vez, já se olhava confuso, não entendendo a demora do rapaz para começar a cantar. O senhor Gonzáles tinha feito menção de ir até o aluno para questionar se estava tudo bem, mas foi impedido por Oliver, que torcia para que o amigo conseguisse continuar por si só, sem a intervenção do professor. O menino já tinha feito a sua apresentação, uma espécie de monólogo que tinha achado na internet. Embora não tivesse sido excepcional, acreditava que tinha conseguido uma boa nota, que era o seu único objetivo.
Respirando fundo para tentar se acalmar, olhou para as pessoas que o encaravam com uma incontida ansiedade, esperando a sua apresentação. Pensou nos seus pais, que estavam em algum lugar do ginásio, orgulhosos do filho. Pensou em Oliver, seu melhor amigo, que tinha sido o seu maior incentivador desde que havia contado o que planejava. E pensou nela. A responsável por fazê-lo ignorar seu medo de plateias e, assim, sair de sua zona de conforto para inovar no que poderia ser apenas um simples trabalho de espanhol. A única que causava efeitos tão fortes nele, que as típicas borboletas e mãos suadas já eram reações conhecidas, que abraçava com naturalidade. E, talvez por destino, ou por uma mera coincidência do acaso, foi o olhar dela que encontrou, em meio a um mar de alunos, quando finalmente teve forças para olhar para frente. De onde estava, não conseguia observar com clareza as vestes ou o que a menina tinha feito com o cabelo, mas conseguiu ver algo que era muito mais importante para si: o seu sorriso. sorria largo, como sempre sorriu para ele, mostrando o seu apoio do modo mais sincero que conseguiu. Os polegares para cima eram a sinalização de que ela acreditava na capacidade dele de fazer tudo o que quisesse, do jeito que sempre tentou deixar claro.
estava ali por ele. Como sempre esteve. E como sempre estaria. Com isso, apenas sorriu de volta, um sorriso mais contido, mas com a mesma sinceridade que lhe era direcionada. Finalmente, sentiu-se encorajado a continuar. Assim, arrumando o violão em suas mãos e ajustando o microfone para a sua altura, ele começou.
— Boa tarde, Medford High School! — falou ele, ignorando o nó na garganta e recebendo gritos e aplausos em resposta. — Eu não sou nenhum exemplo de pessoa descontraída, vocês sabem disso. — Riu levemente, coçando a cabeça. — Mas eu estou aqui por uma causa importante. — Respirou fundo, procurando o olhar de . — Eu acho que vocês conhecem a minha melhor amiga. A . — Apontou para a menina, que o encarou surpresa. — A é uma das maiores razões para eu estar aqui em cima hoje. Até porque eu não preciso de nota em Espanhol. — Riu levemente, fazendo os outros rirem também. — Eu escrevi uma música porque, afinal, nada consegue falar tão bem de sentimentos quanto uma canção, não é? — Começou a dedilhar o violão. — O nome dela é Para Enamorarte e eu dedico a você, . — (Coloquem para tocar https://youtu.be/c6Jlmge80Hg)
Para enamorarte
Voy a ser quien llega primero a tus sueños
Y así también dormida podrás besarme
Para enamorarte yo voy a cantarte
(Para te apaixonar
Vou ser quem chega primeiro a teus sonhos
E assim também adormecida poderá me beijar
Para te apaixonar, eu cantarei pra você)
Começou com a voz calma, de olhos fechados. não queria olhar para ninguém, apenas sentir o que estava cantando, o que estava sentindo.
Para enamorarte
Voy a hacer quien siempre te escribe canciones
El que te quiere a ti las cuatro estaciones
No importa si llueve, yo voy a cuidarte
Para enamorarte
(Para te apaixonar
Vou ser quem sempre te escreve canções
Quem te ama as quatro estações
Não importa se chove, eu vou cuidar de você
Para te apaixonar)
Continuou, ainda sem encarar a plateia, concentrado apenas no som de sua voz e nas suas mãos, que dedilhavam o violão com maestria.
Porque tú eres todo lo que quiero
Contigo me muero y por toda la vida serás lo primero
Cuando te fuiste ya no pude más
Si tu no estas, yo sólo se que ya tu no te vas
(Porque você é tudo que eu quero
Com você eu morro e por toda a vida vai ser o primeiro
Quando você se foi já não pude mais
Se você não está, eu só sei que já você não se vai)
Y es que contigo toco el cielo
Y mi alma se pone en vuelo
Mis pies no tocan el suelo
Yo sólo se que yo te quiero más
(E é que com você toco o céu
E a minha alma é colocada em voo
Meus pés não tocam o chão
Eu só sei que eu te amo mais)
Com a chegada de uma parte mais animada, finalmente abriu os olhos, encontrando as feições animadas e emocionadas de seus colegas. Encontrou Oliver, que batia palmas animado para o amigo. Viu também os seus professores, mais ao canto do palco, que balançavam a cabeça com um sorriso terno nos lábios. Por fim, viu . A menina estava mais próxima do palco, já que a sua apresentação era logo após a de . Mas ele não conseguiu identificar a expressão dela. Por isso, querendo evitar o nervosismo que voltou a se apossar dele, ele desviou o olhar, continuando a cantar:
Para enamorarte, voy a ser quien llega primero a tus sueños
Y así también dormida podrás besarme
Para enamorarte yo voy a cantarte, yeah, yeah
Para enamorarte voy a ser quien siempre te escribe canciones
El que te quiere a ti en las cuatro estaciones
No importa si llueve yo voy a cuidarte, yeah yeah
Para enamorarte, oh oh
Para enamorarte, oh oh
(Para te apaixonar vou ser quem chega primeiro a teus sonhos
E assim também adormecida poderá me beijar
Para te apaixonar eu cantarei pra você, sim, sim
Para te apaixonar vou ser quem sempre te escreve canções
O que te ama nas quatro estações
Não importa se chove, eu vou cuidar de você
Para te apaixonar, oh oh
Para te apaixonar, oh oh)
E, assim, ele terminou a apresentação que mostrava ser a mais importante de sua vida até então. Emocionado, ouviu os aplausos de seus colegas e alguns gritos como “É o meu melhor amigo, porra!”, vindo que Oliver, que pulava animado em seu lugar. Mais uma vez, procurou , sem sucesso. O que fez com que a decepção o dominasse rapidamente. Nesse momento, todas as suas inseguranças gritavam em seus ouvidos sobre como tinha sido estúpido e impulsivo. Ele realmente achou que tinha sido uma boa ideia se declarar na frente da escola toda? Por Deus, ele costumava ser mais inteligente. Fechando os olhos com força, ainda parado no palco, sentiu as mãos cálidas de seu professor de Espanhol tocarem seus ombros, enquanto ele pegava o microfone para si.
— E esse foi , pessoal! — falou animado, dando tapinhas no estudante que já mostrava sinais de desanimação. A plateia o aplaudiu animado, enquanto o rapaz descia da estrutura e se dirigia vagarosamente até onde estava Oliver. — Pois bem, dando continuação aos nossos trabalhos, com vocês, !
Ao ouvir o anúncio da amiga, estancou rapidamente, virando o torso para encará-la no palco. Ele ainda possuía o violão em seu tronco, o que fazia um peso incômodo, mas ele queria ver o que a menina iria dizer. Talvez ela o rejeitasse ali mesmo, na frente de todos, apesar de saber que a humilhação gratuita não era uma marca do comportamento de , sobretudo quando o humilhado seria ele.
não estava nervosa. Tinha um sorriso contido em uma de suas bochechas e com as mãos segurava um papel, que sabia ser uma cola para caso esquecesse da apresentação. Ela nunca esquecia, mas também nunca apresentou nada sem algo que a assegurasse que daria tudo certo. Porque era assim, ela não apostava no escuro. Ela precisava de garantias. E, sem saber, a tinha dado a maior delas.
— Boa tarde, gente! — Começou animada, mexendo nos cabelos. — Bem, vai ser um pouco difícil superar a apresentação do , certo? — Riu rapidamente, procurando o olhar do amigo em meio à multidão de alunos. — Mas, como o dele, o meu trabalho também vai ser direcionado. — Piscou para o menino, que a olhou surpreso, mas também animado para o que estava por vir. — Passamos anos e anos vendo Hollywood nos iludir com comédias românticas, em que a mocinha se apaixona pelo melhor amigo e eles vivem o maior conto de fadas que existe. — Rolou os olhos, ainda divertida. — Os livros também são outros que podem ser nossos aliados ou os maiores inimigos de nossas vidas. Eu sempre gostei muito de ler e o tema friends to lovers sempre foi o meu favorito. Contudo, algo sempre me incomodou. Nessas obras, por vezes, eles ignoraram o ponto crucial de se apaixonar pelo seu melhor amigo. E se não desse certo? O que aconteceria depois? Não seria como o fim de um simples relacionamento. Você perderia a sua âncora, o seu porto seguro, o seu maior confidente. — Suspirou, ainda encarando , que também a olhava vidrado. — E, por muito tempo, esses “E se” tomaram conta de mim, fazendo com que eu abdicasse dos meus próprios sentimentos e da minha própria felicidade. — Riu sem graça, amassando levemente o papel entre os seus dedos — Mas hoje eu vim decidida a acabar com o ciclo de inseguranças que estava dentro de mim. Eu só não esperava que o anteciparia as minhas intenções. — Riu novamente, dessa vez mais afetada, ainda emocionada com a apresentação do amigo. — Então, não, eu não vou cantar também — falou rapidamente, ouvindo alguns risos em resposta. — Eu escrevi um poema, que diz muito sobre como eu me senti durante todos esses anos mascarando o amor que eu sentia pelo meu melhor amigo. — Olhou para , recebendo um sorriso enorme em resposta. — O nome é Por Amarte Así.
Siempre serás el niño que me llena el alma
Como un mar inquieto, como un mar en calma
Siempre tan lejano como el horizonte
Gritando en el silencio tu nombre en mis labios
Solo queda el eco de mi desengaño
Sigo aquí en mi sueño de seguirte amando
(Você sempre será o menino que me preenche a alma
Como um mar inquieto, como um mar em calma
Sempre tão distante quanto o horizonte
Gritando em silêncio teu nome em meus lábios
Só resta o eco do meu desengano
Sigo aqui em meu sonho de seguir te amando)
Começou a declamar de um modo leve, mas intenso e emocionado, tentando passar tudo o que estava sentindo do jeito mais sincero que conseguia.
Será, será como tú quieras pero así será
Si aún tengo que esperarte siete vidas más
Me quedaré colgado de este sentimiento
(Será, será como você quiser, mas assim será
Se ainda tenho que te esperar sete vidas mais
Vou ficar preso a este sentimento)
Por amarte así
Es esa mi fortuna, es ese mi castigo
Será que tanto amor acaso está prohibido
Y sigo aquí muriendo por estar contigo
Por amarte así
A un paso de tu boca y sin poder besarla
Tan cerca de tu piel y sin poder tocarla
Ardiendo de deseos con cada mirada
Por amarte así,
Por amarte
(Por te amar assim
É esse o meu destino, é esse meu castigo
Será que tanto amor por acaso é proibido
E sigo aqui morrendo para estar contigo
Por te amar assim
A um passo da tua boca sem poder beijá-la
Tão perto da tua pele e sem poder tocá-la
Ardendo de desejos com cada olhada
Por te amar assim,
Por te amar)
A conexão de olhares entre e era intensa, como se só tivesse os dois dentro do ginásio. Foram anos de um amor reprimido, que esmagava dolorosamente o peito de ambos devido à negligência que lhe fora atribuída. era de e era de . E, ali, eles estavam tentando deixar claro que nunca existiria outro caminho plausível.
Así voy caminando en esta cuerda floja
Por ir tras de tu huella convertida en sombra
Presa en el amor que me negaste un día
Contando los segundos que pasan por verte
Haciéndote culpable de mi propia suerte
Soñando hasta despierto con hacerte mío
(E assim vou caminhando nesta corda bamba
Por seguir tuas pegadas transformadas em sombra
Presa ao amor que me negaste um dia
Contando os segundos que passam para te ver
Te fazendo culpada de minha própria sorte
Sonhando até acordada em te fazer meu)
Será, será como tú quieras pero así será
Si aún tengo que esperarte siete vidas más
Me quedaré colgada de este sentimiento
(Será, será como você quiser, mas assim será
Se ainda tenho que te esperar sete vidas mais
Vou ficar presa a este sentimento)*
E, assim, ela terminou. Recebendo aplausos animados e os mesmos gritos animados de Oliver, que não tinha se aproximado de para dar a ele tempo para assimilar o que estava acontecendo.
Após agradecer aos colegas pelo carinho recebido, nem esperou o professor chegar até si, colocando o microfone no suporte adequado e descendo rapidamente até o local em que estava. Em poucos passos, alcançou o menino, não dando tempo para que ele falasse nada antes de pegar em sua mão e puxá-lo para fora do ginásio.
A dupla seguiu em silêncio até o pátio do colégio que, devido às apresentações, estava vazio, o que dava a eles a privacidade necessária para o momento. Chegando lá, sentaram em um dos bancos ali dispostos. colocou o seu violão encostado em uma das árvores, e, nervoso, olhou para , que também o encarava ansiosa.
— Então… — disseram ao mesmo tempo, rindo levemente ao verem que tinham feito um coro. fez sinal para que começasse a falar, o que ela logo fez, respirando fundo antes de iniciar.
— Que loucura isso que acabou de acontecer… — falou timidamente. Aparentemente, toda a sua coragem tinha se dissipado em cima daquele palco e as mãos suadas eram apenas um dos sinais que mostravam o seu nervosismo. — Tudo o que eu falei é verdade, . Eu amo você. Um dia você me perguntou o porquê de eu não conseguir me abrir com você sobre os meus sentimentos amorosos. Eu não lembro a resposta que eu te dei, mas sei que eu menti. A razão disso acontecer é porque eu não conseguiria fingir que o cara que eu sou apaixonada não é você. Você quem me tira os sorrisos nos momentos em que eu só quero chorar. Você quem muda meu dia apenas com um abraço, ou até com uma mensagem. Você é o único que maratona as minhas séries comigo, mesmo as que você considera insuportáveis, como Pretty Little Liars. — Suspirou, sentindo-o segurar a sua mão com carinho. — Você é a minha pessoa, . E eu sinto muito que eu só tenha tido coragem para dizer isso agora.
— Você não sabe o quanto eu esperei para ouvir isso — disse emocionado, apertando com mais força a mão da menina, que refletia o suor das suas palmas. — Por muito tempo, eu não me sentia pronto para assumir nem para mim mesmo o que você realmente significava para mim. Você nunca foi apenas a minha melhor amiga. Você é o que me transborda, . Faz eu ser muito melhor do que eu seria normalmente. Eu deveria saber que, desde quando você me convidou para ver a sua coleção do Homem-Aranha, eu estava condenado. Condenado a amar você de um modo que eu sei que não poderei amar ninguém. Nós só temos dezoito anos e eu sei que, nessa idade, as nossas convicções são fracas e muito suscetíveis a serem destruídas com o tempo. Mas tem algo dentro de mim, que é a mesma coisa que me fez subir naquele palco hoje e cantar… — falou afetado, fazendo-a rir levemente. — Por Deus, eu cantei ali em cima! — Balançou a cabeça, ainda chocado com o que tinha feito. — Essa sensação que me fez ter coragem de falar tudo o que eu sentia para você. Sem medo de rejeição, sem medo de te perder. Porque, no fundo eu sei, nós somos para sempre. — Declarou, puxando a menina para um abraço apertado e sendo retribuído com a mesma urgência. Para , era como um colete salva-vidas em um mar aberto, enquanto estava à deriva. Para , era uma cama quente após um dia exaustivo. Ambos não precisavam um do outro para viverem, mas juntos eles transbordavam. Transbordavam cumplicidade, fidelidade e, sobretudo, amor.
— E o que acontece agora? — perguntou, após se soltarem do abraço.
— Agora você me beija, namorado. E, de preferência, não me larga nunca mais — falou, capturando os lábios do menino com carinho, em um selinho.
— É, eu gostei disso. — Concordou, puxando-a para um beijo de verdade.
Mais uma vez, eles estavam juntos. E, dessa vez, pra valer.
*Trechos da canção Por Amarte Así de Cristian Castro
, e Oliver seguiam em um contraste de sentimentos para a aula de Espanhol. Enquanto e conversavam animados sobre o trabalho que o professor havia prometido passar, Oliver se martirizava mentalmente pelo ganho de mais uma atividade escolar para fazer. A temporada de jogos interescolares estava chegando e era importante que o rapaz se dedicasse nos treinos. Caso se destacasse, poderia conseguir uma bolsa de estudos em uma universidade e isso era o que mais ansiava desde que tinha entrado no time.
— Vocês são muito nerds, por Deus! — Resmungou Ollie, andando vagarosamente de forma proposital, de modo a demorar o máximo possível a chegar para a aula. — Do eu não espero nada, mas você deveria honrar o sangue da família, ! — Reclamou, ouvindo risinhos dos outros dois, que o puxaram para andar mais rápido a fim de não chegarem atrasados.
— Ninguém na família é tão perdedor quanto você, Ollie. — Provocou a menina, recebendo um estirar de dedo em resposta. — Cruzes, como você está azedo. — Fez uma careta falsamente afetada, rindo de leve ao ganhar outro gesto obsceno.
— Como vocês podem estar felizes com mais um trabalho? — Questionou indignado, lamuriando ao ver que a sala de espanhol se aproximava. — E um complicado, ainda por cima!
— Vamos lá, Oliver! — finalmente se pronunciou, abraçando o amigo de lado. — Vai ser divertido! O senhor Gonzáles é famoso por esse tipo de trabalho e ele nunca mandou nada assim para a gente.
— Felizmente! — respondeu, parando em frente à porta e olhando rapidamente a disposição de lugares, antes de voltar a sua atenção novamente para . — Que tipo de idiota gosta de ter trabalhos para fazer?
— Sheldon Cooper. — deu de ombros, empurrando o primo para o lado de modo a conseguir entrar no cômodo, que estava levemente vazio, visto que a maioria da classe estava conversando na frente da sala. — E pessoas interessadas em sair da zona de conforto.
— Desde quando você gosta de sair da sua zona de conforto? — Devolveu um tempo depois, após seguir junto a para uma mesa mais ao meio da sala, enquanto se sentava em sua frente. — Namorou o Carrington por um ano porque não teve coragem de assumir que estava apaixonada pelo ! — Apontou de forma sussurrada, olhando rapidamente para o lado para ver se prestava atenção nele, suspirando aliviado ao ver que não.
O menino tinha acabado de começar uma conversa com Mary, uma aluna recém transferida de outro estado. Embora a garota tivesse um certo problema em se enturmar, ela estranhamente se dava muito bem com . Esse fato, por sua vez, fazia com que se incomodasse levemente com a garota, mesmo sabendo que essa era uma atitude bastante infantil e infundada. Afinal, e ela eram somente amigos, não eram?! Ela não tinha o direito de questionar nada, já que não possuía coragem o suficiente para tomar alguma decisão.
E não, Ian não foi um estepe para ela! Ela não seria capaz de fazer algo do tipo, por mais que a sua consciência afirmasse o contrário. A garota gostava muito do rapaz e sempre deixou claro para ele que não estava completamente envolvida romanticamente. Não deu nomes, mas explicou que guardava sentimentos por uma outra pessoa. Contudo, Ian insistiu em firmar um relacionamento e, por adorar ficar com ele, ela acabou aceitando o pedido de namoro. E, honestamente, eles foram felizes pelo tempo que durou, mesmo que às vezes ela sentisse que lhe faltava algo. Até que essa sensação a sufocou ao ponto de fazê-la achar injusto prender o quarterback dentro de um relacionamento incompleto.
Por isso, finalizou tudo o que tinha entre eles. Situação que foi até benéfica para Carrington, se fôssemos analisar. Ian, tempos depois, assumiu um namoro com Ashley, a capitã do grupo de debates da escola, e eles pareciam bastante felizes. Sorte a deles e azar o meu, pensava sempre que esbarrava no casal pelos corredores.
— Oliver! — falou mais alto do que pretendia, recebendo alguns olhares curiosos e corando de leve em decorrência da atenção demasiada em cima de si. — Já discutimos sobre isso! Não se mete na minha vida! — sussurrou raivosamente, percebendo apenas no momento que tinha virado para os amigos com o cenho franzido, recebendo um aceno negativo em resposta, mostrando que estava tudo bem. Assim, o menino voltou a sua atenção para Mary, e Oliver e continuaram a conversa.
— Você quem sabe, . Mas há quanto tempo você abdica da sua própria felicidade por medo? — perguntou cansado, já que não aguentava mais abordar esse tema com os dois amigos. Sendo sincero, ele possuía o desejo de trancar os dois em um quarto e falar algo como vocês dois se amam, agora conversem porque só sairão daí quando esclarecerem tudo o que sentem um pelo outro. Todavia, ele sabia que essa atitude precisaria vir de ou de . Não cabia a ele se meter na vida dos amigos. Infelizmente, ele sabia ser sensato.
— O professor chegou, vamos prestar atenção na aula. — Mudou de assunto rapidamente ao ouvir a voz do senhor Gonzáles reverberar por todo o cômodo. Oliver apenas riu fraco, sabendo que estava fugindo mais uma vez.
, por sua vez, virou-se para a frente, arrumando a postura para conseguir focar verdadeiramente no professor. Contudo, a sensação amarga que lhe dominava era bastante incômoda e presente. Oliver estava certo. Ela realmente era uma hipócrita.
Mas teria ela forças para se declarar para , sem saber se era recíproco ou não? Ou pior, sem saber se acabariam estragando a amizade que mantinham há anos? Ela realmente não fazia a menor ideia.
— Como vocês já devem saber, finalmente chegou o momento do trabalho interdisciplinar entre Artes e Espanhol. — A voz grossa do professor chamou a atenção dos alunos para si, logo após ele cumprimentar rapidamente toda a turma. — Conversando com a professora Williams, chegamos a um consenso que vocês deverão fazer uma apresentação artística, autoral ou não. Pode ser um monólogo, uma peça, uma música… — explicou, olhando rapidamente para os alunos, que prestavam atenção em suas palavras. — Sejam criativos. O trabalho pode ser individual ou em grupo, desde que estes tenham até quatro estudantes. Alguma dúvida? — Questionou, recebendo alguns braços levantados. — Pois não, Elliot? — Sinalizou para um garoto que estava no fundo, olhando para o professor com uma feição risonha.
— O trabalho precisa ser em espanhol? — perguntou idiotamente, ganhando alguns risinhos e olhares de desdém em resposta.
— Se você quiser que ele seja avaliado, sim — respondeu direto, fazendo uma careta aparecer de leve no rosto do mais novo. — Mais alguém? — Gonzáles falou novamente, apontando para uma menina que estava ao lado de . — Pode falar, Paige.
— As apresentações possuem limite de tempo?
— Até quinze minutos, com uma tolerância de cinco minutos para os trabalhos mais longos — falou, sinalizando em seguida para , que também tinha o braço levantado. — Diga, .
— Quando precisaremos entregar o trabalho? E precisa ter algum tema específico?
— Daqui a um mês, no Show de Talentos Anual da escola. Ano passado tivemos um baixo número de inscrições e a Diretora Walker achou interessante que o trabalho fosse apresentado na data. Sobre o tema, vocês são livres para abordar o que quiserem. Pode ser algo mais histórico, relacionado à América Latina, ou alguma coisa romântica, engraçada, enfim… — balançou a cabeça. — A única exigência é que a apresentação precisa ser em espanhol. — Olhou rapidamente para Elliot. — Usem o poder da criatividade, que eu sei que vocês dominam. Alguma outra pergunta? — Tentou mais uma vez, encostando-se no quadro branco. Ao receber negativas em resposta, ele assentiu com a cabeça e continuou: — Já que não temos mais dúvidas, vamos seguir com a aula.
Xx
Finalmente havia chegado o dia da apresentação. e estavam extremamente nervosos com os seus respectivos trabalhos, enquanto Oliver estava bastante animado com o que iria acontecer dentro de alguns minutos.
Semanas antes, ele tinha descoberto o que ambos os amigos iriam apresentar e, além de incentivá-los, ajudou-os com os preparativos para que tudo saísse perfeito, até se esquecendo, por vezes, de que também iria ser avaliado.
e estavam no escuro quanto às apresentações um do outro, visto que necessitavam do efeito surpresa para que as coisas fossem mais emocionantes. Ao passo que Oliver apenas se divertia com as teorias da conspiração que eram levantadas devido a todo o mistério que envolvia esses trabalhos. Era como se todo o estresse que passou durante anos, devido à inércia de e , estivesse sendo dignamente recompensado.
Por sorte ou azar, tinha sido sorteado para apresentar antes de , que vinha logo em seguida ao garoto. O menino já tinha sido chamado para o palco e estava estancado no lugar, sem fazer nenhum movimento e parecendo paralisado de pânico.
olhava para os lados sem saber exatamente como começar. A timidez associada ao nervosismo, que sempre apareciam nos momentos mais inoportunos, já haviam tomado conta de seu corpo e a vontade que tinha era de sair correndo de cima do palco. Se fosse um bruxo, teria aparatado para longe há muito tempo. Nesse momento, passou a questionar todas as decisões que o fizeram acreditar que era capaz de ficar ali, na frente de toda a escola, cantando. Por Deus! Por que ninguém o havia impedido de fazer essa loucura?
O público, por sua vez, já se olhava confuso, não entendendo a demora do rapaz para começar a cantar. O senhor Gonzáles tinha feito menção de ir até o aluno para questionar se estava tudo bem, mas foi impedido por Oliver, que torcia para que o amigo conseguisse continuar por si só, sem a intervenção do professor. O menino já tinha feito a sua apresentação, uma espécie de monólogo que tinha achado na internet. Embora não tivesse sido excepcional, acreditava que tinha conseguido uma boa nota, que era o seu único objetivo.
Respirando fundo para tentar se acalmar, olhou para as pessoas que o encaravam com uma incontida ansiedade, esperando a sua apresentação. Pensou nos seus pais, que estavam em algum lugar do ginásio, orgulhosos do filho. Pensou em Oliver, seu melhor amigo, que tinha sido o seu maior incentivador desde que havia contado o que planejava. E pensou nela. A responsável por fazê-lo ignorar seu medo de plateias e, assim, sair de sua zona de conforto para inovar no que poderia ser apenas um simples trabalho de espanhol. A única que causava efeitos tão fortes nele, que as típicas borboletas e mãos suadas já eram reações conhecidas, que abraçava com naturalidade. E, talvez por destino, ou por uma mera coincidência do acaso, foi o olhar dela que encontrou, em meio a um mar de alunos, quando finalmente teve forças para olhar para frente. De onde estava, não conseguia observar com clareza as vestes ou o que a menina tinha feito com o cabelo, mas conseguiu ver algo que era muito mais importante para si: o seu sorriso. sorria largo, como sempre sorriu para ele, mostrando o seu apoio do modo mais sincero que conseguiu. Os polegares para cima eram a sinalização de que ela acreditava na capacidade dele de fazer tudo o que quisesse, do jeito que sempre tentou deixar claro.
estava ali por ele. Como sempre esteve. E como sempre estaria. Com isso, apenas sorriu de volta, um sorriso mais contido, mas com a mesma sinceridade que lhe era direcionada. Finalmente, sentiu-se encorajado a continuar. Assim, arrumando o violão em suas mãos e ajustando o microfone para a sua altura, ele começou.
— Boa tarde, Medford High School! — falou ele, ignorando o nó na garganta e recebendo gritos e aplausos em resposta. — Eu não sou nenhum exemplo de pessoa descontraída, vocês sabem disso. — Riu levemente, coçando a cabeça. — Mas eu estou aqui por uma causa importante. — Respirou fundo, procurando o olhar de . — Eu acho que vocês conhecem a minha melhor amiga. A . — Apontou para a menina, que o encarou surpresa. — A é uma das maiores razões para eu estar aqui em cima hoje. Até porque eu não preciso de nota em Espanhol. — Riu levemente, fazendo os outros rirem também. — Eu escrevi uma música porque, afinal, nada consegue falar tão bem de sentimentos quanto uma canção, não é? — Começou a dedilhar o violão. — O nome dela é Para Enamorarte e eu dedico a você, . — (Coloquem para tocar https://youtu.be/c6Jlmge80Hg)
Para enamorarte
Voy a ser quien llega primero a tus sueños
Y así también dormida podrás besarme
Para enamorarte yo voy a cantarte
(Para te apaixonar
Vou ser quem chega primeiro a teus sonhos
E assim também adormecida poderá me beijar
Para te apaixonar, eu cantarei pra você)
Começou com a voz calma, de olhos fechados. não queria olhar para ninguém, apenas sentir o que estava cantando, o que estava sentindo.
Para enamorarte
Voy a hacer quien siempre te escribe canciones
El que te quiere a ti las cuatro estaciones
No importa si llueve, yo voy a cuidarte
Para enamorarte
(Para te apaixonar
Vou ser quem sempre te escreve canções
Quem te ama as quatro estações
Não importa se chove, eu vou cuidar de você
Para te apaixonar)
Continuou, ainda sem encarar a plateia, concentrado apenas no som de sua voz e nas suas mãos, que dedilhavam o violão com maestria.
Porque tú eres todo lo que quiero
Contigo me muero y por toda la vida serás lo primero
Cuando te fuiste ya no pude más
Si tu no estas, yo sólo se que ya tu no te vas
(Porque você é tudo que eu quero
Com você eu morro e por toda a vida vai ser o primeiro
Quando você se foi já não pude mais
Se você não está, eu só sei que já você não se vai)
Y es que contigo toco el cielo
Y mi alma se pone en vuelo
Mis pies no tocan el suelo
Yo sólo se que yo te quiero más
(E é que com você toco o céu
E a minha alma é colocada em voo
Meus pés não tocam o chão
Eu só sei que eu te amo mais)
Com a chegada de uma parte mais animada, finalmente abriu os olhos, encontrando as feições animadas e emocionadas de seus colegas. Encontrou Oliver, que batia palmas animado para o amigo. Viu também os seus professores, mais ao canto do palco, que balançavam a cabeça com um sorriso terno nos lábios. Por fim, viu . A menina estava mais próxima do palco, já que a sua apresentação era logo após a de . Mas ele não conseguiu identificar a expressão dela. Por isso, querendo evitar o nervosismo que voltou a se apossar dele, ele desviou o olhar, continuando a cantar:
Para enamorarte, voy a ser quien llega primero a tus sueños
Y así también dormida podrás besarme
Para enamorarte yo voy a cantarte, yeah, yeah
Para enamorarte voy a ser quien siempre te escribe canciones
El que te quiere a ti en las cuatro estaciones
No importa si llueve yo voy a cuidarte, yeah yeah
Para enamorarte, oh oh
Para enamorarte, oh oh
(Para te apaixonar vou ser quem chega primeiro a teus sonhos
E assim também adormecida poderá me beijar
Para te apaixonar eu cantarei pra você, sim, sim
Para te apaixonar vou ser quem sempre te escreve canções
O que te ama nas quatro estações
Não importa se chove, eu vou cuidar de você
Para te apaixonar, oh oh
Para te apaixonar, oh oh)
E, assim, ele terminou a apresentação que mostrava ser a mais importante de sua vida até então. Emocionado, ouviu os aplausos de seus colegas e alguns gritos como “É o meu melhor amigo, porra!”, vindo que Oliver, que pulava animado em seu lugar. Mais uma vez, procurou , sem sucesso. O que fez com que a decepção o dominasse rapidamente. Nesse momento, todas as suas inseguranças gritavam em seus ouvidos sobre como tinha sido estúpido e impulsivo. Ele realmente achou que tinha sido uma boa ideia se declarar na frente da escola toda? Por Deus, ele costumava ser mais inteligente. Fechando os olhos com força, ainda parado no palco, sentiu as mãos cálidas de seu professor de Espanhol tocarem seus ombros, enquanto ele pegava o microfone para si.
— E esse foi , pessoal! — falou animado, dando tapinhas no estudante que já mostrava sinais de desanimação. A plateia o aplaudiu animado, enquanto o rapaz descia da estrutura e se dirigia vagarosamente até onde estava Oliver. — Pois bem, dando continuação aos nossos trabalhos, com vocês, !
Ao ouvir o anúncio da amiga, estancou rapidamente, virando o torso para encará-la no palco. Ele ainda possuía o violão em seu tronco, o que fazia um peso incômodo, mas ele queria ver o que a menina iria dizer. Talvez ela o rejeitasse ali mesmo, na frente de todos, apesar de saber que a humilhação gratuita não era uma marca do comportamento de , sobretudo quando o humilhado seria ele.
não estava nervosa. Tinha um sorriso contido em uma de suas bochechas e com as mãos segurava um papel, que sabia ser uma cola para caso esquecesse da apresentação. Ela nunca esquecia, mas também nunca apresentou nada sem algo que a assegurasse que daria tudo certo. Porque era assim, ela não apostava no escuro. Ela precisava de garantias. E, sem saber, a tinha dado a maior delas.
— Boa tarde, gente! — Começou animada, mexendo nos cabelos. — Bem, vai ser um pouco difícil superar a apresentação do , certo? — Riu rapidamente, procurando o olhar do amigo em meio à multidão de alunos. — Mas, como o dele, o meu trabalho também vai ser direcionado. — Piscou para o menino, que a olhou surpreso, mas também animado para o que estava por vir. — Passamos anos e anos vendo Hollywood nos iludir com comédias românticas, em que a mocinha se apaixona pelo melhor amigo e eles vivem o maior conto de fadas que existe. — Rolou os olhos, ainda divertida. — Os livros também são outros que podem ser nossos aliados ou os maiores inimigos de nossas vidas. Eu sempre gostei muito de ler e o tema friends to lovers sempre foi o meu favorito. Contudo, algo sempre me incomodou. Nessas obras, por vezes, eles ignoraram o ponto crucial de se apaixonar pelo seu melhor amigo. E se não desse certo? O que aconteceria depois? Não seria como o fim de um simples relacionamento. Você perderia a sua âncora, o seu porto seguro, o seu maior confidente. — Suspirou, ainda encarando , que também a olhava vidrado. — E, por muito tempo, esses “E se” tomaram conta de mim, fazendo com que eu abdicasse dos meus próprios sentimentos e da minha própria felicidade. — Riu sem graça, amassando levemente o papel entre os seus dedos — Mas hoje eu vim decidida a acabar com o ciclo de inseguranças que estava dentro de mim. Eu só não esperava que o anteciparia as minhas intenções. — Riu novamente, dessa vez mais afetada, ainda emocionada com a apresentação do amigo. — Então, não, eu não vou cantar também — falou rapidamente, ouvindo alguns risos em resposta. — Eu escrevi um poema, que diz muito sobre como eu me senti durante todos esses anos mascarando o amor que eu sentia pelo meu melhor amigo. — Olhou para , recebendo um sorriso enorme em resposta. — O nome é Por Amarte Así.
Siempre serás el niño que me llena el alma
Como un mar inquieto, como un mar en calma
Siempre tan lejano como el horizonte
Gritando en el silencio tu nombre en mis labios
Solo queda el eco de mi desengaño
Sigo aquí en mi sueño de seguirte amando
(Você sempre será o menino que me preenche a alma
Como um mar inquieto, como um mar em calma
Sempre tão distante quanto o horizonte
Gritando em silêncio teu nome em meus lábios
Só resta o eco do meu desengano
Sigo aqui em meu sonho de seguir te amando)
Começou a declamar de um modo leve, mas intenso e emocionado, tentando passar tudo o que estava sentindo do jeito mais sincero que conseguia.
Será, será como tú quieras pero así será
Si aún tengo que esperarte siete vidas más
Me quedaré colgado de este sentimiento
(Será, será como você quiser, mas assim será
Se ainda tenho que te esperar sete vidas mais
Vou ficar preso a este sentimento)
Por amarte así
Es esa mi fortuna, es ese mi castigo
Será que tanto amor acaso está prohibido
Y sigo aquí muriendo por estar contigo
Por amarte así
A un paso de tu boca y sin poder besarla
Tan cerca de tu piel y sin poder tocarla
Ardiendo de deseos con cada mirada
Por amarte así,
Por amarte
(Por te amar assim
É esse o meu destino, é esse meu castigo
Será que tanto amor por acaso é proibido
E sigo aqui morrendo para estar contigo
Por te amar assim
A um passo da tua boca sem poder beijá-la
Tão perto da tua pele e sem poder tocá-la
Ardendo de desejos com cada olhada
Por te amar assim,
Por te amar)
A conexão de olhares entre e era intensa, como se só tivesse os dois dentro do ginásio. Foram anos de um amor reprimido, que esmagava dolorosamente o peito de ambos devido à negligência que lhe fora atribuída. era de e era de . E, ali, eles estavam tentando deixar claro que nunca existiria outro caminho plausível.
Así voy caminando en esta cuerda floja
Por ir tras de tu huella convertida en sombra
Presa en el amor que me negaste un día
Contando los segundos que pasan por verte
Haciéndote culpable de mi propia suerte
Soñando hasta despierto con hacerte mío
(E assim vou caminhando nesta corda bamba
Por seguir tuas pegadas transformadas em sombra
Presa ao amor que me negaste um dia
Contando os segundos que passam para te ver
Te fazendo culpada de minha própria sorte
Sonhando até acordada em te fazer meu)
Será, será como tú quieras pero así será
Si aún tengo que esperarte siete vidas más
Me quedaré colgada de este sentimiento
(Será, será como você quiser, mas assim será
Se ainda tenho que te esperar sete vidas mais
Vou ficar presa a este sentimento)*
E, assim, ela terminou. Recebendo aplausos animados e os mesmos gritos animados de Oliver, que não tinha se aproximado de para dar a ele tempo para assimilar o que estava acontecendo.
Após agradecer aos colegas pelo carinho recebido, nem esperou o professor chegar até si, colocando o microfone no suporte adequado e descendo rapidamente até o local em que estava. Em poucos passos, alcançou o menino, não dando tempo para que ele falasse nada antes de pegar em sua mão e puxá-lo para fora do ginásio.
A dupla seguiu em silêncio até o pátio do colégio que, devido às apresentações, estava vazio, o que dava a eles a privacidade necessária para o momento. Chegando lá, sentaram em um dos bancos ali dispostos. colocou o seu violão encostado em uma das árvores, e, nervoso, olhou para , que também o encarava ansiosa.
— Então… — disseram ao mesmo tempo, rindo levemente ao verem que tinham feito um coro. fez sinal para que começasse a falar, o que ela logo fez, respirando fundo antes de iniciar.
— Que loucura isso que acabou de acontecer… — falou timidamente. Aparentemente, toda a sua coragem tinha se dissipado em cima daquele palco e as mãos suadas eram apenas um dos sinais que mostravam o seu nervosismo. — Tudo o que eu falei é verdade, . Eu amo você. Um dia você me perguntou o porquê de eu não conseguir me abrir com você sobre os meus sentimentos amorosos. Eu não lembro a resposta que eu te dei, mas sei que eu menti. A razão disso acontecer é porque eu não conseguiria fingir que o cara que eu sou apaixonada não é você. Você quem me tira os sorrisos nos momentos em que eu só quero chorar. Você quem muda meu dia apenas com um abraço, ou até com uma mensagem. Você é o único que maratona as minhas séries comigo, mesmo as que você considera insuportáveis, como Pretty Little Liars. — Suspirou, sentindo-o segurar a sua mão com carinho. — Você é a minha pessoa, . E eu sinto muito que eu só tenha tido coragem para dizer isso agora.
— Você não sabe o quanto eu esperei para ouvir isso — disse emocionado, apertando com mais força a mão da menina, que refletia o suor das suas palmas. — Por muito tempo, eu não me sentia pronto para assumir nem para mim mesmo o que você realmente significava para mim. Você nunca foi apenas a minha melhor amiga. Você é o que me transborda, . Faz eu ser muito melhor do que eu seria normalmente. Eu deveria saber que, desde quando você me convidou para ver a sua coleção do Homem-Aranha, eu estava condenado. Condenado a amar você de um modo que eu sei que não poderei amar ninguém. Nós só temos dezoito anos e eu sei que, nessa idade, as nossas convicções são fracas e muito suscetíveis a serem destruídas com o tempo. Mas tem algo dentro de mim, que é a mesma coisa que me fez subir naquele palco hoje e cantar… — falou afetado, fazendo-a rir levemente. — Por Deus, eu cantei ali em cima! — Balançou a cabeça, ainda chocado com o que tinha feito. — Essa sensação que me fez ter coragem de falar tudo o que eu sentia para você. Sem medo de rejeição, sem medo de te perder. Porque, no fundo eu sei, nós somos para sempre. — Declarou, puxando a menina para um abraço apertado e sendo retribuído com a mesma urgência. Para , era como um colete salva-vidas em um mar aberto, enquanto estava à deriva. Para , era uma cama quente após um dia exaustivo. Ambos não precisavam um do outro para viverem, mas juntos eles transbordavam. Transbordavam cumplicidade, fidelidade e, sobretudo, amor.
— E o que acontece agora? — perguntou, após se soltarem do abraço.
— Agora você me beija, namorado. E, de preferência, não me larga nunca mais — falou, capturando os lábios do menino com carinho, em um selinho.
— É, eu gostei disso. — Concordou, puxando-a para um beijo de verdade.
Mais uma vez, eles estavam juntos. E, dessa vez, pra valer.
*Trechos da canção Por Amarte Así de Cristian Castro
FIM
Nota da autora: Vocês ouvem os sinos de aleluia? PORQUE EU FINALMENTE TERMINEI ESSE FICSTAPE! Socorro, achei que nunca chegaria no final, que acabou se alongando muito mais do que eu pretendia. Enfim, eu não sabia exatamente o que escrever, mas sabia que queria narrar algo entre melhores amigos. Assim, aqui estamos! Eu amo essa música demais e não sei se consegui honrá-la neste ficstape, mas juro que tentei! Quem gostou, se puder deixar um comentário, vai me fazer muito feliz! Um beijo e até a próxima!
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