Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Abril 2013.
Carta a .

Eu me lembro perfeitamente do seu cheiro, do seu toque, dos seus lábios. Lembro-me de todos os dias que passamos juntos, de cada briga, cada conquista e da nossa maior derrota. Foram longos anos lutando contra essa doença, vencemos. Só Deus sabe como foi difícil e como foi gratificante te ver balançando o sino da cura no Hospital, o que ninguém poderia prever é que ela voltaria com um fantasma do passado. Apesar de estarmos muito longe, sinto sua presença, às vezes penso que você não se foi e que de alguma forma e a qualquer hora você voltará. Os meus planos ainda são os mesmos, os nossos. Talvez eu tenha que mudar em algum lugar, não sei o certo a se fazer e nem a direção. Hoje é 22/04/2013, você deve se lembrar perfeitamente desta data. Hoje eu estaria completamente eufórica, rodeada pelas mulheres da nossa família, um maquiador e um cabeleireiro e você com aquela típica preocupação de todos os noivos. “Ela está demorando”. E o que seria apenas uma espera de minutos para enfim nos tornarmos um só, diante todos e de Deus, se transformou em uma longa espera em diferentes planos de vida. Não está fácil seguir em frente, mesmo depois desses longos meses. Mas seguir em frente se tornará uma necessidade. Você sempre me disse que nunca é fácil nos desprendermos do passado principalmente quando há dor, eu seguirei e te levarei sempre comigo.
Com amor,
Agosto, 2010
- Vim o mais rápido que pude, querida – Elena, mãe de , disse ainda ofegante - O que aconteceu?
- Eu não sei, quando cheguei ele estava caído no chão com os lábios cheios de sangue. - provavelmente essa cena demoraria a sair dos meus pensamentos.
- Familiares de . - chamou a enfermeira.
- Sim - respondi apresada.
- Por favor, venham comigo - a seguimos entrando em uma porta a direita logo em seguida.
- Boa tarde, sou Louise, a médica do caso, e vocês são? - questionou ao se sentar.
- Eu sou Elena, mãe de , e essa é , a namorada.
- Pelo que me foi passado, foi encontrado desacordado, com sangue saindo pela boca e nariz - disse olhando para fichas - Fizemos os exames e contatamos que...
- Doutora, o que meu filho tem? - Interrompeu Elena.
- está com Leucemia mielóide crônica, fase crônica - a partir desse momento eu não conseguia escutar mais nada - Temos que eliminar todas as células que possuam o cromossoma Filadélfia, tentando impedir a evolução da doença com o tratamento à base de remédio.
Setembro, 2010
- Como está se sentindo hoje, filho?
- Como se esse remédio não funcionasse, cansado e fraco. - pude notar o quão desanimada sua mãe estava pela falta de brilho em seu olhar.
- Eu vou chamar a médica - saiu rapidamente
- Às vezes penso que vou morrer, esse remédio é uma droga, literalmente.
- Bom dia, - A médica chegou cortando nosso diálogo.
- Bom dia, Doutora.
- Eu preciso conversar com vocês três - fechou a porta logo em seguida se sentando - me pediu para ser bastante sincera com ele, por isso ele também irá participar desta conversa - olhou para todos do cômodo - Você não está reagindo bem ao tratamento de Imatiniba e para barrarmos essa doença, precisamos fazer o transplante de medula óssea, é o único tratamento que poderá te levar à cura. - houve um silêncio no quarto, que foi quebrado minutos depois pela voz de .
- Eu aceito, eu quero fazer o transplante - podemos notar um brilho em seu olhar opaco, havia esperança.
- Preciso esclarecer que temos certa urgência e precisamos de familiares o mais rápido possível para agilizar o processo, esse transplante não será um cem por cento, temos um período pós-cirúrgico com cuidados para que nos garanta melhor resultado com o tempo. Você vai sair dessa, , tenha fé.

Dezembro 2011
tinha saído cedo e ainda não voltara, não atendia ligações. Elena dizia que ele estava em sua casa e que mais tarde retornaria, porém algo ali estava estranho. O que eu nunca imaginaria seria a surpresa que ele tinha preparado.
Como um bom amante de jogos de ‘ache o tesouro’, ele montou o seu.
Recebi uma ligação de sua mãe dizendo que precisava ir até sua casa, confesso que fiquei apreensiva, então ali começara a primeira pista daquele jogo.
“Ligue a televisão e assista ao vídeo até fim.”

Então, , você deve estar se perguntando o que significa tudo isso. Bom, isso você só irá descobrir seguindo e desvendando cada pista. O que vou lhe dizer agora é um dos motivos para tudo isso.

Ele mostrou um envelope branco.

Treze de agosto de dois mil e dez, o que está data te lembra?

Fez uma breve pausa.

O dia que recebemos a tão temida notícia. Hoje, um ano e quatro meses depois, eu lhe trago um dos motivos para se lembrar desta data, abra a gaveta e pegue esse envelope, assim que terminar de lê-lo dê play nesse vídeo.

Abri trêmula aquele envelope, era do hospital, eu não esta entendendo nada. Dei play no vídeo.

Sim, é isso mesmo que você está pensando. Eu estou curado.

Então aquele grito preso em minha garganta se libertou, junto com minhas lágrimas.

Te espero para próxima pista, naquele lugar onde garrafas foram giradas e pessoas escolhidas, resta saber se essa era a escolhida.

Lugar do nosso primeiro beijo, primeiro encontro entre outras datas especiais. E a última pista me levou a um campo de lavanda como o do retrato de nossa sala.
- Gostou de jogar? - Ele estava tão lindo de terno.
- Confesso que mesmo não entendendo nada, eu adorei.
- Eu fiz tudo isso para dizer que você é a pessoa mais especial da minha vida, a mulher que eu escolhi para envelhecer e ter filhos. Aquela doce menina de quinze anos atrás na fila da sorveteria que derrubou sorvete em meus sapatos, que passou toda adolescência ao meu lado, se tornou o meu remédio. Lembro-me de todas as coisas que eu pensei que queria ser e nesses planos agora te incluo. - se ajoelhou - Martini, você aceita se tornar a senhora ? - então corri para seus braços, o beijando.
- É claro que aceito, eu não poderia estar mais feliz - o beijei novamente- Você venceu o câncer e agora mais essa surpresa. Eu te amo te amo, te amo.
Março, 2012
Já fazia uma semana que estava com aquele roxo nas costas, segundo ele, resultado de uma batida na porta do nosso banheiro, e sua coordenação motora estava terrível ultimamente.
Após uma longa insistência, consegui levá-lo ao médico por seu nariz sangrar. Depois de alguns exames veio mais uma surpresa, o câncer havia voltado. Eu nem sequer poderia imaginar que mesmo após o transplante ele podia voltar. Mas, dessa vez era Estágio Raí IV. Por mais que algo em mim pedisse para acreditar em milagres, o pensamento de ele partir me cortava por dentro, fazia com que eu revirasse todas as noites naquela poltrona dura de hospital, com que tirasse todo meu apetite.
Abril, 28/11/2012
- Estou me sentindo tão cansado - fez uma longa pausa - Sinto como que a cada minuto que se passa, a cada segundo, um pouco de mim se vai - cada frase que ele dizia doía mais que vários cortes de lâmina. - Eu queria tanto te fazer feliz - sua crise de tosse começou, eu não sabia o que fazer, só não queria chorar perto dele, queria que ele se mantivesse seguro e com esperança de que tudo ia dar certo.
- Você já me faz feliz - segurei firme em sua mão - Você sempre me fez feliz, tantas histórias vivemos até aqui e tantos planos que iremos realizar. - senti minha voz vacilar e lágrimas teimosas já rolavam.
- Eu vou descansar, me sinto tão fraco. - então pude notar que ele também chorava - Eu preciso que você me deixe ir, preciso me libertar. Não chore - tentou limpar minhas lágrimas. - Eu estarei bem, não sentirei mais dor.
- E-eu não sei o que fazer, confesso que não estou nem conseguindo pensar direito - Talvez as palavras em alguns momentos se escondiam. Estava travada olhando para ele, sua nova aparência o deixava tão irreconhecível. - Eu não quero me imaginar sem você, sofremos tanto nesses últimos anos, você sofreu, passou por tantas dificuldades e eu não quero ser egoísta, não sei como vai ser daqui para frente sem você, mas, eu te liberto - aquele nó em minha garganta já estava impossível de caber. - Eu deixo você ir, porque sei que você irá ficar para sempre em meu coração, porque sei que será por pouco tempo e que um dia nos encontraremos.
- Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente - pausou tentando respirar - é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. - sorriu - O que acha de cantar para que eu durma?
- Lembro-me de todas as coisas que eu pensei que eu queria ser, tão desesperado para encontrar uma maneira de sair do meu mundo e, finalmente, respirar. Bem diante dos meus olhos eu vi, meu coração veio à vida isso não é fácil, não é para ser. Toda história tem suas cicatrizes (...). Quando a dor cortá-lo profundamente, quando a noite o impedir de dormir basta olhar e você vai ver, que eu vou ser o seu remédio. Quando o mundo parecer tão cruel e se seu coração fizer você se sentir como um tolo, eu prometo que você vai ver que eu serei eu serei o seu remédio. - Assim que terminei de cantar pude escutar seu coração cessando, ele tinha parado de bater. , finalmente, havia descansado.
Ele havia partido.


“Nenhum rio é muito largo ou muito profundo para eu nadar até você.
Venha qualquer hora, eu vou ser o abrigo que não deixe a chuva passar.
Seu amor é a minha verdade.
E eu sempre vou te amar.
Te amar, te amar”




Fim



Nota da autora: Sem nota.



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