Última atualização: Fanfic finalizada.

01. Test Drive

— Estamos esperando por mais alguém? – Namjoon questionou, se jogando no sofá do estúdio depois de ir buscar um copo d’água no bebedouro do lado de fora e, ao voltar, encontrar parte do grupo ainda em seus lugares, largados e folgados.
Yoongi assentiu, sentado em frente à grande mesa de edição. Todos os produtores e outros profissionais que estavam trabalhando no estúdio já haviam ido embora há alguns minutos, mas eles continuavam lá e Namjoon não fazia ideia do motivo.
— Sim. – Yoongi disse, simplesmente, sem nem se virar para o amigo.
Namjoon esperou que ele continuasse a falar, mas revirou os olhos ao perceber que Yoongi não iria se estender por vontade própria.
— Que seria...?
.
Namjoon encarou Yoongi como se ele tivesse acabado de anunciar que sairia do grupo, sua expressão confusa e em choque, e Taehyung cutucou Jimin no sofá, os dois caindo numa risada logo em seguida e sendo repreendidos por Hoseok, mas ele também carregava um ar divertido no rosto.
— Hm, ? Por quê? – Namjoon se esforçou para soar o mais calmo e desinteressado o possível.
Dessa vez Yoongi se virou para ele, agora com um sorriso sacana.
— Quero a opinião dela em uma das nossas faixas.
— Ela não é produtora, Yoongi, ela é maquiadora.
— Sim, e ela já deixou bem claro que é nossa fã, então eu quero saber como nossos fãs vão reagir ao ouvir a música. Vai ser quase como um test drive e algo me diz que a opinião dela pode ser bastante valiosa.
Namjoon respirou fundo. Não costumava discutir sobre essas coisas com Yoongi, mas tão pouco Yoongi costumava se importar com opiniões ou qualquer coisa do tipo. Min Yoongi querendo fazer um test drive? Chegava a ser quase cômico.
— Opinião em qual delas, Yoon?
— A Skit.
Namjoon o olhou novamente como se mais duas cabeças tivessem crescido no pescoço do amigo. Do que diabos Yoongi estava falando?
— Nós não temos uma Skit para este álbum.
— Temos sim, hyung. – Taehyung se intrometeu, ainda dando algumas risadas.
— Gravamos ontem, Namjoon, já se esqueceu? – Jimin emendou, compartilhando o mesmo sorriso que o amigo ao seu lado.
— Ok, o que? – Ele questionou, perdido. Não tinham gravado nada no dia anterior. Muito pelo contrário, tentaram gravar a Skit por horas e nada saiu, deixando todos eles absurdamente frustrados. E bêbados.
— As vezes eu me pergunto como esse cara tem um dos maiores QIs da Coreia. É por isso que o nosso sistema de educação é tão falho. – Yoongi zombou, passando a língua pelos lábios.
— Nós não gravamos merda nenhuma ontem. – Namjoon soltou, já irritado com a atitude dos outros.
Hoseok finalmente deixou o sorriso abrir.
— Nós discordamos. Achamos que se dermos uma editada em algumas partes, podemos conseguir algo bem interessante. – Ele disse, inocente.
— Mas que porr-
Risadas altas invadiram o estúdio quando a porta se abriu, revelando Jungkook e Seokjin às gargalhadas com , que precisou se apoiar no garoto mais novo enquanto se curvava para rir.
— É sério, eu juro pra você! – Jungkook exclamou, fazendo um bico em uma careta falsa de chateação.
revirou os olhos e Seokjin estalou um tapa leve na cabeça do mais novo, que protestou.
— Sem chance, Jungkook. Você não pode ter comido tudo isso. – A voz da garota preencheu o estúdio e Namjoon se ajeitou automaticamente no sofá, observando a cena.
— Não duvide, . Já vi esse garoto fazer coisa pior. – Seokjin falou, olhando para Jungkook com uma expressão de desgosto.
— Então não me surpreende que tenha passado a noite toda no banheiro, Jungkook. Depois de seis pratadas de lámen, queria o que?! – Ela exclamou e eles voltaram a rir.
— Meu Deus, não acredito que Jungkook está contando essa história nojenta do banheiro pra literalmente todo mundo que ele encontra. – Jimin exclamou do sofá, indignado.
Jungkook deu de ombros.
— Foi um grande acontecimento.
Todos riram e a maioria revirou os olhos para o sorriso orgulhoso do garoto.
— Ei, oi, meninos. – acenou brevemente com uma mão e sorriu para cada um deles. Foi perceptível que Namjoon recebeu uma olhada significativamente mais rápida do que os outros, embora o rapaz estivesse com os olhos pregados na mulher desde o momento em que a porta se abrira. agitou a maleta prateada com alguns produtos e equipamentos de maquiagem que trazia. – Do que estão precisando? Acho que esqueceram de me avisar que vocês precisavam de mim hoje e também não colocaram na minha agenda, sinto muito. Só tenho isso aqui disponível por enquanto, mas posso subir e preparar uma das salas para vocês e ver se consigo mais alguém a essa hora para-
— Senta aí, queremos te mostrar uma coisa. – Yoongi a cortou sem rodeios, apontando para o lugar vago no sofá entre Namjoon e Hoseok.
tombou a cabeça um pouquinho, confusa. Namjoon quase morreu com a visão. Por Deus, como era fofa.
— Me mostrar?
— Senta. – Yoongi repetiu e se sentou no lugar onde Hoseok estava dando tapinhas com um sorrisão no rosto. Ela preferiu ignorar Namjoon, sentado do seu outro lado. Assim como ignorou nas últimas duas semanas.
— Ok..?
— Oh, isso vai ser tão divertido! – Taehyung gritou, ajeitando a postura para se sentar em uma posição de pernas de índio.
— Vocês realmente vão fazer isso? – Seokjin perguntou, arqueando as sobrancelhas.
Jimin apontou para a porta.
— Se não quiser ficar, pode sair, hyung. – Ele respondeu, atrevido, e Seokjin revirou os olhos e se sentou em uma cadeira ao lado de Yoongi.
— E perder esse grande momento? Nah. – Seokjin falou.
— Eu realmente gostaria muito de saber do que vocês estão falando. – Namjoon disse, baixinho e agora um pouco acuado.
— Disso aqui, Rap Monster. – Yoongi posicionou a mão sobre alguma coisa na mesa de edição, mas manteve os olhos em quando disse: – Eu nem sou de rezar, mas já faz quase duas semanas que eu peço para Deus me trocar de quarto porque eu não aguento mais ouvir o choro do Namjoon toda noite. É insuportável. Por favor, , resolvam esta merda.
E sua mão desceu, os dedos apertando alguns botões. Antes que ou Namjoon pudessem esboçar qualquer reação, uma gravação começou a soar pelas caixas de som do estúdio.
Eu acho que a luz vermelha vai acender logo, logo. – A voz de Jimin foi facilmente reconhecida e, em seguida, risadas explodiram na gravação.
A luz já está acesa há uns 30 minutos, seu idiota. reconheceu agora a voz de Yoongi e, apesar do xingamento, soava brincalhona e carinhosa.
Que? Como assim? – Novamente Jimin.
Relaxa, aquela luz vermelha faz todos ficarem nervosos. – A garota ouviu agora a voz de Namjoon soar enquanto, ao fundo, ela pode notar o barulho de algumas garrafas de vidro batendo umas contra as outras e uma gritaria indefinida. Um brinde, aparentemente.
Ao seu lado, ela sentiu o corpo de Namjoon congelar. Literalmente congelar. Ele ficou imóvel e sua respiração falhou tão alto, quase como uma engasgada, que foi inevitável para não se virar para encará-lo de vez. E ela encontrou Namjoon de olhos arregalados e boca aberta, encarando Yoongi desesperado.
— Yoongi! – Ele bradou, em pânico, e o rapaz na mesa de edição pausou a gravação.
Namjoon finalmente tinha entendido. Merda. Merda, merda, merda!
— Me agradeça depois.
E Yoongi apertou o play novamente.

02. Skit

— Relaxa, aquela luz vermelha faz todos ficarem nervosos. – Namjoon afirmou e se virou para bater sua garrafa de soju contra a de Jungkook, que estava ao seu lado.
— Então quer dizer que você está nervoso, hyung? – Jimin questionou, rindo. – Você tava babando nesse sofá uns cinco minutos atrás.
Apesar das risadas, o clima no estúdio estava tenso na noite anterior, abatendo a todos por não terem conseguido gravar a bendita Skit porque simplesmente não sabiam o que fazer para essa faixa. Por isso, para aliviarem um pouco a energia pesada, decidiram trazer algumas garrafas de soju e cerveja para ver se, assim, a inspiração vinha mais fácil.
Mas, até aquele momento, nada.
Yoongi, que estava – para variar – sentado na mesa de edição, com Hoseok ao seu lado, cortou o papo:
— Eu não acredito que nós não conseguimos pensar em nada. – Ele bufou, frustrado, e virou uma garrafa de cerveja inteira sem nem piscar.
Hoseok, mais cabisbaixo do que nunca, pela frustração e pela bebida, já que o garoto tinha uma reação contrária da maioria das pessoas quando consumiam álcool – para ele, que estava quase sempre eufórico e agitado, ficar bêbado era sinônimo de ficar absurdamente mais lento e desanimado, quase num estado de lamentação –, assoprou através do gargalo de sua garrafa vazia, fazendo um barulho com o ar.
— Nós já fomos melhores nisso. – Ele falou.
— Foi tudo muito espontâneo das últimas vezes, Hobi. – Namjoon respondeu, terminando de virar sua terceira garrafa de soju. Já sentia os dedos das mãos e a pontinha do nariz dormentes, mas, mesmo assim, buscou pela quarta garrafa na mesinha em sua frente.
— E por que não conseguimos ser espontâneos agora? O que faremos?! – Taehyung choramingou, deitado de costas no chão e batendo os pés como uma criança. Seokjin lhe deu um chute e ele mostrou a língua para o mais velho, birrento.
— Vamos falar de amor.
Todos voltaram seus olhares para Hoseok, que voltou logo a assoprar a garrafa vazia.
— Amor, hyung? Que amor o que, só se for amor de pica! – Jungkook soltou, gargalhando descontroladamente no sofá, enquanto todos o encaravam sem se surpreender com sua fala. Aquele era o Jungkook bêbado: um pré-adolescente de 13 anos. Muito parecido com o Jungkook sóbrio.
Hoseok jogou uma tampinha nele, que reclamou.
— Eu tô falando sério, quinta série. Vamos falar sobre o nosso tipo ideal.
— Puta merda. – Yoongi suspirou, deitando a cabeça nos braços em cima da mesa.
— Hyung, qual o seu tipo ideal? – Taehyung se virou de bruços no chão, apoiando a cabeça nas mãos e balançando as pernas para cima, encarando Hoseok.
— O meu? – Hobi coçou o queixou por alguns segundos. – Você, Tae.
— Ai, os meus vhope tão mais vivos do que nunca! – Jimin gritou, colocando as duas mãos na boca, extasiado.
— Puta merda. – Yoongi bufou mais uma vez, sem levantar a cabeça.
— A bebida entra, a verdade sai. – Seokjin gargalhou, bebendo mais um gole.
— E você, Namjoon. Eu te morderia aqui, agora mesmo. – Hoseok completou, finalmente tirando o semblante abatido do rosto para exibir um sorriso galanteador, que fez Jimin explodir em mais uma gargalhada.
— Meu Deus, meu Deus, meu Deeeeeeeus! Todos os meus shipps estão sendo muito bem alimentados hoje, nunca mais passo fome. – Jimin comemorou, brindando sozinho com ele mesmo, segurando duas garrafas de cerveja.
— E eu?! – Jungkook se revirou e apontou um dedo acusador para Hoseok. – Eu não sou seu tipo ideal, Jung Hoseok? O que eles têm que eu não tenho?! – Ele se levantou e apoiou as duas mãos na cintura, aguardando uma resposta.
— Maioridade e maturidade. – Seokjin respondeu, recebendo um olhar indignado do mais novo.
— Ei! Eu já tenho vinte e dois anos! – Jungkook rebateu.
— E não vai fazer vinte e três nunca se continuar falando, porque eu vou matar você. – Yoongi levantou a cabeça apenas para lançar um olhar ameaçador ao maknae.
Foda-seeeeeeeee! – Jungkook gritou, fechando as mãos em frente à boca para amplificar o som. – Pelo menos eu sei que sou o tipo ideal do meu hyung, né Joon? Fala pra eles. – Jungkook cutucou o ombro de Namjoon com o indicador.
— Nah. – Namjoon respondeu, desdenhando.
— Mas que porra?! – Jungkook arregalou os olhos para Namjoon. – Eu larguei tudo por você, Namjoon! Tudo!
— Você não tinha nada, Jungkook. Você tinha dez anos. – Seokjin falou e até mesmo Yoongi se permitiu gargalhar, vendo o mais novo fechar a expressão em um bico.
— Ainda bem que eu nunca vou passar por essa humilhação, a minha alma gêmea tá bem aqui do meu ladinho. – Taehyung falou e Jimin abriu um sorriso que fez seus olhos se fecharem, acompanhando o sorriso quadrado do melhor amigo. O menor largou as garrafas que segurava na mesinha e se atirou em cima de Taehyung, o abraçando por trás.
— Qual o seu tipo ideal, Yoon? – Hoseok questionou, aparentemente alheio demais a tudo ao seu redor em sua própria bolha alcóolica.
— Provavelmente alguém que saiba fazer um coquetel molotov e queira derrubar o capitalismo. – Seokjin debochou e Yoongi tirou seu tênis apenas para atirar nele, acertando-o nas costelas.
— O Yoon é um cara muito perigoso, é, ele é o rei, ele é o chefão. – Hoseok observou para si mesmo e Yoongi estava se preparando para arrancar seu outro tênis quando ele continuou: – E o seu, Joon? Como seria a sua alma gêmea? Conta pro Hobinho.
Namjoon terminou a quarta garrafa de soju e, meio cambaleante, se esticou para alcançar a quinta.
— Não tenho.
Yoongi terminou de arrancar o tênis e o jogou na direção de Namjoon, errando seu alvo por pouco.
— Mentiroso de merda! – Ele exclamou.
— Oxe?! – Namjoon arregalou os olhos, confuso.
— Passa o dia inteiro escrevendo musiquinha pra e quer meter uma dessas agora? Não pra cima de mim.
— Tá doido, Yoongi?
— Tô mesmo, já tô sem dormir direito há sei lá quantos dias por causa do teu chororô sem fim, não aguento mais te ouvir dizendo, todo catarrento, “a me odeia”, “eu sou um idiota”, “eu estraguei tudo”, “eu tenho certeza de que ela jogou spray nos meus olhos de propósito e eu mereço isso mesmo”, e por aí vai. Então, sim, estou endoidando por sua causa, seu molenga.
Namjoon abriu a boca para se defender, mas o que acabou fazendo foi formar um bico e sentir seus olhos começarem a marejar.
— Ah, não, puta merda, de novo não. – Yoongi resmungou.
— Eita porra! – Jungkook exclamou, surpreso ao ver Namjoon soluçar alto e as primeiras lágrimas caírem.
— Eu disse que ele tava sofrendo de amor, Tete, e você insistiu que era só prisão de ventre. – Jimin falou para Taehyung no que deveria ser um sussurro, mas foi quase um berro.
— Ela me odeia, Yoon. Eu nunca mais vou beijar aquela boquinha linda e tudo porque eu sou um cagão. – Namjoon chorou, olhando fixamente para sua garrafa de soju.
— Minha nossa, essa festa virou um enterro. – Seokjin arqueou as sobrancelhas, sem acreditar na cena.
— Viu só com o que eu tenho que lidar?! Esses dias eu quase chutei a porta do banheiro quando ele tava tomando banho e começou a chamar pelo nome dela.
— Eca, que nojinho. Isso é falta de respeito, Namjoon, que perversão!
— Porque ele tava chorando, Jungkook. – Yoongi explicou, se mexendo impaciente em sua cadeira giratória.
— Ai, tadinho. – O mais novo fez um carinho nos cabelos de Namjoon ao seu lado.
— Eu não sabia que as coisas com ela estavam sérias desse jeito, Joon. – Seokjin disse, se ajeitando na poltrona onde estava sentado sozinho.
Namjoon deu de ombros, limpando as lágrimas. Enquanto isso, Jungkook ainda fazia carinho em sua cabeça, como se ele fosse um cachorrinho, Hoseok já tinha voltado a assoprar sua garrafa, alheio ao que estava acontecendo, e Taehyung e Jimin continuavam no chão, atentos à fofoca.
— Não tão, né. Ela me deu um pé na bunda. – Namjoon respondeu, mais calmo.
— Ela é doida, doidinha. Quem é que te dispensa desse jeito, me diz?! É por isso que você precisa aceitar que eu sou a sua alma gêmea, Joon hyung, eu nun-
— Pior que ela tá certa, Jungkook. E, se fosse eu, não teria dado só um pé na bunda dele, e sim uma voadora na cara. – Yoongi cortou Jungkook para explicar, arrancando mais um suspiro pesado de Namjoon.
— Eu sei que eu vacilei, mas-
— Sem “mas”. Vacilou demais e acabou.
— Eu sei disso, eu-
— Vacilão.
— Yoong-
— Lá em Daegu a gente pega vacilão na faca.
— Cacete, eu sei que eu errei, mas entrei em pânico, tá legal?! – Namjoon exclamou, frustrado.
— Meu Deus, Namjoon, o que você fez? Obrigou a menina a conhecer seus bonsais e chamar todos pelo nome? – Seokjin questionou, metade preocupado e metade curioso pela fofoca.
— Não fala isso, Jinnie, ela tem uma coleção de bonsais maior que a minha. Tá me dando gatilho. – Namjoon disse, fazendo mais um bico. – E eu meio que... sumi.
— Sumiu? - Seokjin franziu as sobrancelhas.
— É... a gente tava se vendo há algum tempo, saindo e tal... E aí eu sumi.
— Mas ela trabalha aqui com a gente, hyung. Como você pode ter sumido se vocês se veem todos os dias? – Jungkook cessou o carinho em Namjoon para curvar o corpo pra frente e encará-lo.
— Pois é. Só fica pior. – Foi Yoongi quem respondeu, revirando os olhos.
— Eu sei disso, muito obrigado. – Namjoon o fuzilou com o olhar.
— Há quanto tempo vocês estavam saindo? – Perguntou Seokjin. Ele sabia que Namjoon tinha alguma coisa com a maquiadora deles, isso era óbvio para qualquer um que visse os dois, mês ele não sabia a profundidade desse envolvimento.
Namjoon respirou fundo e fechou os olhos, apoiando a cabeça no encosto do sofá.
— Quase três meses.
— O que?! – Seokjin gritou.
— Você escondeu isso da gente por três meses, Namjoon?! – Jimin exclamou.
— Bem que eu desconfiei que ela tava se empenhando muito mais na sua maquiagem do que na nossa. Estranhei quando te vi mais bonito do que eu. – Taehyung observou.
— TRÊS MESES, KIM NAMJOON?! VOCÊ ESTAVA DANDO BEIJOCAS EM UMA PESSOA HÁ TRÊS MESES E EU SÓ FICO SABENDO AGORA? VOCÊ ACHA QUE ISSO É JUSTO?! QUANDO EU IA FICAR SABENDO DISSO? QUANDO VOCÊS SE CASASSEM?! NA FESTA DE QUINZE ANOS DA FILHA DE VOCÊS?! – Jungkook berrou enquanto distribuía tapas pelos braços de Namjoon e só nesse momento eles perceberam que Hoseok havia caído no sono em cima da mesa de edição, porque ele acordou por dois segundos para resmungar sobre o barulho e logo em seguida apagou novamente.
— Ai, moleque! – Namjoon reclamou, esfregando os lugares onde havia sido estapeado quando Jungkook parou com as agressões. – Eu estava esperando as coisas ficarem mais sérias para contar alguma coisa, eu não queria me iludir e quebrar a cara.
— Adiantou bosta nenhuma, deu tudo errado.
— Yoongi, você é mesmo meu amigo?
— Se eu não fosse teu amigo, eu já teria te sufocado com um travesseiro no meio da noite enquanto você chorava.
— Ok, mas porque você sumiu, se vocês já estavam se vendo há tanto tempo assim? O que foi que deu errado? Eu sei que você é doido por ela desde que ela entrou aqui há uns dois anos, Joon, eu lembro de ver você sempre torcendo para que ela fosse fazer sua maquiagem só para poderem conversar. Não entra na minha cabeça que, depois de você ter finalmente tomado coragem pra tentar alguma coisa com ela, tenha sido você o culpado para isso ter dado errado. – Seokjin perguntou.
Namjoon sentiu seus olhos encherem de lágrimas e, dessa vez, não era tanta culpa do álcool assim. Ele estava se sentindo novamente como nas últimas semanas: um grande idiota perdedor.
— Quando eu achei que tava na hora da gente tentar algo mais sério, me chamaram para conversar. Eu tinha levado a para jantar no restaurante de um amigo meu de confiança em Itaewon, eu tinha reservado o lugar inteiro pra gente, pra evitar que qualquer coisa vazasse, mas vazou. Fotografaram a gente dentro do restaurante, na saída e no carro na frente da casa dela. Passaram a madrugada inteira negociando as fotos e a empresa teve que pagar um valor absurdo para que não vazassem de forma pública.
— Porra, hyung... – Jungkook sussurrou, voltando a fazer carinho no cabelo dele. No chão, Taehyung e Jimim estavam imóveis e com as bocas igualmente abertas, em choque. Yoongi, que já conhecia a história, agora encarava Namjoon com pesar.
— E o que disseram pra você? Te obrigaram a terminar com ela? Espera, eles ameaçaram demitir a ?! – Seokjin questionou, aflito.
Namjoon voltou a fechar os olhos, sentindo a cabeça começar a girar. Agora, sim, por causa do álcool. Ele balançou a cabeça negativamente.
— Não.
— Não?
— Não. Eles quiseram que ela assinasse um contrato de confidencialidade pra se relacionar comigo. Um contrato que a proibia até mesmo de sair com os amigos caso o relacionamento se tornasse público, que exigia que ela se mudasse para uma área menos acessível da cidade para tentar preservar a privacidade dela, que iria controlar o trabalho dela dentro e fora daqui e que envolvia até mesmo uma multa para a família dela caso alguém tivesse contato com a imprensa, e isso inclui a irmã dela que é jornalista. A irmã dela iria precisar sair do emprego dela por minha causa.
— Puta que pariu, que meleca. – Jungkook xingou.
Seokjin balançou a cabeça, atordoado.
— E ela se recusou e você ficou decepcionado e aí vocês brigaram e ela te deu um pé na bunda? – Ele chutou.
— Nop. – Foi Yoongi que respondeu.
— Não? – Seokjin questionou novamente. – Então, o que? O que ela disse quando ficou sabendo do contrato?
— Nada. – Namjoon fungou, embora não chorasse mais. – Porque ela não sabe sobre isso.
— O que?! – Seokjin exclamou, surpreso.
— Eu não contei pra ela. Eu surtei. A gente tinha marcado de sair no outro dia e eu simplesmente não apareci. Não avisei, não liguei, nada. Só não fui e ignorei todas as mensagens e ligações dela.
— Namjoon hyung... – O tom de Jungkook começou suave, mas logo se tornou repreensivo: – Que vacilão.
— Ramelou. – Taehyung falou.
— Cagou no pau. – Jimin fez coro.
— Eu avisei. – Yoongi pontuou.
— Eu serei obrigado a concordar com Yoongi, Namjoon. Você ter sumido foi mais do que vacilo, foi errado. Poxa, imagina como ela deve ter se sentido. E isso não é nada parecido com você, Joon. Eu nem consigo imaginar você sumindo desse jeito, agindo dessa forma com alguém. Você é uma das pessoas mais responsáveis, carinhosas e gentis que eu conheço, nem faz sentido isso vindo de você. Por que você fez isso?
Namjoon tentou se controlar para não chorar novamente com as palavras de Seokjin, mas sentiu as bochechas molharem rapidamente.
— Eu entrei em pânico, Jinnie. – Namjoon começou, limpando o rosto. – Eu sei o quanto ela ama a liberdade dela, o quanto ela ama trabalhar aqui e em outros lugares também, o quanto ela se esforçou pra conseguir comprar o apartamento onde ela mora e o quanto a família dela importa. Só de imaginar que ela seria privada de tudo isso por minha causa, eu surtei. Eu não conseguia pensar direito, eu só não queria que ela perdesse tudo isso por mim. A gente sabe o quanto é foda essa vida, não poder dar um passo sem supervisão ou que todo mundo, literalmente, fique sabendo. Não seria justo arrastar a pro m-meio d-disso tudo. – Namjoon se atrapalhou com as palavras, gaguejando em meio ao choro.
Seokjin puxou o ar e o soltou lentamente, pensando bem no que iria dizer em seguida. Por mais que doesse demais ver um de seus melhores amigos desse jeito, ele não estava certo.
— Joon... Eu entendo a sua preocupação e acho que, no seu lugar, me preocuparia com as mesmas coisas. Mas não é uma decisão sua, é uma decisão dela. Se ela aceitasse essas condições, ela estaria fazendo isso conscientemente, e tenho certeza de que não seria uma decisão tomada de qualquer jeito, da noite pro dia.
Namjoon fungou.
— Eu sei disso. Quer dizer, eu me toquei depois, quando o pânico passou e eu fui atrás dela depois de alguns dias para tentar explicar o que tinha acontecido.
— Deixa eu adivinhar, foi aí que veio o pé na bunda? – Seokjin perguntou e recebeu como resposta um aceno positivo. – Bom, foi merecido.
Eu também sei disso.
— Você precisa dar um jeito de conversar com ela, hyung. Se você explicar tudo isso, pode ser que ela entenda por que você agiu desse jeito. Você só não pode deixar que ela fique sem saber o que aconteceu, ela deve ter se sentido péssima com o seu sumiço. – Jungkook disse, assumindo sua postura para assuntos sérios e afagando a nuca de Namjoon. – Além disso, você não sabe se ela aceitaria esse contrato.
— Ela aceitaria.
— Envolve muita coisa, hyung, como você pode ter tanta certeza?
— Porque eu aceitaria isso por ela. Nós tentaríamos chegar em um meio termo, iríamos tentar mudar algumas coisas desse maldito contrato, mas se não conseguíssemos, eu sei que eu aceitaria do mesmo jeito. – Namjoon respondeu, fechando os olhos para não precisar encarar os amigos enquanto continuava a desabafar. Sua cabeça latejava, rodava, e ele tinha certeza de que não se abriria tanto assim se não tivesse substituído todo o sangue em seu corpo por álcool. – Sabe aquele negócio de alma gêmeas que vocês tavam falando antes? – Ele perguntou de forma retórica. – Então, eu sei que ela é a minha. Simplesmente sei, acho que desde a primeira vez em que botei os olhos nela e senti meu corpo se arrepiar todinho. Eu aceitaria isso por ela e eu sei que ela aceitaria isso por mim. Mas eu não quero que seja assim, não quero que ela precise perder alguma coisa para ficar comigo. Quero que ela tenha tudo.
— Woooow. – Jungkook arregalou os olhos pela milésima vez na noite.
— Você realmente gosta dela, né? – Seokjin perguntou, mesmo que não fosse preciso.
Namjoon balançou a cabeça, suspirando.
— Muito, muito mesmo. Ela é... perfeita, Jinnie. – Ele riu com amargura. – Não perfeita no sentido de não ter defeitos, porque ela tem muitos, mas no sentido de que os defeitos dela são parte de quem ela é e eu amo esse conjunto todo, mesmo que muitas vezes a gente se matasse de tanto discutir. Eu sinto muita falta dela, Jinnie, é tanta saudade de poder simplesmente conversar com ela, só olhar pra ela de pertinho, que meu coração dói de pensar que a gente vai se esbarrar pelos corredores e ela vai me ignorar de novo.
— É a primeira vez que você diz isso. – Yoongi observou, atento.
— Isso o que?
— Que você ama o conjunto inteiro que ela é. Que você ama a .
Namjoon não havia se dado conta do que tinha dito, mas percebeu que aquilo não o assustava e nem era uma surpresa. Na verdade, fazia muito sentido e, se não fosse a situação caótica em que estavam, ele tinha certeza de que aquilo aqueceria seu peito a ponto de quase explodir em chamas.
— Como é que eu não vou amar alguém como ela, Yoon? Ela é a pessoa mais doce e engraçada que eu já conheci, ela para pra brincar com os cachorros na rua, ela dá risada de um monte de coisa boba, ela me deixa maluco toda vez que faz aquele maldito biquinho, ela adora conhecer um monte de lugares diferentes, faz questão de me mostrar seus museus favoritos e também gosta de pedalar comigo. Ela não tem vergonha de dizer que não sabe ou não conhece alguma coisa, mesmo sendo a pessoa mais inteligente do mundo, mas ela morre de vergonha toda vez que eu falo isso pra ela, o quanto ela é brilhante e incrível. – Namjoon jogou a cabeça para trás novamente, no encosto do sofá. – Bom, falava, né.
— Eu acho que vou chorar. – Jungkook tapou a boca com a mão, emocionado.
— Que lindo, Joon. – Jimin sorriu e Taehyung concordou, sorrindo.
— Você precisa falar com ela, Joon. Precisa contar tudo isso que você falou pra gente. – Seokjin deu um sorriso encorajador. – Tenho certeza de que ela vai te escutar.
— Da última vez que eu tentei, ela quase me cegou com um spray fixador.
Yoongi deu um tapinha no joelho de Namjoon.
— Continua tentando, Joon. Ela deve estar magoada ainda pela forma como você reagiu, e tudo bem. Mas ela vai te escutar, uma hora ou outra. Se ela é mesmo a sua alma gêmea, vai ficar tudo bem.
Namjoon sorriu fraco para o sorriso reconfortante que Yoongi o estava dando. Sabia que o amigo tinha uma paciência tão longa quanto curta para certos assuntos, mas também sabia que ele tinha um coração enorme e toda essa encheção de saco era, na verdade, preocupação.
— Obrigado, Yoong-
— Mas vê se resolve essa merda logo porque eu quero dormir bem o mais rápido possível.
Namjoon riu, balançando a cabeça, e Jungkook aproveitou a deixa no clima para se levantar e bater na própria barriga.
— Ok, fim da sessão terapia. Eu tô a fim de beber mais um pouco, já que eu tô sentindo que não vamos sair desse estúdio tão cedo pois nos tornamos um bando de improdutivos, mas minha barriguinha já está roncando de fome e eu não vou ignorar o chamado da natureza. Quem vai comigo no refeitório buscar alguma coisinha para comer?
Jimin se espreguiçou no chão e se levantou, puxando Taehyung junto.
— Nós vamos. Vi que chegou um carregamento de lámen hoje cedo e podemos preparar alguns para trazer pra cá.
— Sério? Um carregamento? – Jungkook questionou, abrindo a porta para que Jimin e Taehyung saíssem primeiro – Quantos lámens vocês acham que eu aguento comer, hyungs? Mais de quatro? Cinco? – A porta se fechou atrás deles e Namjoon, Seokjin e Yoongi gargalharam, fazendo Hoseok acordar assustado mais uma vez.

Yoongi apertou novamente o botão e a gravação parou.

03. Soulmate

O silêncio no estúdio, que havia se instalado logo nos primeiros minutos que a gravação começou a rodar, perdurou pelos próximos vinte e cinco minutos e quarenta e nove segundos até a gravação atingir seu fim. Ninguém ousava se mover, todos com os olhares fixos em e Namjoon, ambos congelados no sofá.
Como havia sido o deus do caos, Yoongi se sentiu na obrigação de cortar o momento:
— Ok, ok. Nossa parte aqui já foi cumprida, agora vamos vazar. Anda, bando de fofoqueiro, pra fora! – Ele anunciou agitando as mãos logo após se levantar, dando tapas nas pernas dos outros cinco, que reclamavam.
— Eu quero saber o que ela vai dizer! – Taehyung choramingou, sendo arrastado por Yoongi pela mão.
— Eu te conto se ele passar a noite chorando de novo, Tae. – Yoongi respondeu, mantendo a porta aberta para que os outros saíssem e, assim que todos já se encontravam do lado de fora, ele se manteve com metade do corpo para dentro, apenas para dizer, meio apreensivo: – Eu sei que talvez eu não tivesse o direito de expor tudo assim, me meter e tudo mais, mas eu realmente espero que vocês se entendam. Eu fui o cupido pra vocês começarem a se falar lá atrás quando o Namjoon não conseguia nem te dar bom dia sem gaguejar, , então me sinto um pouco responsável para dar uma mãozinha agora também. Se não gostarem, foda-se, me processem, mas espero mesmo que dê tudo certo. – Ele deu um sorrisinho e fechou a porta, deixando os dois finalmente sozinhos e sem ter para onde escapar.
Nenhum dos dois se mexeu nos primeiros segundos.
Namjoon estava com a cabeça travada, tentando pensar em qual seria a possível reação de , se ela tentaria ou não o cegar mais uma vez e, principalmente, se ela o ouviria ou não agora. O que ela estava achando de tudo o que ele tinha dito? Meu Deus, ele bêbado era sinônimo de emocional descontrolado, nunca mais iria beber dentro de um estúdio. E ele iria matar Yoongi. Lenta e dolorosamente. provavelmente o odiava agora.
E tentava processar todas as informações que havia acabado de ouvir. Era muita, muita coisa mesmo. Seu coração estava tão acelerado que era capaz que saísse de seu peito e fosse correr uma maratona, mas sempre que ela se lembrava de uma parte específica do que havia escutado, ela tinha certeza absoluta de que ele não aguentaria nem mais uma batida, pois ela se sentia fraca. Nas nuvens, quase.
Ela havia ido até o estúdio depois que Jungkook e Seokjin a cercaram quando ela estava pegando o elevador para ir embora, com a desculpa de que estavam pensando em fazer uma live e queriam dar, nas palavras de Jungkook, um tapa no visu. Foi um pedido incomum, já que toda a agenda dos meninos era absurdamente controlada e conhecida pela equipe, então ela estranhou a situação, mas nunca, nunca mesmo, imaginou que isso fosse acontecer. Apesar de tudo, a primeira coisa que ela constatou era que não estava de forma alguma brava ou irritada com a armadilha que os seis haviam preparado para ela e Namjoon, tão pouco havia ficado incomodada com a presença deles enquanto a gravação era reproduzida. Ela gostava muito de todos eles, tinha um carinho absurdo por cada um e foi um alívio tê-los ali naquele momento, suavizando a energia do lugar com algumas reações engraçadas e ansiosas.
Respirando fundo, ela se virou para Namjoon, o encarando diretamente nos olhos por mais de três segundos pela primeira vez em semanas.
— Então... Tudo isso é verdade, certo? – Ela decidiu começar confirmando isso, embora já soubesse que a resposta seria positiva.
— S-sim. – A voz de Namnjoo falhou, sua garganta mais seca do que o deserto do Saara. Ele tossiu rapidamente. – Sim, é tudo verdade.
assentiu, pensando no que falaria em seguida, mas Namjoon foi mais rápido.
— Eu sinto muito, . Sinto muito de verdade por ter feito o que eu fiz. Você não merecia que eu te deixasse no escuro desse jeito, que eu não te explicasse logo de cara o que estava acontecendo e que eu fosse um covarde por não enfrentar a situação do jeito certo. Me desculpa.
— Eu pensei que você tinha se cansado de mim, Namjoon. Que tinha aproveitado um tempinho comigo e depois tivesse ficado de saco cheio quando não era mais divertido ou interessante o suficiente pra você. – Ela engoliu o bolo que estava se formando em sua garganta. – Mesmo tendo visto tanto de você nos últimos meses, te conhecido tão a fundo, eu realmente pensei que tudo pudesse ter sido só uma loucura da minha cabeça. Porra, eu nunca pensei que eu fosse me sentir assim, ainda mais depois de tão pouco tempo, mas eu fiquei arrasada. Quando você não apareceu naquela noite e nem atendeu minhas ligações ou respondeu minhas mensagens, e eu sabia que você estava lendo todas, eu me senti uma idiota. E depois você desapareceu e me evitou por dias.
Namjoon respirou fundo, sentindo seu coração se quebrar por saber que ele era o culpado por ter causado tudo aquilo nela.
— Eu fui muito babaca e eu só espero que você possa me perdoar por isso. Mesmo que tenha tido um empurrãozinho do álcool, tudo o que eu falei ali é verdade. Todos os meus motivos, tudo o que eu pensei. Eu realmente entrei em pânico pensando que eu poderia te privar de viver de verdade. Eu nunca quis te machucar, eu só tentei te poupar, de um jeito muito idiota, de ter essa decisão em cima dos seus ombros, porque ela não é uma decisão justa.
Ela concordou.
— Não, não é. Mas ainda era uma decisão minha, e não sua.
— Eu sei. Desculpa.
Ela fez uma careta.
— Eu quero ver esse contrato.
Namjoon abriu a boca, surpreso.
— Quer?
assentiu.
— Quero. Se eles acham que podem me colocar numa coleirinha só pra poder ficar com você, eles estão muito enganados. Que absurdo é esse que afetaria até minha irmã? Imagina se eu vou esconder sobre nós dois pros meus pais ou pra ela? Com quem eu vou reclamar quando você for abrir a porta do carro e bater com ela na minha cara?
Namjoon deu uma risada engasgada e, incrédulo, perguntou:
— Então... Você ainda quer ficar comigo?
Ela revirou os olhos.
— Você foi mesmo um vacilão, Joon. Eu estava planejando te deixar com o rosto todo cagado pra próxima entrevista, mesmo que fosse uma missão quase impossível. Quando você veio falar comigo pela primeira vez depois de ter sumido, eu realmente falei a verdade quando disse que não queria mais ver a tua cara na minha frente se não fosse por nenhum motivo profissional. Eu tava achando que estávamos construindo algo legal exatamente por sermos tão abertos um com o outro, então, se você fizer algo parecido com isso mais uma vez, eu vou furar os pneus da sua bicicleta e você nunca mais vai me ver ou beijar essa boquinha linda, ficou claro?
Namjoon riu um pouco mais alto, começando a se sentir um pouco mais aliviado.
— Isso quer dizer que você me perdoa, ?
Ela negou com a cabeça.
— Não, ainda não. Isso quer dizer que vou te dar mais uma chance de fazer as coisas da forma correta dessa vez e, se isso acontecer, eu te perdoo.
Ele balançou a cabeça, sorrindo.
— Eu vou.
— Ótimo. Então me chame para sair.
Namjoon soltou uma risada nasalada.
— Sério?
— Parece que eu tô brincando? Me chame para sair, para fazer mais um piquenique perto do rio igual fizemos no nosso primeiro encontro e leve esse maldito contrato para que eu possa ler e decidir o que fazer. E uma garrafa daquele vinho caro e uma caixa daqueles chocolates importados. Me mime.
Namjoon gargalhou, o coração se aquecendo de felicidade. Por Deus, como ele tinha sentido saudade desse jeito dela. Foram as piores duas semanas de sua vida, definitivamente.
Ele se ajeitou no sofá, ficando de frente para ela, e segurou suas duas mãos, as trazendo para seu colo e as acariciando com suavidade. precisou morder o lábio para não sorrir com o gesto.
— Você aceita sair comigo, ? Prometo te mimar no melhor encontro da sua vida e nunca mais ser um vacilão.
sorriu, maldosa, e apertou de volta as mãos dele antes de se levantar do sofá.
— Vou pensar e te aviso.
Namjoon encarou a garota, estático.
!
Ela riu com gosto, dando de ombros.
— Aparentemente você me fez esperar uns dois anos para que você tomasse coragem de vir falar comigo, então agora não vai fazer mal nenhum te fazer esperar um pouco por mim também.
— Você quer me matar. – Ele balançou a cabeça, se levantando do sofá com um sorriso.
— Sim, quero. Quero te esganar, te dar uma paulada, te jogar de uma escada e te fazer de saco de pancadas, você merece. – Ela sorriu doce enquanto seus olhos mostravam uma ironia absurda. – Mas vou te dar um voto de confiança e pensar com muita benevolência sobre o seu convite. Te mando uma mensagem avisando, vê se responde dessa vez. – piscou, divertida, e Namjoon levou uma mão ao peito.
— Outch. Merecido.
— Muito. – Seu sorriso se tornou mais doce e ela se aproximou novamente de Namjoon, um pouco mais séria, e dessa vez foi ela quem tomou a atitude de segurar as mãos dele. – Não me esconde mais nada, tá? Por favor. Eu entendi por que você fez isso, mas eu não quero nunca mais que você pense por mim ou ache que deva me poupar de alguma coisa sem me consultar antes. O que eu mais gosto de nós é essa parceria que eu sinto, essa amizade que a gente construiu e que me fez aceitar sair com você da primeira vez. Pra mim isso é mais importante do que qualquer outra coisa e eu não quero mesmo perder isso. Eu sei que você não pensou direito porque surtou e você sabe que é a primeira vez que eu me deixo envolver com alguém de uma forma mais séria, mas eu não quero que seja do jeito errado. Eu quero poder contar com você e quero que você possa contar comigo também, e que qualquer problema que surja a gente possa resolver juntos, como deve ser.
Namjoon sentiu os olhos arderem novamente. Era um baita de um chorão e , definitivamente, era seu ponto fraco. Mas finalmente estava ali, a sua chance de fazer tudo certo dessa vez, com disposta a tentar, e ele não cometeria os mesmos erros e não a deixaria escapar novamente. Nunca mais.
— Eu não vou, . Eu prometo que não faço mais isso. Me desculpa. – Ele pediu pela décima vez no dia, sentindo as lágrimas rolarem.
sorriu, terna, e levou as mãos até o rosto dele, limpando as lágrimas.
— Tá tudo bem. – Ela deu um beijo na bochecha dele e se demorou ali por alguns segundos, matando a saudade daquela pele quente e cheirosa que havia sido a causa de seus sonhos e pesadelos nas últimas noites. Namjoon não havia sido o único a chorar em sua cama, afinal.
— Obrigado. – Ele sussurrou de olhos fechados, sentindo os lábios da garota ainda contra seu rosto e seu coração se agitar no peito.
Quando ela fez menção de se separar, Namjoon pousou suavemente suas mãos na cintura da garota, um pedido discreto para que ela não se afastasse. sorriu e passou as mãos pelo pescoço dele, e ele fechou os braços ao redor dela, a prendendo num abraço. Ficaram assim por alguns minutos e a decisão de se separarem veio de , que chegou ao seu limite do autocontrole por ficar desse jeito com Namjoon sem poder senti-lo de verdade da forma como estava morrendo de saudade. Ela sabia que Namjoon se sentia igual, mas não tomaria nenhuma atitude sem que ela deixasse claro o que queria.
Então, ela deixou.
levantou o rosto que estava escondido no pescoço de Namjoon, o encarando com um sorriso que fez o coração do rapaz falhar e aproximou sua boca da dele, fechando os olhos. Namjoon sentiu fogos de artifício explodindo em seu estômago quando sentiu a boca dela na sua.
Eles mantiveram o beijo casto por alguns segundos, apenas sentindo a respiração um do outro, matando a saudade de se sentirem próximos desse jeito, um nos braços do outro, mas o momento de calmaria passou assim que Namjoon levou uma mão até o rosto de e, com a outra ainda em sua cintura, apertou a região. Automaticamente, abriu a boca e permitiu que Namjoon avançasse.
Era como se nunca tivessem deixado de se beijar por um dia sequer, as línguas em uma sincronia invejável, mas também tinham uma urgência exatamente por terem ficado tanto tempo afastados. Namjoon levou a mão que estava no rosto de até sua nuca, agarrando seus cabelos com firmeza e a puxando para mais perto, enquanto ela desceu uma mão pelas costas de Namjoon, traçando o caminho até sua lombar, o fazendo se arrepiar.
Namjoon mordiscou o lábio inferior de e chupou a região, a fazendo arfar contra sua boca, satisfeita e entregue. Namjoon sabia exatamente o que fazer e como fazer, a deixando maluca quando ele arrastou sua boca pelo maxilar da garota até alcançar seu pescoço, deixando ali beijos quentes e chupões fortes o suficiente para deixar algumas marcas, mas ele sabia que ela gostava.
— Eu senti tanta falta disso, Joon... – Ela gemeu de olhos fechados, sentindo-o morder o lóbulo de sua orelha e todo seu corpo entrar em combustão.
— Eu nunca mais vou deixar você ficar longe de mim, . – Ele sussurrou contra seu ouvido, a fazendo soltar mais um gemidinho sôfrego e arranhar suas costas por cima da camiseta, e suas bocas se encontraram novamente.
Era isso. Ela estava entregue, e ele também. Eles sabiam que pertenciam um ao outro e não tinha como ser de outra forma. Não era pelas línguas entrelaçadas, que exploravam a boca um do outro, ou por qualquer outro toque carnal. Era pela sensação de que aquilo era absurdamente certo e de que, separados, tudo estava errado. Era pela conexão que sentiam, pelo cuidado que cada um queria dar para o outro, por cada pedacinho da alma de Namjoon que devotava e por cada pedacinho da alma de que Namjoon adorava.
Quando sentiu que o calor em seu baixo ventre estava aumentado em uma velocidade incrivelmente rápida, ela decidiu cessar o beijo, separando-se com selinhos demorados até que as respirações dos dois voltasse ao normal.
Encarando os lábios avermelhados e inchados da garota, Namjoon abriu um sorriso cheio de covinhas que era capaz de afetar mais ainda do que aquele beijo.
– Isso quer dizer que eu posso organizar nosso piquenique para amanhã?
riu, dando um tapa fraco no peito dele e se afastando um pouco, arqueando as sobrancelhas.
— Você deve me achar fácil demais, Kim Namjoon. Eu disse que vou pensar no seu caso.
Eles riram e ele fez um carinho no rosto dela, ajeitando, com a outra mão, os fios de cabelo de que ele havia orgulhosamente bagunçado.
— Esperarei ansiosamente, então. – Ele respondeu, galante, e ela riu, baixinho, se virando para pegar a maleta com seus equipamentos que havia deixado no sofá.
— Boa noite, Namjoon. – Ela se despediu, se aproximando para selar mais uma vez seus lábios.
— Boa noite, . – Ele respondeu contra a boca dela, sem conseguir tirar o sorriso do rosto.
Também sorrindo, ela se dirigiu até a porta, a abriu e, tomando um pouquinho de coragem, se virou para ele uma última vez.
— Joon? – Ela chamou, recebendo a atenção do rapaz. – Só para deixar claro, eu não tentei te cegar com o spray aquele dia. – Ela fez uma pausa e seguiu: – Eu tentei te asfixiar com o spray.
Namjoon gargalhou, balançando a cabeça negativamente, descreditado.
— Eu sabia! – Ele exclamou e ela riu.
— E mais duas coisinhas... – Ela respirou fundo e mordeu seu lábio inferior, tentando não sorrir feito uma idiota, e falhando miseravelmente. – Sobre todo aquele papo de alma gêmea... Você é a minha, eu tenho certeza disso. Eu também amo o conjunto todo que é você. – Ela devolveu a declaração que ouviu na gravação, a mesma que a havia feito quase se derramar em lágrimas na frente de todo mundo que estava no estúdio. – E pode preparar o piquenique de amanhã, mas não se esqueça do vinho caro. Não quero mais só uma garrafa, quero duas.
Ela piscou para ele e, sentindo suas bochechas corarem violentamente, ela fechou a porta do estúdio, deixando para trás um Kim Namjoon estático, com o coração à mil por hora e com um sorriso que parecia ter sido tatuado em seu rosto.



FIM



Nota da autora: Oie! Ai, que nervoso! Espero de coração que gostem dessa fic, que foi feita com muuuuito carinho. Também espero que tenham conseguido sentir e gostado do meu esforço para me manter o mais fiel possível ao diálogo MARAVILHOSO dessa faixa, eu juro que tentei meu melhor para adaptar o caos que é Skit: Soulmate em uma história legalzinha. Foi difícil de imaginar um Kim Namjoon vacilão, mas eu tentei e o importante é que ele continua sendo perfeito e conseguiu se redimir. Por favor, não esqueçam de comentar para fazer a autora feliz! Aceito críticas, elogios, desabafos e tudo mais, haha. Muito obrigada por terem lido! Se quiserem me achar nas redes sociais, vou amar bater um papo lá no meu Twitter, @vapedotae_ 💜 Te vejo em uma próxima história!



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