FFOBS - 05. But We Lost It, por Carolina Devlin


05. But We Lost It

Finalizada em: 17/11/2018

Capítulo Único

Madrid, Espanha, 2013.

"I wanna know where does love go to die
Is it some sad empty castle in the sky?"


encarou o pequeno Nicolas adormecido no berço, completamente alheio aos problemas do casal e soltou um leve suspiro. Tirou uma de suas mãos da borda de madeira do berço e passou os dedos de forma leve sobre os cabelos cacheados de seu filho. O menino era capaz de trazer uma paz em meio a todas as brigas que tinha com . Seu filho era seu ponto de calma.
Depois de cobri-lo com a manta, deixou o quarto em passos lentos para que não corresse o risco de esbarrar em algum dos móveis e acordar o menino. Desceu a escada da casa, encontrando o marido sentado no sofá que ficava exatamente no meio da grande sala de estar.
mantinha a cabeça entre as mãos, encarando o tapete preto da sala enquanto ainda se acalmava da discussão. Nos últimos meses, as discussões entre e ele se tornaram mais frequentes e, quase sempre, faziam com que Nicolas acordasse assustado em meio aos gritos do casal.
Ele amava . Não tinha dúvidas sobre seus sentimentos por ela, mas sentia-se um pouco sufocado com a vida de casado, com as responsabilidades que ser uma das estrelas do Atléti e de sua seleção traziam e desejava ter alguns instantes longe dos problemas de casal.
As coisas tinham acontecido rápido demais entre os dois: assim que ele foi contratado pelo Chelsea, foi emprestado ao time madrilenho e, no ano seguinte, quando comemorava a Copa del Rey em uma boate, seus olhares se cruzaram. Foi uma intensidade que ele nunca havia sentido, algo que ele nunca tinha presenciado e uma conexão tão forte que um mês depois, eles já estavam oficialmente namorando. Com dois anos de relacionamento, já se encontravam casados e com um filho.
– Nicolas dormiu novamente. - disse quando chegou a sala e parou em frente ao marido. suspirou em resposta, não se movendo além disso, fazendo com que a mulher encarasse o teto. – Eles dizem que isso é temporário.
– Quem diabos são eles? - perguntou em seu espanhol carregado de sotaque.
– Os terapeutas. - a morena suspirou. – Você saberia se tivesse ido à alguma das consultas que eu marquei nos últimos três meses, mas você sequer se deu ao trabalho.
– Se nós mesmos não conseguimos consertar o nosso casamento, não é um terceiro que irá fazer isso por nós, . - ele rebateu o comentário da esposa, finalmente levantando o rosto para encará-la.
Os dois se encararam por alguns minutos. Cada vez mais sentiam-se como dois estranhos vivendo sob o mesmo teto, ligados por um bem em comum e unidos por um sentimento que parecia fazer o oposto do que havia feito há dois anos: os afastavam. Era uma realidade dura de aceitar.
– Nós precisamos de um tempo, . - propôs, esfregando as mãos uma na outra. Seu coração implorava para que ele não aceitasse a ideia, para que ele dissesse que havia uma maneira de continuar o casamento ou apenas que ele dissesse que os dois iriam lutar pela família.
– Talvez o tempo não esteja ao nosso lado. - o goleiro suspirou. – Nós tivemos uma coisa, mas nós perdemos. Se nós tivéssemos levado mais devagar... - a mulher balançou a cabeça e caminhou até a poltrona próxima a janela da sala.
– Talvez tivesse sido mais fácil. Mas não podemos mudar o nosso passado. - ela respondeu o .
– Eu vou sair de casa. - anunciou.
teve a certeza que seu sangue havia parado de correr por suas veias por alguns segundos. Seu coração se partia ainda mais e ela sentia todo o seu corpo sofrer com ele. As lágrimas já estavam prontas para sair.
– Eu vou ficar em um flat por algumas semanas. Ficar nessa casa já se tornou insustentável e as brigas não fazem bem nem para você, nem para mim e muito menos para o Nicolas. O melhor a se fazer agora é se afastar e deixar com que o tempo tome conta de tudo.
– Faça o que achar melhor, . - ela suspirou, deixando uma lágrima solitária escapar. – Eu só não quero viver mais pensando que há um estranho deitado na minha cama, um que eu senti que conhecia muito bem.
– É, eu acho que nós perdemos. - o homem se levantou do sofá em silêncio e se dirigiu até as escadas. Assim como a mulher havia feito há poucos minutos, ele subiu com cuidado para não fazer muito barulho e foi para a suíte do casal. Foi ao closet para pegar uma de suas malas de viagem e colocar algumas mudas de roupas dentro - podia voltar para pegar mais coisas em outro momento.
deixou a mala próxima a escada e deu a volta, seguindo até o final do corredor. Abriu a porta do quarto de Nicolas e caminhou até o berço para observar de perto o menino em seu sono tranquilo. Debruçou-se sobre o berço, depositando um beijo da bochecha do filho e pediu aos céus que estivesse tomando a decisão certa.
não se moveu. Nem mesmo quando ouviu os passos de descendo a escada, nem quando ele se despediu em sussurro e tampouco quando a porta da casa bateu, indicando que ele havia saído. Ela fez o que tinha se esforçado para não fazer na frente dele: chorar.
Colocou as pernas sobre a poltrona, abraçando as duas próxima ao seu corpo e deixou as lágrimas tomarem conta de sua face. Quando conheceu havia falado sobre suas decepções amorosas anteriores e se lembrava de como ele tinha prometido não machucá-la. No momento, seu coração estava dilacerado.

Três anos antes...
– Mas você... Você, , me parece diferente! - a mulher exclamou de uma maneira animada fazendo com que o goleiro soltasse uma risada um pouco confusa e surpresa pelo comentário.
– Pareço diferente. - repetiu as palavras dela, tentando entendê-las. – Diferente de que forma?
– Você não parece com meu ex-namorado e acho que não vai ter intenção de me machucar. - o moreno abriu os olhos, em surpresa com a resposta, e balançou a cabeça em afirmação.
– De fato, a última coisa que eu quero é machucar você. Eu quero te fazer o mais feliz possível, construir uma vida ao seu lado e buscar nossos sonhos juntos, seja aqui em Madrid ou em qualquer lugar. - ele alisou o rosto dela com o polegar, causando um sorriso nela com o carinho e com resposta que havia dado.
– Não é um pouco cedo demais? - questionou, não escondendo o seu medo em estar tão envolvida em poucas semanas. despertava nela um desejo que ela não tinha sentido antes, mas as lembranças do passado ainda eram muito fortes em sua cabeça. Não queria sair machucada de novo de um relacionamento.
– Não é cedo para se amar, . Devemos estar sempre abertos para isso. Me dê uma chance e eu posso te fazer a mulher mais feliz do mundo. - pediu, recebendo um sorriso e um aceno positivo de cabeça em resposta.
O goleiro se aproximou da designer, unindo os lábios dos dois em um beijo com o misto de sentimentos daquele momento. Eles tinham um encaixe, uma sintonia tão perfeita que gostariam de ficar ali por horas, se fosse possível.
Ali, nos braços de , pareceu se esquecer das lembranças ruins e não teve medo nenhum de olhar para o futuro. Um futuro que tivesse ao seu lado. Aquilo já bastava para ela.


x


Dois meses sem sentir o corpo quente de atrás do seu e sem o braço dele sobre sua cintura durante toda a noite; sem vê-lo chegar em casa com um sorriso após uma grande vitória; sem vê-lo brincando na sala de estar ao lado de Nicolas.
Viver na casa sem era estranho. Os meses antes dele sair também eram estranhos porque parecia que não se conheciam mais, mas ter a presença dele ali trazia uma segurança e uma esperança. Sem , a esperança de que os dois poderiam consertar tudo não existia, tinha ido embora no momento em que ele bateu a porta.
Se falavam o necessário. queria poder pular nele a cada vez que ele chegava para buscar Nicolas para passar dois dias com ele. Seu coração ainda pulava todas as vezes que a câmera focava nele durante um jogo. Era inevitável.
Suspirou, encarando o teste que tinha em mãos e o deixando em cima da pia do banheiro. Pegou o celular, ativando o alarme para dali a cinco minutos e saiu do banheiro. Sua ansiedade estava tanta que precisava se afastar dali para que não ficasse grudada no teste, esperando aquela barra aparecer. Ela nem sabia qual era o melhor resultado naquele momento.

Seis meses antes...
– Nicolas está crescendo muito rápido. - comentou, sentando-se no sofá enquanto estava deitado no tapete da sala. Nicolas estava em seu cercadinho com alguns de seus brinquedos.
O menino já ficava em pé, se apoiando nas bordas do cercado e mantinha seus olhos na direção dos pais que sorriam ou faziam graças para que ele caísse na gargalhada. Por ainda ser novo, não se segurava em pé por muito tempo e caía facilmente.
– Talvez seja a hora de pensarmos em outro. - respondeu, como se não fosse grande coisa.
Nicolas não havia sido planejado pelos dois. Estavam juntos há pouco tempo e sonhavam em ter um filho, só não esperavam que seria tão rápido. Mas desde o nascimento do pequeno, o goleiro já imaginava como seria quando tivessem outro bebê.
... - riu, surpresa com o comentário do companheiro e a maneira que ele havia falado sobre aumentar a família.
– O que? - o goleiro se levantou, tirando sua atenção de Nicolas para olhar a mulher no sofá. – Ter um irmão é muito bom. Significa ter uma família para o resto da vida. Eles iriam ter idades próximas e iam ser muito amigos. - ele continuou falando com um sorriso no rosto e sorriu junto com ele ao perceber como seus olhos brilhavam ao falar sobre aumentar a família.
– Certo, . - ela disse, o interrompendo de falar e não deixou o sorriso escapar de seus lábios. – Nós podemos tentar. Eu quero ter uma família enorme com você.
O goleiro sorriu, se aproximando da mulher e juntando os lábios dos dois. As mãos dele foram para os cabelos dela e colocou uma de suas mãos na nuca de .
As risadas de Nicolas fizeram com que o casal se afastasse um pouco. Os dois se viraram na direção do menino que caiu, mais uma vez, no chão do cercado em que estava. se levantou e caminhou até o cercado, sendo recebido pelo filho erguendo os braços para que fosse retirado dali.
- Ei garotão... - sorriu para o menino, fazendo cócegas em sua barriga. se levantou do sofá, se aproximando dos dois e observando a cena com o coração quase pulando para fora de seu peito. Parecia que poderia explodir de felicidade a qualquer momento. – O que você acha de ter um irmão?
O casal sabia que o pequeno não tinha entendido a pergunta, mas pela risada da em resposta, a ideia de ter um novo bebê cresceu ainda mais.


despertou de suas lembranças com o barulho da campainha. Suspirou, secando uma lágrima solitária que escapava e saiu de seu quarto em direção ao primeiro andar para abrir a porta.
Desviou dos brinquedos espalhados pela sala de estar e caminhou até a porta, abrindo-a e se deparando com o homem de suas lembranças e dono de seu coração parado. tinha as mãos dentro dos bolsos da calça jeans e sorriu fraco ao ver a mulher.
– Você tem ainda tem a chave. Por que não entrou? - ela questionou, encarando o homem a sua frente.
– Eu não moro mais aqui, . Me pareceu estranho...
– Essa vai ser sempre a sua casa, . - ela murmurou, segurando sua vontade de chorar e o goleiro apenas afirmou com a cabeça.
– Posso entrar, então? Acho que precisamos conversar. - abriu mais a porta, dando passagem para que ele entrasse e fechou a porta logo depois.
sentou-se no sofá da sala, esperando que ele falasse o que tinha fazer por lá. Seu coração se prendia à esperança de que fosse para que eles voltassem e ela só tinha uma resposta para dar a ele.
sentia suas mãos suarem e o olhar de acompanhando todos os seus movimentos. Ela não sabia como aquilo o deixava ainda mais nervoso naquele momento.
– Eu queria que você soubesse através de mim, em nome de tudo que nós tivemos nos últimos anos e por tudo que construímos. - ele suspirou. – Eu dei entrada nos papéis do divórcio.
prendeu a respiração. O que ela sempre achou que aquela distância não traria, se tornou realidade. Ele tinha entrado com os papeis do divórcio. Era o fim do casamento e ele sequer tinha lutado pelo amor deles.
Ela escondeu o rosto entre as mãos. Sua mente rondava entre o divórcio e o teste que estava na pia de seu banheiro. Seu casamento estava no fim e ainda havia a possibilidade dela estar grávida.
suspirou mais uma vez, se sentando no sofá ao lado da mulher e colocando os braços ao redor dela, puxando-a para um abraço. Ele sabia que era um momento difícil para os dois, mas queria ter, ao menos, uma amizade com ela. Pelo bem de Nicolas e por toda história que os dois viveram.
– É como se os nossos corpos nunca tivessem se tocado. Eu te abraço, mas eu não sinto muita coisa. - suspirou, se afastando do abraço dele.
– Eu sei que nós nunca estivemos bem antes, mas se você acredita que não há mais motivos para lutar por nós e pela nossa família, eu não posso fazer nada. Eu só sinto muito por terminarmos assim... Eu ainda amo você. ­- secou as lágrimas, encarando o . – Obrigada por, pelo menos, me avisar.
balançou a cabeça, se mantendo afastado da mulher. Seu coração doía naquele momento, ainda mais porque ainda tinha uma outra notícia para contar e era a que doía mais. Ficar longe dos dois era algo que ele nunca gostou. Para jogos era fácil, mas viver longe seria mais difícil do que nunca.
– Tem mais uma coisa. - anunciou, vendo se virar para encará-lo mais uma vez. Ele podia ver toda a dor que a mulher sentia através dos olhos delas e sentia-se mal por ser o causador. – Entraram em contato comigo e o Chelsea quer que eu vá para a Inglaterra quando terminar a temporada.
piscou algumas vezes com a informação. Sua cabeça estava a mil e seu coração parecia ter parado de bater por alguns milésimos. Ele estava indo embora. Era o fim.
– Você vai para Londres? - ela perguntou, apenas para ter certeza e confirmou com a cabeça. engoliu seco, mas uma parte dela estava feliz por ele ter seu trabalho reconhecido e estar ganhando uma chance num novo time.
– Eu sei que você tem seu trabalho aqui, então não pediria para que você se mudasse para lá, embora meu desejo seja ter o meu filho por perto. Mas nós podemos ver uma maneira de fazer isso acontecer não é? Nicolas ainda é pequeno, pode ficar algumas semanas comigo quando eu estiver adaptado.
– Claro. Eu não impediria nunca o Nicolas de ver o pai. - a mulher sorriu fraco.
– Eu sei que não. - concordou com a cabeça. – Podemos decidir sobre isso depois. Tenho que ir porque viajamos para Sevilla hoje.
nem se deu ao trabalho de acompanhá-lo até a porta, afinal, ele sabia o caminho. A mulher suspirou quando ouviu a porta bater e permaneceu sentada por mais alguns minutos. As lembranças dos bons momentos vividos naquela sala eram muito fortes e ela não acreditava que seu casamento tinha terminado.
Se levantou quando lembrou que ainda tinha o teste para saber o resultado e se arrastou até o andar de cima. Caminhou na direção do banheiro, desligando o celular que ainda vibrava sobre a cama, mostrando que o tempo de espera tinha terminado.
Respirou fundo, pedindo aos céus força para fazer o curto caminho até o banheiro para saber o resultado. Suas pernas estavam bambas demais e ela sentia que poderia cair a qualquer momento. Fechou os olhos, pegando o teste em mãos e abriu os olhos.
Oh, Deus.

x


sentia suas mãos suando e tentava secá-las no paletó enquanto seguia o advogado pelo extenso corredor do escritório do advogado de . Era a hora de assinar o divórcio e ele buscava entender porque estava tão nervoso.
No fundo, sabia que não era fácil se despedir de uma história. Era o fim de um momento importante em sua vida, estava prestes a se mudar para Londres porque o Chelsea o queria como titular, mas seu coração estava apertando em viver longe de Nicolas. E .
Os dois não tinham uma amizade concreta. Ainda era difícil para ambos se verem sem sentir dores no coração e ele procurava se manter afastado dela, indo ver o filho nos horários em que ela estava no trabalho para evitar o desconforto.
O advogado abriu a porta da sala que havia sido indicada pela moça da recepção e ele precisou de alguns segundos para ter a coragem de seguir naquele era o caminho.
Seus olhos pousaram sobre , já sentada à mesa, e quando os olhares se cruzaram, ele sentiu toda a dor que a mulher sentia naquele momento. Sentia-se culpado por causar aquela dor nela, mas sabia que aquele era o momento final para os dois.
Ele checou os termos do papel que tinha a sua frente e apertou o topo da caneta, pronto para assiná-lo quando a voz de tomou conta do escritório em que os quatro estavam sentados.
– Eu posso falar com você em particular?
retirou os olhos do papel que estava prestes a assinar e olhou para a mulher sentada a sua frente. O tempo havia passado, mas ele ainda sabia o que cada movimento, cada olhar dela poderiam significar e essa deveria ser uma das coisas que ele nunca iria se esquecer sobre ela.
– Pode nos dar licença? - o disse ao seu advogado, que concordou com a cabeça antes de se levantar para se retirar da sala. O advogado de seguiu o mesmo caminho, deixando o casal sozinho no escritório.
– Depois que assinarmos não vamos mudar de ideia. - ela suspirou, mantendo os olhos fixos no ainda marido. – Eu ainda sou a garota que você perseguiu ao redor da cidade. Eu não mudei.
, você costumava despertar uma fera em mim, mas agora há uma parte muito sonoleta aqui dentro e eu estive esperando para ganhar vida.
– Um osso quando ele quebra, ele volta mais forte, . - o homem concordou com a cabeça, entendendo aonde ela queria chegar, mas não via mais motivos para tentar seguir em algo que não estava dando certo.
...
– Eu estou grávida.

"I wish I knew it when we lost it, yeah
I wish I knew it when we lost it."


FIM



Nota da autora: Ai meu coração com essa estória, meu Deus! Espero que tenham gostado e não esqueçam de deixar um comentário aqui embaixo, me dizendo o que acharam! Quem sabe não vem uma parte dois?! Vocês podem encontrar as minhas outras estórias no meu grupo no Facebook!





Não estou sabendo lidar, mas já querendo desesperadamente uma parte 2. ♥

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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