Enviada em: 13/10/2019

Capítulo Único

Abri um pouco as cortinas, achando o ambiente em que me encontrava escuro demais, assim permitindo que alguns raios de sol entrassem dentro daquele quarto. O silêncio trazia uma sensação mórbida que fazia meus ossos tremerem e um suspiro de pesar deixou-se escapar por entre meus lábios.
Dirigi meu olhar até a maca, que eu tinha certeza que era extremamente desconfortável, e ao encarar o corpo que estava ali praticamente imóvel, ligado à diversos aparelhos, meus olhos se encheram com as mesmas lágrimas que agora me eram tão familiares.
Droga. Péssima escolha de palavras.
Familiar...
Família.
Soltei o ar pesadamente, me xingando devido à minha incapacidade de escolher as palavras certas, então desviei meu olhar para a capa que eu havia deixado em cima da poltrona confortável. Caminhei até ela e de lá tirei minha única companhia nos últimos tempos. A única coisa capaz de me manter firme diante de dias tão sombrios.
Voltei a olhar para o corpo sob a maca enquanto posicionava o violino de forma adequada e então meus dedos começaram a se mover por seu braço. Minha outra mão segurava o arco e passou a deslizá-lo, fazendo com que a melodia ecoasse pelo recinto.
Eu sabia que ela não conhecia aquela música. Ela gostava que eu tocasse os clássicos para ela. Mozart, Beethoven, Chopin...
Mas naquele dia eu sentia vontade de tocar algo diferente do habitual, então as notas foram sendo construídas e meus lábios se entreabriram para entoar a letra.

I remember going back to the place we used to lay*
But I keep losing track


Minha mente foi imediatamente tomada pelas memórias. Lembranças de todas as vezes em que eu e ela nos deitávamos sob a grama lá da universidade, planejando como seria quando eu conseguisse entrar ali e estudar música. Sonhando com o público ovacionando quando ouvisse minha primeira grande composição.

Now the days they all turn black
And our dreams all start to fade
But there’s no turning back


Minha voz estremeceu ao pensar que naquele momento todos aqueles sonhos estavam mortos dentro de mim, desolados por aquela tragédia, pelo fôlego tirado dele e pela dor que agora estava ali com ela.

Cause the world keeps turning
And my heart’s still burning


O choro do violino acompanhava minha voz cada vez mais trêmula, dolorida. Meus olhos se fecharam para tentar conter as inevitáveis lágrimas.

What if I change the world? If I lead the way?
What if I be the one who takes the blame?
What if I can’t go on without you?
What if I graduate?
What if I don’t?
What if I don’t?


A melodia foi interrompida quando minha garganta se fechou, minha voz morreu e as forças para continuar se esvaíram.
Não fazia sentido continuar, não fazia sentido tocar quando ele não podia mais me ouvir e ela talvez pudesse, mas não estivesse realmente ali para sorrir para mim, para chorar emocionada por eu ter aprendido mais uma música, por mais que ela preferisse ouvir os clássicos. Para me dizer que eu seria grande, que eu devia continuar lutando porque eu seria lembrado.
Bom, eu já não queria mais ser lembrado por ninguém. Não fazia sentido ser lembrado sem tê-los ali comigo.
Larguei o violino de volta à capa sob a poltrona, então me aproximei da maca mais uma vez. Toquei sua mão fria demais para meu gosto e a apertei entre meus dedos, sentindo as lágrimas descendo torrencialmente pelo meu rosto enquanto meus lábios estremeciam ao perder completamente o controle.
— Mãe... — nunca me doeu tanto dizer aquela palavra. — Mãe... E se eu não conseguir sem você? — questionei, mesmo sabendo que ela não podia me responder. Fazia meses que ela não respondia, por mais que eu sempre tentasse com os fiapos de esperança que ainda me restavam. Fazia meses que meu pai havia partido e eu já não via mais os olhares orgulhosos deles em minha direção ou continha uma risada quando meu velho permitia que eu fizesse algo que ela reprovava.
— E se eu não conseguir? — repeti as palavras em um sussurro sofrido, sentindo meu peito se sacudir quando passei a prender o som alto de meus soluços.
Por que ela não acordava? Eu precisava tanto dela. Estava cada vez mais difícil até mesmo de respirar sem tê-la por perto.
De repente, escutei uma batida leve na porta do quarto e respirei fundo, tentando me controlar e enxugando as lágrimas para encarar a enfermeira.
— Era uma bela música, . O horário de visitas acaba de encerrar, meu querido — notei seu olhar sobre mim, percebendo que havia algo ali e sabendo que era pena enquanto escutava suas palavras em tom doce e gentil.
— Valeu, Jenny. Já estou saindo — assenti para ela, então levantei-me dali porque sabia que a enfermeira ficaria aguardando minha saída.
Aproximei meus lábios da testa de minha doce mãe, depositando um beijo em sua pele sempre fria demais.
— Ela precisa de mais cobertores — me dirigi a Jenny. — Até mais, mamãe. — me despedi daquela que eu amava mais do que tudo, então peguei meu violino sob a poltrona, o levando comigo para fora daquele quarto de hospital.
Assim que o vento bateu em meu rosto, olhei para o céu nublado e balancei a cabeça em negação porque a vida era uma porcaria injusta.
Não devia ser minha mãe ali naquela maca e nem meu pai enterrado naquela cova cavada no cemitério de Bristol. Eles não mereciam nada daquilo, se tinha alguém que merecia esse alguém era eu.
Eles eram o meu mundo e sem eles eu não tinha mais nada.
Segui para o primeiro bar que entrou em meu campo de visão, mas ele era um velho conhecido desde que aquele acidente me arrancou tudo. Lá dentro eu encontraria exatamente o que me ajudaria a sair daquela realidade dolorida. Eu encheria bem a minha cara até desmaiar atirado por aí. Completamente anestesiado.
Abri um sorriso largo ao encontrar exatamente quem eu queria e caminhei sedento até a mesa onde estava Sam.
Uma breve troca de olhares já seria o suficiente para que ele soubesse o que eu queria.
— E aí, . Parece que tu tava adivinhando. Consegui aquela variedade que tu gosta. Amnésia — Samuel Berkowitz talvez fosse uma das únicas pessoas com quem eu realmente trocava algumas palavras. Eu admirava o cara porque ele também havia passado por uma tragédia na família, mas lidava com ela de forma completamente diferente de mim. Eu nunca havia visto Samuel sem sorrir.
Mas é como dizem, nunca se sabe o que pode estar por trás de um sorriso.
— Agora eu to vendo vantagem, Sam. Hoje eu preciso esquecer que eu existo — soltei um suspiro, vendo ele negar com a cabeça.
— Tá aqui, cara. — me entregou o pacote tão desejado. — Vem cá. Se tu precisar conversar, eu tô aqui, beleza? Ou a gente sai por aí pra fazer alguma merda e se distrair. Conta comigo.
Claro que eu gostei de ouvir aquilo, mas no fim das contas eu não queria incomodá-lo com meus problemas. Ele já tinha os dele.
— Valeu, Sam. Por tudo. Qualquer coisa te ligo — me despedi e segui para o balcão do bar, já que minha garganta estava seca.

~//~


Se o vento bateu no meu rosto, daquela vez eu não senti. Na verdade, todos os meus sentidos físicos estavam terrivelmente abalados.
Ela tinha partido naquela noite.
Exatamente como papai, sem um último adeus, sem que eu pudesse agarrar em sua mão e gritar para que ela não fosse.
Mamãe havia me deixado.
Eu não estava pronto para ficar sem os dois. O que eu faria agora? O que seria de mim se eu só tinha aqueles dois na minha vida? Se a razão da minha existência eram eles?
Perdi as contas de quantos litros de vodca eu havia bebido até então, os cigarros de maconha então nem se fala, mas nenhuma daquelas drogas havia atingido o objetivo que eu cobiçava.
Esquecer de tudo, esquecer de mim, esquecer da dor.
Só queria que aquele rasgo em meu peito estancasse, se fechasse ou que aquilo tudo fosse um sonho maluco da minha mente perturbada.
Algumas pessoas passavam por mim, lançando olhares de reprovação e foi aí que eu me dei conta de que estava andando pelas ruas da cidade.
Qual era o rumo que eu estava tomando?
Então, de repente, eu soube.
Para o fim.
Era isto.
Eu não tinha mais nenhum propósito na vida. Seguir carreira na música só me faria sentir mais sua ausência e na verdade não havia uma coisa sequer que não os trouxesse de volta à minha mente, sufocando meu coração de um jeito que bolos chegavam a se formar em minha garganta.
Meu pé topou com algo aleatório, que talvez fosse uma pedra, mas eu não senti dor alguma ali, o que me fez questionar se a morte deles havia sido indolor.
Será que a minha também seria?
Dado o meu histórico, com certeza não.
Uma risada irônica ecoou de meus lábios. Rir de minha própria desgraça talvez fosse uma das únicas coisas que me restavam.
Perambulei desajeitado pelas ruas, mal conseguindo me manter em uma linha reta aceitável e nem fazendo muita questão disso. Nada estava nem perto do aceitável em minha vida, então por que eu deveria me preocupar?
Deus, olhando de longe, estou soando como um perdedor desgraçado.
Bem... havia outra maneira de me descrever?
Ali estava eu. Um ponto miserável em meio a uma sociedade caótica que não dava a mínima para órfãos bastardos completamente sem rumo. Os carros passavam por mim, mas nenhum de seus proprietários fazia questão de parar para ver por que eu cambaleava por aí em plena luz do dia. Suas atitudes se resumiam apenas a julgar como eu mesmo havia sido ensinado desde pequeno. A julgar tudo e todos conforme o que eu acreditava ser o certo e o errado.
E por que seria errado então se eu mesmo quisesse dar fim à minha mísera existência?
— Não, não é errado. É um alívio — falei para o nada.
Mas teria eu coragem para tanto? Ou seria eu incompetente ao ponto de nem isso conseguir fazer? Eu já havia falhado em salvar meus pais, não me admiraria se não fosse capaz nem de me juntar a eles.
Soltei um suspiro sofrido, sem realmente conseguir sentir se as lágrimas escorriam pelo meu rosto ou se haviam secado de tanto que eu já havia chorado.
Meus pés iam me guiando pela cidade e quando me dei conta estava diante da entrada da ponte suspensa, seguindo até ela com uma determinação que eu não sentia há um bom tempo.
Consegui facilmente subir na grade lateral, passando uma perna para fora e depois a outra. Então era isso, eu só precisava de um impulso e tudo aquilo estaria acabado. Toda dor, todo sentimento de culpa, toda inferioridade de meu ser.
— Quando ouvimos falar parece mais fácil, não é? — procurei a origem daquela voz, me deparando então com uma garota a poucos metros de mim, exatamente na mesma situação. No entanto, não me surpreendi por não tê-la visto antes, estava preso em minha própria amargura.
— Um passo e tudo acaba. Como pode não ser fácil? — critiquei, voltando a olhar para frente.
— Então faça — ela soou com simplicidade e como se fosse um desafio ou algo assim, estreitei meus olhos, então os fechei, apertando-os e dizendo ao meu próprio cérebro que movimentasse meu corpo para frente.
Mas eu travei, como se uma mão invisível estivesse me segurando e a frustração me fez grunhir.
— Como eu disse, difícil. Não te faz se sentir inútil? — eu não queria conversar com ela, não queria falar com ninguém. Ela estava só me atrapalhando ali.
— Talvez — resmunguei, sem tornar a olhá-la, mas sentindo que me lançava um sorriso fraco.
— Eu sempre tive uma fixação engraçada por altura, sabe? Meu tio tem essa empresa com um prédio enorme e o meu maior passatempo sempre foi subir até o andar mais alto só para observar a vida acontecendo lá de cima. Não há nada mais realista do que a humanidade vista por essa perspectiva. Somos tão pequenos, tão insignificantes nesse vasto universo. E, no entanto, agimos como se fôssemos grandes o suficiente para sermos os melhores — por mais que eu me recusasse a ouvir o monólogo dela, de repente cada uma de suas palavras apenas refletia cada um de meus pensamentos.
Por um segundo, me perguntei se ela era mesmo real.
— Somos um bando de idiotas — murmurei, em concordância.
— Somos um bando de idiotas — ela repetiu.
Eu não faço ideia de quantos minutos nós ficamos ambos ali em silêncio, com nossas mentes perturbadas ponderando se o momento do impulso chegaria e o incômodo que a presença dela tinha me causado de início foi se dissipando.
— Então, qual é a sua história? — me peguei questionando, não dando a mínima se estava sendo invasivo. Eu não tinha absolutamente nada mais a perder, então se ela me xingasse e desse o fora dali não faria diferença alguma.
— Minha história — suspirou, me fazendo olhar para ela de rabo de olho. — Eu sou uma filha mimada, herdeira de um império aqui em Bristol. Meus pais sempre fizeram de tudo por mim e eu sempre tive tudo o que desejava. Mas nunca foi o suficiente. Por mais rodeada que eu fosse, seja por dinheiro ou por pessoas, nada disso preenche o buraco negro que carrego como se fosse uma espécie de hóspede maldito. Às vezes, ele apenas me sufoca com seu silêncio. Em outras, ele murmura tantas coisas com minha própria voz... Você já se sentiu preso em sua própria mente?
— O tempo todo — respondi.
— Bom, é como se eu estivesse presa fora dela, apenas observando esse buraco ali cutucando.
Mais alguns minutos de silêncio se arrastaram enquanto eu absorvia as palavras dela, mas dessa vez meus olhos não se desviaram. Permaneci ali, observando os traços de seu rosto, percebendo a maquiagem preta borrada em linhas por suas bochechas.
— E a sua? Qual é? — já esperava o questionamento dela e me surpreendi porque não encontrei barreiras para desabafar com ela.
— Sou apenas um aspirante a violinista de sucesso. Durante toda a minha vida eu sonhei com os palcos, almejei que meu nome fosse lembrado como o dos compositores famosos e nunca deixei que nada me desfocasse de meu objetivo.
— Então... — a voz dela me encorajou a continuar, visto que minha pausa durou mais do que eu desejava.
— Meus pais sofreram um acidente a caminho da minha audição para a orquestra sinfônica. Meu pai, que era o motorista, morreu a caminho do hospital. Já minha mãe... Partiu ontem à noite, depois de meses em coma. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. De alguma forma, eles se perderam no meio da pista e deram de cheio em um poste — achei que voltaria a me debulhar em soluços ao externar aquilo para alguém. Eu nunca tinha falado para ninguém sobre o acidente de meus pais abertamente.
— Sinto muito. Acho que qualquer um enlouqueceria se passasse pelo que você está passando — observei os olhos dela e ela me encarava com solidariedade.
— Não tenho força suficiente para passar por isso — confessei.
— Às vezes não é disso que você precisa — franzi meu cenho, sem entender bem o que aquilo queria dizer.
— E do que seria?
— Motivos diferentes nos trouxeram até aqui, mas creio eu que nós dois precisamos da mesma coisa. Que alguém nos ouça.
Encarei-a em completa confusão, entendendo menos ainda onde ela queria chegar.
— Você não hesitou em pular por ser fraco ou deve se considerar assim por ter pensado em pôr um fim em tudo em primeiro lugar. A hesitação é aquele ultimato, é o grito mudo para que alguém tente impedir, porque no fundo tudo o que nós precisamos é que alguém nos escute de verdade. As pessoas foram ensinadas a julgar e dizer que é algum artifício para chamar atenção, como se o chamar atenção fosse algo pejorativo, mas a verdade é que nos precisamos disso. Precisamos que nos vejam, nos ouçam, nos sintam e nos ajudem. Façam com que enxerguemos nós mesmos de uma forma além daquela que os buracos negros esperneiam em nossa cabeça.
Eu não sabia o que dizer depois daquilo. Talvez porque um bilhão de sentimentos tomassem conta de mim de uma forma tão turbulenta que fiquei a ponto de enlouquecer.
— Não sei o que dizer — externei.
— Não precisa dizer nada, amigo. Tudo bem se não concordar. Acho que me estou me sentindo menos miserável por ter compartilhado isso com você — suspirei ao ouvir aquilo, ficando mexido por suas palavras. Por poucos segundos, eu me senti aquecido por ela e percebi que era recíproco.
— Ter alguém para me escutar quando o mundo todo parece ter dado as costas traz essa sensação — arrisquei um meio sorriso, que deve ter ficado mais parecido com uma careta, mas ainda assim ela retribuiu.
— arqueei uma sobrancelha, sem entender. — É o meu nome.
— respondi quase que automaticamente.
— Você tem nome de príncipe — ela comentou e eu até teria rido em outra situação.
— Minha mãe que o escolheu — expliquei, sentindo os olhos dela se fixarem aos meus.
— Eu realmente sinto muito pelos seus pais, . Tenho certeza que eles estão cuidando de você de algum lugar.
— Para ser sincero, me juntar a eles seria mais fácil — mordi minha boca ao deixar aquilo escapar.
— Mais fácil deve ser com certeza. Mas é isso que você realmente quer?
Sem esperar por uma resposta minha, voltou-se para dentro da ponte e desceu da grade, caminhando até mim a passos lentos enquanto eu a acompanhava com meu olhar.
— Se quiser conversar mais, eu vivo no Black Bar. Eles servem a melhor cerveja de Bristol.
Então ela se afastou, seguindo pela ponte até que sua silhueta se tornou um borrão diante de meus olhos.
Voltei a encarar a água lá embaixo. Minha queda seria abrupta e fatal. Talvez eu não sentisse nada.
Fiz uma careta, engoli a seco e ainda fazia todo o sentido para mim me juntar aos meus pais.
Mas em vez do caminho fácil, imitei o gesto dela, descendo da ponte e seguindo na direção oposta à de .
Eu não sabia ainda qual seria o meu rumo, muito menos como conseguiria seguir em frente com aquele enorme vazio que a partida dos meus pais havia deixado.
Talvez eu realmente desse uma passada no tal Black Bar.


*What if – Simple Plan


FIM



Nota da autora: Olá, rainhas da Ste! Resolvi resgatar esse personagem de um rpg e ele é bem especial para mim, então eu pretendo trazer um pouco mais sobre ele e a pp futuramente em uma long. Os dois refletem tantas coisas de mim mesma que escrever me trouxe até um certo alívio. Eu espero que vocês tenham gostado!
Se quiserem ler mais do que eu escrevo, podem entrar no meu grupo.
Beijos.





Outras Fanfics:
Ficstapes:
01. Losing Grip [Ficstape Avril Lavigne - Let Go]
02. Whatever it Takes [Ficstape Imagine Dragons - Evolve]
03. Goodnight and Goodbye [Ficstape Jonas Brothers - JB]
03. Perfect World [Ficstape Simple Plan - Still Not Getting Any]
04. Farewell [Ficstape Simple Plan - Taking One For The Team]
04. Lucky Strike [Ficstape Maroon 5 - Overexposed]
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06. Gods and Monsters [Ficstape Lana Del Rey - Born to Die - The Paradise Edition]
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10. Wasabi [Ficstape Little Mix - LM5]
13. Icarus Interlude [Ficstape Zayn - Icarus Falls]
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Knockin' on Heavens Door [Awesome Mix: Vol 5 - Classic Rock]
Shortfics:
Sweet Monster [Restrita - Seriados - Shortfic]


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