Finalizada em: 31/10/2019

Capítulo Único

And when it rains
E quando chove
On this side of town it touches everything
Nesse lado da cidade toca tudo
Just say it again and mean it
Apenas diga de novo e seja sincero We don't miss a thing
Nós não perdemos nada


Chovia, o suficiente para que as pessoas que perambulavam para seus destinos tivessem que usar um guarda-chuva para se proteger. caminhava pela calçada molhada, o olhar cabisbaixo e uma das mãos escondidas no bolso da calça social cinza. Parou e soltou um suspiro cansado enquanto os seus olhos encaravam o céu noturno, enxergando pela iluminação dos postes a chuva que caía. Era como se o céu chorasse por ele, derramando suas milhares de lágrimas para extravasar, o que não conseguia fazer. Queria gritar, chorar, implorar, mas não conseguia. Não era capaz. Havia tomado uma decisão para o próprio bem e da sua amada, pena que seu coração não concordava.
Ficou mais alguns minutos naquela posição, o olhar perdido enquanto ouvia os passos das pessoas e o barulho dos carros na rua, misturados com o barulho da chuva atingindo o asfalto. Quando estava prestes a retomar o seu destino, uma voz gritou o seu nome e fez com que cada centímetro de seu corpo se arrepiasse. Não virou, afinal, não precisava olhar para saber quem era. Uma nova força o dominou, mesmo que as batidas de seu coração estivessem aceleradas, obrigando-o a seguir o seu caminho sem olhar para trás. Ouviu passos que atingiam as poças d’água e, em seguida, uma mão gelada agarrou seu braço por trás num toque firme.
Ele parou, mas não se virou. Respirou fundo e fechou os olhos, apertou as mandíbulas num gesto de nervosismo. Podia ouvir a respiração ofegante atrás de si.
- Você não pode fazer isso comigo. - A voz feminina falou num tom baixo e sofrido, nem mesmo o barulho dos carros, pedestres, conseguiu ocultar.
O homem fez uma careta em sofrimento e manteve-se em silêncio.
- . - Chamou-o firmemente, abandonando o tom de sofrimento e sentiu o aperto dos dedos em seu braço. - Olhe nos meus olhos e diga a verdade. - Falou calmamente.
Recebeu o silêncio como resposta e sacudiu o braço, impaciente.
- Seja sincero, . - Exigiu.

You made yourself a bed at
Você fez uma cama para si mesmo
The bottom of the blackest hole (blackest hole)
No fundo do buraco mais escuro (buraco mais escuro) And convinced yourself that it's not
E se convenceu de que essa não é
The reason you don't see the sun anymore
A razão pela qual você não vê mais o sol


Quando sentiu que a mulher soltou o seu braço, virou-se decidido a dizer que havia sido o mais sincero possível, mas o discurso e qualquer coisa sumiu de sua cabeça. Assim que os
seus olhos castanhos encontraram os verdes de , a sua mente pareceu pifar. O rosto da mulher estava numa expressão determinada, mesmo que seu corpo estivesse encharcado pela chuva. A sua única reação foi estender o guarda-chuva que o cobria para a mulher, numa tentativa de protegê-la, mas ela negou com um gesto de cabeça.
- Diga, . - Exigiu mais uma vez, cruzando os braços por cima da blusa preta encharcada. A franja castanha estava grudada na testa da mulher, as gotas escorrendo por seu rosto.
- Primeiro, aceite meu guarda-chuva. - Ele pediu num tom calmo, mas tinha certeza que os seus olhos denunciavam o seu desespero.
Ela soltou um suspiro cansado e negou.
- Admita que está escondendo algo e eu saio da chuva.
- Você não pode deixar a teimosia de lado, uma única vez na sua vida? - Explodiu num tom irritado enquanto gesticulava com uma das mãos e estendia a sombrinha na direção dela. riu num tom debochado.
- E você não pode deixar de ser mentiroso por um minuto? - Rebateu. Abriu um sorriso debochado, mas os olhos mostravam sua irritação.
- Eu não menti para você, . Ela riu.
- Não?
- Não.
O homem esforçou-se para esconder suas emoções, mesmo que internamente estivesse desesperado. Além de sua mãe, é a segunda pessoa que mais ama e que daria sua vida em troca da dela. E por esse motivo, mais uma vez, ia abrir mão de tê-la em sua vida. Não conseguiria conviver, sabendo que a mulher havia morrido por sua causa e pior, impedir que uma mulher espetacular, doce e bondosa como ela, partisse deste mundo. Ela tinha sonhos admiráveis e alguns que ele achava impossível se realizarem, mas por amá-la poderia acreditar neles. As crianças precisavam do seu amor e dos seus ensinamentos, elas amavam a mulher. Ainda conseguia recordar perfeitamente do momento que a olhou pela primeira vez. Vê-la interagindo com os seus alunos e qualquer outra pessoa era algo que poderia admirar por séculos. A aura de bondade e leveza que exalava, conquistava a todos e derretiam todos os corações, até mesmo os calejados como o próprio. Não seria justo colocá-la em perigo.
- Podemos resolver o seu problema juntos. - Ela falou num tom doce que contagiou sua expressão, lembrando-o da forma que costumava lidar com seus alunos.
Se antes acreditava não ser capaz de chorar, enganou-se. Naquele instante, poderia jurar que as lágrimas molhariam o seu rosto. Os olhos arderam, mas engoliu em seco tentando manter o controle das suas emoções. Repetiu para si mesmo que aquele sacrifício era por ela.
- Não há problema algum, .
- Você não pode continuar por esse caminho, . Tem que resistir contra a auto sabotagem. - Ela manteve a expressão bondosa em seu rosto, parecia não se lembrar das palavras que o homem havia dito em seu apartamento.
E essa constatação da bondade da mulher, o irritou e fez odiar-se ainda mais.
- Não estou me sabotando. É o que é. - Finalizou num tom duro, odiando-se profundamente, mas tentando justificar que era tudo pela vida dela.
- Você não pode viver para sempre na chuva. - Ela sussurrou, aproximou-se do homem e segurou em seus pulsos, olhando-o diretamente. - Permita-se ver o sol. Deixe-o iluminar a sua vida.
- E quem seria o sol? - Perguntou num sussurro, sem desviar o olhar enquanto respirava o aroma doce do perfume da mulher.
Ela riu baixinho.
- Quem você acha? - Sussurrou.
Ele soltou o ar dos pulmões e libertou-se das mãos macias da mulher que estavam geladas. Não se afastou, apenas ajeitou o guarda-chuva para que protegesse a ambos e massageou a têmpora num gesto de cansaço.

And no, oh, how could you do it?
E não, oh, como você pôde fazer isso?
Oh, I, I never saw it coming and no
Oh, eu, eu nunca vi isso chegando e não
Oh, I need an ending
Oh, eu preciso de um final
So, why can't you stay just long enough to explain?
Então, por que você não pode ficar apenas o tempo suficiente para explicar


- Eu preciso ir. - Disse num tom firme e expressão séria. Sem ao menos desviar o olhar, fazendo com que uma expressão de reprovação surgisse no rosto da mulher. Ela segurou-o novamente, porém agarrou na manga da sua camisa social.
- Até quando vai fugir?
- Não estou fugindo, expliquei os meus motivos mais cedo. - Lembrou-a.
- Você apenas me dispensou e alegou que iria para muito longe. Isso é explicar alguma coisa? - Perguntou e soltou-o. Afastou a franja molhada da testa e suspirou, a expressão cansada.
costumava praticar a empatia em quase todos os momentos da sua vida, menos quando chegava à conclusão que a pessoa estava abusando de sua bondade. Depois de se envolver com , chegou à conclusão de que tinha limites. Quando ele apareceu na sua porta naquela noite, a expressão fria e que ela havia visto apenas na primeira vez que se conheceram, de alguma forma, soube que algo estava muito errado. Assim que despejou que estava terminando tudo entre eles e que iria embora do país, ela decidiu que não poderia compreender a situação e aceitá-la de bom grado. Sabia que o amava e que o sentimento era recíproco, mas existia uma barreira. E algo impedia que penetrasse.
Gostava de admirá-lo sempre que achava que estava distraída e o que encontrava em seu rosto, todas as vezes, partia o seu coração. Os olhos castanhos se tornaram frios e o sorriso desapareceu, substituído pela falta de emoções. Machucando-a profundamente.
Tentou avaliar os sinais, as reações e buscou uma justificativa para aquilo, mas ali, diante dele percebeu se tratar de algo mais profundo. E por isso, quando ele partiu sem despedidas, ela ficou congelada olhando-o entrar no elevador e desaparecer. Até que sua mente saiu do torpor do bombardeio de pensamentos, fazendo com que corresse a plenos pulmões sem ao menos tirar o pijama e pegar um guarda-chuva.
Sabia que não poderia deixá-lo partir e, menos ainda, sem a verdade. Ele teria que explicar e jurou para si mesma enquanto corria que não o abandonaria.

And when it rains
E quando chove
Well, you always find an escape just running away
Bem, você sempre acha uma saída simplesmente fugindo
From all of the ones who love you
De todos que te ama
From everything
De tudo


A expressão de desdém, partiu o coração da mulher em mil pedacinhos. Os belos olhos verdes encheram-se de lágrimas não derramadas.
- Você está fugindo. - Constatou com a voz embargada.
O homem franziu a testa, os olhos evidenciando sua preocupação de que ela tivesse descoberto a verdade. Engoliu em seco.
- Não estou.
- Está sim. - Afirmou secando uma lágrima que escapou de seus olhos. - Posso ver em seus olhos.
Ele temeu ao ouvir as palavras ditas.
Continuou: - Você tem problemas para aceitar o amor. Afasta tudo e todos que demonstram que te amam. - Sussurrou e olhou-o, a expressão entristecida.
fechou as mãos em punho. A vontade de tocá-la e arrancar a tristeza de seus olhos era grande, precisou reunir forças para se manter no lugar. Sentiu-se mais aliviado ao perceber que ela estava tirando conclusões erradas sobre o seu motivo. Decidiu incentivá-la por aquele caminho, seria mais seguro para ambos.
- Você não pode continuar fugindo. - Ela falou calmamente, ainda sem desviar o olhar. Pegou uma das mãos dele e agarrou-a, colocando-a sob o local onde o seu coração batia rapidamente. - O meu coração está assim por sua causa. - Finalizou num sussurro.
Olhou-a e desviou a atenção até o local em que estava sua mão, sentindo o tecido encharcado e a pele fria que tocava a sua. O sofrimento dominou os seus sentidos e a dor foi dilacerante. Estava prestes a perder o controle e isso jamais poderia acontecer. Deveria ser forte. Tinha que protegê-la, mesmo que custasse sua própria vida. Afastou sua mão com delicadeza, mesmo que seu rosto estivesse sem qualquer emoção.
- Acabou, . - Falou friamente e lançou um último olhar, mas que foi suficiente para registrar aquele olhar e que iria persegui-lo em seus pesadelos. Esforçou-se para não deixá-la protegida com o guarda-chuva, mas teria que agir sem dar ouvidos aos seus sentimentos. Deveria ser convincente ou ela continuaria seguindo-o. Quando se virou e partiu com passos firmes, tentou convencer o seu coração de que era pelo bem dela, mesmo que doesse.

(Take your time)
(Não se apresse)
(Take my time)
(Leve meu tempo)
Take these chances to turn it around (take your time)
Aproveite essas chances para dar a volta por cima (não se apresse)
estava calma.
Essa constatação assustou-a profundamente. Os braços estavam caídos ao lado do corpo e a chuva voltou atingir seu corpo. Sentia muito frio, mas não conseguia retornar para casa enquanto ele não desaparecesse de sua visão. Não sabia quanto tempo levaria para vê-lo novamente, mas uma coisa estava clara: iria voltar.
E ela iria esperar, pois ele amava-a e iria vencer o que quer que estivesse acontecendo.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Nota da beta: Ah, que bonitinha, bem! Adoro um drama! <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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