Finalizada em: 11/05/2021

Capítulo Único

Estava me entupindo de batata frita e Coca-Cola em uma cafeteria qualquer. Tinha acabado de voltar de uma madrugada agitada. Interrogatórios, torturas, sangue – coisas que faziam minha noite mais feliz –, então sempre precisava de fast-food como um garotinho. Afinal, meu pai ainda fazia questão de enviar mafiosos e gangues para acabar comigo, destruir tudo o que tinha me sobrado para, então, me prender em uma gaiola e me trancafiar para todo sempre. Parece exagero, eu sei que parece. Mas não é. Meu pai é um psicopata maluco e eu sou ainda pior do que ele.
Enfiei mais umas batatas na boca enquanto tentava limpar uma mancha de sangue da manga da minha camisa cinza, mas estava piorando. Bebi mais um gole de Coca e reparei em alguns olhares em mim, talvez por ter chegado meio afobado, descabelado e pedido por muita batata frita, dispensando qualquer lanche. Resolvi, no momento seguinte, me preocupar apenas em procurar uma sobremesa digna, lendo os nomes das tortas, depois dos bolos, umedecendo meus lábios devido a tantas opções. Eu poderia pedir um pedaço de todas, e as que não gostasse, sair jogando pelo chão da lanchonete?
Meus olhos me traíram e seguiram para uma garota vestida de noiva que tinha passado por ali, fazendo-me soltar uma risada. Voltei a olhar para o cardápio, mas até que a cena estalou em minha mente novamente. Passou mesmo uma garota vestida de noiva ali e agora! Soltei o cardápio, pedindo para eles embrulharem o que eu não tinha comido. Larguei os dólares em cima da mesa e peguei a sacola que me entregaram, finalmente saindo à procura da noiva em fuga, só porque eu era curioso o bastante para ouvir uma boa história.
Peguei um cigarro assim que saí do lugar e o acendi, tragando levemente e sentindo um cheiro de queimado. Seguindo o mesmo cheiro e deparando-me com a noiva em fuga queimando lixeiras, franzi o cenho e sorri divertido, adorando aquela cena e até a achando digna de um filme. Era realmente uma garota bonita, vestida inteiramente de noiva; os fios soltos e bagunçados indicando que ela havia corrido por um longo caminho. Por sua feição, ela parecia cansada – exausta, para ser mais sincero e mais claro. Mas, mesmo assim, era bonita.
— Por acaso você está atuando para algum filme e o diretor e as câmeras estão escondidas? E eu estou atrapalhando o filme? — perguntei, abrindo os braços e soltando uma risada. — Aliás, gostei do isqueiro — apontei para o objeto, tragando mais um pouco do meu cigarro e vendo uma pessoa parando e se assustando com a cena. — Melhor atravessar e não gritar, ou você é a próxima que será queimada — usei aquele tom de maníaco que eu tanto adorava, mas deixei uma risada escapar logo em seguida, não ligando o quão louco eu soava. Até porque não era eu que estava vestido de noiva e queimando lixeiras.
— Na verdade, sim. Eles estão invisíveis, e meu destino final é a morte. Você poderia ser o assassino? — a mulher entrou na brincadeira.
Sorri quando ela levantou o isqueiro em agradecimento. Olhei para as chamas como se eu estivesse me apaixonando. Acabei gostando da gargalhada que ela soltou depois da minha ameaça à pessoa desconhecida que corria para longe. Aceitei o convite de me sentar ao lado dela na calçada, pegando meu cigarro no bolso e o acendendo, usando um isqueiro achado na boate de ontem. Dei uma boa tragada e soltei a fumaça para o outro lado.
— É tentador, adoro vilões mesmo. Mas tenho uma ideia melhor... — voltei a encará-la e coloquei um sorrisinho mínimo nos lábios. — Seu marido, furioso por você ter fugido dele, contratou-me para te matar — comecei a falar, gesticulando e quase fazendo um teatro, mas sem rir ou sorrir, como se fosse um plano de vida e morte. — Eu vim aqui cumprir meu serviço, mas você me convence que eu ganharei muito mais se nos virarmos juntos contra ele e o enterrarmos vivo, ficando com a fortuna do pobre marido — agora sim abri o meu sorriso macabro. Olhei em volta, esperando as palmas, mas soltei uma gargalhada.
— É um bom plot, mas eu não faço ideia do que você ganharia de mim — ela sussurrou, como se fosse um segredo.
Vi a mulher prestar atenção em tudo que eu dizia, como se tivesse me levando a sério mesmo. Mas eu era só um cara maluco procurando por boas histórias, já que a minha não valia mais a pena. Escutei o que ela sussurrou e fiquei olhando, a analisando, como se repensasse algo. Então, soltei uma gargalhada com aquilo, negando com a cabeça.
— No filme você teria, porque eu seria um ceifador e você teria que ter algo a me oferecer — disse, explicando de uma maneira divertida. — Mas eu sou só um doido que gosta de boas histórias ou filmes bons! — pisquei um olho, dando de ombros.
— Então espero que eu ao menos oferecesse algo bom — ela deu de ombros.
— Eu me venderia por uma garrafa de uísque ou charutos — ri baixo disso.
Diriam que eu me venderia por pouco, mas, na verdade, o que era muito para alguém que já tinha tudo? Umedeci meus lábios e passei a mão em meus fios loiros que já tinham caído novamente em meu rosto.
— Você se venderia por muito pouco — ela torceu seus lábios, estreitando os olhos. — Mas, na verdade, não julgo. Eu me venderia por batatas fritas e milkshakes. Ou talvez um oral, nada mal — abriu um sorriso logo em seguida.
— Comer e foder, praticamente os dois melhores verbos já inventados — comentei, dando outra risadinha com isso. — Mas ambos nos venderíamos por muito pouco pelos olhos de outras pessoas — Levantei um ombro, pensando sobre isso. Mas quantas já vi vender a alma por coisa pior?
— Concordo. Melhores verbos já inventados mesmo! — ela balançou a cabeça, indicando a sua concordância. — Depende da ambição de outras pessoas. Se for muito alta, então sim, estamos nos vendendo por muito pouco. Mas quem liga? — deu de ombros, sorrindo.
— As pessoas querem riquezas. Ser rico é bom pra caralho mesmo! Mas a vida, o tempo, a saúde... Nada disso o dinheiro compra. Então, realmente, quem liga? — voltei a olhar para ela.
Eu sabia bem disso. Sou rico e já fui um mimadinho egocêntrico algum dia da minha vida, e isso não adiantou em nada.
— Isso é comida? — ela apontou com a cabeça para a sacola em minha mão, sentindo o calor do fogo se intensificar. — Porque se for, se importa de dividir comigo?
— Uma noiva incendiária e faminta. Claro que divido — respondi, me divertindo. Entreguei o saco de comida para a garota e me foquei no meu cigarro. — Quer me contar de que festa você veio? Tava um porre? — perguntei, erguendo a sobrancelha, interessado naquela história que parecia brilhante.
— Vim da minha própria. Acho que meu vestido de noiva indica tudo. Ou você acha que isso aqui é fantasia?
Ri daquilo, ponderando com a cabeça.
— Fugi do meu próprio casamento. Não era o que eu queria, era decisão dos meus pais. E eu deixei que eles decidissem por mim. Deixei que eles decidissem muita coisa por mim — ela estalou seus lábios. — Eles não me aceitavam como eu sou. Então pensei que, se eu não podia viver por mim, por que eu viveria pelos outros? Surtei quando entrei na igreja e vi todas as pessoas. Estavam sorrindo como se eu estivesse feliz e fosse minha escolha. E senti raiva dos meus pais. Então, eu coloquei fogo na igreja e fugi — confessou com a voz baixa. — Aqui estou — completou, botando mais uma porção de batatas na boca —, sozinha, faminta e sem lugar para ir. Não faço ideia de como vim parar aqui. Interessante, não?
— Uau, deve ter sido foda pra caralho você fugindo do seu casamento. Cena digna de filmes! — comentei, sorrindo empolgado com sua resposta. Até porque não era todo dia que isso acontecia. — Parece que temos muito em comum, minha cara. Pais controladores, querendo escrever o roteiro de nossas vidas e essas merdas aí que você disse. Fez bem em fugir! — olhei para ela, tragando mais um pouco. — Nós escrevemos nosso próprio roteiro — falei, soltando a fumaça para o lado.— Queimar a igreja e fugir do casamento. Isso merecia um livro! — apontei para ela. Aquilo tinha sido espetacular, queria eu ter visto aquilo. — Garota, você tem culhões mesmo! Essa sua paixão pelo fogo também é espetacular, tenho que dizer — passei as mãos por meus cabelos, os puxando para trás enquanto terminava meu cigarro. — Sozinha não. Tem um maluco do seu lado que já é alguma coisa! — sorri de lado, encostando meu corpo em meus cotovelos, que estavam encostados da calçada. Ela me agradeceu por aquilo e eu apenas sorri. — A vida é uma aventura, aproveite. Está agindo certo. Até porque nem eu sabia o que estava fazendo aqui quando vim pra cá. Agora eu tenho um propósito! Você só tem que achar o seu, cara noiva em fuga.
— Não foi lindo — ela negou com a cabeça. — Muito menos digna de filme. Foi muito pior — terminou de comer a porção de batatas ao falar aquilo. — Você também fugiu dos seus pais? — questionou, de forma curiosa.
— Será mesmo, noiva em fuga? — ergui ambas as sobrancelhas, sorrindo um tanto intrigado para ela. — Fugi sim, a melhor decisão que eu já tomei — respondi, sincero. Se tinha uma coisa que eu não sabia fazer era mentir, até porque quase nunca dou motivos para mentiras mesmo.
— Você está duvidando de mim? — ela imitou meu gesto, erguendo só uma sobrancelha. — Eu não teria tanta criatividade de inventar uma história como essa, acredite em mim — explicou e encarou meus olhos. — Sabe o que é melhor? — ela aproximou seu rosto do meu, quase deixando nossos narizes se tocarem. — Eu gostei de colocar fogo em tudo. Faria tudo exatamente de novo, sem passar nada — sussurrou como um segredo, apenas para mim.
— Estou sim, senhorita noiva em fuga — usei meu tom sério com o sorriso brincalhão nos lábios. — A mente humana é criativa demais, até aquelas que não acreditam em si mesmas. Mas acredito em você! — sorri de lado, decidindo acender outro cigarro.
Fiquei totalmente atraído e hipnotizado pelos olhos claros bem à minha frente, a centímetros de mim. Até mordi meu lábio inconscientemente pela proximidade repentina. Encarei os olhos dela, mesmo que os meus quisessem me trair e encarar seus lábios, mas me contive em apenas apreciar a cor esverdeada que eles tinham. Mas sem contar como ela tinha sussurrado também tinha me afetado.
— Podemos colocar fogo em alguns lugares qualquer dia desses. Posso ver em seus olhos o prazer que você sente em fazer isso — raspei meus dentes em meu lábio novamente.
— Eu acho bom que acredite em mim mesmo — ela falou em tom de encenação. — Não posso começar uma amizade com alguém que já começa duvidando de mim — fez um bico falso. — Sério? — sussurrou, extremamente interessada na ideia.
— Relaxa, eu acredito em você sim — acabei me rendendo mesmo, até fingindo ter ficado sentido por essa rendição. — Perfeito. Um dia desses incendiamos alguma coisa aí — abri mais o sorriso, tentando até soar como um maníaco, mas acabei rindo em seguida. Ainda mais quando ela beijou minha bochecha e isso me fez sorrir de lado pelo gesto fofo.
— E como se chama esse maluco? — perguntou.
— O maluco se chama — abri mais o sorriso em meus lábios, nunca sabendo se eu sorria de uma maneira cordial ou insana. Para mim, as duas formas eram a mesma coisa.
— ela testou meu nome, soltando-o em voz alta. — Por que não ? Soa sexy — questionou, encarando a rua. Sorri de lado quando a escutei pronunciar meu nome, achando sexy na voz dela.
— Pode ser também, você escolhe. Só não , soa como se você estivesse chamando minha atenção — fiz uma careta.
— Bom, então vai ser . Gosto do som — decretou, e eu sorri para ela. — E qual seu propósito?
— O meu propósito? — repeti a pergunta, dando uma risadinha baixa e soltando o ar pesadamente.
Encarei o céu por poucos segundos, como se enxergasse algo mais ali, como se eu tivesse lendo o livro da vida ali. Mas, na verdade, esse era eu mesmo sentado com uma garota vestida de noiva que tinha fugido de seu destino, queimando uma igreja, apaixonada por fogos, e, talvez, até estivéssemos trocando segredos.
— O meu propósito é viver intensamente sem pensar nas consequências ou no amanhã. Porque algo que temos certeza é que o amanhã vai sempre chegar, e nunca sabemos o que ele nos trará — voltei meu olhar para ela quando finalmente respondi sua pergunta. — E você, noiva em fuga? Tem um propósito ou está atrás de um? — ergui a sobrancelha, esperando sua resposta com curiosidade.
— Não temos certeza se o amanhã vai chegar — a garota discordou. — Podemos morrer aqui agora mesmo. Deite ao meu lado, — pediu e, quando fiz isso, ela virou seu rosto para me olhar mais de perto. — Gosto dos seus olhos e do seu sorriso. Agora me dê a sua mão — pediu novamente, então dei a mão para ela segurar, sem tirar meus olhos dos seus. — Meu propósito é viver por algo que faça meu coração bater mais forte. E sabe o que faz ele bater mais forte? — perguntou, com um sorriso sincero no rosto. — Amor. Foi por isso que eu fugi. Quando eu o encontrar, cada batida que você está sentindo agora, valerá a pena.
— Não costumo pensar na morte, viver já é bem intenso — passei a língua em meus lábios rapidamente, antes de tragar mais um pouco. Eu sabia que a morte chegaria para todos, então eu a abraçaria quando minha hora chegasse, e não antes disso. — Eu também gosto dos seus olhos e sorriso — devolvi, apontando para ambos. — Você tem um propósito lindo, o qual realmente vale a pena lutar. E quando você encontrar esse alguém, lute por essa pessoa com todas suas garras e viva intensamente, não deixando problemas medíocres atrapalharem. Do mesmo jeito que existe amor, paixão e felicidade, a tristeza, o luto e o ódio andam lado a lado. E todos os sentimentos bons atraem os ruins — acabei soltando tudo que eu tinha por dentro. Ela parecia ser uma boa pessoa, e eu estava gostando de estar ao seu lado, por isso estava me abrindo assim. — Torcerei por você — abri mais o sorriso. Segurei sua mão de volta e beijei seu dorso, desejando que essa garota não perdesse as esperanças no amor como eu tinha.
— Obrigada, . Seja lá o que você deseja, também torcerei por você — ela acariciou meu rosto com a mesma mão e logo se levantou, respirando fundo. — Foi ótimo te conhecer, mas preciso encarar a realidade agora. A gente se encontra por aí? A propósito, me chamo .
— Obrigado, — respondi, testando seu nome. Sorri pelo agradecimento dela, fazendo até um meneio com a cabeça. — Digo o mesmo. E boa sorte com isso, a realidade costuma ser dolorosa — fiz uma careta. — Claro, temos que incendiar algumas coisas juntos — sorri levemente, acenando com a mão para ela.
Ri mais um pouco por ter sido uma maneira bem estranha de conhecer alguém. Mas não que eu não tivesse gostado. Até porque loucura e eu andávamos juntos, lado a lado como velhos conhecidos. Uma noiva em fuga na rua tacando fogo em lixeiras parecia ser um dia feliz e normal para mim.


[...]


Passei as mãos em meus cabelos, puxando-os para trás mais uma vez enquanto soltava a fumaça do cigarro para o lado. Tinha uma dançarina gostosa dançando para mim, mas eu não conseguia manter meu foco nela. Estava de olho em um cara que, por acaso, eu tinha descoberto trabalhar para o meu pai. Ele parecia não saber quem eu era ainda, mas passaria a saber logo, logo. Meu pai não enviaria seus empregados para cá sem mandá-los ficar de olho em mim. E eu odiava ser vigiado.
Traguei de novo, lentamente dessa vez, olhando a loira gostosa rebolar bem na minha cara. Sorri para ela quando ela sorriu primeiro, mostrando que era para mim aquela dança. O cara bebia tranquilamente, olhava para o celular e jogava notas altas de dinheiro para as meninas. Neguei com a cabeça. O filho da puta recebia bem por não fazer merda nenhuma. Fechei mais o casaco preto comprido que eu usava e terminei de tragar aquele cigarro. Então, me levantei dali e segui para fora do lugar, usando o que eu achava ser a saída dos fundos. Encostei o corpo na parede ali e respirei fundo, indo pegar outro cigarro no bolso, mas vi a porta sendo aberta ao meu lado e vendo o tal cara sair.
— Aquela loira é gostosa, né? — ele puxou assunto.
Sorri de canto e assenti com a cabeça.
— Sim, muito — peguei o cigarro e o isqueiro, o acendendo e oferecendo a ele.
— Não fumo, valeu. Você é daqui de Bristol mesmo?
Neguei com a cabeça, não querendo falar muito. Mas ele riu.
— Nem eu, mas estou curtindo aqui. Tem umas vagabundas gostosas — isso me fez encará-lo de outra maneira, o que já o fez entrar na defensiva. — Foi mal pelo palavreado, cara. Mas essas meninas daí que dão pra vários de numa noite, não vejo como chamá-las de maneira diferente — ele tentou se explicar, mas pareceu piorar.
— É a decisão delas, “cara”. As mulheres decidem com quem vão ou não pra cama, isso faz tempo. E sorte a sua que existem muitas delas que fazem isso por dinheiro, porque tenho certeza que só pagando que alguma iria pra cama com você — cuspi as palavras, me sentindo realmente enojado por ele. — Outra coisa, “cara” — usei novamente o apelido de uma maneira cínica. — Seu nome é Thadeus Brian, é solteiro, morava na Alemanha e, de família, só tem uma avó de noventa anos, pra quem você manda dinheiro todo mês. Um dinheiro sujo que você recebe de um traficante milionário pelo trabalho sujo que você cumpre pra ele. Sujando as mãos no lugar dele — descarreguei calmamente, tragando mais uma vez e vendo ele se apavorar. — Relaxa, guarda essa arma. Se você me machucar, sua vó morre — era mentira, mas ele não precisava saber disso. — Você dará meia-volta, arrumará suas malas e, em cima da sua cama, naquele hotelzinho vagabundo, estão vinte mil dólares, passaporte novo, documentos novos e uma passagem para a Alemanha. Pega essa grana e cuida do resto de vida da única mulher que te ama e vê se faz algo digno para honrá-la — encostei-o na parede, vendo o medo em seus olhos. — Caso você não saia, ficarei sabendo. E eu não sou o tipo de cara que dá segundas chances — pisquei um olho pra ele, soltando a fumaça em seu rosto.
Então, entrei novamente no bar, sorrindo de uma maneira satisfatória. Até que dei um encontrão em alguém.
— Foi mal! — então, a reconheci de imediato. Era a noiva em fuga do outro dia. — Noiva em fuga! — abri o sorriso, pensando em como aquela cidade era pequena. Ou melhor, o mundo era.
! — ela exclamou, tocando meu peito. — Você é muito, muito bonito — deu um sorrisão, se jogando em mim, colocando suas mãos ao redor do meu pescoço. — Me paga uma bebida?
— Isso! — exclamei de volta, rindo baixo pela maneira que tocou meu peito. Ela estava bem bêbada, era notável até demais. — Você tá bêbada, mocinha — respondi de prontidão, rindo ainda. — Mas obrigado — era um agradecimento em forma de piada. Segurei sua cintura com receio de ela acabar caindo. — Pago sim — assenti para ela, umedecendo meus lábios e indicando o bar.
O garçom nos deu um olhar meio torto. Ele começou a rir quando eu pedi uma dose de uísque para mim e perguntei a de uma maneira silenciosa o que ela gostaria.
— Irmão, você não vai se dar bem com essa aí — o garçom falou. Olhei confuso para ele, começando a ficar com raiva por ter me dito aquilo. — Essa maluca só quer que alguém pague sua bebida, mas não te dará nada em troca — o homem praticamente cuspiu as palavras, rindo em deboche.
— E o que você acha que eu quero dela? — ergui uma sobrancelha em questionamento. — Uhn? — segurei a gola da sua camisa com força e o puxei para mais perto de mim. — Você vai calar a porra da sua boca antes que eu corte sua língua fora e a use como canudo. Vai pegar aquela garrafa de Jack Daniels ali e me dar. Eu vou pagar e você não vai ganhar gorjeta por ser um escroto sujo. Entendeu? — falei bem calmamente, deixando as palavras saírem devagar e com bastante clareza.
Ele engoliu em seco e assentiu rapidamente. Pegou a garrafa e me entregou.
— Agora, peça desculpas à moça — apontei para ao meu lado. Ele demorou um pouco, mas pediu desculpas a ela, que apenas assentiu e deu de ombros.
Mandei um beijo para ele por pura provocação e peguei a garrafa, jogando as notas no balcão.
— Tá afim de sair daqui? Beber e incendiar outro lixo? — perguntei à garota, tirando um cigarro do bolso do sobretudo e o acendendo ali dentro mesmo. — Pode fazer as honras — entreguei a garrafa para ela, a deixando se deliciar com o álcool.
já estava bêbada mesmo. Depois disso, ela só precisaria de um lanche e fritas. Depois, quem sabe um pedaço de bolo ou torta. E eu sempre sabia onde ir para esses porres não terminarem em PTs.
— Sim — ela respondeu, parecendo querer sair mesmo daquele lugar. Então, nos encaminhamos para fora. — Só se você me guiar, gatinho. Não consigo nem sentir minhas pernas direito para saber o caminho sozinha — soltou uma risada e bebeu bastante do líquido que tinha na garrafa. — Obrigada, — murmurou, bebendo mais da garrafa.
Suspirei aliviado ao sentir a brisa fria de Bristol em meu rosto assim que saímos, umedeci meus lábios e resolvi acender um cigarro. Traguei rapidamente ao ouvir a garota me agradecer em um murmúrio. Sorri de canto, dando de ombros. Peguei a garrafa de sua mão, bebendo uns goles e tragando em seguida, sentindo os sabores queimarem dentro de mim em uma sensação familiar e deliciosa.
— Estou começando a achar que você é meu anjo por me salvar de duas noites desastrosas seguidas. É bom conhecer alguém nesse inferno — ela deu de ombros, lambendo os lábios. Devolvi a garrafa para , feliz por ela pensar aquilo de mim, mesmo eu não sendo um anjo. — Você tem isqueiro aí? Perdi o meu. E eu não queria ser abusada, mas estou com fome também. Você pode pagar um lanche pra mim? — fez um bico, insatisfeita. — Aquela velha ridícula tomou todo o meu dinheiro, dizendo que eu estava devendo dois meses de aluguel. O lugar nem é grande coisa assim, dormir na rua tá mais em conta.
— Não te salvei de nada, garota do fogo. Só fiz o que qualquer cara deveria fazer. Ou melhor dizendo, qualquer pessoa — dei de ombros, soltando a fumaça para cima e fechando os botões do meu casaco. — Como é? Você tá dormindo na rua, ? — perguntei, ainda incrédulo. — Olha — pausei, jogando o cigarro fora e pisando em cima antes de voltar a falar, mas ficando de frente para ela —,eu tenho um quarto pra você no meu apartamento, fica lá até você arrumar sua vida. Eu não cobro. Aqui é grande, logo você arranja algo e pode, sei lá, comprar algo pra você, uma casa e tal — eu morava numa merda de cobertura enorme que caberia umas quinze pessoas, e ainda sobrava espaço. Não me importaria em ter morando lá. — Eu quase não paro em casa também, então você nem se incomodaria com a minha presença — outra verdade. Coloquei as mãos nos bolsos do casaco. —- Se quiser conhecer o lugar, vamos pra lá, e, no caminho, compramos umas coisas pra comer. O que você me diz? — dei uns passos para trás, chamando-a com a mão e tirando as chaves do carro do bolso.
Sabia que aquilo era completamente maluco, porque mal nos conhecíamos. Mas eu sentia uma conexão de outro mundo com a garota, e sabia que ela sentia o mesmo por mim, por ter confiado em um completo estranho também. Sabia que seu nome era e ela sabia meu nome. Sabíamos do objetivo um do outro. Não queria arrastá-la para o meio das minhas merdas, e eu sabia que, levando-a para casa comigo, ela estaria no meio da guerra. Mas, dessa vez, eu não cometeria o mesmo erro. Faria o possível e o impossível para a fuga daquela garota ter realmente valido a pena, assim como a minha também tinha.
sorriu abertamente com o convite, aceitando logo em seguida, apenas comprovando o quanto ela confiava mesmo em mim.
Estávamos correndo riscos ficando juntos? Obviamente que sim.
Mas quando é que viver não era correr riscos? Era sempre aí que estava a graça de tudo.
E o que é eu sabia da vida?
Não sabia absolutamente nada. Tudo o que eu sei é nada. Tudo que eu sei é que eu estava levando aquela garota incendiária para casa.

All I know is I don't know nothin'
All I know is I don't know nothin' at all
People talk but they don't say nothin'
All I know is I don't know nothin' at all


Fim



Nota da autora: Olá, olá! Mais uma vez trazendo NOVAMENTE um casal e umas cenas criadas no RPG, o Zach é meu mafioso rebelde e ao mesmo tempo um bolinho, e a Trix é uma personagem da Aurora, a qual eu sou perdidamente apaixonada!! Sério, eles tem uma conexão incrível, uma confiança um no outro que me faz perder a linha. Então essa fic eu dedico a Aurora por ter me dado esse casal que eu venero e amo. Indico também todas as fics da Aurora C. aqui no ffobs, juro que não irão se decepcionar! <3



Outras Fanfics:
One Impasse
Um Namorado para o Natal
Blood Royals
Extermínio


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