Finalizada

Capítulo Único

“Antes de eu te conhecer, era apenas escuro, era como o mar negro, você já o viu? Todos os dias, com uma cara agitada e nenhuma expressão, os dias só iam passando, eu não esperava o amanhã, até que em um dia assim, a Via-Láctea derramou sobre mim e digo "olá", com seus olhos me encarando.”

Toronto estava bem gelada. esfregava as mãos pelos braços em uma tentativa falha de se esquentar, o ar frio ardia as suas narinas a cada respiração e o vento gélido saia da boca dela como fumaça. Talvez ter enchido a cara aquela noite não tivera sido uma boa ideia e ela constatou isso após andar um quilometro, totalmente bêbada, só para chegar até sua cafeteria preferida da cidade.
Logo que viu algo vermelho piscar, foi como uma luz no fim do túnel, o sorriso brotou na mesma hora em seu rosto e ela correu o pequeno trajeto até a janela de vidro procurando uma alma viva dentro daquele ambiente. Para sua decepção, o lugar estava completamente escuro e sem sinal de movimentação ou de funcionários. Definitivamente, estava fechado. Bufou impaciente e em seguida, começou a bater na porta.
— Eu só quero um café! — Começou a gritar. — Eu sou apenas uma garota que quer um café nessa noite gelada dessa cidade de merda! — Resmungou manhosa.
Após todo seu esforço, reclamou aos céus e sentou na calçada desolada. Pegou seu celular para chamar um carro pelo aplicativo, no momento em que ligou o aparelho, se deu conta que já passava da meia noite, o que justificava a Monroe’s Coffee está fora do horário de atendimento.
— Sua burra! — Riu sozinha.
Apesar do horário, as ruas estavam movimentadas, era um final de semana o que explicava a quantidade de pessoas transitando por ali. Mesmo assim, ela se sentia insegura por estar só, então queria voltar para casa, tomar um banho quente, descansar e talvez vomitar um pouco, sorriu enquanto pensava como era calculista em todos os seus passos.
— Você sempre fala sozinha? — Uma voz surgiu atrás dela fazendo com que a garota se assustasse.
— Ai meu Deus! — Colocou uma de suas mãos no coração, levantando-se rapidamente e se posicionando na calçada. — De onde você surgiu? — Perguntou ao rapaz em sua frente.
— Bem... — Ele apontou para cafeteria atrás dele. — Era você a louca que estava gritando pedindo café? — Franziu o cenho.
— Como ousa falar assim comigo? — O fitou nervosa. — Nem ao menos me conhece! — O repreendeu.
— Eu penso que ninguém normal saí por aí batendo em portas e pedindo algo, depois da meia noite. — Rebateu.
— Para sua informação. — Ela apontou o dedo. — Eu ao menos sabia que era mais de meia noite e...
— Mais um motivo para não ficar gritando com os outros. — A interrompeu.
— Se me ouviu gritar por que não veio antes? — Sorriu irônica.
— Deve ser porque eu não obrigado! — Foi sarcástico.
— Você é muito atrevido, não é mesmo? — Lançou uma pergunta retorica, irritada.
— Você, claramente, não está sóbria! — Aproximou-se dela. — Vem ao meu estabelecimento de madrugada, bate freneticamente na minha porta, gritando por um pedido de café que parece mais um pedido de ajuda e eu que sou atrevido? — Perguntou exasperado.
— Calma! — Pediu. — Você é o dono da Monroe’s Coffee? — Questionou de maneira singela e ele assentiu. — Esse é meu lugar favorito no mundo inteiro, sabia? — Ela correu para abraça-lo em forma de agradecimento.
Sem reações. Ele não conseguiu fazer outra coisa a não ser devolver o abraço.
— Como alguém pode ser tão quentinho assim? — indagou ainda nos braços do homem robusto.
— Realmente, você não está sóbria! — Disse ao mesmo tempo que sentia suas bochechas corarem.
— É só que... — Soltou-se dele e respirou fundo antes de continuar a sua fala. — Eu sempre costumava vir aqui com a minha mãe e desde que ela faleceu, é como se esse lugar fosse minha segunda casa. — Sorriu fraco com os olhos marejados.
— Você pode me chamar de Lee — Ele chamou a atenção dela. — Esse é meu nome. — Justificou.
— Lee... — Fitou o rapaz a sua frente com os olhos brilhando. — É um lindo nome. — Disse feliz. — ... Meu nome é Hart. — Os dois se encararam em silêncio por um momento.
— Então, você quer tomar um café? — Ele falou sem graça e a garota balançou a cabeça positivamente.
Lee pensou em como isso havia sido a coisa mais esquisita que já acontecera com ele, estranho como nunca tinha visto a morena antes rondar aquele lugar, apesar que desde que perdera seu irmão, dificilmente aparecia no local, a não ser em uma madrugada outra para cozinhar e tentar colocar a cabeça no lugar, porém a presença dela ali não seria algo que passaria despercebido por ele.
Imaginou que talvez fosse assim que deveria acontecer. Acreditar no destino sempre foi algo positivo para ele. parecia ser o seu destino.
— Aqui está o seu café! — Monroe falou após colocar uma caneca em cima da mesa.
— Como sabe que eu bebo o meu com canela? — Questionou desconfiada depois que o cheiro subiu ao seu nariz e ele deu uma gargalhada jogando a cabeça para trás. — Eu estou falando muito sério! — Fez um bico.
Com o cabelo preso em um coque, ele pode contemplar a beleza no rosto da garota que estava escondido entre as ondulações do seu cabelo antes.
— É assim que eu bebo o meu, Hart. — Sorriu de maneira singela.
Ela sentiu todos os pelos do seu corpo se arrepiarem ao ouvir seu nome sair da boca daquele estranho que havia conhecido há poucos minutos. Não conseguiu tirar seus olhos dele por alguns minutos.
— Eu disse algo errado? — Lee perguntou.
— É só que é uma grande coincidência bebermos café do mesmo jeito, não acha?
— Quantas pessoas não bebem café com canela? — Rebateu sarcástico.
— Tem certeza que não é um stalker? — Estreitou os olhos.
Ele não pode evitar outra gargalhada.
Entre uma conversa e outra, eles devem ter passado horas falando sobre tudo o que gostavam, lugares que haviam visitados, a faculdade que fizeram, como a avó dele por parte de pai abriu a cafeteria, como era a relação de e sua mãe antes da mesma falecer. Coisas como livros ou os tipos de café que eles já tinham provado também renderam mais e mais falatórios.
Os dois ficaram por horas conversando até o barulho do celular de incomodarem ambos. Percebeu que Grace, sua amiga, a ligava, com toda certeza preocupada por ela ainda não ter chegado em casa. A garota atendeu, explicou que estava tudo bem e que estava indo para casa. Depois de encerrar a ligação, encarou Lee a sua frente, a faísca entre eles era tão óbvia quanto o clima Londres ser frio no inverno.
— Eu preciso ir! — Falou cabisbaixa. — Ela vai me matar se eu não vou voltar para casa e com razão.
— Antes de ir, tem algo que eu gostaria de falar. — Coçou a nuca e ela balançou a cabeça em sinal de que ele poderia continuar. — Eu não sou dono daqui, quer dizer...
— Eu já sabia! — sorriu, interrompendo ele. — Você é um péssimo mentiroso. — Mordeu o lábio, risonha.
— Por que não falou nada antes? — Questionou a garota.
— E acabar com toda diversão? — Ela começou a rir e não foi muito difícil para Monroe acompanha-la.
— Então é o tipo de garota que gosta de se divertir? — A encarou com o brilho nos olhos.
— De que tipo você gosta? — Perguntou ao mesmo tempo que empurrou um pouco a xicara de café para o lado.
— Definitivamente o frappé. — Foi direto, pois, não tinha dúvidas.
— Eu não estou falando sobre café. — Disse sem graça e o semblante de clareza apareceu no rosto do rapaz.
— Eu gosto do tipo de garota que não fica gritando por aí com os outros, por questões de segurança. — Foi irônico e pode vê-la boquiaberta e com a mão no peito simbolizando que ele havia a machucado, o que resultou em risadas no ambiente. — Aliás, o que te faz pensar que eu realmente não sou dono daqui? — Estreitou os olhos, esperando uma boa resposta.
— Além do fato de você ter assumido isso agora. — Ela fungou por causa do frio. — Você, com toda certeza, não é canadense, então imagino que esteja fazendo um intercambio, morando no país e consequentemente, trabalhando aqui, pois, por mais qual motivo teria a chave desse lugar? — Gesticulou com o dedo indicador.
— Meu pai é canadense e minha mãe coreana. — Dedilhou o balcão por uns segundos. — Ele foi a uma viagem de negócios na Coreia e se apaixonou perdidamente por ela. — Hart estava concentrada demasiadamente na história. — Então, levou alguns meses para a mulher que me gerou arriscar tudo aqui no Canadá. — Passou a mão pelo queixo. — E cá estou eu! — Simbolizou um gesto em referência a si mesmo.
— Isso significa que você é canadense? — Indagou o rapaz e ele concordou com a cabeça. — Pelo visto, você é a cara da sua mãe. — Ela riu de forma genuína e ele não pode evitar focar no brilho que o sorriso dela irradiava.
— Que bom! — Ele levantou-se e começou a retirar as xicaras da mesa. — Porque ela é linda! — Disse, sem desviar do olhar de .
O celular da garota vibrou mais uma vez.
“Eu juro que vou te matar se você não chegar em 10 minutos!”
Era Grace, extremamente irritada.
— Eu realmente preciso ir! — A loira suspirou enquanto levantava-se e se posicionava cara a cara com ele.
— Quando eu vou te ver de novo? — Questionou sem delongas.
— Você quer me ver de novo senhor atrevido? — Os dois se olharam por um tempo e riram.
Lee não recordava a última vez que sentiu dor nas suas bochechas de tanto sorrir, a presença da garota causou algo diferente nele e era loucura fugir disso quando era algo que estava tão obvio. Não suportava a ideia de que não a veria novamente algum dia de sua vida.
— Talvez você possa vir aqui em um horário comercial. — Ele disse e Hart assentiu.
— Pode ser. — Respirou fundo e assentiu com a cabeça positivamente.
— Talvez você devesse pegar meu número. — Ele sugeriu.
— Talvez? — Indagou com um ar de desconfiança.
— Para me avisar quando chegar em casa. — Disse convicto. — Não está mais bêbada não é? — Questionou.
— Todo álcool evaporou assim que te abracei. — Ela levantou um pouco os pés e depositou um beijo na bochecha. — Eu já deixei meu número em um guardanapo enquanto você fazia o café. — Hart sinalizou com a cabeça o pedaço de papel em cima do balcão.
O rapaz levou a mão até seu próprio rosto e acariciou o local onde o beijo havia sido depositado. Pensou ser um delírio. Já fazia muito tempo que nenhum tipo de contato físico o atingia dessa maneira. passou por ele indo em direção a saída.
? — Ele a chamou virando seu corpo para poder alcança-la antes da mesma sair.
— Me ligue senhor atrevido! — A garota disse em meio a um sorriso enquanto deixava o lugar.

[...]


“Será que a luz barulhenta voltará hoje novamente? Ela está desvanecendo. Quando eu abrir meus olhos, eu espero estar contigo e com o céu, eu seguirei a estrada dourada até você.”

— Você não entende, ele é a coisinha mais linda que eu já vi na vida. — Ela explanou para Grace ao mesmo tempo que sentava no sofá.
— Da próxima vez, avisa para coisinha linda mandar você responder sua amiga, por favor! — A garota jogou a almofada na loira a sua frente que agarrou em um instante. — É sério! — Enfatizou. — Você não pode ficar por aí andando sozinha e bêbada. — Disse.
— Eu não estava tão bêbada assim. — Revirou os olhos. — E ele foi muito gentil, sabia? — Abriu um pequeno sorriso ao lembrar dele.
— Ele poderia não ter sido, é isso que eu estou querendo dizer. — Fitou a amiga preocupada. — Mas, me conta agora! — Soou ansiosa. — Ele é realmente dono da sua cafeteria preferida? — Questionou.
— Então, tecnicamente sim. — Mordeu o lábio. — O café foi montado pelos avós dele há muitos anos e hoje em dia o pai dele que toma conta das coisas. — Explicou. — Ele me disse que sempre fica por lá refazendo as receitas da avó durante a madrugada, pois adora cozinhar, foi um café tão simples, mas, acho que foi o melhor que tomei na vida. — A garota suspirou um ar apaixonado. — Poderia amor à primeira vista ser real? — Indagou a Grace ao seu lado.
— Eu não sei, porém, estou quase começando a acreditar depois de ouvir você falar sobre um cara que conheceu há três horas. — Foi sarcástica. — Vem, vamos dormir que amanhã temos aula logo cedo. — Tirou o seu corpo do sofá em um súbito.
— Não vou conseguir dormir, pelo motivo dele não sair da minha mente. — Bufou e a morena a sua frente deu uma risada.
— Sua boba! Vem logo! — Estendeu a mão para ela.
— Pode ir, eu vou daqui a pouco. — Falou e Grace assentiu. Depois que a amiga saiu ela acomodou-se com a almofada no seu colo. — Você não entenderia, foi diferente. — Sussurrou para si mesmo retrucando qualquer pessoa que pudesse falar o contrário.
E de fato, o encontro deles não havia sido nada normal, ela ansiava por alguma mensagem ou ligação, já que não havia ficado com nenhum tipo de contato ou uma simples rede social e era isso que tornava tudo tão emocionante e excitante, o fato de apenas uma primeira ter sido o suficiente para garota desejar que ele nunca mais saísse do seu radar.
Bem, ela pode ter sido a primeira a sentir isso, mas, Lee sentiu muito mais forte, para ele foi como se todas as estrelas se alinhassem em perfeita harmonia e o universo pudesse construir uma segunda via láctea, tudo mudou dentro dele, tinha todos os motivos para não demonstrar alegria perto das pessoas, mas, com , era impossível não sorrir.
Amanheceu o dia em sua cama, pensando em como fazia tempo desde que tivera um sorriso sincero e verdadeiro. Ficou receoso em ligar para ela, pois, cogitou uma grande possibilidade dela o identificar como um verdadeiro stalker, porém, tudo o que mais queria era ouvir a voz da garota novamente.
Desde que perdeu seu irmão mais velho, abandonou a faculdade e foi passar um tempo na Coreia, viu isso como a alternativa mais fácil pra enfrentar o luto de maneira mais corajosa, uma vez que se sentia culpado por estar no mesmo carro, mas, ter sobrevivido. Perdê-lo era uma dor que o assombrava até o momento atual.
— Pai, você não entende, foi como encontrar uma luz no fim do túnel. — Comentou sobre o ocorrido ao sentar na mesa do café da manhã. — Eu passei um ano tentando achar algo parecido, eu deixei o Canadá, o senhor, a minha mãe para isso. — Passou uma das mãos pelo cabelo.
— Eu sei Lee, mas... — Foi interrompido pelo filho.
— E de repente uma garota de um metro e meio aparece em uma madrugada pedindo algo na sua cafeteria preferida que por um acaso você é o dono. — Apontou para o seu pai e bebericou o suco de laranja que estava em cima da mesa antes de continuar sua fala. — E por um acaso o seu filho vai para lá, durante as madrugadas, cozinhar, por ser uma maneira de esquecer a culpa que está dentro do coração dele. — Engoliu o choro na tentativa de mostrar o quanto estava certo.
— Lee... — Ele suspirou.
— Pai, ela sorriu e foi como se já me tivesse por inteiro. — Disse sereno ao lembrar de como o toque dela o aqueceu quando o abraçou.
— Meu filho, isso é muito bom! — Balançou a cabeça positivamente. — Mas, tenho medo que confunda o que está sentindo e simplesmente a machuque ou machuque a si mesmo. — Pousou sua mão sobre a do filho de forma compreensiva.
— Como eu poderia confundir? — Retirou sua mão e questionou indignado.
— A morte do seu irmão ainda está recente, tenho medo que esteja tentando preencher algo dentro de si e acabe arrastando pessoas boas que não tenham nada haver para um caminho onde elas vão se machucar e consequentemente, você sofreria as consequências disso. — Respirou fundo. — Não suportaria ficar sem você Lee. — O senhor Joe segurou as lágrimas.
— Eu cresci ouvindo a sua história de amor com a minha mãe e agora está me pedindo para ter cuidado porque eu posso está misturando a dor de perder o Park com o sentimento de um amor? — Franziu o cenho, incomodando com o comportamento do pai.
— Você é novo Lee, na sua idade tudo é muito intenso, muito... — Joe foi interrompido pela segunda vez na noite.
— Como soube que a mamãe, lá do outro lado do mundo, era a certa para você? — Foi sarcástico, pois, já sabia a resposta.
— Ela apenas sorriu para mim. — Ele suspirou, pois, sabia que Lee tinha o encurralado.
apenas sorriu para mim também, foi diferente pai, eu sei que foi e ninguém vai mudar esse pensamento. — Joe assentiu com a cabeça para o filho dando-se por vencido.
— Você está exatamente igual a mim quando conheci a sua mãe. — Ele riu fraco e o garoto o acompanhou. — Ninguém foi capaz de mudar minha mente e eu me tornei o homem mais insuportável do mundo até ter ela ao meu lado. — Deu um leve tapinha na mesa animado ao sentir a emoção de encontrar sua mulher pela primeira vez.
— Sobre o que os garotos estão conversando? — A mulher de cabelos longos e pretos adentrou ao recinto.
— Seu filho está me dizendo que se apaixonou por uma garota exatamente do jeito que eu me apaixonei por você Mi-Suk. — Sorriu ao olhar para esposa.
— Seria isso uma tradição na nossa família? — Ela riu abraçando o marido por trás.
— Mãe, ela é linda. — Ele ficou corado ao falar. — Tenho certeza que quando trouxer ela aqui...
— Ah! — Exclamou, interrompendo o filho de forma educada. — Você já está fazendo planos de trazê-la aqui em casa? — A mulher perguntou.
— Não posso perder tempo e acabar perdendo ela para outra pessoa. — Sorriu de lado ao encarar a mãe. — Agora tenho que ir para não me atrasar para faculdade, amo vocês. — O rapaz despediu-se dos pais, pegou a mochila que estava na cadeira ao lado e seguiu seu caminho.
— Ele, definitivamente, tem a sua energia de quando mais novo. — Mi-Suk disse de forma irônica.
— O que acha sobre isso? — Joe a questionou tentando aliviar o aperto no peito.
— Ele é jovem, eventualmente vai encontrar seu rumo, éramos mais maduros quando aconteceu conosco, mas, de certa forma, eu creio que o amor sempre será a melhor saída para tudo. — Ela gesticulou com as mãos. — Fico feliz, pois, fazia um tempo desde que vi ele sorrir de maneira verdadeira e se foi essa garota que causou isso, assim seja. — Beijou a testa do marido.
Lee não conseguia mais dirigir desde o acidente, um trauma foi instalado e ele não conseguia mais quebrar, então quase sempre estava de metrô e nesse momento corria contra o tempo para não perder o horário. Não demorou muito para chegar a universidade, apesar de tudo.
Decidiu ligar para enquanto estava andando pelo campus, ainda com a ansiedade o dominando por inteiro, ele sentiu que esse era o melhor momento para que tomasse a atitude de falar com ela, pois, não queria parecer um desesperado por atenção. O nervosíssimo o dominava enquanto o toque de chamar ressoava pelo telefone.
Por sua vez, a garota procurava o celular que estrondeava dentro de sua bolsa, desviar das pessoas ao mesmo tempo que fazia tal ação estava deixando louca e para piorar sua amiga Grace ao seu lado resmungava o quanto ela enchia a bolsa de coisas aleatórias e por isso quase nunca achava o que queria quando precisava. Levou instantes até que a garota desviasse o olhar do que estava a sua frente para tombar em algo.
— Droga! — Ela praguejou ao mesmo que se agachou para recolher as coisas que se espalharam pelo chão.
— Me desculpa! — Lee começou a ajudá-la sem perceber que era Hart.
— Foi minha culpa, eu não estava prestando atenção no que deveria, algum indivíduo decidiu me ligar exatamente agora. — Foi sarcástica falando, de algum jeito, consigo mesmo.
Monroe permaneceu em silêncio até sua ficha cair. Não acreditou que era possível estar no mesmo lugar que novamente por um simples acaso do destino, sem ambos ao menos terem trocado mensagens ou combinado algo, estava alucinando, era a única explicação possível, tentou se convencer.
Quando deu-se conta que a pessoa sua frente parou bruscamente, decidiu olhar para encontrar algum sinal de vida e, automaticamente, suas pupilas dilataram e a sensação de frio na barriga tomou conta dela. De todas as coisas que já haviam acontecido na sua vida, definitivamente, reencontrar Lee fora a mais bizarra, de um jeito bom.
Por alguns segundos, os dois se encararam, tentando procurar uma resposta para aquela situação, ela mordeu o interior da bochecha e ele engoliu seco, levou pouco tempo para que um sorriso tomasse o semblante de todo o resto dela e lá estava a luz que o garoto ansiava tanto de um dia para o outro. Antes que pudesse falar algo, ele terminou de ajudar a loira em silêncio e ambos levantaram-se.
— Era você? — Ela sorriu ao perguntar, mostrando o celular para fazer referência a ligação.
— O indivíduo que decidiu te ligar e te desfocou de onde você deveria estar prestando atenção? — Riu fraco, sem graça e ela o acompanhou.
— Como isso pode ser possível? — Questionou sem acreditar.
— Eu não sei, mas, acho que gostei. — Os olhos dele reluziram ao dizer. — Só pode ser o destino. — Sorriu de lado, todo feliz.
— Com certeza! — Grace arregalou os olhos encarando o garoto de forma estranha. — Pelas características que me foram passadas, você deve ser o Lee! — Disse e ele assentiu. — Só gostaria de avisar que se machucar minha amiga, vou fazer um belo cachorro quente coreano da sua pessoa. — Sorriu sarcástica.
— Grace! — A loira repreendeu a melhor amiga.
— Estou indo para sala. — Avisou. — Foi bom te conhecer senhor atrevido! — Deu dois tapinhas no ombro dele e saiu do local para deixar os dois a sós.
— Ela é assustadora! — Lee comentou, suspirando, com a mão no peitou e Hart não evitou por gargalhar.
— Ela tem um bom coração. — Falou dando de ombros.
— Senhor atrevido? — Questionou ao lembrar de como Grace o chamou.
— Eu acho que eu me empolguei um pouco?! — Estreitou os olhos tentando se justificar.
— Que bom que eu mexi com você da mesma maneira que você mexeu comigo Hart. — Monroe disse convicto encarando ela.
Um silencio se instalou por alguns segundos. A loira sentiu o mesmo arrepio que sentiu pela primeira vez ao ouvir ele chamá-la pelo nome e o nervosismo tomou conta dela por um momento. Esbarrar em alguém é uma coisa, mas, encontrar uma pessoa e acreditar todo o seu mundo faz mais sentido por causa disso, era totalmente diferente.
— Por que demorou tanto para me ligar? — Perguntou ao rapaz a sua frente.
— Eu não queria parecer um desesperado. — Colocou a mão do bolso direito da calça e fez uma careta.
— Eu estou contando com o fato de você querer parecer um desesperado. — Falou um pouco envergonhada e entortou a boca para o lado.
— Eu não quero te assustar. — Ele engoliu seco.
— Eu quero que você me assuste Lee Monroe. — Deu um passo para ficar mais perto dele.
— Você quer matar aula? — Perguntou a garota, esperançoso.
— O que estamos esperando? — olhou para os lados e correu, em um ímpeto, para saída da faculdade, o que automaticamente fez com que ele a seguisse e gargalhasse ao mesmo tempo.

“Então, eu percebi que a luz que estava nas minhas mãos, não era uma estrela, e sim você.”

Após alcançar Hart na calçada, Lee colocou as mãos nos joelhos como um suporte para apoio na tentativa de controlar sua respiração. Não lembrava que correr poderia ser algo divertido até que a loira o recordasse, por mais, que parecesse algo infantil, foi a felicidade mais espontânea que ele teve nos últimos meses.
— Obrigado ! — Disse em sussurro ofegante sem que ela entendesse uma palavra.
— O que disse? — Ela questionou. — Não acredito que está choramingando senhor atrevido. — Franziu o cenho. — Olha só para o seu tamanho, não tem direito algum de reclamar, isso é a coisa mais...
Lee observava enquanto as palavras saiam desesperadamente da boca dela até o momento que decidiu interrompe-la. Deixou a mochila escorregar propositalmente do seu ombro enquanto a voz da loira ainda ressoava no pequeno espaço entre eles, aproximou-se e agarrou a garota pela cintura, colando o corpo de ambos.
No mesmo momento que o silêncio apareceu, em um impulso de coragem ele a beijou, assim que seus lábios se tocaram foi como sentir a luz do sol queimar sua pele e consequentemente a da lua acalmar todas as suas feridas. As línguas de ambos não se chocaram em uma hora sequer, sempre em perfeita harmonia, o melhor beijo de suas vidas, era o que os dois estavam pensando.
Imediatamente, os dedos de se entrelaçaram nos fios lisos do cabelo dele e para Monroe sentir aquela mão pequena passear pela sua cabeça era o melhor tipo de carinho que poderia receber. O beijo era lento, quase que em câmera lenta, não havia percepção de tempo ou de algo que pudesse ser medido de alguma maneira.
Eles pertenciam um ao outro.
Ao sentir o gosto demasiado de laranja em sua boca, Hart não pode cessar um sorriso involuntário e o mesmo foi acompanhado por Lee, que de início imaginou que havia feito algo errado, mas, automaticamente entendeu que nunca havia tomado uma decisão tão coerente em sua vida. Percebeu que quando estava perto dela não existia escuridão, a garota era o antidoto para toda a dor que carregava em seu coração.
— É você! — Falou de forma doce enquanto ainda a segurava nos braços.
não compreendeu exatamente o que ele quis dizer, mas, não foi como se algo importasse para ela depois daquele beijo. O sentimento de encontrar algo que estava perdido por algum tempo a invadiu de um jeito forte o suficiente para fazê-la esquecer de questionar qualquer tipo de consequência.

“O cheiro da água me faz levantar a cabeça. Você, que está sempre sorrindo brilhantemente. Por que o cheiro do mar vem de você?”

— Outro apelido não te definiria melhor do que atrevido! — Ela sorriu enquanto levantava as sobrancelhas.
— Eu não pude evitar. — Deu de ombros com um semblante risonho.
— Que bom! — Mordeu o lábio inferior. — Vamos? — Indagou o garoto balançando a chave do seu carro.
Imediatamente o aperto no coração de Lee veio tampando toda respiração e foi inevitável que a ansiedade não o consumisse, não conseguiu fugir de ter uma crise na frente de Hart. Começou a buscar o ar por perto e os flashes da noite em que estava dentro do automóvel com seu irmão vieram a tona, automaticamente a fraqueza em suas pernas apareceu e o rapaz caiu no chão buscando apoio enquanto ela observava sem reação.
— Lee? — Agachou do lado do rapaz, ficando de joelhos. — Lee? Olha para mim! — Segurou o rosto dele em sua direção. — Consegue respirar fundo? — Pergunto ao mesmo que o encarava na espera dele respondê-la.
Monroe sentia-se um pouco tonto até o momento que encontrou luz nos olhos de Hart. A pupila que dilatava desesperadamente começou a voltar ao normal quando o azul do olhar dela o atingiu, o som abafado da voz ecoava incessantemente dentro da sua cabeça e o toque das mãos delicadas sob sua pele era como um antidoto para sua dor.
— Lee? — A angustia de vê-lo daquela forma a devorava. — Você pode voltar para mim? — Disse aflita e os olhos do rapaz encheram de lágrimas que escorriam com facilidade.
— Sem carros! — Ele colocou as mãos na cabeça e começou a repetir exasperado.
— Sem carros! — A garota reforçou o que ele disse. — Tudo bem! — Balançou a cabeça positivamente. — Vem aqui! — Abraçou Monroe que, consequentemente, foi se acalmando aos poucos.
não se importou com as pessoas ao redor deles na calçada que passavam e olhavam os dois de maneira esquisita, ela só queria acolhê-lo e tirar a dor que estava naquela grande nuvem cinza por cima de ambos. Lee conseguiu estabilizar depois de um tempo nos braços da loira e foi se dando conta do que estava acontecendo em seguida.
— Nós podemos pegar o metrô, o que acha? — Perguntou com a voz baixinha enquanto acariciava a cabeça do rapaz.
Lee assentiu e levantou-se do chão devagar, ainda com a ajuda de Hart, apesar de estar visivelmente preocupada, a garota não quis perguntar os motivos aparentes para que ele tivesse uma crise de ansiedade e o próprio, mesmo percebendo o quanto ela estava apreensiva, não conseguia encontrar as palavras certas para explicar.
Por um momento, o garoto desejou não estar ali. Era ridículo como havia dado o melhor beijo de sua vida e simplesmente desiquilibrar-se emocionalmente logo após, pois a ideia de que ter alguém como que gosta dentro de um carro, trazia consigo todas as possibilidades de acontecer o mesmo que aconteceu com o seu irmão e isso era o suficiente para destroça-lo por inteiro.
apenas o segurou pela mão e começou a caminhar em silêncio, sabia que existia um motivo maior, mas, não o buscou. A preocupação percorria a mente dela, mas, o sentimento de querer protege-lo era muito maior, por isso, ela entendeu e respeitou o momento dele. Monroe apenas a seguia, ainda abalado com toda situação.
No metrô, ainda continuavam sem dar uma palavra, aquela calmaria de certa forma estava fazendo com que Monroe se sentisse ainda mais confortável ao lado dela. A garota fechou seus olhos e repousou a cabeça no ombro dele que sorriu fraco quando sentiu o aroma de mar trazido pelas madeixas loiras de Hart adentrar as suas narinas e se instalar no interior da sua mente, trazendo boas memórias para ele.
— É como estar na praia! — Disse, olhando fixamente para o chão.
— O que disse? — Ajeitou-se na poltrona para fita-lo.
— O cheiro do seu cabelo... — Levantou a cabeça e voltou seu olhar para ela.
— É o meu shampoo! — começou a rir e ele a acompanhou sem jeito.
Não precisam falar muito para mudar o clima, para Lee foi estranho aceitar isso tão rápido, na maioria das suas crises desde que Park se fora ele estava sozinho ou em algum hospital e odiava isso, pois, não gostava de que seus pais também o tratassem como vítima, já que não era ele quem havia morrido.
Negaria, sempre que possível, que o seu sofrimento também fosse validado
Um tempo depois já estavam caminhando pela cidade de novo e, eventualmente, Monroe começou a sentir o cheiro do oceano, de verdade. Pensou em como ela era perspicaz e de que não existiria um lugar melhor para estar agora, se não observando toda aquela paisagem, mesmo fazendo frio e ventando muito, a praia ainda conseguia ficar tão bonita quanto no verão em Toronto.
Olhou para o lado e percebeu o quanto tremia mesmo com seu casaco sendo um tanto maior que ela e apesar do ar gelado fazendo questão de se encarregar em estar presente, ela ainda sorria para toda aquela imensidão. Lee questionou a si mesmo se em algum momento poderia ter existido escuridão dentro de uma pessoa tão linda quanto a garota.
— O seu nariz está vermelho. — Ele mencionou, genuinamente, preocupado.
— Está tudo bem! — Assentiu positivamente.
— Você vai congelar! — Alertou a loira, abraçando a mesma por trás.
— Lee, está tudo bem! — Repetiu apoiando suas pequenas mãos nos braços dele para aquecer a mesma na jaqueta jeans que o rapaz usava.
— Você tem certeza? — Continuou a abraçando na tentativa de se esquentar junto a garota.
— Sabe... Eu venho aqui todo dia. — Justificou e ele ficou surpreso ao ouvi-la falando tal coisa.
— O que quer dizer? — Perguntou, interessado.
— Minha mãe amava o mar. — Fungou. — Era a sua segunda casa praticamente... — Respirou fundo antes que pudesse continuar. — Um dia, fomos velejar, como de costume, e houve uma tempestade que meu pai não previu. — Posicionou a cabeça de uma forma que conseguisse enxergar Lee, que por sinal, a encarava atentamente. — Encontramos o corpo dela oito horas depois, ela morreu afogada tentando me salvar. — Com o choque, o garoto acabou soltando-se dela.
... Eu sinto muito! — Engoliu seco.
— Meu pai estava desacordado quando subi no barco, então no mesmo momento fui tentar trazer ela para perto de mim e já era tarde! — Esclareceu para Lee que a encarava assustado. — Está tudo bem! — Mostrou o maior sorriso que pode.
— Não... Eu... — Tentou encontrar as palavras.
— Nunca vi uma mulher como ela. — Continuou sorrindo. — Sempre me perguntei se era possível alguém brilhar tanto. — Hart cruzou os braços e ele a observou pensando em como era assim que a definia. — Eu e meu pai cremamos o corpo e jogamos as cinzas nessa praia, então faça sol ou chuva, eu sempre estou aqui, todo dia. — Deu de ombros. — Não existia algo que ela amasse mais que o oceano. — A ternura nas suas palavras, ao mesmo tempo que fitava o mar, era nítida.
Mesmo contando a história mais triste da sua vida, ainda transparecia luz. Lee perguntou a si mesmo diversas vezes, enquanto ouvia tudo o que ela dizia, como era possível que alguém com uma tragédia dessas em sua vida, não apresentava escuridão em seu olhar ou em si, pelo contrário, apenas resplandecia brilho e amor.
— É por isso que meu cabelo tem tanto cheiro de praia. — Hart jogou os fios para trás do ombro, brincalhona e Lee riu fraco.
— Quanto tempo faz isso? — Questionou curioso.
— Uns cinco anos. — Respondeu direta.
— Isso significa que você tinha...
— Dezoito anos. — Balançou a cabeça de maneira assertiva.
— Ainda é tão recente... — Encarou a garota sério. — Como consegue amar o que matou sua mãe? — Indagou um tanto indisposto.
— Ela me salvou, como eu poderia? — Redarguiu. — Odiar o mar seria a mesma coisa de nunca mais estar perto dela e eu poderia viver sem muitas coisas, mas, não sei se isso seria possível. — Hart riu nasalado, pois, para ela era algo tão obvio.
Lee se sentiu covarde por um momento.
— Aprecio sua coragem. — Ele a elogiou puramente, apesar de confuso.
— Não é coragem! — Retrucou. — É amor. — Fitou o rapaz a sua frente de maneira singela.
Ainda que quisesse falar algo, não conseguiu. o atingiu de tantas formas diferentes em um curto período de horas, ele jamais esqueceria esse dia nem se perdesse a memória, não permitiria que essa lembrança o deixasse de nenhum modo. A vulnerabilidade dele nunca havia o trazido para um lugar como esse, o qual ele estava e a vida estava sendo tão generosa entregando alguém como Hart. Não pensava que merecia, não achou que era digno.
— Me desculpa por mais cedo! — Relembrou o acontecido.
— Você não tem que ser forte o tempo todo Lee! — Sorriu sem mostrar os dentes e suas covinhas ficaram mais aparentes.
— Fugiria se eu dissesse que estou me apaixonando por você mesmo fazendo apenas dois dias que nos conhecemos? — Ele perguntou sem pensar.
— Eu diria que minha teoria está certa, então! — Ficou de frente para Monroe.
— Que teoria? — Sorriu ao mesmo tempo que a puxou pela cintura.
— De que amor à primeira vista é real. — Ficou na ponta dos pés e depositou um beijo na bochecha dele.

2 meses depois.

“Com um brilho eterno, você é como mágica. Naquele brilho, esqueço-me de todas as coisas ruins. Eu gosto de você desse jeito, você já sabe disso.”

Grace apoiava a bandeja na mesa do refeitório, buscando espaço para se sentar entre a amiga de cabelos ruivos Anne e o loiro Oliver. Acordou entusiasmada, pois era a semana do aniversário da sua melhor amiga, logo, seriam dias longos até sexta feira, pois a garota nunca deixava em paz, ficava empolgada e criava no mínimo mais de cinquenta listas de coisas que todos deveriam fazer.
— Animado para sexta feira Lee? — A morena perguntou.
— Como assim? — Respondeu um pouco incomodado enquanto se acomodava na cadeira, pois era o aniversário do seu irmão ou seja não tinha como ficar animado.
— É o aniversário da . — Anne levantou as sobrancelhas e arregalou os olhos, surpresa com o fato de que ele não sabia.
Monroe sentiu seu coração gelar.
— Não acredito que estão juntos há mais de um mês e você não contou para ele quando era o seu aniversário. — Grace lançou um olhar julgador para Hart.
— Grace... — A loira a repreendeu.
— Por que não me contou? — Olhou apreensivo para .
— A Grace acabou de falar garotão! — Oliver entrou no meio da conversa.
O garoto sentiu-se perdido por um momento, pegou sua mochila, pendurou no ombro e se retirou do local em silêncio. Seria muita coincidência se o universo realmente tivesse conspirado dessa forma contra ele, a garota que ele gostava e seu irmão nasceram no mesmo dia, pensou em qual era a probabilidade disso acontecer com alguém.
— Gente, qual é a de vocês? — Hart falou irritada. — Eu pedi para evitarem tocar nesse assunto perto dele. — Bufou.
— Uma hora ele teria que saber , estamos sempre com vocês, seria impossível não comentar sobre a sexta feira. — O loiro tentou justificar.
— O aniversário do irmão dele também é na sexta feita. — Foi ríspida.
— Que legal! — Anne disse animada.
— Podemos fazer uma comemoração em conjunto. — A melhor amiga de Hart acrescentou.
— Ele morreu no dia do aniversário Grace! — Levantou da mesa, aborrecida. — Foi por isso que pedi tanto para vocês não falarem sobre isso. — Engoliu seco. — Eu estava procurando o melhor momento para dizer a ele. — Revirou os olhos ao mesmo tempo que os três a encaravam surpresos com a notícia.
... — A morena baixou a cabeça.
— Obrigado por nada! — A garota deu as costas aos amigos para ir atrás de Monroe.
— Nossa! — A ruiva disse assustada. — Qual é possibilidade de algo assim acontecer? — Questionou de forma retórica aos dois que estavam ao seu lado.
Hart corria, desesperada, no meio das pessoas na tentativa de alcançar Monroe que ia em direção a saída da faculdade ainda desnorteada, pois, o destino não parava de o surpreender em relação a garota que ele gostava. Era caótico pensar em como a vida havia coloca em seu caminho alguém que o desafiava tanto de várias maneiras.
— Lee, você pode parar? — A loira pegou na mão dele e o puxou quando aproximou-se o suficiente.
— Por que não me disse? — Engoliu seco.
— Eu estava tentando encontrar a melhor forma, não entende? — Moveu as sobrancelhas em uma expressão triste. — Como eu contaria para o cara que eu gosto que eu nasci no mesmo dia do seu irmão que morreu no dia do aniversário em um acidente de carro? — Questionou com os olhos marejados.
Ouvir aquelas palavras eram como facas. Ele não conseguiria conversar com , não naquele momento e para piorar ver a garota daquele jeito não o ajudava. A lembrança de que se divertiu tanto com seu irmão antes de tudo acontecer comemorando o aniversário do mesmo veio à mente e o medo de que algo similar poderia acontecer com sua namorada o assombrava demais.
— Me desculpa ! — Respirou fundo procurando controlar as batidas do seu coração. — Eu... Não consigo... Eu... — Tentava encontrar as palavras enquanto fitava o chão. — Você não entende! — Resmungou e automaticamente lembrou que não existia outra pessoa que pudesse entender tão melhor quanto ela.
— Lee, não seja tão injusto! — Pediu chegando mais perto dele.
— Eu só não consigo fazer isso agora! — Disse rapidamente e perdeu-se no meio da multidão aos olhos de Hart novamente.

[...]


— Você precisa parar de se culpar, sabe disso. — A psicóloga de Monroe insistia.
— É só que é tão difícil! — Bufou. — É como se o universo sempre estivesse me lembrando de que o Park ainda estar por perto e... — Abraçou com mais força a almofada que estava em seu colo.
— Mas, ele não está! — Melanie enfatizou e Lee a encarou por alguns segundos. — É apenas uma coincidência. — Ressaltou o fato de e o irmão mais velho do rapaz terem nascido no mesmo dia.
— Como eu posso viver sabendo que se eu não tivesse pedido tanto ele jamais teria saído de casa aquela noite... — A voz dele saiu falha em um início de choro e ele não conseguiu continuar.
— Não pode falar como se soubesse o que aconteceria. — Foi assertiva. — Assim como precisa parar de associar a e seu irmão dessa maneira. — Entrelaçou as próprias mãos.
— Não quero pressionar minha namorada a ponto dela ter que esconder a data de aniversário dela por medo de me magoar, é ridículo. — Disse irritado.
— Exatamente por isso que precisa parar de associar os dois! — Anotou algo em seu bloco de notas. — Você precisa começar a viver sua vida e fazer as próprias escolhas. — Sorriu de lado.
— Não seria como comemorar a morte dele estar feliz por causa dela? Será que ele não se sentiria traído? — Perguntou sutilmente.
— Por que sempre vê o lado negativo? Realmente acredita que seu irmão não te amava a ponto de você se martirizar dessa forma? Acha que ele ficaria feliz em te ver se culpando e se privando de viver? — Disparou questionamentos para que ele conseguisse enxergar as coisas de outra forma.
— Eu não acho que eu mereça...
— Lee! — Ela o interrompeu. — Não acha que o Park estaria feliz em ver você feliz? — Olhou para o garoto, séria.
— Eu não quero machuca-la! — Balançou a cabeça em negação ao lembrar do que o seu pai tinha falado.
— Você já está machucando e ela a única que está viva. — Rebateu e automaticamente ele silenciou. — Pensa nisso, ok? — Pediu. — Não quero que a gente regrida quando estávamos indo tão bem. — Sorriu gentil.
Não havia mais o que ser dito depois daquilo, era o final da sessão, então Monroe apenas agradeceu a Melanie e retirou-se da sala. O garoto fazia terapia desde o acidente e após entrar em sua vida, a psicóloga sentia que ele estava melhorando devagar, mas, ainda sim era um passo que não estava conseguindo em meses, não queria que ele voltasse para o buraco que se encontrava quando tudo começou.
Nos dois dias que vieram depois, Lee faltou a faculdade, ainda tentava colocar a mente em seu devido lugar, pois a ideia de terminar o seu relacionamento o magoava mais que tudo, Hart não o procurou, acreditou que precisava respeitar espaço do mesmo, apesar de tudo, ele gostaria que a garota tivesse ligado, talvez se ouvisse a risada dela, fugiria desse pesadelo de alguma forma.
Naquela madrugada decidiu ir ao cafeteria cozinhar para esquecer um pouco das coisas que o estavam rondando durante a semana. Em quase quarenta e oito horas seria o aniversário de e do seu irmão, consequentemente, da morte do próprio e nada o faria esquecer isso, se não um bom e puro café.
— Eu sabia que viria! — levantou da calçada, limpando sua calça jeans e assustando o rapaz a sua frente.
— O que você está fazendo aqui? — Questionou rapidamente, com os olhos arregalados, quando viu a loira.
— Você não apareceu na faculdade, eu estava preocupada. — Tentou justificar sem graça.
— Há quanto tempo está aqui? — Perguntou ainda mantendo uma certa distância.
— Eu não sei, talvez uma meia hora? — Falou confusa. — Eu vim todas as madrugadas desde o que aconteceu aquele dia, sabia que uma hora você apareceria. — Sorriu, esperançosa, tentando aproximar-se.
— Você precisa ir! — Passou por ela, indo em direção a porta.
— Por que está tentando me afastar? — Puxou o garoto pelo ombro.
— Eu não...
— Sim, você está! — Cortou Monroe antes que ele pudesse terminar a frase.
— Não, eu...
— E dói, Lee! — Disse enquanto sentia as lágrimas, automaticamente, rolarem pelo seu rosto. — Dói! — Tentou evidenciar o quanto aquilo a machucava.
Era isso que ele estava tentando evitar, vê-la daquela forma partia seu coração em pedaços. Não se considerava alguém digno de ter uma pessoa corajosa como ela, Hart não merecia um covarde e o garoto parecia não encontrar coragem para permitir que o seu coração a amasse da maneira certa.
— Eu estou falando com você! — A garota gritou para fazer com que ele dissesse algo.
— Eu estou ouvindo! — Ele a respondeu no mesmo tom.
— Então diga alguma coisa! — Pediu em meio aos soluços desesperados.
— Pare de chorar! — Tentou tocar no rosto dela e a loira o impediu.
— Me dê um motivo. — Implorou.
— Porra! — Praguejou. — Você sabe o quanto tudo isso é foda para mim também? — Bateu em seu peito. — Comemorar a sua vida enquanto eu deveria estar chorando no caixão dele, eu me sinto culpado para um caralho. — Gesticulou com as duas mãos. — Eu devo a ele isso , ele me salvou, eu te disse que se ele não tivesse feito aquela manobra no carro, seria eu quem estaria naquele maldito cemitério e você...
— O que? — Deu um corte seco nele. — Não estaria aqui pedindo para desistir de nós? — Cessou o choro ao não obter uma resposta dele, tentou encará-lo, mas, o mesmo olhou para o chão. — Entendi! — Sorriu sem mostrar os dentes ao mesmo tempo que fungava tentando as lágrimas que viriam a qualquer instante, novamente. — Adeus! — Apertou as chaves do carro na sua mão esquerda e seguiu em direção ao automóvel que estava estacionada a uns dez passos dela.
— Onde você está indo? — Lee a seguiu. — Não pode dirigir assim , isso é loucura. — Reclamava em contrapartida que observava a porta do veículo sendo fechada. — ! — Gritou batendo no vidro da janela ao mesmo tempo que via a garota ligar o motor do carro e acelerar. — Porra! — Disse quando viu a distância que a garota já havia tomado.
— Vá atrás dela! — Ouviu a voz de Park ao seu lado e assustou-se e não pensou duas vezes em obedecê-lo.
Hart notou pelo retrovisor o quanto o rapaz colocava toda a velocidades nos pés para alcança-la, mas, parecia em vão. Há alguns momentos nas nossas vidas quando cegamos e só queremos acabar com a dor, não tinha pretensão nenhuma de tentar se machucar fisicamente ou até mesmo se matar, ela só queria sentir qualquer outra coisa que tirasse todo aquele sentimento de dentro do seu coração.
O sinal verde à sua frente pulava para o vermelho e não houve tempo suficiente para que ela freasse e impedisse que o pior sucedesse. O arrependimento veio no mesmo segundo. Para Lee era muito mais como se estivesse revivendo a mesma noite de um ano atrás e quando percebeu um enorme brilho branco atingir seus olhos, decidiu que não se culparia mais pela morte de ninguém, por que não deixaria isso acontecer, principalmente, com a garota.
Assim que o estrondo aconteceu, a loira segurou-se dentro do automóvel como pode enquanto o mesmo rodopiava a pista. Monroe sentiu suas pernas paralisarem, por isso parou para analisar o que havia acontecido e foi possível seu coração desmanchar ao ver toda aquela cena.
! — Gritou e logo após sentiu a água fria escorrer pelos seus olhos.
Voltou a correr, angustiado, em direção ao carro da garota, pensando em como não aguentaria a mesma situação de novo e ao chegar no local, através da janela, viu a loira desmaiada com a cabeça no volante. Começou a prometer aos céus que se nada tivesse acontecido, ele tentaria ser feliz.
— Não! Não! — Abriu a porta, aflito. — Por que fez isso? — Perguntou em meio as lágrimas. — Lau... ? — Apoiou a cabeça dela em seus braços. — Você pode acordar? — Choramingou.
— Por favor! Me diga que ela está viva! — O senhor atrás dele suplicava.
— Ela está respirando! — Disse após sentir a respiração da mesma com dedo indicador.
— Merda! — O homem falou nervoso. — Ela não viu a porra do sinal vermelho? — Questionou aos céus.
Lee o ignorou. Só conseguia enxergar a garota na sua frente e acabou percebendo que a loira estava machucada em sua testa, mas, ainda assim era possível ver flocos de luz em seu rosto, Hart ainda exalava luz, mesmo depois de tudo o que aconteceu seu brilho ainda estava lá e foi aí que ele entendeu que a cura para sua escuridão estava em frente a ele. Era como mágica.
— Não deixe ela escapar novamente! — A voz de Park ecoou em seu ouvido.
— Eu não vou, eu prometo! — Disse enquanto sentia a presença do irmão mais velho atrás dele.
— Você precisa me deixar ir Lee! — Falou em um tom de ternura.
— Eu sei. — Afirmou nervoso e quando não constatou mais aquela presença atrás de si o chamou novamente. — Park? Eu nunca disse... Mas, eu sinto muito por aquele dia...
— Não precisa se desculpar pelo que não foi sua culpa. — Interrompeu o garoto.
— Eu...
— Eu espero que tenha uma ótima vida, que você se forme, se case e tenha lindos filhos e quando esse momento chegar, diga a eles o quanto o tio deles era corajoso. — Não era só imaginação, o espirito de Park estava sendo liberto e finalmente atingindo paz. — Eu amo você irmão! — Ao ouvir essas palavras, Monroe não evitou por chorar.
— Por que está chorando? — Hart acordava aos poucos tentando se acomodar no banco do motorista. — Ai! — Gemeu ao sentir dor.
— Você precisa se acalmar, acabou de sofrer um acidente. — Ajudava a garota a se posicionar melhor.
— Eu estou bem! — Reclamou. — Me deixe ir! — Tentou levantar-se e Lee a segurou.
— Você não parece tão bem! — Ele riu pela teimosia dela. — Mas, eu gosto de você desse jeito, já sabe disse não é? — o encarou, estreitando os olhos e assentiu, sorrindo fraco.
Um pequeno grupo de pessoas se formava ao redor do acidente. Não demorou muito para que os paramédicos chegassem ao espaço e socorressem a garota que sofreu apenas pequenos arranhões, mas, ficaria um bom tempo dolorida por causa da pancada que tomou com o impacto, mas, isso não era um problema para ela, agora que Monroe não iria mais a lugar nenhum.

1 ano e dois dias depois.
“Coloque sua mão nas ondas, as assista ondularem silenciosamente, elas só fluem em sua direção.”

— Feliz aniversário Park! — Hart falava diretamente para o túmulo. — Seu irmão tem estado bem teimoso, você poderia falar com ele? Você parece ser o único que ele escuta. — Fez um bico enquanto o próprio a quem ela se referia soltava uma pequena risada atrás dela.
— Eu não estou sendo teimoso! — Reclamou ironicamente, apenas para provocar.
— Sim, você está! — Ela revirou os olhos e cruzou os braços.
— Você está certa! — Ele mordeu o lábio com a audácia dela ao mesmo tempo que a puxava, colando os corpos dos dois. — Eu me rendo! — Arqueou uma das sobrancelhas. — Prometo me comportar de agora em diante, melhor? — Sorriu de lado.
— Melhor! — Os olhos dela transpareciam felicidade.
Após saírem do cemitério, Hart pediu para que eles fossem até a cafeteria comer algo e beber um delicioso café, o que casou perfeitamente com o que o rapaz havia planejado no dia anterior enquanto recordava o quanto o início dos dois havia sido complicado e difícil, mas, mesmo assim, ela nunca desistiu dele.
Finalmente havia encontrado algo como os seus pais.
— A cafeteria está fechada? — expressava tristeza ao acercar o local,
— Sim! — Ele confirmou. — Para nós dois. — Encarou a garota que agora estava boquiaberta.
— Você está falando sério? — Agarrou o pescoço do rapaz assim que ele confirmou.
Não poderia estar mais feliz. logo adentrou o local e não aguentava de tanta ansiedade enquanto prestava atenção em seu namorado fazendo o café para ambos. Após tantas coisas que viveram em pouco tempo, era possível dizer que seria para sempre.
— Você acha que vai demorar muito? — Ela resmungou mais do que perguntou.
— Pare de ser tão mandona! — Fomentou a mudança de humor da garota.
— Eu não sou mandona, cala a boca! — Ordenou o rapaz que na mesma hora arregalou os olhos para ela confirmando a teoria. — Me desculpa! — Piscou os olhos em uma certa velocidade e ele riu.
— Aqui! — Colocou uma xicara em frente a . — Quente para você e gelado para mim. — Disse.
— Assim como seu coração frio. — Deu de ombros.
— Ah! — Fingiu lembrar de algo para chamar a atenção da garota. — Esse é um sabor novo de café. — Colocou uma das mãos no queixo. — Como é mesmo o nome? — Ela mordia o lábio, inquieta. — Hart’s coffee. — Fitou a loira que havia perdido completamente a compostura.
— O que? — Questionou de forma manhosa.
— Dose dupla de café, leite, calda de caramelo e, obvio, canela. — Sorriu vitorioso. — Feliz aniversário, meu amor! — Enfatizou o “meu amor”, pois, ele acreditava nisso mais do que qualquer coisa.

“Naquele momento em que pareceu que o tempo parou, eu pensei em você de uma vez, isso é amor?”

Ainda impactada, observava Lee com um olhar sereno, cheio de paz e muito, mais muito amor.
— Eu amo você! — Disse de forma doce, mas, com a maior certeza que tinha na vida.
— Eu amo mais! — Refletiu a luz que a garota emanava dentro do ambiente.




FIM



Nota da autora: Sem nota.

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