Finalizada em: 12/07/2021

Capítulo Único

Acordei e percebi que estava no meio de um cruzamento da Times Square, durante a provável rush hour. Táxis cruzaram apressadamente os cruzamentos, enquanto tentava me desviar deles e chegar à calçada. Não entendia como cheguei aqui, mas logo compreendi que havia algo errado quando não consegui desviar a tempo e um carro passar por mim literalmente. A sensação era estranha.
Sem me importar mais em desviar dos veículos, cheguei à calçada. A multidão dividida entre turistas e trabalhadores apressados preenchia quase todo espaço vazio por ali.
- Oi! Pode me ajudar? – falei para uma moça, enquanto caminhava ao lado dela, mas ela não moveu sequer um músculo em minha direção. – Ei! – tentei de novo, me jogando em frente a um rapaz que caminhava distraidamente, acenando a sua frente. Ele passou por mim, como aconteceu antes com o carro, e então comecei a entender o que estava acontecendo.
Quando uma menina com um cachorro passou por mim e o animal começou a latir em minha direção, dei um pulo para trás e me lembrei da matéria que li sobre animais serem mais sensíveis à presença de fantasmas.
É isso que eu era agora? Um fantasma? Uma alma sem rumo com um negócio inacabado me mantendo aqui?
- Tente se lembrar, . – disse a mim mesmo, quando me afastei um pouco da multidão, entrei em um café e me isolei em um canto qualquer dele. – Qual a última coisa que se lembra?
Com algum esforço, me lembrei.
Era sexta à noite. Estava voltando para casa depois de um dia de trabalho cansativo e estressante, quando meu celular começou a emitir várias notificações, uma atrás da outra, me assustando com a quantidade.
Demorou exatos dois segundos, entre pegar meu celular no bolso do casaco no banco do passageiro e voltar a olhar para o cruzamento. Porém, quando esses dois segundos se esgotaram e voltei a olhar para a pista, pude ver que eu havia invadido levemente a pista contrária, indo em direção a um caminhão que vinha rápido em minha direção. Por impulso, virei rápido o volante, para voltar à pista correta, mas, devido à velocidade em que me encontrava, aquilo só serviu para que o carro deslizasse e saísse da pista, caindo no barranco ao lado e capotando uma série de vezes.
Em meio à confusão e escassez de lembranças, me lembrei de luzes e algumas vozes pronunciando coisas tipo “ele sofreu várias lesões e perfurações, será um milagre sobreviver”. Ao que parece, dessa vez o milagre não viera.


Semanas se passaram naquela situação confusa.

Estava pensando em há dias quando a imagem da frente de nossa casa apareceu a para mim. De algum modo, cheguei aqui e senti que era real. Caminhei em direção à porta da casa e quando tentei abri-la percebi que consegui passar por ela.
estava em casa, a julgar pela caneca de chá sobre a mesa de centro da sala. Caminhei pelos cômodos em sua busca e quando a encontrei era como se todo o amor que ainda sentia por ela se intensificasse milhões de vezes. Ela possuía olheiras intensas e fundas e os olhos vermelhos indicavam que esteve chorando. Quando ela parou no corredor dos quartos e encarou um porta retrato com a primeira foto nossa, voltando a chorar, entendi tudo.
Partir, para quem morre, podia ser difícil, mas aceitar a perda para quem continuava vivo era ainda pior. A dor da perda era tão intensa que parecia corroer nossas entranhas e sugar tudo de bom que tínhamos, dependendo de quão próximo da pessoa perdida se era. É por isso que tantas pessoas se afundam tanto no luto a ponto de decidirem tirar suas vidas também.
chora copiosamente e tudo o que mais queria era poder mostrar a ela que estava aqui, que nunca iria deixá-la, não de todo, mas sei que não era o certo. Estou nesse mundo confuso de passagem e ela precisava aceitar que estou bem e seguir sua vida, não posso prendê-la a mim, não quando já não sou nada mais que um vulto preso entre dois mundos.

Mais dias se passaram entre o sofrimento de e minha total incapacidade de fazer algo para melhorar e durante esses dias percebi que, caso eu não mentalizasse meu desejo de ficar com com todo o meu ser, acabava sendo levado para longe, para algum lugar qualquer. Com isso em mente, bolei um plano.
Quando a irmã de batia pelo terceiro dia seguido à porta, preocupada com a irmã que não dava notícias há dias, percebi que precisava fazer algo. precisava seguir em frente, antes que todo o brilho dela, que tanto amei e admirei, seja apagado e a vontade de viver totalmente tomada pelo luto. Reunindo meu máximo de força e vontade, mentalizei que ela me visse. Parado em frente a ela, que se encontrava deitada no sofá, encarando a televisão sem necessariamente assistir algo, forcei cada parte de mim a dar seu máximo em troca de que ela me visse.
No começo, era como se eu fosse um holograma, falhando milésimos de segundos depois de tentar, porém dando tempo suficiente para que percebesse algo diferente e se sentasse rapidamente no sofá, encarando o local onde eu apareci, assustada. Tentei outra vez, dessa vez me esforçando ainda mais, usando todo o amor que ainda sentia por ela como intensificador.
Quando se encolheu no sofá e coçou fortemente os olhos, comecei a pensar que talvez tenha funcionado rapidamente de novo. Porém, logo ela abriu a boca e arregalou os olhos, parecendo prestes a gritar, enquanto se colocava de pé no sofá, acuada.
- Quem é você?! – quase gritou, totalmente assustada, apontando para mim com o dedo quase tão trêmulo quanto a voz.
- Você consegue me ver? – Perguntei em choque, dando um passo à frente e fazendo dar outro para trás, encostando o corpo na parede, ainda em pé no sofá. – , sou eu, ... Deus! Estou aqui há dias!
- Wa, ? – Sua voz agora não parecia conter mais tanto choque quanto anteriormente. – Como é possível? – Ela perguntou, descendo do sofá e caminhando até mim rapidamente. tentou me tocar, mas acho que não conseguiu, uma vez que o brilho em seu olhar pareceu vacilar rapidamente e não senti seu toque em meu rosto.
- AI, MEU DEUS! VOCÊ CONSEGUE ME VER?! – Perguntei, nervoso, e ela concordou com a cabeça. - Eu não sei ao certo. Tudo o que sei é que preciso ter você em minha mente e desejar com todo o meu ser que me veja.
- Eu achei que nunca mais te veria... me senti tão perdida, tão só... não estou preparada para me despedir de você, para te deixar ir. – Os olhos de começaram a ficar marejados novamente, mas de alguma forma sabia que não do mesmo jeito que antes, não era um choro de luto.
- Mas você precisa, meu amor. Não é porque eu morri que você precisa morrer também. – Comecei a falar tudo o que havia pensado por dias que precisava dizer a ela. fez menção de me interromper, mas eu neguei levemente com a cabeça, com os olhos fechados. Eu não sabia quanto tempo teria, precisava falar de uma vez. – Eu te amei com todo o meu ser, e vou continuar te amando mais e mais. Vivi meus melhores dias ao seu lado e queria poder ter vivido inúmeros outros mais. Você é a mulher mais incrível que já conheci e me dói ver o que se tornou depois que fui embora. Você precisa aceitar que estou bem, que não vou voltar, e seguir sua vida, por mim. Pois só conseguirei ter paz quando souber que você voltou a ser você mesma. Jamais queria ter que me despedir de você, e você sabe, mas eu preciso. Preciso deixá-la para que siga sua vida longa e feliz, sabendo que estou bem e que amei você mais que a mim mesmo. Lembre-se sempre disso. Me prometa, por favor, que vai superar a minha perda e voltar a ser a mulher linda e feliz que era.
ficou em silêncio por algum tempo, enquanto seus olhos ficavam ainda mais marejados e uma pequena lágrima rolava por seu rosto. Fiz menção de secá-la, mas quando me lembrei que não conseguiria minha mão parou no ar. Aquele gesto a desestabilizou, e eu pude perceber. Respirando fundo e piscando lentamente, deixando mais lágrimas rolarem por seu rosto, disse:
- Eu te amei muito, e acho que nunca irei amar alguém tanto como amei você. Se é para que tenha paz, eu prometo seguir em frente.
Quando finalizou, senti algo diferente dentro de mim, algo como uma sensação de completa êxtase, realização. O exterior à minha volta ficou tão claro que foi impossível continuar com os olhos abertos. De algum modo, soube que aquilo era paz.



FIM.




Nota da autora: Eu juro que queria fazer algo mais detalhado (não me matem!), mas não deu certo, até porque nunca tentei escrever nada do tipo.
Espero que tenham gostado ao menos um pouquinho hahaha.
Até a próxima fic!
Milhões de beijos,
Ma

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