Última atualização: 07/05/16

Capítulo Único

Nunca entendi porque as pessoas a chamavam daquela maneira até ser sua vítima.
Para mim tudo aconteceu muito rápido, era uma tarde de terça-feira quando a vi pela primeira vez, ela usava um vestido verde e uma jaqueta de couro preta com um cachecol acompanhando, nunca entendi muito bem seu estilo, mas minha primeira impressão sobre ela foi "garota legal", sentei-me ao seu lado e esperei o comandante anunciar que a decolagem estava autorizada, de vez em quando percebia seu incomodo toda vez que olhava para janela e aquilo foi o que eu precisava para puxar assunto.
- Medo de voar? - Perguntei e ela me olhou de uma forma engraçada.
- Mais ou menos.
- Mais pra mais ou pra menos?
- Vamos dizer que está mais para pânico mesmo. - Ela riu do seu próprio desespero e foi naquele momento que eu cometi meu primeiro erro: Me encantei pelo seu sorriso.
***
- Senhores passageiros, o pouso foi autorizado, em dez minutos estaremos pousando em Sydney. - A voz do comandante soou pelo avião e olhei para minha vizinha de poltrona surpreso e percebi que ela me olhava da mesma maneira.
- Não acredito que o tempo passou tão rápido. - Admiti um pouco decepcionado, havíamos conversado o vôo inteiro e acabei me interessando pela sua companhia.
- Eu que tenho que te agradecer por ter me distraído... - Ela me olhou sem graça por não saber meu nome e ri já que nem passou pela minha cabeça aquele ato.
- .
- . Foi um prazer te conhecer, , quem sabe a gente não se vê por aí. - E ela foi embora, deixando-me apenas com a esperança de reencontro.
***
Eu nunca acreditei em destino, mas sempre acreditei que as coisas aconteciam por um motivo e esse motivo ou pessoa poderiam transformar sua vida, e foi isso que ela fez comigo e talvez por causa dela eu passei a acreditar um pouco nessa coisa que colocava nossa vida de cabeça para baixo.
- Fica tranquilo Robert, em seis meses esse livro estará em sua mesa e será um sucesso, pode contar comigo. - Escutei a resposta do meu agente do outro lado da linha e logo desliguei suspirando.
- O que será um sucesso? - Escutei alguém falando e me surpreendi ao ver em minha frente.
- Espero que seja meu novo livro. - Respondi e não pude evitar o sorriso por vê-la novamente.
- Então quer dizer que você é um escritor? Nunca havia conhecido um, conte-me mais sobre isso.
- O livro chama-se Love me Love me, é um romance que eu não consigo desenvolver e que tenho que entregar para minha editora até o final de Setembro.
- E por que você não escreve sobre outras coisas?
- Não gosta de romances? – Respondi com outra pergunta, mais interessado em saber sobre sua vida do que fugir da pergunta.
- Apenas não acredito neles. - Ela parecia tão segura de si, tão decidida que eu pouco acreditava que ela não havia passado por um romance épico.
- Alguma experiência ruim? - Perguntei ainda desconfiado.
- Vamos dizer que é apenas uma escolha ou crença, como preferir.
- Talvez isso daria uma boa história... - Falei pensativo fazendo com que ela risse.
- Seria um prazer.
- E o que você está fazendo aqui?
- Estou esperando meu vôo que é a daqui à exatamente. - Olhou para o relógio por alguns minutos e voltou a sua atenção para mim com um sorriso. - Cinco horas, então eu tenho tempo de sobra.
- Você se importa se eu te fazer companhia?
***
Era inegável meu interesse por ela e ela percebeu isso quando após uma hora de conversas naquele café a convidei para conhecer meu apartamento no final da rua, ela não pareceu hesitar e então não demorou muito para nossos corpos estarem suados na cama do meu minúsculo quarto.
- Eu acho que poderia dormir durante uma eternidade. - Disse enquanto a via colocando novamente sua roupa. - Para onde você vai?
- Para o aeroporto. - Ela falou simplesmente e percebi que algo estava errado.
- Fica mais um pouco.
- Eu não posso . - Suspirou e sentou-se na beirada da cama. - Eu gostei de te conhecer, mas foi apenas isso. - E literalmente foi apenas isso, pois após falar suas pequenas palavras que não significavam nada, ela saiu do meu apartamento e da minha vida como se nunca tivesse entrado.
***
Acordei com o despertador tocando e minha vontade era de joga-lo na parede, mas de repente me veio na cabeça à noite de ontem e por um breve momento pensei que tudo não havia passado de um sonho da minha cabeça fantasiosa de escritor que estava desesperado para escrever um romance, mas seu cheiro ainda estava no meu travesseiro e aquilo era a prova que tudo tinha sido real.
***
Um fato sobre os humanos: Quanto mais a pessoa te esnobar, mais atraído você se sentirá por ela. Aquilo era praticamente uma regra na vida de cada ser humano da face da terra, e essa regra não era uma exceção para mim, e eu descobri isso dois meses após a última vez que a vi.
Eu morava na Austrália, no lugar que eu amava incondicionalmente, mas meus queridos pais moravam nos Estados Unidos e por problemas de saúde eu passava mais tempo na casa deles do que no meu apartamento, mas nem minhas idas e vindas faziam com que eu a esquecesse, não sei se saberia dizer exatamente se foi por eu estar atraído por ela, por ter grandes chances dela ser o amor da minha vida ou por simplesmente ter levado um chute na bunda. Aquilo me incomodava e muito, não o fato de ter sido largado e sim por ter sido largado sem explicação alguma e aquilo sim não saia da minha cabeça. Como eu me concentraria história épica de amor do meu livro se a minha própria nem existia? E aquele foi meu segundo erro, deitado na cama de casal do quarto minúsculo na casa dos meus país eu tive a brilhante ideia de procura-la.
***
Robert não era só o meu agente, aquele que organizava meu trabalho ou que fazia de tudo para que eu tivesse êxito naquilo, ele era também o meu primo ou melhor, melhor amigo. Não consigo me lembrar de nenhuma lembrança da minha infância ou da minha adolescência em que Robert não estivesse nela, nós éramos inseparáveis desde que eu me entendo por gente, e olha que não faz pouco tempo.
- Certo , o que você quer da minha brilhante inteligência? - Robert falou jogando-se em cima da minha cama.
- Olá para você também Robert, eu estou muito bem, obrigada por perguntar. - Respondi sendo irônico enquanto fechava o livro que havia começado a ler.
- Você precisa deixar de ser tão sentimental e certinho, as mulheres preferem algo mais descolado, mais bad boy.
- Não concordo com você, mas isso pode explicar o porquê dela ter ido sem uma explicação. - Pensei alto demais e quando dei por mim Rob me olhava com curiosidade e entusiasmo.
- Ela? Uma mulher?
- Sim eu a conheci alguns meses atrás quando voltava para casa, alguns dias depois nos reencontramos e acabamos juntos, mas depois ela saiu como se tivesse na casa de um estranho.
- Ainda não vi o problema...
- O problema é que ela não me deu nenhuma explicação e isso não sai da minha cabeça desde então.
- Você está reclamando do que? Isso é um sonho, ter uma transa sem apego nenhum, sem telefonemas, vinganças, sem nada.
- Eu só não consigo entender...
- As vezes eu me esqueço que no lugar de uma mente de homem te deram uma de mulher... – Meu primo brincou como sempre fazia e se eu não estivesse com tantas coisas na cabeça já teria batido nele.
- Se eu ao menos a visse mais uma vez eu poderia pedir uma explicação e eu teria minha cabeça de volta no lugar para me concentrar apenas no meu livro. - Ignorei a ofensa do meu primo e resolvi colocar em prática o meu plano.
- Isso te ajudaria? Talvez se você a visse mais uma vez, quem sabe não rolasse de novo e você se inspiraria né.... Tudo bem vamos encontrar essa garota. – E mais uma vez eu consegui o que queria.
***
Um fato sobre mim: Eu adorava me meter em situações estranhas.
Sinto que não falei muito sobre mim, então vamos lá. Tenho 25 anos, meus país se separaram desde que eu tinha um ano de idade, meu pai é um arqueólogo que não aguentou a pressão do casamento e de se manter em um lugar só, minha mãe sempre me diz que eu sou idêntico a ele tanto na aparência quanto nas esquisitices, mas não ligo muito, já que admiro meu pai pelo o que ele é, a última vez que o vi foi a dez anos atrás, hoje ele percorre o mundo, nunca se esquecendo de mandar cartões postais e cartas contando das suas aventuras. Já minha mãe, acabou se casando com o Joe quando eu tinha cinco anos e estão juntos até hoje, o considero como um pai já que é o único presente em minha vida. Desde pequeno eu preferi livros a carrinhos, sempre trocava os brinquedos por histórias que eu fazia junto com o meu avô e foi isso que me transformou no que eu sou hoje e era pelo o que eu era que eu me sentia um peixe fora d'agua naquela boate que meu primo me arrastou na tentativa de me fazer esquecer dela.
- E ai primo. - Vi Robert de longe, ele estava agarrado à uma garota que estava de costas para mim. - Achou sua garota? - E a garota se virou e com um sorriso vermelho lá estava ela, a "minha garota", agarrando o meu primo.
***
Ser trocado era um sentimento que conseguia trazer o pior de cada de um de maneira muito simples, talvez ser trocado possa ser confundido por ciúmes, já que os dois se relacionam de uma maneira muito parecida, mas no meu caso nada tinha haver com ciúmes. Eu estava claramente incomodado, irritado, possesso com o jeito daquela mulher, eu havia passado os últimos três meses da minha vida pensando nela, havia saído da minha zona de conforto apenas para esclarecer aquela confusão que ela plantou em minha mente e ela nem se deu ao trabalho de demonstrar que lembrava-se de mim, porque era claro que ela lembrava, a forma como ela me olhava pelo canto do olho a entregava. Aquele foi o primeiro fato sobre : Ela adorava fingir.
- Por quanto tempo mais vai fingir que não me conhece? - Perguntei quando vi que meu primo não estava perto o suficiente para ouvir.
- Desculpa, eu não entendi.
- Você me entendeu muito bem , tudo isso não vai te levar à nada.
- Vai sim, ao lugar aonde eu quero estar.
- E aonde você quer estar? - Perguntei e a vi abrir a boca duas vezes, mas sem pronunciar nenhum som, não sabia dizer se ela preferia não me falar ou se nem ela mesma sabia.
- Isso não te interessa. - Ela falou e saiu apressadamente em direção a saída, eu sabia que eu deveria ir atrás dela, mas não fui. E mesmo sabendo que estava errada, aquilo me interessava a cada minuto mais.
***
Entrar no mundo da era uma coisa quase impossível de se fazer, parecia que ela havia construído uma fortaleza ao seu redor e para conseguir entrar nele eu não precisava usar armas e sim uma teoria, a teoria de como a sua cabeça funcionava. O que era um grande problema, bom, talvez ela fosse o real problema e isso nos leva a segunda regra sobre : ela era cheia de surpresas.
- Como você me achou? - Perguntei surpreso ao vê-la na porta da casa dos meus pais.
- Você tinha razão. - Ela além de não me responder me empurrou e entrou na minha casa sem cerimônias, ela parecia perturbada e aquilo para mim era engraçado.
- Tenho razão sobre várias coisas, mas qual foi a razão da vez? - Perguntei divertindo-me com aquela razão.
- Eu não sei para onde eu quero ir, tipo hoje eu sei, quero ir ao shopping, quero comprar um cachecol novo, quero comprar um super lanche e depois me arrepender dos dois quilos que irei engordar, mas não é esse o ponto , ao mesmo tempo que eu sei o que fazer, é exatamente isso que me faz não saber o que fazer.
- Isso foi muito para minha cabeça e acho que este é um outro nível mais avançado de bipolaridade. Você já pensou em procurar um médico?
- É isso que as pessoas fazem, elas acham que minha vida é uma piada, sempre acharam e por isso eu sou assim.
- Olha, ela também é dramática.
- !
- Tudo bem, não acho que você mereça minha ajuda, mas para o que você quer exatamente a minha ajuda?
- Não sei, talvez para achar algum sentido na minha vida. – Percebi que ela estava cansada de alguma coisa e aquilo abriu minha mente, antes de estar bravo com ela eu queria entende-la e antes de entende-la eu queria explicações sobre o pé na bunda que eu havia levado, então eu poderia juntar o útil ao agradável e de quebra me livraria dessa situação bizarra que eu havia me metido.
- Tudo bem eu te ajudo, mas com uma condição: Você terá que me ajudar com o meu romance.
- Fechado, então, quando começamos? – Ela perguntou meio entusiasmada fazendo com que minhas expectativas sobre tudo aquilo aumentasse.
***

Para mim, começar com um grande estudo requer muita dedicação, muitas pesquisas e essas pesquisas precisam de um ponta pé inicial, ou seja, precisamos saber o início de toda história.
Ela era a filha do meio, tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova, seus pais eram casados, mas ela sempre preferiu morar com a avó. Ela era gerente do pub onde nos reencontramos e tinha uma vida bastante agitada, nunca teve um relacionamento sério ou o coração partido, segundo ela, nunca se apegou a ninguém para isso.
Por ela ser tão desapegada ela deveria ter o controle da sua vida, ela deveria ter pelo menos algum plano ou expectativa, mas ela não tinha simplesmente nada.
- Nada não é uma palavra muito forte não? – Ela me perguntou após eu contar-lhe meus pensamentos.
- Não! Pense comigo, você não sofreu nenhum trauma na infância e nenhum trauma amoroso, você tem uma vida mais do que normal, você é um homem no corpo de uma mulher e por isso sua mente não cria algo que você tanto quer. – Falei prestando mais atenção no meu Hot dog do que na mulher que com certeza perderia a paciência em pouco tempo.
- Qual é o seu problema, ?
- Tudo bem... Acho que talvez, eu disse talvez, você esteja em um momento da sua vida em que você deve se encontrar primeiro, você deve saber quem você é e o que você quer e quando isso acontecer o caminho vai surgir, você não vai precisar de ninguém para te mostrar isso.
- Se você sempre achou isso, porque aceitou me ajudar?
- Porque talvez você precisasse de alguém para seguir o caminho com você ou para simplesmente comer um lanche com você.
- Será que um dia você vai me contar a verdade?
- Porque eu estaria mentindo?
- Todos mentem, . O mundo é feito de mentiras e você não é uma exceção.
***
era mais complicada do que parecia, quem a vê pensa primeiramente segundas intenções, o que eu não gosto muito de admitir, mas é a verdade. Quem a conhece superficialmente acha que ela não quer nada com vida e quando você passa a conhece-la de verdade você percebe que ela é viciada em cachecóis, que chora com filmes românticos e que ela era uma leitora compulsiva, ela era independente e solitária.
Agora eu passava mais tempo do queria admitir ao lado de , nas manhãs trabalhava no meu livro e as tardes passava ao seu lado até à hora que ela tinha que sair para ir trabalhar, claro que para ela aquilo tudo não passava de uma experiência já que eu havia prometido que ia ajuda-la, mas para mim era mais do que isso, ela me trazia uma perspectiva de vida completamente diferente ela era tudo aquilo que eu não era.
- Acho que a melhor parte de ser escritor é poder escrever sobre várias histórias diferentes sobre várias pessoas diferentes e vive-las pôr um certo tempo. – Disse enquanto lhe dava uma xícara de chocolate quente.
- Infelizmente a realidade não é essa. – Ela comentou após dar um gole no seu chocolate e percebi que nunca a vi tomar uma bebida quente diferente daquela.
- Nós podemos ser quem nós quisermos
- Se você tivesse esse poder, na vida não só nos livros, quem você gostaria de ser?
- Acho que eu gostaria de ser Romeu e você poderia ser minha Julieta.
- Mas eu não quero acabar morrendo.
- Muito menos eu, mas temos que concordar que o amor deles foi lindo.
- Tirando a parte que talvez eles tenham morrido a toa... e se eles não fossem o amor da vida do outro? E se seis meses após todo o ocorrido eles não se "amassem" mais?
- Isso que é o mais interessante, eles viveram o amor, para eles era impossível viver sem ele.
- Você já amou alguém? – Ela me perguntou após permanecer alguns minutos em silêncio.
- Acredito que amar você só ama uma vez e você?
- Não nunca, mas é um desejo meu
- Amar?
- Não, ser amada.. – E aquilo bastou para que aquelas palavras permanecessem na minha cabeça.
***
O que eu tinha com ela ia muito além de qualquer explicação, eu gostava de sua companhia e cada dia que passava eu me acostumava mais com seu jeito e suas manias, meu dia parecia incompleto sem ela e temo dizer que eu esteja viciado nela. A cada dia que passava eu me afundava ainda mais naquela história e tinha medo que uma hora perdesse o controle porque era assim, completamente sem controle e aquilo era o que eu mais gostava nela.
- Espero que não se aproveite da minha influência para pegar bebidas de graça, ainda preciso dar lucro para este lugar. – Ela falava enquanto entrávamos no pub onde ela trabalhava, o lugar não era um dos mais cuidados ou dos mais frequentados, mas aquilo era o de menos para mim. -Estava pensando em algo.
- No que? – Perguntei interessado.
- Você já conhece tudo sobre mim, praticamente, mas eu sei o mínimo sobre você.
- Nunca pensei nisso, mas você tem razão.
- Eu sei que tenho por isso acho justo conhecer o verdadeiro , aquele que poucos conhecem.
- Acho que nem o próprio se conhece de verdade, mas vamos lá, por onde você quer começar?
- Por aqui.
- Como assim?
- Por aqui temos nossas próprias tradições e uma dela é que sabemos como a pessoa é após dançarmos com ela.
- Quais são minhas outras escolhas?
- Não existe outra escolha, querido. – Ela falou e me puxou para a pista de dança, ela dançava como se não houvesse amanhã e talvez para ela realmente não houvesse. Enquanto eu balançava, ela dançava perdendo o controle, minhas mãos estavam em sua cintura e suas mão estava no ar, uma, duas danças não eram o suficiente. Seu olhar era penetrante e sua boca aveludada com o típico batom vermelho era convidativa demais, ela era a emoção da noite.
- Então eu estou aprovado?
- Só tem mais uma prova para sua avaliação ser completa.
- E o que seria? – Surpreendendo-me ela me beijou e eu retribui. Á muito tempo queria aquilo e uma coisa que eu sabia aproveitar era as oportunidades.
***
Acordei com o meu celular tocando incansavelmente, minha vontade era joga-lo na parede ou matar a pessoa do outro lado da linha que insistia em me perturbar à essa hora da madrugada.
- O que foi? - Falei ainda de olhos fechados.
- Pronto para diversão? - Escutei uma voz conhecida e tentava imaginar o que aquela maluca ia fazer daquela vez.
- ? É você?
- Quem mais seria? Não me diga que esperava uma super modelo porque...
- O que você quer? - A interrompi sendo grosso, mas também ela havia me acordado então está na regra dos humanos que eu poderia ser grosso.
- Oh santo mau humor... Hoje é meu dia de folga e eu cansei do nosso lengalenga de você tentar me ajudar, então, jogue uma água na cara, pegue um casaco bem grosso que estarei na portaria do seu prédio em cinco minutos. - Ela não esperou que eu respondesse e já foi logo desligando. Bufei e acendi o abajur que ficava ao lado da minha cama, não adiantava em nada fazer birra, se eu não levantasse eu não duvidaria se ela me tirasse dessa cama com um balde de água gelada.
Como prometido ela estava em frente ao prédio da casa dos meus pais em cinco minutos, ela parecia animada para algo e aquilo tornava as coisas mais estranhas do que normalmente já eram.
- Quem morreu? - Ela me perguntou quando entrei no carro e a repreendi com o olhar. - Espero que não seja eu, porque agora sua cara parece de um serial killer. - Ela soltou uma gargalhada e não soube se literalmente a matava ou se me juntava a ela.
- Tudo bem, você venceu. E a senhora eu-sou-a-palhaça-do-dia poderia me dizer para onde estamos indo?
- Já estamos chegando cowboy.
- Não me diga que você está me levando para o Texas? - Ri com a possibilidade e quando percebi estávamos estacionando na pista de gelo que tinha na cidade. - O que estamos fazendo aqui?
- Não está óbvio? Vamos patinar! - Ela falou com tanta animação que pareceu minha prima de nove anos quando falávamos que íamos comprar sorvete.
- Por que justo patinar?
- Não me diga que você não sabe?
- É claro que eu sei... Eu só... Só não gosto de gelo, ele é muito frio. - Me enrolei com as palavras fazendo com que ela risse mais.
- Agora você entra nesse lugar nem que eu tenha que te arrastar pelas orelhas. - E eu cedi mais uma vez para ela, eu entrei mas aquilo não significava que eu iria patinar, até porque eu não sei patinar e não iria pagar um mico na frente da mulher que mexia comigo.
- Vem , por favor. - me chamou pela décima vez só naquela meia hora e eu já estava cansado de ver as pessoas se divertindo enquanto eu ficava apenas olhando. - Eu te ensino.
Existia vários níveis de confiança. Aquele que você confiava sua vida à alguém, aquele que você confiava ao ponto de contar seus maiores segredos e aquela confiança que você tinha em alguém ao ponto de deixar que ela te ensinasse algo mesmo que aquilo significasse você ter que enfrentar um dos seus maiores traumas e era esse nível de confiança que eu lidava com ela que começou a me ensinar segurando minha mão como naqueles filmes que após alguns minutos o personagem parecia um patinador profissional. Ah, como eu queria que aquilo fosse verdade, pois não estaria cheio de hematomas e com a bunda congelando.
- Você precisa cair para aprender, é igual ao processo da vida, então pare de frescura e vamos lá. - falava como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo e talvez realmente fosse, porém já estava cansado de mal conseguir ficar em pé .
- Já estou congelando, já que fico mais no chão do que em pé.
- Vamos lá só mais uma vez e vamos correndo até uma cafeteria, se esforce que eu até pago o seu. - Não sei se era pelo café ou pela minha insistência, mas eu continue, cai, mas continuei até que conseguir pegar o jeito.
- Daqui a pouco você vai estar melhor do que eu, patinho - debochou enquanto passava por mim e não consegui evitar a gargalhada o que me fez desiquilibrar e em uma tentativa de desespero tentar pegar apoio nela que também se desiquilibrou e caiu em cima de mim, fazendo com que metade das pessoas nos olhasse.
- Ai meu Deus não acredito que você fez isso. - praticamente gritou enquanto eu ria do ocorrido. - Para de rir .
- Eu sou horrível nisso.
- Concordo, lembre-me de nunca te trazer para um lugar desses novamente. - Falou enquanto ria, ela estava tão perto de mim que eu conseguia sentir seu hálito na minha cara, ela percebeu que eu a encarava e desviou o olhar sem graça.
- Estamos muito perto um do outro.
- Eu não me importo.
- Na verdade... Nem eu. - E ela me beijou como se aquilo fosse algo natural entre nós, ela me beijou da mesma forma que meses atrás na Austrália, eu não sabia qual era o seu jogo da vez, mas naquele momento era a última coisa que eu queria pensar.
***
O que significa conhecer de verdade alguém? É saber todas as coisas que a pessoa gosta? É saber todos os hábitos e manias? É saber as qualidades e defeitos e mesmo assim continuar da mesma forma com ela? Creio eu que seja tudo e acima de tudo seja respeitar alguém pelo o que ela é. Muitas vezes você passa anos achando que conhece alguém, mas nós só conhecemos apenas aquilo que a outra pessoa quer que vejamos, a imensidão que temos por dentro não se compara a superfície que temos por fora, acredito, que muitas pessoas escolhem a superfície, pois ela é mais fácil de ser lidada, as pessoas sempre escolhem o mais fácil, mas nem sempre o seu fácil será o fácil para outra pessoa. O mais fácil para era se afastar de mim e foi isso que ela fez quando percebeu que ela finalmente estava encontrando um caminho, ela achou que não precisava de mim ou simplesmente queria permanecer perdida.


- Andar com você me fez pensar sobre várias coisas.
- Sobre o que?
- Sobre o que eu quero?
- Ainda?
- Sim... Não acho que eu esteja perdida e por mais que eu queira mais para a minha vida eu estou feliz assim.
- Você está acomodada.
- Como?
- Você tem um emprego, tem uma casa onde morar, tem cachecóis para usar, você faz com que sua vida ajeitada seja monótona.
- Você nem me conhece para falar sobre isso.
- Eu convivi com você durante esses dois meses, eu passo todos os meus dias livres tentando te entender para te ajudar, mas será que você quer ser ajudada ?
- Você sempre quer ser o centro da razão né? Então pega essa sua razão e coloca no meio do seu...
- Olha a boca, e é centro das atenções não da razão.
- Ah , você me deixa maluca! Não sei porque fui te procurar naquele dia, maldita tpm sentimental.
- Eu sei o motivo; você queria me ver de novo.
- HaHa - Ela solta uma risada irônica e volta a me olhar como se fosse me matar a qualquer momento. - Não seja tão convencido, uma hora você cai do cavalo.
- E uma hora sua máscara cai. Eu sei quem você é, e não me importo porque sei que comigo você é verdadeira, então não minta para si mesma.
- Eu não estou mentindo, você não pode dizer nada sobre minha vida e nem sobre mim. Eu não sou sua piada particular.
- Você acredita no que acha que é o melhor para você.
- Sabe no que eu acredito? Que você foi um erro, um erro que não vai se repetir.
***
Fazia alguns dias que não falava com e sentia-me como se eu estivesse em abstinência de algo e pior do que essa abstinência era só a raiva que eu estava sentindo dela, após nossa briga ela havia se afastado, não retornava minhas ligações, mais uma vez fingindo que eu não existia. Meus sentimentos bipolares fizeram com que eu agisse feito um idiota e parte de mim não se arrependia do feito, ela sabia o efeito que tinha sobre mim e também sabia que poderia fazer qualquer coisa comigo, entretanto eu tinha que tomar as rédeas da minha vida, no começo quando ela pediu minha ajuda para se encontrar mal sabia ela que seria o motivo da bagunça da minha vida.
Eu estava cansado daqueles jogos, eu estava cansado de ter tudo e de não ter nada ao mesmo tempo. Precisávamos decidir se aquilo era tudo ou nada.
Quando nos encontramos sua máscara de felicidade estava ali presente e quando me viu, por alguns minutos a verdade ficou estampada no seu rosto, não existia mais segredos entre nós e ela sabia disso.
- Cansei de jogos, .
- Ela falou quando me viu se aproximando.
- Então me diz, o que você sente por mim?
- Por que isso?
- Por que eu gosto de você. E eu sei que você gosta de mim, você quer me afastar por medo de se machucar, mas eu estou pronto para isso e sei que você também está.
- Pronta para o que?
- Para me amar, para ser amada por mim.
- Eu não sinto nada por você, . – Ela falou como se aquilo mão fosse nada demais, ela não sabia que aquilo era tudo que eu não precisava.
- Então você conseguiu o que você queria.
- O que?
- Ser amada por mim. – E eu sai, sai da vida dela da mesma forma que ela entrou na minha, tão rapidamente ao ponto de nem se dar conta do que realmente estava acontecendo.
Aquilo havia me dado a oportunidade de pensar, pensar o que valia a pena na minha vida.
Desde que ela havia entrado em minha vida, coloquei meus objetivos em segundo plano, deixei o que eu queria para depois, porque ela era o meu agora.
Talvez eu seja um completo iludido, pois sei desde o começo que iria me envolver cada vez mais e não me arrependo de ter vivido o que vivi ao seu lado e como um raio de luz, eu já sabia sobre o que seria meu livro.

****

POR ELA.


E o fato se repetia novamente, aquele ciclo vício estava programado para nunca ter um fim. Fins. Acho que essa palavra sempre teve um peso importante na minha vida, sempre gostei de encerrar conversas, momentos, relacionamentos ou algo propenso à um. Nunca me importei e não acho que isso algum dia vá mudar. Minha vida sempre foi repleta por mais fins do que começos, mas para ter um fim preciso de um começo, certo? Não, acabar com começos era uma especialidade minha.
Andando pelas ruas da cidade eu sabia que algo estava errado, não sentia a sensação de paz que sempre sentia quando andava pelas ruas. Minha cabeça pensava em tantas coisas em tantas pessoas... É engraçado como a vida gosta de pregar peças em nós, às vezes estamos lá de cara para o nosso destino, para o nosso futuro, mas não, seguimos pelo caminho mais longo, muitas vezes o caminho errado que faz com que todo o processo se repita e esse era o meu caso, por tanto tempo desejei ter meu futuro em minhas mãos, ter um caminho por onde seguir e eu mal sabia que já estava aonde eu deveria e queria estar, ele tentou me mostrar isso o tempo todo, mas eu só entendi quando ele se foi, ou melhor quando eu o afastei de mim... Ele... Não, ele não! Pensar nele não vai me levar a lugar algum, eu preciso de cachecóis, cachecóis são sempre a solução.
Passando pela livraria que ficava na mesma rua que minha loja preferida de cachecóis resolvi dar uma olhada na vitrine e um livro me chamou a atenção "Love Me Love Me", não é que ele conseguiu mesmo... Invés de seguir rumo ao meu destino acabei entrando e comprando um exemplar, não sei o porque eu estava fazendo aquilo, era apenas mais uma tortura para minha cabeça colecionadora, mas eu precisava e queria aquilo.
O livro ficou em cima do meu criado mudo por três dias até eu ter coragem o suficiente para abri-lo.
" Para aqueles que amam.
Para aqueles que não amam
E para aqueles que querem ser amados."
Então era isso, esse era o nosso fim. Tê-lo afastado de mim não foi uma decisão fácil, eu sabia que ia doer, mas eu não estava pronta, pronta para me entender, para ter algo com ele, para ama-lo. Ele não foi só uma peça no meu jogo, como ele mesmo diz, ele foi muito mais do que isso, mas hoje eu estou pronta para novas oportunidades.


Fim


Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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