Última atualização: 13/12/2020

I

O ditado popular “quem cala, consente” pode ser aplicado na maioria das situações, salvo algumas exceções. Ver a injustiça acontecendo e não dizer nada acerca dela é imperdoável. Continuar convivendo com aquele ser injusto como se nada tivesse acontecido é ainda pior. Se você vê a opressão acontecendo e decide agir cegamente diante a ela, você se torna igual – e talvez pior - que o opressor.
Quando o viu pela primeira vez, ele estava espancando um pobre estudante. Batia no menino com tanta força e ódio que realmente acreditou que ele fosse matá-lo. Tentou intervir, mas naquele primeiro encontro, ela já havia percebido a cruel verdade: ele não poderia ser repreendido, pois ninguém poderia controlá-lo. Na cabeça daquele garoto, o que ele pensava e fazia eram o certo, e o que ele dizia era a lei. se perguntara como ele seria atualmente. Afinal, se quando menino ele já era tão cruel e prepotente, como estava sendo como adulto? Que tipo de coisas terríveis se passavam na mente de alguém que não possuia mais nada a perder?
Por um terrível momento, enquanto fitava a paisagem da janela do carro de polícia, a detetive se perguntou se deveria ter intervido. Dito algo. Qualquer coisa. Quando viu o menino batendo no estudante, ela estava disposta a delatá-lo para o diretor... Mas ele a convenceu a não fazê-lo. Pisando em seus princípios, ela se calou. Ela não deveria ter se calado.
Ela deveria ter dito tudo.

O ar de Nalina era frio. Mesmo com a noite relativamente quente de verão, o vento que soprou contra seu corpo quando saiu do carro a fez estremecer.
Maldita cidade.
Andou firmemente até o outro lado da rua, fitando com descrença a pequena multidão que se instalou em volta da casa. Havia uma faixa amarela, indicando que a casa se tratava de uma cena do crime, então os civis não deveriam ultrapassá-la. Porém, a multidão era insistente: empurravam entre si, fazendo um pequeno tumulto, todos muito ansiosos para conseguir ver o máximo o possível. Os policiais erguiam as mãos, gritando ordens para se afastarem.
— Detetive Del Monaco! Que bom que chegou! — um dos oficiais exclamou, aliviado. Abriu caminho por entre a multidão, recebendo palavras de baixo calão em resposta.
A detetive se aproximou, deixando-se ser guiada pelo oficial.
— Ainda não sou uma Del Monaco. — ela fez questão de corrigir. O oficial sorriu nervosamente, como se pedisse desculpas.
Um risinho baixo ressoou atrás de si enquanto passava, seguido por um comentário explicitamente debochado de um dos habitantes ali presente:
— “Del Monaco”... Esse sobrenome é sinônimo de morte em nossa cidade.
A detetive sabia que sim.
Seguiu em frente, olhando a fachada descuidada da casa caindo aos pedaços. Deixou seu olhar varrer toda a estrutura, sentindo as lembranças invadirem-na e despertarem o caos que manteve fortemente retido dentro de si durante todos aqueles anos.
— O corpo está na sala, detetive.
Ela assentiu. Subiu os degraus, abrindo a porta de madeira quebradiça, enfim se deparando com aquilo que havia a levado sair da capital e voltar para aquele inferno em forma de cidade.
O cadáver estava caído ao chão, a boca aberta em um sorriso grotesco e deformado. Provavelmente havia sido ferido com uma faca, onde aquele sorriso fora aberto à força. Seu tórax estava completamente perfurado depois de inúmeras facadas, indicando a extrema crueldade daquele que o matara.
Aquele poderia ser mais um caso de homicídio entre tantos que a detetive já havia trabalhado, se não fossem por dois fatores cruciais. O primeiro: aquele homem que havia sido brutalmente assassinado era Seth. Ele era um velho ranzinza e cruel, com má fama nos arredores da cidade devido ao seu vício em álcool e prostitutas. A detetive o conhecia, afinal... Ele era seu pai.
E o segundo fator que a relacionava com aquele cenário de horrores era uma máscara que havia sido deixada na cena do crime. O objeto havia sido posicionado bem ao lado da cabeça de Seth. Se tratava de uma máscara de palhaço macabra, onde na parte branca da testa havia algo escrito em uma caligrafia descuidada. se aproximou para ver melhor. Se tratava de um número de telefone com os seguintes dizeres abaixo do mesmo:

“Senti sua falta, .”

As risadas eram estridentes e aterrorizantes. Perversas. Os sons perturbadores enchiam as ruas, arrepiando os corpos daqueles que não conseguiam compreender a piada. A baderna era visível em cada esquina: hidrantes partidos ao meio, inundando as ruas, postes de luz derrubados, vitrines estilhaçadas, carros caindo aos pedaços enquanto tenebrosas pessoas com máscaras de palhaço os destruíam com as próprias mãos. Civis gritavam pelas ruas, fugindo dos encrenqueiros, implorando para que poupassem sua vida.
Aquele cenário de horrores representava perfeitamente mais um dia comum de Nalina.
Anos atrás, a gangue Scary Clowns havia tomado a cidade, realizando uma lavagem cerebral em cada habitante. Ou você contribuía com aquele circo de horrores ou seria o alvo dele, afinal, não poderia existir um meio termo. O líder da gangue era tão carismático e convincente que realmente fazia todos acreditarem que não existia outra escolha.
Ou você matava ou era morto.
Os responsáveis por terem implantado o caos na cidade ironicamente viviam em uma região afastada. Moravam em uma mansão de luxo, protegida por enormes portões de pedra. Davam a desculpa que a propriedade os protegia do mundo, mas a verdade era que o mundo estaria protegido deles.
— Uni, duni, tê... — uma voz fina cantarolava enquanto apontava o cano da arma para as cabeças de três civis que estavam sendo mantidos reféns na propriedade. — O escolhido foi... Vo...... Você.
O tiro soou abafado devido às risadas altas dos rapazes. Aqueles eram , . e – os primeiros membros da Scary Clowns e também os únicos que sempre demonstraram lealdade absoluta ao líder, mesmo quando o mesmo ainda não era ninguém.
— Mate o resto rapidamente, . já disse que não quer bagunça no salão principal. — disse preguiçosamente. Ele também havia mudado. O garoto antes gentil, filho único de uma família rica, havia sucumbido completamente ao personagem perverso que haviam criado.
— E onde está esse imbecil, hein? Ele sabia que iríamos matar esses panacas hoje. — bufou, enquanto brincava com um canivete caro em mãos. — Ele está escondendo alguma coisa.
— Você e suas teorias de conspiração sobre o ... Já o conhecemos há tempo o suficiente para saber que ele não precisa nos dar explicações. Quero dizer, olhe para isso. — abriu os braços, mostrando o local luxuoso o qual viviam. — Ele fez isso. Ele transformou aquela cabana minúscula nisso. Ele transformou a Scary Clowns na grandeza que somos hoje. Deixe ele, .
está certo, . Não importa o que nosso querido líder faça e não nos conte, contanto que nos beneficie sempre. — comentou, alheio aos outros dois civis ainda vivos, estes que imploravam por uma clemência que nunca seria concedida.
— Vocês não entendem. — murmurou, balançando a cabeça em negação. Era o melhor amigo de e consequentemente aquele que mais compreendia a mente insana do líder. — Ele leu aquilo no jornal. Fui descuidado e mostrei a ele. Vocês sabem o quão irracional ele era quando se tratava dela... E se...
— E se o quê?! Não seja tolo, . nunca iria fazer algo que pudesse tirar nossa paz. — grunhiu.
— Exato. Pelo que eu ouvi, a garota se tornou uma detetive de renome na capital. Acha mesmo que seria maluco de deixar alguém com a autoridade dela vir xeretar em Nalina? Estamos bem com esse lixo de polícia que nos deixa fazer o que bem entendermos. — completou.
— Espero que estejam certos. — murmurou, suspirando teatralmente. Em um ato súbito, fincou o canivete na coxa de um dos civis de , ouvindo com deleite o som alto de seu grito de dor. — Você ouviu , . Deve matá-los rapidamente.
— Certo. Querem se juntar a ele? — ele perguntou calorosamente aos reféns, enquanto apontava para a cabeça explodida do homem morto. — Não? Que peninha... Não é como se vocês tivessem escolha.
Mais risadas.
Não eram mais crianças. Não eram mais adolescentes rebeldes em busca de um objetivo de vida.
Eram homens. Eram criminosos. Eram assassinos. E tudo graças a .
Os últimos olhares horrorizados dos civis não foram lançados para a arma de , ou para as expressões cruéis de e . Eles olhavam atrás deles, focando na figura assustadora que adentrava o salão.
Os tiros que se seguiram mataram-os instantaneamente. Os três amigos riram, mas o riso morreu ao enfim o verem também.
Sangue. Sangue desde sua bochecha e pescoço até no tecido caro da camisa social branca que usava. Sangue no rollex luxuoso que ostentava no pulso. Sangue em suas mãos. Sangue nos anéis que enfeitavam seus dedos. Sangue embaixo de suas unhas. E, como se para completar sua aparência assustadora, havia seu olhar: um olhar parado, louco, fissurado. E em seus lábios, um sorriso. Um sorriso grotesco estampado abertamente.
— Matei ele. Finalmente o matei. — ele murmurou, a voz saindo rouca e emocionada. — Deixei uma mensagem a ela. Oh sim, eu deixei... Agora é só uma questão de tempo.
Os três amigos se entreolharam, completamente alarmados. Foi que tomou a frente da situação, se aproximando com cuidado e questionando aquilo que todos queriam saber:
— É só uma questão de tempo para o quê...?
Alguns segundos foram preenchidos pelo silêncio. Os três homens até mesmo prendiam a respiração em expectativa do que iria ser dito pelo líder.
Foram surpreendidos por uma risada. Uma risada capaz de assustar até o mais corajoso dos homens. riu estrondosamente, enquanto levava as mãos ensaguentadas ao rosto, sujando-se mais e ficando assim ainda mais assustador.
Por fim, ele sorriu torto, respondendo aquilo que seus aliados mais temiam:
— Agora é só uma questão de tempo para que ela volte para mim.

II

“Ele estava em sua frente, olhando-a com as íris refletindo a dor que sentia. As lágrimas banhavam sua face, seu corpo tremia.
Ele implorava. Ele implorava por seu amor.
Ela não cedeu. Não poderia – e nem conseguiria fazê-lo.
Se lembrava da dor excruciante que lhe predominou ao vê-lo daquela forma, como se alguém estivesse abrindo seu peito e arrancando seu coração com as mãos.
Aquilo era amor, afinal. Amor em sua forma mais crua, patética e cruel.
havia prometido a si mesma nunca mais sucumbir àquele sentimento.
— Preciso de você. Preciso ser amado por você. Sem você nada faz sentido. Eu não posso deixá-la ir, eu...
Ela se lembrava de suas palavras trêmulas. De sua expressão desesperada. sempre soube que, por mais que se esforçasse desde tão jovem para parecer forte, ela era na verdade muito frágil. A qualquer momento ela quebraria. E naquela noite ela quebrou. Diante ao olhar desesperado do jovem cruel que implorava por seu perdão, havia sido destruída... E nunca havia conseguido se reconstruir desde então.
– Não. Eu sinto nojo de você. Você é um monstro. — se lembrava da própria voz pronunciando aquelas palavras cortantes. Se lembrava da dor que foi dizê-las; Ela queria ter dito mais. Talvez, se tivesse dito tudo aquilo que gostaria, eles teriam dado um ponto final naquilo de uma vez por todas. Mas não. Ela não disse. Ela guardou tudo para si.
E por isso a história não acabou.
Com a voz trêmula e cheia de mágoa, ela lhe disse:
— Adeus, .
Todos sabiam que, quando se tratava dele, seu adeus sempre significaria um até logo.”


acordou desesperada. O suor descia frio por sua testa, seu corpo tremia. Ela sentou-se na cama, assustada, ouvindo o material antigo reclamar devido ao seu movimento súbito. Estava em uma pousada precária em um bairro relativamente calmo de Nalina – lê-se: uma vizinhança perigosa pelo tráfico local, porém tranquila comparada com o caos de criminosos violentos das outras áreas da cidade. O oficial que a acompanhava no caso estava no quarto ao lado.
Ela havia sonhado novamente com aquela noite. Aquele sonho era frequente. Havia perdido a conta da quantidade de vezes que acordou suando frio chamando seu nome – e sendo prontamente abraçada por , que constantemente engolia seu orgulho e ciúme para acolhê-la em seus braços.
Dez anos. havia passado dez longos anos longe de Nalina, sem ousar pisar naquele ninho de sofrimento, o qual um dia havia chamado de lar. Mas ali estava ela de novo – e era impossível negar o quão afetada se sentia com o seu retorno. E tudo graças a ele.
havia matado Seth. E a pior parte era que ele havia feito isso exatamente para chamar sua atenção. Covardemente assassinou o homem a sangue frio, deixando aquele recado tão íntimo, mas ao mesmo tempo tão perverso.
“Senti sua falta, .”
Como ele se atrevia? Como...?
Ele era um monstro. Ou, pelo menos, era isso o que ela gostaria de se convencer.
A mulher pegou o celular na escrivaninha de madeira descascada que se localizava ao lado da cama. O desbloqueou, sorrindo brevemente ao se deparar com o papel de parede – sendo este uma foto dela, e Louise em sua viagem à Disneyland no ano passado. Quem os observassem de fora achariam adorável a forma que e pareciam pais tão jovens e dedicados àquela garotinha. Mal sabiam que Louise era irmã de , porém, ao ter se tornado órfã ainda bebê, havia sido criado como sua filha de criação.
O sorriso de morreu lentamente. Clicou no álbum de fotos do telefone, se deparando com a foto que havia tirado da máscara macabra da cena do crime. Ampliou a mesma, olhando com atenção o recado e o número de telefone ali presentes. A caligrafia desleixada parecia zombar dela.
Pensou nas atrocidades que havia feito. Pensou no mal que ele fez não apenas para Nalina, mas para pessoas as quais ela amava. Louise era órfã por culpa dele – e aquilo era algo que ela nunca poderia perdoar. Se lembrava de constantemente mencionar a palavra vingança ao lembrar-se de . não poderia discordar mais, pois a palavra soava um absurdo em sua cabeça. Ela não queria se vingar de . Ela não queria nada dele, ela gostaria de esquecê-lo. Esquecê-lo de uma vez por todas.
Mas o homem não parecia pensar o mesmo.
As lembranças eram traiçoeiras. Por mais que tentasse reprimi-las no lugar mais escuro de seu insconsciente, elas sempre arrumavam um jeito de retornar. As lembranças doíam, cegavam e faziam-na questionar sobre tudo.
costumava ser seu refúgio. Sua válvula de escape da realidade, seu paraíso particular. Quando estava em sua companhia tudo parecia tão errado, mas ao mesmo tempo terrivelmente certo.
Se recordava com bastante carinho das noites que dormia ao seu lado. Não faziam nada além de dormir, mas o clima era denso o bastante para sentirem a tensão palpável que o contato os proporcionava.
se lembrava perfeitamente em como havia sido em uma dessas noites que havia descoberto que seu coração já não era mais seu.
A de dezessete anos estava deitada na cama de solteiro apertada de , com a cabeça repousada em seu peito. Ele dormia profundamente e ela apenas... O olhava. Olhava cada detalhe de seu rosto, desde os lábios cheios até as maçãs salientes de suas bochechas. Os olhos estreitos com os cílios pequenos fechados, a respiração serena e tranquila... Ele parecia em paz. Quando estavam juntos, ele sempre parecia em paz.
Ela quis dizer isso a ele naquela noite. Quando ele acordou desnorteado, provavelmente sentindo o peso do olhar nada discreto que a jovem lhe lançava, ela quis dizer a ele.
— O que está olhando? — ele havia perguntado, com a voz rouca e o olhar perdido. Se lembrava do quão inocente ele pareceu quando havia acordado e na vontade incontrolável que sentiu em abraçá-lo apertado. Mas ela não o fez.
— Você dorme igual uma pedra quando estamos juntos. — se lembrava de ter dito com a voz carregada de deboche. E se lembrava do sorriso torto que ele lhe lançara.
— Você me deixa cansado. Deve ser por isso. — ele murmurou, enquanto se aconchegava na cama, puxando para ainda mais perto. — Quando estou com você me sinto tão exausto que nem tenho energia para ter pesadelos.
Era mentira, mas não precisava ser um gênio para saber disso. Os braços de a seguravam contra si de maneira forte e quase desesperada, como se ele temesse vê-la partir. Quando ela encostava levemente em sua mão ou respirava calmamente contra seu peito, seus braços relaxavam. A tensão se dissipava. Ele se acalmava.
Naquela noite, ela quis lhe dizer o que sentia. Algo como:
“Enquanto estivermos juntos, eu serei sua paz.”
Ela não disse. Apenas lhe lançou o costumeiro dedo do meio e fechou os olhos com força para dormir.
Lembranças doíam. Lembranças doíam demais.
O celular subitamente vibrou em suas mãos, notificando uma mensagem de . prontamente a leu, vendo se tratar do mesmo lhe pedindo para que tivesse cuidado e informando que tanto ele quanto Louise sentiam sua falta.
voltou seu olhar para a foto da máscara, perdendo-se na caligrafia horrorosa e o número de telefone. Respirou fundo.
Havia muito a ser dito.
E, dessa vez, ela não poderia mais fugir... Precisava fazer a ligação.

III

— O quê?! — o oficial à perguntou pela milésima vez, parecendo ainda mais transtornado do que a primeira vez que a questionou.
respirou fundo, obrigando a si mesma a reunir toda a paciência que existia em seu ser para aquele momento.
— Eu irei marcar um encontro com ele. — repetiu, enquanto tomava calmamente o café aguado do café da manhã da pousada. Suas palavras eram incisivas e seu olhar severo. Ela deixava claro em sua atitude que não aceitaria ser contrariada.
— M-mas detetive... Não podemos deixar com que a senhora corra esse risco. é extremamente perigoso e...
— Ele não irá me fazer mal algum. Creio que está mais do que claro não apenas para você quanto para toda a unidade de crimes violentos que fez o quê fez para me trazer de volta à Nalina.
— Sim... E, honestamente, eu não entendo a obsessão dele com a senhora, detetive. Sei que está em um relacionamento sério com Del Monaco, o filho do falecido líder da Black Dragon, mas não vejo como isso influencia as atitudes de ...
— Como você pode não ver uma ligação? E ainda se considera um policial? — replico, olhando-o severamente. — Sou filha de Seth, o pai adotivo de , o qual sofreu diversos abusos do mesmo durante toda sua juventude. Também estou com e crio a pequena Louise, os quais são, por acaso, os filhos do líder da antiga gangue, a qual destruiu para exaltar a sua própria. — levei a xícara aos lábios, falsamente saboreando o gosto aguado do café mal feito. — Eu e temos uma história, caro oficial. Nossos destinos foram interligados. Temos muito a conversar.... Há realmente muito a ser dito.
— Então o que a senhorita irá fazer?
— Não é óbvio? — ela sorriu. — Irei fazer a ligação.

Os amigos esperavam impacientemente na porta. Os três apenas olhavam para , parecendo todos terrivelmente horrorizados com o que viam.
estava em seu quarto. Se tratava do maior cômodo da mansão, o qual ocupava quase um andar inteiro. As janelas eram tapadas por cortinas, onde a única iluminação vinha de luzes artificiais de lustres luxuosos. As luzes eram vermelhas, deixando o semblante mórbido do rapaz ainda mais digno de preocupação. Estava sentado desleixadamente em uma poltrona muito semelhante a um trono de rei. Ele tinha um celular no colo – e olhava fixamente para o mesmo.
Lunático. definitivamente parecia um lunático.
Aquilo não era novidade. Nos últimos dez anos, realmente havia mudado. O resquício mínimo de humanidade que vivia no líder parecia ter partido junto à , deixando para trás o pior lado de .
— Você precisa dormir. — murmurou.
— E comer. — complementou.
— E tomar um banho. — completou, olhando com nojo para o melhor amigo. — Você ainda está sujo de sangue, .
— Ela ainda não ligou.
A voz do líder soou rouca. Seu olhar não havia se desviado do celular em seu colo.
— Acha mesmo que ela irá ligar, ? Caia na real! não fará isso! — disse, estressado. — E outra: como você se atreve a querer atrair uma detetive de alto escalão pra cá? Tem noção que nós podemos ser presos? Somos capazes de manipular as autoridades de Nalina, mas a da capital é impossível.
— Confesso que nessa parte concordo com o , líder. Não foi sua jogada mais inteligente. — comentou. — Afinal, por que fez isso?
não respondeu. Ao invés disso, desviou o olhar para a mesa de vidro em frente de sua poltrona. Nela havia um jornal datado de três dias atrás.
Ali estava o motivo.
Ele apenas piscou. Uma, duas, três vezes. Havia adquirido esse tique de nervosismo ao longo dos anos.
já havia sido indestrutível. Nada lhe afetava, nada importava. Ele um dia já fora invencível... Mas ela retirou isso dele. Ela havia o transformado em um ser fraco, tolo, indefeso... Apaixonado.
Completamente e irreparavelmente apaixonado.
Dez anos. Dez anos destruindo a cidade, tendo aquilo que havia um dia considerado seu sonho se realizando diante aos seus olhos. Havia vingado a morte de seus pais. Havia destruído a Black Dragon. Havia de fato se tornado poderoso o bastante para destruir qualquer um que se metesse em seu caminho. Uma mansão luxuosa, muito dinheiro sujo passando em suas mãos. Roupas caras, jóias finas enfeitavam seus dedos ou pulso. Ele tinha tudo... Mas, sem ela, nada parecia valer a pena.
Quando ela o deixou, ele havia tomado uma decisão: qualquer resquício de humanidade ou empatia que havia um dia habitado seria substituído por pura insanidade. Crueldade. Perversidade. Não por ser alguém doente, já que não havia qualquer transtorno que pudesse justificar seu comportamento perverso. Ele simplesmente havia decidido ser a pior versão de si mesmo, sendo naturalmente cruel. Sem , não havia motivo para ser bom. Na noite em que partiu, a garota havia deixado claro que ele era um monstro...
E então, como forma de honrar a sua memória, ele havia se tornado um.
Já havia perdido a conta de quantas pessoas matou e quantas famílias destruiu sem remorso algum. Em dez anos, realmente havia instaurado o inferno em Terra... Mas, enquanto isso, ainda se mantinha informado sobre aquela que um dia foi alvo de seu amor.
Sabia que Del Monaco havia recebido uma gorda quantia de herança dos pais e que havia se instalado como empresário na capital. Sabia que havia firmado um relacionamento com ele, se comprometendo a cuidar da irmãzinha do mesmo como se fosse sua mãe. Sabia que havia conseguido a vaga tão almejada na faculdade de direito e entrado na academia de polícia depois de formada. se surpreendeu ao saber que o estudo intensivo da garota era direcionado para um dia atuar em uma profissão que pretendia parar tudo aquilo que ele mesmo fazia.
Eram realmente opostos, afinal.
Aquilo nunca daria certo. E perceber isso durante os anos não aliviou o estado melancólico de . Ele ouvia sobre ela. Ele ansiava em saber sobre ela. Mas nunca havia pensado em trazê-la de volta, pois não era tolo: ela estava bem. Ela não precisava vê-lo novamente e lembrar do trauma que ele havia lhe causado. Bem, era dessa forma que ele pensava... Até que viu a manchete do maldito jornal.
desviou o olhar, voltando-se para o celular. Seu olhar sombrio recaía profundamente sobre o aparelho, como se o mero ato de observá-lo fosse fazê-lo tocar.
Ironicamente, funcionou.
A luz se acendeu e um número não identificado fora exposto na tela.
sentiu um embaralhado de emoções daquele momento, algo que já há muito tempo achava ser incapaz de fazer. Sentir. havia realmente acreditado que havia perdido essa habilidade... Mas ele deveria saber que, quando se tratava de , tudo era diferente.
O líder pegou o aparelho nervosamente, rapidamente aceitando a chamada e levando-o a orelha.
A palavra pronunciada fora indiferente e precisa:
— Onde?
Aquilo foi capaz de fazer explodir.
Aquela voz. Aquela voz melodiosa a qual ele costumava amar tanto ouvir. Desde escutá-la brigando consigo, ouvi-la lendo ou até mesmo gemendo contra o seu ouvido.
Oh, céus, como havia sentido sua falta.
Ignorando as emoções borbulhantes que ameaçavam entrar em erupção dentro de si, apenas respondeu:
— Minha casa, às dez da noite.
Ela desligou.
A risada que preencheu o cômodo dessa vez não havia sido assustadora. Havia sido... Genuinamente alegre. Cheia de vida.
Aquela era a gargalhada de um adolescente depois de ter conversado com seu primeiro amor.

IV

observou a construção com surpresa visível. Olhou a fachada, admirada que a cabana pequena a qual um dia havia visitado havia se transformado naquele lugar.
— Aqui costumava ser apenas uma cabana, não?
— Sim. — o oficial murmurou nervosamente. Ele tinha as mãos apertadas no volante, deixando seus nós dos dedos brancos. Fitava a construção pelo vidro do carro, balançando a cabeça em negação como se reprovasse profundamente o fato de estarem aí. — Os anos fizeram o jovem enriquecer, então a pequena construção se transformou nesse castelo assustador. Ele é egocêntrico o bastante para se considerar uma espécie de príncipe do crime. Ele é a porra do Coringa, por acaso?
ignorou o tom de deboche de seu subordinado. Abaixou o vidro do carro de polícia, fitando com visível interesse o local. A antiga cabana havia sido substituída por uma construção enorme com arquitetura gótica. Era semelhante a um castelo, possuindo torres de pedra em cada extremidade. Deveria ter mais de cinco andares, ao julgar pelas inúmeras janelas espalhadas – todas fechadas. Enormes muros de pedra escuros se erguiam em sua volta, caracterizando-a como uma fortaleza intocável. A mensagem era clara: só entraria quem fosse convidado.
Era irônico, afinal. A cidade toda havia se tornado uma piada de mau gosto, sofrendo pelo caos que os moradores daquele castelo haviam implantado. Porém, os mesmos viviam ali: em uma construção majestosa, como se eles fossem pertencentes à família real, não criminosos sanguinários.
Príncipe do crime.
O título pareceu ironicamente apropriado.
— O que dizem sobre ele?
— Que enlouqueceu. Ele só sai do castelo com a máscara de palhaço tampando seu rosto. Mal sabemos como é sua feição adulta, só temos essa foto de sua adolescência.
O oficial tirou duas fotos que estavam dentro do porta luvas, entregando-as para . A garota as pegou, analisando-as.
Sentiu todo seu ser se encher de um sentimento avassalador o qual tentava a todo custo reprimir.
Se tratava de uma foto tirada na época do ensino médio, provavelmente destinada para seu registro escolar. O jovem tinha os olhos sombrios fixos na câmera, enquanto um sorrisinho perverso brincava no canto de seus lábios. Os cabelos bagunçados faziam-no parecer desleixado, mas se lembrava de como achava charmoso os fios negros rebeldes daquela maneira. Usava roupas que pareciam ser muitos números maiores que seu tamanho ideal. Aquilo a fez sorrir sem perceber. costumava ser muito magro e o caçoava por isso.
Seu coração apertou de saudade.
— Estudávamos juntos. — ela murmurou, fazendo o oficial a olhar com interesse.
— Sério? Eu não sabia, detetive.
— Estudávamos juntos. Morávamos na mesma casa. Vivíamos juntos. — ela murmurava, tentando a todo custo segurar as emoções que ameaçavam sair de seu peito. — É surreal que esse menino seja o mesmo que esse homem.
E então ela finalmente olhou com atenção para a outra foto. Nela havia uma pequena data registrada na lateral, informando que a fotografia havia sido tirada há alguns meses atrás. realmente tinha a máscara horrenda de palhaço tampando sua face – a mesma máscara que havia deixado no local do crime. Aquilo fez estremecer. Na fotografia ele tinha uma arma em mãos, enquanto atirava para cima. Seu corpo parecia ter mudado: ele definitivamente não era magro como antes, parecendo agora muito mais atlético. Seu corpo esguio abraçava com perfeição o terno caro que trajava. não pôde deixar de reparar nas joias caras que contornavam seus dedos. Ele parecia um mafioso. Mais do que um mero líder de gangue, ele parecia um lunático rico e excêntrico o qual era capaz de destruir sua vida em segundos.
— Eles o veneram como se fosse uma divindade... É doentio.
O oficial comentou e assentiu. Realmente, na foto havia centenas de homens com o mesmo tipo de máscara que o seu, saudando-o como se ele fosse um deus.
— Creio que esteja na hora de desbancar esse falso deus. — ela comentou, decidida. O relógio que tinha em seu pulso apitou, anunciando que eram dez horas da noite em ponto. — Provavelmente precisarei de reforços. Fique em alerta.
O oficial assentiu, desejando um “tome cuidado” tão baixinho que só havia o escutado devido ao silêncio do ambiente.
A detetive saiu do carro, caminhando decidida até os portões da casa. Respirou fundo, tomando coragem de tocar a grade do portão, observando sem surpresa a mesma se abrir lentamente ao seu toque.
— Você ficou um bom tempo conversando com aquele oficial. Estavam tão próximos... Pensamos em tirá-la de lá a força e matá-lo por ser tão abusado.
Ela pulou de susto, virando-se de súbito. Piscou algumas vezes com a visão, surpresa em ver três rostos conhecidos. , e : os três eternos aliados de .
— É surpreendente que ainda continuem no lado dele depois de tudo isso. — ela comentou, ignorando as palavras cruéis que foram pronunciadas.
— É surpreendente que você tenha voltado para cá depois de tudo isso. — rebateu, olhando-a com atenção. — Você sempre foi o ponto fraco dele... Mas confesso que me impressiona saber que é recíproco, mesmo depois de tanto tempo.
— Ele não é meu ponto fraco. Ele é um criminoso. Estou aqui para fazer meu trabalho. Irei prendê-lo sem hesitar.
— É claro que irá, boneca. — riu, parecendo se divertir com as palavras da detetive. — Bem, confesso que irei sentir falta de tudo isso.
— O que quer dizer? — o questionou, confusa.
— Ele já deve estar te esperando. — interveio. — Se apresse.
— Ele ficou muito feliz com sua ligação, sabe? — comentou. — Pensei que você não ligaria... Mas você o fez. Ele sabia que o faria... E também sabia que você viria. acredita que te conhece mais que ninguém.
— Ele está enganado.
Aquilo pareceu divertir os três.
— Guarde suas mentiras para alguém que acredite nelas. — comentou, lançando-lhe uma piscadela.
— Vou sentir falta daqui. — disse em um muxoxo cabisbaixo. — Vou sentir falta de tudo.
não compreendia o motivo das feições tristes dos três criminosos, porém não fez perguntas. Seu assunto era com o líder deles, sempre havia sido.
A garota deu-lhes as costas, adentrando finalmente a propriedade. Passou a caminhar a passos decididos até o castelo, sentindo todo seu ser se encher de expectativa.
A cada passo que dava, mais próxima ela estava dele. Depois de tanto tempo reprimindo as lembranças, ignorando o que sentia, ali estava ela novamente: voltando para ele.
Tocou na maçaneta de cobre, girando-a lentamente. não deu a si mesma o tempo necessário para pensar: simplesmente adentrou a casa, ouvindo a porta pesada fechar com força atrás de si ao se ver no lado de dentro.
A escuridão a envolveu e, juntamente a ela, o silêncio. Nada enxergava e nada ouvia. Apenas... Sentia. E naquele momento sentimentos borbulhavam dentro de seu ser, ameaçando transbordar a qualquer momento.
Ela sentia sua presença.
A detetive respirou fundo, prontamente retirando a arma de dentro do coldre de sua cintura, levantando os braços e deixando-a à postos. Começou a caminhar debilmente pelo cômodo, tentando a todo custo apurar seus ouvidos para ouvir alguma coisa.
Ela não precisou esperar muito.
Percebeu tarde demais a figura esguia parada atrás de si. Aquele quem procurava estava atrás de si, andando praticamente colado ao seu corpo desde que adentrara naquela casa.
Antes que pudesse reagir, mãos fortes agarraram-na por trás, jogando sua arma para longe, prendendo seu corpo no processo. A detetive se debateu, tentando lutar, mas era em vão.
— ME LARGUE! — ouviu seu próprio grito ecoar no silêncio da noite.
E então ela ouviu algo mais. Uma risada. Uma risada baixa e rouca... Debochada. Tal riso soou baixo contra seu ouvido, provocando arrepios por todo seu corpo. Uma mão forte subiu perigosamente até seu rosto, pressionando um pano contra sua boca. E então a risada cessou e uma voz finalmente se pronunciou:
— Te largar...? Não, , me desculpe... Eu nunca mais deixarei você ir.
A escuridão havia se intensificado. Aquela havia sido a última coisa que ouviu, antes de enfim perder os sentidos.

“Diga o que você quer, diga o que você quer
Garota, você me pegou
Sabe o que eu quero, sabe o que eu quero
Agora isso apenas deixa você
Toda essa merda, toda a felicidade
Me diga algo real, me diga algo real.”


abriu os olhos só para desejar estar desacordada novamente. A cabeça doía incessantemente, assim como os pulsos, presos atrás do corpo. A mulher teve que piscar algumas vezes para se acostumar com a intensa luz vermelha que iluminava o cômodo. Pelo pouco que conseguia enxergar, estava em um quarto espaçoso e muitíssimo luxuoso – os móveis daquele lugar valiam mais que seu apartamento na capital.
Antes que pudesse pensar em qualquer estratégia de fuga, uma figura masculina se fez presente em sua frente, encarando-a de forma quase que predatória. .
Um arrepio percorreu-lhe a espinha.
Sentiu sentimentos ambivalentes ao vê-lo ali em sua frente, depois de tanto tempo. Não pôde evitar que uma sensação quente preenchesse seu peito ao recordar-se de tudo aquilo que viveram juntos. Aquele era seu primeiro amor, afinal. Porém, ao mesmo tempo, algo havia mudado. não sabia dizer se era pelo porte físico do rapaz – o qual obviamente havia crescido alguns bons centímetros e ganhado massa muscular – ou se era pelo terno negro impecável que vestia tão perfeitamente em seu corpo, acompanhado de joias caras que cintilavam à pouca luz. Também era impossível ignorar o olhar fissurado que o homem lhe lançava, as íris sombrias fixas em sua figura; os lábios cheios sendo insconscientemente umedecidos, como se ele não estivesse diante de uma pessoa, e sim de sua presa.
— Eu senti tanto a sua falta! Estou feliz que voltou... Para casa. — ele estendeu dorso da mão para acariciar seu rosto, mas ela esquivou-se do toque. Ele não pareceu surpreso.
— Não sei se acredito... Já que você não consegue nem falar comigo sem que eu esteja algemada.
riu gostosamente, parecendo se divertir com as palavras da mulher.
— Você é sempre tão espirituosa, . Eu senti falta disso... — disse de repente, murmurando para si mesmo: — Eu senti. Oh, sim, como eu senti...
A detetive piscou algumas vezes, sem conseguir esconder sua surpresa. definitivamente já não era mais o mesmo. O olhar vago e as palavras desconexas não a deixavam pensar outra coisa: ele havia feito da loucura o seu refúgio, e assim se tornou um à ela.
. — chamou, observando um tanto perplexa a forma que suas palavras prontamente atraíram sua atenção. Ele voltou a se aproximar dela. A fitava com tanta devoção que quase lhe deixava constrangida. — Por que eu estou aqui?
— Você tem certeza que não sabe? — retrucou, incisivo. — Também sentiu minha falta.
— Não. Você me atraiu até aqui. Você... Matou Seth para que eu viesse até aqui. — um nó se instalou na garganta de ao citar a morte do pai. Ela não o amava (pois o mesmo nunca havia sido digno de amor), mas aquilo não significava que gostaria de vê-lo morto. — Quero compreender o porquê. O que você quer de mim, ?
— Mas é exatamente o oposto, meu amor: o que VOCÊ quer de MIM? Você veio até aqui. Você se permitiu ser dopada e algemada por mim, pois nós dois sabíamos que eu faria algo do tipo. Você poderia acabar com tudo isso chamando reforços e me prendendo imediatamente, já que possui provas para tal. Mas não o fez. E agora eu me pergunto... Por quê? — se sentou no sofá, ao qual estava algemada, ficando perigosamente próximo da mesma. — Curiosidade...? Queria observar com seus próprios olhos o homem que me tornei? Não seja por isso, te deixo me olhar. Te deixo tocar também, se assim preferir. — ele levou a mão até o antebraço de , acariciando ali com a ponta dos dedos. Ela instintivamente tremeu diante ao mero toque. — Ou seria pela... Culpa? — a voz dele falhou. De repente a carícia no antebraço da jovem se tornou um leve aperto onde os dedos longos de fincaram-se na carne da mulher. — Você me abandonou. E quando o fez, tudo desmoronou. Olhe para mim, . Olhe para o que eu me tornei.
apenas o encarou. Os olhos de eram opacos e sem vida. Tristes. Como se tudo o que enxergasse fosse dor.
— Eu te disse que o karma é real. — ela retrucou secamente, se lembrando de uma de suas primeiras conversas. — Eu tive que ir embora. Você sabe muito bem que eu não tinha outra escolha. O que você fez foi imperdoável.
— Eu precisava de você! Você não se lembra? Não se lembra o quão fodido eu era antes de te conhecer...? Você mudou tudo, . Com você eu conseguia agir como... Como...
— Um humano? — ela o interrompe.
Ele apenas balançou a cabeça positivamente.
— Eu duvido muito disso. — completou. — Não consigo ver humanidade em suas ações, . Não consigo nem ao menos ver humanidade em seu olhar.
— Então me ajude a mudar isso! — ele pediu desesperadamente. — Me diga o que eu preciso fazer. Me ajude. Eu preciso de você, . Preciso de você comigo.
— É tarde demais. — ela murmurou, sentindo seu coração quebrar lentamente diante ao olhar transtornado de .
— Por quê......? — ele perguntou em um murmúrio. E depois silêncio.
1...
2...
3.
Ele subitamente explodiu.
— POR QUÊ?! — ele gritou, transtornado, subitamente se levantando e pegando o jornal da capital em cima da mesa, jogando aos pés do sofá. — Por causa dele?! Por que vocês vão se casar e ter a vida de merda que você sempre almejou?
levou o olhar para o chão, forçando a vista para enxergar diante da luz avermelhada. Conseguiu identificar a manchete anunciando o seu casamento com .
Ah. Aquilo.
Del Monaco havia a pedido em casamento na semana passada. Havia sido um pedido extremamente espalhafatoso, em uma festa beneficente que ele mesmo organizou. não havia gostado do pedido tão repentino e indiscreto, mas obviamente havia aceitado. Estavam juntos há dez anos. Passaram pela noite mais traumática da vida de ambos juntos. Criaram Louise juntos. Era evidente que deveriam se casar em algum momento.
— Você matou Seth por causa de meu noivado? — ela o questionou em um murmúrio.
— Você até mesmo o chamou para te levar até o altar. — ele grunhiu, enojado. — O imbecil do Del Monaco te convenceu a isso? Como você pôde cogitar dar uma segunda chance ao Seth? Como?!
— Ele é meu pai.
— Ele é um monstro!
— Você também é.
abriu a boca para retrucar, mas nada saiu. Baixou os ombros largos, derrotado. Quando se pronunciou novamente, sua voz soava cheia de dor:
— Eu fui movido pela vingança. Matei os pais de para vingar os meus próprios. Quis destruir cada canto de Nalina por eles. Matei Seth por tudo o que ele fez conosco. Mas... Foi tudo em vão, não foi? — mais uma pausa. — Eu não te mereço. Nunca mereci. No meio de tanto caos e desastre, você apareceu e eu acreditei que houvesse sido salvo. Mas eu não tenho salvação, certo...? É tarde demais.
“É tarde demais...”
Será mesmo que era?
...
— Sim?
— Venha até aqui.
O rapaz piscou algumas vezes, confuso. E então prontamente foi até a mulher, sentando-se novamente no sofá.
— Você está disposto a mudar? Está disposto a fazer isso por mim?
Ele acenou lentamente com a cabeça, parecendo desacreditado diante as palavras da detetive. Ela também não acreditava no que dizia.
— Então prove.

“Às vezes é ruim
Você sabe que eu noto
Estamos entrando e saindo de foco
Sei o que você quer me perguntar
Meu bem, eu sei que você está nervosa
Quando eu me for, tudo mudará
Paredes aparecendo como se fôssemos estranhos
Levei uma eternidade para dizer isso...”


O homem subitamente se aproximou mais da jovem, tocando-a pelo corpo até que chegasse na parte de trás de seu pescoço. Segurou ali, obrigando-a a olhar diretamente para ele. Ela tremeu diante ao toque, se desmanchou diante da proximidade.
— Você não acredita em minhas intenções... E teme aquilo que me tornei. — ele murmurou roucamente, aproximando seu rosto. — Sou o mesmo, . O mesmo delinquente esquisito e prepotente o qual é completamente rendido por você.
A mulher tinha a respiração descompassada e o olhar fixo nos lábios cheios de . Ao serem iluminados pela luz avermelhada eles pareciam ainda mais... Convidativos.
Ela suspirou.
— Você é doido. Insano. Não há absolutamente nada de bom em você.
— E em quem há algo de bom...? No seu noivinho...? Me poupe, amor. — ele riu roucamente, deixando com que sua respiração batesse contra a da mulher. Aquilo a fez ofegar. — Você está aqui exatamente por isso, : você sempre amou o errado. Você sempre tentou com todas as suas forças viver corretamente, até mesmo tornando-se uma mulher da lei para tal, mas nós dois sabemos a verdade... — ele se aproximou mais. Seus lábios quase se tocavam. — Você ama o caos. — ele roçou seus lábios no dela. A garota instintivamente forçou os pulsos contra as algemas. — Você ama o meu caos.
E então ele finalmente a beijou.
O caos havia sido implantado.
Nos primeiros segundos tudo o que conseguiu foi ficar parada, sem saber o que fazer. Seu corpo parecia não responder, sua cabeça não conseguia raciocinar. Ela só... Sentia. Sentia tudo tão demasiadamente, de forma que só havia experienciado uma única vez – essa tendo ocorrido há dez anos. Apenas quando a língua impositiva de entrou em contato com a sua que seu corpo finalmente conseguiu reagir. E como reagiu.
Ela gemeu contra seus lábios, alucinada com seu gosto, insana por seu corpo. Forçava os pulsos contra as algemas, ansiando para se ver livre delas. Queria tocá-lo. Ela se sentia como um ser irracional. A necessidade era tão gritante, arrebatadora, tão palpável... Perguntou-se se ela sempre esteve ali. Questionou profundamente se durante todos esses anos reprimindo as lembranças com tanto afinco não foram apenas a saudade sendo reprimida tão cruelmente.
não estava diferente. Era tudo tão irônico... Ele era um assassino. Um homem psicótico, quebrado, destruído, quase demoníaco. Um ser inútil, vazio, abandonado. Sujo e maligno demais para ser amado. Mas em ele sempre encontrava luz. Nela ele havia encontrado um lugar onde era outro , um lugar que o deixava eufórico, obcecado, que lhe proporcionava genuíno prazer. Com ela, ele sentia prazer de verdade. Puro, real e...
Doentio.
Suas mãos se embolaram entre a imensidão negra das mechas do cabelo da garota, a medida que ele ia tornando o beijo mais profundo e desesperado. Ele se sentia drogado. Entorpecido com o melhor dos entorpecentes, alucinando com o melhor dos alucinógenos, rodando e rodando em um carrossel sem fim de vício, desejo, obsessão. Ele deveria saber. Ele deveria ter previsto. Ele era daquele jeito, afinal: tudo o que acontecia consigo terminava em caos – e ele não via a hora de compartilhar isso com . De lhe dizer tudo.
Quando partiram o beijo, a garota atacou-lhe o pescoço, chupando a pele febril. gemeu, puxando seus fios negros, obrigando-a a encará-lo.
— Você quer me tocar...? — ele a questionou, baixinho.
— Me solta, . — ela praticamente implorou de volta, enquanto continuava a forçar os pulsos contra as algemas. — Quero te tocar. Quero te marcar. Quero você.
Ele arfou, sua respiração acelerada fazendo seu peito subir e descer em um fluxo rápido e constante. Se aproximou ainda mais de , de forma que o corpo da mulher se esfregasse no seu. Ele gemeu novamente, sentindo aquele corpo provocá-lo de uma maneira capaz de elevar o maldito calor até níveis onde ele verdadeiramente se sentia como se estivesse queimando.
— Não posso soltá-la... Se eu fizer, irá me deixar. — ele murmurou praticamente em um choramingo.
— Eu prometo que não irei para lugar algum. Você não confia em mim?
O olhar que lhe lançara foi capaz de aquecê-lo por dentro. grunhiu, subitamente saindo de cima da jovem. Pegou a chave das algemas no bolso, as mãos tremendo enquanto o fazia.
— Me diga que não irá mais me deixar. — ele pediu, o olhar sombrio recaído na figura feminina. O corpo dela tremeu diante o brilho malicioso que ali havia. — Diga que irá ficar comigo pra sempre. — ele começara a desabotoar o terno apressadamente. engoliu em seco, deleitando-se com a visão. — Diga que irá me curar. — jogou o terno para longe, agora começando a se livrar da camisa social que trajava por baixo. fixou seu olhar no torso definido do homem, sentindo todo seu corpo queimar a cada segundo. Observou tudo sem piscar: ele jogou a camisa ao chão. Retirou seus sapatos rapidamente, jogando-os para qualquer canto. Junto com eles, as meias. E por fim... Levou suas mãos para o cinto da calça, a qual sufocava seu pau. — Eu apenas preciso que você me diga tudo. — ele pediu roucamente, enquanto finalmente se via livre de sua calça. Subitamente se aproximou de , colocando-se por cima da mesma. Levou as mãos até os pulsos presos, libertando-a enquanto sussurrava em seu ouvido: — Eu só preciso que você diga tudo isso enquanto eu te fodo.
... — ela gemeu, sem conseguir se conter. Ao se ver livre, tentou tocá-lo, porém, ele a repreendeu.
a segurou com força, obrigando-a a deitar-se completamente no sofá. Sem qualquer censura, levou as mãos até a barra da calça social que a detetive trajava, baixando-a.
— Huh? Você vai fazer isso por mim, document.write(Zico) afundou seu rosto na curva do pescoço da detetive, onde começou a morder e chupar descontroladamente, enquanto uma de suas mãos tocou sua intimidade por cima da calcinha, acariciando seu ponto mais sensível com os dedos, fazendo questão de esfregá-los lentamente ali, sorrindo presunçoso ao sentir a região deliciosamente molhada.
— Você está me pedindo demais. — ela murmurou afobadamente, pressionando sua intimidade contra a carícia precisa de , ansiando por mais.
— Estou? Oh, meu amor... Eu acho que estou pedindo é pouco diante a tudo o que você me fez passar. Olhe só para você... Você é tão suja, bonequinha. — sussurrou, safado, contra seu ouvido, rindo, malicioso. — Você adora isso, não adora? Adora ver o poder que tem sobre mim. Mesmo longe você sabia, não sabia? Sabia o quão insano eu ficaria com a notícia de seu noivado. Me pergunto se foi por isso que você aceitou agora... Para voltar para mim.
arregalou os olhos, pega de surpresa diante as palavras de . Como ele sabia...?
Realmente, havia lhe pedido em casamento inúmeras vezes durante aqueles dez anos. Ela havia negado todas elas. Não havia amor entre os dois, havia apenas... Culpa.
se sentia culpada pelo o quê havia feito a . E, com isso, tentava se redimir durante todos aqueles anos...
Mas ela já não aguentava mais.
A constatação daquele fato mudava tudo. Teria ela aceitado por quê sabia que isso desencadearia uma reação de ? Teria ela entrado em contato com Seth por que sabia que isso chegaria a ? Se isso fosse verdade, aquilo não tornava melhor que ele. A tornava talvez tão ruim quanto.
— O que foi? Está surpresa...? Não fique. Nós dois sabemos que, ao mesmo tempo que você desperta o melhor que há em mim, eu desperto o pior que há em você. E você adora isso. Admita, ... Você provou uma vez e não consegue mais se ver livre disso. Te excita, não excita...? Ver o quão fria você pode ser quando se trata de mim... Te deixa insana de tesão, não deixa?
Ela não respondia e nem conseguia fazê-lo. Estava chocada. Estava longe demais para que pudesse ser alcançada. abaixou a calcinha de , movendo seus dedos para a entrada deliciosamente lubrificada da garota, onde meteu com tudo, gemendo e mordendo seu lábio ferozmente ao fazê-lo. Fez questão de levantar seu rosto para encarar o da detetive, apreciando sua expressão.
— Tão gostosa, tão quente, tão minha... — ele gemeu roucamente. Lançou-lhe um sorriso safado, passando a mover seus dedos devagar em movimentos de vai e vem, retirando-os parcialmente de dentro da morena e colocando-os novamente. Seu pau pulsava com força ao sentir as paredes quentes e molhadas se apertando ao redor de seus dedos, o fazendo imaginar e quase conseguir sentir de fato a sensação ao redor de seu membro. Gemeu com a mera ideia, ofegando.
Enquanto isso, não estava muito diferente. Os dedos entravam e saíam dentro de si com intensa facilidade, já que a jovem estava vergonhosamente molhada e tudo o que gostaria é que a comesse com eficiência. Céus, como se odiava por desejá-lo tanto! era tão cafajeste, dissimulado, cruel, prepotente, insano, asqueroso... Gostoso. Muito, mas muito gostoso. E ela poderia afirmar isso com veemência, afinal aqueles dedos finos e indiscutivelmente habilidosos somados com suas palavras sujas e seu sorriso safado eram o conjunto perfeito para levá-la a um estado de excitação o qual nunca sentira antes. Ela gemia de maneira pornográfica, rebolando naqueles dedos sem pudor algum. Se segurava em seus ombros, apertando-os enquanto ronronava em prazer, ao mesmo tempo que um rosnado ameaçava romper em sua garganta devido às provocações descaradas do homem.
— V-você é doido... E eu ainda mais por ceder a isso. — a jovem pegou sua mão livre, levantando-a até a altura de seu rosto. Seus olhos se fixaram nos dedos finos e delicados, fazendo-a gemer baixinho ao pensar que eram dedos como aqueles que metiam tão deliciosamente dentro de si no momento. — Senti sua falta. — confidenciou em um sussurro, aproximando suas mãos até seus lábios. gemeu, desacreditado diante as palavras, metendo com ainda mais força enquanto assistia beijando seus dedos lentamente e com devoção visível. — Você não merece. Você não merece nada do que eu sinto. Você não merece nada do que eu ainda irei lhe dizer... Mas eu realmente senti sua falta.
— E eu a sua. — ele murmurou, sedento. — Senti falta de tudo. Desde a sua postura durona e das palavras debochadas até da sua forma doce de falar. E, oh... Senti falta da sua buceta. Senti falta dela apertando meus dedos... E meu pau.
fechou os olhos com força, gemendo com as palavras, desfrutando delas em sua mente.
— Nós dois juntos é a receita perfeita para o desastre.
— Eu sei. — ele riu, lançando-lhe seu costumeiro sorriso torto. O mesmo sorriso que constantemente lhe lançava quando era menino. — Isso é incrível, não é?
Não, não era.

“Meu bem, deveríamos dizer tudo, dizer tudo
Há beleza nessas paredes quebradas, paredes quebradas
Reter é criminal, criminal
Meu bem, deveríamos dizer tudo, dizer tudo
Sim, querida, deveríamos dizer tudo, dizer tudo”


Quando se está desfrutando de um vício, de algo pelo o qual sua carne clama com tanta avidez, tudo o que você consegue sentir é um prazer extasiante, bem como uma vontade de que aquilo dure para sempre.
Com não poderia ser diferente.
Subitamente ele levou a mão livre até o pescoço da mulher, enquanto acelerava as investidas com seus dedos. Ela estava perto... E ele, insano.
— O desastre não é delicioso, meu amor...? Olhe para você. Admita o quão gostoso é. Você é tão suja quanto eu. — o sorriso safado não se desprendia de seus lábios, seus dedos se movimentavam com precisão e rapidez, se curvando um pouco dentro dela a fim de atingir seus pontos mais fracos. Sua voz soava tremendamente rouca e grave - além de obviamente sacana -, sua respiração era audível, seus dedos longos e finos apertavam fortemente o pescoço de e seu pau doía de tão duro e sedento por toque. — Vamos lá, ... Admita.
— N-não.
— Tsc. Certo, não tem problema. Uma vez que meu pau estiver dentro de você, tenho certeza de que se comportará como uma boa menina.
subitamente retirou seus dedos de dentro dela, soltando seu pescoço no processo. soltou um choramingo, perplexa, temendo que ele a largasse naquela condição. Mas obviamente não o fez: ele rapidamente a puxou para junto de si, beijando seus lábios, pescoço, colo e busto enquanto a ajudava a retirar a camiseta e sutiã incômodos que usava.
— É insuficiente. É como se fosse um prazer insuficiente, como se eu precisava de mais. — ela murmurou, ensandecida. Completamente fora de si. Ele riu, assentindo.
— Você não viu nada ainda, meu amor.
Com os seios livres da mulher, passou a massegeá-los, esfregando a ponta de seus dedos contra seus mamilos duros. Sentiu seu pau pulsando, faminto, desesperado. Os seios de eram, além de fartos, incrivelmente macios. gemeu, salivando de vontade de abocanhá-los. E foi exatamente o que fez: abocanhou um de seus seios, colocando tudo o que foi capaz na boca e passando a chupar com vontade, envolvendo o bico com sua língua, ronronando de prazer no meio do processo. Seus olhos reviravam, seu corpo todo arrepiado e seu pau vergonhosamente duro, o pré-gozo já escorrendo pela glande. Se afastou, respirando fundo. Que garota perigosa.
— Vem aqui. — pediu, enquanto a segurava pelos pulsos, posicionando-a de joelhos em cima do sofá, virada de costas para si.
— O que está fazendo?
— Ainda estou bravo. Você entende que é meu dever punir você pela sua postura inadequada, certo? — falou, sugestivo, enquanto secava descaradamente a bunda empinada em sua direção. retirou sua boxer enquanto admirava seu corpo, suspirando com o alívio de finalmente ter sua ereção livre do sufoco daqueles panos. Pegou a camisinha em sua calça aos pés do sofá, rasgando a embalagem e protegendo-se no processo. Voltou-se para o corpo de . — Você é uma menina má, detetive Del Monaco. — ele a repreendeu, fazendo-a grunhir de frustração diante ao uso de seu futuro sobrenome. — Uma mocinha safada que machuca os sentimentos de seu primeiro amor e ainda o provoca com esse seu corpo delicioso maldito. Garota má. Muito, muito, mas muito má. — se aproximou, e sem um pingo de receio, desferiu um tapa violento contra sua bunda. E outro, e outro, e outro, e mais um, até que a região tomasse um delicioso tom avermelhado, marcado por sua palma. — Precisamos resolver isso, não é? Você não pode continuar agindo assim sem receber um castigo. Espero que entenda o que isso significa... Significa que precisa te foder igual uma putinha até que você não consiga mais andar. Estamos entendidos, detetive Del Monaco? — e sem mais delongas, posicionou seu membro latejante em sua entrada, escorregando-o para dentro da garota com lentidão, gemendo de prazer ao passo que sentia cada centímetro ser firmemente envolvido pela boceta perfeitamente lubrificada de .
— É t-tão gostoso... É tão... Q-quente... — murmurou, sua voz soando completamente rouca, enquanto rolava os olhos e rebolava seu quadril, reivindicando por mais.
— Merda. — disse em meio a um gemido, inclinando seu torso de maneira que encostasse nas costas de , envolvendo seu corpo com meus braços. — Quem diria que depois de tantos anos.... Você ainda estaria tão molhadinha para mim assim... — provocou, passando a se movimentar, entrando e saindo devagarinho, apenas para torturá-la um pouquinho mais, brincar um pouquinho mais com a mulher que tanto venerava.
A cada nova investida se sentia mais próxima da beira do precipício. A cada novo tapa erótico, ela conseguia vislumbrar sua queda. E a cada comentário deliciosamente sujo, ela tinha a terrível percepção que já havia caído há muito tempo. Ela gemia, gritava, falava palavras desconexas. Chamava por seu nome, murmurava o quão molhada e entregue estava, se mostrava vulnerável de uma forma que nunca se sentiu e que de certa maneira nunca ficara antes.
— Você irá dizer tudo, não vai...? Irá dizer o quanto me ama... O quanto quer ficar comigo... — ele deu uma espécie de risada prepotente misturada com gemido, de repente agarrando os cabelos da garota e os puxando, sussurrando como um verdadeiro cafajeste contra seu ouvido. — Vamos, detetive Del Monaco. Diga tudo. Diga tudo enquanto eu te como do jeitinho que você merece.
E ela disse. Oh sim, ela finalmente disse.


“Doente e cansado nos dias e noites, quando você não está por perto
Procurando alguém, mas, então, sei o que encontrei
Não sei por que não digo mais do que faço
Mas todo mundo é egoísta, você sabe...”


A luz vermelha iluminando os corpos suados deixava o ambiente extremamente sensual e envolvente. As respirações acalmando-se em conjunto, as carícias mútuas, as juras de amor sussurradas. Intimidade. Paixão. Amor.
Ou pelo menos, era o que pensava.
Ela realmente acreditou, ou melhor, havia preferido acreditar que tudo o que aconteceu antes poderia ser facilmente apagado de sua mente. Poderiam recomeçar juntos. Poderiam fugir. Poderiam construir uma nova vida.
Utópico. Um pensamento utopicamente tentador. Um desejo egoísta e momentâneo de dois amantes que se viam incapazes de se separar. As barreiras que os afastavam haviam sido destruídas, mas aquilo não significava ser uma coisa boa.
Havia beleza em paredes quebradas, ao mesmo tempo que também havia a dor em saber que os destroços esmagariam dois corações.
Fora quem quebrou. E fora quem tolamente havia se permitido ser quebrada novamente.
— O que quer dizer? — a mulher perguntou, assustada diante a fala do rapaz. Conversavam. Se entendiam. Mas, tão rápido quanto a cumplicidade veio, ela rapidamente partiu.
— Eu os mandei embora. Dei-lhes dinheiro, disse que me encontraria com eles... É o fim, . Eles já devem estar longe agora. — ele repetiu lentamente. — Quero que vá comigo.
Ele teve seu pedido negado imediatamente.
— Não.
não se surpreendeu.
... Estou fadado ao desastre desde que nasci. Nunca houve perspectiva. Nunca houve qualquer possibilidade de felicidade. — ele murmurava, enquanto tinha os dedos delicados tocando suavemente no rosto da mulher, com carinho. — Me sinto grato por ter tido a honra de conhecê-la, ao mesmo tempo que sinto ódio por ter sido dessa maneira. É injusto, não é? Te fiz passar por coisas horríveis quando éramos jovens e, mesmo agora, nada mudou. Eu continuo destruindo tudo aquilo que toco. Continuo sendo o mesmo moleque egoísta que te faz passar por situações terríveis... Mas eu não ligo. Quero que vá comigo... Você disse. Você me prometeu.
— Não. Não posso, não quero. Por favor... Ainda há tempo, . — ela disse, a voz saindo desesperada. — Você pode se redimir não apenas comigo, mas com todas as vidas as quais destruiu por pura vingança. Talvez nós dois poderíamos... Poderíamos...
— Não podemos ficar juntos sem fugir. — ele a interrompe amargamente. — Você irá ter que me prender.
— Então me deixe fazê-lo e assim terá sua redenção! Você é bom, . Deixe-me mostrar isso a você.
Os olhos negros de pareceram cintilar diante as palavras de sua amada. Ele sorriu tristemente.
— Redenção, ? Me redimir...? A ideia parece boa. Parece ótima na verdade. Mas há um porém: eu não me arrependo de quase nada. — seu sorriso aumentou. Ele havia cessado as carícias do rosto da mulher. — Não me arrependo nem um pouco de ter matado Marcus Del Monaco e sua esposa como os dois porcos que ele são. Não sinto qualquer tipo de remorso diante das milhares de vidas que meus seguidores tiraram nesses dez anos que a Scary Clowns reina sobre essa cidade. E Seth, ... Ah, o Seth. Você tinha que ter visto, meu amor... Tinha que ter visto o terror nos olhos dele. — a devoção a qual ele dizia aquilo era assustadora. Os olhos vidrados, o sorriso triste aumentando cada vez mais. engoliu em seco. — Ele implorou. Implorou para viver, implorou perdão como o covarde que aquele velhote sempre foi. Ficou choramingando enquanto dizia “por favor, garoto, me desculpe. Por favor, eu mudei. Por favor... irá se casar, eu tenho que levá-la para o altar, por favor...” — ao ouvi-lo imitar as últimas palavras de Seth, sentiu todo seu corpo retesar de medo. Desgosto. Aversão. — Ele me fez tão mal. Ele te fez tão mal. Como pôde convidá-lo para te levar ao altar, ? Tsc. Você é tão boa, tão preciosa demais para esse mundo... Eu tive que matá-lo. Aquele arrependimento que ele ostentava era falso. Eu tive que cortar o mal pela raiz. Você compreende, meu amor? Eu adoraria dizer que sinto muito, mas não sinto. Diante a todas essas vidas que tirei ou destruí só consigo sentir... Orgulho.
Silêncio. a olhava atentamente, como se esperasse uma reação da mulher. Na verdade ele parecia desesperado: os olhos vidrados estavam fixos na feição dura de .
Ela finalmente havia compreendido.
— E a minha vida, ? — o questionou, por fim.
— O que quer dizer?
— Você destruiu minha vida. Isso te orgulha?
praticamente gemeu em frustração, se aproximando novamente da amada e segurando-a contra seus braços. Beijou-lhe o rosto com carinho, murmurando enquanto a tocava:
— Nunca. Você é a minha única exceção, . Meu único ponto fraco. Eu te amo tanto...
o interrompeu.
— Isso não é amor.
se afastou lentamente, observando-a com atenção.
— O quê?
— Isso. Não. É. Amor. — ela repetiu, olhando-o seriamente. — Eu não sou seu ponto fraco, . Não sou aquela que te deixa indefeso, não sou aquela que você ama. Sou aquela que se tornou parte da sua obsessão. E, acredite, sua obsessão não é pela pessoa que eu sou. Sua obsessão é em preencher o vazio terrível que há no lugar o qual deveria estar seu coração. E da mesma forma que você não me ama e nunca saberá o que é amor... Eu também não o amo.
— Não... Não, isso não é verdade, n-não... — ele negava, incrédulo. — Você está aqui!!! Você voltou para mim, você se entregou de novo. Como pode não me amar?!?!
— Não há nada para ser amado em você, . — ela disse, tristemente.
Aquela era a verdade. havia sido tão cruel, sádico e ruim que não havia sobrado mais qualquer sentimento positivo para ser sentido quando se tratava do rapaz. Ele já não era mais digno de empatia, pois a partir do momento que se mata alguém, nem mesmo um passado terrível pode justificar. Ele já não era mais digno de raiva, pois sua forma de viver era deplorável.
Pena. Pessoas como eram apenas dignas de pena.
O homem se contorcia no que ele acreditava ser dor. Sempre havia acreditado piamente em qualquer coisa que lhe falasse. Em um mundo cheio de mentiras, ele sempre acreditou que aquela garota fosse a única verdade. E ela havia acabado de dizer tudo aquilo o qual ele não conseguiria lidar.
Quando enfim retomou o controle sobre si mesmo, o homem apenas a encarou. Um brilho anormal podia ser visto em suas íris sempre tão obscuras.
— Eu irei provar a você. — murmurou, afoito.
— Não há mais nada a ser provado, Ele balançou a cabeça em negação, se aproximando da jovem.
— Eu irei provar o quanto eu te amo. Eu irei provar o quanto você me ama. — sussurrou. Sua cabeça balançava de um lado para o outro, seus olhos vidrados, insanos. — Eu farei isso por você. Oh, sim, eu farei.
...? Você está me assustando.
Ele não lhe deu ouvidos.
O homem subitamente a segurou pelo queixo, a beijando com uma doçura nunca antes experimentada. deixou a si mesma derreter diante ao seu gosto.
Quando partiu o beijo, ele apenas a fitou. A mulher sentiu seu coração doer. Viu dor naqueles olhos ensandecidos e por um momento temeu o que estava por vir.
Ele a olhava como se aquela fosse a última vez que a veria.
. O que você irá fazer?
Ele se afastou, levantando-se do sofá. se levantou também, alarmada.
!
Ele andou até o outro lado do quarto, retirando algo de dentro de uma das gavetas de uma cômoda de madeira lustrosa. se aproximou.
— O que é isso?!
se virou lentamente, olhando-a com lágrimas banhando seus olhos.
Delinquente. Cruel. Inescrupuloso. Quebrado. Doente.
a amava. Amava da forma que seu jeito insano e doentio julgava ser o amor, mas amava.
E também. Ela o amava com todo seu coração. E ele a faria reconhecer isso.
— Minha redenção. — ele respondeu, por fim.
Tudo havia sido muito rápido.
A arma que trouxera consigo estava nas mãos de . Ele a destravou, levando-a a cabeça...
E então puxou o gatilho.

“Doente e cansado nos dias e noites
Sim, sim
Meu bem, deveríamos dizer tudo, dizer tudo
Há beleza nessas paredes quebradas, paredes quebradas
Reter é criminal, criminal
Meu bem, deveríamos dizer tudo”


O corpo de estava em seus braços. O sangue fresco manchava suas mãos, seu corpo, sua alma.
Dor.
Ela o abraçava apertado contra si, enquanto um som aterrorizante de choro e berros soava pelo local. Demorou para perceber que o som partia dela. Tudo doía. Uma dor excruciante, uma dor terrível. Nunca havia sentido tanto sofrimento de uma vez só.
havia enlouquecido. E na mente patológica, aquela decisão parecia ter sido a mais coerente.
— Eu te amo. Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo... — ela murmurava desconsoladamente, enquanto abraçava com ainda mais força o corpo do homem.
fez o que fez para fazê-la reconhecer que o amava. Ele estava certo.
Nada mais restava. Eles finalmente haviam dito tudo... E era tarde demais.



Fim!



Nota da autora: Com isso percebemos que a tia Vick é péssima em fazer continuações, yay!! Já peço perdão pela provável decepção que essa parte 2 irá proporcionar, mas creio que não dava para fazer um final feliz entre esses dois. Sei que sempre acabo fazendo certos pps charmosos com personalidades questionáveis se safarem no final (pp de MD, cof cof) mas dessa vez não deu. Desculpa, gente. 🥺
Enfim! Quero agradecer especialmente a minha amiga, Izadora, que acompanhou meu processo criativo e me deu uma luz quando o bloqueio veio (te amo, amiga). E quero agradecer a vocês, meus amorzinhos! Espero que vocês tenham gostado! Say It All é minha música favorita do álbum, então fiquei muito feliz em escrever a fanfic inspirada nela!! (E, claro, como a boa Lilo girl que sou, nada mais justo do que a primeira parte ter sido uma música do Louis e a segunda do Liam).
Confiram as minhas outras fanfics do site e entrem no grupo das minhas histórias no Facebook!
Beijinhos da tia Vick, e até a próxima! 🖤






Outras Fanfics:

Menina Dourada (Longfic - Originais - Finalizada)
Psychotherapy (Longfic - One Direction - Em Andamento)
11. Defenceless (Ficstape - Louis Tomlinson: Walls)


Nota da beta: Olha, como não li a anterior, fiquei meio perdida, mas queria dar parabéns pela intensidade da história, viu? Eu estava surtando a cada palavra! Parabéns <3

Qualquer erro nessa atualização ou reclamações somente no e-mail.


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