Finalizada em: 18/01/2018

Capítulo Único

Sentada no estúdio do terceiro andar - a sala que eu frequentava todos os dias - de costas para o espelho que ocupava uma parede inteira, eu deixava as lágrimas escorrerem e encharcarem meu rosto. O único som naquele lugar há essa hora da noite eram meus soluços. Fiquei assim por longos minutos, ou até horas, quem sabe? Quando cansei de ter pena de mim mesma levantei-me e fui até a janela no canto do estúdio e senti o vento gelado bater em meu rosto molhado pelas lágrimas.
O que eu ia fazer agora? Meu corpo dava sinais de dor, mas acho me bloqueava de sentir essas dores por completo.
- Sabia que ia te encontrar aqui - a voz dele cortou o silêncio, não mexi um músculo para olhá-lo.
Por um lado, ele devia saber que era a última pessoa que eu queria ver.
Por outro, só ele entendia a dor que eu sentia naquele momento.
- , se eu pudesse voltar no tempo, não deixaria nada daquilo acontecer. Me perdoe. - ainda sem olhar para ele, senti suas mãos em meus braços. A mão esquerda quente e macia encostada na minha pele, a mão direita, no entanto, enfaixada com uma gaze até o pulso.
Voltar no tempo…
Se eu soubesse o que aconteceria naquele dia, nem teria saído da cama.

era um dos caras mais metidos do Colégio de Artes Performáticas de Seul. Logo no primeiro, dia já havia sussurros entre aqueles que tinham algo a ver com música clássica sobre ele.
, gênio do piano.
É claro que eu já tinha ouvido falar nele, até tinha visto alguns cartazes de apresentações dele.
, filho de um dos maestros mais influentes do país.
Música estava no sangue dele.
Pelo menos isso era o que todos diziam, mas alguns dias no novo Colégio e eu já havia percebido que ele carregava outras famas além da música, como o orgulho.
Não foi nem uma ou duas vezes em que vi se gabando de suas habilidades para outros alunos de piano. Até mesmo ouvi falar que ele provocou alunos de outra escola numa competição regional.
Após julgar diversas vezes, decidi que teria o mínimo de contato possível com ele, chegando até mesmo a rolar os olhos quando ouvia seu nome sair da boca de minhas amigas.
O ctolégio estava sendo ótimo, eu tinha o apoio de meus pais e meus professores no balé. Era uma paixão desde criança que acabou se tornando um talento depois de anos de prática e esforço.
No segundo ano, eu tive contato direto com . Era um projeto em conjunto, a turma de balé com alguns talentos do Colégio, formando uma pequena orquestra. O objetivo era uma apresentação no aniversário do Colégio. Turmas de artes visuais também iam expor seus trabalhos, mas nós éramos a atração principal.
E é claro que estava no meio disso.
Os professores e diretor fizeram uma reunião com os selecionados, foi decidido “O Quebra Nozes”. Eu adorava aquela peça, mas assim que ouvi alguém bufando atrás de mim, não me contive em virar para trás e dar uma encarada feia naquele ser. Surpresa nenhuma tive ao encontrar o rosto entediado de , que me encarou de volta como se me desafiasse a dizer algo. Murmurei um “ridículo” e me voltei para frente, ouvindo mais instruções. Nomes foram chamados e papéis foram dados aos bailarinos e bailarinas, de acordo com a importância do papel. Meu nome foi o último a ser chamado, eu iria interpretar a protagonista: Clara. Assim que ouvi isso não consegui conter meu sorriso. Esse iria ser meu primeiro papel como protagonista!
- Quer um lencinho, senhorita ? Parece que vai chorar de emoção. - aquela voz disse novamente e por um minuto eu pensei em virar para mandá-lo cuidar da sua vida, mas ele não ia me estressar hoje, não agora.
Os professores deram horários para ensaiarmos e saímos do auditório.

Com o passar das semanas eu estava começando a questionar a decisão dos professores em me colocar como protagonista, era de fato um papel trabalhoso, embora não fosse complexo como a peça original.
A questão é que eu não estava contente com minha performance, por isso ficava mais tempo do que necessário para ensaiar.
Hoje especialmente eu achava que meus movimentos estavam indo além do permitido no espaço do palco, por isso reservei o teatro da escola para ensaiar, sair da sala que eu sempre uso seria bom para mim. Já passava das oito da noite quando os alunos de dança contemporânea saíram do teatro. Era difícil reservar um horário naquele lugar, todos preferem a acústica do teatro.
Assim que coloquei minha sapatilha marchei para a porta dupla do local, mas minha mão se encontrou com uma outra assim que coloquei a mão na maçaneta.
- Ei! Eu reservei esse lugar, você não pode usar até ás 9h - olhei nos olhos desdenhosos de . Surpresa, eu? Jamais.
Desde o dia das designações ele vinha fazendo comentários irritantes quando nos cruzávamos nos corredores. “Não vai nos decepcionar, hein Clara”, “Não está nervosa? A escola toda vai te ver…”
- Eu reservei primeiro, princesa - ele disse irritado.
- Vocês reservaram para qual ocasião? - a senhora da secretaria, que ficava em frente às portas do teatro, perguntou.
- O quebra nozes.
- O quebra nozes.
Respondemos em uníssono.
- Como o teatro está sendo muito disputado por causa do evento de aniversário, temos instruções de colocar alunos da mesma apresentação juntos.
Bufamos ao mesmo tempo, eu entrei primeiro, deixando minhas coisas num canto e fui me aquecendo, tentando ignorar totalmente a presença de . Ele estralou todos os dedos antes de começar a tocar.
Eu queria ensaiar outra cena, porém estava tocando do começo, eu estava canalizando todo meu orgulho para não dançar o que tocava no piano.
- Sabe, nada te impede de dançar o primeiro ato. Dá pra ver que você está trocando os pés e fazendo tudo errado. - ele disse, olhando para mim sem parar de tocar.
Eu não sabia se teria outra chance de reservar o teatro essa semana, então tinha que aproveitar meu tempo.
Virei para a frente do palco e dancei conforme o som que ouvia, sentindo os olhos de sobre mim.
Nos intervalos em que eu sabia que não seria minha vez de dançar eu parava para beber água e ele fazia perguntas.
- Quem dança essa parte?
- Os soldados e o quebra nozes.
- E o que você faz?
- Bom, a Clara fica assistindo, pois eles dançam pra ela.
riu, eu estava impressionada com a habilidade dele de conversar e continuar tocando ao mesmo tempo.
- Que tipo de cara dançaria para impressionar uma garota?
- O quebra nozes não é um cara. E você não tocaria para uma garota se quisesse impressioná-la? - perguntei olhando em seus olhos, porém ele desviou o olhar pela primeira vez desde que começamos a nos falar. - Cada um tem um modo diferente de expressar o que sente. - dei de ombros.
- Já não é hora de você voltar? - ele perguntou e eu percebi que tinha passado minha deixa de entrar no ato. Engoli a água depressa e voltei a minha posição na música, terminando minha cena dez minutos depois do horário que eu reservei.
- Vamos, antes que alguém decida entrar aqui para nos expulsar. - recolhi minhas coisas e vi fazer o mesmo com suas partituras e mochila.
- Ninguém usa o teatro depois das 21h. - ele disse casual, andando na direção da porta. Eu tive um pouco de trabalho para trocar as sapatilhas pelo par de tênis, assim que consegui, corri para pegar seu passo.
- Como você sabe?
- Porque sou eu que fico nesse horário, todo mundo sabe.
- Ah é? E por que você está saindo agora? Não deveria ficar até as 22h? - perguntei com os braços cruzados enquanto ele entregava a chave para a secretária. Ele virou para mim e depois de alguns segundos olhando em meus olhos ele deu de ombros e saiu andando.
- E você? Por que queria usar o teatro tão tarde? - eu estava estranhando a vontade dele de puxar assunto comigo quando não tínhamos mais a obrigação de dividir o mesmo ambiente.
- A sala em que usamos é maior que o palco, eu achei que estava muito acomodada num espaço tão grande, e que ia ser muito diferente no palco.
- E?
- Bom… não foi tão diferente, mas é melhor praticar lá mais algumas vezes só pra garantir.
Já tínhamos chegado na saída do colégio quando o assunto acabou.
- Você vai pra onde? - ele perguntou, apontei para a esquerda. - Pros lados daquele Colégio de artes?
- Que colég… Ah, não sabia que era um colégio de artes também. - eu sempre passava por detrás daquele Colégio, mas nunca vi uma placa ali.
- Eu vou por ali também. - ele ajeitou a alça da mochila no ombro e saiu andando na frente. Achei bem estranho, mas não comentei nada. Eu sabia que o pai de era influente, e não deveria ter menos que sete dígitos na sua conta do banco. Os lados que estávamos indo não era nenhuma área de luxo, eu sei por que moro por aqui, então porque alguém como está vindo aqui?
Minhas mãos começaram a suar frio. Será que pretendia fazer algo comigo? As ruas estavam desertas…
Dei um pulo quando um barulho estridente cortou o silêncio da noite. tirou o celular de última geração do bolso e atendeu a ligação sem parar de andar.
- Estou indo, estava ensaiando… Não, não preciso de carona, Jung. Vai buscar a In Ha, ela disse que ia ficar até tarde na biblioteca.
Tudo bem, talvez eu estivesse exagerando, podia ser um ogro às vezes, mas não ia me machucar.
Estávamos esperando o farol abrir quando eu lembrei que precisava de mais faixas para enrolar meus pés para que não ficassem cheios de calos quando eu dançava.
- Ei, preciso passar na farmácia. - cutuquei-o enquanto falava no telefone e ele fez um sinal positivo. - Não precisa me esperar. - falei e atravessei a rua, abanou a mão como se dissesse “Tá, tá, vai logo”.
Peguei logo uns dois rolos de gaze para deixar um estocado e fui para o caixa. Me virei para ver se tinha ido embora e me assustei ao vê-lo rodeado por uns cinco garotos com uniformes diferentes do nosso.
- Ahn, eu esqueci uma coisa, já volto. - falei para o cara do caixa que deu de ombros e continuou mexendo no celular.
Me aproximei da saída para ouvir o que eles falavam, fingindo procurar algo na prateleira.
- Dá próxima vez você não vai se safar, seu merdinha.
- Eu estou aqui, por quê você e suas putinhas não fazem algo agora?
Ele estava mesmo provocando aqueles garotos? Uma buzina cortou a conversa e eu vi um carro encostar ali, ergui meu pescoço a tempo de observar os cinco garotos se cutucarem e irem embora.
Paguei minha compra adicionando um talco qualquer que vi na prateleira e saí dali, querendo logo chegar em casa.
Para minha surpresa, não tinha ido embora. Estava encostado no carro que havia parado ali.
- Entra aí, meu irmão está indo buscar minha irmã no Colégio, ele te dá uma carona. - abriu a porta traseira do carro e eu olhei bem em seu rosto procurando alguma evidência de que ele ia fazer algo ruim. - Que é? Acha que eu vou te sequestrar? Tá bom, fica aí no frio.
- , isso é jeito de se falar com uma dama? - o irmão de saiu do carro apoiando os antebraços no teto do carro para me olhar. - In Ha disse que vai ficar mais alguns minutos e me liga quando estiver saindo, não vai me atrapalhar te dar uma carona, sério. Esses lados são perigosos essa hora da noite. - sorriu. Não sabia se o irmão de era famoso que nem ele, mas com certeza era mais gentil. - Eu sou Jung, e você? - perguntou quando entrei no carro.
- - respondi.
- Então você é bailarina, ?
- Como você sabe? - apertei a alça da minha bolsa e vi ele me olhar pelo retrovisor e apontar para a própria cabeça, levei minha mão ao meu cabelo e lembrei que ele ainda estava amarrado num coque, eu sempre o desfazia quando acabava de ensaiar, mas hoje estava sendo diferente.
Falei para Jung que estava com por causa da peça e ele deu um soco no braço do irmão mais novo por não lhe contar sobre essa peça. Em menos de cinco minutos eu disse que poderia parar na próxima esquina que eu morava naquela quadra.
- ? - chamou assim que sai do carro e me virei para vê-lo encarando seu celular em seu colo. - Eu reservei o teatro amanhã também, se quiser aparecer por lá, eu não vou me importar. - disse sem me olhar, como se quisesse dizer “tanto faz”. Não pude deixar de sorrir para mim mesma.
- Estarei lá.

Para minha surpresa, aquilo durou por várias semanas, até que faltavam apenas duas para a apresentação. Nesse meio tempo, eu e nos aproximamos mais do que eu imaginei que ia acontecer.
Não éramos melhores amigos nem nada, nossa “relação” estava mais pra provocação sempre que possível e as vezes tirar um sarro de pessoas das quais ambos não gostávamos.
Nunca mais vi o irmão mais velho de , ele quase não falava de sua família, mas eu sabia que ele tinha uma relação complicada com o pai e que Jung tinha pouco ou quase nenhum tempo livre devido à viagens constantes (coisa que eu ouvi reclamar ao telefone).
- Você esqueceu isso ontem. - me entregou a capinha do meu celular quando nos cruzamos no caminho para o Colégio de manhã.
- Como isso foi parar com você? - peguei a capinha, já colocando no meu celular.
- Você foi pegar o cartão do ônibus e deixou cair.
- E você demorou para me devolver por que…? - em algum momento paramos de andar e se abaixou para amarrar o cadarço.
- Sei lá, esqueci.
O local que havíamos parado era uma praça onde a maioria dos estudantes que vinham de ônibus desciam, tanto do nosso Colégio quanto de colégios vizinhos.
parou de amarrar os cadarços quando levantou o olhar e arregalou os olhos para algo atrás de mim, me virei e encontrei cerca de três estudantes com uniforme azul.
- , está fazendo o que nessas bandas? Achei que seu papai pagava um chofer pra te levar para aquele lixo que você chama de Colégio. - um garoto com olhar muito arrogante disse, olhei para que deu uma risada seca.
- O Colégio lixo que você não passou, não é?
O garoto pareceu corar de raiva até que seu encontrou o meu.
- Seu pai te comprou uma namorada também, ? - ele riu e os garotos com ele riram também. Me encolhi, apertando a alça da mochila.
- Soube que a formatura do seu Colégio vai ser daqui duas semanas. - se pronunciou, ignorando o que o garoto havia dito. - Vai ser uma pena, nem os zeladores vão estar lá, sabe por que? Porque eu vou estar me apresentando no mesmo dia. Mas você já está acostumado a perder pra mim, certo? Não vai ser nenhuma novidade.
agarrou meu pulso, me fazendo andar de volta para o caminho do Colégio, isso se o grosseiro do outro Colégio não estivesse parado em nossa frente.
- Jung está fora do país pelo que eu ouvi, se eu fosse você, , controlaria mais a língua. - ele disse baixo com os olhos escuros num tom de ameaça. deu a volta por ele sem dizer nada e ficou assim durante todo nosso caminho para o Colégio.
- , a gente tem que conversar. - parei ele antes de entrarmos pelos portões abertos.
- Sobre? - ele estava zangado.
- Você percebeu que aquele garoto te ameaçou, certo? O que vai fazer?
- Você acha que eu me importo? - perguntou incrédulo.
- Por que eles mencionaram o Jung? Pareceu que ele é seu protetor ou coisa assim…
- Vamos. – disse, entrando sem me dar uma resposta.
- Eu estou falando sério, você deve ter feito algo para provocá-los, é a sua cara - falei andando atrás dele quando de repente ele para, se vira e pega meu pulso novamente, dessa vez me arrastando para a trilha que interligava dois prédios do Colégio, aquela trilha era vazia pela manhã.
- Você fala demais, se quer sabe quem são aqueles caras?
Pensei por um momento, aqueles uniformes me pareciam familiares…
- São do Colégio próximo do meu bairro, por quê?
- Eles não passam de marginais que sabem tirar algumas notas do piano e outros instrumentos. Desde que eu ganhei uma competição regional com quatorze anos eles me ameaçam, mas não fazem nada por medo de Jung, ele foi campeão de Muai Tai quando estava no Colégio.
- Uau. - falei. parou de andar de um lado para o outro e olhou em meus olhos.
- Me liga quando for embora, eu vou com você. - ele se virou para voltar ao prédio principal, mas eu puxei-o pela manga do blazer.
- Mas o que você vai faz…
Não sei explicar o que aconteceu naquele meio segundo, mas antes de poder terminar meu questionamento, os lábios de estavam sobre os meus.
- Eu já disse, você fala demais. Anda logo, vai perder a aula.
Foi só um toque de lábios que durou menos de três segundos, mas foi o suficiente para me calar.

Foi nesse mesmo dia que as coisas mudaram, e pensar que eu estava tão confiante sobre… sobre tudo. Desde minha apresentação até meu “relacionamento” com .
- Por que ficou ensaiando na sala? - ele me perguntou quando eu saí da sala de treino, alguns colegas nos olharam estranho, coisa bem comum nas últimas semanas.
Já passava das sete da noite, mas eu não tinha coragem para ficar ensaiando com até tarde hoje, então decidi ensaiar apenas uma hora com meu grupo.
- Desculpa, queria voltar mais cedo hoje, mas se quiser eu te acompanho durante seu ensaio.
- Você realmente acha que eu preciso ensaiar? Se me botarem pra tocar aquela sinfonia de trás para frente eu toco.
- Abaixa a bola, . Eu vou tomar banho, se quiser me esperar, eu não vou demorar. – falei, soltando meu cabelo do coque apertado.
- Sem pressa, se você torcer o cabelo tenho certeza que dá pra fritar algo no refeitório, as cozinheiras vão adorar receber óleo extra - mirei minha xuxinha na cara desse chato e ele desviou rindo.
Eu passei o dia pensando nele, o desgraçado conseguiu me deixar desconcentrada até mesmo no ensaio.
Assim que terminei de colocar minhas roupas no vestiário após o banho fui direto para a sala do piano, ensaiava lá quando não reservava o teatro, e como ele não estava no corredor, sabia que estaria ali.
A porta estava fechada, mas eu ainda conseguia ouvir a melodia do piano, tocava o que parecia ser uma música infantil, do tipo que você aprende assim que começa a tocar.
Ali, observando de costas eu percebi. Eu estava apaixonada por ele, e por algum motivo sabia que isso não seria uma boa coisa.
Alguns segundos depois ele notou minha presença e saiu da sala.
- Agora sim. - bagunçou meus cabelos molhados. - Sabe, eu estava pensando, nós poderíamos sair depois da apresentação, pra comemorar… - olhei para ele segurando um sorriso.
- Tipo um encontro? - perguntei e ele deu de ombros - Tudo bem.
Ficamos num silêncio gostoso até saírmos do Colégio e fizemos nosso caminho usual.
- Que demora. O que vocês tanto fazem nessa escola de lixo?
Me virei assustada ao ouvir uma voz familiar. Estávamos num local público, mas que há essa hora não havia movimento, de vez em quando ficavam alguns jovens na escadaria ali, estávamos no topo dela, abaixo era uma área comercial, acima era uma área residencial. Por que aqueles caras estavam ali?
- O que você quer? - perguntou, me tirando da minha breve distração e ficando a minha frente. Hoje haviam pelo menos sete garotos junto com o cara que nos provocou outro dia.
- Acertar as contas com você. - o sujeito estralou os dedos e partiu para cima de , soltei um grito e outros dois sujeitos vieram me segurar e tapar minha boca.
estava apanhando, mas não deixava de revidar, eu estava tremendo, nunca presenciei uma briga antes, estava apavorada.
Pobre , se soubesse o que estava prestes a acontecer entraria em pânico.
Logo, ficou por cima, acertando diversos socos no garoto de baixo dele que gritou algo para seus colegas e derrubaram .
- Foi por sua causa que eu não entrei naquela droga de Colégio! O que você acha que eles vão fazer quando perderem sua estrela? - ele estava furioso. Um dos garotos entregou algo para ele que demorei a perceber que era um taco de beisebol. Dois garotos seguravam no chão e foi quando o líder deles pisou no pulso de que eu soube o que ia acontecer. Ele pegou impulso e bateu com o taco na mão direita de .
Para mim, tudo ficou mudo nesse momento. estava contorcido em dor, seu rosto e mãos sangravam. Os dois garotos que me seguravam pareciam ter se assustado com o ocorrido e me soltaram. Eu corri e usei toda minha força para socar o cara do taco, nem sei dizer se aquilo realmente o machucou, mas o enfureceu mais, e ele me empurrou com força. Muita força.
As coisas só voltaram a ter som quando meu corpo caía escada a baixo.

Quem diria. Um dia que estava tão bem, o dia que eu tinha aceitado meus sentimentos por outra pessoa, foi o dia mais doloroso da minha vida.
- Me perdoe, . - agora os braços de estavam ao meu redor. Era bom sentir o calor do corpo dele. Isso me distraía da minha dor. - Você tem que voltar ao hospital, o efeito da anestesia deve estar passando, vamos. - ele pegou minha mão com a mão dele que não estava enfaixada.
- O que vai acontecer com nós agora? - perguntei com a voz extremamente rouca.
- Não sei, eu não vou voltar a tocar pelo que parece. - ele olhava para a própria mão. - E eu imagino o que os médicos te disseram.
Nunca mais.
- Vamos, seus pais devem estar preocupados. - se virou de costas e se abaixou para que eu pudesse subir em suas costas e voltamos andando devagar para o hospital que não era tão longe e meu corpo já doía horrores.
Duas costelas e o cóccix fraturados, ligamentos do joelho rompidos, uma clavícula quebrada.
Fiquei abraçada nos ombros de nesse tempo, ignorando minha dor e deixando apenas algumas lágrimas caírem silenciosamente olhando para as estrelas.
Ele só parou quando chegamos na porta no hospital. Eu desci de suas costas e antes que pudesse cruzar as portas ele me parou, segurando meu pulso.
- Se fosse para terminar assim, eu preferia nunca ter te conhecido. - aquelas palavras machucaram meu coração. Não por ele ter dito que não queria ter me conhecido, mas por ele dizer que aquilo era o fim.
Seu rosto se aproximou do meu e nos beijamos pela segunda vez, em meio a algumas lágrimas minhas e as feridas no rosto perfeito dele.
Aquilo era o fim de algo que mal havia começado.
Quando finalmente entrei pelas portas do hospital meus pais vieram correndo me ver, juntamente com as enfermeiras. Eles me perguntavam coisas, mas eu não ouvia. Apenas via se afastando do hospital, eu só podia imaginar a dor da culpa que ele sentia e queria correr atrás dele e dizer que estava tudo bem. Mas não estava.
Essa foi a última vez que o vi. Nunca tivemos nosso encontro.
Segui minha vida do modo em que consegui, ingressando numa escola normal e alguns anos depois tendo um emprego normal. O sonho de ser bailarina já há muito tempo esquecido.
Mas nunca mais saiu de minha mente, me perguntava se ele pensava em mim como eu pensava nele. Eu o via em meus sonhos. Eu o via quando ouvia a melodia de um piano. Eu o via quando olhava as estrelas.
Eu o via no cruzamento de uma avenida.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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