Capítulo Único

In the heat of the fight,
I walked away Ignoring words that you were saying...
Trying to make me stay
I said this time, I've had enough
And you've called a hundred times...
But I'm not picking up
Cause I'm so mad, I might tell you that it´s over
But if you look a little closer

- Eu não acredito que você está fazendo isso comigo hoje!
- Hoje. Hoje! Tudo, absolutamente tudo o que a gente fez hoje foi discutir! Você só reclamou a porra do dia inteiro! Não faz isso, não faz aquilo, não faz aquilo outro... Eu não tive um único momento de paz desde que saímos de casa! – esbravejou. – Que merda, !
- Como é que é? Você... O que? – passou a mão pelo rosto para secar a lágrima solitária que escorreu. – Quer saber? Tudo bem, ! Você deve estar certo. Você sempre está certo. Esquece o que eu falei. – Com um último olhar frio em sua direção, se despediu; – Eu vou me deitar.
- Eu não vou agora. – respondeu sustentando seu olhar, a mão seguindo para o bolso de sua calça. – Eu vou sair com o , devo voltar mais tarde.
Com um último balanço de cabeça, ele pegou o casaco e começou a caminhar para a porta.
- Não precisa esperar acordada.

I said: "leave", but all I really want is you
To stand outside my window throwing pebbles
Screaming: "I'm in love with you"
Wait there in the pouring rain, come back for more
And don't you leave, cause I know all I need
Is on the other side of the door


- ’s -

saiu e bateu a porta na minha cara. Como toda vez que nós brigávamos, senti meu coração se despedaçando, meus olhos rapidamente respondendo ao desconforto que não estar bem com ele sempre acabava trazendo.
Era assim desde que nos conhecemos. Nenhuma outra pessoa era tão capaz de me tirar do sério quanto ele. Nem mesmo a minha mãe, que insistia em tentar terminar o nosso namoro, de sete anos, agora, tinha essa capacidade incrível de me fazer me sentir tão impotente. Vazia, de uma forma que doía só de respirar.
Arrastei meu corpo pesadamente até o sofá e me encolhi nele, a cabeça apoiada nos joelhos. Comecei a perder o ar no exato momento em que as lágrimas começaram a escorrer.
Eu sabia que quanto mais tempo ficasse ali, pensando na nossa discussão – sem fundamento, como sempre –, pior eu me sentiria. Então esperei ter forças o suficiente para isso e andei até meu quarto.
Olhar para a cama que nós dormíamos todas as noites e não vê-lo sorrindo debilmente para mim surtia um efeito que eu jamais poderia explicar, principalmente hoje.
Mais uma vez sentindo o nó na garganta se apertar, arrastei-me até ela, sem nem arrancar o vestido que usava, e me enfiei de baixo das cobertas.
Era tão fria sem ali. Tão vazia.
Era tão difícil fechar os olhos e não ouvir sua respiração me acalmando, sua voz sussurrando ao pé do meu ouvido, ou mesmo suas mãos nervosas buscando por carinho.
Controlei o impulso de me agarrar completamente ao seu travesseiro e somente o cheirei, sabendo que ele precisaria dele quando voltasse para casa mais tarde. Por que ia voltar para casa. Ele sempre voltava.

[...]


Me and my stupid pride are sitting here alone
Going through the photographs, staring at the phone
I keep going back over things we both said
And I remember the slamming door
And all the things that I misread
So babe, if you know everything
Tell me why you couldn´t see
When I left I wanted you to chase after me yeah


acordou com o incômodo calor do sol sobre suas pernas. Antes mesmo de levantar da cama, se lembrou da briga do dia anterior e sentiu sua garganta fechar só de lembrar que ele preferira sair de casa, sabendo que ele só assim fazia quando estava irritado o suficiente para querer evitar qualquer tipo de contato.
sempre fora o mais contido entre os dois, mas, uma vez suficientemente irritado, suas palavras saíam como navalhas e podiam queimar dentro de por semanas. Detestava a ideia de magoá-la assim e, por isso, sempre preferia sair e esfriar a cabeça à ter de continuar com a discussão.
, quando esticou o braço para o lado na cama, esperava encontrar deitado ao seu lado, mas ela estava vazia. Querendo chorar novamente, se sentou e correu os olhos em afobação na esperança de que ele estivesse pelo menos em algum lugar do loft.
jogou as cobertas para o lado, se apressando para chegar ao banheiro e sentiu o coração disparar quando não encontrou nenhum sinal dele. Voltou-se de novo para a cama, vazia e arrumada ao seu lado, e voou rápido para a cozinha na esperança de encontrá-lo bêbado dormindo na mesa.
Nada.
Já tinha o telefone em mãos quando uma coisa chamou a sua atenção. Um papel branco e escrito a caneta preta estava preso na porta da geladeira. Andou em direção a ele e o segurou;

// , eu sei que foi horrível eu ter saído ontem desse jeito, e também peço desculpas por qualquer coisa que tenha falado. Não gosto de brigar com você e espero que possamos conversar quando eu voltar. //

colocou a mão no peito, sentindo-o ser esmagado contra seus dedos.

// A banda teve um problema e a gente precisou viajar para a Irlanda hoje. Eu sei que nós tínhamos combinado de jantar, mas nós podemos fazer isso quando eu voltar. Em dois dias eu estou de volta. Te amo, . //

Ela sentiu as lágrimas se formando nos olhos e puxou uma cadeira para se sentar.

- ’s -

Não hoje. Você sabia que era o nosso aniversário de namoro. Você sabia...você não pode ter esquecido. Oito anos, . Oito anos, , oito anos. Todos os outros sete...

__-Flashback-__

- Sabe o que é legal sobre a nossa data de namoro? - sorriu, depositando um beijo no rosto da menina que o encarava maravilhada. - É que quando estivermos juntos há oito anos, estaremos no ano de 2008.
o encarou com uma expressão confusa, tentando entender o que ele queria dizer, e quando finalmente conseguiu, seu sorriso aumentou.
- 8 de agosto de 2008. Nesse caso, a nossa comemoração terá que ser especial...
- Especial? – aumentou o sorriso, apertando os olhos ao que a fitava. – Está insinuando que o super jantar que eu preparei não é especial?
- Claro que sim – revirou os olhos, levando a mão para seu rosto. Delicadamente passou o polegar por sua sobrancelha, traçando os traços que tanto amava. –, apesar de saber que você teve uma ajudinha...
- Ah, aquele Fletcher linguarudo...

__-End of Flashback-__

And I scream out the window:
"I can't even look at you"
I don't need you, but I do, I do, I do
I say: "There's nothing you can say
To make this right again, I mean it"
I mean it. What I mean is


Era o nosso aniversário de oito anos. Estivemos esperando esse dia, bem, durante oito anos como se esperássemos o acontecimento do século. E o dia que eu mais quis em toda a minha vida, eu passaria lembrando e remoendo a estúpida briga que a minha ansiedade causou.

[...]

praticamente correu até o telefone, discando o número com as mãos trêmulas na esperança de consertar parte do desespero que causara nela mesma. Tentou a primeira vez e nada. A segunda, terceira, seis vezes discando para um telefone desligado. Tentou ligar para , , e até mesmo para , e todos eles estavam desligados.
Finalmente, ligou para antes mesmo de perceber que já se passara da uma da tarde e ela ainda estava de pijamas.
- Alô? - Falou , na outra linha. - Quem está falando?
sentiu a garganta fechar novamente, o choro travando qualquer tentativa de comunicação. Sabia que esse telefone não estaria no aparelho da amiga, somente e sua mãe tinham o número, e sabia também que precisava falar antes que ela desligasse.
- Alô? Quem é? Alô?
- – Finalmente sua voz embargada conseguiu dizer. – Gi, sou eu, a . O , Gi... O ...
- ? ? Você está bem? – aguardou a sua resposta, mas ela não veio. – Quer que eu vá aí? O que aconteceu? O que houve, o quê, o quê o fez? Você está bem?
- Estou – Respondeu , subtamente exausta. – Eu estou bem... – em um quase sussurro. – Nós brigamos. Nós brigamos no dia do nosso aniversário de oito anos, Gi. Nossos oito anos.
- Oh, amiga... Fica calma, tá tudo bem, tá? Vocês vão se entender... – esperou, novamente sem retorno. – Quando os meninos voltarem...
- Exatamente! Quando ele voltar já vai ter se passado dois dias! Eu queria comemorar com ele... Hoje... A gente.
respirou fundo do outro lado do telefone, aguardando a amiga se acalmar ao mesmo tempo em que tentava juntar maneiras de ajudá-la.
- Quer que eu vá aí? A gente pode sair, almoçar juntas, pensar em algo para passar o tempo. Não vai ser a mesma coisa, mas pelo menos você não vai ficar pensando nisso.
- Não precisa, você deve estar cheia de coisas para fazer.
- Não. Claro que não! Acha que eu ia preferir fazer qualquer coisa a deixar minha amiga se entupindo de chocolate e televisão o dia inteiro?
- Ei! – riu, passando a mão pelo cabelo. A gola de sua camisa estava encharcada. – Como você sabe que esse era o meu plano infalível?
- Não seja boba, . Esse era o meu plano infalível! - ouviu gargalhar do outro lado da linha. - Ou você esqueceu que eu também estou sem o meu zinho?
- É verdade, é verdade. – Riu mais uma vez, levantando-se da cama. – Bem, então acho que seremos só nós duas.
- Yep! Vai ser ótimo, você vai ver.
- Que horas vai passar aqui?
- Entrando no banho e já passo aí.
- Tá bom, vou te esperar. – sentiu um sorriso se abrir em seu rosto por ouvir a voz da amiga mais tranquila. – A propósito, obrigada, Gi.
- Estamos aqui para isso – respondeu ela, satisfeita com seu feito. – E ah, nós vamos ao shopping! Já que somos só nós duas, que tenhamos um dia realmente nosso.
aumentou seu sorriso, concordando com a cabeça mesmo sabendo que a amiga não podia vê-la.
- Parace ótimo. Te vejo daqui a pouco.
- Beijos, amiga.
- Beijo, flor.

desligou o telefone sorrindo, contente, em parte, por dividir o dia com sua melhor amiga. Aquele não seria nem de longe o dia que ela esperava, mas passá-lo com outra pessoa que ela amava lhe parecia muito mais apropriado do que passar o dia remoendo uma coisa que não a levaria a lugar nenhum. Ainda com vontade de chorar, relembrando o porquê aquilo a magoava tanto, começou a se arrumar.
Já estava quase pronta quando o barulho do telefone chamou sua atenção. Saiu correndo em direção à cama, batendo o pé na quina e xingando alto por isso, seu coração acelerando na esperança de ser o .

// Amiga, mil desculpas, mas eu não vou poder almoçar com você hoje. Minha mãe passou mal e eu terei de levá-la ao hospital. Eu te aviso quando voltar. Enquanto isso, tenta não pensar em... Bem, de qualquer forma, meu celular estará ligado o dia inteiro. Se precisar conversar, estarei aqui. Ps.: Sempre. Xx //

A jovem mulher se jogou na cama ao ler a mensagem, deixando as costas relaxarem no colchão confortável abaixo de seu corpo. Seria um dia difícil.
Andou até a cozinha, procurando alguma coisa para almoçar e em menos de vinte minutos já tinha juntado tudo quanto é ingrediente em uma refeição de gosto um pouco duvidoso. Sentou-se à mesa, olhando para frente e sentindo um vazio enorme por não tê-lo ali com ela, e começou o seu almoço, quase jantar, solitário.
Acabada a refeição, trocou a roupa, substituindo seu vestidinho florido, que havia colocado para sair, por um pijama qualquer, e se direcionou para o sofá.
Deixou seu corpo cair de qualquer jeito enquanto se preparava para apertar constantemente os botões do controle remoto.
Ela sabia que para deixar o dia ainda melhor, todos os filmes que passariam hoje seriam sobre os mais lindos dos romances, o que acabaria por fazê-la cogitar afogamento. Pena que não tem muito o que eu possa fazer.

Um barulho estridente na casa fez despertar de um pulo. Sentindo uma leve dor na coluna e as costas úmidas devido às altas temperaturas do verão, ela se sentou no sofá, os ouvidos tomados pela campainha que ressoava na sala.
Utilizou o controle remoto para saber que horas eram e se assustou quando já passava das seis. Levantou e vagarosamente andou até a porta.
- Gi?
- Porque eu sabia que você estaria assim? – entrou, passando os olhos por todo o apartamento que não se encontrava na mais impecável situação, e balançou a cabeça em sinal de reprovação. – Vai se arrumar, nós vamos dar uma volta. Chega de curtir essa fossa.
- Mas Gi...
- Ande logo, . Você tem 15 minutos.

- ’s -

Olhei para sem acreditar. A única coisa que eu queria era dormir o restante do meu dia e parar de sentir aquele maldito aperto no coração toda vez que pensava sobre o assunto. Eu já havia aceitado que aquele seria o pior dia que eu tivera em oito anos. O que tem demais aceitar isso? Eu podia muito bem lidar com o fato de que dormir o dia inteiro seria de longe o melhor a se fazer.
De qualquer forma, como a boa menina que eu sou, obedeci. Andei até meu quarto e já estava encarando há cinco minutos o armário sem nem mesmo me mexer quando entrou no quarto com a cara entediada.
- Agora você só tem seis minutos. Vai tomar seu banho, eu pego uma roupa pra você. – Ela sorriu, aquele jeito cínico que só ela sabia fazer. – Anda logo!
- E se eu não quiser tomar banho?
- O que? – Levantou uma sobrancelha, aumentando ainda mais aquele sorrisinho desagradável. – Agora além de rainha do drama é porca também?
Ouch.
- Eu não sou a rainha do drama! – Sua expressão mudou, e eu pude ler nos seus olhos o segundo em que se arrependeu por ter falado daquela forma; ela, mais do que ninguém, mais do que o próprio aparentemente sabia, sabia o quanto aquele dia significava para mim.
- Então é só uma porca? – Eu ri, claro. – Vai logo tomar banho, eu já estou com fome, vamos parar em algum lugar para comer também.
Eu assenti e entrei no banheiro. Tomei meu banho em pouco mais do que o tempo estipulado e, quando saí, percebi que não estava ali. Olhei para a cama e vi meu vestido de praia estendido nela. Sorri, me lembrando de que fora ela mesma quem me dera.
Coloquei minha roupa e andei até a cozinha procurando por ela. Esperei menos de três minutos sentada no sofá e apareceu com um sorriso de orelha a orelha.
- Era o no telefone. – Ela sorriu mais ainda e eu me vi obrigada a retribuir o gesto. – Vamos?
Assenti e quando estava passando pelo seu lado, ela segurou o meu braço e me lançou um olhar quase perturbador. Sorriu logo em seguida, me abraçando como se a sua vida dependesse disso. Percebi o nó na garganta se formar novamente e me afastei, cravando o sorriso ali novamente.
- E então? Aonde vamos?
Seus olhos mostraram um brilho mais do que evidente à minha expressão leve.
- Advinha?
- Não faço nem idéia.
- Nem ideia? – fez uma cara fofinha, lembrando claramente um elo perdido entre um cão sem dono e um bebê abandonado. – Não mesmo?
- Nope.
Sua expressão se fechou entediada.
- Nos vamos para o nosso cantinho.
Não pude deixar de sorrir genuinamente quando ela mencionou o nosso cantinho. Fazia uns bons dois anos desde que estivéramos lá a última vez. Era aniversário de uma amiga nossa e as duas haviam bebido além da conta naquele dia. Os meninos estavam em turnê, então éramos só nos duas de novo. Realmente não sei como conseguimos, mas comigo no volante, dirigindo a vinte quilômetros por hora devido ao estado embriagado, chegamos ao nosso pequeno santuário e tivemos uma das noites mais incríveis de nossa amizade. Aquele lugar era mágico.
A viagem era longa e o caminho propício, caso estivesse seguindo sozinha, para algum acidente inesperado ou algo parecido. Foi por isso que não me deixou dirigir, alegando que achava que eu estava abalada o suficiente para causar um acidente por falta de atenção ou coisa parecida.
Ela não deixou em momento nenhum a viagem se tornar desagradável. Ou silenciosa. Muitas vezes se empolgando e cantando toscamente as músicas que o pior CD que já fora gravado tocava, mas ainda assim animada o suficiente para me fazer rir durante todo o percurso.
A essa altura eu já havia admitido que ia ser legal ter esse tempo com ela. Depois que os meninos começaram as turnês, mesmo nos dias que tínhamos somente uma a outra, nunca podíamos fazer passeios como esses. Nós tínhamos trabalho, família para visitar, fofocas para evitar, uma série de coisas que roubava a nossa atenção o suficiente para adiar nossos encontros particulares até a próxima turnê. E a próxima. E a próxima.
Suspirando, reconhecendo o quanto seria bom ter um tempo com minha melhor amiga e percebendo-a mais uma vez se empolgar com uma música breguíssima que começava na rádio, enchi meus pulmões de ar e comecei a acompanha-la.

Não passaram duas horas, ou pelo menos não parecia, e o sol já havia sido substituído por um número incontável de estrelas. Aquela era sem dúvida uma noite maravilhosa.
- , faz um favor para mim? – apontou com a cabeça para o banco de trás. – Tá vendo aquela sacola? Pega ela pra mim, por favor?
- Claro. – Fiz o que ela pediu, trazendo a sacola para meu colo.
- Agora abre. – Ela voltou sua atenção para mim e abriu um sorriso. – E escolhe qual você quer?
- Oh meu deus! Eles são lindos! – Encarei boquiaberta os xales mais lindos que eu já tinha visto em toda a minha vida.
- São, não são? – Seus olhos brilhavam tanto quanto os meus. – Eu pensei que fôssemos precisar. Você sabe, praia a noite pode ser frio.
- Com o calor que tem feito? – perguntei, sorrindo. – Eu duvido. Mas aonde você conseguiu eles?
- Uma amiga minha viajou e trouxe para mim. Anda logo, escolhe qual você quer! – Ela revirou os olhos, como se fingisse impaciência.
- Hm... Eu quero o laranja. – Peguei o xale em mãos, o tecido acariciando os meus dedos, e o coloquei sobre meu pescoço.
Quase que na mesma hora senti o pano me esquentar, me acolhendo de um jeito gostoso.
- Ficou lindo. – sorriu, voltando sua atenção para a estrada logo em seguida.

Chegamos uma hora depois. Eu já estava ficando com fome, mas não ia falar nada para não deixar a chateada. Ela tinha pensado em tudo e de acordo com o plano, logo iríamos comer. Descemos do carro e assim que o cheiro familiar de maresia me invadiu, senti meu corpo inteiro relaxar. Somado ao frescor da mata virgem ao nosso redor, essa era um das minhas fragrâncias favoritas.
- Vamos? – falou ao passar a minha frente, começando a trilha que daria na praia.
Ela conhecia o caminho tão bem quanto eu e, se não fosse pelas milhões de vezes que estivemos ali, a escuridão quase total do lugar tornaria nosso caminho realmente difícil.
Caminhamos por uns cinco minutos. Eu já estava prestes a ver o mar por entre a mata quando algo desviou completamente a minha atenção. Senti minha respiração falhar ao mesmo tempo em que meu coração acelerou desconsertado em meu peito, minhas mãos estremecendolevemente ao que meus olhos piscavam freneticamente sem acreditar no que viam. Quanto mais eu me aproximava, mas certeza eu tinha de que aquilo era real.
A menos de cinco metros de mim, quatro tochas estavam acesas iluminando a cama de colchas vermelhas acima da areia. Uma boa quantidade de almofadas coloridas formava um quadrado quase perfeito, na qual a borda era coberta com elas. Conforme fui me aproximando, pude perceber que toda a colcha estava coberta por pétalas e a cada canto, juntamente com as almofadas, havia uma garrafa de champangne e um cacho de uvas. Senti um cheiro doce, estranhamente conhecido por mim, - incenso Dama da Noite - invadir meu nariz ao mesmo tempo em que uma sensação de desespero invadiu o meu corpo. Virei-me para trás, procurando por , mas, por alguma razão, ela não estava mais lá. Tinha simplesmente desaparecido. Senti uma vontade quase que incontrolável de chorar e, quando estava prestes a ir embora, uma figura me fez paralisar.

xxx


- Eu fiquei com medo de você não vir. Achei que a não ia conseguir te tirar de casa. – sorriu, se aproximando lentamente. – Eu preciso me lembrar de agradecer à ela mais tarde.
Manteve o ritmo de sua caminhada até ficar a alguns passos de . Percebeu seus olhos sendo desviados para o lugar que as tochas iluminavam, e abriu um sorriso.
- Eu fiquei pensando... – Com os olhos presos nos seus, abriu os braços e os jogou para o alto, demonstrando o lugar. – Quanto tempo levaria até você perceber tudo. Eu fiquei pensando o quão idiota eu ia me sentir caso isso acontecesse.
Ele continuou a observá-la, imóvel a poucos passos, e engoliu a seco. De tão perto já conseguia ver que estava prestes à chorar.
- Mas você não descobriu. Você passou o dia inteiro pensando que eu tinha esquecido o dia que eu espero desde que conheci você. – respirou fundo, tragando a mistura de seu incenso favorito com a do perfume do homem que amava. – Confesso que isso é um pouco decepcionante, .
apontou com a cabeça para o lugar que preparara com todo o cuidado que tinha.
- Eu tentei fazer um lugar que chegasse a altura do quão linda você estaria hoje. – Revirou os olhos, aumentando o sorriso. – O quão tolo eu sou por sequer tentar tal absurdo?
finalmente chegou até onde o aguardava, passando a ponta dos dedos levemente por seus braços descobertos, percebendo um leve estremecer do corpo à sua frente. Segurando o impulso de não beijá-la, colocou as mãos em cada lado do rosto de e fitou seus olhos.
- , eu... – iniciou.
- Shhhhh.... – colocou o indicador sobre seus lábios, os deixando ali enquanto aproximava suas bocas. – Não fala nada. – Roçou os lábios nos dela, a suavidade causando arrepios. Seu coração se apertou ao sentir o salgado amargo das lágrimas. – Vem?
Segurou a mão de , afastando seus corpos e a guiando para a espécie de lounge que montara. Virou-se para encará-la novamente, seu coração batendo forte dentro do peito.
- Eu quero ver um sorriso. – Sussurrou , a expressão serena. – Eu preciso do seu sorriso.
deixou mais uma lágrima escapar e sorriu maravilhada para os olhos a sua frente.
abriu o seu próprio e a puxou pela mão até o centro do local. Colocou a mão dentro do bolso e respirou fundo. sorriu quando reconheceu a música.
- Espero que seja especial o suficiente. – Com um sussurro, segurou novamente o rosto a sua frente e juntou os lábios nos dela.
A sensação do contato tão familiar se alastrando por sua pele, passou a mão lentamente pelos braços de , arrepiando-os enquanto suas bocas se moviam em perfeita sincronia. Parou de arrastá-las, e puxou o xale para cima, puxando-o pelo pescoço de enquanto essa o fitava em reverência. Voltaram a se beijar e delicadamente foi deitando o corpo de sobre a colcha, o seu corpo por cima do dela. Sentia seu coração acelerado por dentro da camisa e, sabendo que sentiria frio quando o vento batesse nas costas, arrancou-a, dando espaço para que se apoiasse sobre os cotovelos. Ela sorriu observando cada parte do corpo dele, deixando-o quase constrangido como sempre fazia.
- Me explica como... – Sussurrou , segurando a mão dela e a colocando por seu peito nu. – você ainda me deixa assim...
segurou seu rosto e o beijou, arrastando levemente as unhas por suas costas. Sentiu se arrepiar na hora com o movimento e, sendo mais rápida do que ele, desviou os beijos para seu pescoço. Parou um segundo de beijá-lo, tragando fortemente o ar, o cheiro que emanava dali, e mordiscou delicadamente o fazendo estremecer acima dela.
Ainda segurando o seu rosto, ela parou de beija-lo e o direcionou para o seu, prendendo o seu olhar no dele. Um sorriso brotou em ambos os lábios e ela não foi capaz de segurar o que estava entalado desde que chegara.
- Eu achei que você tinha esquecido...
- Ei... – passou a língua por sua orelha, ouvindo a respiração aumentar em seu ouvido logo em seguida. – Eu nunca esqueceria.
- Mas você disse que ia ter que ir com os meninos... Eu tinha brigado com você...
Ele riu revirando os olhos e juntou seus lábios novamente, dessa vez de uma forma não tão delicada, e foi correspondido na mesma hora. deslizou suas mãos por toda a coxa de , apertando-a e alisando conforme as encaixava em seu corpo.
Sentindo a necessidade aumentar enquanto tinha a língua de deslizando perfeitamente por seu pescoço, empurrou sua bermuda para baixo, ficando somente com suas boxers. Entre mais uma troca de olhares sorridentes, começou a puxar seu vestido para cima, enquanto o acompanhava beijando cada parte que se descobria.
- Não... – Falou antes que pudesse passar o vestido por sua cabeça. – Está frio...
Ela sorriu, balançando levemente a cabeça.
- Eu não me importo, .
E deixou que seu corpo semi-nu se encontrasse com a temperatura baixa do ambiente. sorriu ao ver o corpo da mulher completamente arrepiado e depositou um beijo aonde supostamente se encontrava o seu coração.
- Ele já é seu bobinho. – sorriu, tendo seu sorriso interrompido no momento seguinte pela boca dele.

- ’s -

With your face and beautiful eyes
And the conversation with the little white lies
And the faded picture of a beautiful night


Sentir nossos corpos completamente unidos sempre me trouxe a certeza de que eles se pertenciam. Sentir sua respiração ofegante, meu coração acelerado, o gosto de seu corpo em minha boca, a minha garganta gemendo o seu nome, a dele dizendo que me ama... Era uma imensidão de sentimentos e sensações que eu jamais poderia explicar, equiparar ou mesmo entender.
Era difícil até mesmo para mim, que o tivera por tanto tempo, aceitar o quanto cada vez que eu o tinha a minha necessidade aumentava. Era como se há quanto mais tempo eu o conhecesse, mais tempo seria que eu iria querê-lo. Como se houvesse alguma forma. Como se eu fosse capaz disso.
Acabamos de nos amar e antes mesmo de colocar a sua camisa, se apressou em me ajudar a colocar o meu vestido. Suas mãos estavam levemente trêmulas, o que me fez rir um pouquinho e optar por fazer isso eu mesma enquanto ele colocava sua roupa.
Ainda que não tivesse sentido frio nenhum durante nosso ato, a temperatura do ambiente havia caído drasticamente desde que chegamos.
sorriu e depositou um beijo em minha testa antes de desfazer seu abraço quente, o que me deu brecha para reclamar, e voltou com duas taças e uma garrafa de champagne logo em seguida. Não consegui me controlar e ri novamente da forma que suas mãos faziam tremer a taça, ao mesmo tempo em sentia peninha por vê-lo com tanto frio.
- Que tal deixar a champagne para mais tarde? – Ele devolveu um sorriso, assentindo lindamente enquanto eu o obrigava a largar as taças no chão e o trazia para dentro de meu xale, sua cabeça recostando em meu peito.
Ficamos ali um tempo, observando as estrelas que hoje só não brilhavam mais do que os olhos de . O tamanho das coisas que queimavam em meu peito estava começando a me incomodar um pouco, mas, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a voz mais bonita do mundo se pronunciou;
- Você viu que tudo tem quatro? – perguntou, confessadamente me deixando confusa. – São quatro tochas, quatro champagnes, quatro taças, quatro almofadas de cada cor.
Ele ficou em silêncio novamente. Eu também, sem entender.
- E tem nós dois. – Segurou meu rosto pelo queixo, me obrigando a encará-lo. – Dois é um número bom, você sabe...
Quis rir com o comentário, mas o deixei continuar.
- Até porque, são dois que transformam o quatro em oito.
não falou mais nada. Permanecemos em silêncio por que eu não sabia como responder.
- Eu gostaria de saber... O que fez você ficar aqui comigo hoje, já que você estava tão decepcionada. Quero dizer, porque você veio quando eu pedi?
- Oras–
- Você viria cada vez que eu te chamasse?
- E você não viria?
- Mesmo se você não pedisse.
Senti meu coração se contorcer, e naquele momento era como se ele fosse explodir. Como se não coubesse dentro dele tudo o que eu podia sentir. Tudo que ele me fazia sentir.
- Eu amo você. – depositou um beijo em minha bochecha. – Mas isso, você já sabe.
- E por acaso tem mais alguma coisa que eu preciso saber? Eu também amo você.
- Tem. – Ele não continuou com o pensamento. – Mas antes, eu preciso saber se você gostou? Se foi–
- Shhhh... – Coloquei minha mão em sua boca e subi meu rosto para fitar seus olhos. – Foi mais do que isso, .
Antes que ele pudesse responder, voltei para a posição anterior, recostando minha cabeça em seu peito. Sendo embalada por sua respiração.
- Eu preciso perguntar outra coisa... – De repente, as batidas em meu ouvido se aceleram de uma forma quase preocupante. Mesmo a sua respiração, que antes era calma e constante, parecia completamente descompassada agora. Esperei que ele falasse, mas o silêncio o dominou.
Subi meu rosto e ele estava de olhos fechados, apertando-os fortemente assim como fazia com minha mão em seu peito.
- ?
After everything I must confess:
I need you


Ele sorriu quando percebeu que eu o olhava e, como se fosse possível, seu coração acelerou ainda mais.
Senti uma superfície gelada sob minha mão e o meu coração parou;
- Casa comigo?


The End


Nota da autora: Totis ♥
huhu. Essa fic ficou meio bleh, né? hahaha tô sabendo! Mas, como vocês podem ver, ela está escrita há SETE anos. Isso mesmo, essa data aí não é a toa, ela foi escrita em 2008. hahaha O que quer dizer que eu tinha apenas 17 aninhos quando escrevi ela, sdds.
Resolvi postar nesse especial por que se tem uma coisa que a Tay Tay faz é escrever song-fic, né? Me dá peninha de ver o especial dela com música sobrando! A história não tinha tanto a ver (claro, não foi escrita pensando na música, né), mas como já estava escrita, fomos. Ela tem um ar muito diferente das minhas fics hoje, mas né... ah, 17 anos.
Enfim, espero que tenham gostado um pouquinho.

All the love, J.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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