06. Walks Like Rihanna

Última atualização: 15/03/2021

Capítulo Único





“Have you seen that girl? Have you seen her?
She's the freakiest thing, you gotta need her
You'll do whatever it takes to get her by your side”




Ninguém estava muito feliz de ter acordado tão cedo, ainda mais pra passar o dia gravando, e aquilo era visível na face dos idols enquanto entravam na van. Chanyeol ainda parecia estar dormindo, Junmyeon notou com um pouco de divertimento. Sehun estava com certeza dormindo, considerando que o líder estava segurando o peso do maknae – que, além de tudo, ainda era mais alto – desde que eles saíram do dormitório. Dos outros, o mais acordado parecia ser Jongdae, mas era difícil dizer com os óculos de sol e a máscara cobrindo a maior parte do rosto dele.
Preparação para comeback, porém, era sempre corrido, e dormir não era uma palavra no vocabulário do EXO enquanto o período durasse. Eles todos haviam aprendido a descansar quando possível e enfrentar o resto com muita cafeína e força de vontade.
Ou eles podiam fazer como Baekhyn, que esparramou-se atravessado nos colos de Jongin e Kyungsoo sem nem mesmo pedir permissão e voltou a dormir, a cabeça enterrada no estômago de Jongin – que era bonzinho demais para expulsá-lo. Kyungsoo, que normalmente acabaria com a palhaçada, parecia estar determinado a guardar a reserva limitada de paciência para o que prometia ser um dia extremamente longo, e deixou Baekhyun fazer o que bem entendia.
– Folgado. – Minseok comentou baixinho, sentando-se do lado de Jun e levantando uma sobrancelha quando viu Sehun dormindo no ombro do líder do outro lado. – Melhor dizendo, folgados.
Cobrindo um bocejo, Junmyeon se virou e empurrou a cabeça de Sehun pro outro lado, para que o maknae parasse de babar em sua camisa.
– Deixa os dois. Se eu tentasse impedir, eles iam ficar insuportáveis por metade do dia. Melhor deixar que durmam agora pra estarem mais tratáveis depois.
– Não posso argumentar, nesse caso. Chanyeol ainda vai estar subindo pelas paredes em dois tempos mas, pelo menos, a viagem até o estúdio vai ser na paz.
Com um sorriso fraco, o líder fechou os olhos e inclinou a cabeça pra trás.
– Sinceramente, espero que sim. O dia promete ser... Complicado, pra dizer o mínimo.
Minseok arqueou uma sobrancelha, mesmo sabendo que Junmyeon não iria ver.
– Algo que você queira dividir com a turma?
– Diretor novo, aparentemente. Manager-hyung disse que é alguém “novo” na indústria, com ideias “inovadoras”. Você sabe o que isso significa.
O desespero silencioso de Minseok quase podia ser sentido no ar. Junmyeon não o culpava nem um pouco – ele entendia muito bem o sentimento.
– Desde que não envolva cropped. Ou glitter. Ou alguma combinação demoníaca dos dois. – O mais velho quase implorou.
– Ah, hyung. Agora você tentou o destino.



– A gente vai ter que usar glitter, não vai? – A devastação na voz de Minseok quando eles entraram no estúdio e deram de cara com a equipe trazendo props e equipamentos de gosto duvidoso pra dentro do lugar chamou a atenção até mesmo de Sehun, que continuava determinado a distender o pescoço, tentando dormir no ombro de Junmyeon.
– Não perca as esperanças ainda, hyung. As meninas do RV também estão preparando pra comeback, não estão? – As chances eram mínimas da preparação não ser pra eles, mas era da natureza do rapaz tentar ver lados positivos em tudo. – Às vezes, estão trazendo isso pra elas.
Atrás de Junmyeon, Jongin, bufou uma risada.
– Se alguém tentar colocar Joohyun-noona em um vestido rosa de pelinho, esse estúdio vai virar uma cena de crime.
Ninguém podia discordar daquela observação, embora Junmyeon particularmente achasse que as outras meninas não hesitariam em ajudar a esconder o corpo. Elas pareciam todas fofas, mas ele ainda não estava convencido de que não eram secretamente parte da máfia. Yeri principalmente. Ninguém era fofa daquele jeito a troco de nada.
– Parem de reclamar, é só um vestido. – Sehun resmungou, esfregando o rosto contra o moletom do líder.
– Como você sabe, Sehunnie? Tá de olho fechado. – Yixing, que ainda não tinha tirado os olhos da tela do celular desde que acordou, comentou.
Baekhyun deu um tapa na cabeça do maknae, concordando.
– Além do mais, ninguém precisa saber dos seus fetiches, pelo amor de Deus.
Vendo que a discussão poderia facilmente escalar para uma briga física, Kyungsoo interferiu. A maneira calma dele impunha respeito mesmo sendo mais novo que a maioria, e Junmyeon sempre estava grato pela ajuda em controlar o que era, basicamente, uma creche. Em momentos como esse, ele tinha vontade de mandar uma cesta de chocolate pra Taeyong.
– Que tal a gente sair do meio do caminho e descobrir se veremos Chanyeol em drag hoje?
– Ei! Por quê eu, hein? Sehun que falou que queria usar o vestido de pelinho...
– Tá colocando palavras na minha boca agora, eu não falei nada disso não, pode parar...
– Cadê o respeito com o seu hyung, Sehunnie? Vamos precisar te colocar no seu lugar?
– Ih, lá vem o Baekhyun defender a honra do Chanyeol-hyung, como sempre...
– Crianças, pelo amor de Deus. Tá muito cedo pra esse estresse. Ninguém vai usar vestido de pelinho, se acalmem. – A voz de Jongdae conseguiu colocar um pouco de ordem e Kyungsoo aproveitou a deixa pra conduzir o maternal pra área onde a equipe os esperava.
Empurrando Sehun naquela direção para que seguisse com os outros, Junmyeon respirou fundo e apertou a ponte do nariz.
Yixing demonstrou solidariedade com um tapinha de leve nas costas largas do líder.
– Hoje, o dia vai ser longo.
– E quando não é? Tá muito tarde pra voltar no tempo e rejeitar a isenção militar? – Ele questionou com um outro suspiro, resistindo bravamente à tentação de gritar.
– Pelo menos, você ainda teve a opção. Vamos... To achando que o Baekhyun vai aprontar alguma coisa. Não confio naquele sorriso dele.
– Maravilha, só uma quarta-feira normal então.



“It's not the way she smiles with a little laugh
It's not the way she looks in a photograph
But all the boys, they crowd around”




A ausência de um incêndio quando Junmyeon e Yixing se aproximaram do resto do grupo serviu para alarmar o líder muito mais do que acalmá-lo. Com sono ou não, era muito difícil os colegas de grupo estarem quietos quando juntos. O silêncio só podia significar uma coisa: eles estavam aprontando.
Curioso e um pouco preocupado, ele levantou uma sobrancelha e lançou um olhar na direção de Yixing, que deu os ombros e sacou o celular novamente, efetivamente deixando Junmyeon sozinho para lidar com o que esperava por eles. Antes que ele pudesse chegar no meio do burburinho, a cara de divertimento de Jongdae, que estava um pouco separado do resto, o fez parar.
– Eu quero saber o que tá acontecendo ali? – Junmyeon perguntou, já resignado.
Não devia ser nada sério, já que Dae não parecia alarmado mas, ainda assim, não podia ser nada bom.
– Depende. Você vai ficar encantado também? Porque eu to tendo a impressão de que vou ser o único com a cabeça no lugar durante essas filmagens.
Franzindo o cenho, Junmyeon se preparou pra perguntar, mas Kyungsoo escolheu aquele momento pra mexer-se e liberou a visão do líder para o que havia chamado a atenção de todo mundo.
Honestamente? Eles não estavam de todo errados.
A mulher parada no meio do círculo de membros do EXO era estonteante, na humilde opinião de Junmyeon. Os cabelos sedosos estavam arranjados de maneira elaborada, claramente para complementar a roupa de palco que usava – e essa era infelizmente combinava com a extravagância afetada dos props que eles haviam notado anteriormente. Mesmo assim, ela conseguia fazer com que o vestuário trabalhasse pra ela, o salto espalhafatoso acentuando as pernas torneadas, o short curto chamando atenção para a cintura fina e o top brilhoso mostrando uma quantidade quase indecorosa do colo.
Junmyeon teve que desviar o olhar por um momento, até assegurar-se de que o decote não ia tão baixo assim. Certamente, o diretor novo era estrangeiro, assim como a mulher em questão.
Ela parecia estar confortável com o traje, embora um pouco confusa com a atenção que recebia. Não era pra menos, já que, entre Chanyeol e Baekhyun, qualquer pessoa ia sentir-se meio perdida. Eles não paravam de falar, disputando a atenção da mulher, enquanto os outros – inclusive Kyungsoo e Minseok, pra surpresa de Junmyeon – tentavam acalmar os dois beagles, mas tentando direcionar a atenção da moça para eles mesmos.
Jongdae riu, apertando os lábios.
– Tá vendo? Eu não acho que o Sehun fechou a boca desde que colocou os olhos nela.
Considerando que Junmyeon mesmo não tinha certeza se não estava de boca aberta, não tinha nem como culpar o maknae.
– Quem é? Nunca tinha visto antes pela empresa.
Normalmente, os dançarinos que eles utilizavam eram ou profissionais contratados pela SM ou trainees que precisavam de um pouco mais de experiência antes de debutar. Querendo ou não, a maioria era familiar para os membros, mesmo que só de relance. Naquele instante, Junmyeon tinha certeza absoluta de que não era o caso. Ele se lembraria se tivesse encontrado-a em qualquer outro lugar anteriormente.
– É porque, pelo que eu entendi, ela é uma contratação bem recente. Às vezes, a empresa decidiu expandir os horizontes. – Dae deu os ombros, tirando discretamente uma foto de Minseok se comportando como uma dama vitoriana quando a moça em questão jogou os cabelos sobre os ombros, expondo ainda mais a clavícula. – O nome dela é e o diretor só falta deitar no chão pra ela pisar em cima. Não que ela esteja aproveitando... Na verdade, parece mais desconfortável que o Sehun falando com a Joohyun.
Os olhos ainda mirados em , Junmyeon bufou. Realmente, ela parecia estar contemplando fugir, talvez desacostumada com tanta atenção. Considerando o que Jongdae havia dito, era algo a favor dela. Afinal, pessoas com muito menos bajulação começavam a agir como divas de vez em quando, era bom saber que a pessoa com quem trabalhariam não tinha esse estilo.
– O visual está em dia. – Ele admitiu, limpando a garganta quando Jongdae o pegou lançando mais um olhar apreciativo para a figura de . – Talvez as coisas não estejam tão ruins assim pro nosso lado.
De olho na expressão abobalhada de Chanyeol, que tentava intrometer-se na conversa sem dúvida confusa que e Yixing estavam mantendo, Jongdae fez um barulho de quem duvidava.
– Quando você vai aprender a não falar essas coisas, Junmyeon?



“She can't sing
She can't dance
But who cares
She walks like Rihanna”




– Isso está sendo um desastre! – Jongdae sibilou perto do ouvido de Junmyeon, quase sete horas depois, tentando manter o sorriso agradável no rosto, mas o cansaço estava ganhando. – Estão tentando fazer a gente desistir da carreira?
Vacilando ligeiramente frente às palavras, Junmyeon lançou um olhar quase desesperado em direção à equipe técnica, que estava toda chovendo elogios em cima de já que tinham feito uma pausa. Ele não conseguia ver o rosto da mulher, mas isso não importava.
O que importava era que a gravação não iria terminar naquele ano se dependesse do talento dela. Ou, melhor dizendo... Da falta de talento dela.
O que tinha de linda e carismática, ela tinha de desajeitada. Como ela havia sido contratada como dançarina na SM, cujos padrões eram insanos, era um mistério pra todo mundo. Ela não conseguia acompanhar, era tão dura como uma pessoa que nunca dançou na vida e, toda vez que precisava fazer um acompanhamento de voz, Junmyeon tinha vontade de processar o professor de canto dela.
A pior parte era que parecia que ninguém estava vendo. Não, isso não era verdade. Junmyeon conseguia claramente ver a frustração da equipe, o desespero do diretor, e a vergonha compartilhada dos membros cada vez que eles precisavam reiniciar a mesma sequência. Porém, ao invés de comentarem, os assistentes de produção e o diretor não cansavam de dizer o quão bem ela estava indo, o quão talentosa ela era e como a presença de deixava tudo melhor. Os meninos não eram muito melhores, mesmo cansados de tanta repetição. Baekhyun assumiu a culpa por erros três vezes seguidas, Chanyeol parecia perto de pegar a mulher no colo, Jongin tentava a todo custo ajudá-la sem parecer que estava fazendo isso, e até mesmo Kyungsoo, que tinha pouca paciência, mentiu na cara dura ao dizer que não sabia o que estava dando de errado e que era um prazer estar trabalhando com ela.
Nem mesmo Sehun, que era um amor, mas ficava insuportável quando cansado, cumpriu seu papel natural de dar chilique e fazer bico até que alguém – normalmente, Junmyeon – resolver o problema. Chegou perto, algumas vezes, mas um olhar pro rosto desolado de quando o diretor pediu pra pausar mais uma vez e Sehun desistia de protestar.
As coisas estavam ficando totalmente fora de controle. E, pra piorar, o conceito era ridículo e envolvia glitter.
Os outros se aproximaram, bebendo água e tentando não demonstrar muito o cansaço e a frustração, enquanto o diretor conversava e aparentemente dava instruções a . Junmyeon tinha certeza de que nenhum conselho conseguia dar talento a alguém, infelizmente.
– Pensa positivo, Dae... Pelo menos, ninguém está usando vestido. – Junmyeon tentou brincar, pra deixar o clima menos pesado.
Yixing fez um barulho do fundo da garganta, rindo. Ele, como todos eles, não aguentava mais, porém as mensagens quase constantes que recebia estavam deixando-o de ótimo humor.
– Eu me voluntariaria pra usar vestido se isso significasse que o dia ia acabar mais cedo. Se eu precisar ver Minseok fingir tropeçar mais uma vez por motivo nenhum...
Jongdae cortou, educação inata entrando em conflito com a exaustão e a vontade de acabar com o dia de uma vez.
– Alguém precisa falar pra ela que ela é péssima.
Ao mesmo tempo, Jongin, Sehun e Chanyeol protestaram.
– Não se atreva!
– E se ela chorar, hein? Já parou pra pensar nisso? Você realmente quer ver a chorando? – Baekhyun completou, concordando.
Com isso, até mesmo Jongdae pareceu ficar balançado, enquanto Kyungsoo assentia como se Baekhyun tivesse tocado no ponto mais importante de todos. Minseok parecia horrorizado com a possibilidade e até mesmo Yixing havia tirado os olhos do celular por um momento, dividido.
– Vamos... Dar mais uma chance – Foi o veredito de Junmyeon, que estava relutante em deixar as coisas continuarem como estavam, mas também não tinha a mínima intenção de fazer a beldade chorar.
Mais do que isso, ela parecia estar estressada o suficiente e a expressão de desalento que ele havia identificado no rosto dela dizia muita coisa.
– Daqui a pouco, vamos parar pra comer alguma coisa. Se nada mudar, a gente fala alguma coisa. Combinado?
Com graus variados de contentamento, todos os membros concordaram e começaram a prepararem-se mentalmente pra quando a pausa acabasse. Ninguém queria mais algumas horas de tortura, porém a ideia de machucar os sentimentos de era... Bem, ninguém queria ser o instrumento de crueldade.
– Como pode alguém ser tão bonita e ser tão burrinha, eu me pergunto. – Sehun contemplou, em voz alta, fazendo com que todos os membros olhassem pra ele.
O silêncio que reinou era pesado com incredulidade e, se Junmyeon não conhecesse Sehun tão bem, ele diria, com certeza, que aquilo havia sido ironia. Mas não, não era. Ele realmente...
– Pois é, Sehun. Beleza e burrice andando juntas. – Kyungsoo olhou para o maknae intensamente enquanto falava, sem expressão. – Quem diria que isso era possível, não é mesmo? Nunca vi acontecer.
Provando o ponto do mais velho, Sehun balançou a cabeça.
– Uma pena. – E, com isso, saiu em busca de mais uma garrafa de água.
Foi Jongin o primeiro a quebrar o silêncio com uma risada que praticamente explodiu do peito e, logo, todos os outros se juntaram, como se fosse contagiante. Serviu bastante para quebrar toda a tensão do descontentamento que eles estavam sentindo, pelo menos um pouco. O momento foi impecável, já que, logo depois, a voz do diretor soou pelo estúdio, chamando-os novamente pra gravar.
Junmyeon suspirou. Se nada mudasse, alguém teria que conversar com . E ele tinha a péssima impressão de que ele sabia quem seria esse alguém.



“Have you seen that girl? Have you seen her?
With the way she moves, you wanna kiss her
She'll be the girl of your dreams if you can close your eyes”




Embora Junmyeon soubesse que ele precisava falar com , e urgentemente, ele não estava muito preparado para dar de cara com a mulher quando foi buscar um lugar mais calmo para comer.
O plano para acabar com o desastre que estava sendo a gravação era simples: chegar em e gentilmente apontar que o problema, no geral, era ela. Como fazer isso sem parecer um monstro, ele não fazia a mínima ideia. Mas era necessário, a situação estava insustentável. Mais do que isso, ele estava bem curioso quanto ao que estava acontecendo ali no geral.
A proteção que estava sendo dada a por parte da equipe era surreal. A última coisa que Junmyeon queria era que machucassem os sentimentos dela, que só tinha sido um doce de pessoa o tempo todo, mas os elogios eram descabidos. Mais do que isso, eles estavam lidando em nível profissional, e nem mesmo entrava no espectro amador, não daquela maneira. Doçura e força de vontade à parte, aquele não era o lugar dela. Mas quem deveria prezar pela qualidade e talento dos envolvidos... Parecia não estar vivendo na mesma realidade que o resto deles.
Tinha alguma coisa ali, alguma coisa que ele não estava entendendo, e Junmyeon iria descobrir.
Ele só não esperava ser tão rápido assim.
Sentada num canto com um container de salada na mão e encarando a parede, estava . Fora das luzes fortes do estúdio e da pressão de todos os olhos sobre ela, parecia... Menor. Quase frágil, mesmo nos saltos vertiginosos. A maquiagem a deixava meio pálida, destoando da pele vibrante, e os lábios pintados de carmim precisariam ser retocados antes de voltarem – ela, ele apostava, estava mordendo os lábios constantemente.
Pigarreando, Junmyeon trocou o peso de um pé para o outro enquanto esperava que o notasse, algo que ela fez com um susto, os olhos tão diferentes dos que ele estava acostumado arregalados.
– Ah! Já precisam da gente de novo? – fez menção de levantar, parecendo que queria fazer qualquer coisa menos voltar a gravar.
Junmyeon pôde identificar-se.
– Não, não. – Ele gesticulou para que ela voltasse a sentar, situando-se no chão de frente para , porém mantendo um espaço respeitoso entre eles.
A última coisa que Junmyeon queria era deixá-la desconfortável. Mais desconfortável do que ela já estava.
– Só estava procurando um lugar mais tranquilo, espero não incomodar.
deu um sorrisinho fraco, colocando uma mecha longa dos cabelos para trás da orelha.
– Não incomoda, por favor. Sinto que não tive um minuto para agradecê-lo por hoje e me apresentar. Com os outros membros, eu consegui conversar bastante.
Junmyeon não conseguiu conter a risadinha. Ele não estava menos encantado pela mulher, com toda a sua beleza e como ela chamava a atenção de uma maneira muito positiva. Mas, de certo modo, isso tudo contribuiu para que ele fizesse o contrário dos meninos. Enquanto eles se atraíam por como mariposas seriam atraídas por uma chama, Junmyeon se sentia quase... Acanhando pelo brilho da mulher. Ele queria que ela soubesse que não era a beleza que atraiu-lhe, pelo menos não depois do primeiro momento.
Foi o jeito que ele a viu sorrir das piadas escandalosas de Baekhyun, o brilho nos olhos grandes ao observar Jongin dançar e a maneira doce com que havia falado com as staffs que serviram o almoço, agradecendo calorosamente.
– Ah, isso é culpa minha. Acabei ficando mais nas laterais, tentando organizar tudo, e não dei muita oportunidade de conversa. – Ele sorriu, abrindo a própria comida e fazendo um barulho apreciativo quando viu o interior. – Podemos consertar isso agora, se você quiser.
Junmyeon se curvou ligeiramente na direção de , ainda sorrindo.
– Olá, eu sou Kim Junmyeon e é um prazer estar trabalhando com você.
abaixou a cabeça para esconder um sorriso, os dentes brancos mordendo os lábios vermelhos ligeiramente.
– O prazer é meu, Kim Junmyeon. Meu nome é Hwang . Por favor, cuidem de mim hoje.
Os dois trocaram um olhar longo, os sorrisos quase espelhos um do outro, antes de desviarem o olhar para a comida, em sincronia. Fazia tempo que Junmyeon não se sentia assim, tão atraído por alguém e, ao mesmo tempo, tão... Acanhado. Ele era normalmente bem suave quando estava interessado em alguém, capaz de flertar com discrição e charme. Mas, por algum motivo, era diferente nesse momento.
– Há quanto tempo você trabalha na SM, ? Tenho certeza de que me lembraria de tê-la visto antes nos corredores.
A mulher riu baixinho, espetando um tomate cereja com o garfo.
– Faz menos de dois meses. Eu acabei de voltar pra Coreia, terminei a faculdade recentemente.
Faculdade... Junmyeon duvidava que era relacionado a dança. E dois meses era muito pouco tempo, especialmente considerando que o EXO não era um grupo rookie e os dançarinos escolhidos para auxiliá-los eram normalmente veteranos também.
– E está gostando de estar de volta? Se não se importa que eu pergunte, onde você estudou? – Junmyeon estava realmente curioso, a parte da inevitável necessidade de conversar com ela sobre a parte profissional.
Ele queria saber mais sobre essa mulher, especialmente quando havia notado que ela tinha covinhas.
Fazê-la chorar não era uma opção.
– Na London Film School. Fiquei até terminar meu mestrado, mas meu pai queria que eu voltasse o mais rápido possível. – Ela não parecia muito feliz, mexendo em sua salada sem vontade. – Talvez, eu retome os estudos aqui na Coreia, mas eles são notoriamente rígidos com estudantes formados no exterior.
– Mas você é coreana... Certo? – Junmyeon não sabia se era rude perguntar, porque ela não parecia coreana, mas tinha sobrenome e parecia ter sido criada no país. – Por que eles não te aceitariam?
– Sou, em todas as maneiras que importam. Eu acho. – A expressão no rosto de era curiosa e fazia com que o nariz dela se enrugasse de maneira adorável.
Ela parecia muito mais bonita assim, ali, longe do glamour das luzes e com a maquiagem precisando de retoque.
– Não é nada com a nacionalidade, ou a falta dela. É que eles se sentem meio ofendidos quando coreanos escolhem estudar no exterior. Então vão ser muito mais estritos comigo e com o meu currículo.
O rapaz assentiu, entendendo o raciocínio. A Coreia tinha muito orgulho de suas universidades e realmente poderia parecer que havia “passado” uma universidade coreana por uma estrangeira. Ela devia ter seus motivos, mas Junmyeon não achava que isso ia importar muito para os outros.
– Cinema e dança, então? Interesses bem artísticos, mas distintos. O que te levou a entrar pra companhia ao invés de investir na carreira filmográfica?
Era, realmente, só uma pergunta de curiosidade. Mas Junmyeon se arrependeu imediatamente quando viu o rosto de desabar. A mulher desviou o olhar, claramente tentando controlar-se – sem sucesso nenhum. Desesperado, ele pensou em abraçá-la ou chamar alguém, qualquer coisa.
Acabou contentando-se com pedir desculpas.
– Mil perdões, eu não queria tocar em um assunto sensível ou te criticar de nenhuma maneira, por favor...
o cortou com uma risadinha pesada de choro. Minseok iria acabar com a raça dele por fazê-la chorar.
– Não, não, eu que peço desculpas. Sei que a gravação está sendo horrível, que eu estou sendo péssima e dificultando a vida de vocês. – Ela se recompôs ligeiramente, piscando rapidamente e ainda recusando-se a olhar para Junmyeon. – Eu não devia ter cedido quando meu pai insistiu... Eu sei que não estou nem perto de ser passável, quanto mais boa o suficiente para acompanhar o EXO. Eu realmente peço perdão por todo o desconforto e preocupação que causei hoje.
Na cabeça de Junmyeon, uma imagem bem clara e preocupante começava a pintar-se. Ele tinha percebido de cara que não parecia estar confortável ali, era nítido para qualquer um... Mas ficava ainda mais claro que ela não havia escolhido participar daquilo tudo.
Gentilmente, ele tocou o queixo da morena com o indicador, levantando a cabeça dela um pouco para que eles pudessem se olhar nos olhos.
– Por favor, não chore. Não quero ultrapassar os limites e te abraçar, mas não terei outra opção se isso acontecer. – Junmyeon praticamente implorou, tirando um sorriso fraco de .
– Eu sabia que iria desapontar todo mundo. Implorei pro meu pai para não forçar, que eu treinaria duro por anos como ele queria, mas que não me colocasse para fazer nada, mas ele... – Ela respirou fundo, o brilho de lágrimas nos olhos diminuindo, pro alívio de Junmyeon. – Ele sabe que eu... Ah... Sou fã do trabalho de vocês, e achou que isso seria um ótimo presente pra mim. Mesmo sabendo que eu não tenho talento e não é o que eu quero.
A culpa e vergonha no olhar dela estavam dando em Junmyeon uma imensa vontade de sacudir o tal pai, para que ele visse o que estava fazendo com a filha. No final, eram os desejos dele que tomaram prioridade, não o que queria e precisava.
– Você nem mesmo gosta de dançar, gosta? – A pergunta era gentil, tão gentil quanto o toque que Junmyeon ainda não havia cessado.
balançou a cabeça em negativa, mechas macias dos cabelos se soltando e acariciando a mão dele levemente.
– Acho lindo, mas nunca foi algo que eu me vi fazendo. Meus joelhos que o digam, não acho que vou conseguir andar por dias depois de hoje. – Ela fez uma careta e Junmyeon não pode deixar de sentir-se preocupado. – Tentei as audições da SM umas três vezes, para agradar meu pai, mas nunca passei. Não que eu os culpe, você viu o que aconteceu hoje.
Embora o idol quisesse discordar, era difícil. Dançar realmente não era o forte de . Nem de perto. Como ela parecia mais resignada do que chateada, ele não se sentiu tão mal em concordar.
– Eu... Tinha certeza de que seus pontos fortes estavam em outros lugares além da dança. E do canto.
A risada de foi muito mais leve e verdadeira naquele momento. Ela não parecia nem um pouco ofendida com as palavras. Encantado, Junmyeon moveu a mão para ajeitar o cabelo dela, deliciando-se com o jeito que a respiração da mulher prendeu por um momento.
– Estão em lugares bem longe, você tem razão. Mas meu pai... Ele é um dos diretores da empresa e o sonho dele era que eu acabasse como idol. Acabei decepcionando-o por anos, e agora mais uma vez. – Ela suspirou. – Mas está insustentável desse jeito. Não dá pra forçar uma coisa que claramente não é pra ser.
Novamente, ela parecia desolada, culpando-se por algo que não era culpa dela de nenhuma maneira. Removendo a mão com pesar, Junmyeon balançou a cabeça.
– Não, não dá, mas não é culpa sua. Você não pediu para estar aqui, ou para que as pessoas mentissem pra você quando a verdade seria mais benéfica. E eu espero que você saiba que isso não é um reflexo de quem você é. Ninguém é bom em tudo.
Junmyeon tinha certeza de que estaria corando, se isso fosse possível.
– Isso não é verdade. Não acho que exista alguma coisa que você não consiga fazer com maestria. – A morena devolveu, desviando o olhar com um sorrisinho encantador.
– Tem sim. Não pareço conseguir te manter sorrindo, por exemplo. – Ele brincou, sem saber como seu charme tinha voltado, mas agradecendo mesmo assim.
A expressão no rosto de iluminou o ambiente, como o Sol aparecendo por trás do céu nublado. Era, Junmyeon admitia para si mesmo, uma expressão que ele queria ser a causa do aparecimento por mais vezes.
– Flertar vai pra lista de coisas que Kim Junmyeon é muito bom em fazer, já estou vendo.
– Desde que você não divida a lista com ninguém. Um pouco de mistério é necessário às vezes.
Eles trocaram um olhar cúmplice, cheio de divertimento, ambos confortáveis naquele momento embora não se conhecessem muito bem. Algo que Junmyeon estava mais do que disposto a mudar, o quanto antes.
– Seu segredo está a salvo comigo, desde que o meu esteja com você.
– Não se preocupe com isso, por favor. Mas quero te ajudar, mesmo sem contar pra ninguém. Você não está feliz com o que está acontecendo, e eu não consigo imaginar que vá melhorar.
suspirou, concordando ao dar de ombros.
– Nem um pouco. Mas não sei se existe alguma coisa que possa salvar a situação. A não ser que eu, magicamente, ganhe uma habilidade sobrenatural em dança. E o diretor crie bom gosto repentinamente. Glitter... Meu Deus.
Naquele momento, Junmyeon se sentiu muito mas muito vingado em todos os seus pensamentos nem um pouco caridosos sobre o conceito do MV. Se a formada no assunto estava dizendo, queria dizer que não era só implicância de como o glitter pinicava.
– Eu achei que era o único que estava totalmente horrorizado com o que ele está tentando fazer. O conceito terrível acabou caindo pra segundo plano, considerando os problemas, mas nenhum dos meninos está feliz com ele.
– Não, não... Nem mesmo os assistentes conseguem engolir. De certa maneira, eu entendi o que ele está tentando fazer, mas a abordagem está completamente errada. – Havia um quê de desespero na voz de , algo que só um profissional muito apaixonado pelo que fazia poderia entender.
De repente, o rapaz estava muito interessado em saber a opinião dela sobre o assunto. Na verdade, ele queria saber tudo sobre : o que ela pensava, o que fazia com que ela risse, se o rosto dela se franzia daquele jeito fofo quando estava dormindo também.
Ele se pegou imaginando o quão mais baixa ela seria sem o salto e se precisaria ficar na ponta dos pés para beijá-lo.
Tentando livrar-se dos pensamentos que não cabiam no momento – pelo menos, ainda não – Junmyeon focou no que ele podia ter no presente.
– E como você faria diferente? Tenho certeza de que você tem ideias próprias e que elas são muito melhores.
Sem graça, ela apertou os lábios e deu os ombros.
– Duvido. Ele tem muito mais experiência do que eu e conhece melhor a indústria. Minhas ideias são só isso, ideias.
Inclinando a cabeça, Junmyeon se aproximou um pouco até que seus joelhos se tocassem, sorrindo de maneira encorajadora para a mulher, resistindo à urgência de tocá-la.
– E por serem suas ideias, eu quero ouví-las. Por favor?
Incapaz de resistir, se deu por vencida e começou a falar, devagar e hesitante de início, mas ficando cada vez mais animada quando percebeu que tinha a atenção exclusiva de Junmyeon.
Ele, por sua vez, descobriu que queria passar o resto da vida admirando tão excitada por algo que amava.



Convencer os outros membros, assim que foram chamados de volta para o estúdio, foi extremamente fácil. havia sido levada para a maquiagem, onde inevitavelmente arruinariam toda a beleza natural dela com muito produto e fariam com que ela ficasse intocável novamente. Embora o líder lamentasse a situação, isso lhe dava a oportunidade de ouro que precisava.
Arrastar os beagles para um canto onde pudessem conversar foi mais difícil do que realmente conseguir aprovação para o plano. Afinal, todos ali estavam meio apaixonados por – por motivos fúteis, na opinião dele – e queriam que ela ficasse feliz. Se isso também fosse fazer toda a gravação do MV andar e impedisse que colocassem mais glitter no abdômen de Jongin... Seria também muito bem-vindo como efeito colateral.
– E você tem certeza de que ela vai topar? – Foi Sehun quem perguntou, surpreendentemente pensativo.
Junmyeon correu os dedos pelos cabelos.
– Certeza, eu tenho de que ela vai ficar surpresa e achar que não merece. Mas eu ouvi as ideias dela, a paixão dela... É a melhor opção que temos. E não digo a menos pior, a melhor mesmo. Confiem em mim, o que falta de talento na dança, a esbanja em criatividade.
– Você disse que ela vai banir o glitter? – Jongin perguntou, parecendo um homem no final de suas esperanças.
– Definitivamente.
– Topo.
E, fácil assim, eles tinham um plano.



Colocar o plano em prática foi um pouco mais difícil, mas o manager já estava mais do que saturado do trainwreck que era a gravação inteira. Mais que isso, ele havia aprendido a confiar nos instintos de Junmyeon quanto ao que era melhor para o grupo, e só hesitou um pouco antes de fazer algumas ligações e conseguir o número do pai de .
Àquele ponto, ele estava mais do que atrasando a gravação, porém não era mais importante. Não era como se nada estivesse sendo feito de maneira útil mesmo e, se tudo desse certo, o dia iria acabar ali.
Nunca uma conversa por telefone havia abalado tanto os seus nervos, mas o homem do outro lado da linha não só era, tecnicamente, um dos chefes de Junmyeon, mas também era o pai de . E, por mais que ele tivesse conseguido manter-se no script e direcionar a conversa a vias extremamente profissionais, usando todo seu charme e poder de convencimento para conseguir o que queria... Bem.
O líder temeu, o tempo todo, acidentalmente pedir a mão de em casamento a Hwang Hyukjae.
Se o homem aceitasse, não seria de todo ruim. Mas ele tinha uma missão e – ainda – não tinha um anel.



Foi divertido constatar que, assim que o diretor, confuso com o desenrolar dos eventos, avisou que o dia de gravação havia chegado ao fim e seria retomado no dia seguinte, olhou diretamente para Junmyeon. A sobrancelha impecável estava arqueada, a expressão claramente dizendo ‘o que foi que você fez?’.
Achando tudo muito divertido, ele apenas fingiu que não sabia de nada, provavelmente não enganando ninguém, mas nada podia fazer sobre isso. Afinal, imediatamente, ela foi cercada por membros do EXO que estavam mais do que ansiosos para ter mais um momento com ela antes que fossem para caminhos diferentes.
Talvez Junmyeon devesse sentir ciúmes das atenções dela. A questão era que os sorrisos que ela dirigia a Baekhyun e a facilidade que ela tinha de responder Yixing nem mesmo comparavam-se com o momento quase íntimo que tiveram naquele corredor frio e muito iluminado menos de uma hora atrás.
Ele tinha certeza de que o que haviam dividido era diferente, mais significativo. Algo que era só deles, por mais que fosse uma coisa bem boba por enquanto.
No futuro, em um futuro bem próximo, se dependesse dele, Junmyeon gostaria de dividir muito mais com . Descobrir novas coisas sobre ela, levantar outros tópicos, fazê-la rir de novo e de novo. No momento, porém, era mais do que suficiente saber que havia sido ele em quem ela escolheu confiar.
O futuro podia esperar.
Cansado, ele apenas acenou e sorriu pra ela enquanto seguia os outros até a van, imaginando a cara de surpresa dela no dia seguinte.
A manhã não podia chegar rápido o suficiente.



– Não é possível, deve ter alguma coisa errada. – franziu o cenho, apertando os olhos e tentando ver algum erro que levaria àquela confusão nos caracteres impressos na folha da prancheta. – Eu sou parte do suporte de dança...
Balançando a cabeça, a nova assistente de direção sorriu educada.
– Não, senhorita Hwang. Houve uma mudança na equipe de ontem pra hoje e você está listada como a nova diretora.
As palavras, conseguia escutar, sem nenhuma dificuldade. Processá-las, porém, era outra coisa. Nada disso fazia sentido na mente de .
– Eu não tenho experiência. Nunca fiz nada parecido fora da faculdade, não posso aceitar isso. – Os protestos tinham um fundo de desespero, a enormidade da situação caindo como um balde de água fria em cima da mulher.
– Seu currículo é mais que adequado e a falta de experiência não será um problema. A equipe foi montada pensando nisso e vai te dar todo o suporte e ajuda necessária para que a sua visão se traduza em vídeo. – A voz calma da assistente estava deixando ainda mais estressada.
Como eles haviam feito tudo aquilo tão rápido? não fazia a mínima ideia... Mas é claro. Seu pai. A única pessoa em quem conseguia pensar que tinha tanto poder assim era Hwang Hyukjae, e era bem a cara dele interferir dessa maneira. O que não estava explicado era como ele havia tido uma mudança tão repentina, de insistir que ela fosse pro caminho de uma idol para aceitar que o coração de estava em outro lugar.
Ela abriu a boca para perguntar, mesmo sabendo que provavelmente não teria uma resposta da outra mulher, quando movimento no canto do olho chamou sua atenção.
Os membros do EXO, parecendo um grupo extremamente atraente de mortos vivos, estava entrando no estúdio. E, bem no meio, segurando Oh Sehun de pé, estava Kim Junmyeon.
As peças se encaixaram.
podia muito bem sentir-se traída pela intromissão ou incomodada com a liberdade que ele havia tomado. Porém, depois da breve, mas interessante conversa que eles tiveram... A morena não pôde deixar de entender que era apenas uma coisa: Junmyeon estava tentando cuidar dela.
Pelo pouco que conhecia do idol, a mulher tinha certeza de que estava certa. Kim Junmyeon tinha visto que ela estava infeliz, percebido o que ela realmente queria, e feito o seu melhor para tornar aquilo realidade.
E , às cinco e meia da manhã de um dia que prometia ser o mais estressante dos últimos anos, não pôde deixar de sentir o coração pular uma batida e o estômago se encher de borboletas.
Os olhos deles se encontraram, cruzando o cômodo, acidentalmente, e segundos se passaram antes que eles quebrassem a conexão, a atenção de Junmyeon necessária para evitar que Byun Baekhyun infernizasse a vida de Kim Minseok. Ao mesmo tempo, a assistente limpou a garganta discretamente, fazendo com que piscasse e voltasse a prestar atenção nela.
– Por causa do atraso de ontem, precisamos começar imediatamente, senhorita Hwang. Sinto muito que você não tenha tido muito tempo para se preparar, mas o tempo é curto. – A mulher se curvou ligeiramente, parecendo nervosa.
Com um último olhar na direção de Junmyeon, sorriu para a outra mulher e assentiu.
– Entendo. Muito obrigada pelo apoio, vamos fazer o nosso melhor. Pode, por favor, me apresentar para a equipe? Quero agradecê-los pela ajuda e começar a dar as instruções.
Haveria tempo para conversar com o anjo responsável por aquela mudança depois. Naquele momento, precisava provar que ele não havia errado em dar a ela essa chance.



“You can feel that beat, when she's in the room
You can feel your heart, going boom boom
And all the boys they crowd around”




Os dias que seguiram-se foram basicamente um borrão. Por mais que quisesse tirar alguns minutos para conversar com o líder do EXO a sós, o dia perdido de gravação somado à mudança total no conceito do MV deixaram tudo extremamente corrido. Tanto ela quando Junmyeon tinham muito o que fazer e nenhum momento pra respirar, por um segundo que fosse.
Sorrisos trocados em segredo, olhares cheios de significado e a promessa de algo mais quando a loucura acabasse eram tudo o que eles conseguiam e... estava bem ok com isso. Claro, ela queria poder agradecê-lo por tudo, ouvir a voz dele novamente e quem sabe ele não iria segurar a mão dela? Mas a oportunidade que ele a havia dado era muito incrível para que não fizesse o seu melhor, e ela sabia que ele esperava que ela aproveitasse ao máximo também.
Ainda assim, cada vez que eles interagiam, por mais breve que fosse, tentava demonstrar o quão feliz ela estava. E se os sorrisos que ela recebia de volta eram alguma indicação, Junmyeon sentia o mesmo.
Claro que nada podia mudar a maneira como o coração dela batia mais forte quando estavam perto ou os arrepios ao sentir o perfume dele no ar. Nada impedia de fantasiar, cansada ao chegar em casa depois de um dia gratificante e exaustivo, como seria ter o toque leve de Junmyeon em seu rosto e seus cabelos novamente. Era impossível manter os pensamentos em ordem quando não havia a correria das gravações para mantê-la distraída e não fazia a mínima ideia do que faria quando tudo acabasse e voltasse ao normal.
Era isso que pesava na mente da mulher quando ela adentrou o estúdio no último dia das gravações do MV, apenas algumas cenas faltando para fechar tudo e passar pra pós-produção.
Os saltos batiam ritmicamente contra o chão polido, mais altos do que os que ela havia usado quando ainda posava de dançarina. Haveria, ela tinha sido informada, uma confraternização no final do expediente, e a mulher havia decidido arrumar-se um pouquinho mais. Nos últimos dias, livre da necessidade de usar o figurino, havia preferido roupas confortáveis e mais despojadas, embora o look mais casual não significasse que ela tivesse deixado de importar-se com a aparência. Não por questões fúteis ou pra continuar chamando a atenção dos membros do EXO que, por algum motivo, não pareciam se cansar dela.
Não, ainda fazia um esforço porque a apreciação clara de Junmyeon quando ele notava o que ela estava vestindo fazia com que ela arrepiasse. A mudança sutil nos olhos escuros justificava os minutos extras que ela gastava na frente do espelho e ter que acordar um pouco antes.
Naquele dia, o grupo havia chegado mais cedo para tirar as fotos promocionais do MV, aproveitando que já estavam caracterizados, e encontravam-se reunidos no lounge quando chegou, esperando. A conversa cessou quase de imediato e, como ela já tinha acostumado-se durante os dias de gravação, foi bombardeada pela atenção de quase todos os membros.
Era meio surreal e nem um pouco lógico, mas havia aprendido a seguir com o ritmo. Era bastante lisonjeiro ter a atenção de tantos homens maravilhosos, mas também impossibilitava que ela pudesse falar com quem realmente importava. Além disso, todo o encanto dos meninos com ela era superficial, na melhor das hipóteses. Não que isso fosse algo ruim, é claro, mas já havia passado da fase de perder a cabeça por essas coisas.
– Bom dia! Tem um food truck de café e massas folheadas estacionado aqui na frente, como minha maneira de agradecer pelo trabalho duro de vocês nesses últimos dias e pela paciência comigo. – Ela se curvou para os rapazes, todos mais velhos que ela e muito mais experientes na indústria.
Minseok sorriu, gentil como sempre, nem mesmo parecendo que havia admirado a maneira como andava segundos atrás.
– Não precisava, , mas obrigado. Especialmente pelo café, eu não acho que eu consigo ficar acordado sem cafeína hoje.
Ela cobriu uma risada com a mão, gesticulando na direção do pátio.
– Imaginei mesmo. Não estou em uma posição muito melhor mas, pelo menos, eu não tenho dor muscular pra enfrentar junto com o cansaço. Vocês merecem muito mais e espero que consigam descansar um pouco quando terminarmos hoje.
Baekhyun apareceu, quase que do nada, perto do ombro esquerdo de , divertindo-se com o gritinho de susto que ela não conseguiu abafar.
– Desculpa! Achei que você tinha me visto. – A risada dele era contagiante demais para que ficasse brava, então ela só rolou os olhos levemente. – Você vai beber com a gente mais tarde, né? Prometo guardar um lugar pra você do meu lado.
Ele piscou e teve que virar o rosto pra esconder a expressão divertida. Ao contrário do charme elegante de Junmyeon, Baekhyun tinha a mesma sutileza de uma marreta.
– Não perderia a comemoração por nada, pode deixar. E obrigada pela consideração, mas...
foi interrompida pela voz de Sehun.
– Mas ela vai se sentar comigo, óbvio. Entre você e Chanyeol-hyung, deixariam ela com dor de cabeça de tanto falar.
As palavras, é claro, acenderam o pavio de mais uma discussão sem pé nem cabeça, possibilitando que a voz de Jongin a alcançasse.
– Não liga pra eles, por favor. Você pode se sentar onde quiser, sem nenhuma obrigação. – A expressão quase tímida era incrivelmente charmosa e, se não tivesse completamente perdida por Kim Junmyeon, ela tinha certeza que teria derretido-se ali mesmo. – Mas ficarei feliz se tiver sua companhia pelo menos parte do tempo.
foi salva de responder pela chegada do resto da equipe de filmagem, felizmente podendo assumir a postura profissional sem se sentir mal. Ela, porém, lançou um sorriso da direção do dançarino.
– Ok, vamos fechar isso então? Falta bem pouco. – Ela bateu palmas uma vez, animada para terminar seu primeiro trabalho independente.



Frustração não era bem a palavra que Junmyeon usaria para descrever como estava sentindo-se, mas ela chegava bem perto.
Era fácil aceitar que ele não teria a tenção de durante as gravações. Afinal, ele havia sido o responsável por mexer os palitinhos no plano de fundo para que ela assumisse a responsabilidade da direção e ele sabia que isso a deixaria bem ocupada. E, para ser sincero, Junmyeon apreciava a oportunidade de observar em seu elemento, todas as dúvidas e preocupações esquecidas na correria de fazer com que tudo desse certo. Ela brilhava, tanto na competência quanto na óbvia felicidade de estar fazendo o que amava, e Junmyeon jamais tentaria entrar no caminho disso.
Era mais do que suficiente, pelo momento, ser espectador da alegria da mulher.
Mas ele havia contado os minutos até o último corta que ouviriam, até que ele finalmente pudesse ter um momento a sós com depois de tudo. Junmyeon queria ouvir da boca dela como os dias haviam sido, como ela estava sentindo-se depois de tocar o MV com maestria, queria poder aquecer-se no calor da felicidade dela mais de perto. E, teoricamente, a confraternização seria o momento perfeito para o fazer.
Exceto que os membros não deixavam em paz.
A todo momento, um dos meninos queria a atenção da mulher, que via-se incapaz de recusar e parecer rude. E quando não era um dos membros, era alguém da equipe de direção. Diferente da anterior, que só via como uma dançarina incompetente que eram obrigados a bajular mesmo com todo o trabalho que ela dava, a nova equipe conhecia a mulher como a diretora rookie que era humilde, doce e talentosa, que trabalhou com eles de maneira eficiente e profissional para fornecer um resultado impecável.
Eles adoravam , de maneira diferente do que os membros do EXO, e atraíam a mulher para discussões técnicas e criativas toda vez que ela finalmente conseguia desvencilhar-se de um dos idols.
Nesse ponto, Junmyeon já estava perdendo as esperanças de conseguir trocar meia palavra que fosse com a morena.
Suspirando, ele se virou para Yixing, que mostrava foto dos gatos para Jongdae, animado. Junmyeon não sabia dizer se ele estava mais bobo pelos felinos ou por quem estava cuidando deles no momento. Honestamente.
– Vou ali fora tomar um ar. Está muito quente aqui. – Ele comentou por cima da desafinação ridícula de Kyungsoo e Chanyeol cantando Spice Girls no karaokê, nem mesmo parecia que eles eram cantores profissionais. – Já volto.
A expressão no rosto de Jongdae dizia que Junmyeon não estava enganando ninguém com a desculpa fraca, mas o líder não ficou tempo o suficiente para ouvir o que o mais novo tinha a dizer. Levantando-se, ele dispensou o olhar questionador de Minseok com um gesto da mão e um sorriso fraco, escapando pela porta entreaberta e só parando quando chegou do lado de fora, encostando na parede e puxando o casaco mais fechado para combater o vento gelado.
Junmyeon fechou os olhos, suspirando novamente. Ele estava sendo ridículo. Era, tecnicamente, o dia de glória de , e ele devia estar feliz vendo todo o amor e atenção que ela estava recebendo. Depois do desastre que havia sido o primeiro dia de filmagens, era maravilhoso que tudo tivesse dado tão certo.
E ele estava feliz por ela, muito feliz. Só acontecia que ele queria poder dividir essa felicidade com a mulher em questão e ter só um pouquinho da atenção dela, por um segundo que fosse. O medo irracional de que ela fosse esquecer completamente dele não o deixava em paz, embora a parte lógica de sua mente refutasse a possibilidade o tempo todo.
Afinal, por mais que o tempo de fosse tomado por outros, não havia um momento que Junmyeon olhava para ela sem ter sua atenção retribuída, mesmo que fosse apenas com um sorriso rápido ou um olhar carregado de significado.
O barulho da porta de metal do bar onde encontravam-se abrindo e depois fechando o tirou do transe pensativo e o idol abriu os olhos para ver quem era, surpreendendo-se ao ver a figura esguia e elegante de vindo em sua direção. Ela usava um vestido azul, recatado e ao mesmo tempo provocante, delineando as curvas do corpo da mulher com maestria. Os saltos, assim como naquele primeiro dia, chamavam atenção para as pernas perfeitas, e Junmyeon não conseguia culpar os amigos por estarem tão encantados com ela.
Foram os olhos de , porém, e o sorriso quase acanhado e parcialmente escondido pelo cachecol de cashmere, que mais atraíam Junmyeon. De todos os atributos que possuía, ele tinha certeza de que a luz do olhar e a leveza das expressões eram os mais atraentes.
– Ei. – Ela disse baixinho, situando-se na parede ao lado dele, olhando pra cima ligeiramente para encontrar os olhos de Junmyeon.
realmente era baixinha, mesmo de salto.
. – Ele rolou o nome dela na língua, saboreando como se fosse a primeira vez, a expressão suavizando com a mera presença da mulher. – Fugindo da própria comemoração?
Rindo, ela ajeitou o cachecol e esfregou os braços desnudos, a respiração enevoando ligeiramente.
– Não que eu não seja extremamente grata a todo mundo pelo apoio e pelo carinho, mas estava...
– Um pouco demais?
– É, eu acho que você pode dizer isso. – Ela fez um barulhinho adorável, enrugando o nariz e trocando as pernas para tentar aquecer-se. – Além disso... Percebi que você não parecia estar se divertindo.
Tirando o casaco sem nem mesmo hesitar, Junmyeon envolveu a forma diminuta de com o casaco de lã cor de grafite, os olhos vidrados nos lábios entreabertos em surpresa. Naquele dia, havia uma tonalidade fracamente rosada neles sob o gloss cintilante.
– Mais uma pra lista dos meus defeitos, aquela que eu te contei em segredo: eu estava com ciúmes da sua atenção. – O líder admitiu, quase envergonhado, ajeitando o sobretudo para que não sentisse frio.
Ela, que ainda parecia surpresa com o gesto, ficou ainda mais perdida com as palavras. Junmyeon considerou, por um momento, que havia ido longe demais e preparou-se para pedir desculpas quando deu um passo, ficando mais perto dele. Perto o suficiente para que tudo que ele conseguisse sentir fosse a fragrância intoxicante do perfume dela.
– E eu senti falta da sua. Meia dúzia dos homens mais bonitos da Coreia disputando meu tempo e tudo o que eu queria era voltar praquele corredor frio com você e a privacidade que ele nos deu.
O coração de Junmyeon disparou, depois de ameaçar parar de vez.
– Quer dizer que eu não me encaixo entre os mais bonitos do país, senhorita Hwang? – Ele brincou, alisando as pontas do cachecol macio e deslizando a mão para cima, para afastar a franja escura dos olhos expressivos de .
– Bobo. Eu estaria aqui, no frio, pra te convidar pra fugir comigo e jantar em algum lugar se você não estivesse num outro patamar? – Foi o que retrucou, bufando e sorrindo quando viu a nuvem de condensação que formava-se à sua frente.
Junmyeon não conseguiu disfarçar a surpresa – e a felicidade – com as palavras de . Ele tinha certeza de que seu sorriso era ridículo e brilhante o suficiente para iluminar toda a rua envolta em penumbra.
– Você está me chamando pra jantar?
– Exatamente. No cartão de crédito do meu pai, nada menos que isso. É o mínimo que ele pode fazer pela gente, não acha, depois de tanto glitter e figurinos duvidáveis? – A expressão animada de era contagiosa.
Ele não conseguiu deixar de espelhá-la, a sensação borbulhando em seu estômago similar àquela de segurar a mão da garota de quem gostava no colégio pela primeira vez. Era tão diferente dos últimos anos, quando atração e desejo eram tudo o que ele sentia por outras pessoas. Mais puro, mais... Real.
– Se é assim, senhorita Hwang, it’s a date.



“Our hearts go boom boom boom boom boom (When she walks like Rihanna)
Our hearts go boom boom boom boom boom (She walks like Rihanna)
Our hearts go boom boom boom boom boom (When she walks like Rihanna)”






Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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