Última atualização: Fanfic finalizada.

Capítulo Único

Washington, DC.
25 de novembro de 2019, atualmente.

— Então você sabe que estará lá.
continuou encarando Pharah com seu olhar cético. Estava do outro lado da mesa, em sua cadeira, seus braços apoiados no tampo de vidro se mantinham na mesma posição desde que havia sentado para aquela conversa há pouco menos de meia hora. Sua irmã estava em sua frente, com aquele móvel os separando, e o discurso se tratava do único nome o qual não tinha intelectualidade suficiente para ouvir sem sentir todo seu corpo tremer em inúmeros sentimentos e sensações misturados como ingredientes em uma batedeira de bolo; o último ainda não havia sido adicionado à receita e ele sabia que o fermento para que tudo crescesse seria vê-la depois de tanto tempo.
Na próxima semana, teria uma convenção com os senadores de todo o país e ele, como dono de uma grande gerenciadora de assessores para tais membros do congresso americano, deveria estar presente no evento tão aguardado por meses. Era época de receber o período natalino e de troca de ano, com isso muitas festas eram realizadas e nos mais importantes era requisitado. O que nem sempre aconteceu; demorou para que pudesse assumir um papel importante com sua empresa e até achou que seria impossível quando, no início daquele ano, Kylian havia encerrado sua participação na sociedade e vendido sua parte para o amigo — o francês já havia ganho muito dinheiro, uma quantia suficiente para realizar seu desejo de retornar para Lile e investir em alguma coisa para turistas, então decidiu que iria se mudar. Com tal partida de Kylian, ele achou que enfrentaria complicações, porém os negócios continuaram deslanchando, principalmente com tanta indicação pelo profissionalismo de seus colaboradores, que faziam a assessoria para quem contratasse os serviços da agência.
estaria na convenção, este era o objeto do assunto entre os dois irmãos na manhã da última segunda-feira de novembro.
Não havia muito o que dissertar sobre a mulher, pelo menos para quem era próximo dele. Tinham se conhecido há cerca de dois anos, quando ela foi contratada para ser sua assistente pessoal, logo no início da agência. tinha uma aura diferente para , algo que ele nunca tinha encontrado em nenhuma outra pessoa, não só reduzido ao sexo oposto. O jeito dela de repassar para fora seus pensamentos, de se desenvolver entre as situações, mover-se por entre pessoas e locais, tudo era diferente e cativante. se sentia completamente envolvido e encantado por ela, como se fosse uma versão suave e menos sombria do flautista de Hamelin, guiando-o para um lugar que ele, por fim, acabou não encontrando.
Se fosse produzida uma versão cinematográfica desse cenário, o tempo atual de e seria representado pela consequência da quebra do feitiço gerado pela canção tocada com a flauta. Certamente a canção futura entre os dois seria o puro vácuo dele abrindo seus olhos e enxergando que nada era como pensava ser. Fantasiar demais a personalidade e caráter de alguém acaba por criar expectativas e expectativa pode gerar falsas esperanças.
O que acabou por se tornar o caso dele. E o terceiro elemento envolvido se tornou objeto de maior motivação para que a ilusão dele fosse ceifada.
Carregado pela breve lembrança, respirou fundo, tentando soar o mais genuíno em seu sentimento. Embora não se sentisse confortável em encontrar a mulher citada, sentia como se ela não lhe causasse mais desconforto pelo simples fato de sua existência. Era apenas um receio, talvez, de não saber como reagir, afinal não a tinha visto depois da noite que passaram juntos em Las Vegas, previamente ao último natal, quando ela o deixou pela manhã no hotel e foi embora, dizendo que não voltaria para a agência. trocou os planos e projetos que tanto apoiava do trabalho de para trabalhar diretamente com o senador Lincoln York; o que acabou por não ficar só no profissional, meses depois os dois estavam publicamente assumidos em um relacionamento. E lembrando dessa sequência de fatos, ao afirmar para a irmã que iria à convenção normalmente, sentiu-se confrontado pela pergunta dela.
Seria a primeira vez que a veria depois de um ano corrido.
— Sim, eu sei. — Sua voz saiu neutra, se esforçando na tentativa da resposta genuína. — E qual o problema?
Pharah maneou a cabeça para o lado direito, quase tocando sua orelha no ombro coberto pela manga do blazer rosa que usava por cima da camisa de cetim branca e de alças finas. Franziu o cenho ao estreitar o olhar para o irmão, apertando o nó nos dedos entrelaçados. Estava tentando ler a feição do mais novo e não obtendo sucesso, soltou sua respiração pesada. Não teria o que fazer, ela não acreditaria em sua fala.
— Você passou três meses em um poço sem fundo, acabado e desacreditado, não se deu bem em nenhuma outra tentativa de relacionamento durante esse período de quase um ano — iniciou a longa linha de raciocínio, voltando a cabeça de forma ereta. — E acha que vai me convencer de que estará tudo bem encontrá-la na convenção ao lado dele?
— Não vejo nenhum problema — insistiu no mesmo tom, ainda mantendo-se na posição em que estava. Os ombros relaxados tentavam soar como um letreiro iluminado para aquele assunto não se estender.
— É porque você está aí, dentro dessa bolha. Quem está de fora e te conhece, no caso eu, sua irmã, sabe muito bem que existe um bolo aí dentro. — A irmã aumentou um pouco mais a intensidade de sua invasão e, vendo-o suspirar e desviar o olhar para outro ponto, ficou quieta.
Então encontrou sua brecha. Inclinou o corpo um pouco mais para frente, com os braços ainda no tampo de vidro, e esticou sua destra para tocar a mão de sua irmã, que lhe estendeu imediatamente. Era a sintonia dos dois em ação.
— Pharah, acredite em mim, estou bem. Ela fez a escolha dela em ir com ele e tudo certo, não tem por que eu continuar fazendo disso um tapete negativo em minha vida.
— Certo. Eu vou acreditar, mas estar lá com Marcus vai me permitir ficar de olho nessa...
— Não complete — a cortou, antes que pudesse dizer algo do qual iria se arrepender posteriormente. Não era do feitio da irmã usar termos baixos. — E deixa isso de lado, está mesmo tudo bem.
— Você sabe que não pode mentir pra mim.
— E eu não faço isso. — lançou uma piscadela para ela, acompanhada de um sorriso sincero.

Las Vegas, Nevada
10 de dezembro de 2018, anteriormente.

O corpo estava suado, não parecendo que um banho longo e refrescante tivesse sido tomado há pouco. sentia o macio do colchão abaixo de suas costas ser como um bom lugar para relaxar, enquanto estava deitado com o tronco virado para cima, encarando o teto iluminado pela luz que vinha dos milhares de postes e enfeites de fachadas nas ruas de Vegas, em conjunto com a lua, que naquela noite estava mais brilhante que o mais lapidado dos diamantes. Era uma estética agradável em somatória com o que tinha acabado de praticar pela, talvez, terceira vez — ele não estava mais contando desde antes mesmo do anoitecer. Não era um viciado em sexo, mas a intimidade que dividia com era extremamente satisfatória, além de trazer para ele uma calmaria diferente. Se tratava da companhia, obviamente.
Já se faziam alguns meses desde a primeira vez dos dois naquele mesmo lugar, quando ele tinha, finalmente, perdido o medo de chegar na mulher encantadora que seus olhos sempre pairavam e externar como se sentia em relação a ela. Foi incrível para descobrir que também se sentia atraída por ele, podia equiparar a sensação como a de quando uma criança pede para a mãe ou o pai alguma coisa no mercado e a resposta é “sim”. Naquela noite, depois de uma boa diversão numa boate muito famosa da cidade dos pecados, realizou muito de seus desejos. Foi também quando se descobriu apaixonado por .
Olhava para a presença dela ao seu lado, não só ali, na cama, mas também no papel de seu braço direito na agência e se sentia extremamente agradecido a fosse lá o que ou quem tivesse sido o responsável por tudo. Não tinha um mundo em que estivesse infeliz, e em resultado de como seu estado de espírito estava, decidiu que ambos estavam em um bom momento para que ele desse outro passo, iria pedi-la em namoro, ali mesmo, depois de tomar coragem olhando para o teto e refletir sua coragem, enquanto ouvia controlar a própria respiração.
Mas foi pego de surpresa. Ao virar o corpo para a direção dela, ficando de lado, se levantava, sentando-se com os pés para fora da cama e digitando algo no próprio celular.
— Está tudo bem? — questionou, ao vê-la com uma feição concentrada e de cenho franzido. Pelo que conhecia dela, sabia que quando se expressava assim era porque algo estava acontecendo. Algo importante, errado… Por essa linha.
— Sim! — Ela voltou o celular para a mesinha de cabeceira, curvando-se para frente em sequência, para pegar a calcinha e a vestir.
— Você vai para algum lugar? — ergueu o tronco, apoiado nos próprios braços.
— Sim.
— Quer companhia? Acho que só preciso de um novo banho. — Riu fraco, já se preparando para sair da cama.
— Não. Eu vou embora. — levantou- se, ficando de frente para ele e com as mãos na cintura.
A respiração de parou momentaneamente, pego totalmente de surpresa. Tinham chegado na noite anterior e ainda havia muito o que ser feito; apesar do ar libertino e de pecados carnais que rodeava Las Vegas, ele tinha planejado algumas coisas para fazerem durante os dias que passariam na cidade antes de voltarem para Washington e se prepararem para a semana de confraternizações políticas prévias às festas de final de ano. Queria que tivesse uma boa experiência com ele em Nevada, uma com memórias para além de sexo e boates ou cassinos. E também não conseguia entender por que ela tinha que ir embora naquele momento.
— Como assim embora? — perguntou, depois de alguns segundos, levantando-se em busca de sua cueca pelo chão.
— Embora, . Para Washington.
Estava nos pés da cama, abaixando-se para pegar a peça íntima e, ao ouvi-la, seu tronco já voltou a ficar ereto. O rosto virou para a direção de e ele não conseguia raciocinar direito, seu cérebro só trabalhava em uma linha: seria o momento de pedi-la em namoro?
— Mas nós chegamos ontem, temos mais dias por aqui...
, eu tenho que voltar — o cortou, indo atrás de suas roupas.
Ele continuou na mesma posição, vendo-a sumir para dentro do banheiro com as roupas em mãos. Demorou um pouco para se vestir com a peça íntima e segui-la.
— Eu não estou entendendo. Aconteceu alguma coisa com sua família? — perguntou, parando na porta, enquanto estava de frente com o espelho, penteando o cabelo.
— Não — ela suspirou, deixando a escova em cima da pia e se virando para ele. — Eu recebi uma proposta de trabalho para assessorar o senador York de forma privativa.
— Ah… — A boca de se entreabriu e ele não conseguiu formular algo a ser dito naquele mesmo instante.
— Eu sei que você e a agência irão continuar decolando, . Mas essa oportunidade é única e… — outra vez suspirou, levando a mão até o ombro dele para tocá-lo de forma casta. — Não posso perder.
Pelo raciocínio lógico, isso significava que teria de se mudar e viver em movimento com Lincoln York por todo o país. Mas esse não foi o único pensamento que lhe acometeu, logo em seguida se lembrou das coisas que sabia sobre o membro do congresso. Lincoln York não era muito bem conhecido de forma mais interna por ser um homem muito honesto. Afinal, que político era?
Logo, sua preocupação rondou este fato.
— Mas você sabe quem é Lincoln York. — Sua voz saiu um pouco mais firme do que o normal.
— Sim. E não é nada do que dizem.
— Como você pode ter certeza? — devolveu rapidamente, sem pensar duas vezes.
— Porque eu o conheço de verdade, não do que dizem por aí.
— Desde quando você e Lincoln se conhecem? — Ele franziu o cenho.
— Bem, ele é um cliente da agência. Devo te lembrar quem foi que trouxe ele? — A voz de saiu em tom óbvio.
enrijeceu a postura, assumindo uma feição não muito comum para quem o conhecia. Não era um homem muito sério e grosseiro, pelo contrário, em seus trejeitos carregava um carisma e tranquilidade, era do tipo que ouvia e refletia antes de deliberar qualquer pensamento insólito e, ou, até mesmo ser grosseiro. Mas naquele momento, ouvir e ver a forma como estava dizendo para ele sua decisão, o deixou frustrado. Se sentiu usado, porque do jeito que ela agia em sua frente, pareceu que todas as conversas e promessas foram feitas ao vento; se lembrou de todos os momentos que ela foi a única a acreditar no projeto que tinha com Kylian, estando ali ao lado dos dois com o discurso de que cresceriam juntos.
Mas ele também poderia ter se iludido sozinho, fora de si que partiu o sentimento e o desejo, não podia dizer por ela. E se envolver com uma funcionária tinha mesmo os males que todos haviam lhe dito.
— Você estava falando com um cliente durante esses meses, ? — perguntou com a voz grossa, sério.
— Não, eu estava em contato com Lincoln York. Ele é seu cliente, não meu — rebateu, cruzando os braços. — Ou melhor, era. E não me olhe com essa cara, , nós não somos casados, não devo satisfações a você. Agora me dê licença. — Totalmente impaciente, o fez sair do batente da porta, fechando a madeira com força.
ficou parado no lugar, raciocinando o que fora aquilo e só conseguiu virar o rosto, depois de alguns segundos, para a direção do guarda-roupa, lembrando-se da caixa de veludo quadrada que havia pego na joalheria mais cara de Washington.
O colar de diamantes seria entregue para sua irmã, por fim.


Washington, DC.
07 de dezembro de 2019, atualmente.

“Então, se eu fosse você, não iria a este coquetel, convenção… Seja lá o que, , não vai durar muito mesmo”.

A voz de Marcus, cunhado de , não saía de sua cabeça. Soube no jantar com a irmã e o marido dela, um agente federal, que a probabilidade de ter alguma operação policial durante o evento com os senadores era muito grande. A maioria dos homens que estariam no local tinham ficha suja por corrupção, com os crimes mais cabulosos que não quis saber — primeiro porque de uma forma ou de outra iria saber pelos noticiários, segundo porque não se importava de jeito algum com o que estava acontecendo.
Sua agência era segura em assessorar seus clientes, todos passavam por uma espécie de entrevista e revista, ter a ficha limpa era primordial.
Estava no sofá de sua sala, com seu copo de uísque vazio, usando o terno que havia escolhido para aquela noite. Decidiu de última hora que ficaria em casa, acreditando nas palavras do cunhado. Em sua mão esquerda, caído sobre seu colo, estava o colar de diamantes que ele não pôde dar para . Na sua concepção, naquela época não fazia sentido um anel, não sendo algo necessário, mas acreditava que pelo simbolismo do momento especial que tinha em mente, uma joia seria algo a mais.
Mas ele não contava que seria um algo a mais para seu futuro, que iria assombrá-lo. Olhava todos os dias para o colar, pensando em qual ponto havia falhado e não demonstrado ser o suficiente para , que decidiu ir viver sua vida com um homem público e relações duvidosas. E embora fosse adulto suficiente para compreender que as escolhas dos outros não deveriam passar por sua alçada, sentia-se um tanto fracassado por não ter conseguido impedir que a mulher entrasse naquela vida, no círculo corrompido de York.
Agora estava ali em seu sofá, relembrando de todas as vezes que sua mãe lhe disse sobre a exatidão da vida tal como a matemática. A mesma via que levava, trazia de volta. E encarando as chamadas incessantes em seu celular que estava na mesinha de centro, misturando o som com o noticiário interrompendo o programa que passava para se iniciar com alguma notícia urgente, deixou o colar de lado, curvando o corpo para pegar o aparelho.
O nome de brilhava na tela.
Mas ele não iria atender. A canção havia enjoado seus ouvidos e sua via não era de mão dupla.


FIM



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