Finalizada: 05/03/2018

Capítulo 1

Estava terminando de trancar a porta do apartamento quando meu celular apitou, mostrando que meu Uber havia chegado e que eu precisava descer o mais depressa possível. Por sorte – ou azar – eu morava num prédio sem elevadores, e correr com saltos estava totalmente fora de cogitação.
Bom, preciso começar a explicar o motivo de estar saindo, em uma quarta-feira, sendo que no dia seguinte trabalho de oito da manhã às seis da noite.
Há algumas semanas, quase um mês, instalei o Tinder. Eu realmente entreguei a toalha e percebi que não adiantava mais sair com os amigos de minha irmã mais velha. Todos eles são machistas, alguns têm problemas com antigos relacionamentos ou são péssimos de papo. E, por favor, aquilo era tudo que eu não queria em um cara. Quem sairia com alguém que fala que, ao se casar, a mulher terá que andar vestida corretamente e não precisará de mais nenhum homem? Toda vez que me lembro desse cara eu tenho vontade de vomitar!
Enfim, há algumas semanas eu instalei o Tinder. Tive certa dificuldade no inicio e, quando menos esperava, surgiu alguém.
O cara era maravilhoso. Era empresário, bom de papo e, o melhor, não teve uma atitude machista – não até o momento – e eu estava adorando aquilo. Há alguns dias ele marcou de nos encontrarmos num bar e eu pedi para que fosse num bar de minha preferência. Por sorte, como trabalhei de garçonete durante a faculdade, conhecia um ali perto. Todos que trabalhavam ali eram meus amigos e já sabiam do encontro. Então, se eu tivesse algum problema, eu daria o sinal e eles me levariam embora ou, em casos raros e não descartados, ligariam para a polícia.
Quando entrei no Uber, pedi para que ele fosse depressa, pois estava atrasada. Acho que o motorista entendeu e o Departamento de Trânsito também. Os sinais estavam todos verdes e não havia sinal de engarrafamento, o que fez o trajeto ser ainda mais rápido.
Quando chegamos ao destino, paguei ao motorista e sai do carro, caminhando para dentro do estabelecimento. Caminhei em direção ao bar, pedindo uma caneca de chopp.
- Você está pronta para isso, ? – Barry, meu amigo e barman, indaga.
- Estou Barry. Qualquer coisa eu aviso e...
Antes que eu pudesse concluir minha linha de raciocínio, senti uma mão em meu ombro, cutucando-o levemente. Suspirei, contando mentalmente até dez e me virando. Eu deveria estar no paraíso. Aquele cara era ainda mais lindo ao vivo!
Ele deu um sorriso e seus olhos correram todo meu corpo, parando em meus olhos novamente. Dei um sorriso, examinando sua roupa por alguns segundos. Ele usava uma calça jeans escura, sapatênis e uma blusa jeans clara por cima de uma branca.
- Você é a ? – ele indaga, mexendo em seus cabelos úmidos. Assenti e ele também, mordendo o lábio em seguida. – Perdoe meu atraso. Eu sou .
- Tudo bem. Eu cheguei há pouco tempo. – falei e ele assentiu. – Quer se sentar?
E ele se sentou ao meu lado, me fazendo sentir seu perfume delicioso. chama por Barry, que prontamente o atendeu.
- Eu quero um Martini. Duplo. – ele diz. – Vamos para uma mesa ou você quer ficar aqui?
- Hum, podemos ir para uma mesa. – falei e ele sorriu. Rapidamente seu Martini veio e eu pedi outro chopp, caminhando com para a mesa, que ficava na parte mal iluminada do bar, o que não deixava de ser assustador.
- O que você faz da vida? – ele indaga, passando seu braço ao redor do sofá que estávamos sentados.
- Eu sou professora de Educação Infantil. – falei e ele arregalou os olhos. – Eu sei, é meio estranho, mas juro que as crianças são legais.
- Eu pensei que você fosse modelo ou atriz. – ele falou. – Desculpe, isso foi babaca de minha parte. Mas sério, você é muito bonita.
- Obrigada. – falei sorrindo de lado. – Acho que vou pedir alguma coisa para comer.
- Por favor. – ele diz, passando a mão no cardápio ao meu lado. – O que acha de pedirmos sanduíches e fritas? Estou com tanta fome, mal comi durante o dia.
- Somos dois então. – falei e levantei a mão, chamando Sunny, uma das garçonetes. – Sunny, você pode nos trazer dois sanduíches com fritas? Eu quero um Milk-shake de Chocolate.
- E eu também. – diz, fitando meu rosto por segundos.
- Mais alguma coisa? – ela indaga, anotando em seu bloco.
- Não no momento, muito obrigada. – falei sorrindo. Ela assentiu e saiu de perto, sumindo de meu campo de visão.
- Todos aqui te conhecem? – ele indaga.
- Ah, sim. Eu trabalhei aqui durante a Faculdade. – falei e ele arregalou os olhos. – Todos aqui são meus amigos. Eu o trouxe aqui por que é um lugar que eu particularmente adoro.
- E que todos te conhecem o bastante para saber se tem algo errado, certo? – ele indaga rindo. Assenti com a cabeça. – Esperta. Mas eu não faria algo assim.
- Eu não o conhecia. Não o conheço, na verdade. Você pode ser tudo. – falei e ele rolou os olhos, sorrindo em seguida. – Assim como você não me conhece.
- , eu acho que você não é uma maníaca ou sequestradora. – ele fala, gargalhando em seguida. – Pelo contrário, você não parece ser tão forte para me sequestrar.
- Eu posso ter capangas esperando por você no banheiro ou do lado de fora do bar. Nunca se sabe. – falei e ele gargalhou, terminando seu Martini.
- Eu confio em você o suficiente para saber que não serei sequestrado essa noite. – falou e eu rolei os olhos.
Após alguns minutos, Sunny apareceu com nossa comida. Comemos em meio a conversas, risadas e piadas sem algum sentido, mas que me faziam rir e pensar como aquele cara era incrível.
Descobri, durante a noite, que tinha trinta anos, era caça talentos e que nunca soube cantar ou tocar um instrumento. Soube também que ele tinha um apartamento em Manhattan, na Upper East Side, e saía para caminhar com seu labrador no Central Park. Ele tinha uma coleção interminável de quadrinhos, filmes e bonecos que ele guarda com todo o carinho do mundo.
- Quer dizer que você é professora de música? – ele indaga e eu assenti, terminando minha cerveja. Estávamos ali há horas, estava na minha quinta caneca de chopp e eu sabia exatamente como a noite terminaria. Bom, pelo menos eu imaginava.
- E você não sabe cantar nada? – indago e ele assentiu, sorrindo.
- Bom pelo menos algum dia você vai conhecer algum famoso que eu ajudei. – ele falou, dando de ombros em seguida.
Ficamos conversando por mais algumas horas, até que percebi que teria que agir se eu quisesse realmente ir com esse cara para algum lugar.
- Bom, acho que preciso ir embora. – falei, tentando não embolar em minhas próprias palavras. – Por sorte amanhã eu não dou aula, já estaria encrencada.
- Você vai como? – ele indaga, pegando sua carteira e colocando duas notas de cinquenta sobre a mesa.
- Eu vou chamar um Uber. – falei e ele negou, se levantando e estendendo sua mão. – O que foi?
- Eu te levo. – ele diz e eu sorri de lado, assentindo com a cabeça. Ponto para a !
Despedi-me de todos ali e logo fomos para o carro dele. Era tão bonito e tão brilhante que eu via nitidamente meu reflexo nele. Ele abriu a porta e eu entrei, colocando o cinto em seguida. deu a volta, sentando no banco do motorista e arrancando dali em segundos, deixando meu estômago revirado com a velocidade.
- Onde você mora? – ele indaga ao parar num semáforo vermelho.
- Se quiser me levar para sua casa não tem problema. – falei e ele riu. – Eu não estou lembrando onde eu moro. E acho que irei vomitar no tapete do carro.
- Tudo bem, eu tenho que lavá-lo de qualquer jeito. – ele diz, dando de ombros em seguida.
Por um momento, meu coração ficou acelerado e eu pensei na possibilidade de vê-lo lavar o próprio carro. Eu sei, é algo muito 2005 de minha parte, mas não pude controlar.
Ele logo para o carro, apertando um botão, que abria um portão gigante. Ele dava para um prédio ainda maior e bonito, totalmente diferente do meu. Suspirei e tirei os saltos, segurando-os com a mão esquerda.
Após algum tempo, estávamos no elevador. Ele apertou o botão de seu andar, que era o último. O silêncio se instalou no ambiente e eu tentei de todas as maneiras, não cair em cima dele.
Não, eu não estava tão bêbada. Ok, sete canecas de chopp são demais, ainda mais para o meio da semana.
- Foda-se. – ele murmura, segurando minha cintura e me puxando para um beijo sem fôlego.
PUTA MERDA!
Como ele era tão gostoso eu não sabia, mas seu beijo ganhava de mil em cima de todos os outros rapazes que já sai. Sua mão apertava minha cintura, puxando-me para mais perto dele. Segurei seus cabelos, puxando-os de tempos em tempos.
As portas se abriram e eu pensei em largá-lo. Em vão. Eu não conseguia e tampouco ele. abriu a porta de seu apartamento com o tato e eu sei o quão difícil foi, mas não quis largá-lo por nada.
Caminhamos e logo senti minhas costas caírem sobre algo macio, logo percebi que era o sofá. Porra, até o sofá dele era maravilhoso.
Suas mãos desceram para minhas coxas, apertando-as e fazendo um carinho tão gostoso que me fazia gemer descontroladamente. Mordi seu lábio, beijando seu pescoço e deixando ali um chupão que eu sabia que deixaria uma marca.
Estava prestes a descer a alça do vestido quando o celular de toca, o fazendo bufar de raiva.
- Vai ver é importante. – murmurei e ele negou, desligando a ligação antes mesmo de atendê-la.
Ele desceu a alça do vestido, beijando meu ombro nu. Gemi e dei um sorriso, beijando-o novamente.
Antes que ele pudesse arrancá-lo de meu corpo, o celular toca novamente. Ele bufou e pegou o aparelho, lendo o nome dessa vez.
- Fala! – ele diz, me fitando rapidamente. – Eu estou realmente ocupado. Espero que seja algo bem importante para me ligar essa hora.
Ajeitei meus cabelos, tentando não prestar atenção na conversa.
- O que aconteceu com ela? – ele indaga com os olhos arregalados. – Eu estou indo para aí agora. Qual hospital vocês estão? Não porra. Ela está doente, não é? Ela é importante.
E ele encerra a ligação, me fitando com a sobrancelha arqueada.
- O que aconteceu? – indago e ele se levanta.
- Minha sobrinha está no hospital. – ele diz, bufando e passando as mãos no cabelo. – , sério, eu nunca deixaria você, não nessa condição. Você não sabe o quão ansioso eu fiquei para que isso acontecesse.
- Ei, eu te entendo. – falei e ele rolou os olhos, beijando-me mais uma vez.
- Ela é muito importante para mim e eu não posso deixá-la na mão. Você se importa? Pode dormir no meu quarto se quiser. – ele falou e eu sorri, beijando-o mais uma vez. – Por favor, não dificulta. Já não tenho vontade de sair, você me beijando só torna mais difícil.
Ri acariciando seu rosto e tentando soltá-lo. Eu não queria, mas era necessário. Por favor, é família dele!
- Eu volto mais tarde. – e ele sai, deixando-me sozinha em seu enorme apartamento.
E não restou muito tempo, até que o sono batesse e eu pegasse no sono profundo.


Capítulo 2

Acordei com o barulho da porta abrindo e um latido. Abri os olhos, vendo a condição em que eu me encontrava: a maquiagem estava em meus dedos, meus saltos estavam pelo chão, assim como meu vestido.
Ouvi uma risada e eu levantei, pegando o vestido e correndo para algum cômodo, que logo descobri se tratar de um armário.
Ok, eu estou fodida. Ele estava com uma garota na sala e eu não podia aparecer. Coloquei o vestido e logo abri a janela, fitando a rua lá embaixo. Os carros pareciam formigas e eu senti o coração quase parar de bater.
Por sorte, tinha uma escada ao lado. Peguei toda a minha força de vontade e passo a perna pela janela, caminhando com cuidado pelo parapeito até a escada, descendo aquilo rapidamente.
Ao chegar ao primeiro andar, suspirei aliviada. Percebi que todo meu dinheiro para um transporte havia ficado na bolsa, que estava no apartamento de , deixando-me somente com a opção de caminhar até meu prédio, que ficava numa distância bastante considerável.
Quando cheguei ao prédio, senti minhas pernas doerem mais do que o habitual. Cumprimentei o porteiro, subindo as escadas até o segundo andar. Bati na porta, rezando para que minha irmã ainda esteja em casa.
Após alguns minutos em silêncio, vejo a maçaneta girar. aparece em meu campo de visão. O pijama era rosa e totalmente largo.
- O que aconteceu? – ela indaga enquanto eu entro, sentando no sofá e massageando meus pés, que latejavam a cada milésimo de segundo. – Você está bem?
- Estou. Só estou cansada. Quantos quarteirões são da Upper East até aqui? – indago, vendo minha irmã dar de ombros.
era minha irmã mais velha. Temos uma diferença de idade de quase cinco anos, mas sempre acreditei que eu fosse a mais velha. Eu era mais organizada e totalmente responsável. Já ela, bom, nem preciso dizer.
- Como foi essa noite? – ela indaga, sorrindo totalmente maliciosa. Se ela realmente soubesse o que aconteceu.
- Nada demais. Conversamos, nos beijamos e somente isso. – falei, dando de ombros em seguida.
- O quê? Como assim? Vocês ficaram somente nisso? – ela indaga. – Por quê?
- A sobrinha dele passou mal e ele teve de ir para o hospital. Mas estávamos bem perto disso acontecer. – falei, sorrindo em seguida. – Enfim, preciso preparar aulas para amanhã. Vai me fazer companhia?
- Prefiro assistir Senhor dos Anéis a passar uma tarde trabalhando com você. Estou de folga hoje, muito obrigada pelo convite. – diz, jogando-se no sofá ao meu lado.
Fui para o banheiro, tomando um banho rápido. O suficiente para limpar toda a maquiagem do meu rosto. Durante o banho, pensei no motivo de sair correndo de . Não havia motivo para tal feito, mas eu estava com medo. E se ele fosse totalmente diferente do que eu imaginei e idealizei? Ele era tão gentil, carinhoso e, pelo pouco que eu vi, deve ser ótimo na cama. Quem em sã consciência sai àquela hora de casa para socorrer a própria sobrinha? Nem em mil anos eu encontraria um cara daquele! Mas, como uma boa idiota, senti medo de uma aproximação e fugi na primeira oportunidade.
Coloquei minha roupa, pegando meu notebook e indo para a sala. assistia pela milésima vez ao filme me fazendo perder mais tempo do que eu realmente imaginava, mas nada que não fosse compensado pela beleza de Chris Pine invadindo a tela da TV.
- Um dia eu ainda caso com esse homem. – diz, mastigando a pipoca em seguida.
- Espero que você saiba dividir. – falei e ela gargalhou ironicamente.
- Você já tem o seu “Tinder Boy”. – ela falou, fazendo aspas com os dedos. Rolei os olhos, jogando pipoca em seu cabelo. – Estou mentindo?
- Cala a boca e assiste ao filme. – falei e ela deu de ombros, comendo mais pipoca.
Assim que o filme acabou, peguei meu notebook e fui para o quarto, tentando montar uma aula. Em vão. Meus pensamentos voltavam sempre para o moreno da noite anterior e naquele sorriso que me tirava o fôlego totalmente. Como que ele podia ser tão lindo?
Segurei meus cabelos, puxando-os para cima. Estava ficando uma pilha de nervos. Estávamos perto do final do ano, precisávamos fazer uma apresentação musical de inverno e tudo que eu conseguia fazer era imaginar quando eu iria ter a oportunidade de encontrar novamente. Talvez, só talvez, eu fosse até o Central Park todas as manhãs para vê-lo correr com seu cachorro. Talvez eu pesquisasse onde ele trabalha e iria fazer uma visita casual, tendo nada de casual nisso.
Merda! Por que eu tinha que pensar naquele cara? Se ele quisesse algo, já tinha me ligado.
Oh, não. Meu celular ficou em seu apartamento. Isso mostra a quão sortuda eu posso ser.
- Droga. – murmurei, bufando em seguida.
Não sabia como estabelecer um contato, mas eu rezava para que ele pudesse me procurar. Talvez me procurar no meu trabalho, pois estava fora de cogitação ir até o Central Park para vê-lo. Não depois do tanto que eu caminhei hoje.
Por que eu sempre fui tão azarada quando o assunto é “homens”?

(...)

Assim que entrei na sala, percebi que a turma estava cada vez menor, culpa do frio que nos atingia. Dezembro sempre foi meu mês preferido. Tinha Natal, Ano Novo e Inverno juntos, o que me deixava com uma boa nostalgia. Mas, naquela época, eu não conseguia me preocupar com algo sem ser o moreno.
Hoje fazia exatamente uma semana desde o nosso encontro e, por incrível que pareça, eu estou ficando desesperada. Nunca fui desse tipo. Sempre fui aquela que tinha tudo sobre controle e que, mesmo que fosse ao dia seguinte, todos eles ligavam para mim e eu dava a mesma desculpa de não sair.
estava me deixando extasiada com toda essa distância, beirando ao desespero. Por que ele não me ligava? Por que não me procurava? Por que não aparecia?
As aulas do dia correram na mesma velocidade de sempre e eu nunca desejei tanto que aquele dia terminasse. Assim que saí da sala de aula, corri para a lanchonete do lado. Pedi pelo mesmo sanduíche de sempre, correndo para o ponto de ônibus. Peguei um que soltasse perto do Central Park, longe o bastante para dizer que estava fazendo uma caminhada, mesmo que não fosse meu forte.
Não sei quanto tempo, precisamente, levou para que eu percorresse uma parte do Central Park. Algumas pessoas pareciam assustadas comigo, que andava de um lado para o outro naquele lugar.
Só sei que fiquei mais tempo do que realmente planejava, tendo que voltar a pé para meu prédio novamente. Assim que o avistei, sorri aliviada e caminhei depressa, entrando no mesmo.
Cumprimentei o porteiro, subindo as escadas calmamente. Não aguentava mais dar um passo quando cheguei ao meu andar.
- Talvez o amor não seja para mim. Você tem noção do quanto eu andei pelo Central Park atrás dele? Eu vou desistir e criar gatos. Quem sabe cachorros e…
Antes que eu pudesse concluir, ouço uma pigarreia que me faz parar e fitasse a pessoa.
E lá estava ele. Usava calça de moletom, o casaco combinava e seus cabelos estavam com o mesmo penteado da noite de sete dias atrás.
- O que você faz aqui? – indago, colocando minha bolsa sobre o sofá.
- Sua irmã ligou para o seu celular e ele estava comigo. Além disso, seus sapatos também ficaram no meu apartamento. Aconteceu alguma coisa? – ele indaga com a sobrancelha arqueada e eu suspirei.
- Eu não queria encará-lo no dia seguinte. – falei e ele sorriu.
- Então você iria fazer a mesma coisa se tivéssemos passado a noite junto? – ele indaga se levantando do sofá. – Eu realmente estou tentando entender. É sério.
- Eu não me entendo, . Não tem motivo e nem como você me entender. – falei e ele sorri, caminhando em minha direção.
- Eu pensei em você durante todos esses dias. – ele sussurrou, dando um sorriso. – Como que eu poderia me aproximar de você sem parecer um louco?
- Eu também pensei. Aliás, eu tive um ataque agora. – falei e ele riu. – Então podemos fingir que isso nunca aconteceu?
- Eu não vou conseguir. Você acha que consegue? – ele indaga, abraçando-me pela cintura.
- Não sei. – sussurrei e ele me beijou, deixando toda a preocupação e desespero que eu sentia por ele sumir completamente. ficou por ali mais ou menos meia hora. Ele alegou que tinha uma reunião com um cantor qualquer e que deveria aparecer lá pontualmente.
- Você tem algum compromisso nesta sexta? – ele indaga ao parar na porta.
- Hum, que eu lembre não. – falei e ele sorriu.
- Agora você tem. Virei te buscar as sete. – falou me dando um selinho. – Até.
Eu acenei, fechando a porta em seguida.
- E aí? – indaga, sorrindo e segurando minha mão.
- Nós temos um encontro sexta. – falei e ela gritou, batendo palmas em seguida. – E eu não sei o que vestir.
- Não seja por isso. Vamos agora comprar uma roupa para esse encontro. Você vai arrasar e ele vai ficar apaixonado por você. – diz, pegando as chaves do apartamento em cima da mesa.
- Eu não quero que ele fique apaixonado por mim. – falei e ela rolou os olhos.
- Ele já está. – minha irmã diz, gargalhando em seguida.
Ficamos caminhando por exatamente quatro horas. Andamos o suficiente para encontrarmos uma roupa para aquela data, além de parar no McDonald's.
- Eu queria ser você. Ou ser uma mosca para acompanhar esse encontro de perto. Acha que vai rolar alguma coisa? – indaga, colocando uma batata na boca.
- Não sei, mas espero que sim. – falei, rindo em seguida. – Agora, temos que ir. Preciso arrumar algumas coisas para amanhã.
Depois de sairmos da lanchonete, caminhamos por mais um tempo e logo chamamos um Uber, que nos deixou na porta de casa. Paguei e logo entrei no prédio, pegando toda minha correspondência e subindo as escadas.
Durante toda a noite, pensei naquele encontro. Em como ele foi gentil ao vir até aqui. Ele podia simplesmente ignorar tudo e seguir a vida, mas ele veio até a mim.
“Espero que não tenha desinstalado o Tinder em seu celular. Ainda temos que conversar.”
Li a mensagem com um sorriso tímido em meus lábios.
“Bom, depende de quem seja. Por você eu penso se desinstalo ou não!”
“Só se pudermos conversar por outro lugar, não quero perder contato com você, não mais uma vez.”
Como que ele podia ser desse jeito?
“Bom, acho que terei que dormir, amanhã eu tenho que trabalhar e acho que você também. Boa noite!”
E deixei o celular de lado, ignorando qualquer notificação de mensagem daquele moreno, pegando no sono tempo depois.


Capítulo 3

Terminei de fazer meu delineado quando ouço o interfone.
- , pode atender para mim? – indago, guardando toda minha maquiagem.
- Seu Tinder Boy está te esperando na sala. – ela diz depois de algum tempo, parando na porta do meu quarto. – Você está maravilhosa! Ele, com toda certeza, irá se render a você.
Rolei os olhos e peguei minha bolsa, saindo do quarto. Vestido: Ok. Sapatos: Ok, mesmo incomodando um pouco. Cabelo e maquiagem: Tudo ok, mesmo achando que eu deveria ter caprichado um pouco mais.
Quando cheguei ao fim do corredor, fitei . O mesmo estava sentado no sofá de minha sala, segurava uma porta retrato e observava o mesmo com toda atenção.
Caminhei até ele, acariciando seu ombro por alguns segundos.
- Uau! – ele exclama ao percorrer seus olhos por todo meu corpo. – Podemos ir?
Assenti com a cabeça. Ele se levantou e deu a volta, segurando minha mão e me puxando para fora de meu apartamento.
Logo estávamos em seu carro, indo por um caminho que era desconhecido por mim. Mesmo com aquilo, me passava uma confiança ainda desconhecida por mim, mas que eu adorava sentir.
Logo vejo seu prédio. Tentei pensar em algo para estarmos ali, mas era falho.
Talvez ele tenha esquecido a carteira. Homens sem carteiras são como mulheres sem sutiã. É algo que acho desnecessário, mas que eu preciso usar quase todo o tempo do mundo.
- Tive um pequeno problema. Na verdade, não chega a ser um problema. – ele diz ao ver meu olhar confuso. desliga o carro, saindo e dando a volta, abrindo a porta para mim. Sorri agradecida e desço do automóvel, caminhando com ele em direção ao elevador. – Minha irmã teve que trabalhar hoje. Por essa noite eu serei babá de minha sobrinha.
Por um momento desejei que aquilo fosse brincadeira. Também pensei que sua irmã estava fazendo algum tipo de teste para mim.
- Algum problema com isso? – ele indaga ao segurar minha mão. Neguei com a cabeça, caminhando junto dele para o elevador.
O caminho até seu apartamento foi silencioso e parecia ser tão longo quanto na nossa última noite. Chegamos e ele abriu a porta, dando espaço para que eu entre.
- Oh, ainda bem que vocês chegaram! – ouço alguém exclamar.
Era uma mulher. Ela era linda e idêntica a , carregava uma bolsa no ombro e segurava a criança em seus braços.
- Eu estou atrasada. – ela falou, beijando meu rosto rapidamente e entregando a criança para , que sorriu e mexeu em seu cabelo. – Eu sinto muito por isso, de verdade. Espero que vocês se divirtam.
E logo ela saiu. A criança estava no colo de , que mexia com ela.
- O que vamos comer? – indago ao entrarmos na cozinha. O rapaz coloca a garotinha na cadeirinha, entregando a ela um brinquedo qualquer, que ela não hesitou em colocar na boca.
- Você escolhe. Eu serei seu chefe por uma noite. – ele falou, pegando o avental pendurado no armário e o colocando.
Céus, como ele ficava lindo naquilo.
- Você é alérgico a camarão? – indago ao abrir sua geladeira. Ele negou com a cabeça, parando ao meu lado. – Então você pode cozinhar alguma coisa com camarão. Qualquer coisa.
- Seu desejo é uma ordem, senhorita. – ele diz, me fazendo rir e sentar ao lado de sua sobrinha, que me fitava com seus enormes olhos brilhantes. – Vejo que Nina gostou de você.
- Ela deve estar achando que eu sou estranha. – falei, segurando em sua pequena mãozinha. – Ela é linda!
- Eu sei. Puxou ao tio dela. Não foi, princesa? – ele indaga, fazendo a pequena gargalhar como se tivesse entendido.
- Você é bastante convencido. – falei rindo.
Passamos alguns minutos conversando, até que ele veio em minha direção com uma garrafa de vinho.
- Pinot Grigio? – indago ao ler o rótulo.
- Vai dizer que não gosta? Droga ! – ele diz, me fazendo rir.
- Calma! Eu gosto sim. – falei e ele suspirou aliviado, entregando-me uma taça e colocando o líquido na mesma. – Então, me conte sobre seu dia.
- Bom, tive reuniões que pareciam intermináveis, corri pelo supermercado atrás de algo que você goste e, pelo que parece, estou de babá de minha sobrinha de um ano que não para de olhar pra você. – ele diz, virando o liquido em sua boca. – E o seu dia?
- Tive que ensaiar crianças de quatro anos para cantar All I Want for Christmas. – falei sorrindo. – Mas logo percebi que era um desastre. Ah, e não tive uma blusa manchada de tinta. Isso é um progresso.
Ficamos um tempo ali, conversando e bebendo o vinho, que parecia não ter fim. Também não queria que tivesse.
- Você acha que ela está suja? – indaga enquanto coloca o jogo americano na mesa.
- Posso ver isso, se quiser. – falei, rezando para que ele não deixasse.
Bom, nunca tive experiência com bebês. Adoro crianças de quatro anos, mas recém-nascidos não são meu forte e, muito provavelmente, nunca serão.
- Por favor. – ele diz, me fazendo sorrir forçadamente e pegar a garotinha no colo.
Durante todo o caminho até o quarto de , ela fitava meu rosto e brincava com meu cabelo, colocando em frente aos meus olhos.
- Assim nós duas iremos cair, Nina. – falei, ouvindo sua gargalhada novamente. – Você entendeu bem, é inteligente.
E a coloquei sob a cama, contando até dez e abrindo seu macacão.
Demorei cerca de trinta minutos para fazer tudo. A garotinha estava totalmente suja, o que foi necessário um banho, algo que ela particularmente adorava e fazia a festa durante todo o tempo, impossibilitando qualquer ser humano de agir naquele momento. Mas, admito, foi uma experiência boa.
- Vê se não é a menina mais linda do mundo! – exclama, pegando-a de meu colo. – Eu tenho as duas mulheres mais lindas do mundo no meu apartamento. Vê se eu não sou sortudo?
Rolei os olhos, rindo em seguida. Sentei numa cadeira, que ficava de frente para ele. Ele se sentou com Nina em seu colo, enquanto a mesma mexia em seu brinquedinho, totalmente entretida com aquilo.
- Espero que goste do que eu cozinhei. Não sou o melhor do mundo, mas acho que dá para o gasto. – ele falou, dando de ombros em seguida.
O jantar foi massa com camarão. Estava tão maravilhoso quanto o , o que me fez comer duas vezes.
- Então eu sou realmente bom. – ele falou e eu ri. – Acho que alguém dormiu.
E eu desço o olhar, vendo Nina deitada em seu colo. Ela dormia profundamente e parecia um anjinho. Ele se levantou, caminhando até o quarto de hóspedes e a colocando na cama. Parei na porta para observar a cena.
Ele era incrível. Quem em sã consciência iria abrir mão de sair para tomar conta da sobrinha?
- Enfim, sós. – ele diz ao se sentar do meu lado no sofá. – Podemos retornar o que fazíamos naquele dia, o que você acha?
- Eu acho ótimo. – falei sorrindo.
Ele me puxou para um beijo. Um ainda melhor do que ele me deu na quarta-feira dessa semana e na anterior, segurando minha cintura e acariciando meu rosto com o polegar.
Ele se deitou sobre mim, tentando não colocar o peso sob meu corpo. Beijei seu pescoço, enquanto ele apertava a parte interna da minha coxa, me fazendo gemer involuntariamente.
Abri o primeiro botão de sua blusa de flanela, deixando que ele continue. Logo a blusa estava no chão por cima do tapete. Ele passou a mão por toda minha coluna, achando o fecho de meu vestido, abrindo-o de uma só vez. Enquanto ele abaixava a alça, senti seu dedo tocar minha intimidade sem algum aviso, me fazendo gemer um pouco mais alto do que o normal. , afim de não acordar Nina, me deu um beijo, descendo o vestido de meu corpo e o jogando no chão.
- Você sabia que azul sempre foi minha cor favorita? – ele indaga após ver meu lingerie azul escuro. Rolei os olhos e sorri, beijando-o novamente.
Tirei sua calça, acariciando seu membro por cima da cueca que ele usava.
- Você tem...
- Sim, eu tenho camisinha. Eu já estava programado para isso, . Só relaxa. – ele sussurrou, me beijando e invertendo as posições, me fazendo ficar por cima. Segurei em suas mãos, colocando-as ao redor de minha cintura.
Ele desabotoou meu sutiã, jogando-o em qualquer canto da sala. Suas mãos foram para aquele lugar, acariciando e me fazendo gemer seu nome, algo que ele parecia estar adorando.
Antes que eu pudesse tirar sua cueca e ele tirar minha calcinha, o choro de Nina anunciou que a menina havia acordado. bufou, soltando-se de mim e se levantando. Peguei sua blusa no chão e coloquei, sentando no sofá e o observando ir pelo corredor até o quarto de hóspedes.
- Eu sinto muito, . – ele falou e eu rolei os olhos. – Eu sinto muito mesmo.
- Tudo bem, . Isso acontece. – falei.
Não deveria acontecer, mas acontece. Meu subconsciente gritava, quase berrava, mas eu ignorei aquele pensamento, pegando o controle da televisão e colocando num canal qualquer de filmes.
Sabe quando você acha que não tem como a noite piorar? Pois ela tem! O clima entre eu e não era um dos melhores. Não que eu tenha ficado chateada ou enfurecida, mas que a tensão que nos rodeava era gigante e gritava dentro de mim.
Como recompensa de tudo, pude dormir com ele naquela noite? Dormi no quarto de hóspedes, enquanto dormia com Nina em seu quarto, deixando-me de lado e com um enorme sentimento de culpa. Eu não era assim tão agradável?
Fiquei pensando por alguns minutos, até que peguei no sono, deixando de lado toda a minha preocupação.


Capítulo 4

Acordei no dia seguinte decidida. Eu precisava parar com isso, afinal, já estava indo longe demais. O que era pra ser somente uma noite resultou em dois encontros fracassados. Talvez não fosse pra acontecer.
Coloquei minha roupa e calcei meus sapatos, pegando minha bolsa e saindo do quarto em silêncio. Não teria coragem de encarar , nem se eu quisesse. Por que eu estava daquele jeito? Ele era somente um date. Não devia me importar muito com isso, certo?
Quando sai do prédio de , sinto meu coração apertado e a vontade de voltar aparece. Suspirei, chamando por um táxi, que rapidamente parou. Entrei no carro, dando meu endereço.
Durante todo o caminho, que não levou muito tempo, fiquei em silêncio. Cheguei ao prédio e paguei ao motorista, saindo do carro e indo para dentro. Cumprimentei o porteiro, subindo as escadas rapidamente.
Quando cheguei ao meu andar, abri a porta de meu apartamento, fechando a mesma em seguida e me jogando no sofá.
Fiquei ali por algum tempo, até levantar para tomar banho. deveria estar em seu trabalho, o apartamento estava silencioso demais, o que me deixava apreensiva.
Durante o dia, fiz coisas meramente produtivas. Fiz minha comida, assisti a meus filmes de romance preferido, chorei em todos e imaginei como seria se minha vida fosse um filme assim. Se um cara poderia subir uma escada de incêndio segurando um buquê, ou se ele faria um flash mob para mim, ou se ele iria atrás de mim em algum aeroporto, mesmo que eu não vá viajar.
- Adivinha o que me aconteceu! – exclama ao se sentar ao meu lado no sofá.
- Você arrumou um namorado? – indago e ela negou, rolando os olhos em seguida.
- Eu recebi uma oportunidade de emprego. – ela falou, sorrindo verdadeiramente. – Na Califórnia! O dobro de meu salário, nós poderemos viver bem por lá.
- Nós duas? – indago confusa. Ela assentiu com a cara mais óbvia do mundo.
- Poderemos viver perto de nossos pais. E, por favor, lá você consegue um emprego fácil e num colégio ainda melhor. – ela fala. – Você não quer sair daqui por causa de ?
- O quê? Não! – exclamei, soltando uma risada nervosa. – Eu só acho que é uma mudança muito grande.
- Por favor, , você realmente se importa com isso? – indaga.
, desde sempre, foi apaixonada por tatuagens. Ela herdou esse amor de meu pai, que era muito fã desse tipo de coisa. Cresceu e mesmo que fosse óbvio, demorou demais para que virasse uma tatuadora profissional. Trabalhava num estúdio numa parte muito boa de Manhattan e ganhava um bom salário.
- , você sabe como é importante para mim esse emprego! Eu poderei ter meu próprio estúdio, você tem noção? Você sabe que esse é meu maior sonho desde a infância. E eu quero você comigo. Você é minha irmãzinha, preciso cuidar de você e cuidar desse coraçãozinho, mesmo sabendo que ele já tem dono. E que, provavelmente, há essa hora, está cuidando da sobrinha. – ela falou. – Ele já te ligou?
- Vinte ligações perdidas. – falei, mordendo o lábio em seguida. – Somente na parte da tarde. Eu estou com vergonha disso. Eu estou agindo como uma adolescente, eu tenho vinte e sete anos!
- , por favor, você não amadurece por nada. Você tem problemas com todos os caras que você sai. Você é um ímã de caras problemáticos. – ela falou.
- O problema é que, dessa vez, eu sou a problemática. Eu fugi, eu não me despedi e nem ligo para ele novamente. – sussurrei, suspirando em seguida. – Quando iremos para Califórnia? Precisamos avisar aos nossos pais e comprar as passagens.
- Você faria isso por mim? – ela indaga, sorrindo e me abraçando em seguida. – Você é a melhor do mundo!
E assim foi o restante da nossa noite: assistindo filmes, procurando passagens na internet e escolhendo qual apartamento pegaríamos e em qual área dali.

(...)

Estávamos no nosso último ensaio quando meu telefone toca novamente. Vi o nome de aparecer em meu visor; eu suspirei, desligando o celular em seguida. Eu não queria ter que ver aquele nome novamente. Sei que devem ter mais de trinta ligações perdidas, além de inúmeras mensagens que eu apenas visualizava, mas eu não o respondia. O motivo? Nem eu sabia.
Esse é o problema: sempre foi essa menina problemática do amor. Sempre amei, mas nunca dava certo. E, quando poderia dar certo, eu fugi sem dar um motivo. Eu somente fugi de uma oportunidade de viver um amor.
Mas é cedo para falar sobre amor. Eu não estava apaixonada por e não ficaria. Isso era o que eu dizia para meu subconsciente.
- Tia . – alguém fala e eu olho em volta. Todas as crianças me encaravam com uma enorme interrogação no rosto. Sorri forçadamente, virando-me para eles e pegando a partitura sobre a mesa.
- Podemos recomeçar? – indago e eles assentem. – Irei ao banheiro rapidinho. Se comportem.
Peguei meu celular, correndo para o banheiro, que ficava no mesmo andar e, por sorte, estava vazio. Lavei meu rosto três vezes, encarando meu reflexo no espelho. O que estava acontecendo comigo?
Prendi meu cabelo num rabo de cavalo, ligando meu celular e discando o único número que eu sabia de cor: .
O que aconteceu?
- Eu estou ficando apaixonada. – sussurrei assustada. – Eu estou me apaixonando por aquele cara. E não tem um mês que eu o conheço.
Espera você só descobriu isso agora? Sério isso, ?
- , eu estou ficando desesperada. – falei, sentindo o meu estômago revirar dentro de meu corpo. – Eu nunca fiquei desse jeito.
, por favor, se acalma. Estou no meu local de trabalho e você também.
- E eu não sei o que faço. Eu fico aqui ou vou para Califórnia? – indago, roendo a unha do dedo polegar.
Escute seu coração. Sei que ele vai pedir o certo, nem que eu tenha que me separar de você. Mas vale à pena, se isso der certo no final de tudo.
Ficamos alguns minutos no telefone, até que eu desliguei, voltando para a sala de aula.
Ensaiamos por mais algumas horas, o suficiente para me fazer ficar exausta e desistir de caminhar até o metrô. Pedi por um Uber e em menos de cinco minutos o carro apareceu. Entrei e o caminho foi silencioso. Parcialmente, pois meu telefone tocava a cada dois minutos. O nome de aparecia junto do seu número que, por algum motivo aparente, eu não sabia que ele estava ali.
Cheguei ao meu prédio e corri para o meu apartamento, tentando fugir da chuva que caía do lado de fora.
Ao entrar em meu apartamento, o silêncio se fez presente, o que me fez bufar. Tomei um banho rápido e quente, colocando meu pijama e indo para a varanda do apartamento.
Faltavam menos de duas semanas para o Natal. Minha apresentação seria amanhã pela manhã e, logo depois, eu iria para o aeroporto. Estava tudo decidido para que eu pudesse ir para Califórnia.
Segundo minhas pesquisas e fontes próximas de , os californianos são maravilhosos. O bronzeado natural e aquele jeito de levar a vida eram totalmente diferentes do jeito nova-iorquino. Além de que lá é quente o tempo TODO. Ou seja, problemas com frio? Nem pensar!
Sentei no sofá confortável da varanda, observando a decoração natalina de meus vizinhos. As luzes brilhavam, alternando entre brilhos intermináveis e mensagens de feliz natal. As árvores piscavam por entre o vidro da janela e algumas vezes pela cortina, mostrando o encanto.
Quando eu e nos mudamos para Nova York, sempre pensávamos em ter uma árvore só nossa, enfeitarmos no inicio de dezembro e vivermos juntas uma experiência legal de natal. Mas, com as rotinas atarefadas, nunca conseguimos comprar uma árvore e nem montar alguma. E isso acontece há quase sete anos.
Após algum tempo em silêncio observando a paisagem, se sentou ao meu lado. Conversamos sobre nosso dia, mesmo que eu não tenha feito nada de produtivo. Invejava a profissão de , mas preferia dar aulas. Essa área eu realmente dominava.
- O que acha de pedirmos uma pizza para comemorarmos nossa última noite em solo nova-iorquino? – ela indaga, pegando uma garrafa de vinho e duas taças, colocando na mesinha de varanda. Dei de ombros, sorrindo e colocando vinho para nós duas.
Após algum tempo, a pizza chegou e comemos ali mesmo, na varanda, imaginando como seria nossa vida após irmos para Califórnia. Talvez nosso apartamento fosse maior. Ou meu emprego seria melhor do que o de agora. Talvez tivéssemos mais vida social, até nos aproximaríamos de nossos familiares.
Isso eu nunca saberia, mas de uma coisa eu tinha certeza: tudo poderia mudar.


Capítulo 5

Estava terminando minha maquiagem quando ouço dois toques na porta de meu quarto. aparece em meu campo de visão logo em seguida. Ela usava um vestido azul simples, enquanto o meu era vermelho e totalmente enfeitado. Esse era o maior problema de ser professora da educação infantil: você deveria se vestir como eles.
- Você está linda! – falei ao terminar de passar o rímel, procurando o batom vermelho. – O que são essas flores?
- Elas chegaram pela escada de incêndio e provavelmente são suas. – ela falou, pegando o cartãozinho no buquê e lendo. – Esse cara é realmente um poeta, ou copiou de alguém.
- Deixa de ser idiota. – falei, pegando o cartão e lendo o texto. Sorri, guardando-o com meu buquê de Margaridas amarelas, que sempre foram as minhas preferidas. Terminei minha maquiagem e peguei meu celular, caminhando com meu casaco no ombro.
Faltavam menos de uma semana para o Natal. Depois de quase quatro anos eu iria comemorar com meus pais, que estavam ansiosos. Por telefone, eu sempre ligava para eles e contava como estava a nossa mudança repentina, e eles contavam que toda a família iria para nossa antiga casa para comemorarmos juntos.
Fomos de Uber para o Teatro onde seria a apresentação dos alunos, que pareciam mais nervosos do que eu.
- Tia ! – uma garotinha exclama. Seus cabelos estavam totalmente bagunçados e eu suspirei, correndo com ela para um camarim. – Eu sabia que só você poderia me ajudar.
- Laura, isso está péssimo! O que você fez? – indago, tentando pensar em alguma maneira de amenizar a situação.
Era só o que me faltava.
- Digamos que eu fui brincar na neve. E esqueci que ele estava com muito produto de cabelo. – Laura diz, sorrindo envergonhada. – Não conta para minha mamãe. Ela vai ficar muito brava comigo!
- Não, eu não vou contar. Mas precisamos dar um jeito se você quiser entrar no palco. – falei, rolando os olhos em seguida. – Você se importa de entrar com um rabo de cavalo?
Ela negou com a cabeça, me fazendo sorrir de lado e pegar um prendedor e alguns grampos de cabelo, tentando fazer um penteado ainda melhor.
Só sei que ficamos por quase meia hora ali. Laura conversava hora ou outra, contando como se sentia mal por me fazer passar por aquilo.
- Tudo bem. – falei sorrindo amigável. – Agora, você está linda! Não saia daqui, escutou?
Ela assentiu, ficando por ali enquanto eu caminhava para fora do camarim.
Rodei todo o teatro, encontrando todos os alunos que iriam participar. já havia ido para casa e levaria nossas malas para o aeroporto. Prometi que a encontraria na entrada principal, mesmo que eu chegasse lá um pouco em cima da hora.
- A turma de vocês é a próxima. Já estão todos no lugar? – a diretora indaga, sorrindo de lado e olhando para as crianças ao meu lado. Assenti com a cabeça, sentindo minhas mãos suarem de nervosismo. – Eles irão sentir sua falta, .
- E eu também sentirei. – falei baixo, sentindo meu coração apertado dentro de mim.
A turma que estava no palco se apresentou e logo saiu, sendo aplaudida por todos ali. As cortinas se fecharam e eu fitei as crianças ali. Pareciam confiantes e eu parecia a mais despreparada dali, mesmo sendo bem mais velha que eles e um pouco mais experiente.
Entramos no palco e os posicionei corretamente, suspirando e contando mentalmente até dez.
A voz de Mariah Carey ecoou pelas caixas de som do teatro, atraindo todos os olhares da platéia sobre mim e as crianças, que se apresentaram perfeitamente. No final de tudo, os aplausos não eram nada para mim. Eu chorava descontroladamente e saberia que chegaria ao aeroporto com o rosto todo sujo de maquiagem.
Saio do palco e sinto meu celular vibrar. O número de aparece em meu visor e eu atendo.
O voo é daqui à uma hora, precisamos despachar as malas. Você está atrasada!
- A apresentação acabou agora. – falei, limpando as lágrimas em seguida. – Eu já estou indo. Aguarda mais um pouco.
E ela desligou, nem dando tempo de me despedir. Ok, eu estou totalmente sentimental hoje. A mistura do Natal com a mudança para Califórnia me deixou afetada emocionalmente.
Limpei minha maquiagem e chamei um Uber, indo direto para o aeroporto. Demorou mais ou menos vinte minutos, e eu estava controlando a tremedeira ao pagar a corrida. Desci do carro e corri para perto de , que mexia no telefone e, em alguns momentos, tentava se esquentar.
- Desculpa pela demora. – falei e ela rolou os olhos, empurrando o carrinho para dentro do aeroporto.
Demorou quase quinze minutos a nossa caminhada até o local de despachar as malas.
- Vou até o banheiro, fica aqui. Exatamente aqui. – ela falou, caminhando rapidamente para longe de mim.
Estava mexendo no telefone e fitando minhas unhas, até que o som local parou, me fazendo suspirar.
De repente, começou a tocar uma melodia lenta. Arqueei a sobrancelha, ficando de pé e tentando ver , mas ela havia sumido de verdade.
Havia diversos casais ao meu redor e, de repente, todos começaram a dançar, me deixando confusa. O que estava realmente acontecendo, afinal de contas?
- O que é isso? – indago em voz alta. A moça ao meu lado fez sinal de silêncio, continuando a dançar com o rapaz.
When I look into your eyes, it’s like watching the night sky or a beautiful sunrise.
There’s so much they hold, and just like them old stars, I see that you’ve come so far
To be right where you are, how old is your soul?

Reconheci a música de longe. Era a mesma que estava tocando durante toda a semana na minha playlist do Spotify. Será que aquilo era muita coincidência?
I won’t give up on us, even if the skies get rough.
I’m still giving you all my love, I’m still looking up.
And when you’re needing your space to do some navigating
I’ll be here patiently waiting to see what you find.

Naquele momento eu já chorava. Uma mistura de desespero e confusão tomava conta de mim e eu só sabia chorar. O Natal realmente me detonava.
Because even the stars they burn; some even fall to the earth.
We got a lot to learn, God knows we’re worth it. No, I won’t give up.
I don’t wanna be someone who walks away so easily, I’m here to stay and make the difference that I can make.
Our differences they do a lot to teach us how to use. The tools and gifts we’ve got, yeah, we got a lot at stake.
And in the end, you’re still my friend at least we didn’t intend. For us to work we didn’t break, we didn’t burn.
We had to learn how to bend without the world caving in. I had to learn what I’ve got, and what I’m not, and who I am.

- O que está acontecendo, ? – indago em voz alta. – Você está brincando comigo?
- Eu não faço parte disso. Você faz. – ela fala, rindo e dançando com outro cara, que sorriu amigável para mim. – Aproveite. Sei que esse sempre foi seu sonho.
I won’t give up on us, even if the skies get rough.
I’m still giving you all my love. I’m still looking up.
I won’t give up on us, God knows I’m tough, he knows.
We got a lot to learn. God knows we’re worth it.

- O que é isso, afinal? – indago, ela girou seu dedo no ar, me fazendo olhar para trás.
I won’t give up on us, even if the skies get rough.
I’m still giving you all my love
I’m still looking up.

Todos pararam de dançar repentinamente, abrindo um caminho. Meus olhos seguiram e eu vi quem estava ali.
Meu coração se acelerou de imediato, quase saindo pela boca.
- Você não sabe a dificuldade que foi montar um flash mob em três dias. – ele fala em voz alta, me fazendo sorrir idiota. – Mas, valeu à pena. Tudo que eu fiz valeu à pena.
- Você fez tudo isso? – indago, apontando com o indicador ao redor. Ele caminhou em minha direção, fazendo minhas pernas tremerem. – Como?
- Vamos dizer que tive uma ajuda. Descobri todos seus filmes preferidos, sua música preferida e também descobri que gosta de margaridas amarelas. – ele diz, apontando com a cabeça para , que estava logo atrás de mim. – Mas, eu não vim falar disso. E você sabe muito bem.
Ele para em minha frente. Segurei minhas mãos, tentando não me hipnotizar naqueles olhos lindos e brilhantes.
- Eu senti sua falta. Eu não sei o que eu fiz, mas, o que eu puder consertar, eu farei. Sabe por quê? – ele indaga, sorrindo e acariciando meu rosto. – Porque você merece tudo isso. Você realmente vale à pena. Mesmo que eu tenha que ir até a Rússia para te buscar, eu irei. E tudo isso porque eu realmente gosto de você. Eu sempre pensei que demorasse a surgir um sentimento, mas você me mostrou o contrário. Você, fugindo pela janela do meu apartamento, correndo pelo Central Park atrás de mim e fugindo naquele dia. Eu não mudaria nada entre nós, por que gosto da nossa história desse jeito.
Antes que eu pudesse responder, ele me beijou, acabando com qualquer oportunidade de dispensá-lo. Na verdade, eu não sabia se eu realmente queria dispensá-lo.
- Você acha que é assim? – indago, cruzando os braços após nos separarmos. Ele arqueou a sobrancelha. – Aparecer, dizer palavras bonitas, me beijar, mandar flores e fazer um flash mob que irá me conquistar?
- Eu sei que não. E irei correr qualquer risco para que isso aconteça. – ele diz.
- , eu... – falei, sendo interrompida pelo rapaz.
- Eu preciso saber de uma coisa. – ele diz.
Todos os olhares do aeroporto estavam voltados para nós, assim como todos os celulares.
- Você ficaria aqui, comigo?


Fim!



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus