FFOBS - 06. Crazy Little Thing Called Love, por Gaby Heyes

Finalizada em: 15/07/2018

Capítulo Único

Parte Um: I ain’t ready

’s P.O.V.
Reeve estava atrasado novamente para o ensaio. A falta de compromisso do baterista com a banda já estava me deixando completamente puto. Dei um último trago em meu cigarro e voltei para o interior do teatro.
- E aí, ? – chamou o guitarrista levantando a sobrancelha.
- O maldito não vem, mandou o lima – dei de ombros enquanto soltava uma risada sarcástica – O filho da puta está fora.
- Mas temos um show em...
- Não quero saber. Foda-se que merda ele está viciado dessa vez.
- Ok, sugere o que então? – questionou enquanto afinava seu baixo – Sem bateria é que não podemos ficar – suspirou o homem levantando por uns momentos o olhar de seu instrumento - A Betty me mataria depois de todo o trabalho que teve para descolar essa gig*.
- Darei um jeito – resmunguei, ligando meu violão no amplificador.
- Não estrague isso, não quero ser comido vivo por minha prima, e nem você!
- Já disse que vou dar um jeito, tudo bem? Só não enche, – repliquei cansado daquele assunto.
Reeve não merecia o meu tempo ou energia. O baixista respondeu acenando com os lábios apertados em uma linha reta. Mal terminei de encaixar o conector do microfone além de ligar a caixa de som, e começou os acordes na guitarra de nossa mais nova composição. Senti a melodia arrepiar meu corpo por completo. Eu sabia que aquele seria nosso grande hit.
Em uma noite eu havia conseguido compor a maioria da canção. Parecia que um clarão de inspiração havia se abatido sobre mim. Só não conseguira ainda encaixar uma letra que combinasse.
acertara em cheio ao acelerar um pouco a batida de meu arranjo inicial. Era perfeita para dançar e com um ritmo contagiante. fez um solo de guitarra tão eletrizante que eu e o baixista nos entreolhamos com esperança.
Todo músico algum dia espera sua grande revelação e nós três sentíamos que finalmente chegara o nosso momento.
- Cara, ficou demais! - exclamou animado.
- Se apresentarmos essa música na abertura do show dos Deamons, vamos conseguir atrair muito público, com certeza – completou .
Ambos olharam para mim em expectativa.
- O que? – perguntei me fazendo de desentendido.
Ao ver ambos fecharem a cara, soltei uma súbita risada energética, atuando em meu habitual papel de estraga-prazer.
- A música não ficou terrível, é isso que vocês querem que eu diga? – perguntei com um tom levemente sarcástico.
Os dois outros integrantes da banda sorriram satisfeitos. Para mim, dizer aquilo era sim grande coisa.
Havia conhecido aos dois e o Reeve ainda no colegial. Fizemos amizade rapidamente durante as longas e tediosas tardes passadas na detenção.
Pouco antes do término da escola eu tivera a ideia maravilhosa de formar a banda e como nenhum de nós tinha mesmo alguma nota passável para a faculdade, enveredar para essa profissão caiu como uma luva.
Ao contrário de nós três, Reeve sempre fez mais o tipo de viver perigosamente e nunca gostou realmente de ser um músico. Somente pegou carona em nossa ideia por falta de coisa melhor para fazer. Eu podia ser igual a ele em matéria de mulheres, de bebida e do fumo. Porém com drogas ilícitas eu não mexia. Muito menos abusava das lícitas que eu já consumia.
Ok, talvez eu fumasse um pouco mais do que o recomendado, mas isso nunca interferiu no meu trabalho. Nem ser mulherengo... Bem, exceto aquela vez em que uma mulher que eu passara a noite, se fingira de fã e subira ao palco para me dar uma lição de moral e um belo de um tapa merecido. Eu não me lembrava de seu nome, o que só piorou as coisas. Digamos que a banda foi banida do Bar do Pete por um bom tempo.
Ao menos eu nunca me atrasara para um ensaio. Bem... Talvez uma vez ou outra. O fato é que Reeve nunca nos levara a sério. Nossa banda, Crossbones, fora tudo o que me restara e eu não deixaria nada, nem ninguém estragar isso.

*Gig: Gíria de músicos que significa show, trabalho.

***


Guardei meus instrumentos de volta no auditório e parti em direção à entrada do teatro. Entreguei as chaves para Ludovic, agradecendo novamente por deixar que utilizássemos seu estabelecimento. Treinos e energia elétrica sem custo em troca de shows ocasionais, era um ótimo negócio e eu não hesitei em aceitá-lo.
Não sei se é uma regra ou uma daquelas coisas que só acontecem com uma pessoa. Mas no dia em que minha vida inteira mudou, eu não senti meu peito apertar. Minha pele não ficou arrepiada como se algo dentro de mim soubesse qual seria meu destino. O clima não estava esquisito, ou nublado.
Na verdade, eu estava andando pela minha rua. Chegando à minha casa, assobiando despreocupadamente e girando minhas chaves nos dedos.
O dia estava ensolarado e até os malditos passarinhos cantavam.
Um pouco à frente, uma mulher conversava com uma criança, emburrada. Juro por Elvis Presley que o primeiro pensamento que veio à minha mente naquele momento foi justamente: é por isso que não tenho filhos.
Foi só no último segundo que cheguei a perceber que estavam bloqueando a porta de minha casa.
Ao notar minha presença, a mulher loira levantou seu olhar da mais nova para mim.
Eu podia ser um baita mulherengo, mas jamais poderia esquecer-me de Úrsula.
Ela fora a primeira e a última mulher que eu amei. Fora quem abriu meus olhos para o fato de que amor não existe de verdade. Que relacionamentos não valiam o esforço.
Basicamente, ela me deixou por não querer que eu perseguisse meus sonhos.
Não entendi nada na época e continuava confuso com sua atitude, já que quando jovens, ela sempre havia me apoiado.
Éramos iguais, ou ao menos é o que eu pensava. Ela dizia que me amava e que queria fugir comigo um dia. Mas chegou o momento em que começou a dizer coisas como estabilidade e salário fixo. Expressões que costumávamos zombar de nossos pais por usarem.
Revirei os olhos com a lembrança.
- Úrsula, o que está fazendo aqui?
- Ah, que bom que se lembra de mim. Vai fazer tudo isso ficar mais fácil.
Fiz uma careta entediada e cruzei os braços expondo parte da tatuagem em meu ombro. Os olhos da garotinha arregalaram-se e, assustada, escondeu-se atrás de minha velha conhecida.
- Calma – falou a mulher com um tom doce como eu nunca ouvira ela usar, nem mesmo direcionado a minha pessoa – Ele pode parecer assustador com sua jaqueta de couro, tatuagens e essa carranca que já virou sua expressão habitual. Mas juro que vai gostar dele. Vocês dois se parecem muito.
O que? Não. Não. Não.
- Ele é que é o papai? – perguntou a menininha, com um tom decepcionado ainda por cima.
Estranho.
Não foi sua frase que me chocou completamente, mas sim quando a garotinha de sete anos andou até mim, superado seu medo, com uma careta pouco impressionada e me encarou.
Seu cabelo podia ser longo e castanho claro como o de sua mãe, mas os olhos. Ah, eles eram pequenas safiras brilhantes exatamente como os meus e como foram os de meu pai, quando ainda estava vivo.
Congelei até a alma finalmente desvendando a situação que estava na cara o tempo todo.
Ajoelhei-me na frente de minha filha sentindo meus olhos se encharcar quando sua mãozinha acariciou minha face.
- Tudo bem mamãe, eu não vou mais brigar com você nisso.
Abri um sorriso para ela. Este só ficou ainda mais amplo ao ouvir sua voz, mesmo sem entender do que ela estava falando.
Mal a conhecia e já estava agindo com um bobão.
Essa foi a primeira, mas não a última vez desde que conheci minha filha que pensei: essa menina vai ser minha perdição.

***


’s P.O.V.
Papai e mamãe discutiam na cozinha do apartamento enquanto eu fingia assistir televisão. Agora que tinha conhecido o homem que foi responsável pelo meu nascimento, eu estava muito animada.
Até a voz dele me encantava.
Meu pai parecia ser um homem grosso e muito sério. Ao menos por fora.
Quando vi como ele se parecia com os caras maus dos filmes de ação, comecei a duvidar de tudo que minha mãe havia me contado sobre ele.
A única pista de que ele era um cantor, era o violão recostado na parede da sala, mas nem ao menos ele tinha cordas.
Mamãe sempre me contara histórias de como o papai tinha a voz de um anjo cantando. Mas caramba, acho que era mentira! O tom áspero em que ele berrava com ela nesse momento não parecia nada com uma voz angelical.
- Como você achou que eu não merecia saber que tinha uma filha?!
- não merecia viver assim! Eu tentei dar uma vida melhor à minha menina. Aonde ela pode chegar com um pai que nunca fica em uma cidade por mais de um ano? Crianças precisam de estabilidade.
- Foi por isso que você me deixou, não foi? Eu te amava Úrsula!
- Eu não tinha outra escolha! Eu também te amei.
- Não. Se tivesse amado, teria dividido comigo o fato de eu ter uma filha. Teria confiado em mim para mantê-la bem e a salvo. Mas com você nunca é o suficiente. Você não sabe o que é amor.
O papai estava pegando mais pesado do que eu pensava que ele iria.
Mamãe dizia que teve de fugir dele para que eu ficasse bem. Eu não entendia isso direito. Como que o papai poderia me machucar? Ele era capaz de me deixar dodói que nem o musiquito que vivia me picando lá perto de casa?
Mas a mamãe me amava e eu acreditava quando ela dizia que a intenção dela era só me ajudar.
Às vezes eu pensava que era melhor eu não ter nascido. Talvez se a mamãe não tivesse ficado grávida, ela e o papai ainda estariam juntos. Isso me deixava muito triste.
Uma vez contei isso para o tio Norman. Ele ficou irritado, mas me explicou que era para ele ter ficado com a minha mãe desde o início.
“O destino tem seus mistérios”, ele falava.
Mas agora era tarde demais para pensar nisso.
- O que você realmente veio fazer aqui?
- Ela queria te conhecer e eu não gosto de mentir para minha filha.
- Por que agora? O que você está escondendo?
- Nada!
- Úrsula, por favor. Ao menos me diga...
- Eu não posso mais cuidar dela, ok?! Ela a partir de agora vai ter que morar com você.
- Isso é algum tipo de brincadeira? Você está abandonando a nossa filha?!
- Eu não... Me desculpe , mas agora é com você.
- Você é uma maluca!
- Nunca me chame assim! Principalmente na frente da minha filha. Ela é sua responsabilidade agora. Pra mim já chega!
Ouvi a porta da frente batendo e soube que mamãe tinha ido. Eu tinha brigado com ela por semanas, já que não queria ir morar com o papai.
Mas minha mãe nunca cedia. Quando decidia largar algo, era para valer. Fizera isso com meu pai e agora estava fazendo comigo.
Fui até onde papai estava, com a cabeça encostada na porta, parecendo muito muito triste e perdido.
Puxei a barra de sua calça jeans tentando chamar sua atenção. Quando funcionou e ele virou seu rosto para mim eu chamei-o para mais perto com um gesto de vem aqui.
Depositei minha mão em sua face e inspirei profundamente procurando o que poderia dizer para alegrá-lo.
- Papai, - comecei vendo-lhe arregalar os olhos, não acostumado com o apelido – Vai ficar tudo bem. Eu sabia que a mamãe ia me deixar.
- ... Eu preciso que tenha paciência comigo, princesa. Eu nunca cuidei de ninguém na minha vida, nem mesmo de mim eu sei cuidar.
Eu sorri e passei os braços em seu pescoço, no primeiro abraço esquisito que daríamos dali para frente.
Papai ficou todo duro e sem graça enquanto eu sorria e apertava as mãozinhas em seu pescoço.
- Está na hora da soneca? – ele pigarreou, mais questionando do que afirmando.
Revirei os olhos para ele. O homem ia ter muito a aprender.
- Pai, eu não tenho mais cinco anos! E já está quase na hora da janta!
Os olhos do homem arregalaram-se e sua boca formou um “o”.
Começou a andar de um lado para o outro da cozinha abrindo e fechando armários até encontrar uma caixa velha de cereais.
Balançou-a satisfeito com o achado, mas fez um biquinho ao perceber que estava vazia.
- É isso, estamos indo ao mercado antes da viagem!
- Vamos viajar? – perguntei com os olhos brilhando, emocionada.
- Sim, filha! – replicou ele, em um misto de nervosismo e animação – Se prepara enquanto o papai vai fazer uma ligação, ok?
- Tudo bem... – fiz um biquinho e fui aprontar a mochila que a mamãe trouxe.
Quando o papai me chamou de filha eu senti meu coração doer. Mas era daquelas dorzinhas gostosas, igual quando a gente ganha um presente de natal.
Ouvi sua voz conversando no telefone, sem prestar muita atenção no que ele dizia, só querendo sentir sua voz que a cada segundo me conquistava um pouquinho mais.

- Teremos mais um passageiro na van, ...

Peguei um pote grande de repelente que eu tinha trazido da casa da mamãe e enfiei de volta na minha bolsa. Temos sempre que estar preparados para o ataque de musiquitos! Eu odiava ficar toda me coçando.

- Depois eu te explico.
- O que? Na... Não é uma mulher ! Pode se acalmar.

Meu cobertor foi o próximo a ser enfiado de qualquer jeito na mochila apertada.

- Sim... Eu sei que Betty deu duro nisso. Tudo bem. Até amanhã.

Ouvi enquanto papai discutia no telefone, voltando ao tom áspero que eu vira mais cedo.
Meu coração começou a bater mais rápido e larguei minha mochila no chão, um pouco assustada quando ele berrou algo para o tio .
Agarrei-a novamente e corri até a porta, esperando que ele me acompanhasse.

***


’s P.O.V.
Cheguei ao ponto de encontro, no dia seguinte, com desacordada em meu colo. Eu tivera de descobrir da pior maneira o porquê de não ser indicado dar açúcar a uma criança durante a noite.
Agora não só eu carregava seu corpo dormindo e nossas mochilas, mas também duas olheiras do tamanho do estado do Kansas.
estava distraído conversando com , recostado na van que seria nosso abrigo pelos próximos dias. Assim que desviou o olhar para nós, já estávamos a poucos passos de ambos.
virou-se e o cigarro pendendo de sua boca quase foi ao chão ao perceber a criança em meu colo. O idiota cutucou o ombro de e começou a gargalhar nervosamente, um hábito irritante que sempre me fazia querer esmagar sua cabeça no concreto.
- E aí?! – perguntei parando a seu lado – Vai abrir a porta para eu deitá-la ou vou ter que esperar o dia todo? – continuei, sussurrando para não acordá-la.
As sobrancelhas de meus companheiros de banda alcançaram um ponto tão alto em suas testas que parecia que não desceriam em um futuro próximo. Mesmo com suas caretas de incompreensão acharam por razoável deixar-me acomodar primeiro.
Deitei-a com a cabeça em sua mochila e abri a janela para deixar o ar circular.
Deus me livre que eu a esquecesse ali dentro e a pobrezinha ainda tivesse que lidar com um problema de saúde por minha causa.
Fechei a porta do carona com um baque e procurei no bolso de meu jeans por um cigarro. Precisava desesperadamente acalmar-me antes que o peso do que estava acontecendo e a magnitude do que eu descobrira não transformassem meu cérebro em ameba.
- ? – chamou, só para ser ignorado por mim enquanto tragava a fumaça para meus pulmões.
limpou a garganta cruzando os braços.
- , querido, você se importaria de explicar para nós por que diabos você trouxe uma menina de seis anos para uma viagem de trinta horas conosco até os confins de Indiana? – perguntou com uma voz afetada, e na minha neutra opinião, completamente desnecessária.
Eu trouxera uma criança? Ok. Mas eu tinha uma explicação plausível, não é?
- Sete – respondi, segurando o cigarro entredentes enquanto guardava minha mochila e a sacola de compras na mala.
- O que? – ambos indagaram confusos.
- Ela tem sete anos – respondi, dando de ombros e fechando a capota.
- ESSE NÃO É O PONTO! – exclamou – Onde você arrumou essa criança, falando nisso?
- O que? Você acha que eu roubei a e voluntariamente a trouxe até aqui? - questionei com um ar ofendido – Não tive uma escolha, porra! Se eu tivesse não faria a menina passar por isso.
- Você não vai nem explicar o que está acontecendo? – perguntou com os braços levantados no ar.
Mantive uma carranca fechada e definitiva. Com que cara eu ia explicar toda aquela história para eles, seriamente. Podiam ser meus melhores amigos, minha família verdadeira, mas eu não sabia como explicar o tamanho da minha irresponsabilidade. Nem eu conseguia me perdoar.
Após todos os sermões que eu passara a eles, principalmente a , o caçula do grupo, sobre responsabilidade, ficar longe do que fosse interferir em nosso trabalho e eu simplesmente quebrei cada regra que já saíra de minha boca.
Era isso, eu era o maior dos hipócritas.
- Vocês podem confiar em mim? – suspirei pousando cada mão no ombro de um deles.
- Assim como você pediu para confiar em relação ao novo baterista para o show? – retrucou – Onde está ele ?
- Eu já cuidei disso, ok?! – respondi, ignorando o gelo que se instalara em meu coração.
Merda!
Eu tinha que arrumar um baterista, mas com toda essa confusão esquecera completamente. Claro que os meninos não poderiam saber disso. A banda já estava por um fio, se soubessem disso tudo desmoronaria. Eu teria de dar um jeito. Operar um milagre ou essas merdas todas.
Agora eu era um pai, certo? Então eu devia saber fazer essas coisas de super pai ou que seja.
Merda, eu era pai. Ok , não é hora de pensar nisso. O que está feito está feito.
Meus irmãos olharam para mim desconfiados.
- Arrumei um baterista já! - espero arrumar mesmo - Ele estará lá... – eu espero - No show – puta merda, não conheço ninguém de Indiana - Vocês vão ver. Só confiem no , aqui, ok? Explico sobre a menina depois. Vamos só... Vamos logo. Por favor! – supliquei passando a mão por meu cabelo, em estresse.
Pisamos em nossos cigarros assim que assentiram, prontos para ir logo com aquela jornada, que seria no mínimo interessante. Para mim, com certeza um inferno. Quando eu achava que tinha me safado, acomodado ao lado de no banco de trás, uma vozinha sonolenta estragou meus planos de dormir pelas próximas horas.
- Papai? Já chegamos? – perguntou se debruçando na janela aberta enquanto coçava seu olho esquerdo.
As cabeças de meus amigos viraram para mim tão rapidamente que eu me perguntava como não tinham torcido. Agradeci aos céus por ainda não ter dado partida no veículo, se não provavelmente teríamos tido um baita de um acidente.
Fiz a única coisa plausível no momento.
Olhei nos olhos de meus amigos alternadamente.
Abri um meio sorriso.
E afirmei em um tom amável nada mais nada menos que:
- Eu posso explicar...?

Se a viagem de carro já teria sido longa e um inferno com uma criança presente, acredite, foi pior.
Mas não por causa de minha santa filha que dormiu quase o percurso completo.
Não.
Foi justamente culpa dos malditos bebês chorões que eu costumava apelidar de irmãos, com suas intermináveis perguntas sobre meu mais novo status.
Pai. Eu era pai de alguém. Tipo, não é algo leve de se absorver.
Eu fisicamente concebera um ser humano. Ser esse que amava dormir, constatei orgulhoso.
A única coisa que era capaz de me tirar do sério era sua minúscula bexiga e o apetite de leão que a fez devorar tudo o que compráramos para a viagem em menos de dez horas! E não fora pouca coisa. A menina me tinha em suas mãos e sabia exatamente como me enrolar a gastar cem dólares em biscoito.
Não sei onde estava com a cabeça, já que eu mal tinha grana para pagar meu aluguel no fim do mês. Eu alugava um estúdio em troca de shows, Cristo!
Essa menina vai ser minha perdição!

Parte Dois: Take a back seat.

’s P.O.V.
Eu sinceramente não sabia o que era pior. Ter uma rotina totalmente entediante trabalhando naquele hotel de beira de estrada, ou aturar os idiotas que se hospedavam aqui.
Que tipo de gerente precisa carregar um taser? Ah sim, eu mesma.
Aparentemente, o fim de mundo onde o Ramsey’s Inn se localizava era daqueles lugares para um tipo específico de gente. Ou pessoas que haviam atingido o fim do poço, ou gente que estava tentando se esconder do sistema legal dos Estados Unidos.
Como nenhum dos lados tem algo a perder, a dona do hotel me instruiu efusivamente a andar armada.
E ali estava eu, folheando uma revista de dois anos atrás, tentando ignorar o barulho irritante do velho ventilador, debruçada na mesa da recepção.
Deve ter sido isso que me chamou tanto a atenção do grupo recém-chegado. Eles não pareciam nenhum dos tipos de hóspede que eu categorizava em minha mente.
Tinha o residente do quarto 303, definitivamente perigoso. A velhinha do 101, que tinha um ar enigmático, eu apostava que fazia parte do grupo dos esquisitões e não dos assassinos. De qualquer forma não deixaria de ter meu taser por perto quando me pedia para ver a refrigeração de seu quarto.
Agora, o grupo de três homens que se aproximava não pareciam se encaixar nem um pouco naquele lugar.
O que aparentava ser mais novo fazia caretas como um bobo para uma menininha, no colo do carrancudo. Sim... Brincalhão, Carrancudo e ... O último observava a cena alheio a criança, conversando com o mais sério baixinho como se estivesse lhe passando um sermão. Já sei! Padre.
Os três homens pararam à minha frente, esperando que eu dissesse algo. Só então percebi que eu os encarava com uma careta engraçada.
- Podemos ser atendidos ou tá difícil? – perguntou o carrancudo, rispidamente.
Arregalei os olhos, virando a cabeça para o lado, ofendida.
Como é que é?!
Ao perceber minha expressão revoltada a face do Brincalhão empalideceu, pensando em algo para amortecer o impacto que seu amigo grosseiro tinha nas pessoas.
- Desculpe moça, é que foi um longo dia para todos nós. E devo dizer que sua visão é um colírio para meus olhos – comentou piscando em um flerte descarado.
O Padre revirou os olhos, todo a negócios, como parecia ser de seu costume.
- Por favor, querida, arrume dois quartos, que eu não consigo passar mais um segundo com esses dois.
Imediatamente gostei do homem. Claro quanto ao que queria e direto ao ponto.
- Pagamento adiantado – respondi, limpando a garganta, enquanto pegava duas chaves disponíveis.
- Mas isso não estava escrito no folder! – exclamou o Carrancudo, depositando sua filha no chão a seu lado e apontando o dedo para mim.
- Não, mas para você vai ser, pra aprender a deixar de ser grosseiro. Aqui estão as chaves, 305 e 307. Ah! E qualquer problema... – comecei com um sorriso - Não me chamem –fechei a cara voltando a folhear minha revista, como se ainda achasse algo ali interessante. Ao menos mais do que os homens estupefatos a minha frente que não tardaram a depositar o dinheiro de uma diária no balcão e partirem sem mais uma palavra.
Mesmo após partirem, ainda podia sentir o encarar do Carrancudo, jogando adagas mentais em minha pessoa.
Algumas horas mais tarde eu estava quase caindo de sono, quando um plim! do sininho da recepção acordou-me instantaneamente.
- SIM! – berrei, quase derrubando o abajur a meu lado em reflexo.
- Desculpe, não era minha atenção te acordar... – disse Carrancudo coçando sua nuca com um olhar culpado.
Não o desculparia se não percebesse que seus votos eram sinceros.
- Por favor... – abanei minha mão como se não fosse nada - Eu nem estava dormindo.
Seu olhar confuso e ligeiramente divertido me fez corar fortemente.
- Ah, não? – perguntou com deboche.
- Não. Estava meditando, ok? – repliquei balançando a cabeça – Ninguém dorme no meu turno.
- Mas isso não é um hotel? Não é esse o ponto?
- Na... Eu... Você entendeu o que eu quis dizer! – falei, dando a volta no balcão e aproximando-me dele com o dedo apontado – Não está preparado para saber o que eu sou.
- Diga-me então, dorminhoca.
- Eu teria que te matar se dissesse.
- Acho que correrei o risco – replicou com os lábios torcidos em um meio sorriso.
- Eu avisei – dei de ombros e revelei meu segredo, pontuando cada palavra – Eu. Sou. Uma. Maldita. De. Uma. Ninja.
Encaramo-nos em silêncio por uns minutos até soltarmos as gargalhadas que estávamos segurando à duras penas.
- Isso é um baralho? – perguntou, curioso, desviando o olhar para o balcão.
- Ah, sim – respondi dando de ombros.
Após uns segundos de silêncio entendi a deixa e fiz meu papel de “anfitriã” se é que poderiam me chamar disso.
- Er... quer jogar? – questionei nervosa.
- Princesa, eu pensei que nunca fosse me perguntar – acenou, sorrindo.

’s P.O.V.
- Você está roubando – falou , espiando-me por detrás das cartas em punho.
- Má perdedora – repliquei, a aniquilando com minha próxima carta.
- Filho do pai! - replicou praguejando como se esse fosse realmente um palavrão.
- O que foi isso? – perguntei dando uma risada breve.
A mulher suspirou fundo explicando-me com uma voz automática, como se já tivesse tido que fazê-lo um bilhão de vezes.
- Acompanha meu pensamento, Sherlock – falou enrolando a língua, do uísque que eu tinha levado para nós.
- Me ilumine, .
- Homens, são claramente a razão do mundo ser o caos que é – começou como se não fosse novidade.
- Claramente – acenei balançando a cabeça em falsa concordância.
- Nós, mulheres, já parimos, menstruamos e sentimos coisas que você, um fraco, nunca imaginaria. Mas não é nada pessoal. Digo isso por que você faz parte da parcela da população que tentou oprimir a minha durante séculos.
Descartei mais uma carta sorrindo com a careta que ela fez.
- Olha, é puro raciocínio lógico. Nós, mulheres, mesmo contra todas as possibilidades, resistimos a toda a porcaria de vocês, nós florescemos dos escombros que vocês criam. Está acompanhando Carranc... ?
- Me chamou do que? – perguntei curioso.
Suas bochechas ficaram em chamas e ela empurrou seu copo em minha direção.
- Ahn, nada. Chega de álcool por hoje.
- Tudo bem. Desculpe-me novamente por ter sido tão grosseiro. É que e os meninos me levaram à loucura nessa viagem de ... – fui interrompido pela risada mais esquisita e bonitinha que já tinha ouvido.
- O que foi? – perguntei ainda mais perdido.
- É só que você fala como se fosse um velhinho de férias com os filhos.
- Falo mesmo, não é? – perguntei, rindo de minha própria realidade – Dê mais alguns dias que eles me trarão as rugas e o cabelo branco.
- Para onde estão indo?
- Somos uma banda e vamos fazer um show em Indiana amanhã.
- Que legal! – respondeu ela com a íris brilhando – Legal, não é? Por que você não parece feliz?
- Eles vão me matar quando descobrirem que ainda não temos um baterista. Eu estraguei tudo para nós. Basicamente vamos chegar para um fiasco.
- Baterista, hein.
- Sim, você não conhece nenhum que possa nos apresentar, não é? – perguntei, em uma fraca tentativa.
A mulher permaneceu em silêncio pensativa até que eu decidisse voltar para o quarto para checar se continuava dormindo como uma pedra.
- Bem... É melhor eu ir. Obrigada pela companhia e a compreensão, – falei estendendo a mão e apertando a dela rapidamente.
- O prazer foi meu – apertou minha mão de volta com um meio sorriso gentil.
- Ah, e ... – chamou, quando eu já me retirava.
- Sim.
- Mantenha-se fora de problemas. Mais problemas, quero dizer – completou, com um tom maternal.
- Como quiser, princesa – respondi levantando as mãos em rendição e voltando para o apartamento 305 e minha filha hibernando.

Na manhã seguinte, preparamos o carro para a ida, após o breve café da manhã improvisado com comidas da máquina de snacks.
Eu era o último a entrar no carro, quando vi correndo até a garagem acenando com uma mochila nas costas.
Se eu já estava confuso, imagine após essa visão bizarra que estranhamente levou um sorriso a meus lábios. Daqueles sorrisos que eu evitava lançar para mulheres após a mãe de ter levado meu coração com ela.
Ignorei minha filha tagarela no banco do carro e fui até a mulher, já próxima de onde estávamos estacionados.
- Bom dia, .
- Bom dia, – começou, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.
- Estávamos de saída já – eu disse olhando para o carro onde meus amigos, e minha filha, nos observavam com claras interrogações.
- Eu sei, por isso estou aqui. Eu tenho um baterista para você.
- Não acredito! Muito obrigada, você acabou de salvar minha pele! Quem é ele?
- Euzinha aqui. Quero minha parcela justa do que vocês estiverem sendo pagos e que me tragam de volta após o show – disse, começando sua longa lista de demandas, enquanto minha mente gritava alertas piscantes e enormes de: não aceite isso sob nenhuma circunstância.
Mas pelo pouco que você já leu, acha mesmo que eu ouvi minha intuição? Claro que não. Graças a Deus por isso.
- Bem-vinda a bordo! – exclamei abrindo a porta para ela entrar e dando a volta para ficar do outro lado de no banco traseiro.
e me olharam pelo retrovisor esperando alguma explicação.
Fiz o máximo que podia fazer naquele momento.
Dei um meio sorriso e coloquei o cinto de minha filha enquanto dizia em um tom leve:
- Eu posso explicar...?

Parte Três: Crazy Little Thing

’s P.O.V.
parecia ter até menos jeito com crianças do que eu. Por isso, era um mistério como havia lhe adotado como a preferida do grupo durante o resto do percurso de carro rumo à Indiana.
Ambas até trocavam segredos, parando para me olharem e rindo de vez em quando.
Eu sempre revirava os olhos para elas, concentrando-me na paisagem fora da janela, levando a uma nova onda de cochichos e risos.
e quase me crucificaram quando souberam da bateria. Não por que iria tocar conosco, mas sim pois eu quase havia estragado tudo.
Na verdade, eles estavam mais do que ok com a mulher, era comigo que tinham uma birra idiota e me excluíram da conversa durante toda a viagem.
Ouvi atentamente enquanto falava de sua vida, interessado no que levava alguém a trabalhar em um lugar daqueles.
pôs nossa demo para tocar, e faixa por faixa explicou a garota mais ou menos como funcionaria a dinâmica dos ritmos. Acabei pegando no sono no meio de Redemption, uma das faixas mais tranquilas.
Foi quando começou a tocar nossa mais nova música que eu abri os olhos assustado com o sonho que tivera.
- Aumenta o volume, ! – exclamei, pegando meu caderninho de anotações.
- O que foi? – perguntou confusa.
- SHH! Papai vai escrever a letra! – explicou com o dedinho nos lábios da mulher.
Todos permaneceram em silêncio com expectativa.
- De novo – pedi, pela terceira vez, fazendo suspirar e rebobinar a faixa.
Após umas cinco vezes, a letra estava pronta. Eu mal podia acreditar, mas havia conseguido a composição perfeita.
- É isso! – exclamei alto após uns ajustes, acordando uma emburrada e uma ainda mais carrancuda.
- Manda, irmão – respondeu colocando a faixa de novo – Qual é o nome de nosso próximo hit?
- Crazy little thing called love – respondi triunfante.
Os olhos dos garotos desviaram para que fingiu que nem sabia o que estava acontecendo.
- O que? – perguntei, franzindo a testa, frustrado – foi inspirada em ! – repliquei. – Sem ofensas, .
- Não – respondeu ela, me surpreendendo com uma expressão admirada – De forma alguma.

’s P.O.V.
Foi mais ou menos na milésima vez que perguntei ao papai se já havíamos chegado que a resposta foi afirmativa.
Em minha empolgação acabei dando um soquinho na titia , mas juro que foi sem intenção de machucá-la.
era minha melhor amiga. Eu expliquei a ela tudo sobre o papai, sem ele saber e ela foi muito compreensiva. Até olhou para ele com pena. Quem diria que mamãe ia causar tudo isso me deixando com meu pai.
Não me entenda mal, eu amo minha mãe, mas seria bom ter visto meu pai nos meus aniversários em vez de receber correspondências falsas em seu nome.
Eu sabia que ela fazia por bem, mas quando fiz cinco anos eu percebi que sua letra era igual à das supostas cartas.
Durante as milhões de horas naquele carro chato, sem ser pela tia .
Ah, e pelo tio também. Ele gostava de fazer piadas para tentar me fazer rir, só que nenhuma era engraçada. Meu riso era muito forçado, mas o pobrezinho não percebia.
Tia percebeu e me perguntou o porquê do fingimento. Eu respondi somente que não queria quebrar o coração do tio , assim como não queria quebrar o de papai com suas tentativas de cuidar de mim.
Estava me divertindo muito com papai. Não queria reclamar e correr o risco de voltar a morar com a mamãe. Ela era gentil na maior parte das vezes, e eu sabia que no fundo ela me amava, mas morar com ela era muito triste.
Eu via o quanto ela estava triste e finalmente a vi sorrir com o tio Norman. Esperava que ela e ele fossem felizes.
Foi por isso que não briguei tanto com ela quando me trouxe para ficar com meu pai. Ok, briguei no início, mas quando vi que papai não era um monstro, aceitei numa boa!
Papai também me amava, eu acho.
Ele não pareceu tão feliz comigo, a princípio, mas todas as vezes que me olhava, dava um sorriso bobo que eu sabia que era amor.
Eu tinha certeza pois o encarava da mesma forma quando ele não estava me olhando.
Amei saber que inspirei o papai em mais uma canção dele. Essa parecia ser a maior esperança da banda no show de abertura de uma banda aí que o papai disse que era famosa.
A tia Betty havia namorado um dos integrantes e arrumara para eles tocarem três músicas antes da banda principal.
Papai disse que minha música ia ser a última para causar mais... Como foi que ele disse? Ah, sim. “Impacto”. Eu não sabia o que isso significava, mas ele devia ter razão. Papai já trabalhava com isso há muuuito tempo.
Quando chegamos, papai me deixou com a tia Betty e escapou com esperando que ninguém notasse. Mas eu estava de olho naqueles dois. Sabia que tinha algo ali e se ainda não tivesse, deveria ter!
Não gostei de ver como o papai vivia sozinho. Ele parecia sempre triste e como a tia o apelidara: Carrancudo.
Esperava que ele encontrasse alguém para me ajudar como a mamãe fazia.
Sinto falta da mamãe, mas quando penso em como ela deve estar feliz, fico alegre também e abraço o papai por estar tornando isso possível.
Ele nem sabe, mas já é meu herói. Mesmo parecendo um bandido dos filmes policiais que eu gostava de assistir escondido da mamãe. Com as tatuagens, a pose de bad boy e a jaqueta de couro.
Mas eu sabia que era tudo uma máscara para um homem de coração grande. Os maiores corações são os que menos se mostram para todos.
Papai tinha um jeito que me fazia saber que ele me amava. E estava bom para mim. Melhor do que sorrisos falsos e uma fachada de gentileza, como muitos dos meus tutores costumavam ser.

’s P.O.V
- Você viu, ?! – perguntei à minha filha saindo do palco com a energia positiva ainda passando por meu corpo.
Peguei-a no colo e a joguei ao ar, amando suas risadinhas infantis.
- Papai, foi muito legal! – respondeu ela, quando finalmente a coloquei no chão – Adorei a minha música, você deve me amar mesmo – afirmou ela com os olhos arregalados em surpresa.
Soltei uma gargalhada gostosa e agachei a seu lado.
- É claro que amo, filha. Eu sei que não sou o melhor pai, mas eu estou tent...
- Shh! – Interrompeu ela com um dedo em minha boca – Você é o melhor, papai!
Meus olhos se encheram de lágrimas com o que ela disse. É claro que eu tinha que arruinar o momento, tentando morder seu dedinho de brincadeira. riu, correndo para abraçar o seu tio , que surpreendentemente conseguia ser mais babão que eu. também conquistara minha mocinha, assim como ela o dominara por completo, por mais que ele tentasse esconder.
A última a sair do palco foi e minha vontade de beijá-la era tão grande que não consegui me conter. Caminhei até ela e tasquei o beijo mais melado que consegui em sua bochecha, seguido por um abraço de urso.
- Obrigada por nos salvar, princesa! Você foi simplesmente... – meu elogio foi interrompido por um tapa em minha face.
- EI! – reclamei afastando-me um pouco – Eu estava te elogiando.
- Cala a boca, . Se alguém vai beijar alguém aqui, sou eu! – replicou, cruzando os braços.
Mais uma vez confuso com aquela mulher, permaneci em silêncio por alguns segundos, fazendo um biquinho.
- Mas foi na bochecha... – respondi com uma voz infantil.
Ela revirou os olhos para mim e como muitas antes dela, não resistiu ao meu charme. Espera, risque essa frase. Se ela soubesse que eu pensei isso, mesmo que de brincadeira, eu seria gravemente agredido. Digamos que ela aceitou o babacão aqui e aquele blábláblá de paixão avassaladora.
A questão foi que ela pegou minha jaqueta fortemente e sussurrou:
- Vem aqui, bobão – e puxou-me para o beijo mais... Certo que eu já havia experimentado.
Não era o mais quente, ou o mais longo. Mas com certeza era o mais envolvente que eu já sentira.
Tão envolvente que só paramos quando abraçou nossas pernas juntas.
- Finalmente, papai! A tia não podia esperar para sempre, né?!
Rimos com minha coisinha pequena chamada amor e eu peguei-a no colo para encarar seus olhos.
- Está tudo bem mesmo, ?
- Claro que sim! Eu já tinha dito isso para você quando me perguntou mais cedo -respondeu me fazendo corar ao receber o olhar avaliador de – Papai, se você chama a tia de princesa, eu posso ser a rainha!
- Sim, vossa majestade. Minha Queen.
- Vamos tia , tenho que te contar mais do que estávamos conversando no carro –continuou minha filha, estendendo os braços para a mulher a meu lado, indo para seu colo e se afastando.
- Com licença – perguntou um homem surgindo na minha frente – Você é o líder da banda que acabou de se apresentar?
- Sim – respondi assentindo.
- Parabéns pela apresentação. Estariam interessados em passar uma temporada aqui na área fazendo shows de abertura como este? Talvez com o tempo possam ter seu próprio concerto fixo aqui. Quem sabe?!
- Claro senhor. Estaríamos sim! – respondi boquiaberto.
- Entrarei em contato após o fim do evento então. Só mais uma coisa, qual é mesmo o nome da banda?
Ia começar a responder Crossbones, mas olhei para minha filha, meus companheiros à sua volta e pensei em um nome que o produtor não esqueceria tão facilmente. havia ficado horas nos questionando que tipo de nome idiota é Crossbones. Percebemos que nenhum de nós sabia responder a essa pergunta, já que quem o escolhera, o Reeve, já nem fazia mais parte da banda.
Precisávamos de um novo nome. Algo que não fosse mais do mesmo. O que no mundo do rock significava não fazer referência a caveira, sangue ou ossos. Sorri apertando sua mão e afirmei com absoluta certeza de minha escolha:
- Queen. O nome da banda é Queen.

Epílogo

’s P.O.V.
- Você já andou de moto? – perguntou , me subestimando, mais uma vez.
- Está brincando, querido?! É claro que sei. E provavelmente muito melhor do que você, para falar a verdade.
- Ah é? – replicou ele com sua expressão debochada de costume.
- Vamos tornar isso mais interessante – desafiei – Quem chegar mais rápido ao Marty’s vai ficar um mês sem lavar louça.
- Oh... Se é pra desafiar vamos pensar grande. Quem ganhar tem que ser o modelo da por um fim de semana completo.
Gelei, relembrando a última vez que ambos deixamos a menininha brincar de nos vestir, maquiar e pentear. Para uma criaturinha tão pequena, sabia fazer um grande estrago.
- Está com medo, senhorita ?
- Claro que não – estremeci, cuspindo em minha mão e apertando na dele para selar o acordo.
- Você vai comer poeira – riu ele abaixando o visor do capacete.
- Querido, tente não babar e boa sorte com a .
- Ah, olha... – começou com uma resposta na ponta da língua - Espera aí. Babar com o que?
- Com a visão da minha traseira! – exclamei acelerando a moto sem esperar que ele desse a largada.
Só ouvi uma risada e o ronronar de uma moto acelerando atrás de mim. está frito. Pensei aumentando a velocidade, aproveitando a sensação do vento passando por meu corpo. Aquele sentimento de leveza só podia ser uma coisa: liberdade. E com a adrenalina e o amor preenchendo meu coração, eu torci meus lábios, sorrindo como há muito não sorria.





FIM



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus