06. Moving Along

Fanfic finalizada em:29/06/2020

Prólogo

Londres. 15 de setembro de 1666
Lucinda chorava compulsivamente perante a lápide de seu marido. Não podia acreditar que aquilo realmente tinha acontecido. O seu querido , o seu amado marido se fora tão cedo e tão tragicamente. Ela não compreendia o motivo de a vida estar fazendo aquilo com ela. Com apenas dezessete anos já era viúva, não tinha herdeiros, não tinha mais família além de seus sogros, visto que Diana também morrera naquele incêndio. Não que seus olhos não olhassem para a lápide da cunhada, mas tudo o que conseguia ver para além do nome de seu esposo escrito na lápide, ela também via todos os seus sonhos mortos também. Pra onde iria, como iria viver? Eram muitas perguntas, mas Lucinda estava tão envolvida no luto que não conseguia encontrar as respostas.
Pensava consigo mesmo, “que diabos estaria fazendo?”, durante a noite, na Catedral de Saint Paul com mais cinco pessoas. Por que Diana, Thomas e Damon também estavam lá? Quem eram as outras pessoas? Como dito antes, muitas perguntas e nenhuma resposta.
— Ah, querida, não se preocupe. Cuidaremos de você — a senhora Somerhalder, sua sogra, lhe deu um gentil abraço de lado como se lesse os pensamentos da nora. — Cuidaremos uns dos outros.
— A senhora não pretende me devolver para a minha família? — Luce perguntou chorosa, fungando, mas Somerhalder se afastou um pouco, negando veemente.
— Perdi dois filhos, Luce, não quero perder você também. Pode ficar aqui o tempo que precisar.
— Obrigada. — ela sorriu com os olhos cheios de lágrimas, talvez seu primeiro sorriso em uma semana, então as duas caminharam juntas de volta para o castelo.
Poderia soar meio mórbido duas lápides no meio do lindo jardim da família Somerhalder, mas não queriam, de forma alguma, ficarem afastados de e Diana. Talvez tenha sido cruel demais da parte deles separar Diana de seu esposo, Thomas Bamborough, por quem ela havia se apaixonado perdidamente, mesmo sendo um casamento arranjado. Provavelmente estariam juntos onde quer que estivessem agora, mas ter o que sobrou dos corpos dos filhos por perto lhes traziam o mínimo de consolo.
Lucinda pediu licença para a sogra, subiu lances de escadas e virou várias vezes por corredores até chegar em seus aposentos. Da sacada do quarto ela tinha a pior visão de todas, a visão das duas lápides que pareciam ainda mais deprimentes do quarto andar do castelo. Ela soltou um longo suspiro, sabendo que aquela vista todos os dias a lembraria de que não era um sonho e sim sua terrível realidade. Viúva e sozinha.
Ela pensou também em como estariam a filha e a esposa do Lorde Woodbead. Damon e eram melhores amigos inseparáveis, tão inseparáveis que partiram desta vida juntos. Lucinda não tinha a mínima ideia do que Damon estava fazendo naquela igreja também, se perguntava se em seus últimos momentos ele havia pensado em Clara e Charlotte, embora tivesse quase certeza que sim. Ainda não era o momento, mas Luce estava disposta a unir suas forças com as de Charlotte para que juntas pudessem seguir em frente.
Sim, ela iria seguir em frente. Talvez em outra vida o reencontrasse, ela acreditava nisso firmemente. Sua criação diferente foi lhe imposta assim. Sua intuição dizia que sim, eles ainda iriam se reencontrar. Ou melhor, algo a mais do que uma mera intuição.
A feição de luto no rosto de Luce se transformou em uma sombria diversão por pensar naquilo. Seus olhos castanhos, antes tomados por lágrimas, agora tinham outro brilho, brilho este que nem mesmo conheceu. Nos seus lábios, um sorriso maquiavélico se formou quando ela gargalhou, sem se importar se seria ouvida ou não. Se fosse, não faria diferença, levaria aquele castelo abaixo da mesma forma que a igreja queimou, com todos ali dentro. Luce, assim como Carter Rodwell, podia fazer isso.
— Vamos, me mostrem! Me mostrem o que aconteceu naquela noite. Me mostrem quem estava lá! — ela ordenou e, em meio a uma fumaça preta e densa, ela se viu transportada.
Estava na Catedral, sentada no primeiro banco ao lado de Diana. Então, vendo a cena, não poderia acreditar nos próprios olhos. Por que a irmã de Thomas, Bamborough, estava no altar com um homem que certamente não era dela? Por que estava com ali? Damon estava lá também, assim como Diana e Thomas. A cabeça de Luce girava, ela se recusava a acreditar que estava sendo traída.
— Não, isso não é possível. — ela riu em negação, mas ninguém pareceu perceber que ela estava ali. — Não é possível...
Ela viu tudo. Viu quando o Lorde Rodwell surgiu por dentre os bancos, se revelando para as pessoas ali presentes. Lucinda não poderia negar que as habilidades dele com o fogo eram admiráveis, jamais imaginou que aquele Lorde, sempre tão culto e educado poderia ser um bruxo poderoso. Embora surpresa, Lucinda se admirou, estava feliz por saber que não era a única com dons especiais. E nem seria a única a buscar vingança.
Ah, sim, ela com certeza iria, mas não sem antes descontar todo a raiva que sentia bem ali. Era um belo castelo, tinha que concordar, mas de nada valia quando virasse apenas cinzas. Passando pelas grandes portas da melhor madeira, Lucinda estalou os dedos, e, sem olhar pra trás para admirar o que havia acabado de fazer, foi embora. Londres estava em chamas, quem pensaria que uma simples viúva teria feito aquilo? Não importava, tudo o que lhe remetia à lembrança do seu falecido marido naquela casa agora era consumido pelas chamas ardentes.
Aquela era apenas a primeira vida, pelo o que ela ouviu, mas mal podia esperar pelo estrago que faria nas próximas três.


01 – Thinking ‘bout you lots lately

Boston, Massachussets. Junho de 2018.
Thinking 'bout you lots, lately
Have you been eating breakfast alone like me?
Thinking 'bout you lots, lately

remexia os ovos no prato por tanto tempo que ele tinha certeza que já havia esfriado. Estava sem fome, assim como em todas as refeições ultimamente. Não era culpa dele, afinal, ele simplesmente não estava acostumado a tomar café da manhã sozinho, não estava acostumado a ficar sozinho naquela casa. Quase duas semanas depois e ele ainda se sentia o homem mais amargurado do mundo, se perguntava se um dia seria capaz de seguir em frente e, embora pensasse que talvez sim, isto ainda parecia ser muito, muito distante da sua realidade.
O relacionamento estava desgastado, é verdade, Luce já não era a mesma, assim como ele. Ambos já não eram os adolescentes apaixonados que se encontraram devido aos amigos em comum. Durante os anos em que estudaram em Harvard, tudo pareceu mágico, mas conforme o tempo foi passando e seus empregos extraordinários exigiam cada vez mais deles, o relacionamento foi se desgastando até que não poderiam mais continuar. Luce colocou um ponto final e acatou, mesmo depois de ter insistido muito para que ela não o fizesse. Estava feito, ele poderia se considerar solteiro novamente depois de quase oito anos em um relacionamento.
dispersou de seu devaneio quando o celular ao lado do prato tocou, de forma escandalosa, o toque irritante de quando alguém o ligava. Mas quem ousava atrapalhar os seus pensamentos?
Louise.
— Oi, Lou. — ele atendeu a empresária e irmã, tentando não parecer grosso.
— Jones, cadê você? Temos que ir para o estúdio! — Louise disse alto o suficiente do outro lado da linha para que afastasse o celular do ouvido.
— Estava terminando o meu café da manhã, mas estou indo. Não se preocupa. — ele se levantou e viu as horas no relógio de pulso, vendo que Louise estava certa em gritar com ele, estava muito perto de se atrasar.
Seu devaneio teria que esperar ele voltar pra casa. Por mais que ficar sozinho e pensar fosse uma terapia, ainda sim não valeria a pena se isso custasse Louise falando por horas o quanto ele era irresponsável com a própria carreira. Não, não era isso o que ele queria e também não se considerava irresponsável.
...

, mesmo após sete meses do lançamento, Ad Perpetuam Memoriam continua sendo um sucesso de vendas e também entre os fãs. Me diz como você se sente com isso — o entrevistador perguntou a pergunta que já havia respondido pelo menos dez vezes antes.
— Me sinto grato, é claro, grato por ter uma base de fãs tão fiéis e que decidiram embarcar comigo nessa jornada louca, porém incrível. Acho que gratidão é a palavra que posso usar para descrever — ele se ajeitou na cadeira, falando o roteiro que já estava decorado há meses, embora fosse sincero.
— E você já está planejando um novo livro? É verdade?
— Sim, é verdade, mas eu não posso dar detalhes ainda. É um pouco diferente, claro, mas estou trabalhando duro neste novo projeto.
— Você pode dizer pra gente quando teremos o privilégio de ter um exemplar em mãos?
— Não sei, não sei mesmo, ainda estou no começo. — ele riu, imaginando como seria a divulgação do seu próximo livro. — Acredito que daqui dois ou três anos.
— Mas é muito tempo!
— John Green levou doze anos para escrever e revisar A Culpa É Das Estrelas. Acho que sou mais rápido do que ele — respondeu com bom-humor, mas achava um pouco insolente da parte do entrevistador questionar sobre o tempo.
— Realmente, você tem razão. Agora, essa pergunta nem estava no script, mas vou perguntar mesmo assim: de onde vem, qual é a inspiração de uma história tão incrível e detalhada como essa?
— Dos meus sonhos. — encolheu os ombros e coçou a nuca, era uma resposta simples demais. — Sonhei por muito tempo com algo parecido, achei que colocar no papel seria uma forma de compartilhar com as pessoas o que se passa na minha cabeça enquanto estou dormindo. — ele riu novamente da própria piada. Achou que se saiu muito bem com aquela pessoa.
— Sendo assim, acho que só temos que agradecer por você decidir compartilhar os seus sonhos com o público porque os meus sonhos não fazem sentido nenhum.
A entrevista foi rápida, mas ainda tinha muitas outras. Com certeza tomaria muito mais tempo do que ele gostaria, mas ele não tinha do que reclamar, ao menos as entrevistas e brincadeiras serviam para que ele se distraísse um pouco e se esquecesse de como sua vida estava uma bagunça. Ao menos a carreira estava organizada graças a Louise.
— Beijos, Brasil, muito obrigado por tudo — ele arriscou um português muito arranhado, ensinado instantes antes pela digital influencer que o entrevistava na última do dia.
— Apenas para finalizar, : quando veremos Jones em terras brasileiras?
— Muito em breve, eu espero! Amo o Brasil, sou louco para voltar, é um dos meus lugares preferidos — mentiu. Não que não gostasse, mas sabia que tinha que agradar as pessoas.
Ao final de todas aquelas entrevistas — que poderia contar ao menos quinze para vários países — ele se limitou a acompanhar Louise para irem embora juntos. olhou as horas no seu relógio e percebeu que havia passado o dia inteiro fazendo aquilo.
— Você foi incrível hoje, estou impressionada. — Louise disse animada enquanto entravam juntos no carro dela.
— Não sei, talvez os fãs brasileiros e argentinos briguem entre si. — ele se lembrou de quando entrou em uma saia justa e teve que dizer que preferia tango ao samba apenas para agradar seu público da Argentina.
— Ah, não esquenta com isso, você sabe como são os fãs. Falando neles, mocinho, está na hora de aparecer em fotos. Está muito sumido e nós queremos um ídolo acessível, certo?
— Se puder providenciar isso pra mim.
— Não, vou deixar com a assessoria. Enquanto isso, vai tomar um café ou correr em um parque, esses lugares pra encontrar com fãs. Já vai ajudar muito.
— Anotado.
— Eu já ia esquecendo de te falar: Damon mandou uma mensagem convidando a gente para o aniversário da Clara no fim de semana.
— Achei que ele não ia fazer uma festa de aniversário. Você sabe, ele veio de Londres pra ver ela.
— E não vai, mas chamou apenas a família para cortarmos um bolo pra ela. Você sabe como é a Clara, ela ia ficar arrasada se não tivesse um bolo.
— Eu sei. — se lembrou da afilhada e sentiu o coração aquecendo. — É claro que nós vamos, eu seria um péssimo padrinho se eu não fosse.
— Já falei para o Damon que a gente iria. Só nós, a Diana, papai e mamãe, Charlotte e...
— Luce.
— É. Ele não queria chamar ela, mas a Luce é madrinha da Clara, acho que não pegaria bem não convidar, não é?
— Não tem problema, Damon está certo. A Clara adora a Luce.
— Está tudo bem mesmo, ? — Louise perguntou preocupada, viu de relance que a expressão do irmão tinha mudado quando mencionou a ex-namorada.
— Sim, eu estou bem. Não queria a ver agora, mas não posso fazer nada.
, não precisa ir se não quiser.
— Clara não tem culpa de nada, ela ficaria uma fera se eu não fosse.
— Você sabe que está falando de uma menina de três anos, não é? Não é como se ela fosse guardar mágoa de você e nunca te perdoar.
— Eu sei, mas eu não me perdoaria, provavelmente o Damon também não. Inclusive acho que ele se vingaria não indo ao aniversário do meu filho quando eu tiver um.
— Você tem razão nisso. — Louise riu, imaginando que seria exatamente assim. — Além de tudo, acho bom passarmos um tempinho com a Clara, isso não vai durar muito tempo.
— É... — se afundou no banco, lembrando repentinamente dos seus planos de se mudar para a Inglaterra até o fim do ano.
— Vai ser melhor pra você, , talvez isso faça com que você fique mais popular na Europa.
— Espero que sim. De qualquer forma, quero mesmo ir, vai ser melhor pra mim de todas as formas.
— Vai — Louise sabia exatamente o que ele quis dizer. — Lá você terá um pouco de paz e lindas britânicas aos seus pés.
— Claro! — riu, mas não se imaginava com mãos ninguém.
— Qual é, ! Olha só pra você. Quem não se apaixonaria?
— Também não é pra tanto, Louise.
— É claro que é! Um homem bonito, cheiroso, formado em Harvard, escritor, toca vários instrumentos, canta, cozinha, não é machista, respeitoso e ainda por cima é tímido. Irmãozinho, você é o sonho de qualquer mulher! Sortuda vai ser a sua esposa um dia.
— Se você está dizendo... — tinha certeza que dava pra ver no seu rosto que ele estava envergonhado. — Esqueceu de dizer que eu lavo minha próprias roupas.
— Tem isso também! Viu só? Um pacote completo.
— Você não vale nada, Louise — ele riu novamente e então continuaram conversando novamente durante todo o caminho de volta até a casa dele.
...
Is it bad that I'm hoping that you're broken?
Is it bad that I'm wishing it so broken?
That you haven't found fish in the ocean
Is it bad? So bad
Is it weird that I'm drunken on my sofa?
Is it weird that I'm naked on my sofa?
All alone, damn, I wish I didn't know ya
Is it weird? So weird

já não conseguia ler a legenda do filme que assistia na TV. O filme era em francês e sem dublagem, mas o teor alcoólico no seu sangue não lhe permitia ver nada além de borrões no lugar das letras brancas. Ele não tinha certeza sobre o tanto de tequila que já havia bebido, mas tinha certeza de que não era pouco. Não costumava beber, sempre foi discreto em relação a isso, mas era inevitável quando estava profundamente deprimido. Era errado? Sim, muito, mas ele não se importava.
Pensar que dentro de alguns dias teria de encontrar Luce novamente era o suficiente para que ele se lembrasse do quanto estava infeliz. Tinha certeza de que não tinha derrubado tantas lágrimas quanto achava que deveria, mas ele não era de chorar, ao menos não por isso, mesmo que tivesse amado aquela mulher por anos incondicionalmente. se sentia partido de todas as formas e torcia, mais do que tudo, para que Luce estivesse assim também.
Foi ela quem terminou, ela tinha que estar mal ao invés dele, era ela quem deveria passar dia e noite pensando nos anos em que passaram juntos e que ela própria jogou fora. não achava certo, se sentia injustiçado, queria ter tentado mais um pouco. Tinha amor o suficiente para isso, mas agora estava ali deitado no seu sofá, bêbado e seminu, sozinho e desejando que ela estivesse sentindo a mesma dor no peito que ele. Sim, ela merecia. Merecia por ser tão egoísta ao ponto de deixá-lo, por não ter se importado com os sentimentos dele. Ele tinha certeza que aquele carma não lhe pertencia.
— Vá se foder, Lucinda! — ele ergueu o seu copo no ar, na direção da TV.
Aquilo era libertador, tinha que admitir. Era sempre tão educado e falava tão bonito que chegava a ser sufocante, ele precisava xingar de vez em quando, ser um pouco mais como Damon que não tinha papas na língua, falava o que precisava quando deveria. Estava cansado de ouvir que deveria ser como o seu irmão, talvez essas pessoas tivessem razão, ele pensou, se privava demais de coisas pequenas que faziam toda a diferença, mas que como figura pública ele tinha que se policiar. Não se considerava tão famoso assim, até arriscava dizer que tinha uma vida quase normal, por que se privar tanto? Era estranho pensar e desejar tudo aquilo? Completamente, mas ele estava bêbado demais para não se importar.
O som irritante do IPhone ao receber uma ligação interrompeu seus pensamentos e ele procurou pelo aparelho no meio do cobertor, derrubando o celular no chão. Soltou um palavrão antes de pegar para atender com um pouco de dificuldade.
— Alô. — atendeu impaciente, sem se importar em saber quem era do outro lado.
— Está nervosinho por qe, ?
— Ah... Oi, Damon. Estou bêbado.
Bêbado? Acho que liguei para o errado.
— Desculpa, o antigo não pode atender o telefone agora. — ele se esticou para alcançar a garrafa de tequila no chão, mas falhou.
— Ei, cara, eu ia te chamar pra gente tomar uma cerveja aqui em casa, mas acho que você se quer pode levantar sozinho, não é?
— Acertou. Acho melhor você vir aqui, eu não quero fazer besteira. Se é que você me entende.
— Certo... Eu vou deixar a Clara com os nossos pais, não quero que você seja má influência pra ela.
— Damon, você é a má influência em pessoa.
— Não para a minha filha, seu tapado! Não faz nenhuma besteira, estou indo agora.
— Estou esperando.
Damon desligou a ligação e deixou seu escritório. Atravessou o corredor e abriu a porta do quarto de Clara bem devagar, se certificando de que a filha estava dormindo. De fato estava, Clara dormia como um anjinho e Damon ficou com dó de acordar a garotinha do seu sono profundo. Com cuidado, foi até ela e tentou a pegar no colo sem que ela acordasse, o que deu certo, Clara apenas se mexeu um pouco, mas não acordou, para o alívio dele. Com a criança no colo, Damon procurou pelas chaves do carro e então saiu de casa, colocando a pequena na cadeirinha no banco de trás e indo para o volante. Morava perto da casa dos pais, não demoraria dez minutos para chegar até lá.
— Damon? Tá fazendo o que aqui a essas horas? — Henry perguntou ao abrir a porta e se deparar com o filho e a neta.
— Oi, pai... Será que posso deixar a Clara aqui? não está bem, precisa de alguém.
— Aconteceu alguma coisa com o ?
— Não, ele só está tendo um dia ruim. Você sabe, ele tem mania de guardar as coisas ruins pra ele. Vou ver o que posso fazer, mas não quero levar a Clara, não quero que ela veja o caindo de bêbado. Ela pode ficar aqui?
— Tudo bem, mas tem certeza de que não quer que eu vá com você?
— Tenho, eu só vou garantir que ele não vá fazer nenhuma besteira. Para o senhor ver como o mundo dá voltas.
— É verdade. — ele riu e esticou os braços para pegar a neta. — Deixa ela aqui essa noite.
— Acho que vou voltar, pai, às vezes ela tem pesadelos e acorda chorando no meio da noite.
— Então ela teve a quem puxar. — Henry sorriu ao se lembrar das vezes em que Damon fazia a mesma coisa quando tinha a idade de Clara. — Não se preocupa, eu sei o que fazer. Agora vai, não deixa o sozinho.
— O pai dele é você, não eu. — Damon riu. — Obrigado, pai, boa noite.
— Boa noite, filho.
Henry entrou novamente e Damon voltou para o seu carro. morava um pouco mais afastado, mas pelo horário não tinha trânsito algum que o fizesse demorar. Chegou na casa do irmão mais rápido do que de costume. Imaginando que não iria até a porta o receber, Damon sacou o próprio molho de chaves e procurou pela sua cópia. Foi ele próprio que reformou aquela casa, era óbvio que ele tinha uma cópia, mesmo que não soubesse. Ele entrou e acendeu a luz do hall de entrada para poder enxergar alguma coisa naquela escuridão. Foi até a sala e se deparou com a TV ligada e seu irmão gêmeo deitado no sofá praticamente nu.
— Ah, pelo amor de Deus! Vá se vestir, ! Puta merda, hein?
— Olá, Damon. — se enrolou no cobertor, realmente estava com um pouco de frio. — Eu te ofereceria tequila, mas eu bebi tudo.
— Eu não vim beber, vim te impedir de fazer besteira — Damon se sentou no outro sofá, se acomodando. — Você não ligou pra ela, ligou?
— Nop! — ele cantarolou rindo, mas Damon rolou os olhos. — Relaxa, Damon, você está muito tenso.
— Não estou tenso, estou puto por você estar fazendo isso. Você não é assim, .
— Hoje eu sou, tenho o direito de me sentir mal. Não posso?
— Pode, mas... Cara, já fez um mês, você precisa... Você sabe, seguir sua vida... Ela já sabe o que quer.
— Não é tão simples assim, Damon. Ela jogou quase oito anos no lixo!
, não é todo mundo que pensa como você, não é todo mundo que tem um coração bom como o seu. Talvez Luce não seja essa pessoa, talvez tenha sido melhor assim.
— Eu não quero pensar nisso, eu só estou chateado e quero beber um pouco. Só isso.
— Você já bebeu demais, cara. Assim eu penso que talvez não seja uma boa ideia vocês se encontrarem no aniversário da Clara.
— Não, não se preocupa, eu vou estar sóbrio. Clara não tem culpa de nada. Vou me controlar, prometo.
— Não acredito muito em você assim, mas como eu te conheço bem, talvez você esteja falando a verdade... Agora levanta daí, vamos tomar um banho porque vou colocar você pra dormir. Tenho dois filhos, pelo visto, Clara não me dá tanto trabalho quanto você, e olha que ela vai fazer dois anos.
— Você é péssimo, Damon.
tentou se livrar do cobertor, mas tudo o que conseguiu foi se enrolar ainda mais, sendo amparado por Damon a ficar em pé. Se apoiando no irmão, foi com Damon até o banheiro sem contestar, mesmo sabendo que tomaria um banho de água fria logo em seguida. Bem, isso depois de ele colocar tudo pra fora, é claro. Foi isso o que ele fez ao levantar a tampa e abraçar o vaso, vomitando tudo o que bebeu. Damon olhou por cima e fez uma careta, imaginando o que passou quando a situação era ao contrário.
— Isso é vergonhoso, é sério. — ele torceu o nariz quando viu o irmão vomitando novamente, ou pelo menos tentando.
— Se soubesse o que eu já vi você fazendo, talvez você saberia o que é ser vergonhoso de verdade. — limpou o canto da boca com a mão, criando coragem para se levantar.
— Para um bêbado, você até que fala bem.
— É o meu trabalho, Damon.
— Tá, tá, tanto faz. — Damon foi até o chuveiro e o ligou. — Entra logo, e não pensa em tirar o pingo de roupa que você ainda veste, eu não tenho filho homem.
Mesmo resmungando, foi para debaixo da água gelada, se arrependendo profundamente por ter concordado com aquilo. Talvez se sentisse melhor depois, mas queria sair dali o mais rápido possível. Damon, evitando de se molhar ainda mais, saiu e fechou a porta de vidro do box. Nunca em um milhão de anos, um bêbado poderia pensar em simplesmente abrir.
— Damon!
— Você me molhou todo! Anda, eu fiz até um banquinho aí pra você tomar banho sentado. Vamos logo porque não tenho a noite toda.
Mais rápido do que de costume — e também mais atrapalhado do que nunca — ele se banhou sobre a supervisão de Damon, que não perdia a oportunidade de sacanear o irmão, apenas torcia para que ele não deixasse cair sabão nos olhos, ou teriam problemas. Quando terminou, Damon jogou a toalha pra ele e abriu a porta do box para sair.
— Eu ainda sei o caminho do meu quarto. Pode deixar. — disse enquanto esfregava a toalha contra os cabelos molhados, indo em direção ao seu quarto e fechando a porta.
Damon esperou pacientemente do lado de fora, ouvindo o irmão bater a porta do closet e xingando outras várias vezes, provavelmente com dificuldade de fazer coisas simples. Não podia negar que achava aquilo engraçado, não se lembrava da última vez que tinha visto bêbado.
— Graças a Deus você está vestido. — ele disse após abrir a porta, ele ao menos vestia uma calça de moletom. — Está na hora de dormir, mocinho.
— Pare de falar comigo como se eu fosse a Clara. — resmungou enquanto ia em direção à sua cama, se deitando em seguida.
— Desculpe, força do hábito. Está melhor?
— Muito. Obrigado, Damon.
— Não precisa agradecer, vocês já fez isso tantas vezes por mim que é o mínimo que posso fazer por você.
— Eu já agradeci por você ter me convidado pra ser o padrinho da Clara? Porque eu sou muito grato mesmo.
— Já, , desde que ela era do tamanho de um tomate você agradece. — Damon riu, estava se divertindo com aquilo. — Clara não poderia ter um padrinho melhor, assim como eu não poderia ter um irmão melhor.
— Eu queria estar sóbrio pra lembrar disso amanhã. — riu, mas já estava sentindo as pálpebras pesando. — Seja sincero comigo, acha que ainda tenho alguma chance com ela?
— Sinceridade mesmo? Não, não acho. E é melhor assim, , ela terminou porque quis e você ficar se arrastando atrás dela é patético, você merece mais do que isso. Vocês ficaram juntos um tempão, é verdade, mas já acabou e você tem que seguir a sua vida, cara, ficar bebendo e se deprimindo não vai ajudar em nada. Eu sei que você é melhor do que isso.
— É... — bocejou enquanto se permitia fechar os olhos, as palavras de Damon pareciam soar um pouco distante agora.
— E outra coisa: você deveria mudar para a Inglaterra o mais rápido possível, ficar aqui só está te deixando cada dia mais deprimido. Você pode ficar na minha casa durante o tempo que você precisar, eu não me importo, só não quero ver você assim o tempo inteiro. A gente sabe que não é o melhor caminho a se seguir. Quem diria que logo eu diria isso, não é? Mas um de nós dois tem que ser o sensato da história e você realmente precisa de uns conselhos agora, você não acha? — ele não recebeu nenhuma resposta de volta, sinal de que havia adormecido. — Ótimo.
Damon apagou a luz do quarto e fechou a porta. Foi apagando todas as luzes que encontrava acesas e então foi embora. Optou por não buscar Clara na casa dos pais e apenas voltou pra casa satisfeito por dessa vez não ter tomado tanto tempo assim. Não que fizesse isso com frequência, mas já havia passado uma noite inteira um mês antes ouvindo o irmão se lamentando enquanto chorava e bebia de forma irresponsável. Damon tinha que admitir para si próprio o quanto estavam mudados, o quanto um tinha pego a personalidade do outro. Enquanto acordaria no dia seguinte com a pior dor de cabeça da vida, Damon levaria Clara para a escola antes de ir trabalhar, se tornar pai o fez abrir os olhos para a vida enquanto um fim de relacionamento mostrou um lado de que ninguém além da família dele conhecia.
Ele esperava que ninguém mais conhecesse.


02- I’m the stupid one

I know I'm the stupid one who ended it
And now I'm the stupid one regretting it
It took me a couple drinks to admit it
I know I'm the stupid one

Luce se olhava no espelho, procurando ter certeza de que estava vestida apropriadamente para um aniversário infantil. Era estranho voltar naquela casa, mas não poderia negar um convite vindo da afilhada. Se seria estranho estar com toda a família do seu ex-namorado? Sim, totalmente, mas ela ao menos iria tentar passar por tudo aquilo para ver Clara um pouquinho naquele dia especial pra ela.
— Lotte, o que você acha? — ela perguntou para a amiga que também se arrumava no mesmo quarto. — Não está muito escandaloso, não é? Algo do tipo quero afrontar a família do meu ex.
— Bobagem, você está ótima. — Charlotte disse rindo enquanto calçava seus saltos de plataforma. — Além disso, se eu fosse você eu não pensaria muito nesse ponto pra não ficar tão desconfortável.
— Se conheço o , vai ser muito mais do que desconfortável — ela murmurou com amargura, soltando um longo suspiro em seguida. — Não sei se estou preparada pra isso. Você sabe... Fui eu que terminei.
— Eu sei, é só você fingir que ele não está lá. Bom, tenho certeza que a Clara vai obrigar vocês dois a tirarem uma foto com ela, mas fora isso pode ser bom cada um ficar em um canto.
— Vou tentar fazer isso.
— Então vamos logo. Quero ter certeza de que o Damon arrumou a Clara exatamente como eu mandei.
— Ah, não precisa se preocupar. Damon é um pai excelente, acho que você escolheu o gêmeo certo. — Luce disse divertida, atirando uma peça de roupa na direção da amiga.
— Luce, você não cansa de falar besteira, não é? Quantas vezes vou ter que dizer que Damon e eu nunca vamos voltar a namorar? Somos apenas amigos agora. — Charlotte deu de ombros, não nutria mais sentimentos pelo ex há algum tempo.
— É uma pena, vocês eram um casal lindo. Talvez eu sinta falta de quando nós quatro costumávamos estudar juntos na biblioteca.
— Nós quatro? — Charlotte franziu o cenho, incomodada com o que ouviu. — Está arrependida?
— Não é isso, só não posso negar que nos divertimos juntos. não é uma má pessoa pra eu o odiar. Podemos ir? Quero ver a Clara logo.
Charlotte apenas concordou enquanto terminava de se arrumar. Logo as duas estavam prontas e então saíram. Clara havia passado o dia com Damon conforme o combinado entre eles e por isso a preocupação dela em relação à roupa da pequena, embora não pudesse negar que Damon era um ótimo pai, além de ter muita ajuda da família. Ela lamentava que Luce não tivera tanta sorte como ela em relação à família, Luce não se deu tão bem com as irmãs dos meninos apesar de tantos anos de convivência. Diana era educada por natureza, mas não era nenhuma novidade o fato de que Louise não gostava de Luce. Charlotte podia imaginar como a amiga se sentia, voltar na casa da família era algo muito estranho e desconfortável de se fazer, especialmente porque Luce havia saído como a errada da relação.
Quando elas chegaram na casa dos pais de Damon, foram recebidas por Eloise, a mãe dele, que estava mais elegante do que nunca em um vestido rosa clarinho e rodado, a deixando mais jovem do que de costume.
— Oi, meninas, pensei que não iriam vir mais, eu ia lá buscar as duas. — Eloise disse bem-humorada, as convidando para entrar.
— Como eu perderia o aniversário da minha filha, Elo? Falando nisso, cadê a minha princesinha?
— Na sala com as meninas. Vamos lá.
Eloise acompanhou as duas ex noras até a sala onde Clara brincava com Louise sob a supervisão de Diana, que estava sentada na poltrona. Henry estava acomodado no sofá, incentivando a neta a não deixar Louise se erguer de jeito nenhum. Louise estava deitada no chão, fingindo que Clara a prendia. A garotinha, por sua vez, estava sentada na barriga da tia, aparentemente usando toda a sua força.
— Ah, não! Vou morrer! Socorro, pai!
— Não tenho nada a ver com isso, filha.
— Clara, olha quem chegou. — Eloise disse, chamando a atenção para si.
Os olhos de Clara brilharam ao ver sua mãe e sua madrinha. Imediatamente ela saiu de cima de Louise e correu em direção à Charlotte, pulando no colo da mãe e sendo abraçada por ela.
— Mamãe!
— Oi, meu amor, que saudade de você! Se comportou direitinho? Obedeceu o seu pai?
— Obedeci, mãe.
— Ótimo. Agora dá um beijo na sua madrinha, ela veio só pra ver você.
Clara esticou os braços para Luce que a pegou no colo, dando-lhe um abraço apertado.
— Senti tanta saudade de você! Como está crescida, já é uma moça! Acho que nem tem idade mais para ganhar bonecas.
— Boneca? — um largo sorriso se formou nos lábios dela e os olhos brilharam ao pensar que ganharia uma boneca de presente.
— Está no carro, acabei esquecendo, mas vou pegar. Me dá só um minutinho.
Luce colocou Clara no chão, cumprimentou brevemente Henry, Diana e Louise e então pegou as chaves do carro de Charlotte para ir pegar o presente da afilhada no banco de trás. Ela só não esperava encontrar com chegando bem no momento em que ela ia voltar.
parecia congelado por um instante, como era de se esperar, talvez o susto tenha sido ainda maior pra ele do que pra ela. Embora soubesse que aquele momento iria chegar, ainda não se sentia preparado, mas naquele momento não tinha muito o que fazer, era inevitável e ele já estava ali.
— Oi, — Lucinda olhou para os lados, desviando seu olhar do dele.
— Oi... — soou mais desanimado do que pretendia. — Entra, fica à vontade.
Luce apenas concordou e foi na frente, não tendo coragem de abrir a boca para dizer qualquer palavra que fosse, estava constrangida demais para fazer tal coisa e parecia bem tenso por ter encontrado com ela ali. Ela entrou e foi logo procurar por Clara para entregar o seu presente. A menina, como o esperado, mais do que amou o presente, mostrando pra todo mundo, mas se esqueceu completamente quando viu que o padrinho havia acabado de chegar e foi na direção dele. recebeu Clara com um abraço também, tendo certeza de que ela nem havia notado ainda que ele tinha trazido um presente também, sinal que sua presença era mais importante do que qualquer coisa.
— Você está uma princesa hoje, Clara. Quem arrumou você?
— Foi o papai, tio.
— Ele fez um bom trabalho, está linda como sempre. — ele sorriu e entregou o embrulho pra ela. — Pra você.
— Eba!
— Como se diz, Clara? — Charlotte, que observava de longe, disse em tom de advertência para a filha.
— Obrigada, tio. — Clara encolheu os ombros e riu, deixando um beijinho na testa dela e se levantando quando os joelhos começaram a doer.
— Se não gostar, me avise, seu pai é péssimo em ajudar a escolher presentes. Falando nisso, cadê o Damon? — perguntou enquanto ia até os sofás cumprimentar os pais e as irmãs.
— Está se arrumando no quarto, deixou para tomar banho aqui. Sabe como é o seu irmão, deixa tudo pra última hora. — Eloise explicou, achando que Damon estava demorando pra aparecer.
— Vocês capricharam mais em mim, como se pode ver. — ajeitou exageradamente a gola da camisa, causando risadas em — quase — todo mundo. Ao menos com a família ele podia deixar a timidez de lado.
— Ah, o já começou a falar besteira! Todo mundo sabe que sou o gêmeo mais bonito. — Damon apareceu de repente na sala, ajeitando também o blaser azul marinho que usava. — Mais legal, engraçado, inteligente... Eu já disse bonito?
— Esqueceu de dizer modesto. — Louise pontuou e Damon apontou o dedo na direção dela.
— Isso mesmo! Obrigado por me lembrar, maninha. Modesto, também sou muito modesto.
— Damon sempre chamando a atenção. — Charlotte riu e só então ele se deu conta de que ela e Luce já estavam lá.
— Senhoritas... — fez uma reverência divertida para elas, as fazendo rir. — Podem concordar que sou o original e aquele impostor ali é só uma xerox?
— Sou mais velho. — refutou imediatamente. — Sou cinco minutos mais velho.
— Ninguém te perguntou.
— Quantos anos vocês têm mesmo? — Henry perguntou ao se levantar. — Deixaram vinte em suas casas e vieram apenas com cinco? Diana e Louise também são gêmeas e não agem assim.
— Não na sua frente, só se for. — Damon deu de ombros. — Bom, acho que já estão todos aqui. É oficial, a comemoração do aniversário da Clara está aberta.
...

já não tinha certeza de quantas vezes seu olhar havia se encontrado com o de Lucinda apenas nas breves horas que se passaram. Ela passou o tempo todo com Charlotte, hora ou outra conversava com Damon ou com Eloise e Henry, mas era nítido que ela evitava de todas as maneiras, mesmo desviando a atenção pra ele sempre, o que era frustrante de certa forma. Para já era ruim o suficiente ela estar ali, tudo ficava ainda mais desconfortável quando ele percebia que estava sendo vigiado. Sufocado, ele se levantou do sofá e foi em direção à cozinha, beber uma água poderia o deixar mais relaxado. Louise estava lá também e tinha cara de poucos amigos.
— O que está fazendo aqui, Lou? — ele perguntou enquanto pegava um copo no armário.
— Desculpa, , mas aquela garota me estressa. Nunca gostei dela, você sabe. — Louise estava praticamente sussurrando, impaciente. — Não posso imaginar como você se sente.
— Tenso, desconfortável, constrangido... Quer que eu continue? — ele foi até o filtro e despejou água no copo.
— Me sinto tão mal por você ter que passar por isso... Sabe? Era pra ser só a gente, só a nossa família, ela não tinha que estar aqui e estragar o clima. A Lotte eu entendo porque é mãe da Clara, mas acho a Luce bem descartável. Sério, não sei como você aguenta.
— Não tenho outra opção, Lou... Não tenho outra opção — sorriu de canto, um sorriso entristecido e Louise sentiu o coração partindo em mil pedacinhos, não se contendo ao dar um abraço de lado no irmão.
— Você vai conseguir superar isso, estou com você sempre.
— Eu espero que sim.
— Você é o cara mais fofo e gentil que eu conheço e ela é uma sonsa por ter terminado com você. Tomara que você arrume uma loira gostosa pra esfregar na cara dela.
— Você é péssima, Louise. — gargalhou enquanto deixava um beijo no topo da cabeça da irmã, em seguida bebeu toda a água de uma vez. — Melhor voltar, não é? Pra não ficar tão evidente.
— Sinto muito, , muito mesmo.
— Vai ficar tudo bem. — ele sorriu novamente, agora um pouco mais esperançoso, mas Louise não se sentia reconfortada com aquilo. — Vamos voltar.
— Não vou soltar você por um minuto. Eu juro.
— Tá bom, é justo.
Eles voltaram pra sala abraçados. Talvez fosse o instinto, mas Luce olhou de canto do olho pra eles, mas tudo o que recebeu foi um olhar de afronta de Louise. Imediatamente ela desviou o olhar e Louise rolou os olhos, impaciente. Estava feliz por ela ter terminado com , assim poderia expressar seu desgosto sem peso na consciência depois. Achava muita insolência de Luce estar ali e ainda por cima não tirando os olhos de . Aquilo era demais pra ela aguentar sem experimentar boas doses de álcool da coleção particular de seu pai.
E quando viu Luce se afastando de Charlotte e indo em direção à cozinha, ela não pensou duas vezes antes de ir atrás. Estava irritada o suficiente para tirar satisfações com ela naquele mesmo instante, mesmo dizendo para não o fazer. Louise sequer prestou atenção nele.
— Deixa eu te perguntar uma coisa, Lucinda: qual é o seu problema com o meu irmão? — ela entrou de repente na sala, assustando a garota.
— Desculpe?
— Desculpe — Louise fez careta e afinou a voz. — Você me ouviu: qual é o seu problema com o meu irmão?
— Não tenho nenhum problema com o .
— Então deve ter perdido algo na cara dele, suponho.
— Louise, não sei do que você está falando.
— Sabe sim. Você terminou, deixou ele arrasado e agora tem a audácia de vir aqui hoje e ficar olhando cheia de charminho pra ele. Pelo amor de Deus, garota, se enxerga! Está fazendo hora extra aqui já.
— Não quero te ofender, mas acho que não precisa de advogados.
— Não precisa mesmo, mas você nem tem ideia de como ele está se sentindo, de como ele sofreu, ele não merecia isso! Tudo bem, você teve os seus motivos pra terminar, mas agora fica vindo aqui e interagindo com a família, não respeitando o espaço e os sentimentos dele!
— Eu vim pela Clara, só por ela. Não é fácil pra mim estar aqui também.
— Mas parece, pelo visto.
— Estou arrependida, Louise, ok? Muito arrependida, eu não deveria ter terminado com ele, mas não vou voltar atrás, está bem? Está feliz agora?
— Escuta bem. — Louise ergueu o dedo, apontando na direção dela. — Se você fizer a cabeça do meu irmão pra voltar com você, eu juro que vou fazer da sua vida um inferno até você mudar de ideia. Estamos entendidas?
— Louise. Por favor.
Louise se virou e viu entrando na cozinha. Ele parecia um pouco abatido e constrangido pelo que havia acabado de presenciar. Era um pouco reconfortante ver Louise o defendendo com unhas e dentes, mas ele não achava que ela realmente deveria fazer isso.
— Desculpa, , não aguentei. Nunca gostei dela, finalmente posso falar isso abertamente.
— Então somos duas. — Luce murmurou entre dentes, mas Louise fechou os olhos e respirou fundo, contando até mil mentalmente o mais rápido possível e percebeu o quanto ela estava nervosa.
— Lou, — ele foi até a irmã, colocando as mãos sobre os ombros dela. — estou bem, é sério. Eu juro pra você que estou bem, você não precisa ficar nervosa com isso. Deixa eu falar com a Luce, por favor.
— Não faz besteira, . — Louise praticamente duplicou, aflita. — Não deixa ela fazer sua cabeça.
— Ainda estou aqui, Louise.
— Eu sei, é pra você ouvir mesmo, sua sonsa. — Louise se virou bruscamente, mas achou melhor a segurar para evitar algo pior. — Eu vou cumprir o que eu prometi.
— Lou, por favor. — pediu novamente, tão calmo que Louise foi incapaz de dizer não, mesmo querendo muito.
— Toma cuidado, tá? Amo você. — Louise deu um abraço rápido no irmão e saiu do cômodo, ignorando Luce completamente.
Quando Louise saiu, um silêncio pairou entre os dois. sabia o que tinha que falar, mas era como se algo o impedisse, enquanto Luce ainda estava tentando assimilar o que havia acabado de acontecer.
— Então... O que você tem pra falar pra mim? — perguntou timidamente, desviando o olhar.
— Eu... Desculpa se a Louise disse algo que te magoou, ela está um pouco nervosa hoje. — também desviou o olhar para o outro lado.
— É, eu percebi. Me desculpe se machuquei você, , você não merece isso.
— Não é questão de machucar ou não, Luce, é mais complicado... Ficamos juntos por tanto tempo e do nada acabou. Eu implorei pra gente continuar junto, isso é humilhante.
, eu...
— Não acho uma boa ideia falarmos aqui, alguém pode entrar. Vamos lá pra fora.
Lucinda apenas concordou e acompanhou até o lado de fora da casa, onde se encontraram na hora que chegaram. Pararam um de frente pro outro, enquanto cruzou os braços Luce voltou a falar.
— Eu não queria ter machucado você, como falei antes, você é um cara incrível e merece todo o amor do mundo. — ela sorriu de canto, se lembrando brevemente do quanto gostava dele no começo. — Mas eu não podia mais dar isso pra você, ...
— Eu ainda não consigo seguir em frente, Luce. — admitiu quase em um sussurro, colocando as mãos na cintura e negando para si mesmo que estava dizendo aquilo. — E fiquei desejando que você se sentisse da mesma forma que eu, tão mal quanto eu.
— Eu me senti. Não posso contar todas as vezes que já me arrependi, . — ela baixou a cabeça e encarou os próprios sapatos.
— Mas...
— Eu sei que fui eu quem terminou tudo, eu sei disso, mas não quer dizer que foi fácil. Precisei de uma noite de bebedeira pra perceber que me arrependi.
— Precisei de uma noite de bebedeira pra perceber que não superei, mas... Eu acho que não é uma boa ideia nós voltarmos, sabe? Eu tenho projetos que não incluem você.
— Como assim?
— Estou de mudança, Luce, quero voltar a morar na Inglaterra, encontrei um apartamento e o Damon está fazendo um projeto pra mim. Até o final do ano vou embora.
Imediatamente Luce percebeu o erro que estava cometendo. Não, ele não poderia ir embora assim. Por mais que não estivessem juntos, era reconfortante saber que ele ainda estava por perto, mas como seria a partir de agora?
— Ah, ...
— É melhor pra mim de todas as formas. Luce, eu preciso...
não terminou sua fala porque foi interrompido quando Luce puxou a gola de sua camisa, juntando seus lábios nos dele, o pegando de surpresa. Por mais que tenha resistido de primeira, aquilo era exatamente o que ele esperava alguns dias atrás. Não podia negar que ainda tinha sentimentos por ela e talvez tudo o que precisasse era sentir o gosto do beijo dela mais uma vez. Por causa disso, acabou retribuindo da melhor maneira e Luce sentiu a nostalgia tomando conta de si, se lembrando dos bons momentos em que passaram juntos e do quanto ele era bom pra ela.
— É errado se eu te pedir pra ir até a minha casa? — ela perguntou quando se afastaram e concordou.
— Talvez eu não me importe em ir... Isso é tão errado, Luce, eu não deveria, mas...
— Eu vou esperar por você. — Luce disse por fim antes de voltar para dentro, o deixando plantado ali, associando o que tinha acabado de acontecer.
...
Been thinking about you lots, lately
Have you been eating breakfast alone like me?
Thinking about you lots, lately
Or are you moving along?
Been thinking about you lots, lately
Have you been feeling empty beds just like me?
I've been thinking about you lots, lately
Or are you moving along?
Is it wrong if I ask you to come over?
Is it wrong if I tell ya that I love ya?
Even though I'd never do it when I'm sober
Is it wrong? So wrong

— Céus, estou bebendo mais nas últimas semanas do que durante a minha vida inteira. — disse enquanto bebericava o vinho oferecido por Luce.
— Isso não é bom, você não é assim. — Luce se sentou ao lado dele no seu sofá, mais perto do que normalmente faria.
— Com todo o respeito, Luce, mas tenho meus motivos.
— Eu sei, mas você nunca foi assim, sempre criticou o Damon por beber demais.
— Ah, hoje em dia ele é o gêmeo sensato. — ele bebeu mais um pouco, torcendo para ficar bêbado logo. — Não tenho mais o controle da minha vida.
Provavelmente aquela era a conversa mais estranha que eles já tiveram, mas isso não era um problema, seria melhor esclarecer as coisas antes de avançarem. Talvez fosse algo casual ou talvez voltassem logo em seguida. De qualquer forma, era melhor que os dois estivessem conscientes do que estavam fazendo antes de qualquer coisa.
Entre conversas e desabafos, em certo momento nenhum dos dois se encontravam sóbrios. Já tinham trocado inúmeros beijos e carícias enquanto ainda bebiam e conversavam, mas as coisas já estavam esquentando àquela altura. Era questão de tempo para que avançassem.
— É errado eu dizer isso, mas talvez eu ainda ame você. — confessou pesaroso. — E eu te odeio por isso. Não é o tipo de coisa que eu diria sóbrio pra você, mas fico com medo quando penso se você já arrumou outra pessoa por aí, se você já seguiu em frente enquanto eu continuo na mesma, tomando meu café da manhã sozinho.
— Não, não segui em frente dessa forma. , não sou tão ruim assim.
— Não foi isso o que eu quis dizer.
— Mas pareceu. Não estou brincando com os seus sentimentos.
— Se eu estivesse sóbrio, pensaria que sim.
— Ótimo — Luce se levantou do sofá e parou na frente dele. — Você tem duas opções: ou pode voltar pra sua casa e tomar a droga do seu café da manhã sozinho amanhã ou você vai agora mesmo direto pra aquele quarto descobrir se outra pessoa já deitou naquela cama. Você que escolhe, .
Ele não precisava pensar muito, seu desejo falava muito mais alto do que a racionalidade. Cambaleando enquanto se levantava, ele apenas tomou a direção do lugar que conhecia muito bem.
...
Scared of moving on, but you're already gone
So if you're moving on, won't you just tell me
Scared of moving on, but you're already gone
So if you're moving on, won't you just tell me

, sinto muito se as coisas fugiram do controle. O que aconteceu ontem foi um erro, fomos levados pelo momento e estávamos bêbados demais para entender o que fizemos. Me perdoa, você é um cara incrível, merece todas as coisas boas do mundo pra você e eu não sou uma delas. Foi maravilhoso poder ficar com você mais uma noite, mas sinto que o melhor a se fazer é cada um seguir sua própria vida. Talvez eu tenha seguido a minha antes de você, mas torço pelo seu sucesso em todas as áreas da sua vida, nunca vou deixar de te admirar e desejar o seu bem. Sim, ainda estou muito arrependida, mas sei que é o melhor para nós dois, não daria certo com nossas rotinas tão diferentes. Espero que você ainda venda muitos livros ao redor do mundo e conheça alguém que o faça feliz... Sinto mesmo, , mas espero que você possa me perdoar um dia... A gente se vê por aí. Até mais."
já não sabia quantas vezes já tinha ouvido o áudio de Luce enquanto tomava seu café da manhã. Estava de ressaca, arrependido e com raiva de si mesmo por ter feito aquilo. Jurou que nunca mais iria beber tanto e também não iria falar com Luce outra vez, iria seguir em frente mesmo sendo obrigado, já que ela já tinha partido de qualquer forma. Se sentia usado e manipulado, tendo certeza de que nunca contaria para Louise sobre aquilo ou poderia se considerar um homem morto, porque ela com certeza não iria deixar passar em branco.
De qualquer forma, ela estava certa de todas as formas e ele estava errado de todas as formas também, talvez seu único acerto era estar de mudança e ele estava ansioso por isso. Era triste ficar tão longe da família, mas ao menos teria Damon com ele no novo país.
"Você tem um espacinho pra mim na sua casa durante uns dias? Talvez eu vá muito antes do que estava planejando."
Ele digitou a mensagem e enviou para o irmão, mas não se preocupou em esperar a resposta enquanto bebericava o café, ele iria de qualquer jeito. Tudo ali lembrava Luce e o que ele deveria esquecer. Talvez em uma nova cidade ele pudesse se redescobrir ou voltar a ser o mesmo de sempre porque ficar perto de Luce despertava um lado em que ele mesmo não gostava, um lado imprudente e desinibido que não pertencia a ele. Longe ele poderia ser apenas o , um cara normal com uma carreira promissora, mas jamais poderia ser quem era de verdade estando ali.
foi afastado de seus pensamentos quando Louise, que tinha uma chave para si, apareceu na cozinha. Pelas bochechas vermelhas e o olhar fulminante, ele podia dizer que Louise estava mais do que nervosa e ele podia imaginar o motivo.
— Onde você foi ontem à noite, ? – ela perguntou já o afrontando e soltou um longo suspiro.
— Louise, por favor...
— Não acredito que você foi ficar com aquela sonsa logo depois de eu fazer aquele show inteiro pra te defender dela!
— É complicado...
— Não, não é, é muito simples. Ela terminou com você, te deu um pé na bunda, mas sabe que se ela abrir a boca você volta se arrastando pra ela! Ela só está te usando, !
— Eu sei, eu sei! Dá pra parar de gritar só um segundo? Eu sei que eu errei, é isso o que você quer ouvir de mim?
— Não, eu não quero ouvir nada, eu nem sei porque vim aqui! – Louise fechou os olhos e respirou fundo enquanto andava em círculos na cozinha dele. – , não posso te julgar por você ainda nutrir sentimentos por alguém com quem namorou durante anos, eu juro que entendo essa parte, mas não consigo entender como você cedeu tão fácil quando foi ela que te deixou e acabou com você. Eu nunca fui com a cara dela, não é novidade, e pelo visto eu estava certa! Eu espero qualquer coisa da Luce, mas de você eu não esperava isso... Sabe? Eu dou duro, viro noites, enfrento gente muito mais poderosa do que eu pra fazer as coisas darem certo pra você, e você retribui assim! Eu não estou aqui pra esfregar na sua cara o que eu faço ou já fiz, mas acho bom que você se lembre de tudo isso na próxima vez que eu fazer papel de estúpida por você, ok?
— Louise...
— Não fala nada. – Louise ergueu o dedo indicador na direção dele, não suportando se quer ouvir sua voz. – Só me procure quando você recuperar o bom senso e voltar a ser o velho , porque esse cara que está aqui na minha frente não se parece em nada com o meu irmão... Se toca, , está na hora de seguir em frente.
Louise, sem mais delongas, girou nos saltos e deu meia volta para ir embora, batendo a porta ao sair. deixou o garfo cair no prato, fazendo um barulho irritante. Era o de menos, afinal, ele estava ainda mais irritado do que antes, agora porque sabia que Louise estava certa e ele errou com ela também. Por mais que estivesse frustrado e sobrecarregado, não podia negar que ela tinha a total razão em tudo o que disse e que estava mesmo na hora de tocar a vida.
Sim. Ele precisava ir e seguir em frente.
Scared of moving on, but you're already gone
So if you're moving on
Are you moving along?




Epílogo

Liverpool, julho de 2019

A praia escolhida por eles foi Formby Beach, uma das mais famosas de Liverpool. Por ser verão, muitas pessoas aproveitavam o fim de tarde na areia ou na água, muitas crianças brincavam por toda parte, transformando o lugar em um ambiente para toda a família. e se sentaram na areia fofa e até um pouco quente, ela entrelaçou seu braço ao dele e deitou a cabeça em seu ombro, fechando os olhos por um momento para sentir a brisa e se concentrar no barulho do mar que ela amava, além, é claro, de desfrutar da companhia dele. se sentia verdadeiramente em paz, precisou dirigir por algumas horas para encontrar a calmaria, mas estava valendo a pena até agora. Gostava de admirar o pôr-do-sol, mas não imaginava que estaria compartilhando com outra pessoa. Nenhum relacionamento anterior — não que tenham sido muitos — causaram a mesma sensação nela comparado ao que ela estava sentindo, não sabia dizer se era amor ou não, talvez fosse cedo demais para tal, mas sabia que tinha potencial e, para falar a verdade, ela queria muito que isso acontecesse e torcia para que aquele momento fosse o marco e o start que ela precisava.
olhou para ela e sorriu, depois tirou um instante para admirar a vista também. Depois da tempestade vinha a calmaria, e aquela era a tal calmaria que ele tanto procurava. Um ano antes não poderia se imaginar sentado ali olhando as ondas, feliz e com alguém que ele gostava, sendo esta última totalmente fora de cogitação um pouco antes. Ele demorou muito para superar seu último relacionamento e só agora podia dizer que tinha superado totalmente e estava bem, sem necessidade de fazer comparações, afinal, namorou sete anos com Luce, tinham muitas histórias juntos e ela era uma pessoa bem diferente de , com interesses completamente diferentes. Apesar de tudo, seu sentimento de raiva pela forma como acabou já era quase nulo, ele não precisava mais sentir aquilo. Estava bem, estava leve, estava feliz. Só havia se passado dois meses, ou talvez nem isso, mas pareciam muitos anos, pois ele não entendia como as coisas poderiam mudar tão rápido. Ali estava ele sem qualquer receio, apenas vivendo o momento que lhe foi oferecido. Aquela era uma lembrança que ele guardaria pra sempre.
— Se me disser em que está pensando, eu digo também. — disse ao abrir os olhos, erguendo a cabeça para olhar pra ele.
— Estava pensando que você chegou no momento certo. — confessou, percebendo o olhar de curiosidade dela. — Eu passei sete anos em um relacionamento, foi muito difícil me acostumar com uma vida sozinho outra vez, eu nem lembrava mais como era. Não estou dizendo que você veio para tampar um buraco, mas sim para me acrescentar. Eu parei de me privar e sabotar a mim mesmo ultimamente.
— Sete anos é muito tempo. — disse compreensiva e ele concordou. — Você foi feliz?
— Fui, eu conheci a Luce na faculdade, foi tudo muito rápido. Os dois últimos anos que foram difíceis, o relacionamento caiu na rotina e já não era a mesma coisa, além de ela ter a profissão dela e eu a minha, que não batiam, então ela achou melhor terminar. Por mais que eu esperasse, não queria de fato, doeu da mesma forma.
— Eu entendo... Não é fácil superar, mas... Você conseguiu, é o que importa.
— Mais do que isso. — ele a encarou. — É curioso como a gente pensa que não vai ser feliz outra vez, mas eu não posso explicar como eu estou feliz por você estar aqui comigo. Um ano atrás eu diria que era impossível.
— Um ano atrás eu poderia andar na sua frente com uma melancia na minha cabeça e você ainda não me notaria. — ela disse para descontrair, fazendo ele gargalhar.
— Notaria sim, seu senso de humor me chamaria a atenção. Além disso, estar de coração partido não quer dizer ser cego, eu com certeza teria notado.
— Mas não seria a mesma coisa.
— Será?
— Seja racional, Jones.
— Eu não quero ser racional, quero saber no que você estava pensando porque eu já contei sobre mim e agora é a sua vez.
E enquanto contava a sua história e seu ponto de vista, só poderia agradecer pela oportunidade recebida. Foi um pouco difícil, mas ele conseguiu. Talvez ela tivesse razão, ele não olharia, ao menos não da forma que estava olhando para ela naquele momento, mas já era passado, não importava mais. Ele não tinha mais motivos para pensar no passado porque o seu presente estava bem ali.


Fim.



Nota da autora: Oiii, tudo bem? Este é um spin-off da minha fic Ad Perpetuam Memoriam, por tanto não estranhe, o epílogo é um trecho de um capítulo da original. Os personagens reencarnam e por isso o prólogo é tão distante ahahaha confuso, eu sei, mas vou deixar o link da história original também. Nem preciso dizer a minha felicidade por pegar minha música favorita desse álbum, espero que gostem tanto quanto eu <3
Para conhecer mais sobre as minhas historias, é só entrar no grupo do face xoxo






Outras Fanfics:
Ad Perpetuam Memoriam http://fanficobsession.com.br/fobs/a/adperpetuammemoriam.html
Ad Perpetuam Memoriam: They Don’t Know About Us
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